2 de setembro de 2023

Olhar crítico dos 200 anos da presença luterana no Brasil.

200 anos distribuindo leite, quando a IECLB vai crescer?

 

 

Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. 1 Co 3.2

Ora, todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, porque é criança. Hb 5.13

Porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo.  Rm 14.17

 

 

Sumário

Introdução

1 - A realidade sob o capital na qual vivemos.

1.1 - A sociedade de classes.

1.2 - Nancy Fraser resume o capitalismo em quatro itens

2 - A IECLB na realidade da luta de classes.

2.1 - Quem manda na Igreja?

3 - 200 anos distribuindo leite?

3.1 - Quando o nosso povo vai receber um churrasco de costela de boi velho para degustar?

3.2 - Os trinta anos de churrasco.

3.3 - A Reestruturação capitalista neoliberal veio para retomar a distribuição do leite.

4 - Como se chegou a isso?

5 - Sobre a estrutura do Concílio

6 - O Projeto Popular de Igreja

6.1 - Experiências fora do Modelo de Igreja de Atendimento numa tentativa de se construir um Projeto Popular de Igreja para a IECLB a nível nacional

7 - O neoliberalismo na Igreja.

8 - Uma Avaliação desse processo

9 - E a esperança, cadê?

9.1 - Trabalho de Base

9.2 – Formação massiva e de lideranças

9.3 – As Lutas de Classe

9.3.1 - Qual o nó górdio?

9.3.2 - Devemos começar em todas as frentes.

 

 

Introdução.

 

Antes de distribuir leite ou churrasco de costela de boi ao povo da Igreja e à sociedade classista brasileira a Igreja tem que conhecer o mundo, a sociedade de classes em permanente luta de classes, na qual ela atua, senão não consegue atualizar corretamente a Palavra de Deus como Lei e Evangelho, pois não conhece a dinâmica da sociedade de classes para qual prega a Palavra de Deus.

 

Primeiro vem a questão teórica para entender a nossa realidade sob o capital imperialista, pois a Bíblia é o momento segundo - a Teoria. Ela reproduz no texto, o momento primeiro – a Prática, o processo histórico da luta de classes na qual Javé/Jesus se inseriu para acabar com a sociedade de classes, e, no momento terceiro – nova Prática, viabilizar o processo revolucionário de construção por/em/com Jesus Cristo do Reino de Deus hoje. A metodologia bíblica é Prática-Teoria-Prática = Práxis. O Projeto Político Revolucionário Global de Deus para a Humanidade em construção na Bíblia Javé/Jesus quer viabilizar hoje. Essa é a nova prática apontada pelo texto bíblico para hoje. O instrumento político revolucionário classista para isso foi criado pelo Espírito Santo que se chama Igreja de Jesus Cristo, aliado ao movimento popular, sindical, partidos políticos de esquerda e setores desprezados pela sociedade de classes. Esse Instrumento Político Revolucionário sem fronteiras luta hoje contra o projeto do capital, que devemos conhecer bem para poder eliminá-lo como exigência do Evangelho, pois é um dos instrumentos que o diabo usa para tentar impedir a construção revolucionária sem fronteiras do Reino de Deus por/em/com Jesus Cristo.

Marx[1] afirma, para entender a realidade, que

 

O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência da pessoa que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência.

 

Engels[2] continua:

 

A ideia fundamental que atravessa todo o Manifesto – a saber, que em cada época histórica a produção econômica e a estrutura social que dela necessariamente decorre constituem a base da história política e intelectual dessa época; que, consequentemente (desde a dissolução da antiga posse em comum da terra) toda a história tem sido a história da luta de classe, de luta entre classes exploradas e classes exploradoras, entre classes dominadas e classes dominantes, nos diferentes estágios do desenvolvimento social;

 

David Harvey, em entrevista[3], nos aponta a necessidade de ler Marx para entendermos as contradições de nossa sociedade. E a Igreja faz parte desta sociedade e participa do processo revolucionário do Reino de Deus.

 

A revolução é um processo, não é um acontecimento. E é um processo que demora muito a seguir adiante e precisa avançar em diferentes frentes. Supõe transformações em conceitos mentais sobre o mundo, as relações sociais, as tecnologias e também em estilos de vida. Cada um de nós tem uma posição em nossa sociedade, onde pode contribuir em alguma destas frentes. (...) A economia contemporânea tende a evitar as contradições. Não gosta das contradições, desse modo, finge que não existem. Então, Marx vem e diz que o capital por definição é contraditório, e se você deseja uma análise sobre o funcionamento das contradições, você tem que se colocar e precisa estudar Marx.

 

A Igreja também não gosta das contradições, procura esconder e abafar as contradições e os conflitos dentro dela e principalmente os da sociedade. A Igreja também finge que não existe a luta de classes dentro dela e com isso concede poder a quem manda na Igreja, a pequena burguesia urbana e rural conservadora com o apoio de pastores/as conservadores defensores intransigentes do capital. O Reino de Deus é um processo revolucionário em andamento que “Supõe transformações em conceitos mentais sobre o mundo, as relações sociais, as tecnologias e também em estilos de vida”, como lembra Harvey.

No texto Karl Marx, publicado em 1878, Engels[4] relata sobre as duas mais importantes descobertas de Marx para entender a realidade.

 

Entre as numerosas e importantes descobertas com que Marx inscreveu seu nome na história da ciência, só duas queremos destacar aqui.

A primeira é a revolução que realizou em toda a concepção da história universal. ... Marx demonstrou que toda história da humanidade, até hoje, é uma história de lutas de classes que todas as lutas políticas, tão variadas e complexas giram unicamente em torno do poder social e político de umas e outras classes sociais; por parte das classes novas, para conquistá-lo. ...

A segunda descoberta importante de Marx consiste em haver esclarecido definitivamente a relação entre o capital e o trabalho; em outros termos, em haver demonstrado como se opera, dentro da sociedade atual, com o modo de produção capitalista, a exploração do operário pelo capitalista.

 

Um exemplo dessa exploração do mais-valor:

Voltando de Chapecó, SC, de carona com mais algumas pessoas ouvi a seguinte conversa de um caminhoneiro, que dirige um caminhão frigorífico (transporta a produção dos frigoríficos de Chapecó), fã e eleitor do presidente derrotado nas eleições de 2022:

“Como caminhoneiro recebo de 7 a 8 mil reais ao mês, não mais que isso. Este mês de setembro de 2022 vou receber de salário e porcentagem R$ 6.850,00. O patrão descontando os gastos com o caminhão fica com R$ 20.000,00. Ele tem 18 caminhões o que soma R$ 360.000,00 ao mês. Uma boa bolada.”

O peão caminhoneiro, da classe trabalhadora, paga R$ 20.000,00 ao patrão para poder trabalhar (patrão não paga salário, o peão o produz com o seu trabalho) e fica com R$ 6.850,00 para sustentar a sua família. O peão caminhoneiro trabalha uma semana para gerar o valor de seu salário e o resto do mês, três semanas, trabalha de graça para o patrão. A pergunta que fica: Como um peão, alguém da classe trabalhadora, que produz o mais-valor de R$ 20.000,00 ao mês para o patrão, mesmo sabendo do lucro que produz para o patrão, não tem consciência de classe?

Por isso é fundamental que a pequena burguesia conservadora controle a administração das paróquias para impor a sua teologia à Igreja para que ela não possa construir condições para a peonada criar consciência de classe.

Leite para o povo!

 

1 - A realidade sob o capital na qual vivemos.

1.1 - A sociedade de classes.

Vivemos numa sociedade de classes chamada de capitalismo, que nasceu do resultado das contradições geradas no feudalismo, que se compõe de duas forças: a classe capitalista (os proprietários, os exploradores) e as classes subalternas (os não proprietários, os explorados): a classe trabalhadora, a classe camponesa e os povos originários (povos americanos). Estas classes, exploradores e explorados, estão em permanente luta de classes para defender seus interesses de classe. O capitalismo só sobrevive se mantém os não proprietários na sua condição de não proprietários.

A classe capitalista é a proprietária privada dos meios de produção (terras do latifúndio, fábricas, minas), circulação (empresas de transporte de carga e de pessoas) e distribuição (grande comércio, mercados, bancos). Por ser proprietária privada dos meios de produção a classe capitalista precisa controlar o Estado e seus aparatos para garantir os seus interesses, legalizar a exploração e a expropriação de classe, reduzir os direitos das classes subalternas, apropriar-se dos recursos naturais do país (terras, minas, petróleo, energia, água, vento), e impor a sua repressão às classes subalternas exploradas descontentes, através dos aparatos repressivos do Estado e das leis, como algo legal e legítimo para intimidá-las para que se deixem explorar e expropriar sem resistência e ainda apóiem o capitalismo.

A exploração e a expropriação das classes subalternas (classe trabalhadora e classe camponesa) é vista pela burguesia (os capitalistas) como um direito natural inquestionável e divino seu. Por sua vez a expropriação dos expropriadores (classe capitalista) de seus meios de produção, acumulados e gerados pelo sobretrabalho (mais-valor) das classes subalternas, é inadmissível, uma subversão, um pecado imperdoável e uma heresia, uma violência sem igual segundo os capitalistas. A classe capitalista pode expropriar, nós não. Na visão dos capitalistas a expropriação das classes subalternas não é uma violência, é algo natural, faz parte da vida da economia.

 

1.2 - Nancy Fraser[5] resume o capitalismo em quatro itens:

1 - Não há capitalismo sem “trabalhadores” que produzem mercadorias para gerar o mais-valor para os proprietários e nem sem os “cuidadores” (mulheres e idosos), que estão fora da economia oficial, que reproduzem os seres humanos, historicamente não remunerados.

2 - O capitalismo não vive sem a exploração dos recursos naturais, entendidos como inesgotáveis, para obter as matérias primas para a produção de mercadorias.

3 - É essencial para a acumulação de capital a riqueza saqueada das populações dominadas racialmente pelo capital, é o que se chama de ação imperialista. A produção capitalista para ser lucrativa depende de um fluxo contínuo de insumos baratos, incluindo recursos naturais, trabalho não livre ou dependente e endividamento nacional.

4 - Isso tudo requer um aparelho que garante esse processo que é o Estado, o poder público, com seu sistema jurídico, que garante a propriedade privada, com seu poder de regulação e de repressão sobre as classes expropriadas e suas leis para legitimar a expropriação de classe. Este poder também constrói as infraestruturas necessárias ao capital e garante o desmonte dos direitos das classes subalternas.

Para entender o capitalismo precisamos olhar a economia, a política, as relações de gênero, a etnia, a ecologia e o império. O capitalismo não é apenas uma economia, mas é algo maior, é uma ordem social institucionalizada.

 

Maurice Briton[6] descreve a nossa realidade sob o capital:

 

Em toda a parte do mundo, os homens, na sua grande maioria, estão privados de qualquer controle sobre as decisões que afetam a sua vida de modo mais profundo e mais direto. Vendem a sua força de trabalho, enquanto que outros, que possuem ou controlam os meios de produção, acumulam riquezas, fazem as leis e utilizam o aparelho de Estado para perpetuar e reforçar os seus privilégios. ... Os sindicatos e os partidos "operários" foram originariamente criados para modificar essa situação. Mas todos acabaram por se adaptar de uma ou outra maneira às formas de exploração existentes. Na prática, transformaram-se hoje em engrenagem essencial ao funcionamento "normal" da sociedade de exploração: os sindicatos servem de intermediários no mercado de trabalho, os partidos políticos utilizam as lutas e as aspirações da classe operária para fins que se são próprios. A degenerescência das organizações da classe operária, ela própria um resultado da degenerescência do movimento revolucionário, contribui de modo decisivo para mergulhar na apatia a classe operária, e essa apatia levou por sua vez a uma maior degenerescência dos partidos e sindicatos. ... O que queremos é simplesmente que os próprios operários decidam acerca dos objetivos das suas lutas, e que a direção e a organização dessas lutas lhes não escapem.

 

O mundo operário como a Igreja estão numa encruzilhada e precisam se desvencilhar da cooptação capitalista.

 

2 - A IECLB na realidade da luta de classes.

2.1 - Quem manda na Igreja?

Normalmente a pequena burguesia conservadora com parca formação teológica, defensora intransigente do capital. Ela é o longo braço estendido do capital internacional nos municípios e administra a maioria das paróquias desde a base comunitária, com isso controla a teologia na e da Igreja, e controla todas as instituições no município: Igrejas, Prefeitura, Câmara de Vereadores, cooperativa do agronegócio, clubes de idosos, clubes de futebol, casa de idosos, sindicatos conservadores, maçonaria, Lions, Rotary, Câmara Júnior, Escoteiros, APAE, CTG, CDL, ACI, hospital, Liga Feminina de Combate ao Câncer, partidos políticos, o comércio, a indústria e por aí vai. Nosso inimigo de classe no município é a pequena burguesia urbana e rural conservadora. Por que isso é assim? Porque “O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral.” diz Marx. O modo de produção da vida material é a forma como se produz as mercadorias pela escravidão assalariada e o mais-valor na sociedade de classes na relação entre patrão e peão.

A sociedade de classes é que nem uma barragem que armazena uma enorme força que é contida pela taipa. Se houver uma pequena fissura na taipa a barragem arrebenta. O papel da pequena burguesia conservadora é remendar qualquer fissura no tecido social para que ele não se rasgue e se crie uma nova sociedade não classista. Por isso a pequena burguesia conservadora precisa controlar todas as instituições dos municípios para impedir qualquer fissura no tecido social e assim ameaçar o poder do capital internacional. A Igreja é uma instituição com credibilidade, poder de convocação e tem público cativo a todo o domingo por isso ela precisa ser controlada pelo capital. Quem faz esse papel de cão de guarda raivoso no local é a pequena burguesia urbana e rural. São estes que, pela pressão, ameaça de desemprego dos/as obreiros/as e leis repressivas escritas pelo processo da Reestruturação, impõe à Igreja a sua teologia. Não são os pastores e as pastoras que conduzem teologicamente a Paróquia, mas a pequena burguesia conservadora e reacionária. Pastores/as são apenas “Hampelmänner”, com suas devidas e honrosas exceções.

Pregação pura da Palavra de Deus como Lei e Evangelho? Bela ilusão. O normal é amaciamento do Evangelho para agradar e legitimar o capital. A distribuição do leite serve para isso. Só que com o tempo o leite azeda e vira cachaça, como diz Lênin: “ópio religioso que embrutece o povo”.

