27 de outubro de 2010

A Prática dos Primeiros Cristãos e o que precisamos e podemos aprender deles

Hoje em dia a maioria das pessoas pertence a uma comunidade cristã por tradição familiar ou porque quer receber visitas e os ofícios (batismo, confirmação, bênção matrimonial, enterro) por parte do pastor/a ou porque isto dá um certo status étnico e social ou para poder usufruir das dependências da comunidade (igreja, pavilhão, cemitério e escola) ou para satisfazer sua necessidade religiosa. Hoje paga-se (não se contribui) alguém (um pastor/a, catequista, diácono, missionário) para fazer o que qualquer cristão pode e deve fazer. Paga-se para não se precisar fazer e paga-se para ter (um pastor/a) quando se quer e se precisa e para que se fale aquilo que se quer ouvir (mensagens de auto-estima, auto-ajuda e de pensamento positivo, muitos de origem espírita, que são lidas por lideranças cristãs nos encontros por falta de clareza teológica, por desleixo por parte da igreja em promover formação teológica para o povo). Eu pago, portanto, eu tenho o direito de ser atendido; é o consumo de bens simbólicos. Membro virou cliente. Por isso vamos olhar para a Escritura e para a prática das primeiras comunidades cristãs, isto no mínimo vai nos deixar vermelhos de vergonha.


I - Nos relatos da Escritura:

At 2. 42-46: E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos, à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.

At 4.32-37: Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum. Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade. José, a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer filho de exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos.

I Tm 6.6-11: De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores. Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a constância, a mansidão.

I Co 16.1-2: Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua prosperidade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for.

Tg 1.27: A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.


II - Nos relatos dos escritos dos pais da igreja (não tive acesso aos textos das mães da igreja):


Didaqué (Catecismo dos Primeiros Cristãos da época de ±100 d.C.)

IV,5-8: Não seja como os que estendem a mão na hora de receber e a retirar na hora de dar. Se você ganha alguma coisa com o trabalho de suas mãos, ofereça-o como reparação por seus pecados. Não hesite em dar, nem dê reclamando, pois você sabe quem é o verdadeiro remunerador da sua recompensa. Não rejeite o necessitado. Divida tudo com o seu irmão, e não diga que são coisas suas. Se vocês estão unidos nas coisas que não morrem, tanto mais nas coisas perecíveis.

I,5-6: Dê a quem pede a você e não peça para devolver, pois o Pai quer que os seus bens sejam dados a todos. Feliz aquele que dá conforme o mandamento, porque será considerado inocente. Ai de quem recebe: se recebe por estar necessitado, será considerado inocente; mas se recebe sem ter necessidade, deverá prestar contas do motivo e da finalidade pelos quais recebeu. Será posto na prisão e interrogado sobre o que fez; e daí não sairá até que tenha devolvido o último centavo. A esse respeito, também foi dito: Que a sua esmola fique suando nas mãos, até que você saiba para quem a está dando.

XIII,1-7: Todo verdadeiro profeta que queira estabelecer-se entre vocês é digno do seu alimento. Da mesma forma, também o verdadeiro mestre é digno do seu alimento, como todo operário. Por isso, tome os primeiros frutos de todos os produtos da vinha e da eira, dos bois e das ovelhas, e os dê para os profetas, pois eles são os sumo sacerdotes de vocês. Se, porém, vocês não têm nenhum profeta, dêem aos pobres. Se você fizer pão, tome os primeiros e os dê conforme o preceito. Da mesma forma, ao abrir uma vasilha de vinho ou de óleo, tome a primeira parte e a dê aos profetas. Tome uma parte do seu dinheiro, da sua roupa e de todas as suas posses, conforme lhe parecer oportuno, e os dê conforme o preceito.

XV,1-2: Escolham para vocês bispos e diáconos dignos do Senhor. Eles devem ser homens mansos, desprendidos do dinheiro, verazes e provados, porque eles também exercem para vocês o ministério dos profetas e dos mestres. Não os desprezem, porque entre vocês eles têm a mesma dignidade que os profetas e mestres.


Esta primazia pelos profetas temos também em Paulo em 1 Co 12.28: “A uns estabeleceu Deus na igreja, primeiramente, apóstolos; em segundo lugar, profetas; em terceiro lugar, mestres; depois, operadores de milagres; depois, dons de curar, socorros, governos, variedades de línguas”.

Ef 2.20: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular”.

Os profetas aparecem conforme a importância em segundo lugar logo após os apóstolos.


Aristides, cidadão romano (não cristão) de 125 d.C. escreve sobre os cristãos:

“Eles andam em humildade e bondade: não existe falsidade entre eles; amam uns aos outros, se ouvem que alguém dentre eles é preso ou oprimido por causa do nome do seu Messias, todos providenciam para suas necessidades, e quando possível de ser liberto eles o libertam e se há alguém entre eles pobre e necessitado, jejuam dois ou três dias para suprirem-no com alimento de que precisa”.

“Eles não desviam a sua atenção das viúvas, e os órfãos eles libertam de quem os violenta”.


Justino, morreu em 165 d.C.:

Apologia, 1-2: Antes, nós nos comprazíamos na dissolução, agora, abraçamos apenas a moderação; antes, nos entregávamos às artes mágicas; agora, nos consagramos ao Deus bom e infinito, antes, amávamos, acima de tudo, o dinheiro e as rendas de nossos bens; agora, colocamos em comum o que possuímos e disso damos uma parte para todo aquele que está necessitado; antes, nós nos odiávamos e nos matávamos mutuamente e não compartilhávamos o lar com aqueles que não pertenciam à nossa raça e pela diferença de costumes; agora, depois da aparição de Cristo, vivemos todos juntos, rezamos por nossos inimigos e tratamos de persuadir os que nos aborrecem injustamente, a fim de que, vivendo conforme os belos conselhos de Cristo, tenham boas esperanças de alcançar conosco os mesmos bens que esperamos em Deus, soberano de todas as coisas.


Justino cita Is 1.16-20 como prática necessária dos cristãos:

“Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. Aprendei a fazer o bem; atendei à justiça, repreendei ao opressor; defendei o direito do órfão, pleiteai a causa das viúvas. Vinde, pois, e arrazoemos, diz o SENHOR; ainda que os vossos pecados sejam como a escarlata, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como o carmesim, se tornarão como a lã. Se quiserdes e me ouvirdes, comereis o melhor desta terra. Mas, se recusardes e fordes rebeldes, sereis devorados à espada; porque a boca do SENHOR o disse”.


Justino 67.1:

Nós, depois disso, (após terem sido batizados) recordamos constantemente para o futuro entre nós estas coisas; e os que possuímos bens socorremos todos os necessitados e sempre estamos unidos uns com os outros.


Justino 67.6:

Os que possuem bens e quiserem, cada qual segundo sua livre determinação, dão o que lhes parecer, sendo colocado à disposição do que preside o que foi recolhido. Ele por sua vez socorre órfãos e viúvas, os que por enfermidades ou outro qualquer motivo se encontram abandonados, os que se encontram em prisões, os forasteiros de passagem; em uma palavra, ele se torna provedor de quantos padecem necessidade.


Tradição Apostólica - Hipólito de Roma, século III:

42: Escolhidos os que receberão o batismo, sua vida será examinada: se viveram com dignidade enquanto catecúmenos, se honraram as viúvas, se visitaram os enfermos, se só praticaram boas ações. E, ao testemunharem sobre eles os que os tiverem apresentado, dizendo que assim agiram, ouçam o Evangelho.



62: O diácono – se o presbítero não estiver presente – dará, em caso de necessidade, o signum aos enfermos com solicitude. Depois de dar-lhes quanto é necessário e receber o que for distribuído, dará graças e aí comerão. Todos aqueles que recebem devem dar com desvelo: se alguém receber algo para levar a uma viúva, a um enfermo ou a alguém que se dedique à Igreja, leve-o no mesmo dia; se o não fizer, leve-o no dia seguinte, aumentando com algo de seu o que havia – por ter permanecido na sua casa o pão dos pobres.

Era serviço dos diáconos prover um enterro decente para as pessoas e visitar os doentes. A comunidade provia o sustento das pessoas idosas e tinha um trabalho para cuidar de doentes e pobres; as pessoas que se dedicavam a isto eram os diáconos e as viúvas designadas para este serviço que desta forma também tinham o seu próprio sustento e aos poucos, com o correr do tempo, daí surgiram as diaconisas. No segundo século uma orientação dizia que cada comunidade deveria empregar uma viúva para visitar as mulheres doentes, além de comunicar os problemas aos presbíteros. Muitos bispos eram ao mesmo tempo médicos com a tarefa de curar os doentes.

O ministério dos diáconos era difícil, principalmente nos tempos de perseguições, pois eram os mais expostos. Muitos deles se tornaram mártires. O fato de haver os diáconos não tirava a tarefa das demais pessoas da comunidade de também exercer estas funções.

Tertuliano pergunta sobre a situação de uma mulher cristã que está casada com um pagão: “Ele lhe permitirá ir rua por rua e penetrar em casas de estranhos e principalmente nos barracos dos mais pobres para visitar os irmãos?”

