"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (Jo 8.32)
27 de março de 2014
A ditadura cronológica
"A escolha de 1985 como o marco final é funcional para todos os que desejam ocultar, silenciar ou suprimir as conexões civis da ditadura", escreve Daniel Aarão Reis, professor de história na Universidade Federal Fluminense, em artigo publicado pelo jornal Folha de São Paulo, 26-03-2014.
O senso comum pode imaginar que marcos cronológicos são naturais. Contudo, eles são inventados pelos que pensam a história, segundo interesses determinados, embora nem sempre explicitados.
O caso da mais recente ditadura brasileira é ilustrativo.
Os soldados do general Mourão começaram a mover-se na noite de 30 de março de 1964. No dia seguinte, 31, o golpe estava vitorioso. No entanto, os vencidos, exercitando a ironia, não hesitaram em datar a vitória do golpe em 1° de abril, dia da mentira. A versão pegou e está em quase todos os livros didáticos.
Controvérsia mais complexa trava-se a respeito de quando acabou a ditadura. A versão dominante, uma espécie de "pensamento único", assinala a posse de José Sarney em março de 1985 como o "fim da ditadura". Caracterizada como "militar", a ditadura teria terminado seus dias com a posse de um "civil" na Presidência da República.
No entanto, é razoável afirmar que a ditadura acabou quando foram revogados os atos institucionais, no início de 1979. Desapareceram, então, os instrumentos de exceção que configuram as ditaduras, regimes que se baseiam no fato de que os governos fazem e desfazem leis a seu bel prazer, quando e como querem, apenas exercendo a força.
Ora, depois de 1979, deixou de haver um estado de exceção no Brasil. Subsistiu um Estado de Direito autoritário, sem dúvida, marcado pelo chamado "entulho autoritário", que só seria revogado pela Constituição de 1988. Entre 1979 e 1988, o país conheceu um período de transição --ainda não havia um Estado de Direito democrático, mas já não existia ditadura.
Mas por que, então, quase todo o mundo fala em 1985 como o fim da ditadura? A escolha de 1985 é funcional para todos os que desejam ocultar, silenciar ou suprimir as conexões civis da ditadura. Elas são muito visíveis desde 1964: basta lembrar as Marchas da Família com Deus pela Liberdade e o apoio ostensivo de veneráveis instituições como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), a ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) à instauração da ditadura.
Sem contar a participação ativa de quase todos os grandes jornais e de lideranças políticas, empresariais e eclesiásticas. Ao longo do tempo, ainda que sofrendo mutações, e consideráveis, os apoios civis à ditadura permaneceram consistentes, desfazendo-se só pouco a pouco.
Por outro lado, o marco de 1985 também agrada a setores de esquerda que, desde 1964, procuraram caracterizar a ditadura como "militar", num recurso legítimo de luta política, onde se procurava isolar os milicos no poder. Tratava-se de enfraquecer os adversários, e não propriamente de compreender o processo histórico.
Formou-se, assim, uma ampla e heterogênea "frente", política e acadêmica, configurando o fim da ditadura em 1985, mesmo que o marco seja de uma inconsistência que salta aos olhos, pois José Sarney, como se sabe, e ele também, foi um líder da ditadura durante o tempo em que ela durou, até 1979.
Devagarinho, camaleonicamente, ele, acompanhado por muitos outros, migrou para as oposições antiditatoriais, depois que a ditadura tinha acabado. A posse de Sarney foi apenas mais uma mudança molecular, entre outras, que levaram a 1988, quando, aí sim, pode-se afirmar que se encerrou a transição que desembocou na restauração democrática no país.
Questionar o consagrado marco de 1985 não é tarefa simples. Envolve não apenas enfrentar uma verdadeira ditadura cronológica, formada por militantes de direita e de esquerda, mas também a força da inércia que se traduz, no pensamento social, pela preguiça intelectual.
http://www.ihu.unisinos.br/noticias/529638-a-ditadura-cronologica
19 de março de 2014
Os EUA e a “democracia”: discurso esfarrapado
Por Nicolas J.S. Davies
História: 35 países onde
Washington derrubou governos legítimos, aliou-se a ditadores e cometeu
genocídios, em nome de seus interesses geopolíticos
Um velho clichê político
repetiu-se, nas últimas semanas, na Ucrânia e na Venezuela – ainda que com
roupagem nova. Em Kiev, um presidente corrupto, porém legítimo, foi deposto
após meses de manifestações, comandadas por grupos neonazistas. Em Caracas, Leopoldo
López, político de extrema-direita e um dos líderes do golpe de Estado de 2002,
apoia-se em dificuldades do governo para pedir sua derrubada antidemocrática.
Nos dois casos, os Estados Unidos têm interesse geopolítico claro na queda dos
governantes e agiram (agem, na Venezuela) para provocá-la.
O pretexto de Washington
é uma concepção particular de “democracia”. Na Ucrânia, o chefe de governo,
Viktor Yanukovitch, teria sido afastado por se aproximar da Rússia – adversária
dos EUA e, portanto, “antidemocrática” por definição. Na Venezuela, tanto o
ex-presidente Hugo Chávez quanto seu sucessor, Nicolas Maduro, promovem
políticas de unidade latinoamericana que incomodam Washington. Por isso,
seriam, naturalmente, “autoritários”. A mídia aliada ideologicamente à Casa
Branca repete tais argumentos de maneira tão maciça (e acrítica) quanto
assegurava haver, no Iraque, “armas de destruição em massa”.