A Igreja se adaptou ao modo de produção da vida material vigente, não só porque “o fator que em última instância determina a história é a produção e a reprodução da vida real” (Engels), mas também por causa da ingenuidade de seus obreiros/as que, atolados na visão europeia idealista cartesiana positivista liberal patriarcal colonialista de Deus e de mundo, não aprenderam a fazer análise de conjuntura e de estrutura da Igreja e do capitalismo. Não sabem como a sociedade de classes capitalista funciona. Iludidos pensam que são neutros, apolíticos e que a Igreja é supraclassista. A maioria nem sabe que pertence à classe trabalhadora, pois vende a sua força de trabalho para a Igreja em troca de um salário.

 

3 - 200 anos distribuindo leite?

3.1 - Quando o nosso povo vai receber um churrasco de costela de boi velho para degustar?

A celebração dos 200 anos da presença luterana (para nós IECLB) no Brasil deve ser um evento para uma avaliação profunda para descobrir os avanços, os entraves e os recuos. Em toda celebração tem lugar a Confissão de Pecados, o Kyrie e o Glória. Cuidado para não ficar só no Glória. Devemos nos perguntar se fazemos jus ao nome: Igreja de Jesus Cristo no Brasil. Quem sabe já somos Igreja do deus capital com máscara de Jesus Cristo no Brasil. Quem sabe...

Entre os anos 1970 a 2000 a IECLB começou a distribuir churrasco de costela de boi para o povo, mas por falta de conhecimento, como diz Oséias, a Igreja se deixou enrolar pela propaganda neoliberal: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” Os 4.6.

Qual o conhecimento que faltou? Faltou dominar o marxismo para ter condições de fazer uma análise realista da luta de classes na sociedade e na Igreja. Fomos treinados a ler a Bíblia e a olhar para a teologia pela via idealista cartesiana positivista liberal, que entende a realidade e a teologia como neutras. Por falta do conhecimento do povo da TdL que era ingênuo e não conhecia o marxismo e por isso não conseguiu fazer uma análise correta da luta de classe do tempo do capitalismo neoliberal nos anos 90 e então a direita neoliberal abalroou o processo. Não aprendemos a fazer análise de conjuntura e estrutura e por isso fomos patrolados em nossa burrice.

Por que não dominamos o marxismo como método de leitura da realidade? Porque a Igreja não nos ensina o marxismo. Por quê? Porque ela não pode ensinar o que não sabe. Ou a opção de classe, pela classe capitalista, impede a Igreja de estudar o marxismo e aplicar este método de análise no diagnóstico de nossa realidade?

Segundo o Credo Histórico de Israel Javé fez uma opção de classe, pela classe camponesa, no processo do Êxodo para emancipar a humanidade da sociedade de classes. No NT Javé radicalizou e optou em se tornar artesão na classe camponesa palestina em Jesus de Nazaré e construiu a sua Igreja a partir dos não cidadãos, que nada são (1 Co 1.26-29; 1 Co 4.9-13), do Império Romano. Deus faz uma opção de classe para viabilizar a emancipação da humanidade. Ele opta pelas classes subalternas, pois estas querem uma nova sociedade de pessoas livres e emancipadas. A classe proprietária privada dos meios de produção não quer mudar a sociedade de classes (Êx 5), pois vive da exploração e expropriação das classes subalternas. Disso nos lembra Rosa Luxemburgo[7] em O que quer a Liga Spartakus?

 

Não passa de delírio extravagante acreditar que os capitalistas se renderiam de bom grado ao veredicto socialista de um Parlamento, de uma Assembleia Nacional, que renunciariam tranquilamente à propriedade, ao lucro, aos privilégios da exploração. Todas as classes dominantes, com a mais tenaz energia, lutaram até ao fim por seus privilégios. ... – todos derramaram rios de sangue, caminharam sobre cadáveres, em meio a incêndios e crimes, provocaram a guerra civil e traíram seus países para defender privilégios e poder.

 

Olhando para o Projeto Político Global de Deus para a Humanidade veremos que ele detona a sociedade de classes e propõe uma sociedade sem classes.

Sociedade Proposta na Bíblia para emancipar a Humanidade

AT

NT

Sem propriedade privada dos meios de produção

Lv 25.23; Sl 24.1; Nm 26.54-56

At 2.42-47; Mt 19.21-22; 1 Tm 6.6-10

Sem classes sociais

Dt 15.4; Lv 25.23; Nm 26.52-56

At 4.32-35; Gl 3.28; Cl 3.9b-11

Sem luta de classes porque não há propriedade privada da terra

Nm 26.52-54; Lv 25.23

Mt 22.37-40; At 4.32-35; Mt 19.21

Sem exploração e expropriação de classe

Is 5.8; Am 2.7; 4.1

Tg 5.1-6

Sem Estado

Js 6-8; Gn 11.1-9

Ap 13; Lc 22.25-26; 1 Co 15.24; Rm 13.8

Sem Templo, como religião do Estado

Js 8.30 somente um altar; Êx 30.20; Êx 32.5

Lc 16.16 – 1 Co 3.16; 2 Co 6.16; 1 Co 3.17. Jesus é o Templo Vivo – Jo 2.21-22; Ap 21.22

O Poder Popular se exerce na Assembleia Popular

Nm 27.1-11; Js 24

At 6.1-6; At 15

Resumindo: O Projeto Político Revolucionário Global de Deus para a Humanidade, para o agora, segundo a Bíblia, é uma sociedade onde os meios de produção, circulação e distribuição são de posse, uso e controle coletivos para benefício coletivo, sob controle popular (não há propriedade privada dos meios de produção), por isso não existem classes sociais (proprietários e não proprietários), nem luta de classes, nem opressão cultural, étnica e de gênero (incluso o fim do preconceito e opressão contra a comunidade LGBTQIA+), põe fim ao patriarcado e não há exploração e expropriação de classe. O Estado se extinguiu porque não há classes para reprimir ou privilegiar e não existe a Religião do Estado ou do modo de produção vigente (capitalismo como religião ou cristianismo como religião do capitalismo), para legitimar, garantir e reproduzir a propriedade privada dos meios de produção que gera a sociedade de classes e os seus mecanismos de sustentação e reprodução. O Poder Popular é exercido pela Assembleia Popular. Jesus Cristo não apenas quer salvar a Humanidade da destruição gerada pela sociedade de classes, mas quer ressuscitar o corpo da escravidão da morte para a vida eterna do corpo (1 Co 15).

Esse Projeto Global de Deus para a Humanidade condiciona a leitura e a interpretação das perícopes, pois não há uma parte isolada do todo. Este Projeto é o guarda chuva sob o qual se abrigam os livros e perícopes da Bíblia. A função do texto bíblico é mostrar que Deus age hoje da mesma forma como agiu no passado. O texto bíblico sempre aponta que Deus reproduz a sua ação e opção do passado no presente.

A Bíblia é uma totalidade composta por duas totalidades: o AT e o NT, que por sua vez se compõem de outras totalidades que são os livros que compõe cada Testamento, que por sua vez são compostos por muitas outras totalidades que são as perícopes, nas quais aparece o movimento das contradições, dos avanços, dos recuos, dos conflitos da luta de classes da sociedade. Somente entendemos corretamente as perícopes e os livros que compõem se temos uma visão da totalidade do Projeto Político Global de Deus na Bíblia para a Humanidade.

Na explicação bíblica normalmente se esquece de mostrar ou não se sabe o todo da qual a parte se compõe junto com o movimento de suas contradições, avanços e retrocessos. É que o “todo” não está claro para a maioria e também muito subversivo para ser lembrado na explicação das partes (das perícopes). O Projeto Global de Deus (a visão da totalidade, a compreensão do todo) deve nortear o entendimento e a interpretação das perícopes que compõem os livros bíblicos. A perícope é uma parte do todo, mas tem a sua totalidade dentro da totalidade do Projeto Global de Deus.

Isso nos remete para olharmos para a opção de classe que a IECLB tomou. Não adianta dizer que a Igreja é supraclassista, não faz opção de classe e é neutra dentro do processo histórico da luta de classe em andamento na sociedade na qual a Igreja está inserida no Brasil, pois na base ela é administrada por uma classe social, a pequena burguesia urbana e rural conservadora a serviço do grande capital, que tenta sempre impor a sua teologia à Igreja, a teologia do deus capital com máscara de Jesus Cristo, com suas devidas e honrosas exceções. A Igreja é espaço de luta pela hegemonia do capital. A Igreja está inserida na luta de classes da sociedade capitalista, entendendo isso ou não. E como disse o bilionário Warren Buffett: “Existe, sim, guerra de classe, mas é a minha classe, a classe dos ricos, que está fazendo guerra, e estamos ganhando”.

A cruz de Cristo (crucifixo e cruz vazia, pois o Cristo ressurreto com as marcas da cruz é o Cristo crucificado – Jo 20.19-20), nosso símbolo, é o símbolo da vitória de Deus na luta de classes contra a sociedade de classes e o seu Estado e o seu Templo. Na Páscoa a sociedade de classes e seus mecanismos de reprodução já foram vencidos, quem aposta neles, aposta num projeto já vencido e derrotado por Deus em Jesus Cristo.

 

3.2 - Os trinta anos de churrasco.

O Manifesto de Curitiba de 1970 ao Manifesto Chapada dos Guimarães de 2000 compreende o período do churrasco, do Projeto Popular de Igreja. Aí voltou o leite. Este período foi possível devido a Segunda Guerra Mundial que forçou a Igreja a constituir o Pré-Teológico e depois a Faculdade de Teologia onde se formaram pessoas advindas majoritariamente do campesinato empobrecido brasileiro. Esta origem classista facilitou uma leitura da realidade de opressão do povo brasileiro expropriado pelo capital, encarnado na ditadura civil-militar-empresarial-cristã de 64. Estas pessoas de origem camponesa, que cresceram na pobreza, tiveram um olhar crítico frente à realidade e se inseriram em boa parte nas lutas que surgem nos anos 60 contra a ditadura, contra a pobreza do campesinato, a falta da reforma agrária que forçou o campesinato para a migração, etc. Somos uma Igreja que acompanha o seu povo no processo migratória sem questionar esse processo e sua origem, que está na dinâmica do capital nacional.

O processo da unificação dos Sínodos em 1968 foi positivo para construir um rosto nacional de Igreja e sair do gueto germânico e teológico atrelado à teologia europeia idealista colonialista alemã. A IECLB se constituiu em nível nacional a partir da reunião dos sínodos, a saber,

Sínodo Evangélico-Luterano de Santa Catarina, Paraná e Outros Estados do Brasil (Sínodo da Caixa de Deus) (1905-1962)

Associação Evangélica de Comunidades de Santa Catarina (1911-1962)

Sínodo do Brasil Central (1912-1968)

Sínodo Evangélico Luterano-Unido (1962-1968)

Sínodo Rio-Grandense (1886-1968)

Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul (1868-1870/1875) - extinto

Em 1962 o Sínodo Evangélico-Luterano de Santa Catarina, Paraná e Outros Estados do Brasil (Sínodo da Caixa de Deus) (1905-1962) e o Sínodo - Associação Evangélica de Comunidades de Santa Catarina (1911-1962) se fundiram, vindo a constituir o Sínodo Evangélico-Luterano Unido.

Nos anos 60 se discutia Barth e Bultmann na Faculdade de Teologia e os anos 70 trouxeram a TdL para a Faculdade de Teologia. Assim a Faculdade de Teologia sem querer mudou o rosto teológico da IECLB a partir do campesinato empobrecido. A origem camponesa dos pastores e pastoras nos anos 70-80 ajudou na inserção na luta contra a ditadura, ainda não era uma luta contra o capitalismo. A reação contra este olhar para a classe camponesa e operária explorada veio no final dos anos 80 a partir da antiga RE II, reduto conservador, que não conseguia controlar política e teologicamente os DEs. Por isso a Reestruturação eliminou os DEs e com isso eliminou o trabalho inserido dos DEs que havia no movimento popular e sindical e ecumênico. Vitória da direita.

 

3.3 - A Reestruturação capitalista neoliberal veio para retomar a distribuição do leite.

O problema central da IECLB não é o processo da Reestruturação conservadora legalizado em 1997, mas a defesa intransigente da propriedade privada dos meios de produção feita pela Igreja através da burguesia que controla, via pequena burguesia, a base da Igreja e assim impõe a sua teologia ao impedir a pura pregação do Evangelho e não se preocupar com a administração correta dos Sacramentos. A propriedade privada dos meios de produção tira a liberdade que Deus deu à pessoa criada por ele. Liberdade plena só numa sociedade onde o coletivo controla os meios de produção. Deus acaba com os instrumentos que tiram a liberdade das pessoas no Projeto da Terra Prometida em Js 6-8 ao destruir a cidade-estado: o Estado, as classes sociais, a propriedade privada da terra e o templo. Após Deus acabar com a propriedade privada da terra (Nm 26.52-56) pela tomada do poder político nas montanhas da Palestina os camponeses tornaram-se livres e emancipados ao controlar a terra coletivamente pela tribo.

Para garantir a reprodução do modo de produção capitalista, alicerçado na propriedade privada dos meios de produção, circulação e distribuição, a IECLB fez nos anos 90 o mesmo processo do capital, fez uma reestruturação.

Os termos "reestruturação" e "globalização" são comuns na vida econômica e ideológica real da sociedade dos anos ‘90. Dali se retirou o termo Reestruturação da Igreja. O capitalismo passa por uma reestruturação dos processos produtivos e ideológicos. Assim, a Igreja usa da mesma formulação e formatação capitalista neoliberal do processo econômico em andamento no mundo para fazer a sua “Reestruturação” (estrutural e teológica), para se adaptar ao processo vigente do modo de produção da vida material capitalista. Nada cai do céu por acaso! A Igreja anda a reboque do processo de reestruturação do capital adaptando a sua estrutura, sua teologia e sua prática comunitária ao novo modelo do capitalismo, o neoliberal, também como este, para combater a esquerda dentro dela, que sonha com outro mundo e outra Igreja possível.