Sobre cristãos condenados ao trabalho nas minas Hipólito escreve: “O bispo de Roma Vitor possui uma lista de todos os cristãos condenados às minas na Sardenha e conseguiu de fato através das intercessões da concubina real Marcia libertá-los por Commodus”.

Tertuliano conta que ladrões núbios seqüestraram cristãos e a comunidade de Cartago fez uma coleta para pagamento do resgate de 100.000 sestércios e se declarou aberta a mais ajuda se necessário. Quando os godos raptaram cristãos na Capadócia em 255 d.C. a comunidade de Roma enviou contribuições para seu resgate.

O imperador Juliano escreve para Arsacius; “Os incrédulos galileus, alimentam além dos seus pobres ainda os nossos: os nossos necessitam de nossa ajuda”.

“A incredulidade (dos cristãos) foi mais promovida pela filantropia em relação aos estranhos e pela preocupação pelo enterro dos mortos”.

Os cristãos eram considerados ateus (incrédulos) pelas pessoas do Império, pois não criam nos deuses do império. Pois, na Antigüidade a cidade - polis - se fundava sobre a religião. Cada cidade tinha seu deus ou deusa. Ser contra este deus era ser contra a cidade, contra o Estado. Era impossível separar a política da religião. O ato religioso era ao mesmo tempo um ato cívico e vice-versa. O culto aos deuses dava a união e harmonia a toda a sociedade. Os romanos entendiam que deviam a sua prosperidade e vitórias, contra outros povos, aos deuses.

O crescimento do cristianismo foi considerado uma ameaça à religião romana, o que era o mesmo que uma ameaça política. Considerados ateus os cristãos não adoravam deuses romanos. O cristianismo foi considerado uma espécie de crime contra o império. Ser cristão era o mesmo que ser criminoso. Lembre mos das palavras de Paulo em Rm 12, 1-2: não vos conformeis com este século. Por isso de tempos em tempos havia perseguições oficiais contra os cristãos.

A igreja primitiva entre os anos de 64 e 313 conheceu 129 anos de perse guição e gozou de 120 anos de relativa tranqüilidade. Calcula-se o número de mártires no período em torno de 100 mil a 200 mil pessoas. Fora as pessoas que tiveram os seus bens confiscados, foram presas, torturadas e exiladas e condena da ao trabalho nas minas.

O Império perseguiu o cristianismo por ver nele uma ameaça. Por isso queimavam os livros sagrados, destruíam igrejas, proibiam a atividade e difusão, interditavam as reuniões e mesmo a freqüência aos cemitérios (que eram locais de reuniões). Os primeiros visados em quase todas as perseguições eram os líde res, os chefes das comunidades.

Ser cristão era crime. Assim, confessada a fé, a pessoa podia ser imediata mente julgada e sentenciada. Não havia necessidade de instrução, nem testemunhas, nem prazos. Ser cristão era crime sem direito a defesa. Muitas vezes para conseguir a apostasia - a negação da fé e sacrifício aos deuses - os magistrados determinavam que o réu fosse torturado. Só depois que ele se demonstrasse convicto - o processo podia durar anos - é que era lavrada a sen tença.

Várias eram as penas a que podiam ser condenados:

A pena de morte - crucificação, a queima na fogueira, a decapitação, os suplí cios até a morte, as feras do circo. Outra pena era o exílio ou o trabalho forçado nas minas.

A tortura tinha por finalidade forçar os cristãos a negarem a fé. Visava tam bém fazê-los delatar outros cristãos, denun ciar seus nomes e endereços. Era uma nor ma das comunidades primitivas: não largar em hipótese alguma os que fraquejavam nas torturas e negavam a fé, enquanto hou vesse possibilidade de uma recuperação.

O cristianismo foi considerado não apenas religião ilícita, mas associação ilícita (collegium illicitum). Todo aquele que formava uma associação não permitida ou fora da lei cometia um crime equiparado à lesa-majestade, para o qual não havia perdão.

O texto que condenou Cipriano, bispo de Cartago, à morte pela espada diz: “Durante muito tempo viveste sacrilegamente e juntaste contigo muita gente numa conspiração criminosa, constituindo-te em inimigo dos deuses romanos e de seus sagrados ritos, sem que os piedosos e sacratíssimos príncipes Valeriano e Galieno tenham conseguido fazer-te voltar à sua religião. Portanto, tendo sido provado que foste cabeça e líder de homens réus dos mais abonáveis crimes, servirás de exemplo para aqueles que juntastes para tua maldade, e com o teu sangue ficará sancionada a lei”. Outro exemplo exprime muito bem a maneira como os cristãos eram vistos: em setembro de 303 d.C. o imperador Dioclesiano promulgou anistia que abriu as portas das prisões a numerosos condenados. Ela não se estendeu, porém, aos cristãos. Eles não eram considerados presos comuns, mas rebeldes.

Por serem livres, os cristãos não temiam perder a liber dade exterior de locomoção, de vida in clusive. Havia algo que impressionava de modo todo especial os pagãos: era o desprezo dos cristãos pela morte. Havia uma consciência muito profunda nos cristãos do fu turo que está para vir: a esperança era a virtude vivida intensamente, não apenas individual, mas coletiva mente. Esperança no mundo futuro, no novo céu e na nova terra que já haviam iniciado com a ressurreição de Cristo. Os cristãos traziam em si esta certeza de vida nova inaugurada pelo Senhor ressuscitado. Apesar da obscuridade da fé, a esperança era neles a maior garantia de que no sofrimento e na morte o amor al cançava sua vitória definitiva sobre o ódio.

O regime legal em relação ao cristianismo nos dois pri meiros séculos, portanto, era este: a justiça podia sempre ser acionada contra os cristãos ou quando havia denúncias particulares. O que não era difícil de ocorrer em meio à hostilidade reinante.

Era, portanto um crime ser cristão. Mas um crime «sui generis». Pois aqueles que o cometiam não deviam ser pro curados; mas, como o simples fato de ser cristão infringia a lei, se alguém fosse acusado e confessasse, devia ser cas tigado. Porém não de modo absoluto, porque se renegasse a sua fé estava automaticamente absolvido: para isso bas tava uma palavra e alguns gestos.

Com Septímio Severo, em 202, iniciou-se um novo regi me, seguido por vários de seus sucessores: a autoridade pú blica assume, em ocasiões que variarão, a iniciativa de per seguições. A regra de Trajano - «os cristãos não devem ser procurados» - foi abandonada; a era das perseguições por editos (decretos) começava.

A Igreja sofreu, do início do século III ao inicio do sé culo IV, o choque de explosões bruscas e violentas, uma violência sempre crescente até chegar ao fracasso. Cada no vo fracasso marcava a importância do Império pagão con tra o cristianismo ascendente. Seguiam-se então períodos, às vezes longos, de uma paz que, de tempos em tempos, era quebrada pela aplicação do regime antigo, mas que ten dia a se firmar.

Em 202, Severo baixou um edito proibindo aos cristãos e aos judeus o proselitismo, isto é, a propagação de suas religiões. Foi o primeiro edito imperial direto contra a Igre ja. A motivação desta medida era a preocupação com o Império: os avanços da propaganda cristã (e judaica) alar mavam a autoridade romana, que via a ordem imperial ameaçada, na medida em que a religião tradicional estava sendo solapada.

Somente a partir de meados do século III é que se ini ciou o regime de perseguição, com editos cuidadosamente elaborados, para o extermínio sistemático do cristianismo.

Décio foi o primeiro imperador a decretar uma perseguição geral contra os cristãos. Apesar da curta duração (250-251) a perseguição atingiu uma intensidade e uma extensão nun ca dantes vista. O objetivo de Décio, assim como o de Se vero, foi o de reforçar a unidade romana em torno da reli gião. Daí o interesse em fazer mais apóstatas do que már tires. O edito determinava que todo cidadão do Império devia sacrificar aos deuses. Depois de ter sacrificado, o cidadão recebia um certificado (libellus) comprovando sua fidelidade à lei. De posse desta, o individuo estava desobri­gado. O certificado continha, além da identificação e data, os seguintes dizeres: “À comissão de sacrifícios... Sempre cumpri com os sacrifícios aos deuses, e agora, em vossa pre sença conforme ao mandado pelo edito, sacrifiquei, ofereci libações e tomei parte no banquete sagrado, e suplico-lhes que assim o certifiqueis”.

A perseguição foi meticulosamente organizada. As prisões ficaram cheias de cristãos. A primeira vitima foi o Papa Fabiano, martirizado a 20 de janeiro de 250. Os bispos fo ram especialmente atingidos, pois o edito visava em primeiro lugar os chefes das igrejas.

Houve casos inclusive em que os cristãos, em seguida à prisão do bispo, se apresentaram juntos ao governador e declararam a sua condição de cristãos, dispostos a sofrer as mesmas conseqüências que seu pastor.


As Comunidades Cristãs dos Primeiros Séculos – Eduardo Hoornert.

Alimentos são levados para viúvas necessitadas e órfãos, há caixa de ajuda mútua para casos de urgência. Em algumas comunidades há um serviço regular de alimentação e hospedagem para necessitados, viúvas e órfãos, uma caixa de ajuda mútua para casos de urgência. As pessoas oferecem donativos em gêneros alimentícios em dias de jejum.