Mas qual a autoridade do
governo norte-americano para falar em nome da “democracia”? Nos próprios
Estados Unidos, parece haver enormes dúvidas. Colaborador de publicações como
“Huffington Post”, “Salon”, “ZNet” e “Alternet”, o escritor e jornalista
Nicolas J.S. Davies acaba de produzir, para esta publicação, um texto de grande
importância e atualidade. Após vasta pesquisa histórica, Davies relacionou uma
lista (certamente incompleta) de países em que Washington interveio derrubando
governos legítimos por meio de golpes de Estado, apoiando ditaduras ou
participando de massacres e genocídios.
São 35 países, contando
apenas as intervenções entre pós-II Guerra Mundial e hoje. Os verbetes são
densos, porém breves – ou o texto seria interminável. Mas Davies teve o cuidado
de pesquisar e indicar por meio de links, em cada caso, textos que permitem
compreender, em detalhes, o contexto e os fatos concretos. O autor adverte: “em
nome de sua incansável busca pelo domínio global, Washington criou um longo e
contínuo histórico de trabalhar lado a lado com fascistas, ditadores, chefões
das drogas e países que patrocinam terrorismo. (…) Os crimes cometidos vão de
assassinato a tortura, de golpes a genocídios. A trilha de sangue desse caos e
carnificina vai até os degraus da Casa Branca e do Congresso norte-americano”.
A seguir o resultado, ordenado alfabeticamente, da pesquisa de Davies. (A.M)
1. Afeganistão
Durante a década de
1980, os EUA trabalharam com o Paquistão e a Arábia Saudita para derrubar o
governo socialista do Afeganistão. Eles financiaram, treinaram e armaram forças
lideradas por líderes locais conservadores, cujos poderes foram ameaçados pelas
reformas do país nas áreas de educação, direitos das mulheres e reforma
agrária. Após Mikhail Gorbachev retirar as tropas soviéticas, em 1989, esses
senhores da guerra apoiados pelos EUA, despedaçaram o país e aumentaram a
produção de ópio a um nível sem precedentes de 2 mil para quase 3.500 toneladas
por ano. O governo Talibã cortou tal produção em 95% durante 1999 e 2001, mas a
invasão norte-americana colocou os senhores da guerra e chefões das drogas de
volta ao poder. O Afeganistão ocupa atualmente o 3º lugar dos mais países mais
corruptos do mundo (entre 177) e o 175° em desenvolvimento humano (entre 186).
Além disso, desde 2004 sua produção de ópio aumentou para 5.400 toneladas por
ano. O irmão do presidente afegão, Ahmed Wali Kharzai era um notório chefão das
drogas financiado pela CIA . Após uma grande ofensiva do exército
norte-americano na província de Kandahar, em 2011, o coronel Abdul Razziq foi
nomeado chefe de polícia local, impulsionando o contrabando de heroína que já
lhe rendeu 60 milhões de dólares ao ano, em um dos países mais pobres do
planeta.
2. Albânia
Entre 1949 e 1953, os
EUA e o Reino Unido aliaram-se para derrubar o governo da Albânia, o menor e
mais vulnerável país comunista no Leste Europeu. Exilados foram recrutados e
treinados para retornar à Albânia e, estimular dissidentes a planejar um
levante armado. Muitos dos exilados envolvidos no plano foram antigos
colaboradores da Itália fascista e da Alemanha nazista, durante a Segunda
Guerra Mundial. A lista incluía um antigo Ministro do Interior, Xhafer Deva,
que supervisionou as deportações de “judeus, comunistas, partisans e pessoas
suspeitas” (como descrito em um documento nazista) para o campo de concentração
de Auschwitz. Documentos norte-americanos secretos que se tornaram públicos
revelaram desde então que Deva foi um dos 743 fascistas criminosos de guerra
que os EUA recrutaram após a guerra.
3. Argentina
Documentos secretos que
foram liberados ao público em 2003, detalham conversações de outubro de 1976,
entre o então secretário de Estado dos EUA, Henry Kissinger, e sua contraparte
argentina, o ministro das Relações Exteriores Almirante Guzzetti, pouco tempo
depois de a junta militar tomar o poder na Argentina. Kissinger aprovou,
explicitamente, a “guerra suja” dos militares sul-americanos, que matou
aproximadamente 30 mil pessoas – jovens, em sua maioria – e roubou 400 órfãos
de suas famílias. Kissinger disse a Guzzetti: “Veja bem, nossa posição é que
você tenha sucesso…quanto mais rápido você tiver sucesso, melhor”. O embaixador
dos EUA em Buenos Aires relatou que Guzzetti “saiu da conversa em estado de
júbilo, convencido que não haveria nenhum problema por parte do governo
norte-americano sobre esse assunto”.
4. Brasil
Em 1964, o general
Castelo Branco liderou um golpe que iniciou 20 anos de uma brutal ditadura
militar. O adido militar norte-americano, Vernon Walters – mais tarde Diretor
Interino da CIA e embaixador na ONU – conhecia bem Castelo Branco desde a
Segunda Guerra Mundial, na Itália. Por ter sido um agente da CIA, os relatórios
de Walters sobre o Brasil nunca vieram a público, mas a CIA providenciou todo o
apoio necessário para garantir o sucesso do golpe de Estado, assim como na
Ucrânia e Venezuela, recentemente. Uma força anfíbia dos Marines
norte-americanos estava à postos para desembarcar no país, mas não foi
necessário. Assim como outras vítimas dos golpes apoiados pelos EUA na América
Latina, o presidente eleito João Goulart era um rico latifundiário, não um
comunista, mas seus esforços para permanecer neutro durante a Guerra Fria eram
inaceitáveis para Washington.