Interessante notar que o termo usado foi “Reestruturação”, copiado do processo pelo qual estava passando o capitalismo (reestruturação produtiva, qualidade total, reengenharia), para melhor se adaptar a ele, e não se usou o termo “Reforma”. Ana Carolina Santini de Abreo e Luci Mara Resende em artigo “Reestruturação produtiva: algumas reflexões sobre seus rebatimentos no serviço social”[8] escrevem sobre o período neoliberal dizendo que

 

(...) tratou-se de introduzir mudanças na organização produtiva, por meio do que se convencionou chamar de reestruturação produtiva. Esta tem implicado, portanto no reordenamento da produção e acumulação com repercussões no mundo do trabalho, alterando processos e relações de trabalho, mediante inovações no sistema produtivo e nas modalidades de gestão, consumo e controle da força de trabalho. ... Fazer a reengenharia é reinventar a empresa, desafiando suas doutrinas, práticas e atividades existentes, para, em seguida, redesenhar seus recursos de maneira inovadora, em processos que integram as funções departamentos. Essa reinvenção tem como objetivo otimizar a posição competitiva da organização, seu valor para os acionistas e sua contribuição para a sociedade.

 

Foi isso que ocorreu com a IECLB (“reinventar a empresa, desafiando suas doutrinas, práticas e atividades existentes”). Só que a Igreja não ficou competitiva, pelo contrário, estagnou e retrocedeu em sua prática pastoral e teológica. Copiar simplesmente os processos do capitalismo para a Igreja não funciona assim como se quer. Sua doutrina foi desafiada e atropelada, mas mais competitiva a Igreja não ficou, pelo contrário estagnou. O que funcionou foi a exploração e a repressão contra os trabalhadores/as (obreiros/as) da Igreja, como requer o neoliberalismo.

Por que não se usou o termo “Reforma”? Porque não se queria fazer uma Reforma, apenas uma reestruturação, uma reengenharia, assim como o capitalismo apenas estava se reestruturando no processo neoliberal para aprofundar a exploração de classe e elevar a sua taxa de lucro pela superexploração da classe trabalhadora, dos recursos naturais e pelo processo de privatização feita pelo Estado. A Igreja seguiu a reboque do capital!

 

4 - Como se chegou a isso?

A história do surgimento da IECLB começa em 1824 com a imigração alemã em que a Igreja da Alemanha, mais tarde, enviou pastores para acompanhar o povo alemão em sua visão europeia colonialista de Deus e de Igreja no Brasil. Depois os Sínodos e, finalmente, a IECLB continuou fazendo isso, acompanhando o povo alemão e seus descendentes no Brasil em sua visão europeia de Deus, em seu processo migratório no território nacional, sem questionar a sociedade de classes e suas contradições estruturais, com suas devidas exceções.

É claro que alguns ‘nativos’ (caboclos e ‘brasileiros’), devidamente mal vistos e suportados pelo racismo, se integraram na IECLB dentro da visão europeia de Deus existente. A visão europeia de Deus não é revolucionária, mas é colonialista, patriarcal e acomodadora ao capital. Nossa mente e teologia foram colonizadas pela visão de Deus e de mundo do homem branco, rico, europeu, proprietário privado, patriarcal, colonialista, racista, escravocrata, capitalista, imperialista de tradição judaico-greco-romana. Essa visão de Deus condicionou a estrutura e a teologia da Igreja.

Houve a partir dos anos ‘70 tentativas de quebrar esse ‘monopólio’ numa tentativa de construir um Projeto Popular de Igreja a partir das lutas do povo explorado e oprimido (num processo de construir outra visão de Deus a partir dos explorados) pelo capital em suas lutas por justiça e paz dentro e a partir da participação de setores da Igreja nas lutas do Movimento Popular, Sindical, Partidos de esquerda e Povos originários. Essa tentativa foi derrotada no processo de Reestruturação neoliberal da Igreja de 1997; sobraram alguns setores minoritários, que procuram sobreviver imersos nessa avalanche da Reestruturação capitalista neoliberal de 1997, que continuam se inserindo nas lutas populares como parte do processo de construção do Reino de Deus, mas são grupos isolados e acuados pela máquina capitalista estrutural vigente na Igreja.

A esquerda ingênua na Igreja, porque não leu Marx, não tem um projeto de poder, ela sempre se contentou com os pastores presidentes liberais com cara socialdemocrata pensando que eram seus aliados, mas estes fizeram a Reestruturação e depois não mexeram um dedo para derrubar o processo da Reestruturação, mas o aprofundaram.

Com a Reestruturação a direita (leigos anticlericais e pastores conservadores com o discurso contra o pastorcentrismo) tomou o poder da estrutura da Igreja, assim como a burguesia tomou o poder do aparato estatal no país. Quem é economicamente dominante na sociedade precisa ser também politicamente dominante para gerenciar o Estado (aqui a Igreja) conforme seus interesses de classe. Essa dinâmica da luta de classes precisa ser ocultada pela ideologia.

A Faculdade de Teologia em São Leopoldo formava pastores/as a partir de pessoas enviadas pelas comunidades (normalmente da classe camponesa empobrecida) que estavam familiarizadas com a realidade de marginalização no Brasil, diferente dos pastores alemães (com exceção de alguns), começa-se o movimento de construir pastorais e uma teologia a partir da realidade da luta de classes existente, alimentado pela Teologia da Libertação que formou a PPL (Pastoral Popular Luterana).

A primeira postura crítica frente à ditadura civil-empresarial-militar-cristã de 64 surge no Concílio Geral de 1970 em Curitiba, alertando para a tortura aplicada a presos políticos no Brasil, expresso no Manifesto de Curitiba. Com o ressurgimento da luta sindical do final dos anos ‘70 e com o ascenso do movimento de massas, a base da IECLB, ligada a Teologia da Libertação, pressiona os Concílios Gerais dos anos 80 a se posicionar a favor da luta da classe trabalhadora e camponesa por justiça e paz, que são as características básicas do Reino de Deus, segundo Rm 14.17, junto com a alegria no Espírito Santo.

O Projeto Popular de Igreja construído nos anos 70-80 a partir da pressão das bases da Igreja nos DEs inseridas no movimento popular e sindical contra a Ditadura e seus projetos megalomaníacos e o sofrimento do povo a partir da exploração capitalista simbolizada e personificada na Ditadura têm o seguinte desenvolvimento cronológico, a partir dos documentos da IECLB:

-        1970 - Manifesto de Curitiba;

-        1972 - Novas Áreas de Colonização (aprovação no Concílio de Panambi da criação das NAC [Novas Áreas de Colonização] dentro da estrutura da Igreja, como inserção da Igreja nesse contexto para caminhar junto com nosso povo migrante e atendê-lo em suas necessidades comunitárias e lutas nas quais estava inserido);

-        1974 - Discipulado Permanente - Catecumenato Permanente;

-        1978 - Nossa Responsabilidade Social e Mensagem de Natal do Conselho Diretor da IECLB;

-        1979-1982/1983-1986/1987-1992/1992-1995 - Prioridades da IECLB;

-        1982/84/86/88 - Decisões e Mensagens Conciliares.

 

Apesar de suas contradições internas a dinâmica profética evangélica da Igreja durou de 1970 a 2000. O Manifesto de Curitiba (1970), como reação frente à reformatação do capitalismo (ditadura civil-empresarial-militar-cristã de 64 a serviço do imperialismo estadunidense), e o Manifesto Chapada dos Guimarães (2000), escrito para comemorar os 30 anos do Manifesto de Curitiba, ironicamente encerrou esse ciclo profético. Em 1968 a IECLB deu um grande passo ao sair do gueto (que iniciou em 1949) para se tornar uma Igreja à procura de um Projeto Nacional de Igreja e em 1997, a Igreja deu um segundo passo, agora para trás, ao voltar para o gueto do conservadorismo dos sínodos ao enterrar a procura de um Projeto Popular Nacional de Igreja para esconder as contradições de classe existentes na sociedade e na Igreja.

 

5 - Sobre a estrutura do Concílio:

Somando os conciliares temos aproximadamente 43 membros natos da estrutura, os representantes de instituições e departamentos (JE, LELUT, OASE, Rede Sinodal, etc.), 36 delegados leigos escolhidos nos sínodos, 5 obreiros da base (antes havia 48; os perigosos pastores distritais, que só causavam problemas para a Igreja, foram varridos do mapa). Estrutura e base quase empatam em número. Da base comunitária participam cinco obreiros (pastores, catequistas, diáconos, missionários) e dois delegados leigos por sínodo, que normalmente são da pequena burguesia conservadora, pois peão de fábrica ou do campo não é liberado pelo patrão para se ausentar do serviço por cinco dias.

No tempo dos Distritos o Concílio Geral (segundo a Constituição de 1969) era composto em média por 134 pessoas, sendo 48 pastores distritais, que também eram pastores de paróquia, e um leigo por Distrito (somando 96 pessoas da base), além do Conselho Diretor da Igreja (21 pessoas), 4 da Faculdade de Teologia (2 docentes e 2 estudantes), 2 dirigentes de instituições, 5 representantes de setores de trabalho. Ainda faziam parte do Concílio Geral os 10 vogais leigos eleitos nos Concílios Regionais. A representação da base da Igreja eram aproximadamente 113 pessoas e 25 pessoas eram da estrutura. Tendo 4,5 vezes mais pessoas da base do que da estrutura.

Na estrutura atual temos aproximadamente 43 pessoas da estrutura e 41 da base, o que mostra a desproporção da estrutura no Concílio da Igreja. A estrutura anterior era muito mais democrática. Quando a direita dá o golpe não podemos esperar mais democracia. Somente os pastores distritais eram o dobro da representação da estrutura e estes eram incontroláveis e muitos deles metidos nas lutas populares ou eram simpáticos a elas. Ali a direita não tinha chance e precisou de muita contrapropaganda com falsas informações, manipulações, mentiras e de dois concílios para acabar com essa estrutura desvantajosa para a direita numa época (anos 90) que lhe era oportuno, pois era um tempo de confusão ideológica.

Os pastores/as de comunidade foram radicalmente afastados do Concílio para que sua visão de Igreja e sua inserção na luta popular fosse ignorada e abafada. Nada é por acaso. Hoje o Concílio é da estrutura que ignora a realidade de exploração e opressão de seu povo.

O Concílio da Igreja reunida na Rondônia não levantou os problemas graves da região: assassinatos de camponeses, indígenas e ambientalistas, grilagem de terras indígenas e da União por fazendeiros e especuladores, roubo de madeira das áreas indígenas e de Unidades de Conservação, mineração em áreas da União e em áreas indígenas, exploração de petróleo na Amazônia Legal, legalização da grilagem pelas leis feitas no Congresso Nacional, não realização da Reforma Agrária, construção de barragens que expulsam os ribeirinhos, ameaça aos povos indígenas isolados, queimadas e derrubada da floresta incentivados pelo governo Bolsonaro, flexibilização da legislação ambiental para impedir multar e punir os contraventores, atrapalhar os mecanismos de fiscalização trabalhista para proteger os fazendeiros escravocratas. Por que o Concílio se reuniu na região Amazônica se não discutiu os problemas da região? Algumas pessoas até se escandalizaram com uma pintura de uma pessoa membro que retratou as frutas da região na cruz. Imaginem se ela tivesse retratado a luta de classes que ocorre na região amazônica.

Para termos uma ideia do que já foi discutido e proposto na Igreja (quando se estava tentando quebrar a visão europeia colonialista patriarcal de Deus na tentativa de se construir um Projeto Popular de Igreja) segue em anexo alguns elementos abordados no Concílio Geral de 1982. Esta contribuição da temática do Concílio nos chega até nós através do texto apresentado pelo Pastor Werner Fuchs[9], que afirma: "Considera antievangélico e imoral assalariar outros para trabalharem para ele em sua propriedade."

 

3. - Sugestões (em forma de propostas de resolução)

3.3 - Em favor da continuidade do tema de 1982, e englobando a realidade urbana dos marginalizados e também dos nossos membros bem situados, escolhemos para um dos próximos temas da IECLB o lema "PARA QUE HAJA IGUALDADE" (II Coríntios 8.13-15). Nosso objetivo é refletir sobre o mínimo para a sobrevivência digna, sobre o limite entre necessário e supérfluo, sobre a propriedade e o trabalho, a militância sociopolítica, sobre formas comunitárias de convivência fraternal, sobre ascese e renúncia, sobre nossa disposição de pagar o preço da justiça. Enfim, queremos estabelecer o padrão de vida e serviço evangélico em nossa realidade atual, nos níveis pessoal, eclesial e sociopolítico.

3.4 - Aprovamos a seguinte CARTA DE ORIENTAÇÃO DO CRISTÃO EVANGÉLICO-LUTERANO:

Diante da realidade fundiária e da angustiosa situação social no campo e na cidade, o compromisso do cristão evangélico-luterano que quer servir a Deus no próximo concretiza-se assim:

3.4.1 - Ele assume a luta por uma Reforma Agrária ampla, fazendo suas as reivindicações dos sem-terra, apoiando movimentos e organizações autônomas dos trabalhadores e incentivando formas comunitárias de uso e defesa da terra de trabalho e de moradia.

3.4.2 - Ele restringe sua propriedade e seu estilo de vida, para poder restituir sabiamente ao próximo o que ele necessita para sobreviver.

3.4.3 - Considera antievangélico e imoral, quando tiver uma profissão ou um meio de vida assegurado, ser proprietário de terras ou mesmo de um "sítio de lazer".

3.4.4 - Considera antievangélico e imoral assalariar outros para trabalharem para ele em sua propriedade.

3.4.5 - Não participa em atividades de colonização particular que facilitam acesso a terra somente daqueles que tem dinheiro (picaretagem).

3.4.6 - Não apoia o presente regime de opressão e extermínio do homem do campo, negando-se a trabalhar para organismos do governo responsáveis pela repressão ao trabalhador, e empenhando-se no aperfeiçoamento de partidos que permitem a democracia a partir das bases.

 

Algo assim hoje é inimaginável ser estudado em um Concílio da Igreja. Isso mostra o tamanho do retrocesso no qual nos metemos como Igreja.

São ainda da base comunitária pessoas dos departamentos e setores de trabalho. Nesta composição dificilmente o grito do povo explorado pelo capital será ouvido e nem sairá um Projeto Popular de Igreja embasado na insurgência utópica profética revolucionária do Evangelho do Reino de Deus. O Concílio da Igreja nos últimos 20 anos só discutiu e rediscutiu leis e estatutos sob a assessoria de advogados conservadores, exceto o documento Manifesto Chapada dos Guimarães de 2000 para lembrar o Manifesto de Curitiba de 1970 que denunciou a tortura e repressão da ditadura de 64.

