"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (Jo 8.32)
31 de agosto de 2017
Uma ponte para o passado: como chegamos até aqui?
http://www.ihu.unisinos.br/571179-uma-ponte-para-o-passado-como-chegamos-ate-aqui
“Não se pode dizer que o Brasil não tem recursos: só de juros da dívida, são no mínimo 400 bilhões de dinheiro público que é transferido por ano para os mais ricos. Se os juros fossem 0% - como em vários países desenvolvidos -, haveria 400 bilhões para investir em saúde, educação, transporte, saneamento e ainda sobraria”, escreve Ivo Lesbaupin, sociólogo, professor da UFRJ, coordenador da ONG Iser Assessoria.
Segundo ele, “não adianta esconder que este mesmo ajuste fiscal foi iniciado pelo governo Dilma, que a recessão que estamos vivendo foi piorada pelo governo Temer, mas começou lá. O desemprego cresceu em 2015, 2016 e este ano: suas raízes estão no ajuste fiscal, iniciado por Dilma e aprofundado por Temer”,
“O governo e boa parte da esquerda - constata o sociólogo -não entendeu o recado das ruas em junho de 2013. Lá estava a reivindicação por transporte, por melhor saúde, por melhor educação, contra os gastos excessivos na Copa do Mundo em detrimento de melhores políticas sociais. As ruas explodiam por reivindicações às quais o governo não estava atento. Ao invés de reagir atendendo as estas reivindicações, boa parte da esquerda preferiu acusá-las de "armação da direita". Como tem feito até hoje, negou as críticas”.
Eis o artigo.
A situação que estamos vivendo hoje
Nos últimos tempos, o que estamos vivendo é a dominação por parte do grande capital (banqueiros e rentistas – empresários – ruralistas) sobre todas as coisas: sobre a maioria do Congresso, sobre a legislação (aprovação de leis favoráveis ao capital), sobre as terras, sobre os povos indígenas, sobre o meio ambiente, as privatizações, a entrega do petróleo (inclusive do pré-sal).
Nossa resistência só conseguiu, até agora, impedir a reforma da Previdência. No mais, o governo ilegítimo e totalmente desmoralizado (apenas 5% da população o aprova), tem conseguido aprovar, a toque de caixa, todas as leis que propõe.
O retrocesso é impressionante:
Nos direitos trabalhistas, estamos recuando cem anos, voltando aos anos 1920, antes de Getúlio Vargas;
Nos direitos sociais, trata-se de um retorno à Constituição da ditadura civil-militar (1969);
Nos direitos ambientais, é a volta à ditadura;
Quanto aos povos indígenas, é a reedição da política indigenista da ditadura (caracterizada pela afirmação "o índio não pode prejudicar o progresso do país"): o direito de tomar suas terras, agredir, reprimir e matar índios está liberado.
Democracia?
Não estamos numa democracia, as leis que defenderiam a maioria dos cidadãos – a Constituição de 1988 – não valem, são constantemente derrubadas em favor da minoria dominante, o 1% mais rico.
A situação atual resulta do desrespeito ao processo democrático pelo impeachment da presidente sem que houvesse crime de responsabilidade: ele representou o desprezo ao voto popular. Não adiantou uma candidata ter tido 54 milhões de votos, os que se opunham a ela tiraram-na do poder. Daí para a frente, desprezar o processo democrático se tornou corriqueiro, as leis são ignoradas, os juízes fazem o que querem, são dois pesos e duas medidas a todo momento...
As chacinas no campo – contra trabalhadores, contra indígenas – se sucedem; nas periferias urbanas, também. É como se tivesse sido baixado um decreto de que a violência policial está permitida, a violência contra os "inimigos" (trabalhadores, povos indígenas, jovens da periferia, juventude negra). Não é simplesmente que a formação policial da ditadura não foi superada, é que o "espírito" próprio da polícia sob a ditadura foi restabelecido. A polícia sabe que seus crimes ficarão impunes, que serão defendidos e mesmo comemorados.
As leis não são cumpridas, as instituições não funcionam: algumas lideranças, algumas pessoas, um partido, são investigadas e perseguidas sistematicamente, com ampla exposição na grande mídia, outras são protegidas. Sem que qualquer instância superior questione os métodos adotados, as arbitrariedades e ilegalidades cometidas (vazamentos seletivos, divulgação de gravações, denúncias públicas contra pessoas que, em muitos casos, são posteriormente revogadas, com evidentes prejuízos morais para os envolvidos, prisões prolongadas para motivar delações, etc.).