5. Camboja
Quando o presidente
Nixon ordenou o bombardeio secreto e ilegal no Camboja, em 1969, os pilotos
norte-americanos foram obrigados a falsificar seus manifestos de voo para
encobrir seus crimes. O bombardeio matou pelos menos 500 mil de cambojanos,
despejando mais bombas no pequeno país asiático do que a Alemanha e o Japão
combinados, durante a Segunda Guerra. Quando o grupo Khmer Vermelho ganhou
força no país, em 1973, a CIA relatou que “sua propaganda é mais efetiva entre
pessoas que sofreram com os bombardeios dos B-52 dos EUA”. Depois de o Khmer
Vermelho matar mais de dois milhões de seu próprio povo e, ser finalmente
expulso do país pelo exército do Vietnã, em 1979, o Grupo de Emergência de Kampuchea,
que tinha como base embaixada norte-americana na Tailândia, organizou-se para
apoiar e alimentar os genocidas do Khmer, vistos então como um grupo de
“resistência” contra o novo governo cambojano, apoiado pelos vietnamitas. Com a
pressão dos EUA, o Programa Mundial de Alimentos providenciou 12 milhões de
dólares para alimentar de 20 a 40 mil soldados do Khmer Vermelho. Por pelo
menos mais uma década, a inteligência do exército norte-americano forneceu
imagens de satélites ao grupo, enquanto forças dos EUA e do Reino Unido
treinavam-no para plantar milhões de minas terrestres no oeste do país. Até
hoje, elas matam e mutilam centenas de pessoas todos os anos.
6. Chile
Quando Salvador Allende
tornou-se presidente, em 1970, o presidente dos EUA, Richard Nixon prometeu
“fazer a economia berrar” no Chile. O maior parceiro do país sul-americano eram
os EUA, que cortou o comércio bilateral a fim de causar um caos econômico e
falta de suprimentos. A CIA e o Departamento de Estado promoveram sofisticadas
operações de propaganda durante uma década, financiando políticos
conservadores, partidos, sindicatos, grupos estudantis e todos os veículos de
mídia, enquanto expandiam seus laços com os militares. Após o general Augusto
Pinochet tomar o poder, a CIA manteve os oficiais chilenos em sua folha de
pagamentos e trabalhou em conjunto com o serviço de inteligência chileno,
enquanto o governo militar matava milhares de pessoas, prendendo e torturando
outras dezenas de milhares. Enquanto isso, os “Chicago Boys”, cerca de 100
estudantes chilenos enviados pelo Departamento de Estado dos EUA para estudar
na Universidade de Chicago, sob a égide do economista Milton Friedman, lançaram
um programa radical de privatizações, desregulamentação econômica e políticas
neoliberais que manteve a economia do Chile berrando para grande parte dos
chilenos ao longo da ditadura militar de 16 anos de Pinochet.
7. China
Ao final de 1945, 100
mil soldados norte-americanos estavam lutando lado a lado com o Kuomitang
chinês nas áreas dominadas por comunistas no nordeste da China. O Kuomitang e
seu líder, o general Chiang Kai-Shek, foram possivelmente os aliados mais
corruptos dos EUA. Inúmeros conselheiros norte-americanos na China alertaram
que a ajuda que os EUA enviava estava sendo roubada por Chiang e seus
comparsas, alguns dos itens enviados sendo até vendidos aos japoneses, mas o
compromisso norte-americano com o general estendeu-se pela II Guerra Mundial,
sua derrota posterior diante dos comunistas e seu governo em Taiwan. A perigosa
diplomacia do Secretário de Estado, Allen Dulles, em apoio a Chiang, quase
colocou os EUA, por duas vezes, à beira de uma guerra nuclear com a China – em
1955 e 1958 – por conta de duas pequenas ilhas na costa chinesa, Matsu e Qemoy.
8. Colômbia
Quando forças especiais
do exército dos EUA e sua agência de combate às drogas auxiliaram o governo
colombiano a caçar e matar o chefão das drogas Pablo Escobar, eles trabalharam
com um grupo de justiceiros chamado Los Pepes. Em 1997, Diego Murillo-Bejaran e
outros líderes dos Los Pepes fundaram a AUC – as Autodefesas Unidas da Colômbia
-, que foi responsável por 75% das mortes violentas de civis no país nos dez
anos seguintes.
9. Coreia
Quando as forças dos EUA
chegaram na Coreia, em 1945, foram recepcionadas por oficiais da República
Popular da Coreia (KPR, sigla em inglês), formado por grupos de resistência que
renderam forças japonesas na II Guerra Mundial e começaram a estabelecer lei e
ordem por todo o país. O general Hodge expulsou-os então da metade sul do país
e colocou a região sob ocupação militar norte-americanas. Em contraste, forças
russas no norte reconheceram a autoridade do KPR – o que resultou na divisão da
Coreia. Os EUA então trouxeram Sygnman Rhee, um exilado coreano conservador e o
instalaram como presidente da Coreia do Sul. Rhee tornou-se tornou um ditador
na cruzada anticomunista; prendeu e torturou suspeitos de serem comunistas;
liquidou rebeliões com brutalidade; matou 100 mil pessoas e jurou retomar a
Coreia do Norte. Ele foi parcialmente responsável pela “explosão” da Guerra da
Coreia e pela decisão aliada de invadir a vizinha do norte. Finalmente, foi
forçado a renunciar por um protesto em massa de estudantes, em 1960.