No Concílio da Igreja de 2016, em Brusque, o pastor presidente em pleno clima pós-Golpe de 2016 escreve em seu relatório[10]:

 

(...) se a IECLB não instituiu um magistério que dá (decide!) a última palavra, então não se pode querer que a Presidência emita um parecer claro (sic!) diante de temas que sabidamente dividem nossa sociedade e, por conseguinte, nossas Comunidades.

 

A ordem é: “Silêncio!” e “Cala a boca!” O silêncio da Igreja frente o Golpe militar-parlamentar-midiático-empresarial-jurídico-cristão de 2016 e outras realidades do país recordam a fala de Ralph Kunz (2018, p. 170)[11], citando Walter Lüthi:

 

Uma igreja que fica de parede a parede com o mundo só pode deixar valer um pouco de cautela, muita consideração e muito propósito.

Em tal igreja, há decisões, audiências, até discursos de púlpito, que são como Comunicados bem equilibrados, sermões que dão um pouco a todos, a ninguém tudo, que não machucam a ninguém, mas também não criam bem estar para ninguém. Então a palavra de Deus, essa periculosidade, esse fermento, esse poder de sal e dinamite, finalmente também na igreja evangélica, na Igreja da Palavra, pode ficar garantido e desarmado burocraticamente dentro da igreja (tradução do autor).

 

A Igreja só ouve o grito de revolta dos que apóiam a opressão capitalista quando denunciados em seu processo de opressão, mas não ouve o grito dos explorados e expropriados pelo capital, pois estes não sabem a quem dirigir seu protesto ou estão simplesmente alienados e acham que tudo é assim mesmo.

 

6 - O Projeto Popular de Igreja

Devemos lembrar que dentro do Projeto Popular de Igreja em andamento nessa época temos vários grupos (Movimentos Teológicos) que surgem na IECLB. Além destes há os mecanismos de resistência criados pela estrutura da Igreja como o curso sobre Realidade Brasileira em Araras (RJ) para pastores/as, sugerido pelo pastor regional Albrecht Baeske ao Conselho Diretor (parece-me que foi uma ideia do Grupo de Curitiba) e depois coordenado por ele a pedido do Conselho Diretor (após pressão de vários pastores o Conselho Diretor aprovou a ideia), e o Centro de Informação e Documentação que coletava notícias de resistência à ditadura e as repassava.

Após a gestão conservadora do pastor presidente Karl Gottschald (que visitava o general ditador assassino Geisel, temos foto dessa visita), assume o pastor Augusto Ernesto Kunert, 1978-1986, que tinha experiência militante e já havia sido vereador pelo PTB, o que ajudou no processo de construção do Projeto Popular de Igreja nas bases. O que aqui nomeio de “Projeto Popular de Igreja” é formulação minha. Na época não se falava dessa forma. São experiências que brotavam dentro da Igreja na procura de uma proposta de Igreja que incluísse as lutas populares e o sofrimento do povo explorado na luta contra a ditadura e contra o capital. Cito a seguir as que consegui catalogar com a ajuda de várias pessoas (deve ter havido ainda outras experiências):

-        Grupo dos 80;

-        Grupo 01 no DESES;

-        Grupo dissidente de estudantes que sai da EST para se inserir na vida do povo empobrecido e vai para Diamantino, MT;

-        Grupão - Grupo de estudantes da EST de esquerda que se reúne periodicamente;

-        Projeto Denes – Criado na região norte do Estado do Espírito Santo. Objetivo: organização da agricultura familiar, melhorar a diversificação da produção agrícola por meio da fruticultura e tecnologia de melhora da produção de café conilon introduzindo mudas clonais, saúde popular (chás, produção de ervas medicinais, massagem terapêutica), cria-se ali o devocionário Semente de Esperança;

-        Projeto Guandu – Criado na região da orla do Rio Guandu, no centro do Estado do Espírito Santo com o objetivo de diversificação da produção agrícola, introdução de novas mudas frutíferas tendo como base o sítio da ADL, beneficiamento e comercialização de produtos agrícolas por meio de associações;

-        APSAT Vida – produção orgânica, sustentabilidade, venda direta dos produtos agrícolas (produtor – consumidor) por meio de feiras livres juntamente com um trabalho sobre saúde que ainda existe no norte do Espírito Santo;

-        Albergue Martim Lutero – Casa de albergamento em Vitória, ES para encaminhamento de pessoas do interior para especialidades médicas na grande Vitória. Ali surge o Programa dermatológico, com o objetivo de ajudar pessoas do interior com câncer de pele, por meio de consultas, pequenas cirurgias realizadas nas comunidades que abrigam o programa;

-        Pastoral da Convivência, ES, onde um grupo de pastores se instala no meio rural das comunidades pomeranas para viver com e como os camponeses;

-        Partiu do Espírito Santo a primeira CARTA AOS ELEITORES elaborada na IECLB, cuja ideia mais tarde a instituição copiou, além de outros distritos eclesiásticos, entre eles o DE Uruguai. No Espírito Santo, coordenado pelo pastor regional Baeske, foi escrito e divulgado, depois, um caderno de conscientização comunitária na linha da CARTA, que provocou grande discussão na Igreja e em sua Direção;

-        Projeto Lachares, em Taquaras, SC, coordenado pelo Pastor Silvino Schneider;

-        CEM - Centro de Elaboração de Material criado pela Igreja;

-        SIP – Serviço de Informação Pastoral, uma publicação de pastores, coordenada pelo pastor Dario Schäffer e pastora Marga Rothe para intercambiar ideias e experiências e criar um elo entre as várias lutas na Igreja. O pastor Dario Schäffer e sua esposa Roswita, a partir de Juiz de Fora, MG, publicaram pela PU – Publicadora Uruguai um livro sobre sua dura experiência de resistência na Igreja;

-        Movimento de justiça e não violência da EST;

-        Núcleo Avançados da EST;

-        Grupo da EST que vai ter um processo de convivência com o MST da fazenda Annoni;

-        RE 4 e 6 constroem a Pastoral Rural com o CAPA;

-        Grupo de Curitiba, que sugeriu a publicação do livro de homilética Proclamar Libertação para ajudar a um olhar mais crítico da realidade a partir da Bíblia. Dentro desse espírito surge em espaço ecumênico nacional o CEBI (Centro Ecumênico de Estudos Bíblicos);

-        Grupo que forma a PPL;

-        Comin;

-        CAPA que brota a partir do campesinato na RE III;

-        Comunhão Martim Lutero que surge, mais tarde, nos anos 90 na RE II (que é mais da linha do luteranismo conservador);

-        Pastores/as e pessoas leigas que participam da CPT;

-        Os/as pastores/as nas Novas Áreas de Colonização – NAC – que pressionados pela realidade violenta de exploração do campesinato na Amazônia procuram construir propostas de resistência ao capitalismo selvagem ali reinante;

-        A comunidade de Belém do Pará via pastora Marga Rothe insere a comunidade nas lutas populares da região;

-        Grupo de pastores e pessoas leigas que participam do Movimento Justiça e Terra na luta contra a barragem de Itaipu; Distritos Eclesiásticos do Sudoeste e Oeste paranaense motivados pela luta contra a Itaipu viabilizam atividades contestatórias ali;

-        Surge de forma massiva nos anos 90 a APPI – Associação de Pastoras e Pastores da IECLB – como forma dos pastores/as se organizar, criado em Cascavel, PR;

-        Grupo de pastores do DE Uruguai que desde 1970 (Silvio Meincke, Lothar Hoch, Edio Schwantes) elabora material para o Ensino Confirmatório começando com o ‘Estrada da Vida’ e depois com quatro cadernos a partir de 1977, além de outras publicações de resistência da PU – Publicadora Uruguai;

-        Forma-se, também, no final dos anos ’60 no DE Uruguai o PIAI – Plano Integrado de Ação Inter paroquial – que se compõe das Paróquias de Cunha Porã, Maravilha, Palmitos e Mondaí para capacitar lideranças leigas para o trabalho nessas paróquias por causa da falta de pastores na Igreja. Dentro desse Plano os pastores trabalham nas paróquias a questão sindical, cooperativismo e ajudam a formar o MDB. Dentro desse contexto surge no DE Uruguai em 1985 o Projeto de assessoria ao MST, financiado parcialmente, no início, pelos/as pastores/as do DE Uruguai e com verbas do Pão para o Mundo, (coordenado pelo pastor Günter Wolff depois pelo pastor Flávio Schmidt e finalmente pelo jovem leigo Elmar Wahlbrink de Maravilha, SC), depois se constrói no DEU o projeto de assessoria ao MAB (coordenado pelo pastor João Clemente Freitag, depois pela pastora Louraine Christmann e depois pelo casal Danilo e Selmira Schwanz de Maidana, município de Águas de Chapecó, SC). Esses Projetos acabam em meados dos anos 90 porque a Teologia da Libertação na Igreja já não era mais importante e tinha poucos seguidores no DE Uruguai, o movimento de massas em nível de país estava em descenso por causa do neoliberalismo e havia na Igreja já o processo de Reestruturação em andamento para acabar com qualquer tentativa de construir um Projeto Popular de Igreja que ameaçasse o capital.

-        Acrescento ainda que nos anos 90 no DE Uruguai se criou o CTP - Curso de Teologia Popular (espécie de continuação do Curso do Lobo do tempo em que eu estava no Projeto de acompanhar o MST), que hoje está em processo de extinção. Durou de 1993-94 até 2021. Começou a coordenar o CTP a pastora Regene Lamb, depois a pastora Silvia Genz, a pastora Neiva Barth e por fim a diácona Catia Berner. Talvez ainda haja uma continuidade. O problema deste curso era a método idealista cartesiano positivista liberal que é corrente na Igreja. Não está vinculado às lutas populares e não conduz para elas. Forma para o trabalho assistencialista da paróquia e não insere nas lutas populares.

Deve ter havido muito mais sinais de resistência dos quais não tenho conhecimento. A propaganda neoliberal foi tão forte que desestabilizou politicamente o DE Uruguai, que historicamente foi de resistência ao capital e ao projeto conservador de Igreja, que votou a favor da Reestruturação em 1997 (o único DE da RE III, todos os outros cinco votaram contra), graças à esquerda ingênua e desavisada que construiu uma política de aproximação e conciliação com a Direção da Igreja e foi engolida nesse processo.

Sobre os grupos de resistência na Igreja o pastor Dario Schaeffer escreve num e-mail:

Quanto ao grupo dos 80 eu não tenho muita informação. Ele foi criado no fim dos anos 70, se não me engano, em Caxias do Sul. Deveria ser uma ampliação e uma continuação do assim chamado "Grupo de Curitiba", este criado em 1971/72 num Encontro sobre radiocomunicação em Porto Alegre e ampliado por convites a colegas escolhidos. Naquele tempo havia indícios de que pastores estavam sob pressão por causa de seu posicionamento crítico diante da ditadura. Pressão esta vinda das próprias comunidades e de suas direções.

Os documentos oficiais da IECLB, quanto mais críticos diante do golpe que tenham sido, não eram assimilados pela base luterana e pela consciência burguesa existente. Por isso pastores que se posicionavam favoráveis a esses documentos eram criticados e ameaçados de expulsão. Com o intuito de dar força e respaldo às pessoas, pastores e não pastores, que se sentiam representadas por estes documentos, bem como faziam parte de movimentos ou partidos de esquerda, criou-se um grupo de pastores que se encontrava regularmente uma vez ao ano, na maioria das vezes em Curitiba. Por uma questão de segurança era um grupo um pouco clandestino. Não se divulgava os nomes das pessoas nem as datas e lugares de encontros.

Reuniam-se em torno de vinte pastores, que faziam análise de conjuntura, trocavam relatos de experiências vividas ou sofridas no trabalho, pressões ou perseguições, trocavam-se informações muito necessárias por causa da censura que impedia uma informação aberta. Debatia-se apoio a movimentos e lutas dentro e fora do Brasil. Por exemplo, foi enviado um documento de apoio ao bispo Frenz da Igreja Evangélica Luterana do Chile, crítica à ditadura de Pinochet e que se separou da ILCH - Igreja Luterana do Chile, que apoiava a ditadura. Foi criada a partir de propostas deste grupo a Pastoral Popular Luterana - PPL, conhecida pela sua atuação de conscientização nas bases da IECLB, o Proclamar Libertação como subsídio teológico para a preparação de pregações, e da própria PPL surgiu o Sementes de Esperança, caderno de meditações que deveria ser um contraponto aos calendários de meditações que vinham da Alemanha, traduzidos ou não, tendo como público alvo os membros das comunidades.

Quando se vislumbrou o fim da ditadura nos fins dos anos 70, início dos 80, resolveu-se sair da clandestinidade e ampliar o grupo, incluindo também não-pastores, abrindo ecumenicamente para membros de outras igrejas. Participei do primeiro encontro em Caxias do Sul e mais uma vez de um em Porto Alegre, mas não me lembro das datas.

Não havia uma liderança específica. Para cada encontro era escolhido alguém diferente que fazia a convocação e escolhia o lugar. Não consigo me lembrar de muito mais no momento, pois com o fato de ter ido ao Espírito Santo em 1981 e ter integrado lá o Grupo 01 até 1987, a relação com o grupo dos 80 ficou mais distante, e foi substituído pela ação da PPL, a qual também pertenci. Nem sei quando e por que resolveram dissolver o grupo.

 

O pastor Silvio Meincke lembra desse período e comenta num e-mail:

 

Lembrava-me apenas da reunião de Curitiba onde o tema foi a eleição, quando Kunert foi candidato. O grupo pediu que Burger se candidatasse com uma plataforma apoiada por nós, e ele topou. Em resposta, Kunert divulgou uma plataforma mais "progressista" que a de (Germano) Burger.

 

São iniciativas que brotam dessa vontade de construir um Projeto Popular de Igreja que não tiveram o apoio direto da Direção da Igreja, mas também não foram perseguidos por ela, foram tolerados, pois brotaram como consequência do movimento de massas que havia no país. O que havia eram reuniões que a Direção da Igreja mantinha, por convocação, com os chamados ‘Movimentos’ dentro da Igreja: PPL, Encontrão, MEUC. Estes grupos sempre foram mal vistos e sentidos como uma ameaça pela Direção da Igreja porque eram militantes e mais organizados, tidos como uma ameaça teológica por terem organização e dinâmicas próprias e influenciavam as bases da Igreja, e que existem até hoje.