Enterro de falecidos em geral é um serviço bem organizado e a comunidade comprava terrenos para enterrar os mortos.

Doentes recebem visitas regulares ou são recebidos em casa de cristãos até se recuperar.

Na hora de interrogatórios pelas autoridades os cristãos se dão mutuamente apoio moral. Há um serviço de visita aos presos e amparo psicológico para os que tentam suicídio na prisão.

Sobre Orígenes o Eusébio diz que: “Ele ficava junto com os mártires não apenas quando estavam na prisão e a sentença ainda não havia sido dada, mas também quando eram conduzidos para a execução, ele ia voluntariamente junto com os condenados expondo-se abertamente ao perigo”.

Registros oficiais sobre perseguições revelam a predominância das mulheres nas comunidades.

Paroikoi = estrangeiros (gente sem casa, sem terra, sem cidadania, diaristas). I Pe 1.1 diz: “Pedro, apóstolo de Jesus Cristo, aos eleitos que são forasteiros da Dispersão no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia” e em I Pe 2.11-12 diz: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação”.

Os estrangeiros estavam sujeitos a penas e castigos mais severos. Para qualquer coisa que o estrangeiro necessitava do Estado tinha que pagar. Eram explorados em tudo. Economicamente os estrangeiros eram meeiros, diaristas recebendo apenas um salário de subsistência de um dia. Não podiam ser donos de terra. Social e politicamente eram marginalizados.

Eram sempre suspeitos de inveja e de competição para com os “cidadãos”. Em I Pe 2.11-12 diz: “Amados, exorto-vos, como peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões carnais, que fazem guerra contra a alma, mantendo exemplar o vosso procedimento no meio dos gentios, para que, naquilo que falam contra vós outros como de malfeitores, observando-vos em vossas boas obras, glorifiquem a Deus no dia da visitação”. Este é o projeto: criar a igualdade em todos os níveis. A prática da comunidade estava construindo uma nova sociedade e questionando profundamente os valores da sociedade escravista romana.

A palavra grega que os denominava era “paroikoi” que significava “estrangeiros residentes”, donde vem a palavra “paroquiano”. O direito que tinham era realmente apenas o direito de pagar impostos e de cumprir a lei do Estado.

Esses estrangeiros da Diáspora, gente pobre, também organizaram sua assembléia (eklesia). Ao contrário da eklesia da cidade, e que só participam os proprietários donos de escravos ou ricos artesãos e comerciantes (At 19) na assembléia cristã participam todos os cristãos no “caminho”, todos os que se juntaram à prática de Cristo. Era uma assembléia alternativa à da cidade, onde todos podiam entrar, sem discriminação. Em Efésios 2.11-22 mostra como nessa assembléia cristã os marginalizados do mundo também podiam ser cidadãos. Era uma forma de resistência dos pobres contra a organização oficial. Eram as comunidades cristãs. Essas assembléias, pois, não eram só espirituais: tinham conotação política. Apresentavam uma alternativa de sociedade que dava “status” aos marginalizados do sistema romano.


Os cristãos promoviam o resgate de presos e escravos que são comprados para serem libertados.

Um relato do ano 100 feito por Clemente romano: “Conhecemos muitos dentre nós que se entregam às cadeias (da escravidão) para libertar outros. Não poucos se entregam como escravos e, com o preço da venda, dão alimento a outros”. Parece que isto não foram ações de comunidades, mas de ações individuais de pessoas.

Marcião quando ingressou em 139 d.C. na comunidade de Roma lhe doou 200.000 sestércios, os quais lhe foram devolvidos quando foi expulso. 4 sestércios equivalem a 1 denário, que é considerado o salário de um diarista; isto equivale a 136,9 anos de trabalho de um diarista.

Tertuliano diz: “A preocupação pelos desamparados, que nós praticamos, nossa atividade de amor, se transformou em uma característica para nós entre nossos oponentes”.

O imperador Juliano quer corrigir a política do seu antecessor Constantino, protetor do cristianismo, recomenda que as autoridades locais criem centros de assistência social e hospedagem como um dique contra a avassaladora penetração do cristianismo em meios populares.

Nas épocas de epidemias, diz Eusébio, os cristãos carregavam para dentro de suas casas os doentes deixados nas ruas pelo medo dos familiares de contaminação. (Em 305 d.C. e 313 d.C. houve epidemia seguida de fome generalizada) Eusébio escreve: “Os fatos falam por si ... Todos exaltam o Deus dos cristãos e admitem que eles são os únicos verdadeiramente religiosos e piedosos.”

O bispo Dionisius escreve sobre o período da peste em Alexandria em 259 d.C.: “A maioria de nossos irmãos não poupavam, por grande amor ao próximo, a sua própria pessoa e permaneciam unidos e firmes. Sem medo visitavam os doentes, os serviam com muita dedicação, cuidavam deles por amor à Cristo e morriam alegres com eles. Sim, muitos morriam após terem curado os outros e terem transplantado a sua morte para si mesmo. Desta forma morreram os mais nobres de nossos irmãos, alguns presbíteros, diáconos e leigos muito considerados. Entre os pagãos acontecia exatamente o contrário. Eles expulsavam de si os que começavam a ficar doentes, fugiam do caminho mais caro e atiravam os moribundos na rua e deixavam os mortos sem enterro.”


Eusébio escreve sobre a grande peste do tempo do imperador Maximinus Daza:

“Eles se revelavam aos pagãos em plena luz do dia; pois os cristãos eram os únicos que em meio a tão grande sofrimento mostravam o seu sentimento e seu amor às pessoas através de seus atos. Alguns trabalhavam dia após dia com o cuidado e com o enterro dos cadáveres (havia inúmeros pelos quais ninguém mais se importava), outros reuniam pela cidade afora os que estavam sofrendo por causa da fome num lugar só e distribuíam entre todos pão. Quando isto foi divulgado, se glorificava o Deus dos cristãos e reconheciam que somente estes eram os verdadeiros religiosos e piedosos porque eles mostraram isto pelos seus atos.”

Outro tema querido era a hospitalidade por ser o cristianismo uma religião de peregrinos e era necessário zelar pelo contato com outras comunidades, além de haver muitos cristãos presos que eram arrastados pelo império afora, além dos exilados que eram irmãos sofredores que procuravam proteção e consolo. O pagão Caecilius falando dos cristãos disse: “Eles se reconhecem em sinais e símbolos misteriosos e se amam mutuamente mesmo antes de se conhecer”.

O cristianismo cresce pela propaganda dos beneficiados e não pelo trabalho dos bispos ou presbíteros; a propaganda de boca em boca pelos beneficiados é que propaga a fé cristã.