10. Cuba
Os EUA apoiaram a
ditadura de Fulgencio Batista, cuja opressão matou mais de 20 mil cubanos e
fomentou a revolta que causou a Revolução Cubana. O ex-embaixador Earl Smith
testemunhou no Congresso “’que a influência dos EUA em Cuba era tão grande, que
o embaixador norte-americano era a segunda pessoa mais importante no país; às
vezes até mais que o próprio presidente cubano”. Após a revolução, a CIA
iniciou uma campanha de terrorismo contra a ilha, treinando cubanos exilados na
Florida, América Central e República Dominicana para cometer assassinatos e
atos de sabotagem em Cuba. As operações patrocinadas pela CIA incluíram a
tentativa de invasão da ilha pela Baía dos Porcos, em 1961, causando a morte de
cem cubanos exilados e quatro norte-americanos; diversos atentados contra Fidel
Castro e de outros governantes cubanos; ataques aéreos com bombas e atentados
terroristas contra turistas, que incluíram um navio francês aportado em Havana
(75 mortos), um ataque biológico com a gripe suína que matou meio milhão de
porcos e a explosão de um avião (78 mortos) das linhas aéreas cubanas,
planejada por Luis Carlos Posada e Orlando Bosch. Ambos continuam livres nos
EUA, apesar de os norte-americanos estarem em “guerra contra o terrorismo”.
Bosch recebeu o perdão presidencial do primeiro George Bush.
11. El Salvador
A guerra civil que
arrasou El Salvador na década de 1980 foi um levante popular contra um governo
extremamente brutal. Pelo menos 70 mil pessoas foram mortas e milhares de
outras desapareceram. A Comissão da Verdade da ONU organizada após a guerra
encontrou evidências que 95% das mortes foram causadas pelo governo e
esquadrões da morte e apenas 5% pelas guerrilhas do FLMN. As forças
governamentais responsáveis por esse massacre unilateral foram praticamente
todas montadas, treinadas, armadas e supervisionadas pela CIA, pelas forças
especiais dos EUA e pela infame Escola das Américas. A Comissão da ONU
descobriu que as unidades que cometeram as piores atrocidades – como o Batalhão
Atlacatl, que conduziu o terrível massacre de El Mozote, eram precisamente as mais
próximas da supervisão norte-americana. O papel dos EUA na campanha de
terrorismo de Estado é agora louvado por oficiais militares mais velhos como um
modelo de “contra-insurgência” na Colômbia e outros lugares onde a guerra ao
terror dos EUA leva violência e caos pelo mundo.
12. Filipinas
Desde que os EUA
lançaram sua suposta guerra ao terror em 2001, uma força-tarefa de 500 soldados
das forças especiais conduziu operações secretas no sul das Filipinas. Com
Obama, a ajuda militar dos EUA para o país aumentou de 12 milhões de dólares,
em 2001, para 50 milhões, neste ano. No entanto, ativistas de direitos humanos
filipinos relatam que o aumento da ajuda coincide com o aumento de operações
militares de esquadrões da morte contra civis. Nos últimos três anos, pelo
menos 158 pessoas foram mortas por esses esquadrões.
13. França
Ao final da II Guerra
Mundial, as forças aliadas descobriram que tanto na França como na Itália,
Grécia, Indochina, Indonésia, Coreia e Filipinas, as forças de resistência
comunista tinham conquistado o efetivo controle de várias áreas e até mesmo do
país inteiro, ao passo que as forças alemãs e japonesas retiravam-se ou se
rendiam. Na cidade costeira de Marselha, o sindicato de comércio controlado
pelos comunistas controlava as docas, que eram essenciais para o comércio dos
EUA e o Plano Marshall. A agência norte-americana OSS (antecessora da CIA) já
havia trabalhado durante a guerra com a máfia siciliana na Itália e com os
gângsteres de Córsega, na França. Quando a OSS transformou-se na CIA, após a
guerra, restabeleceu seus antigos contatos e usou os criminosos corsos para
acabar com as greves e controlar as docas de Marselha. A CIA passou a proteger
os corsos, enquanto eles montavam seus laboratórios de heroína e, inclusive
quando despachavam a heroína para Nova York, onde, por sua vez, os sicilianos
mafiosos revendiam a droga com a proteção da CIA. Ironicamente, o suprimento de
drogas quase foi zerado devido a Revolução Chinesa e o vício em heroína poderia
ter sido eliminado, mas a Conexão França da CIA trouxe permitiu uma nova onda
de vício, crime organizado e violência relacionada ao tráfico para Nova York e
outras cidades do país.
14. Gana
Atualmente parece não
haver líderes nacionais inspiradores na África. Mas isso pode ser culpa dos
EUA. Nas décadas de 1950 e 1960, existia uma estrela em ascensão em Gana: Kwame
Nkrumah. Ele foi primeiro-ministro sobre controle britânico, entre 1952 e 1960.
Quando Gana tornou-se independente, assumiu a presidência. Era um socialista,
pan-africanista e anti-imperialista; em 1965, escreveu um livro chamado
Neo-Colonialismo: O último estágio do imperialismo. Nkrumah foi destituído em
golpe da CIA, em 1966. A agência negou na época seu envolvimento, mas a
imprensa britânica revelou posteriormente, que 40 oficiais da agência operavam
na embaixada dos EUA “distribuindo favores entre os adversários secretos de
Nkrumah” – os quais “foram completamente recompensados”. O ex-agente da CIA,
John Stockwell, revela bastante sobre o golpe em seu livro Em Busca de Inimigos
15. Grécia
Quando as forças
britânicas desembarcaram na Grécia em outubro de 1944, eles descobriram que o
país estava sobre controle efetivo do ELAS-EAM, a guerrilha esquerdista formada
pelo Partido Comunista Grego em 1941, após a invasão alemã e italiana no país.
O ELAS-EAM recebeu de braços abertos os britânicos, mas estes recusaram-se a
qualquer entendimento com os comunistas e instalaram um governo que incluía
defensores da realeza e colaboradores nazistas. Quando o ELAS-EAM organizou uma
manifestação maciça em Atenas, a polícia abriu fogo e matou 28 pessoas. Os
britânicos recrutaram membros nazistas versados em combate para caçar e prender
membros dos ELAS, que novamente pegaram em armas para lutar como resistência.