É verdade que as últimas delações atingiram outros partidos e o próprio governo, mas seus efeitos foram rapidamente apagados.
O STF, guardião último da Constituição, tem se caracterizado pela omissão, a começar pelo próprio impeachment, ao se recusar a definir se "pedalada fiscal" era crime de responsabilidade. Evitaram se comprometer e deixaram o Congresso decidir sozinho, para possibilitar o impeachment de Dilma.
Nos julgamentos, não há garantia nenhuma que a jurisprudência seja seguida: as decisões são tomadas segundo as conveniências políticas do momento. Isto se verificou no julgamento do TSE sobre a chapa Dilma-Temer. Isto se viu anteriormente no caso de Renan Calheiros quando presidente do Senado. O STF havia decidido que um réu não poderia estar na linha de sucessão do presidente da República e, duas semanas depois, quando Renan não quis cumprir a ordem de deixar a presidência do Senado, o mesmo STF permitiu que Renan continuasse no seu posto.
Não há mais regras claras, quem tem poder faz o que quer. Há uma completa desmoralização deste órgão superior de Justiça.
É sabido que, no Congresso – tanto na Câmara quanto no Senado –, a maioria está aprovando projetos de lei com votos comprados, isto é, através de corrupção, suborno, propina. A grande mídia denuncia a compra de votos. Mas esta corrupção, presente, atual, aos olhos de todos, não é investigada.
Os projetos de lei sequer são debatidos, são votados em bloco, como se fosse uma "linha de montagem". Leis que vão mudar radicalmente políticas públicas essenciais para os próximos anos ou décadas – como saúde, educação, trabalho - são votadas e aprovadas sem debate com a sociedade que será gravemente afetada por estas mesmas leis.
Nós estamos num Estado de Exceção.
Mas: por que chegamos até aqui, por que chegamos a esta situação?
A pergunta que nos fazemos é: por que se fez uma campanha cerrada pela derrubada da presidente eleita por 54 milhões de votos e a reação popular foi tão pequena? Quem protestou contra este processo foram os movimentos organizados, mas a massa da população (a maioria de seus eleitores) esteve ausente: não estava de acordo, mas também não saiu a defender a presidente.
Primeiro fator: o estelionato eleitoral. A presidente, eleita depois de uma campanha eleitoral dura, e que ganhou graças à intervenção maciça dos movimentos sociais em seu favor nas últimas semanas, optou, no dia seguinte às eleições, por fazer o programa econômico do adversário: o ajuste fiscal. Ela o fez para conseguir as boas graças do "mercado", e com isso abandonou o voto dado por seus eleitores.
Não se pode dizer que a presidente não foi alertada para a gravidade desta opção. Nas primeiras semanas após as eleições, vários economistas de esquerda advertiram Dilma dos riscos em que jogaria o país se adotasse o ajuste fiscal. Mostraram que ela repetiria os erros das políticas de austeridade europeias, com recessão e aumento do desemprego. Apontaram outros caminhos possíveis para tirar o país da grave situação em que se encontrava, ofereceram um programa alternativo.
O governo não cedeu, adotou o ajuste fiscal e as consequências foram se sucedendo exatamente como previsto.
A direita, apesar de estar satisfeita com o programa econômico implementado, aproveitou para denunciar o estelionato eleitoral e mostrar a incoerência da presidente: usou a grande mídia para desmoralizar o governo.
Daí em diante, mesmo percebendo o caminho antidemocrático seguido pelas manifestações de setores da classe média, pela grande mídia, pelo parlamento, as massas não reagiram. Não havia motivação para defender o governo que estava aplicando as políticas que lhes eram contrárias.
Esta é uma das razões pelas quais os eleitores de Dilma não foram às ruas para defendê-la.
Mas há outras razões, mais fundas, de mais longo prazo
Desde o início dos governos Lula-Dilma, o que ocorreu foi um estelionato eleitoral. É verdade que a Carta ao Povo Brasileiro (junho de 2002) já fazia prever uma mudança de rumo nas promessas feitas pelo candidato Lula. Mas a mudança foi mais longe: a política econômica do governo Lula, seguida no essencial pelo governo Dilma, foi de atendimento aos interesses do capital financeiro. Ela era centrada no pagamento da dívida pública e de seus juros, o que favorecia o 1% mais rico da sociedade: no orçamento público realizado, a cada ano aumentava a proporção dedicada à dívida, de 35% a 45%. Nestes 13 anos, a taxa de juros real esteve sempre entre as mais altas do mundo, mesmo nos períodos em que a taxa nominal baixou. Os juros aumentaram de 200 bilhões de reais nos primeiros anos até 500 bilhões em 2015.