A igreja sempre faz política

Corria o ano de Nosso Senhor de 1987, exatamente no dia de Sexta-feira Santa, à tarde, no assentamento em Itaiópolis, SC. Neste assentamento, viviam provisoriamente, sem terra das ocupações de 25 de maio de 1985, ocorridos em Santa Catarina, dos acampamentos provisórios de Bandeirantes, São Miguel do Oeste e de Xanxerê. Tínhamos uma equipe ecumênica formada pelas irmãs franciscanas de Rio do Sul e por mim que fazia o trabalho bíblico nas ocupações, acampamentos e assentamentos do MST da região. Estávamos estudando a história do povo de Deus no AT para clarear a sua luta por terra e justiça. Interrompemos o estudo para participar da última missa celebrada por um padre polonês, conterrâneo do papa da época e tão reacionário como este. Esta era sua última missa no assentamento, pois os sem terra haviam negociado com o bispo a vinda de outro padre, pois este era muito reacionário e não compreendia as lutas deste povo.
Durante a pregação de um texto que falava da Sexta-feira Santa o padre enveredou para uma pregação de 25 minutos falando contra o socialismo, numa última tentativa de mudar o pensar deste povo provisoriamente assentado numa região muito bonita de mata atlântica ainda original das nascentes do rio Itajaí. No meio do sermão senti que já ouvira esta prosa antes, era algo conhecido, mas não sabia de onde já ouvira esta fala. De repente caiu a ficha: era a mesma pregação que eu ouvira 20 anos antes, inúmeras vezes, na igreja de Panambi da boca do Pastor Braun. Era uma pregação política clara e explícita, de direita, é claro. O Pastor Braun pregava inúmeras vezes contra o socialismo em suas prédicas e nunca foi ameaçado de ser enxotado da paróquia por falar e fazer abertamente política na igreja, do púlpito. Pois, fazer política de direita no culto não é fazer política; fazer política contra a classe trabalhadora organizada não é fazer política. É o certo que tem que ser feito! É assim que a direita pensa.
Faz política na igreja e no culto apenas quem interpreta o Evangelho do Reino de Deus dizendo que este está apontando para a construção de uma nova sociedade não capitalista. Faz política na igreja apenas quem fala de Reforma Agrária e quem diz que o capitalismo é coisa do diabo, pois é o que a Bíblia chama de mundo, século. Quando a direita faz política abertamente no culto então isto não é fazer política, só faz política no culto quem defende a classe trabalhadora explorada e suas organizações. É assim que a direita pensa.
Está na hora de mostrar esta demagogia hipócrita que há dentro da igreja cristã.
A direita, no Brasil, sempre fez política na igreja, desde 1500. Vejamos: O jesuíta Nóbrega em 1558 legitimando a exploração da mão de obra escrava indígena escreveu ao rei de Portugal:
“... Se S.A. os quer ver todos convertidos, mande-os sujeitar e deve fazer estender aos cristãos por a terra dentro e repartir-lhes os serviços dos índios àqueles que os ajudarem a conquistar e senhoriar como se faz em outras partes de terras novas ... Sujeitando-se o gentio, cessarão muitas maneiras de haver escravos mal havidos e muitos escrúpulos, porque terão os homens escravos legítimos, tomados em guerra justa e terão serviços de avassalagem dos índios e a terra se povoará e Nosso Senhor ganhará muitas almas e S.A. terá muita renda nesta terra porque haverá muitas criações e muitos engenhos, já que não haja muito ouro e prata”.
O jesuíta Anchieta constata, trinta anos depois, em 1587 o resultado desta política real e eclesial:
“... nunca ninguém cuidou que tanta gente se gastasse nunca. Vão ver agora os engenhos e fazendas da Bahia, achá-los-ão cheios de negros da Guiné e muito poucos da terra e se perguntarem por tanta gente, dirão que morreu”.
Esta é a política que a direita da igreja sempre fez historicamente, legitimou o massacre, a escravidão e hoje a superexploração da classe trabalhadora; legitimou o sistema econômico capitalista que é explorador e predador por natureza. Em 64 a igreja organizou a “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” que legitimou o Golpe militar de 64. Isto para ela não era fazer política. Estes dias uma senhora da diretoria da comunidade me disse que um outro senhor da diretoria havia dito que o pastor não pode ter partido político. Ela respondeu que o pastor é cidadão brasileiro e tem título de eleitor, portanto tem o direito de ter partido político. Qual o medo? O medo é que o pastor tenha entendido bem o Evangelho do Reino de Deus e se coloque como Deus, em Jesus Cristo, ao lado dos oprimidos e não ao lado dos opressores. O pastor deve ser “neutro”. Sabemos que neutralidade não existe. A pretensa “neutralidade” da igreja sempre foi se colocando do lado da direita opressora que quer a todo custo impedira Reforma Agrária, impedir um salário mínimo justo conforme a Constituição que segundo o DIEESE deveria ser de R$ 2.100,00. A pretensa “neutralidade da igreja” apóia este modelo agrícola suicida que jogou em 2009 a estonteante quantia de 1 milhão de toneladas de agrotóxicos nas lavouras brasileiras. Isto que a propaganda dos transgênicos diz que agora se diminuiu a aplicação de venenos, mas a realidade mostra que ela exatamente aumentou estrondosamente com os trangênicos. A metade deste milhão de toneladas de veneno foi aplicada nas lavouras de soja.
D. Paulo Evaristo Arns disse uma vez: “Quando nos anos 50 o bispo ia almoçar ou jantar com o governador, então isto não era visto como fazer política. Agora, quando o bispo vai visitar uma favela se olha até se as suas meias são vermelhas, pois isto é visto como fazer política”.
O que a direita consegue fazer é dar a direção da pregação na igreja e nós não nos damos conta disto. Com medo da gritaria que a direita faz quando se fala na defesa dos empobrecidos a igreja não fala mais destes e nem os defende contra a exploração capitalista. Assim, a direita dá a linha teológica da igreja, na contramão da proposta do Evangelho do Reino de Deus que aponta para uma nova sociedade não capitalista. É só olhar os jornais da IECLB e dos sínodos onde vemos que os temas relacionados ao sofrimento e à exploração do povo não estão presentes em suas páginas: não se fala da Reforma Agrária, não se fala dos atingidos pelas barragens, não se fala dos povos indígenas, nem de pequenos agricultores atingidos pelas lutas de reconquista das terras indígenas, não se fala dos sem teto, nem dos catadores de papel reciclado que vivem na informalidade, não se fala de nenhum tema que é considerado polêmico e subversivo pela direita, pois ela pode ficar zangada e vai começar a gritar que a igreja está fazendo política. Desde sempre (desde 313 d.C.) só se prega na igreja o que o grupo que detém o poder econômico permite (com as suas devidas exceções, o que confirma a regra) e a igreja faz o papel de Judas: trai o Evangelho e o próprio Cristo crucificado e ressurreto.
Nesta eleição presidencial se vê o peso da direita que grita na defesa de suas bandeiras dizendo que a igreja defende acima de tudo a vida. Isto é uma mentira das mais cabeludas. A igreja historicamente defendeu a Conquista nas Américas e a escravidão, indígena e negra, com um saldo de 70 milhões de mortos. Hitler é um mero aprendiz diante deste massacre abençoado pela igreja (que evidentemente não é a Igreja de Jesus Cristo). A igreja defendeu as ditaduras militares da América Latina com a tortura, morte e desaparecimento de milhares de pessoas: no Brasil foram 436 mortos sob tortura e fuzilamento por agentes do Estado; na Argentina: 3 mil mortos e 30 mil desaparecidos, na Guatemala 200 mil mortos, na Nicarágua 50 mil mortos, e assim vai. Na Argentina um padre foi condenado à prisão perpétua porque participava do Vôo da Morte, nas quartas feiras, onde dava a extrema unção aos presos políticos antes de serem jogados algemados, nus e dopados no mar a 200 km da costa.
A mesma prática mortífera a igreja teve na África, Ásia e Oceania apoiando o colonialismo. Legitimando o colonialismo que massacrava a população nativa quando não de vergava sob seu jugo. O racismo foi legitimado pela leitura bíblica para legitimar a opressão capitalista colonialista. Tudo em nome de Deus! Tudo em defesa da vida! Haja hipocrisia, são um bando de fariseus e demagogos!
A tal “defesa intransigente da vida” propalada pela direita eclesial nestas eleições é na verdade a defesa do capital e a defesa da eterna subjugação da classe trabalhadora. É a defesa do projeto imperialista estadunidense sobre o Brasil. A maioria do povo “evangélico” e católico entra nessa como inocente útil, pois não consegue discernir o Espírito da Época. A direita da igreja cristã sempre fez política na igreja defendendo a opressão e a subjugação do povo e grita acusando a esquerda quando esta defende os interesses do povo explorado e oprimido pelo capital internacional dizendo que a esquerda está fazendo política na igreja e que isto é proibido, pois cria conflito dentro da igreja. Nós não criamos o conflito dentro da igreja, apenas mostramos o conflito de classes que há na sociedade e que este é conta a vontade de Deus. Isto lembra as acusações do profeta Am 8.4-6:
Escutem, vocês que maltratam os necessitados e exploram os humildes aqui neste país. Vocês dizem: “Quem dera que a Festa da Lua Nova já tivesse terminado para que pudéssemos voltar a vender os cereais! Como seria bom se o sábado já tivesse passado! Aí começaríamos a vender trigo de novo, cobrando preços bem altos, usando pesos e medidas falsos e vendendo trigo que não presta. Os pobres não terão dinheiro para pagar as suas dívidas, nem mesmo os que tomaram dinheiro emprestado para comprar um par de sandálias. Assim eles se venderão a nós e serão nossos escravos!”
Lembra, também, o próprio Jesus que foi acusado, preso, torturado e crucificado por fazer política contra o Templo e contra o Império Romano, como diz em Lc 23.2,3: “Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele o Cristo, o Rei. Ele alvoroça o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui”.
Usa-se nestas eleições a bandeira da “defesa intransigente da vida” para legitimar o sistema capitalista sob hegemonia estadunidense. Usa-se esta conversa da defesa da vida para viabilizar um capitalismo dependente e entreguista. Isto que o outro projeto em questão também é capitalista neodesenvolvimentista, mas com viés nacionalista.