 

6.1 - Experiências fora do Modelo de Igreja de Atendimento numa tentativa de se construir um Projeto Popular de Igreja para a IECLB a nível nacional:

1.      Estudantes da Faculdade de Teologia em 1977 saem da FacTeol numa crítica ao Modelo de Igreja de Atendimento e vão para a periferia da cidade de Diamantino, MT com a cara e a coragem, trabalhar com os setores marginalizados da sociedade urbana. A Igreja não tentou nem conversar com o grupo porque se sentiu questionada, numa postura de autodefesa;

2.      Grupo 01 no Espírito Santo, na mesma época, na região conhecida como Mata Fria, faz uma experiência de Igreja de Convivência no ambiente camponês que também não teve apoio da Instituição, fora do pastor regional Baeske. O grupo tentou uma conversa com o pastor presidente Brakemeier que disse que se a experiência desse certo a Igreja apoiaria.

Os dois grupos duraram certo tempo, mas sem respaldo institucional e financeiro se desfizeram. A Igreja em vez de acolher a crítica e acompanhar novas experiências tem uma visão limitada (pela ideologia da classe dominante) e reducionista. As pessoas da Direção ao verem que a Instituição é criticada se sentem pessoalmente criticadas e não conseguem entender que se pode desenvolver outros modelos de Igreja. A visão europeia de Deus barra qualquer teologia não convencional, que tenta englobar os empobrecidos e excluídos pela sociedade do capital, o que Jesus propõe em Mc 3.3: colocar os desprezados, os odiados, os malditos e os que não podem se defender por si só no centro da roda. Quando os conceitos da pequena burguesia não estão no centro então se despreza qualquer coisa. A visão europeia patriarcal e colonialista de Deus não consegue entender isso. A Igreja se acorrentou ao Modelo de Atendimento e não consegue enxergar nada além disso, pois esse modelo se adapta aos interesses da pequena burguesia conservadora, que o consegue controlar e dar a linha teológica.

3.      Missão Zero foi uma tentativa dos setores conservadores da Igreja, do Movimento Encontrão, de fazer missão para reproduzir o Modelo de Igreja de Atendimento em áreas não atingidas pela IECLB (Nordeste e regiões de São Paulo) e por isso teve certo apoio da instituição;

4.      PIAI foi uma experiência dentro do Modelo de Igreja de Atendimento no Distrito Uruguai que capacitava leigos para o trabalho comunitário e produzia material de estudo para grupos de reflexão, especialmente para a catequese – Ensino Confirmatório, mas trabalhava a luta política contra a ditadura, fortalecendo pequenas cooperativas, associações e o movimento sindical de camponeses e se inseriu no partido de oposição da época, o MDB. Algo semelhante se desenvolveu nos dois Distritos do Espírito Santo e nos Distritos do oeste do Paraná. Quando os idealizadores se transferiram de paróquia a experiência enfraqueceu, mas deixou marcas no Distrito que construiu outras experiências com o movimento popular (MST, MAB) e ecumênico (CPT, CIMI, CEBI).

Essas experiências foram puxadas por pastores jovens de origem camponesa em sua maioria. Sempre vale a pena investir na juventude, mas os setores conservadores (pessoas de mais idade, já acomodadas, e que estão na Direção da Igreja) se sentem ameaçados pelos jovens e barram o que podem, num desserviço à Igreja.

 

7 - O neoliberalismo na Igreja.

Destacamos algumas das dinâmicas capitalistas neoliberais aplicadas na Igreja no processo da Reestruturação, comparadas às aplicadas pelo governo neoliberal ao país:

-        Retirada de direitos dos trabalhadores no país e retirada do direito ao voto no presbitério da paróquia do pastor/a Coordenador Ministerial, os outros pastores, se houver, nem precisam participar da reunião, são supérfluos, não mandam nada mesmo;

-        Flexibilização salarial e das leis trabalhistas e falou-se até 2012 em flexibilização salarial na Igreja e de fato paróquias pequenas não pagam a Subsistência Ministerial integral por não terem dinheiro. Como cada paróquia está sozinha e não existe qualquer tipo de solidariedade evangélica entre as paróquias na Igreja então os pastores/as pagam o pato;

-        Rotatividade da mão de obra via terceirização que precariza os empregos e na Igreja TAM e Avaliação fazem este papel de facilitar a rotatividade da mão de obra;

-        Produtividade e qualidade total na economia e exigência de produtividade na paróquia sob o controle dos presbitérios que não querem que os pastores/as saiam da paróquia para reuniões no Sínodo. Pastor é nosso peão então não tem nada de andar em reuniões do Sínodo, muito menos em reuniões do movimento popular;

-        Esvaziamento do aparelho estatal com Programa de Demissão Voluntária no Estado para economizar dinheiro para pagar a dívida interna e externa e esvaziamento de pessoal na Secretaria Geral e fechamento de secretarias e departamentos na Igreja por não haver mais dinheiro, que foi reduzido com a modalidade do Dízimo;

-        Privatização de empresas estatais, da saúde, da previdência e “privatização” do ensino de teologia com a terceirização dos centros de formação teológicos e retirada da Instituição da tarefa de dar a linha teológica dos centros de formação, com o objetivo de mudar o rosto teológico da Igreja em oposição à Teologia da Libertação, muito presente na teologia oficial, para se adequar às exigências do mercado religioso condicionado pelo capitalismo.

-        A privatização da previdência ocorre com a falência do FERAP, que era uma proposta de previdência complementar da Igreja. No lugar do FERAP surge a Luterprev, que agora foi entregue à Aspecir, porque não conseguiu ser competitivo no mercado. Hoje a Instituição não é mais responsável pelo cuidado com a previdência dos obreiros/as, cada um se vira. A Instituição insiste que obreiros/as cuidem de sua previdência, tem até mecanismos de fiscalização. O resultado é que muitos pastores/as se aposentam mal pelo INSS, por vários motivos. Um deles é que o pastor com mais idade e doente fica sem paróquia e é forçada a pedir aposentadoria com valores baixos por causa do fator previdenciário;

-        Estímulo à concorrência com abertura de importações para baixar o preço dos produtos internos, que quebrou muitas empresas no país, e na Igreja a criação de mais dois Centros de Formação Teológica para concorrer com a EST, que inviabiliza economicamente os três centros e cria a concorrência entre estes, reduzindo o tempo de estudo e desviando da teologia oficial que consta nos Documentos teológicos aprovados em Concílio. Outra Estrutura requer outra Teologia, assim como no Templo de Salomão não poderia continuar a teologia da Arca da Aliança, que foi escondida no Santo dos Santos. Compare os dois credos de Israel: Dt 6.20-23 e Dt 26.1-11 e verás a diferença teológica neles já desde o local onde são confessados, o primeiro na família camponesa, e o segundo no Templo do rei, onde não se poderia falar que Deus luta contra o Estado e pela terra (Dt 6.22 “Aos nossos olhos fez o Senhor sinais e maravilhas, grandes e terríveis, contra o Egito e contra Faraó e toda a sua casa”), pois esta parte foi deixada fora no capítulo 26;

-        Mudança da ideologia capitalista no país (keynesianismo para neoliberalismo e pós-modernidade) e na Igreja abandono da teologia oficial aprovada nos Concílios e Direção da Igreja para cada um adotar a que mais lhe convém e que se adapte à nova realidade do modo de produção da vida material para poder sobreviver. Uma teologia gelatinosa, descontextualizada da realidade conforme o gosto do freguês e conforme as exigências do mercado religioso, pois surge o Movimento Carismático como filhote do Encontrão para adaptar a teologia da IECLB à dinâmica de um mercado religioso aquecido. Felizmente esse Movimento se retirou da IECLB;

-        O Estado não tem compromisso com a formação universitária e incentiva as universidades privadas e na Igreja ela não tem compromisso com os estudantes de teologia que têm que financiar o seu sustento e seu estudo trabalhando nas horas que deveriam estudar baixando a qualidade da formação;

-        Mudanças nos impostos de exportação (Lei Kandir em 1996) e facilidade de importação (que quebrou muitas empresas nacionais) e na Igreja mudança do Sistema de Cotas para Dízimo (que quebrou financeiramente a Igreja e beneficiou os membros que tiveram uma redução percentual na contribuição anual, que para eles não era vital, economizaram alguns trocados, mas para o orçamento da IECLB foi vital e fatal);

-        Individualismo, hedonismo e consumismo no mundo e individualismo e acomodação sem procura de um Projeto coletivo de Igreja, cada um se vira para sobreviver no espaço de 18 igrejinhas semiautônomas, subdivididas e atomizadas em núcleos ou UPs, o que impede a troca de experiências pastorais e a construção de um Projeto de Igreja em nível nacional. Está tudo fragmentado, como quer a pós-modernidade, pois povo dividido é mais fácil de governar e manipular;

-        Submissão às dinâmicas das leis do mercado e submissão às leis e normas eclesiásticas repressivas e às opiniões dos advogados conservadores (“Rechts”anwälte) que dão assessoria jurídica à Igreja na elaboração das normas eclesiásticas e assim ditam a teologia na Igreja, pois normas e leis não são neutras, tem lado, tem partido e tem classe;

-        Abandono das práticas de mercado do mundo bipolar para um mundo unipolar e na Igreja abandono das atividades coletivas dos DEs e os grupos viraram associações: OASE, LELUT com independência e autonomia em relação à Igreja mesmo fazendo parte dela;

-        O Estado não é mais responsável pela saúde, pela educação, pela previdência e a Igreja não tem mais responsabilidade e vínculo jurídico com grupos, escolas, EST, asilos, ADL, etc. cada um se vira;

-         O país é bombardeado com a nova teoria político-econômica neoliberal, que precisava de novas normas jurídico-econômicas para agilizar o capitalismo (FHC queria acabar com a herança da Era Vargas, que o Golpe de 2016 vai agora realizar) e a Igreja é bombardeada com as ideias da assessoria jurídica conservadora, que procurou adaptar a vida da Igreja e sua teologia segundo as normas e ideologias do Estado neoliberal, para acabar com a herança das propostas dos concílios dos anos 80.

Nada pode ser feito e decidido sem a opinião dos juristas que foram e são os ideólogos/teólogos atuais da Igreja. Construiu-se a nova estrutura da Igreja conforme a ideologia neoliberal dos juristas avalizados pelos membros e pastores conservadores que queriam acabar com a “ameaça” da Teologia da Libertação, que estava tentando achar um caminho pela teologia oficial da IECLB, que consta nos seus documentos teológicos, para construir um Projeto Popular de Igreja que ameaçava o capitalismo.

No fundo, a Reestruturação foi uma vitória do projeto do capital na Igreja, que se adaptou a este, pois ‘o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida espiritual’. A decisão de retirar o direito dos pastores de votar nos presbitérios paroquiais é meramente uma decisão jurídica de se adaptar às normas do Estado, ou isso não traz consigo outro conceito de ordenação e de compreensão de Igreja, onde tem patrões e peões, anulando o batismo que nos torna iguais em Cristo?

A seguir uma análise e um comentário sobre o artigo do P. em. Dr. Gerd Uwe Kliewer ao falar dos motivos que levaram ao processo da Reestruturação. “Reestruturação da IECLB - por quê?” (2016, p. 164-165; 167-168)[12], publicado no Anuário Evangélico de 2017. O Dr. Kliewer foi Secretário Geral no período da Reestruturação e articulador deste processo retrógrado.

 

Avaliação do Dr. Gerd Uwe Kliewer

Minha Avaliação

- a Direção da Igreja estava muito longe das comunidades; que esta não tinha conhecimento da base da Igreja, nem consciência das dificuldades do trabalho pastoral na base.

Isso continua hoje da mesma forma. Nada mudou. Os pastores/as estão sozinhos na paróquia e a instituição não lhes garante a liberdade da pregação pura do Evangelho. Se o fizerem com muita insistência e clareza são expulsos da paróquia por agressão à ideologia do capital. O que temos de fato é a Igreja sendo aparelho ideológico do Estado capitalista.

- a estrutura da Igreja era grande e cara demais, e a manutenção desta estrutura - que abarcava também a aposentadoria dos pastores - um peso exagerado para as paróquias, cujos membros não entendiam a necessidade de pagar por esta estrutura.

Com a Reestruturação a estrutura da Igreja ficou maior e mais cara. O dinheiro apenas foi redistribuído entre os Sínodos e a administração central da Igreja. Antes havia 8 Regiões e a administração em Porto Alegre. Hoje são 18 administrações sinodais e a administração em Porto Alegre. A Contribuição dos membros baixou e parte dos recursos da administração central foram canalizados para os sínodos, isso dificultou o financiamento do estudo de teologia para os estudantes, que foi ‘privatizado’ segundo as normas do neoliberalismo.

- muitos pastores não se empenhavam em explicar a importância da estrutura e em motivar a contribuição para ela, acusando-a de ser o motivo da contribuição alta.

Isso ficou no mesmo. Os membros hoje continuam reclamando que a contribuição está alta. Em torno de 20% a 30 % do orçamento da paróquia ia antes para custear a estrutura, hoje são 10% (sobre a contribuição e os eventos) e o povo continua reclamando.

- a estrutura era centralizadora e burocrática e os processos decisórios concentrados na cúpula.

A estrutura continua burocrática, longe da realidade das comunidades e alienada da realidade brasileira e algumas decisões ocorrem nos sínodos.

- a Igreja era pastorcêntrica, valorizando pouco os leigos e outros obreiros; os próprios pastores, porém, sentiam-se desprotegidos.

O sacerdócio geral de todos os crentes continua sendo apenas um belo palavreado e os pastores estão mais desprotegidos e isolados do que nunca, nas mãos da pequena burguesia conservadora que dá a linha teológica na Igreja com o intuito de proteger os interesses do capital. O pastorcentrismo continua o mesmo, com a diferença que o pastor/a não tem mais poder e virou peão que tem que fazer tudo.

- A Secretaria Geral e o Conselho Diretor queixavam-se que os pastores jogavam todos os problemas para a Direção da Igreja resolver, tanto os seus pessoais quanto os das comunidades.

Aqui agora se distribuiu um pouco a resolução dos problemas entre a Secretaria Geral, Conselho da Igreja e os Sínodos. A Secretaria Geral continua sobrecarregada porque foi enxuta com a Reestruturação por falta de dinheiro que foi repartido com os Sínodos.

- Os Pastores Distritais reclamavam que, sendo pastores de paróquia, não tinham como cumprir também as tarefas exigidas do cargo de Pastor Distrital. Ficou sempre mais difícil encontrar pastores dispostos a assumir este cargo.