Em 1947, com uma guerra civil em andamento, a Grã-Bretanha, falida, recorreu
aos EUA para ocupar e controlar a Grécia. O papel dos norte-americanos apoiando
o incompetente governo fascista grego estava embasado na Doutrina Truman,
encarada por muitos historiadores como o início da Guerra Fria. Os membros da
ELAS-EAM deixaram suas armas em 1949, após a Iugoslávia retirar seu apoio a
eles. Cerca de 100 mil foram executados, exilados ou aprisionados. O
primeiro-ministro liberal Georgios Papandreou foi deposto com um golpe
orquestrado pela CIA, em 1967, levando a mais sete anos de ditadura militar.
Seu filho Andreas foi eleito o primeiro presidente “socialista”, em 1981, mas
muitos membros do ELAS-EAM presos na década de 1940, nunca foram libertados e
morreram na prisão.
16. Guatemala
Após sua primeira
experiência para derrubar um governo estrangeiro com o Irã, em 1953, a CIA
lançou uma operação mais elaborada para remover o governo eleito do liberal
Jacobo Arbenz, na Guatemala, em 1954. A CIA recrutou e treinou um pequeno
exército de mercenários em conluio com o guatemalteco exilado, Castillo Armas,
para invadir o país, contando com o apoio aéreo de 30 aviões não-identificados.
O embaixador norte-americano, John Peurifoy, preparou uma lista de
guatemaltecos a serem executados e Armas foi instalado como presidente. O reino
de terror que se seguiu iniciou os 40 anos de guerra civil no país, que
resultou na morte de 200 mil pessoas – indígenas, em sua maioria. O clímax da
guerra foi a campanha de genocídio desencadeada na comunidade Ixil, pelo então
presidente Rios Montt. Ele foi sentenciado a prisão perpétua em 2013, até que a
Suprema Corte da Guatemala anulou o julgamento, a pretexto de uma
tecnicalidade. Um novo julgamento está marcado para 2015. Documentos da CIA
revelam que o governo Reagan estava totalmente informado da natureza genocida
indiscriminada das operações militares dos guatemaltecos quando aprovou uma
nova ajuda financeira em 1981, que incluía veículos militares, partes
sobressalentes de helicópteros e enviou de conselheiros militares
norte-americanos. Os documentos da CIA detalham o massacre e a destruição de
vilas inteiras e concluem: “A bem-documentada crença do exército, segundo a
qual a população inteira dos índios Ixil é pró-EGP (Exército Guerrilheiro dos
Pobres) criou uma situação na qual, espera-se, que o exército não poupe
combatentes e nem não-combatentes”.
17. Haiti
Quase 200 anos depois da
rebelião dos escravos que criou o Haiti e derrotou os exércitos de Napoleão, a
sofrida população do país finalmente elegeu um verdadeiro governo democrático,
liderado pelo padre Jean-Bertrand Aristide, em 1991. Mas o governo de Aristide
foi derrubado por um golpe militar apoiado pelos EUA, apenas oito meses depois
de ter assumido o cargo. Além disso, a agência de inteligência do Pentágono
recrutou uma força paramilitar chamada FRAPH com o objetivo de destruir o
movimento de Aristide, chamado Lavalas. A CIA colocou o líder do FRAPH,
Emmanuel “Toto” Constant, em sua folha de pagamentos e lhe enviou armas pela
Florida. Quando o presidente Clinton enviou uma força de ocupação para
recolocar Aristide no poder, em 1994, os membros da FRAPH detidos pelos
militares norte-americanos foram liberados com ordens de Washington e a CIA
manteve a FRAPH como um grupo criminoso para sabotar tanto Aristide, como o
Lavalas. Após Aristide ser eleito novamente em 2000, uma força de pelo menos
duzentos soldados das forças especiais dos EUA, treinou cerca de seiscentos
antigos membros do FRAPH – dentro da República Dominicana para se preparar para
um segundo golpe de Estado. Em 2004, eles lançaram uma campanha de violência
para desestabilizar o Haiti, crianao novo pretexto para forças dos EUA
desembarcarem no país e removerem Aristide do cargo. Pela segudna vez.
18. Honduras
O golpe de 2009 em
Honduras iniciou uma era de dura repressão e o assassinato, por esquadrões da
morte de oponentes políticos, sindicalistas e jornalistas. Na época, oficiais
norte-americanos negaram qualquer participação com o golpe e usaram de
semântica para evitar o corte da assistência militar – driblando o que é
requerido pelas leis dos EUA. Mas dois vazamentos do Wikileaks revelaram que a
embaixada dos EUA era a maior patrocinadora nas gestões, pós-golpe, para a
formação de um governo que reprimiu seu próprio povo.
19. Indonésia
Em 1965, o general
Suharto tomou o poder do presidente Sukarno sob o pretexto de combater um golpe
fracassado. Iniciou, na sequência, uma ondaa de assassinatos em massa, que
resultaram na morte de pelo menos meio milhão de pessoas. Diplomatas
norte-americanos admitiram posteriormente que proveram listas com os nomes de 5
mil membros do Partido Comunista que seriam mortos. O oficial político Robert
Martens disse: “Realmente foi uma grande ajuda para o exército. Eles
provavelmente mataram muitas pessoas e eu provavelmente tenho muito sangue em
minhas mãos, mas isso não é tão ruim. Há momentos em que você tem agir com
força, em um momento decisivo.