O que precisamos denunciar é esta hipocrisia farisaica da direita em dizer que ela não faz política na igreja. É só alguém dizer algo que a direita não concorda que começa a gritaria: “Estão fazendo política na igreja!” Bando de fariseus! Assumam o que fazem! O pior de tudo é que no Brasil ninguém é de direita, defendem as bandeiras da direita e dizem que não são de direita, a direita se ofende se é chamada de direita, assim como todos são a favor da Reforma Agrária (desde que ninguém a faça!). Hipocrisia, demagogia e farisaísmo!
Por causa desta postura da igreja ao lado dos capitalistas os lutadores por uma nova sociedade acabaram construindo uma sociedade do terror stalinista e maoísta que atrapalhou o avanço da construção de uma nova sociedade pela classe trabalhadora por no mínimo duzentos anos. Aprendemos, ao menos, como não se faz, à custa de milhões de mortos. A nova sociedade tem que ser democrática (inclusive democratizar a economia e não apenas o processo eleitoral, pois o capitalismo não permite que se democratize a economia, uma economia onde a classe trabalhadora tem acesso às riquezas geradas por ela) e tem que respeitar a criação de Deus. No capitalismo se fala em democracia burguesa representativa em que se elege de vez em quando alguém para gerenciar as crises do sistema e para manter o sistema de opressão de classes, mas não se democratiza as riquezas geradas pela classe trabalhadora, portanto no capitalismo não existe democracia. O que os empobrecidos querem é acabar com as classes sociais que são a origem da opressão política, econômica, cultural, social e ideológica. A função do Estado no capitalismo é garantir que a exploração sobre a classe trabalhadora se perpetue. Olhemos o exemplo da crise na Grécia, no começa do ano, em que o Estado custeou as dívidas com o congelamento das aposentadorias e com a redução dos salários dos trabalhadores/as. Quer dizer: a classe trabalhadora vai pagar uma dívida que ela não fez e uma crise que ela não gerou.
Temos que elaborar um novo projeto de sociedade a partir da fé em Jesus Cristo que propõe o Reino de Deus como sua mensagem central; nos Evangelhos vemos a proposta concreta deste Reino. De acordo com o boliviano David Choquehuanca, o Bem-Viver é um processo que está apenas começando e que pouco a pouco irá se massificando: “Para os que pertencem à cultura da vida, o mais importante não é o dinheiro nem o ouro, nem o ser humano, porque ele está em último lugar. O mais importante são os rios, o ar, as montanhas, as estrelas, as formigas, as borboletas (...) O ser humano está em último lugar, para nós o mais importante é a vida”. Fernando Huanacuni, uma das principais referências intelectuais dos aymara na Bolívia, sustenta que a base do processo de mudança no país está na retomada de culturas originárias. “Quando falamos de comunidade, não falamos só de humanos. Comunidade é tudo: animais, plantas, pedras”, diz ele.
O indígena não critica apenas o utilitarismo do capitalismo, mas critica também o utilitarismo do marxismo ortodoxo: “O marxista tem somente um pensamento material. Nós preferimos não explorar porque é importante para o equilíbrio da vida. Mas o marxista não pensa assim. Para mudar o sentido de um rio, o marxista vai colocar tratores e pronto. O indígena vai dizer ‘não, calma, espera, vamos pedir permissão para os nossos ancestrais e vejamos se é bom’. O marxista vai dizer ‘claro que é bom, aqui vamos produzir’. Ele não vê importância no espiritual, não o sente. Por isso ainda não está entendendo”. O “nosso modelo não é comunista, mas comunitário''. O Bem-Viver nos convida a “sair da dicotomia entre ser humano e natureza”. Ou seja: “despertar para uma consciência de que somos filhos da Mãe Terra, da Pachamama, e tomar consciência de que somos parte dela, de que dela viemos e com ela nos complementamos”. É um estilo de vida que nos ensina “não a viver melhor, mas sim a viver bem com menos”.
A principal revelação do oitavo Relatório Planeta Vivo 2010: em 2007 a sobrecarga imposta pelas atividades humanas foi 50% maior que a capacidade regenerativa do planeta. Até 2030 a humanidade precisaria da biocapacidade de dois planetas Terra para poder absorver as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e manter o consumo de recursos naturais. A biodiversidade global sofreu uma queda de 30% em menos de quarenta anos. Chegam a 71 os países com déficit em recursos hídricos suficiente para comprometer a saúde de seus ecossistemas. Espécies são extintas num ritmo mil vezes maior do que o natural, minando a estabilidade de ecossistemas ao redor do planeta, causando prejuízos avaliados em até US$ 5 trilhões anuais e ameaçando nossa própria existência. Mais de um quinto das espécies de plantas do mundo corre o risco de se extinguir, uma tendência com efeitos potencialmente catastróficos para a vida na Terra. Isto nos mostra que o capitalismo é insano.
A crise civilizacional.
Essa crise ambiental não veio do nada. Não foi desastre natural, foi causada pelas pessoas, diz Nicholas Stern - responsável pelo Relatório Stern - extenso estudo sobre os efeitos na economia mundial das alterações climáticas nos próximos 50 anos. Nosso consumo dos recursos naturais já excede em 30% a capacidade de o planeta se regenerar. Com outras palavras, a espécie humana já necessita hoje de 1,3 planetas para satisfazer suas necessidades e desejos de consumo. A "pegada ecológica" - indicador da pressão exercida sobre o ambiente está muito forte. A média é 2,2 hectares por pessoa, mas o espaço disponível para regeneração (biocapacidade) é de apenas 1,8 hectare. Avançamos o sinal. Há quem diga que o estrago já foi feito e ponto de retorno já passou. No dia 21 de agosto de 2010, os habitantes do Planeta Terra já esgotaram todos os recursos que o planeta lhes proporciona no período de um ano, passando a viver dos créditos relativos ao próximo ano, segundo cálculos efetuados pela ONG Global Footprint Network (GFN). “Em 1980, a nossa “pegada ecológica” foi equivalente a tamanho da Terra. Hoje, é de 50 % a mais, insiste a ONG.
Desde 1970, as espécies de animais vertebrados sofreram redução de 30%, segundo o último relatório da ONU. Das 5.490 espécies de mamíferos, 79 foram extintas e mais de 500 estão sob risco. Além disso, cerca de 70% dos recifes de coral já foram destruídos ou podem desaparecer, afetando o sustento de centenas de milhões de pessoas. O processo de degradação é dramático. O mundo nunca viu um ritmo tão acelerado de extinções, mas os debates não serão simples e os governantes que são os representantes do capital não tomam decisões para brecar com a catástrofe ambiental.
A mudança climática ameaça a vida da maneira como foi vivida durante anos na região de Cuzco. “Antes sabíamos quando semear porque começavam as chuvas. Antes havia três mananciais de onde tirávamos a água para regar. Eles já não existem mais, mas há novas pragas e as batatinhas estragam”. O Peru e o Equador são os dois países da América Latina que têm geleiras tropicais, superfícies geladas entre o Trópico de Câncer e o de Capricórnio e que, segundo os estudos científicos, estão desaparecendo.
Na edição recém-apresentada, a NOAA revela os resultados de um estudo que abrange 150 anos — de 1850 a 2000 — e que examina, além das próprias temperaturas, outros indicativos de mudança climática. No que diz respeito às medições dos termômetros, os resultados são claros. “Cada uma das três últimas décadas foi bem mais quente que a anterior. Os anos 1980 foram, à época, os mais quentes de que se tinha registro. No decênio seguinte, todos os anos foram mais quentes que a média dos 80. Os anos 2000 são ainda mais quentes”, diz uma nota à imprensa publicada no site da NOAA.
As evidências externas também são convincentes. O relatório estudou um conjunto de dez fenômenos. Constatou que, em todo o mundo, estão se elevando: a) a temperatura do ar nos continente; b) a temperatura da superfície do mar; c) a do ar acima dos oceanos; d) o nível oceânico; e) o calor oceânico; f) a umidade do ar; g) a temperatura da troposfera, a camada da atmosfera que se estende desde a superfície do planeta até 7 a 17 km de altitude. E estão caindo: a) o volume do gelo ártico; b) a área das geleiras; c) a cobertura de neve no hemisfério Norte, durante a primavera.
Nele, nota-se que, vistas na média, as mudanças de temperatura são sutis: a elevação é de cerca de 0,6ºC, nos últimos 50 anos. “Pode parecer pouco, mas já alterou nosso planeta”. “As geleiras e o gelo oceânico estão se derretendo, as chuvas pesadas intensificam-se, as ondas de calor tornam-se mais comuns”.
O clima da Terra está esquentando e a maioria dos cultivos é sensível ao calor e à falta de água. A produção de arroz caiu de 10% a 20% nos últimos 25 anos na Tailândia, Índia, China e Vietnã, devido ao aquecimento global, segundo nova pesquisa da norte-americana Universidade da Califórnia. Dados coletados em 227 fazendas bem irrigadas mostram uma importante redução na produção devido às altas temperaturas registradas durante a noite, segundo os pesquisadores. Se deixarmos as coisas tal como estão hoje, o planeta vai perder entre 5% e 20% do PIB mundial. Estamos falando, portanto, de perdas que podem chegar a cerca de 7 trilhões de dólares.
Tanto o modelo stalinista, do capitalismo de estado, como o modelo capitalista imperialista depredaram a natureza e aterrorizaram e massacraram o ser humano. Nosso desafio é participar da construção desta nova sociedade não capitalista que o Reino de Deus propõe que valoriza toda a criação de Deus e entende o ser humano como parte integrante da criação.
Alguma coisa tem que ser feita e isto não se está discutindo nesta campanha eleitoral, talvez por causa da pressão demagógica, farisaica e moralista da direita das igrejas cristãs que só quer discutir aborto e liberdade religiosa; como se historicamente a direita estivesse preocupado com a vida das pessoas: os pobres, espoliados secularmente pela elite capitalista, deste país que o digam. Isto é apenas cortina de fumaça para esconder os verdadeiros interesses do capital internacional e do império estadunidense que vê a sua hegemonia ameaçada nas Américas e nós sabemos do que este império é capaz, a história nos conta isto de forma muito clara. Evitemos e denunciemos esta armadilha da direita.