Isso em alguns Distritos Eclesiásticos acontecia quando não havia um Projeto de Igreja e nenhuma inserção na luta do Movimento Popular, Sindical e movimento ecumênico.

- Com as decisões concentradas no Conselho Diretor, este se queixava da imensa agenda a ser vencida nas quatro reuniões anuais e da falta de tempo para analisar os assuntos a fundo.

O Conselho da Igreja de hoje continua com a agenda superlotada e com as mesmas dificuldades.

- A Direção da Igreja sentia que a falta de liderança espiritual forte favorecia a influência de movimentos de reavivamento de fora e propiciava o surgimento de linhas teológicas na Igreja que ameaçavam a unidade.

Isso continua no mesmo ainda hoje. Os movimentos surgiram na Igreja porque estavam à procura de um Projeto de Igreja. Hoje com 18 igrejinhas (Sínodos) a unidade está muito mais ameaçada que antigamente. A “liderança espiritual forte” agora é exercida pela pequena burguesia conservadora que manda nas paróquias e tenta, e normalmente consegue, impedir a pura pregação do Evangelho. Linhas teológicas diferentes não são problema, problema é a submissão da teologia à ideologia do capital.

- A cobrança de cotas por membro fomentava a tentação das comunidades de "sonegarem membros", isto é, de informarem um número menor de "cotas", de maneira que a Igreja tinha muita dificuldade de saber o número total de membros.

A sonegação (corrupção) sob a modalidade do Dízimo continua como antes. Mudou-se apenas o jeito de viabilizar a corrupção. Hoje a corrupção normalmente ocorre em que os valores das promoções, festas, bailes, não são computados totalmente ou são sonegados totalmente. A parte sonegada ao Sínodo fica para reforçar o caixa da comunidade.

- Após a Reestruturação - Os membros leigos ocuparam os espaços previstos, e dominam não somente a administração das comunidades e paróquias, mas participam com maior peso das instâncias superiores. Nos sínodos isso é perceptível, em alguns mais, em outros menos. Há sínodos, onde a administração está realmente na mão dos leigos, liberando o Pastor Sinodal para as suas atribuições específicas. No Concílio e no Conselho da Igreja a voz dos leigos é muito mais ouvida. Não creio que o critério de ser pastorcêntrica ainda se aplica à IECLB.

Isso confere. Agora somos uma Igreja comandada por leigos com baixa formação teológica que pertencem à pequena burguesia conservadora (em parte altamente reacionária) que dão a linha teológica da Igreja segundo os interesses do capital. Na maioria dos Sínodos o Pastor Sinodal ainda tem que se ocupar muito com a administração e gasta seu tempo apagando incêndios nas comunidades e não consegue ser o pastor dos pastores. O número de suicídio de obreiros aumenta o que é um sinal de que a coisa anda feia. Não somos mais apenas uma Igreja pastorcêntrica, somos uma igreja onde os leigos da pequena burguesia conservadora dão a linha teológica da Igreja, segundo os interesses do capital, e tentam impedir a livre e pura pregação do Evangelho que ameaça o capital. Usam entre outros meios o EMO que contém o TAM e a Avaliação.

O Dr. Milton Laske, liderança leiga que, como assessor jurídico, acompanhou todo o processo de elaboração da Constituição, contribuindo com os seus conhecimentos jurídicos, cuidando para que fossem respeitadas as leis brasileiras e que o processo de votação seguisse o rito correto. Posteriormente ainda acompanhou a reformulação e adaptação dos documentos normativos complementares. Deixou a sua marca na nova estrutura. A Igreja lhe deve gratidão.

--------------

Observação:

Quem deve gratidão a esse advogado conservador é o capital em seu formato imperialista sob hegemonia estadunidense, não a Igreja de Jesus Cristo no Brasil.

Isso infelizmente confere. Ele por sua assessoria jurídica construiu a estrutura da Igreja conforme a ideologia neoliberal vigente, pois a interpretação das leis não é algo neutra, mas política e ideologicamente definida, normalmente a favor do capitalismo. Essa assessoria subordinou a Igreja às normas do Estado capitalista neoliberal brasileiro, a tal ponto que hoje os pastores/as não são mais pastores/as, mas ministros/as, segundo a definição da legislação previdenciária do Estado. Graças a esse advogado conservador, aos pastores/as conservadores e aos pastores/as, que se diziam de esquerda, ingênuos, temos a estrutura e a teologia que temos. Graças ao acovardamento atual dos pastores/as e leigos/as de esquerda desarticulados vamos continuar sustentando essa estrutura antievangélica, pois não garante a livre e pura pregação da Palavra de Deus, como Lei e Evangelho, aos seus obreiros e nem permite a inserção da Igreja nas lutas por justiça e paz (Rm 14.17) de nosso povo, como rezam as decisões conciliares dos anos 80.

 

Como podemos ver, o ataque foi dirigido contra a estrutura da Igreja e não se estava preocupado com o trabalho de base na comunidade e muito menos preocupado em viabilizar as decisões conciliares dos anos 80. O que estava na mira da direita anticlerical especificamente era o Distrito Eclesiástico onde os pastores/as se articulavam na tentativa de construir um Projeto Popular de Igreja. O DE foi eliminado da estrutura e com isso se eliminou o espaço de articulação dos pastores/as de esquerda engajados na luta popular. O que foi colocado no lugar do Distrito foi o Sínodo, que na verdade é parecido com o que era a Região Eclesiástica, e isso desarticulou os pastores/as, que não estavam entendendo o que estava se passando.

 

8 - Uma Avaliação desse processo

Esse é o resultado exitoso da Reestruturação da IECLB, mas não é isso que diz a avaliação da própria Igreja realizada 8 anos após em 2005. A avaliação foi feita sob o ponto de vista de seus idealizadores e constataram muitas falhas, mas nada foi encaminhado para sua correção, o que é trágico. Para melhor compreensão, seguem alguns itens da Sinopse das Avaliações feita nesse Fórum de Avaliação da Reestruturação da IECLB, realizado nos dias 08 a 11 de novembro de 2005 em São Leopoldo, RS.

A missão não foi beneficiada pela nova estrutura. ...

Pergunta-se se todos têm a visão de um só corpo, ou de dezoito “igrejinhas” semi-independentes. Em vista das múltiplas tendências teológicas existentes, manifestadas em comunidades e nos três centros de formação, pergunta-se pela identidade luterana e pela unidade da igreja. A reestruturação é responsável direta pela quebra da unidade da igreja. ...

Houve um total esvaziamento da autoridade pastoral e eclesiástica, sendo que pastores se portam como funcionários e empregados dos presbíteros; pastores sinodais se tornaram reféns da "política administrativa" dos presbíteros; os pastores sinodais não estão mais próximos dos obreiros (o número crescente de conflitos pessoais e familiares o confirmam).

Obreiros/as se sentem coagidos a agradarem a comunidade às custas do compromisso evangélico.

Houve "laicização empresarial", sendo que presbíteros não devidamente preparados transferem critérios empresariais para a administração da comunidade. ...

Comunidades e paróquias se imbuíram de poder tratar obreiros/as como funcionários/as (problema da autoridade e do poder). ...

A atual estrutura é mais cara e menos operativa. ...

A nova estrutura está mais cara, sendo que falta mais dinheiro para a missão.[13]

Essas questões entre outras não tiveram nenhum encaminhamento para se achar soluções. Fez-se a avaliação e tudo continuou como antes, era tudo pró forma.

Claus Schwambach (2015, p. 86-87)[14], citando Zimmer, diz que na IECLB pós Reestruturação

Não existem objetivos grandes e programáticos" e a unidade é "frágil". Ela atua como "órgão de administração e controle, que procura manter a unidade da IECLB não mediante conteúdos / orientação programática, mas por presença e cuidados com colaboradores e colaboradoras, o que, porém, ela dificilmente consegue. Todas as ideias de edificação de igreja ela delegou para as bases".

O efeito de todos esses processos mostra-se nas comunidades e nos ministros. Zimmer constata que há muitos pastores sobrecarregados com realização de tarefas pastorais clássicas. Constata que a participação de leigos, em cargos, deu forte conotação conservadora, exigindo dos pastores a conservação das ofertas tradicionais. As exigências da direção (materializadas p. ex. nos programas do Vai e Vem, na exigência de uma boa formação teológica, e no dever de crescer) pesam nos ombros dos ministros, ao lado do trabalho e da administração. As elevadas exigências de membros resultam em menores liberdades teológico-práticas para os pastores. Assim, pastores e pastoras "atualmente se encontram expostos à pesada sobrecarga", e "sobre [sic] forte pressão, crises, [...] [e] grande necessidade de apoio psicoterapêutico".

 

Zimmer, citada acima por Schwambach, lembra que "Todas as ideias de edificação de igreja ela [IECLB] delegou para as bases" (SCHWAMBACH, 2015, p. 86) que são conservadoras, por serem controladas pela pequena burguesia conservadora defensora em princípio e acima de tudo do capital. A teologia deve se adaptar aos interesses do capital. Lembra também que “As elevadas exigências de membros resultam em menores liberdades teológico-práticas para os pastores” (SCHWAMBACH, 2015, p. 87).

Schwambach (2015, p. 81-82), continuando a citar Zimmer, aponta para as contradições entre o PAMI - Plano de Ação Missionária da Igreja - e a Reestruturação de 1997.

 

Dentre uma série de fatores, ela recorda um evento que mudou significativamente a forma de estruturação da IECLB, que foi a reforma da estrutura administrativa e de poder da igreja implantada no Concílio extraordinário da IECLB, em 1997, com a criação dos 18 Sínodos. A reestruturação aumentou a influência dos leigos sobre os rumos da IECLB, descentralizou mais as decisões e aumentou a autonomia das comunidades. Houve eliminação da Secretaria de Missão da IECLB, com a consequência de que a missão deveria ocorrer em âmbito local. Em compensação, o principal marco recente, em termos de missão e edificação de comunidades foi, indubitavelmente, o PAMI - Plano de Ação Missionária da Igreja. ... E o PAMI I "pela primeira vez exigiu explicitamente a superação de barreiras étnicas e a conquista de pessoas de fora da igreja no entorno de cada comunidade". O problema que Zimmer registra, no entanto, é que PAMI e a mencionada reestruturação da IECLB tiveram efeitos contrários:

As reformas estruturais e o plano missionário PAMI tiveram, [...] efeitos contrários. Enquanto que as reformas estruturais reforçaram inicialmente tendências conservadoras na igreja, o PAMI exigiu das comunidades inovações e transposições de fronteiras. A mudança conservadora, porém, provocou resistência contra essa tendência inovadora nas comunidades. [...] PAMI [era] um programa ... bem simpático, [mas] ele não era aplicado pelas comunidades. 

 

O PAMI exigia abertura, mas a Reestruturação já havia feito o fechamento da Igreja em si mesma para legitimar o capital a partir de sua dinâmica neoliberal, o que automaticamente se reverteu no fechamento dos pastores/as em si mesmos para se preservar. Como os pastores/as vão se inserir no Projeto do PAMI se lhe tolheram a iniciativa e o poder de pregar puramente o Evangelho e se extinguiu um instrumento ágil e dinâmico, que foi sendo construído por décadas, que foi o Distrito Eclesiástico, que tinha poder e iniciativa na procura de um Projeto Popular de Igreja?

Marc Lienhard em Martim Lutero cita

 

“Lá onde Cristo vem com seus discípulos, começa o tumulto” (WA 17, II, 107, 21-2); “Lá onde o reino de Cristo é anunciado pelo evangelho, a cruz e a perseguição se seguem certamente e de imediato” (WA 20, 564, 32-3). ... O crente deixa-se colocar sob a cruz. Sabe que quem confessa Cristo deve prever a hostilidade de Satã, as injúrias e as perseguições. Entre as calúnias que irá enfrentar, há em particular a acusação de que a vida cristã é sediciosa, “embora ela sofra a sedição antes de incitar outros a ela” (WA 17, II, 183, 7-8). O cristão “deve ser semelhante a alguém agonizante que, no mundo, sempre prevê a morte, por causa do ódio, da inveja e de toda espécie de perseguições” (WA 17, II, 185, 32-4). Quem não é um “crucianus” (crucificado) não é um “christianus” (cristão) (WA 43, 617, 33-4).[15]

 

Loewenich (1987, p. 17)[16] esclarece o sentido do entendimento da teologia da cruz em Lutero.

 

Para o teólogo da cruz há conhecimento apenas "através dos sofrimentos e da cruz". "Deus somente pode ser encontrado no sofrimento e na cruz." (1,362,28s.) Podemos observar aqui a mesma ambiguidade como acima no termo "obras". "Cruz" e "sofrimentos" representam em primeiro plano o sofrimento e a cruz de Cristo. Ao mesmo tempo, porém, Lutero pensa na cruz do cristão. A cruz de Cristo e a cruz do cristão são por ele vistas em conjunto. A cruz de Cristo para ele não é fato histórico isolado, para com o qual a vida do cristão tivesse apenas relação de causalidade (cf. 1,219.30), mas na cruz de Cristo tornou-se evidente a situação reinante entre Deus e a pessoa humana. ... à cruz de Cristo corresponde a cruz do cristão. Reconhecer a Deus "através dos sofrimentos e da cruz", isto é, conhecimento de Deus surge na cruz, cujo sentido somente fica manifesto àquele que se encontra em cruz e sofrimento ele próprio. É neste um ponto. O teólogo da glória vê Deus "presente em toda parte" (1,614,9). O teólogo da cruz sabe: "no Cristo crucificado estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento e Deus" (1,362,18s). Buscar a Deus em outra parte seria "pensamento volátil" ("volatilis cogitatus", ib., linha 16).