É inegável que o governo Lula e, depois, o governo Dilma, implementaram políticas públicas que melhoraram muito a situação dos mais pobres e dos trabalhadores: a política de valorização do salário-mínimo, o Bolsa-Família, os programas de Farmácia Popular, o Luz para Todos, o programa de construção de cisternas no semiárido, o Minha Casa Minha Vida e muitas outras coisas. Estas políticas retiraram da miséria 30 milhões de brasileiros e melhoraram a renda dos trabalhadores, permitindo uma capacidade de consumo que há décadas não tinham. Houve políticas muito boas, é preciso reconhecer.
Porém: a parcela dos recursos públicos que foi para os ricos foi muito maior do que aquela para os pobres. Os lucros dos bancos nos governos Lula-Dilma foram maiores que durante o governo FHC.
O que permitiu os pobres ganharem ao mesmo tempo que os ricos foi a situação econômica mundial e o aumento do valor dos bens de exportação, as commodities – uma situação que não existe mais.
Os grandes beneficiários nos governos Lula-Dilma foram, em primeiro lugar, o capital financeiro (bancos e rentistas), as empreiteiras e o agronegócio. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), com vários megaprojetos de hidrelétricas a serem construídas na Amazônia, foi a felicidade das empreiteiras – como as revelações da Lava-Jato estão permitindo comprovar. Jirau, Santo Antônio, Belo Monte, foram pagamento de doações para as campanhas eleitorais por parte da Odebrecht, OAS, Camargo Correia, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão. Basta examinar quem foram os maiores doadores das campanhas de 2006, 2010 e 2014 para ver que elas estão em primeiro lugar, junto com os bancos e o agronegócio.
Os povos indígenas foram vítimas dos governos Lula-Dilma, mesmo reconhecendo que "Raposa Serra do Sol" (terra indígena em Roraima) foi homologada por Lula. A construção das hidrelétricas - a maior das quais foi Belo Monte, no rio Xingu -, resultaram no genocídio de várias etnias indígenas, além da população ribeirinha. Não adiantaram as mobilizações dos atingidos, dos povos indígenas das regiões visadas, das Igrejas: tanto o governo Lula quanto o governo Dilma foram insensíveis a suas reivindicações.
O discurso era "energia elétrica para o povo pobre". Porém os bem informados sabiam que o objetivo era atender às empreiteiras e às empresas que queriam se instalar na Amazônia (alumínio, mineração, etc.).
Cabe observar que o mesmo governo que falava da necessidade de hidrelétricas para gerar energia nada fez para desenvolver a energia solar num dos países mais ensolarados do mundo, que é o Brasil: o investimento é menos de 10% do que investem Alemanha, China e Espanha, para citar apenas três exemplos.
O ajuste fiscal foi iniciado pelo governo Dilma
Temos denunciado vigorosamente a política de ajuste fiscal (“austeridade”), que retira direitos da maioria, dos trabalhadores, dos mais pobres e transfere recursos públicos (de todos, portanto) para a camada mais rica da sociedade, o 1% já privilegiado.
Não se pode dizer que o Brasil não tem recursos: só de juros da dívida, são no mínimo 400 bilhões de dinheiro público que é transferido por ano para os mais ricos. Se os juros fossem 0% - como em vários países desenvolvidos -, haveria 400 bilhões para investir em saúde, educação, transporte, saneamento e ainda sobraria.
Não adianta esconder que este mesmo ajuste fiscal foi iniciado pelo governo Dilma, que a recessão que estamos vivendo foi piorada pelo governo Temer, mas começou lá. O desemprego cresceu em 2015, 2016 e este ano: suas raízes estão no ajuste fiscal, iniciado por Dilma e aprofundado por Temer.
Não podemos esquecer que o Ministro da Fazenda do atual governo, Henrique Meirelles, foi, durante 8 anos, o presidente do Banco Central no governo Lula, garantindo a prioridade dos interesses do capital financeiro.
O atual governo – embora impopular e desmoralizado – está defendendo uma reforma da Previdência prejudicial à maioria dos cidadãos. Mas cabe lembrar que o governo Lula fez, no primeiro ano de governo, a reforma da previdência do setor público, aquela mesma que Fernando Henrique não conseguira fazer, porque os movimentos sociais e o PT daquele tempo impediram. E Dilma estava preparando um projeto de reforma da previdência que o Ministro Nelson Barbosa não se cansou de anunciar.