O longo caminho do aprendizado!

O que já aprendemos nestes últimos 45 anos e como usar isto nas lutas do povo e na igreja?

O que aprendemos dos anos 60?
Aprendemos que é necessário o estudo e a discussão entre estudantes e trabalhadores/as na igreja e fora dela que cria a base teórica para o processo revolucionário.
Aprendemos que o estudo teórico é fundamental para a organização do povo empobrecido e seus aliados.
Aprendemos que a união entre estudantes, trabalhadores urbanos e camponeses, cristãos e não cristãos é fundamental para a junção de forças para a construção da nova sociedade.
Em 64 aprendemos que a burguesia tem muito medo, por isso construiu o golpe militar a serviço do capital (internacional).
Aprendemos que o capital mata no processo produtivo quando é gerado o lucro e mata quando este lucro está ameaçado, acima de tudo mata em nome de Deus.
Aprendemos também que a burguesia tem muito medo do povo pobre organizado, por isso assassina líderes camponeses e urbanos. Por que mata líderes? Para impedir o processo de libertação ou no mínimo atrasar o processo, pois um novo líder leva anos para se formar na luta e na teoria. Não é só com líderes que se faz a mudança, mas eles são cruciais.
Aprendemos que a burguesia tem mais medo do que nós. Por quê? Porque ela tem culpa no cartório; quem não deve não teme, diz o povo.
Aprendemos que não se enfrenta o inimigo em seu campo, quando a esquerda entrou na luta armada. Nós sabemos organizar o povo e fazer discursos e eles (o exército a serviço da burguesia) sabem atirar.
Aprendemos com a guerrilha urbana e rural que não se faz a revolução sem o povo organizado. O Che foi denunciado para o exército por um camponês pobre e alienado, este que ele veio libertar.
Aprendemos que imperialismo não rima com democracia. Imperialismo rima com sangue derramado e com tortura.
Aprendemos que o imperialismo se nutre da sanha capitalista que está em todos nós.
Aprendemos que não dá para confiar na burguesia com camiseta e conversa de esquerda, como foi o caso do Jango.
Aprendemos que a esquerda é ingênua, pois em 64 acreditou na organização da resistência do Jango, que não houve.
Aprendemos que a igreja é uma aliada fundamental do capital.
Aprendemos que a igreja para defender o capital trai a Jesus Cristo por muito menos que trinta moedas.
Aprendemos que a repressão vem de todos os lados quando o capital está sendo ameaçado, também da igreja.
Aprendemos que o aparelho repressivo do estado está onipresente na vida do povo e se infiltra na direção da igreja. Tivemos um informante do SNI no Conselho Diretor da Igreja, membro da antiga RE III.
Aprendemos a avançar com a educação popular.
Aprendemos com a música de protesto a sonhar com a liberdade, a justiça, a democracia e o socialismo.

Aprendemos...

O que aprendemos dos anos 70?
Aprendemos que a igreja leva anos para acordar. A Igreja Católica Romana começou a acordar com o documento: ‘Ouvi o clamor do meu povo’, e a IECLB começou a acordar com ‘O Manifesto de Curitiba’. Ao menos uma parte dela acordou em 1970.
Aprendemos que a Bíblia é fundamental no processo de construção da nova sociedade.
Aprendemos a ler a Bíblia a partir da voz do povo e com a voz da teoria da leitura da realidade de Marx.
Aprendemos a escutar a voz do povo.
Aprendemos que a igreja é um bom espaço para o povo se organizar quando não há espaços na sociedade.
Aprendemos com o ressurgimento do movimento sindical do final dos anos 70.
Aprendemos com os jornais nanicos, mesmo falindo economicamente.
Aprendemos com a música, poesia e literatura latino-americana.
Aprendemos a fazer material para estudo e leitura com mimeógrafo a álcool e a tinta.
Aprendemos a denunciar a tortura e lutar pela anistia e lutar pela volta dos exilados políticos.
Aprendemos com o movimento indígena que surgia em São Miguel das Missões, RS, que acabou formando a UNI.
Aprendemos com a Teologia da Libertação que nos abriu os olhos a partir da realidade de opressão em que a classe trabalhadora vive.
Aprendemos que o método de leitura da realidade nos ajuda na leitura da Bíblia.

Aprendemos...

O que aprendemos dos anos 80?
Aprendemos que quando parte da classe média no período da ditadura que estava na guerrilha urbana era torturada nos importávamos e no comovíamos com isto e quando a classe trabalhadora continuou a ser torturada após a ditadura nos esquecemos de denunciar isto.
Aprendemos que o povo tem que se organizar na base, não basta ter somente uma vanguarda.
Aprendemos a olhar e participar da organização da classe trabalhadora no movimento sindical camponês e urbano e no movimento popular na luta camponesa das mulheres e da terra.
Aprendemos com o MAB, o MST e o MMC que surgiam.
Aprendemos que nosso inimigo nº 1 não é a ditadura, mas o capitalismo, que a ditadura é apenas uma faceta momentânea do capital.
Aprendemos com o Cebi e o Cedi a ler a Bíblia usando o método de leitura marxista da realidade.
Aprendemos que com o apoio da igreja o movimento popular, sindical e a luta partidária avançam.
Aprendemos com as pastorais e as CEBs da Igreja Católica Romana.
Aprendemos que saber é poder.
Aprendemos a fortalecer o partido nas lutas do povo e nos grupos de base do partido.
Aprendemos a participar do movimento popular que se fortalecia.
Aprendemos estudando e lutando na igreja, no movimento popular, sindical e no partido.

Aprendemos...

O que aprendemos dos anos 90?
Aprendemos que o neoliberalismo é devastador em todas as áreas.
Aprendemos que o capitalismo é inteligente e eficaz, pois após a queda do Muro começou imediatamente através do estado repassar a infra-estrutura da economia (empresas estatais) para as mãos de capitalistas privados sob controle internacional. Com isto tirou a possibilidade no futuro da classe trabalhadora gerenciar o estado sob seu controle, pois este não decide mais nada de importante.
Aprendemos que com a queda do Muro de Berlim caíram muitos outros muros, somente o muro invisível do capital não caiu.
Aprendemos que o muro que os USA construiu na divisa entre o México e os USA que impossibilita a entrada dos pobres (porque os ricos entram via aeroporto) não é denominado de o ‘Muro da Vergonha’ pela imprensa.
Aprendemos que para as mercadorias e o capital não tem fronteiras, elas existem apenas para as pessoas da classe trabalhadora. Esta é a liberdade no capitalismo: um mundo sem fronteiras para o capital. Liberdade total para o capital, apenas.
Aprendemos que o Muro conseguia esconder muito falso engajamento, muita falsa TdL, muito falso socialismo e com sua queda caíram as máscaras que mostraram que a igreja retrocedeu no tempo.
Aprendemos com a queda do Muro que toda ditadura é ditadura.
Aprendemos com a queda do Muro que construir o socialismo é mais difícil do que imaginávamos.
Aprendemos com a queda do Muro que a corrupção faz parte do ser humano.
Aprendemos com a queda do Muro que muitos que se diziam socialistas e revolucionários não o eram. Como se fez este milagre em que de noite para o dia se transformou comunistas em capitalistas no leste europeu?
Aprendemos que pouca teoria revolucionária e pouca teologia facilitam o retrocesso da muitas pessoas em sua prática.
Aprendemos a desaprender tudo o que aprendemos nos anos 80 e que é fácil se apelegar.
Aprendemos com um sindicalismo camponês que se apelegou, apesar de ter surgido de oposições sindicais da CUT e motivado pela igreja, a construir o MPA.
Aprendemos a entrar em áreas novas como as cooperativas de pequenos agricultores (desvinculadas das cootri), na agroindústria e no sistema bancário alternativo via Cresol e Crehnor.
Aprendemos com o MMC como se conquista muitos direitos da mulher camponesa.
Aprendemos que na igreja perdemos tempo na discussão da estrutura enquanto o movimento popular, apesar de lento, progredia.
Aprendemos que a reestruturação da IECLB esta a serviço da direita.
Aprendemos que se fez a reestruturação da IECLB para não se mexer no trabalho de base e não faze-lo a partir das necessidades do povo.
Aprendemos com o surgimento das ocupações urbanas e dos movimentos de desempregados.
Aprendemos com a Frente Sandinista como as lideranças podem-se tornar corruptas e trair o povo, mas também aprendemos com a Frente Zapatista como resistir a partir da identidade étnica e cultural.
Aprendemos com Nelson Mandela; ontem preso (durante 30 anos) e hoje (recentemente) presidente de um país que usava o racismo como forma de perpetuar e reproduzir o capitalismo, com o apoio irrestrito dos USA.

Aprendemos...