20. Irã
O Irã talvez seja o caso
mais instrutivo sobre golpes da CIA que causaram uma interminável lista de
problemas para os EUA. Em 1953, a CIA e o MI-6 britânico derrubaram o popular
governo eleito de Mohammed Mossadegh. O Irã havia nacionalizado sua indústria
petrolífera por votação unânime no Parlamento, encerrando o monopólio da
British Petroleum (BP), que pagava ao país apenas 16% dos royaties na venda de
seu próprio combustível. Por dois anos, o Irã resistiu ao bloqueio naval
britânico e sanções econômicas internacionais. Quando o presidente Eisenhower
entrou na Casa Branca em 1953, a CIA concordou com um pedido britânico de
intervenção. Depois que o primeiro golpe falhou e o Xá Reza Pahlevi voou para a
Itália, a CIA pagou milhões de dólares em suborno para oficiais militares e
gangsters, que aterrorizaram as ruas de Teerã com violência. Até que Mossadegh
finalmente foi removido e o Xá retornou ao poder como um brutal fantoche
ocidental, até a Revolução Iraniana, em 1979.
21. Iraque
Em 1958, após o general
Abdul Qasim derrubar a monarquia apoiada pela Grã-Bretanha, a CIA contratou um
jovem de 22 anos, chamado Saddam Hussein, para assassiná-lo. Hussein e sua
gangue falharam feio na missão e ele fugiu para o Líbano, ferido na perna por
um de seus companheiros. A CIA alugou-lhe um apartamento em Beirute. Depois,
deslocou-o para Cairo, onde era pago como um agente da inteligência egípcia e
era, também, um frequente visitante da embaixada norte-americana. A CIA
finalmente assassinou Qasim em um golpe pelo Partido Baath – e, como na
Guatemala e Indonésia, entregou ao novo regime uma lista de pelo menos 4 mil
membros do Partido Comunista a serem assassinados. No entanto, uma vez no
poder, o Baath não se dispôs a ser um fantoche ocidental. Nacionalizou a
indústria petrolífera no país, adotou uma política externa nacionalista e criou
o melhor sistema educacional e de saúde no mundo árabe. Em 1979, Saddam Hussein
tornou-se presidente, após expurgar oponentes políticos. Lançou-se em uma
desastrosa guerra contra o vizinho Irã. A inteligência do Pentágono abasteceu
Saddam, nesta guerra, com imagens de satélite necessárias para utilizar armas
químicas, que o Ocidente ajudou a produzir. Donald Rumsfeld e outros assessores
do governo norte-americano enxergavam Hussein como um aliado contra o Irã.
Apenas quando o Iraque invadiu o Kuwait e Saddam Hussein tornou-se mais útil
como um inimigo, os EUA retularam-no como “um novo Hitler”. Depois que os EUA
invadiram o Iraque em 2003, baseando-se em mentiras, a CIA recrutou 27 brigadas
da “polícia especial” – unindo a mais brutal das forças de segurança de Hussein
com as milícias Badr, treinadas pelo Irã – para criar esquadrões da morte que
mataram dezenas de milhares de homens e meninos, de maioria sunitas, em Bagdá e
outras cidades, em um reinado de terror que continua até hoje.
22. Israel
Assim como usam seus
poderes econômicos e militares, seu sofisticado programa de propaganda e sua
posição como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU para violar as
leis internacionais com impunidade, os EUA empregam as mesmas ferramentas para
criar um escudo protetor a seu aliado israelense, evitando que este tenha que
responder por seus crimes. Desde 1966, os EUA usaram 83 vezes seu poder de
veto, como membro permanente no Conselho de Segurança – mais do que todos os
outros quatro membros combinados. Em 42 casos, estes vetos foram sobre
resoluções acerca Israel e/ou Palestina. No início desse ano, a Anistia
Internacional publicou um relatório dizendo que “forças israelenses
demonstraram uma enorme indiferença com a vida humana, ao matar dezenas de
civis palestinos, incluindo crianças, na Faixa de Gaza ocupada nos últimos três
anos, com total impunidade”. Richard Falk, o relator especial da ONU sobre
Direitos Humanos em Territórios Ocupados, condenou o ataque de 2008 em Gaza
como uma “violação maciça da lei internacional”, salientando que países como os
EUA, que “forneceram armas e apoiaram o cerco, eram cúmplices nesses crimes”. A
Lei Leahy exige que os EUA cortem assistência militar a forças de segurança que
violem os direitos humanos, mas ela nunca foi aplicada a Israel – que continua
a construir colônias em territórios ocupados, violando o quarto artigo da
Convenção de Genebra, tornando ainda mais difícil o cumprimento das resoluções
da ONU que exigem a retirada completa dos territórios ocupados. Mesmo assim,
Israel continua acima de lei – protegida de prestar de contas pelo seu poderoso
aliado, os EUA.
23. Iugoslávia
O bombardeio aéreo da
OTAN na Iugoslávia em 1999 foi um flagrante crime de agressão que violou o
Artigo 2.4 da Carta da ONU. Quando o secretário de relações exteriores
britânico, Robin Cook, disse à secretária de Estado dos EUA, Caroline Albright,
que o Reino Unido estava tendo “dificuldades com seus advogados” a respeito do
ataque planejado, ela disse, de acordo com seu assistente James Rubin, que os
britânicos deveriam “arrumar novos advogados”. O grupo “terceirizado” pela OTAN
para agir em campo contra a Iugoslávia era o Exército de Libertação de Kosovo
(KLA), liderado por Hashuim Thaci. Um relatório de 2010 do Conselho da Europa e
um livro de Carla Del Ponte, antiga procuradora da Tribunal Internacional de
Justiça para a Iugoslávia, alertaram, por muito tempo, que na época da invasão
da OTAN, Thaci comandava uma organização criminosa chamado Drenica, que enviou
mais de 400 sérvios capturados à Albânia para serem mortos e assim terem seus
órgãos retirados e vendidos para transplante. Hashim Thaci é hoje o primeiro-ministro
de Kosovo, o protetorado da OTAN.