Então, nós estamos diante de um governo de direita, que está levando a seu extremo as políticas neoliberais, mas várias destas políticas foram feitas nos governos Lula-Dilma, embora de forma mais lenta e menos agressiva. Banqueiros e rentistas nunca ganharam tanto como nestes 13 anos, graças à centralidade do papel da dívida pública nestes governos, dando continuidade à política econômica de FHC. O “fator previdenciário”, uma medida introduzida pelo governo FHC e prejudicial para os trabalhadores, foi mantido por Lula e por Dilma. Caiu por obra da oposição, contra a vontade de Dilma.
As privatizações que, antigamente, permitiam distinguir o PT do PSDB, foram retomadas nos governos Lula e Dilma, tanto de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias como os leilões de petróleo, inclusive de áreas do pré-sal (governo Dilma).
A diferença é que, nestes governos, houve uma preocupação também pelos mais pobres, pelos trabalhadores, na política do salário-mínimo, no Bolsa-Família, entre outras coisas, que permitiram que os pobres também ganhassem e não apenas os ricos.
A Reforma Agrária – pela qual os trabalhadores lutam desde a década de 1950 -, não foi feita, nem pelo governo Lula nem pelo governo Dilma, porque o agronegócio era aliado do governo e elemento central da política de exportações.
A cooptação dos movimentos sociais
Quanto aos movimentos sociais, a preocupação do governo Lula era que continuassem como seus apoiadores, mesmo percebendo que suas principais reivindicações não eram atendidas. O governo manteve uma busca permanente de cooptação, atendendo a necessidades imediatas, não a suas demandas por reformas estruturais. Era preciso convencê-los de que ou apoiavam ou fariam o “jogo da direita".
Portanto, a maior parte dos movimentos sociais manteve seu apoio aos governos do PT, apesar de saberem que atendiam em primeiro lugar aos interesses dos grandes grupos econômicos.
O governo Lula enfraqueceu os movimentos sociais, contribuiu para que abandonassem as lutas pela transformação social em troca de resultados mais imediatos. Quem leu os manifestos e as tomadas de posição de vários movimentos sociais nos últimos anos, pode observar que, na maioria deles, está ausente a defesa dos povos indígenas (porque colocaria em xeque os megaprojetos governamentais de hidrelétricas), assim como a exigência de “Auditoria da Dívida Pública” (porque questionaria a submissão aos interesses do capital financeiro).
A ética na política: a questão da “governabilidade”
Os escândalos de corrupção a que assistimos nos últimos anos têm uma raiz: é o esforço que o governo faz para ter maioria no Congresso, para ter o que é chamado de “governabilidade”. Ter maioria para poder aprovar seus projetos, para levar à frente seu projeto de poder, para ter apoio para seus candidatos, para eleger aqueles que indicar. Neste processo, “os fins justificam os meios”, vale tudo: o governo faz as alianças que julga necessárias para alcançar seus fins, pouco importa o caráter pouco ou nada ético dos compromissos assumidos. Passam para trás os compromissos assumidos com os movimentos sociais, de construir algo novo no país, passam para a frente os interesses da velha política.
Aqui se jogou fora toda a história de ética exigida por um novo modo de fazer política (o PT era “um partido diferente dos outros”), se jogou fora a campanha pela “ética na política”, liderada pelo saudoso Betinho nos anos 90. Jogou-se fora “o modo petista de governar”, que implicava inversão de prioridades, participação popular e ética, e temos muitos exemplos significativos de coerência dos primeiros tempos do PT, tanto de parlamentares quanto de governantes, como foi o caso da gestão de Luiza Erundina, em São Paulo e Olívio Dutra, em Porto Alegre.
A aliança com Sarney – do mesmo modo que com Romero Jucá, Jader Barbalho, Renan Calheiros, Collor e Maluf – se justificava para garantir a “governabilidade”. Mas ela implicou, da parte do governo, abandonar muitas das promessas feitas a seus eleitores.
Seu modo de agir sinalizou para todos, especialmente para os jovens, que a única política possível é esta, feita à base da barganha, do “toma-lá-dá-cá”.
A aceitação deste argumento – a “governabilidade” – levou à aceitação de toda sorte de práticas, comuns aos partidos tradicionais (desde “caixa 2” até outras), concessões tantas que, ao final, já não se reconhecia mais o PT das origens e, certamente, não era mais um partido “dos trabalhadores”.
Não houve reforma política porque o governo já se dava muito bem com o sistema tradicional, caracterizado pelo “balcão de negócios”. Não era mais necessário mudar o modo de fazer política, porque se conseguia fazer política daquele jeito antigo de fazer.