O que aprendemos dos anos 2000?
Aprendemos que temos que começar novamente a sonhar com a nova sociedade como nos anos anteriores aos 90.
Aprendemos com a crise da TdL que temos que incluir na nossa reflexão/ação a ecologia, gênero, etnia, cultura.
Aprendemos com a Via Campesina à qual o movimento camponês do Brasil começou a se integrar.
Aprendemos com o FSM.
Aprendemos como as multinacionais das sementes procuram se perpetuar via engenharia genética e como o povo camponês é seduzido pela tecnologia.
Aprendemos que a direita (Bush e Cia. e Bin Laden e Cia.) usa a religião, a guerra, o terrorismo de estado, a tortura e, principalmente, a mentira e a contra-informação para perpetuar o capitalismo.
Aprendemos que o estado capitalista é terrorista.
Aprendemos que a guerra é apenas mais um instrumento do capitalismo ao lado da ditadura e da tortura.
Aprendemos que a miséria e a exploração geram o fundamentalismo religioso que só serve para aprofundar o capitalismo.
Aprendemos com os países (Argentina e Chile) que estão processando seus ditadores, assassinos e torturadores, que a impunidade pode acabar e que a história dá muitas voltas. Lembremos o que diz no Hino Nacional do Uruguai: ditadores tremei!
Aprendemos que tudo muda e que aqui nesta Terra nada é eterno, nem o capitalismo.
Aprendemos que temos que ler mais o livro do Apocalipse, que é o grande livro da esperança.
Aprendemos que a salvação não é individual, mas coletiva e que ela já começou. A salvação é para todo o povo de Deus.
Aprendemos, também, que a salvação é por graça e fé e vem de fora de nós, portanto nada e nenhum sistema econômico opressor podem impedir a salvação e nem o reino de Deus.
Aprendemos que o PT tirou como política não oficial a não organização de grupos de base, a saída do movimento social em suas lutas, a decisão de não fazer formação de militantes e de dirigentes e de se fortalecer somente no processo eleitoral.
Aprendemos que podemos ganhar uma eleição e aprendemos que temos muito que aprender sobre como construir o poder popular, se é que queremos.
Aprendemos que não há mecanismos reais de participação e de controle popular sobre as instituições do estado e sobre o próprio estado.
Aprendemos que a democracia representativa é muito limitada e não possibilita a participação popular concreta nos rumos do estado.
Aprendemos que temos que discutir como deve ser a nossa democracia e começar a exercitar concretamente esta participação popular.
Aprendemos que enfrentar o FMI e Cia. é difícil, mas alguns países já o fizeram, temos que aprender deles (Argentina, Malásia, Rússia).
Aprendemos que fazer alianças com a direita não muda o essencial no país e só fortalece a direita.
Aprendemos que se o partido tivesse continuado nos anos 90 a participar das lutas do movimento social, organizado a sua base em núcleos, feito formação de militantes e dirigentes, construído o partido em vez de só pensar em eleições a cada 2 anos não precisaria ter feito alianças com a direita para ganhar a eleição e para governar.
Aprendemos que temos que construir o partido sempre enquanto também participamos do processo eleitoral e não é só no processo eleitoral que se constrói o partido.
Aprendemos que novamente temos que discutir sobre o socialismo e sobre a TdL.
Aprendemos que temos que estudar novamente os teóricos marxistas com o povo.
Aprendemos que não podemos impor uma idéia única de socialismo e que não devemos copiar símbolos simplesmente e encontrar nossos próprios símbolos de luta a partir da história e cultura latino-americana.
Aprendemos que não podemos simplesmente importar processos e modelos na luta pelo socialismo.
Aprendemos que a direita está muito bem e profundamente encrustada na direção da igreja.
Aprendemos que a direção e a estrutura da igreja (da comunidade até a alta cúpula) são controladas pela direita, apesar de haver no meio da direção pessoas que não são de direita.
Aprendemos que esquecemos que a ‘esquerda’ tem que tomar o poder na igreja ao lado de aprofundar a organização das pastorais e de construir um processo formativo massivo na igreja.
Aprendemos que temos que deixar de ser ingênuos e achar que não apoiamos e fortalecemos o capitalismo através da igreja assim como ela está.
Aprendemos que o engajamento e a formação teológica dos anos 80 deram resultado, é o que vemos no povo luterano engajado no movimento sindical, popular e partidário.
Aprendemos que como igreja temos que aprender novamente o que desaprendemos nos anos 90.
Aprendemos que a igreja precisa voltar a participar da organização do movimento popular e sindical.
Aprendemos que a igreja tem muito a aprender do movimento popular.
Aprendemos que apesar do retrocesso da igreja o movimento popular avança.
Aprendemos que não dá para subestimar a direita (latifundiários, etc.) e nem deixar de nos proteger das suas ameaças de morte.
Aprendemos que o povo pede a participação da igreja nas suas lutas e na suas organizações.
Aprendemos, infelizmente, que a formação teológica dos anos 90 dos/as obreiros/as da IECLB deu resultado oposto a do povo engajado no movimento social.
Aprendemos que muitos obreiros/as da IECLB que se dizem de esquerda e da PPL são apenas ‘tradicionais’.
Aprendemos que muitos obreiros/as não querem mudar nem a igreja e muito menos a sociedade.
Aprendemos que os opressores têm mais medo de nós do que nós deles. – é importante saber isto.
Aprendemos que a produção de riqueza está ligada à produção de miséria, na mesma proporção.
Aprendemos que este é o tempo para que aconteça uma elevação do nível de consciência e da organização do povo para nos preparar para o estágio posterior na luta de classes.
Aprendemos que todo tempo é tempo do povo se organizar, de estudar a Bíblia e os clássicos marxistas.
Aprendemos que temos que estudar melhor as características do Projeto de Deus (AT e NT) que Jesus chamou de reino de Deus o que vai nos dar mais clareza sobre a nova sociedade.
Aprendemos que temos que clarear melhor as características da nova sociedade que podemos chamar de socialismo/comunismo ou de outra forma.
Aprendemos que as questões de classe estão acima das divergências e diferenças confessionais (religiosas).
Aprendemos que a classe trabalhadora apóia o capitalismo e os partidos por ele sustentados porque ninguém lhe explica como funciona a sociedade.
Aprendemos que o capitalismo faz uso da religião (também e principalmente do cristianismo) para legitimar a exploração de uma classe sobre a outra e para legitimar o aparato repressivo estatal que é controlado por ele.
Aprendemos com Lênin que sem uma teoria revolucionária não há movimento revolucionário.
Aprendemos com a história.
Aprendemos que estamos aprendendo.
Aprendemos, finalmente, que temos muito a aprender com estes últimos 45 anos.

Aprendemos...

Aprendemos?


Condor, 21 de fevereiro de 2005.

Lucas 8.1-3

Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, [2] e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; [3] e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens.
Lucas nos relata que Jesus, em sua peregrinação de aldeia em aldeia, pregava o Evangelho do Reino de Deus, que é sua mensagem e proposta central. Quando Jesus fala no Reino de Deus ele está apontando para uma nova sociedade não capitalista. Ele está dizendo que não precisamos e nem devemos nos conformar com este século (Rm 12.2), pois o Reino de Deus pressupõe a construção de uma nova sociedade com características totalmente diferentes da sociedade capitalista atual. A essência do Evangelho de Jesus Cristo é a construção de uma nova sociedade em oposição à atual, cujas características Lucas já aponta nos próprios discípulos que eram pessoas empobrecidas e de profissão pescadores e tinham no seu meio um publicano; e, mais, fazia parte do grupo dos discípulos um grupo de mulheres que seguiam Jesus e o serviam com seus bens (Mc 15.40-41).

Esta prática do Reino de Deus de servir com seus bens, a primeira comunidade segue e a aprofunda, como nos conta o livro de Atos dos Apóstolos 2.42-47. Segundo este texto a base da fé vivida dos primeiros cristãos são: Perseveravam
1. na doutrina dos apóstolos, que é o Evangelho do Reino de Deus, e não na ideologia do Império Romano, baseado no lema: paz e segurança (1Ts 5.3), construído em cima do patriarcado e da escravidão legitimada pela religião dos falsos deuses romanos.
2. na comunhão e não numa economia construída em cima escravidão que pressupunha a guerra e um imenso aparato militar para invadir outros países para saqueá-los e fazer sua população escrava para alimentar e viabilizar a economia escravista romana.
3. no partir do pão e não no individualismo e na ganância da exploração dos povos conquistados via tributos que empobreciam e saqueavam o povo.
4. nas orações e não na religião onde se sacrificava aos falsos deuses como o exigia o Império Romano para legitimar, pela religião, o sistema econômico escravista garantido pelo Estado que se amparava na sua máquina militar, como os EUA hoje.

Assim, temos aqui, um exemplo claro da prática desta nova sociedade que é o Reino de Deus, cujas características aparecem no texto de Atos que diz que:
- estavam juntos, viviam em comunhão, que pressupõe a não exclusão pela Lei do Templo ou pela economia que negava a cidadania plena aos empobrecidos e estrangeiros;
- tinham tudo em comum e não a ganância e o individualismo que são as características de todo sistema econômico opressor, como no capitalismo de hoje;
- anulam a propriedade privada dos meios de produção (que é a base de todo sistema opressor), que estará a serviço de todos, em especial para os empobrecidos. Com isto apontam para o Projeto de Deus no AT, quando os hebreus, sob o comando de Deus, constroem uma nova sociedade nas montanhas da Palestina, onde a terra – herança (meio de produção) era propriedade coletiva do clã e da tribo (Nm 26.52-56) no Tribalismo.
- alegria e singeleza de coração nas refeições comunitárias e não o sofrimento e a fome que a saída individual propõe, também em nosso sistema econômico atual;
- a vida é sagrada e não a propriedade privada dos meios de produção, que deve estar a serviço da vida abundante para todos (Jo 10.10).