24. Laos
A CIA começou a fornecer
apoio aéreo às forças francesas no Laos, em 1950, e continuou envolvida no país
por mais 25 anos. A agência orquestrou pelo menos três golpes de Estado entre
1958 e 1960, com o intuito de manter a crescente esquerda, liderada por Pathet
Lao, fora do poder. A CIA também trabalhou com os chefões do tráfico de drogas
de direita no Laos, como o general Phoumi Nosavan – transportando ópio entre o
Myanmar, Laos e Vietnã – além de proteger seu monopólio no comércio de ópio no
Laos. Em 1962, a CIA recrutou um exército clandestino de mercenários que
contava com 30 mil soldados veteranos de guerras de guerrilha da Tailândia,
Coreia, Vietnã e das Filipinas, para lutar contra Pathet Lao. Como inúmeros
soldados norte-americanos se viciaram em heroína, durante a guerra do Vietnã, a
Air America, da CIA, transportou ópio do território Hmong, nas montanhas, para
os laboratórios de heroína do general Vang Pao, em Long Tieng e Vientiane, para
serem embarcadas para o Vietnã. Quando o golpe da CIA contra Pathet Lao falhou,
os EUA bombardearam o Laos, tão brutalmente quanto no Camboja, lançando 2
milhões de toneladas de bomba.
25. Líbia
A ação da OTAN na Líbia
construiu a maneira “disfarçada, silenciosa e livre de imprensa” adotada pelo
presidente Obama para fazer guerra. A campanha de bombardeio da OTAN foi
falsamente vendida ao Conselho de Segurança da ONU como um esforço para proteger
civis e o papel dos militares ocidentais e outras forças estrangeiras foi bem
disfarçado, mesmo quando as forças especiais do Qatar (incluindo mercenários
paquistaneses ex-agentes do ISI) lideraram o ataque final ao quartel-general
Bab Al-Azizia, em Trípoli. A OTAN conduziu 7.700 ataques aéreos. Entre 30 e 100
mil pessoas foram mortas. Cidades leais ao governo foram bombardeadas até virar
destroços. Hoje, quando o país está em caos, milícias armadas e treinadas pelo
Ocidente dominam territórios e instalações de petróleo, por meio da força. Uma
delas, a Misrata, é um das mais violentas e poderosas. Há poucos dias,
manifestantes entraram atirando no Congresso pela quarta ou quinta vez, em
poucos meses e dois representantes eleitos foram mortos enquanto fugiam.
26. México
A contagem de mortos nas
guerras às drogas no México chegou recentemente a 100 mil vítimas. O mais
violento dos cartéis de drogas é conhecido por “Los Zetas”. Oficiais dos EUA
dizem que eles são os “mais tecnológicos, avançados e perigosos dos cartéis
operando no México”. O cartel dos Zetas foi formado por forças de segurança
mexicanas, que por sua vez, foram treinados por forças especiais
norte-americanas, na Escola das Américas, em Fort Benning – Geórgia; e em Fort
Bragg, Carolina do Norte.
27. Myanmar
Após a Revolução
Chinesa, os generais do Kuomitang deslocaram-se para o norte de Myanmar e se
tornaram poderosos barões das drogas, contando com a proteção militar da
Tailândia, financiados por Taiwan e tendo o suporte logístico e transporte aéreo
da CIA. A produção de ópio em Myanmar cresceu de 18 toneladas em 1958, para 600
toneladas em 1970. A CIA manteve essas forças como um bastião na luta contra a
China comunista. Ajudou a converter o “Triângulo de Ouro” no maior produtor
mundial de ópio. A maioria dessa produção foi transportada por mulas para a
Tailândia, onde outros aliados da CIA, embarcavam-na para laboratórios de
heroína em Hong Kong e Malásia. O comércio mudou um pouco o foco quando o
parceiro da CIA, general Vang Pao, montou novos laboratórios no Laos, para
fornecer heroína aos soldados norte-americanos.
28. Nicarágua
A Nicarágua foi
governada por Anastasio Somoza por 43 anos como se fosse seu feudo particular.
O ditador contou com o apoio incondicional dos EUA, enquanto sua Guarda Nacional
cometia todo o tipo de crime imaginável – de assassinatos à tortura, de
extorsão a estupro – sempre com completa impunidade. Após Somoza finalmente ser
deposto pela Revolução Sandinista, em 1979, a CIA recrutou, treinou e apoiou os
mercenários “contras”, que invadiram o país com o objetivo de promover
terrorismo e desestabilizar a Nicarágua. Em 1986, a Corte Internacional de
Justiça considerou os EUA culpados de agressão contra Nicarágua, por enviarem
os “contras” e sabotarem os portos nicaraguenses. A Corte ordenou que os EUA
terminassem suas agressões e pagassem reparações de guerra à Nicarágua, mas
isso nunca aconteceu. A resposta norte-americana foi dizer que não considerava
mais a jurisdição da Corte Internacional – efetivamente colocando-se acima das
leis internacionais.
29. Paquistão; 30.Arábia
Saudita; 31. Turquia
Após ler o meu último
texto no Alternet sobre o fracasso na guerra ao terror, um ex-especialista em
terrorismo da CIA e Departamento de Estado, Larry Johnson, disse que “o
principal problema sobre enfrentar a ameaça terrorista é definir precisamente o
patrocínio do Estado. Os maiores culpados hoje, em contraste ao que ocorria
vinte anos atrás, são o Paquistão, a Arábia Saudita e a Turquia. O Irã, apesar
das bravatas dos neoconservadores de direita, não está ativamente encorajando
e/ou facilitando o terrorismo”. Nos últimos doze anos, a ajuda militar dos EUA
ao Paquistão totalizou 18,6 bilhões de dólares. Os EUA acabaram de negociar a
maior venda de armas na história com a Arábia Saudita e a Turquia é um velho
membro da OTAN. Os três maiores países patrocinadores do terrorismo são todos
aliados dos EUA.