 

Albrecht Baeske[17] em alocução durante a ordenação ao ministério pastoral junto à IECLB (Maracaju, MS, em 03/05/2008) fala da ação do diabo dizendo que

 

O campus de “satanás” é a Igreja; infiltra-se, mascara-se, desempenha seu papel na comunidade. Não na periferia desta, ao contrário, bem em seu centro, onde se o confessa em alto e bom som. No decorrer da história da Igreja poucos discípulos de Jesus Cristo o compreenderam nesta parte tal qual Martim Lutero. Por isso insiro frases deste: “Satanás não vem ao boteco da esquina”. Ele “aparece na Igreja, chegando a sentar-se no templo, em cima do altar, querendo se passar por Deus”. Corre “para a Igreja, não para o mundo”, o qual, de momento, lhe pertence. “Os que satanás já possui – estes ele não tenta.” É assanhado por aquilo que não é seu: o próprio Jesus Cristo e seus discípulos mais familiarizados. “Sempre se mete no meio deles”; “satanás” está – ressalta Lutero – “permanentemente onde Jesus Cristo está, coladinho nele; onde este constrói uma igreja, aquele constrói uma capela encostadinha; esperando por dar seu bote”. ... “Satanás” é todo aquele e tudo aquilo que quer Jesus Cristo sem a cruz; um movimento “satânico” está se formando onde e quando se quer a Igreja e suas congregações sem uma imagem dele na cruz. “Satanás” é arqui-inimigo da cruz de Jesus Cristo e pessoas “satânicas” são “as inimigas da cruz de Cristo” (cf. Fp 3.18). Elas começam a enveredar nesta direção se colocam cruzes sem o Crucificado no altar ou retiram dos templos qualquer tipo de cruz. Algo já em franco andamento na IECLB. ... “Satanás” é arqui-inimigo da cruz de Jesus Cristo e “os inimigos da cruz de Cristo” limpam (como afirmam) seus templos das cruzes.

 

Entre os pastores/as da IECLB temos muitos arqui-inimigos de Cristo, pois são muitos os que retiram o crucifixo das igrejas. Por falta de clareza teológica ou opção de classe servem ao diabo.

 

9 - E a esperança, cadê?

A insurgência evangélica do Reino de Deus ainda está em andamento também na IECLB, mesmo que escondida em muitas Paróquias e Sínodos. O diabo, através do capitalismo, não vencerá esta batalha. Continua havendo membros e pastores/as inseridos nos Movimentos Populares, no Movimento Sindical de resistência, no Movimento Específico (na luta das mulheres, dos negros, dos povos originários e da comunidade LGBTQIA+), nas ONGs de Esquerda, como o CAPA, ACESA, e as pastorais como Comin, CPT, etc. e Partidos Políticos de Esquerda (comunistas).

 

Por onde começar?

Começa-se sempre pelo tripé do Movimento de Massas: Trabalho de Base, Formação político-teológica e Lutas de Classes.

 

9.1 - Trabalho de Base

Trabalho de Base a partir da luta de classes na qual a paróquia está inserida nos municípios e dentro da própria paróquia. Identificar as forças em luta dentro da paróquia e municípios que a abrangem. Ver quem é a favor do capital e quem é a favor do Evangelho e descobrir as contradições, avanços e recuos na construção de um Projeto Popular de Igreja.

Maurice Briton[18] escreve

 

Uma sociedade socialista não pode pois ser construída a não ser partindo da base - "a partir de baixo". As decisões relativas à produção e ao trabalho devem ser tomadas por Conselhos de trabalhadores compostos por delegados eleitos e revogáveis. As decisões noutros setores devem ser tomadas partindo das discussões e da consulta o mais ampla possível do conjunto da população. Aquilo que entendemos por "poder dos trabalhadores" é precisamente essa democratização da sociedade no seu próprio fundamento. ... Para os revolucionários, as únicas ações providas de sentido são as que permitem aumentar a confiança, a iniciativa, a participação, a solidariedade, as tendências igualitárias e a autonomia das massas e que contribuem para desmistificá-las.

 

É isso que a Bíblia nos ensina sobre o exercício do Poder Popular em Assembleia Popular em Nm 27.1-11; Êx 18; Js 8.33-35; Js 24; At 6.1-7; At 15.

Aprendi do professor Jorge Moreno (juiz aposentado do Maranhão) num curso de extensão da UFFS o seguinte sobre trabalho de base:

Sun Tzu em “A Arte da Guerra” diz que há 5 opções para ganhar uma guerra:

1. Disciplina;

2. Conhecer o Tempo (clima);

3. Conhecer o Espaço (a geografia e a realidade do país);

4. Doutrina (convicções, teoria revolucionária);

5. Comando (direção)

Para o Trabalho de Base precisa: (O que nos move é a esperança: 1 Pe 3.15 “antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,”)

Só existe Movimento de Massas se há Trabalho de Base, Formação e Lutas. O Trabalho de Base se constrói em cima e a partir da Formação (estudo) e das Lutas e vice versa. Esse é o tripé que vai derrotar o tripé do Capitalismo: Propriedade Privada dos meios de produção, Trabalho Assalariado e Livre Iniciativa.

16 dicas para o Trabalho de Base:

1.    Dizer para que veio.

Jesus Cristo disse logo no início de sua pregação conforme Mc 1.15 e Lc 4.43 para que veio: anunciar a construção do Reino de Deus.

Dividir logo – não fazer acordos e conciliar, para saber logo quem é amigo e quem é inimigo de classe. Em inimigo de classe a gente não confia.

Mt 10.34 “Não penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada”.

Mt 12.30 “Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha”.

2. Procurar quem ninguém quer.

1 Co 1.28 “Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são”;

Procurar quem não está nos Movimentos da Esquerda e nos Sindicatos, quem não está organizado.

3. “Fazer Milagre” – Realizar uma ação concreta. Para juntar a multidão tem que fazer algo: tirar prefeito, delegado, etc.

Revolução se constrói com enfrentamento não com conversa. Ações bem definidas conseguem convencer e se começa com o inimigo mais fraco. Os USA nunca atacam um país forte, sempre um fraco para se fazer respeitar no mundo. Fazer o que é possível e não o que a gente quer – Fazer o que a gente não quer por primeiro, mas que o povo quer. Ex.: Padre no Nordeste insiste com o povo para cavar um poço para ter água. O povo queria arrumar e ajeitar primeiro o cemitério. Quando o padre topou arrumar o cemitério o povo logo depois foi cavar o poço.

4. Antes de chegar à Jerusalém tem que percorrer todos os povoados.

Tem que conhecer a realidade do país e do povo como Jesus fez.

5. Sem grupo ninguém tem medo de ti.

Sozinho e isolado não se faz nada. Organizar os Conselhos Populares de Camponeses, Operários, Indígenas e Quilombolas com formação teórica e lutas.

6. Todos têm talentos – cabe à liderança conhecer e descobrir.

7. Fugir quando querem endeusar a gente.

Mc 1.45 “Mas, tendo ele saído, entrou a propalar muitas coisas e a divulgar a notícia, a ponto de não mais poder Jesus entrar publicamente em qualquer cidade, mas permanecia fora, em lugares ermos; e de toda parte vinham ter com ele.”

8. Grupo forma o líder.

Maior função de um líder é formar um grupo; ir de casa em casa. Lc 10.1 “Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir”.

A reunião faz a base – corpo a corpo com insistência e não desistir de conversar e insistir. Compreender as manias do povo, de sua resistência e de seu medo de não se envolver logo.

9. Não se faz luta com quem tem tempo, mas com quem precisa.

Mt 8.21-22 “E outro dos discípulos lhe disse: Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu pai. Replicou-lhe, porém, Jesus: Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos.” (Talmud diz que quem não vai ao enterro do pai perde a herança. Herança - propriedade privada dos meios de produção - é prioridade e mais importante que seguir Jesus Cristo, no caso do discípulo citado).

10. Ninguém está no grupo por obrigação, mas por escolha.

Mt 19.27 “Então, lhe falou Pedro: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será, pois, de nós?”

A gente escolheu trabalhar com o povo, de fazer militância porque temos esperança, sonho – fizemos uma escolha – ter convicção – escolha de vida.

11. Perseguição faz parte do processo – cruz é resultado da luta. Mt 16.24 “Então, disse Jesus a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me”.

12. Quem financia a luta é o povo.

Mc 6.38-39 “E ele lhes disse: Quantos pães tendes? Ide ver! E, sabendo-o eles, responderam: Cinco pães e dois peixes. Então, Jesus lhes ordenou que todos se assentassem, em grupos, sobre a relva verde.”

Organizar o financiamento via grupos que descobrem que tem a comida necessária, pois a produzem. O povo que não financia sua luta não vai entender a sua libertação.

13. Militante cumpre tarefa, nunca volta sem resultado.

Foi, não teve reunião – volta e faz visita de casa em casa e conversa com o povo. Não adianta dizer que o povo não quer nada com nada. A culpa não é do povo se não se organiza, mas das lideranças incompetentes que não tem persistência e esperança (Lc 10.1-12).

14. Todo resultado deve ser divulgado.

Mc 1.40-45: “Aproximou-se dele um leproso rogando-lhe, de joelhos Se quiseres, podes purificar-me. Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: Quero, fica limpo! No mesmo instante, lhe desapareceu a lepra, e ficou limpo. (43) Fazendo-lhe, então, veemente advertência, logo o despediu e lhe disse: Olha, não digas nada a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para servir de testemunho ao povo. Mas, tendo ele saído, entrou a propalar muitas coisas e a divulgar a notícia, a ponto de não mais poder Jesus entrar publicamente em qualquer cidade, mas permanecia fora, em lugares ermos; e de toda parte vinham ter com ele.” O velho truque do: “Não conte para ninguém” e toda vila fica sabendo.

15. Só a multidão é capaz de enfrentar o poder.

Revolução não se faz com vanguardas, mas com a massa. O momento é de convencer a multidão, porque estamos numa democracia, mesmo que burguesa. Numa ditadura é mais difícil. “O marxismo ensina que o motor da história são as massas, cujo movimento é inelutável. Tudo depende de que o trabalho de base tenha importância fundamental, pois é este o trabalho que impele as massas e dá solidez à ação” (MARIGHELLA, 2011, p. 85)[19].

16. Todo trabalho deve levar os oprimidos caminhar com seus próprios pés.

Nada de criar dependência, achar que a gente é insubstituível - é ter sede de poder, querer ser chefe. Quanto mais pés, mais coices. Antes de Jerusalém tem que percorrer a Palestina para conhecer e convencer para a luta. Ao disputar o poder tem que derrubar cercas: caçar prefeito, etc.

Por isso a Mensagem às Comunidades do Concílio Geral da IECLB, Terra de Deus - Terra para todos (Hamburgo Velho/RS. 20 a 24 de outubro de 1982) está no caminho certo, porque diz: “(...) assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem-terra, boias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas”.  Aqui a Igreja entende que a participação coletiva no processo da construção no Reino de Deus vai muito além do seu próprio umbigo.

O pastor Albrecht Baeske no Semente de Esperança (2016, p. 216)[20] lembra: “Aí Martim Lutero nos consola: a igreja parece morta, sim, ela está no caixão – para a ressurreição. E João Calvino acrescenta: a História da Igreja é uma sequência de ressurreições. Que Deus nos conceda tal experiência!”

 

9.2 – Formação massiva e de lideranças

Formação nas paróquias a partir de uma análise de conjuntura da realidade na qual a paróquia está inserida. Cada Paróquia precisa construir uma Escola Popular de Teologia coordenada pelos pastores/as locais para atender as necessidades das comunidades, com formação massiva: Dias de Comunidade (manhã e tarde); Noites de Comunidade, Tardes de Comunidades, Dias de Igreja paroquiais, Palestras, cursos bíblicos e sobre a realidade brasileira (nos fins de semana ou à noite durante 3 horas) dentro de um Planejamento Missionário de 10 a 15 anos; cursos específicos; inserção dos pastores/as e dos membros nas lutas populares dos sindicatos, movimentos populares, ONGs de esquerda e Partidos Políticos de Esquerda (comunistas).

Jesus Cristo não é neutro e a IECLB também não. A pretensa neutralidade da Igreja na verdade é um engajamento ativo do lado da direita (fascista). A direita gritará em alto e bom tom que a opção da Igreja pelas classes subalternas exploradas e expropriadas ela não pode fazer como Javé fez, só pode fazer a opção pela direita como sempre foi. É claro que a opção da Igreja pela direita a direita nunca vai reconhecer como uma opção, mas a prática da Igreja mostra essa opção de forma muito clara. O silêncio da Igreja diante da exploração e expropriação de classe é ensurdecedor. Ouve-se esse silêncio retumbante há quilômetros de distância. É um silêncio enrolado na bandeira verde-amarela.

Conteúdo Programático de um Curso de Formação para lideranças em 23 dias espalhados em dois anos, animando sempre para participar das lutas populares e sindicais; teoria sem prática não faz avançar (Prática-Teoria-Prática= Práxis):

1 - Modos de Produção - Tribal, Tributário, Escravista, Feudal – 2 dias

2 - Capitalismo (estrutura, desenvolvimento histórico, dinâmicas) – 2 dias

3 - Chave de Leitura da Realidade - Marxismo (materialismo histórico, materialismo dialético, teoria da luta de classes, teoria do valor trabalho, fetichismo e comunismo) – 2 dias

4 - Análise da Conjuntura e da Realidade Brasileira – 2 dias

5 - Chave de Leitura Bíblica (Êxodo-Cruz/Ressurreição) a partir das lutas da sociedade de classes para entender o Projeto Político Global de Deus para a Humanidade – 1 dia

6 - O Projeto de Deus no AT (Formação do Povo de Israel, Projeto da Terra Prometida, Monarquia e Profetismo, Exílio e Pós-Exílio) – 2 dias

7 - O Projeto de Deus no NT (O mundo do NT, Jesus Cristo, Evangelhos, Reino de Deus, Primeiras Comunidades, Cartas, Apocalipse) – 2 dias

8 - História da Igreja (Conjuntura da Palestina e de Roma de 33 d. C. a 135 d. C.; Martírio e perseguições; O Crescimento da Igreja – missão antes e depois de 313 d. C. até hoje; O Cânon do AT e NT; Patrística; A Igreja cooptada; Os movimentos de resistência à “igreja cooptada” (ex. monges, donatistas, os movimentos ‘heréticos’); história da Reforma Luterana – 2 dias

9 - História da IECLB (Sínodos, Federação Sinodal, IECLB e Reestruturação; a IECLB na luta de classes no Brasil – posturas e omissões) – 1 dia

10 - Reino de Deus como prática e anúncio central de Jesus Cristo contra o reino classista do mundo – 1 dia

11 - As lutas do povo brasileiro (indígenas, escravos, camponeses, operários, mulheres, comunidade LGBTQIA+ e outras minorias) - opressão e resistência – 1 dia

12 - A História do Movimento Sindical Urbano no Brasil – 1 dia

13 - A História do Movimento Sindical Camponês no Brasil, Movimentos Camponeses Messiânicos e Movimentos Camponeses de hoje - Via Campesina e outros – 1 dia

14 - Formação sócio-econômica do Oeste Catarinense no qual estamos inseridos na atual conjuntura e estrutura das Igrejas – 1 dia (cada Sínodo faz o estudo de sua região)

15 - Teologia Luterana – 1 dia

16 - Teologia da Libertação – 1 dia

17 - ... etc.