1 de outubro de 2010

Comentários esparsos

Gostaria de comentar sobre o pacote da subsistência para obreiros/as que vai para o Concílio. No Pacote está inserido o chocolate e o limão. Por isso não dá para votar o pacote como um todo, tem que votar cada coisa de forma separada. O pacote vai quebrar o valor da Subsistência Básica e vai abrir a possibilidade de reduzir a subsistência básica para a metade, nos casos especificados do pacote. Isto é uma exigência do Encontrão. Sabemos que na igreja a exceção vira regra. É a flexibilização enrolada no pacote. No pacote tem coisa boa, mas tem a flexibilização enrolada no meio. Quem vai para o concílio tem que exigir a votação por partes.
Conhecemos nossas comunidades. Lá pelas tantas vão aparecer com o argumento que são pobres e coisa e tal e vão querer baixar a subsistência básica. Isto vai levar a algo parecido como havia nos anos 50 onde o pastor negociava com a paróquia a sua subsistência, vai virar negociata e fortalecer a desigualdade já reinante pelos abonos.
Em relação aos pastores que ficam muitos anos na paróquia foi o mesmo. Levou anos e por causa da exceção surgiu uma regra que são as leis do TAM que são os processos repressivos camuflados que temos e que foram instituídos pela direita que manda na igreja e que conseguiu empurrar goela abaixo a reestruturação em Ivoti onde só tinha cartão verde para votar (me disse alguém que esteve lá), além de se dizer na abertura do Concílio: "Viemos aqui para aprovar a reestruturação". A reestruturação faz parte do projeto neoliberal de compreender o mundo, é a adaptação à esfera eclesial. Assim como o neoliberalismo quebrou em 2008 a reestruturação vai quebrar, já está dando água. A reestruturação era a luta contra a Teologia da Libertação dentro do processo global de enfraquecer qualquer projeto que se opunha ao capitalismo e ao pensamento único. Claro, tudo muito camuflado, o que a ideologia explica.
Este pessoal que conseguiu passar a reestruturação encara os pastores/as como inimigos e como uma ameaça em potencial à instituição e por isso precisam ser controlados e dominados. Para controlá-los a gente usa o medo e a instabilidade. Isto sempre funciona. E com isto também se controla a pregação do Evangelho. A pregação pura e reta do Evangelho foi para o babaus. O pessoal da reestruturação dizia e ainda diz que o Conselho da Igreja cuida da administração para deixar o pastor presidente cuidar do pastoral e do teológico (no sínodo o pastor sinodal vai ser o pastor dos pastores; alguém sabe me dizer em qual sínodo isto aconteceu? em que o pastor sinodal é o pastor dos pastores? tem tempo para os pastores/as? cuidar de suas feridas e tal? Como diz a Ana: Quatsch!). Nós sabemos, no entanto, que quem cuida do administrativo-financeiro dá a linha teológica. Como os últimos dois Conselhos da Igreja em sua maioria eram de direita, eram conservadores (12 a 13 dos 18) então as suas decisões "administrativas" eram tomadas a partir de uma postura teológica conservadora, pois não existe "neutralidade teológica" e nem decisões administrativas financeiras que não partam de uma postura e compreensão teológica. Fomos enrolados por falta de fazer análise de conjuntura periódica. Chega-se ao cúmulo de fazer um concílio e assembléias sinodais sem primeiro se fazer análise de conjuntura nacional e eclesial, como se nós vivêssemos fora do mundo ou numa redoma de cristal onde o pensamento hegemônico do mundo não nos afetasse. Mas, fazer análise de conjuntura pode ferir os brios da direita, revelar suas propostas e por isso não se faz isto. Isto seria fazer política; então se faz política não fazendo política, sofrendo política. Na igreja não se pode fazer política abertamente, então se faz isto de forma camuflada escondendo as reais intenções. Isto tem nome: farisaísmo! Falamos em fazer missão (Missão de Deus Nossa Paixão como se Deus se tivesse feito pessoa em Jesus no espaço sideral, lá na Galáxia Andrômeda a 2 milhões anos luz de distância, e não na Palestina ocupada pelo Império Romano, no tempo de César Augusto, aliado do Templo de Jerusalém) [no documento oficial Missão de Deus Nossa Missão tem uma análise da realidade, mas isto não se faz quando se planeja a missão no sínodo e na paróquia porque isto poderia revelar o processo de espoliação á que a classe trabalhadora está sujeita e como esta espoliação acontece a nível municipal pelos grupos que detém o poder político-econômico] e falamos em planejamento estratégico sem fazer análise de conjuntura eclesial e nacional. Exatamente porque o mundo envolvente nos afeta é que não se faz análise de conjuntura, para que o pensamento da direita prevaleça, encoberto de uma névoa de neutralidade, de harmonia e de sinceridade. Quatsch! Mas, como se disse no Concílio de 2006 em Panambi: "Na igreja não tem corrupção!" porque eu disse que o abono induz à corrupção e à venda do Evangelho. Coitado de quem acredita nisso. Quem acredita que na igreja não tem corrupção nunca leu o apóstolo Paulo. Se criou o esquema do dízimo porque o sistema de cotas era totalmente corrupto com sonegação e tudo mais e hoje as comunidades já estão sonegando o dízimo, principalmente das festas, bailes, almoços, mesmo este sistema sendo mais barato para os membros que o sistema de cota que era 30% mais alto que o atual sistema.
Nosso problema é que não temos o costume de fazer análise de conjuntura eclesial e nem político-econômico e por isso não entendemos, na época de 1997, o esquema que estava por de trás do movimento da reestruturação. Como continuamos não tendo este costume de fazer análise de conjuntura vamos aprovar a quebra da SBO e abrir para o processo de flexibilização que vai facilitar e aumentar a fragmentação já existente entre pastores/as e vai aumentar a desigualdade; teremos pastores de primeira e de segunda linha. O pessoal da estrutura vai vir com mil e um argumentos, mas uma vez quebrada a SBO a flexibilização está feita. O custo disto vai ser alto. Como o custo da reestruturação foi a quebra econômica da igreja o que quebrou a EST junto, pois isto estava no plano. As conseqüências teremos num futuro bem próximo: a falta de pastores/as. À isto a reestruturação da direita nos trouxe.
Não dá para correr atrás da conversa do Laske de isolar cada coisa para si como se não tivesse vínculo com a Igreja. Todas as instituições tem vínculo com a igreja, ignorar isto é ingenuidade ou maldade. A AMA-CAF está no mesmo processo. Existe outra interpretação que diz o que já existiu antes do ano tal (não sei o ano) isto é legal. Entrar para a UNIMED vai custar o dobro e mais um pouco e vamos quebrar a fraternidade, trocá-la pela dinâmica do mercado capitalista onde os donos dela têm seu devido lucro à nossa custa. Abandonamos o auxílio mútuo e entramos no mercado, e o mercado é comandado pelos que tem o capital que vive do suor do povo. Estaremos à mercê do mercado. É só escutar os noticiários da TV para ver como os planos de saúde são problemáticos. Assim como houve a era FHC a nível de país, na igreja houve a era Laske com suas devidas conseqüências funestas. É a dinâmica da turma anticlerical da reestruturação que continua mandando na igreja que vê os/as pastores/as como inimigos em potencial que precisam ser controlados e a legislação devida já está dando resultado. Desestruturação e isolamento da pastorada, individualismo, salve-se quem puder. Por enquanto esta turma ganhou. Por enquanto, pois o mundo gira.
A APPI está esperando passar o Concílio para enviar para todos algumas questões para serem levadas à Direção da Igreja no início do ano que vem. Ou reagimos ou a patrola vai continuar patrolando. Patrolando o Evangelho do Reino de Deus inclusive.
O resultado vai ser o fortalecimento do projeto capitalista que a igreja vai continuar legitimando. Como Igreja não queremos fortalecer o capitalismo, o nosso Projeto é o Projeto de Jesus Cristo que é o Projeto do Reino de Deus que se contrapõe ao capitalismo, o mundo (Tg 4.4) ou este século, como diz Paulo em Rm 12. Por isso se fala tão pouco na igreja do Reino de Deus, pois isto agride o projeto do capital e deixa claro que não defendemos o capitalismo, mas o Reino de Deus que é o oposto do capitalismo. Falar da mensagem central de Jesus: o Reino de Deus, é uma ameaça ao pensamento único que o capital tenta impor. Falando do Reino de Deus estamos colocando uma outra proposta de organizar a vida e a sociedade toda em oposição ao capitalismo. Isto a direita quer evitar a todo o custo. Falar do Reino de Deus é subversão, por isso se fala tão pouco nele, porque somos subservientes ao capital, ao deus capital!
Atualmente a palavra IDOLATRIA se escreve em MAIÚSCULO. A nossa Idolatria é adorar o Deus verdadeiro de uma forma falsa. Adora-se Jesus Cristo, de boca para fora, mas se organiza toda a sua vida e a vida de nossa sociedade (também a vida da igreja) conforme a dinâmica do capital. Ai daquele que diz que o capital é coisa do diabo. Não se pode chamar o deus deste mundo de diabo! Que é isso? Onde é que já se viu?! Onde é que nós estamos afinal?!
Está na hora de estudarmos melhor o primeiro e o segundo mandamentos e lermos a explicação de Martim Lutero no Catecismo Menor e Maior.