32. Panamá
Integrantes da agência
antidrogas DEA, nos EUA, queriam prender Manuel Noriega em 1971, quando ele era
o chefe da inteligência militar no Panamá. Tinham evidências suficientes para
condená-lo por tráfico de drogas, mas ele era ao mesmo tempo, um velho agente e
informante da CIA – assim como tantos outros traficantes também foram, de
Marselha a Macau. Por isso, era intocável. Foi temporariamente desligado de
suas funções durante o governo Carter mas, mesmo assim, continuava a receber
seu pagamento anual de 100 mil dólares do Tesouro norte-americano. Quando subiu
ao status de governante de fato do país, Noriega tornou-se ainda mais valioso
para a CIA – relatando seus encontros com Fidel Castro em Cuba e Daniel Ortega
na Nicarágua, além de apoiar as operações secretas dos EUA dentro da América
Central. Noriega provavelmente parou de traficar drogas em 1985, muito antes de
os EUA o acusarem publicamente em 1988. O indiciamento em 1989 foi apenas uma
desculpa para os EUA invadirem o Panamá, cujo maior propósito era ter um
controle ainda maior sobre o país a um custo de 2 mil vidas.
33. Síria
Quando o presidente
Obama aprovou em 2011, o envio de armas e de homens da milícia na Líbia para a
base do “Exército Livre da Síria”, na Turquia – em voos da OTAN não registrados
–, calculou que os EUA e seus aliados poderiam replicar o “sucesso” que foi a
mudança de regime na Líbia. Todos os envolvidos no caso compreenderam que, na
Síria, o conflito seria longo e sangrento, mas apostaram que, ao final, o
resultado seria o mesmo, mesmo com 55% de sírios apoiando publicamente o
presidente Assad. Poucos meses depois, os líderes ocidentais sabotaram o plano
de paz de Kofi Annan, e usaram o “plano B”, Amigos da Síria. Esse não era um
plano alternativo de paz, mas um comprometimento com a escalada da violência,
oferecendo apoio garantido, dinheiro e armas para os jihadistas na Síria,
garantindo assim que eles ignorassem o plano de Kofi Annan e continuassem
lutando. Essa ação selou o destino de milhões de pessoas. Nos últimos dois
anos, o Qatar gastou 3 bilhões de dólares enviando armas para a Síria; a Arábia
Saudita embarcou armas via Croácia e países ocidentais junto de forças
especiais de países árabes, treinaram milhares de jihadistas radicais e
fundamentalistas, que hoje são aliados à Al-Qaeda. As conversações na
conferência conhecida como “Genebra 2” foram uma meia tentativa de retomar o
plano de paz de Kofi Annan, mas a insistência ocidental de que a “transição
política” deve envolver a renúncia de Assad revela que os líderes ocidentais
valorizam mais a mudança de regime do que a paz. Parafraseando, Phillys Bennis,
os EUA e seus aliados ainda estão dispostos a lutar até o último sírio.
34. Uruguai
Muitos dos oficiais
estrangeiros com quem os EUA trabalharam em conjunto tiraram proveito pessoal
de sua cooperação com os crimes norte-americanos ao redor do mundo. Mas no
Uruguai da década de 1970, quando o chefe de polícia, Alejandro Otero, alertou
seus superiores de que os norte-americanos estavam treinando uruguaios na arte
da tortura, foi rebaixado em hierarquia. O norte-americano de quem ele reclamou
era Dan Mitrione, que trabalho para o Escritório de Segurança Pública dos EUA –
uma divisão da USAID. As sessões de treinamento de Mitrione incluíam torturar
pessoas sem-teto até a morte com choques elétricos, para ensinar os
“estudantes” até que limite podiam chegar.
35. Zaire (República
Democrática do Congo)
Patrice Lumumba, o
presidente do Movimento Nacional Pan-Africano Congolês, tomou parte na pela
independência de seu país e se tornou o primeiro governante eleito do Congo, em
1960. Foi deposto por um golpe patrocinado pela CIA e liderado por
Joseph-Desire Mobutu, o líder do exército. Mobutu entregou Lumumba para
separatistas e mercenários apoiados pela Bélgica, contra quem ele tanto lutara
na província de Katanga. Foi executado por um pelotão de fuzilamento. Mobutu
aboliu as eleições e se autoproclamou presidente em 1965 – continuando no poder
como ditador por mais trinta anos. Matou oponentes políticos em enforcamentos
públicos, mandou outros para a tortura até a morte e, ao final, embolsou 5
bilhões de dólares, enquanto o Zaire, nome cunhado por ele, permanecia um dos
países mais miseráveis do planeta. Mas o apoio norte-americano a Mobutu
continuou. Até mesmo quando presidente Carter distanciou-se dele publicamente,
o ditador continuou a receber 50% de toda a assistência militar que os EUA para
a África Subsaariana. Quando o Congresso votou para cortar tal ajuda, Carter e
os empresários interessados lutaram para restaurá-la. Apenas na década de 1990,
os EUA passaram a abandonar seu antigo fantoche e Mobutu foi deposto por outro
golpe em 1997, liderado por Laurent Kabila.
Uma enorme sofrimento
humano poderia ter sido evitado, e problemas globais resolvidos, se os EUA
estivessem genuinamente comprometidos com a defesa dos direitos humanos e o
cumprimento da lei – diferente do que fazem, aplicando, de maneira cínica e
oportunista, tais princípios a seus inimigos e, nunca, a seus aliados e a si
próprios.
Assinar:
Postagens (Atom)