A participação de um curso apenas não é o suficiente, é necessário que os participantes deste tenham a oportunidade de participar de outros nos próximos anos, tanto na igreja como no movimento sindical e popular e partidos de esquerda (comunistas). O aprendizado deve ser permanente junto com o engajamento nas lutas populares. A formação deve ser mais ampla. A Escola Popular de Teologia deve planejar a formação para vários anos.

Teremos que rediscutir o tempo gasto com os grupos de convivência que se reúnem só para comer e fazer festa que tomam todo o tempo dos pastores/as. Não somos um clube de entretenimento.

Precisamos de formação permanente para os/as pastores/as (cursos, indicação de literatura e organizar um dia por semana para o estudo e reflexão – mero ativismo é suicídio – trabalhar 10 a 14 horas por dia só traz doenças e desgaste físico) e organizá-los junto com membros para ter capacidade de enfrentar a luta de classes na Igreja e na sociedade.

A Direção da Igreja tem que garantir que cada obreiro/a possa dedicar um dia por semana ao estudo, leitura, reflexão e oração. Isso faz parte do trabalho, se capacitar teologicamente. Diz-se que Lutero dedicava 4 horas por dia para isso.

 

9.3 – As Lutas de Classe

A IECLB sempre participou ativamente das Lutas de Classe que ocorreram no país de duas formas:

a) silenciando e apoiando o processo de exploração, opressão e expropriação da classe trabalhadora, da classe camponesa e dos povos originários fingindo neutralidade para agradar a direita fascista. O silêncio é uma postura clara, nada neutra.

b) manifestando-se com Cartas Pastorais da Presidência, com propostas dos Concílios para inserção na luta de classes, engajamento pelos DEs nas lutas populares, com projetos nas paróquias que apóiam as lutas populares via FLD e outras fontes.

Primeiro precisamos aprender a fazer análise de conjuntura e estrutura da Igreja e da sociedade para entender a luta de classes na qual estamos inseridos, para isso precisamos estudar o marxismo que nos dá os elementos para tal.

 

9.3.1 - Qual o nó górdio?

Ser fiel ao Evangelho ao viabilizar 1 Co 14 ou ficar quieto e salvar a estrutura da Igreja comprometida com o capital?

Os pastores/as foram formados e ordenados/as para garantir a reprodução da estrutura da Igreja. O Evangelho de Jesus Cristo aponta para a cruz no processo revolucionário insurgente evangélico coletivo de construção por/em/com Jesus Cristo do Reino de Deus.

A opção da Igreja se vê nos altares das igrejas sem crucifixo, às vezes até sem cruz vazia. Normalmente Jesus Cristo não pode entrar nas igrejas da IECLB, pois estas não deixam entrar os sem terra, os povos indígenas, os movimentos populares e sindicais e a comunidade LGBTQIA+ para na hora do Kyrie falar de suas dores e criar condições para organizá-los em suas lutas por justiça e paz (Rm 14.17). Mt 25 diz que Jesus Cristo está nos com fome, sede, sem direitos, etc. e se estes não podem se expressar no culto ou nem entrar nele de forma organizada então Jesus Cristo não está presente neste culto. Adora-se então ali o deus capital com máscara de Jesus Cristo.

A IECLB não consegue dar a linha teológica nas paróquias porque é comandada pela pequena burguesia conservadora que administra as paróquias e as comunidades, com suas devidas e honrosas exceções, que dá a linha teológica, ameaçando os pastores/as com o desemprego, com a calúnia, mentira e guerra psicológica quando não se sujeitam à teologia do deus capital com máscara de Jesus Cristo. A IECLB nunca conseguiu dizer isso para essa pequena burguesia e enfrentar ela com medo da ruptura e da divisão e do esvaziamento da Igreja. Até hoje não se provou que isso esvaziará a Igreja ou haverá uma ruptura. A tática da direita é fazer uma gritaria quando sente o capital ser ameaçado pela pregação e prática da Igreja e com isso a Igreja recua para se auto-preservar e por isso a ordem é dar leite ao povo, mesmo ao povo que já pode comer churrasco de costela de boi velho.

 

9.3.2 - Devemos começar em todas as frentes.

Uma delas é acabar com a estrutura, que a Reestruturação criou, para empoderar novamente os pastores/as, diáconos/as, catequistas e missionários/as e valorizar sua ordenação. Quem dá a linha teológica na paróquia são os/as obreiros/as, não a pequena burguesia conservadora, diz o regimento Interno da IECLB. A Igreja tem que garantir isso.

A nossa luta é garantir que a IECLB seja Evangelho e não Religião, pois a Religião sempre tem o papel de legitimar o status quo e o Evangelho tem a função de se insurgir contra o status quo. O símbolo do Evangelho é o crucifixo, o Cristo crucificado e ressurreto, a teologia da Cruz de Cristo (cruz é símbolo da resistência frente o sistema deste mundo, hoje o capitalismo); o símbolo da Religião é a prosperidade, o capital, a teologia da glória.

 

“O teólogo da glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que é bom; o teólogo da cruz diz as coisas como elas são. Isto é evidente, pois enquanto ignora Cristo, ele ignora o Deus oculto nos sofrimentos. Por isso, prefere as obras aos sofrimentos, a glória à cruz, o poder à debilidade, a sabedoria à tolice e, de um modo geral, o bem ao mal. Esses são os que o apóstolo chama de inimigos da cruz de Cristo, certamente porque odeiam a cruz e os sofrimentos, ao passo que amam as obras e a sua glória. Assim, eles chamam o bem da cruz de um mal, e o mal da obra de um bem. Já dissemos, no entanto, que Deus não é encontrado senão nos sofrimentos e na cruz". (Martim Lutero Tese 21 da Demonstração das Teses Debatidas no Capítulo de Heidelberg in Obras Selecionadas. Vol 1. Editora Sinodal e Concórdia. São Leopoldo. 1987, p. 50)

 

Em termos práticos, a seguir proponho alguns elementos para um Projeto Político no processo de construção de um Projeto Nacional de Igreja e furar o esquema das 18 igrejinhas isoladas e subdivididas em Núcleos e UPs.

 

Igreja missionária é Igreja que tem esperança e não tem medo!

Igreja medrosa e acomodada nunca será missionária!

Ninguém solta a mão de ninguém!

 

1. Revogação da Reestruturação e elaboração de nova Constituição e com novo Regimento Interno para a IECLB;

2. Revogação no EMO - Estatuto do Ministério com Ordenação - do TAM e da Avaliação. (EMO Art. 28 eliminar a expressão "para um período de três a seis anos" e eliminar do Art. 33 o item I);

3. Revogação no Regimento Interno do:

-        Não direito ao voto do Pastor Presidente e vices e Secretário Geral no Conselho da Igreja e Pastor Sinodal no Conselho Sinodal (Revogação dos § 5° e § 6° do Art. 66 e do § 1° do Art. 44);

-        Não direito ao voto do Coordenador Ministerial e do representante da Paróquia no Conselho Sinodal na diretoria da paróquia (Revogação do Parágrafo único do Art 26.);

-        A não necessidade da participação dos outros pastores/as e demais obreiros na reunião da diretoria da paróquia (Revogação do Parágrafo único do Art 26.).

-        Revogar e denominação “Ministro” no lugar de pastor/a, catequista, diácono/a e missionário/a

4. Valorização e dignificação da Ordenação;

5. Igualdade de direitos e deveres de membros e obreiros/as;

6. Garantia institucional do pastor/a poder dar a linha teológica na paróquia, que é seu papel segundo o Regimento Interno da IECLB no Art. 7º;

7. Garantia institucional aos pastores/as e demais obreiros/as da livre e pura pregação do Evangelho na Igreja e na sociedade e verificação da correta administração dos Sacramentos;

8. Projeto de formação teológica continuada de obreiros/as coordenada pela EST à distância e presencial.

9. Projeto de formação teológica de membros para capacitá-los para o sacerdócio geral de todos os crentes e para serem presbíteros e lutadores do povo no processo de eliminar o capitalismo. Sem formação teológica mínima de cursos estipulados pela Igreja não pode ser presbítero;

10. Escola de Formação Teológica para leigos nos Sínodos[21] com currículo mínimo elaborado pela EST juntamente com o Sínodo;

11. Maior participação de obreiros/as (mínimo de 1 obreiro/a por Sínodo, além do pastor sinodal) e pessoas leigas da base comunitária no Concílio da Igreja na proporção de 75% da base por 25% da estrutura;

12. Construir um Projeto Nacional de Igreja para a IECLB, baseado no sacerdócio geral real de todos os crentes, a partir da realidade social e cultural do país no lugar do Modelo de Igreja de Atendimento que está falido.

Nós sabemos como fazer isso: fazer moções nas Assembleias Sinodais e enviá-las ao Concílio da Igreja. Para isso precisa-se organizar nos sínodos pastores/as e membros da esquerda para garantir isso nas Assembleias Sinodais e depois no Concílio da Igreja. Antes disso a pastorada encagaçada tem que sair da toca e se organizar nos sínodos com encontros regulares para fazer análise de conjuntura da realidade brasileira e da realidade da IECLB e estudar teologia e marxismo para termos um método de leitura da realidade.

A nós cabe a tarefa de fortalecer o Trabalho de Base com Formação (política e teológica), unida à Luta de Classes, na sociedade e na Igreja, para criar o Movimento de Massas que ajudará o processo revolucionário do Reino de Deus conduzido por/em/com Jesus Cristo, no já agora, para emancipar a Humanidade e cancelar o Colapso Planetário em andamento criado pelo capitalismo predador da vida, um dos instrumentos que o diabo usa para tentar eliminar a vida criada por Deus e tentar impedir a viabilização do Reino de Deus, no já agora.

Uma tarefa imediata, que a história na IECLB nos ensina (Grupo de Curitiba, Grupo dos 80), é organizar um Grupo de pastores/as e pessoas leigas engajadas para se encontrar anualmente para fazer análise de conjuntura do país e da IECLB e a partir dali reorganizar a IECLB para que nela esteja garantida a livre e pura pregação da Palavra de Deus como Lei e Evangelho e reta administração dos Sacramentos. Isso hoje não está garantido. A IECLB não garante a sua própria essência e motivo de sua própria existência. Essa é a contradição.

 

Como diria o pastor Germano Burger: Quem assume essa tarefa?

 

Palmitos, 7 de setembro de 2023.

Pastor Günter Adolf Wolff

 

 



[1] MARX, Karl. Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política” in MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Textos, vol. III. São Paulo. Edições Sociais. 1977, p. 301-302

[2] ENGELS, Friedrich. Prefácio à edição alemã de 1883 do Manifesto do Partido Comunista in Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis. Vozes, 1988, p. 45-46

[3]GOZALO-SALELLAS, Ignasi, BASTIDA, Álvaro Guzmán e MUNIENTE, Héctor. “Todos devemos participar de um processo revolucionário que nos distancie da loucura do capitalismo”. Entrevista com David Harvey in http://www.ihu.unisinos.br de 24/11/2017.

[4] ENGELS, Friedrich. Karl Marx. In Karl Marx e Friedrich Engels. Textos. Vol. 2. São Paulo. Edições Sociais. 1976, p. 207-209

[5] MONTICELI, Lara. Nancy Fraser: O que é capitalismo? in https://blogdaboitempo.com.br de 24/09/2021

[6] BRITON, Maurice. Os Bolcheviques e o controle operário. Porto. Edições Afrontamento, 1975

[7] LUXEMBURGO, Rosa. O que quer a Liga Spartakus? In A Revolução Russa. Petrópolis. Vozes. 1991, p. 104.

[8]ABREO, Ana Carolina Santini de e RESENDE, Luci Mara. Reestruturação produtiva: algumas reflexões sobre seus rebatimentos no serviço social in http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v4n1_reestrut.htm.

[9]FUCHS, Werner. Anexo 34. Painel no XIII Concílio Geral da IECLB - Terra de Deus - Terra para todos. Subtema: Sinais Concretos de ação. Hamburgo Velho/RS. 20 a 24 de outubro de 1982.

[10]IECLB. Relatório 2014 – 2016. XXX Concílio da Igreja. Brusque. 19 a 23 de outubro de 2016, p. 79.

[11] KUNZ, Ralph. Das Boot ist voll. Zur Resonaz einer politischen Predigt, die sich gegen die Politik richtet in Göttinger Predigt-Meditationen. 72. Jahrgang. Heft 2. Göttingen. Vandenhoeck & Ruprecht. 2018.

[12]KLIEWER. Gerd Uwe. Reestruturação da IECLB - por quê? In Anuário Evangélico 2017. Blumenau. Editora Otto Kuhr. 2016.

[13] HASENACK, Johannes Friedrich; BOCK, Carlos Gilberto, Org. Avaliação da Reestruturação da IECLB. Fóruns IECLB. Vol. II. Blumenau. Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. 2006, p. 9, 11, 14-15, 18.

[14] SCHWAMBACH, Claus e SPEHR, Christopher. Reforma e Igreja. Estudos sobre a eclesiologia da reforma na história e na atualidade. São Bento do Sul. FLT e União Cristã. 2015.

[15]LIENHARD, Marc. Martim Lutero. Tempo, vida e mensagem. São Leopoldo. Sinodal, IEPG. 1998, p. 293.

[16]LOEWENICH. Walther von. A teologia da cruz de Lutero. São Leopoldo. Sinodal. 1987.

[17]BAESKE, Albrecht. Alocução durante a ordenação ao ministério pastoral junto à IECLB em Maracaju, MS, em 03/05/2008.

[18] BRITON, Maurice. Os Bolcheviques e o controle operário. Porto. Edições Afrontamento, 1975

[19]MARIGHELLA, Carlos – Porque resisti à prisão in Resoluções Políticas: IV Assembleia Nacional "Carlos Marighella". São Paulo. Consulta Popular. 2011.

[20]BAESKE, Albérico. Igreja da palavra in Semente de Esperança. São Leopoldo. Editora Sinodal.

[21]Ainda uso o termo Sínodo porque não sabemos que instâncias administrativas a nova Estrutura terá. Revogar a terminologia ministro/a que está embasada na subserviência à legislação estatal previdenciária.