Não era preciso a democratização dos meios de comunicação, porque era possível lidar com a grande mídia, com a Globo, de forma favorável. O que permitiria desconfiar que, se a grande mídia aprovava as políticas do governo, é porque elas atendiam, em boa parte, a seus interesses.
Em suma, o partido que veio para mudar se transformou num partido igual aos outros.
E vários movimentos sociais de maior alcance nacional e maior peso, ao invés de serem questionadores das políticas de direita seguidas pelo governo, acabaram se tornando sua base de apoio.
Junho de 2013
Até junho de 2013, com 70% de aprovação popular, o governo se dava ao luxo de desprezar os protestos de minorias. Assim, ignorou as reações de movimentos contra a construção das hidrelétricas na Amazônia, contra a transposição do rio São Francisco, contra os investimentos insuficientes em saúde e em educação, contra o desprezo pela grave situação carcerária e assim por diante. Neste mês, explodem manifestações em favor de um transporte digno (passe livre) que, em virtude da forte repressão, se ampliam e alcançam todo o país.
O governo e boa parte da esquerda não entendeu o recado das ruas. Lá estava a reivindicação por transporte, por melhor saúde, por melhor educação, contra os gastos excessivos na Copa do Mundo em detrimento de melhores políticas sociais. As ruas explodiam por reivindicações às quais o governo não estava atento. Ao invés de reagir atendendo as estas reivindicações, boa parte da esquerda preferiu acusá-las de "armação da direita". Como tem feito até hoje, negou as críticas. Dos cinco pactos propostos pelo governo Dilma para responder ao clamor das ruas, o primeiro era para acalmar o mercado, para atender às elites (pacto por responsabilidade fiscal, estabilidade da economia e controle da inflação).
Ao invés de assumir publicamente suas falhas e dar um exemplo de governo comprometido com a maioria - os trabalhadores, as classes populares -, seguiu em frente, acertou-se com o Congresso. E preparou medidas para aumentar a repressão. Neste ano, não conseguiu, mas dois anos depois, a presidente Dilma assinou a Lei Antiterrorismo, pouco antes de sofrer o impeachment.
Foram importantes as conquistas do Bolsa Família, o resgate de milhões de pessoas da miséria, mas Junho mostrou que a sociedade exigia mais, eram necessárias mudanças estruturais que fossem materializadas em serviços públicos de qualidade. No entanto, a esquerda não quis ouvir essa voz. Ao invés de aproveitar o impulso para promover mudanças, jogou Junho nos braços da direita.
Podemos elencar os aspectos positivos do governo Lula
- Houve um aumento real do salário-mínimo (de 74%, entre 2003 e 2010);
- a taxa de desemprego diminuiu (de 19% para 11,9%) e o número de empregos formais cresceu;
- o atendimento à rede de energia elétrica aumentou (“Luz para Todos”);
- o acesso à educação melhorou, inclusive o acesso à universidade por parte dos mais pobres;
- o Bolsa-Família atingiu a 50 milhões de pessoas (12 milhões de famílias);
- o mercado interno (o consumo das famílias) aumentou;
- o combate ao trabalho escravo se tornou mais sistemático (foram libertados 33 mil trabalhadores entre 2003 e 2010);
- as operações da Polícia Federal tiveram um enorme incremento (216 operações entre 2003 e 2010) e, pela primeira vez no Brasil, atingindo indivíduos ricos;
- houve a revalorização do Estado (funcionalismo, universidades públicas, etc.);
- valorizou-se a liberdade de ação dos órgãos de controle social (Ministério Público, Polícia Federal, CGU, STF);
- a política externa se tornou mais independente;
- após a crise econômica mundial de setembro de 2008, para evitar o aumento do desemprego, o governo mudou a política econômica, abandonando alguns dogmas neoliberais .
Tudo isto evidencia que houve melhorias efetivas para o conjunto da população, especialmente a população mais pobre.
Estas políticas diferenciaram o governo Lula do governo anterior (FHC): neste sentido, pode-se dizer que ele não foi simplesmente a cópia do governo anterior. Na comparação, há várias iniciativas positivas. Além do mais, houve uma mudança importante do governo Lula do primeiro para o segundo mandato: a atuação do Estado para promover a atividade econômica, rompendo com o princípio neoliberal de não intervenção do Estado na economia.
Porém, todas estas diferenças não mexem no fundamental. No essencial, a opção deste governo foi feita desde o começo e não mudou: a política econômica foi centrada nos interesses do capital financeiro, no atendimento dos interesses das empreiteiras (transposição, hidrelétricas, obras do PAC), dos grandes proprietários de terra vinculados à exportação (agronegócio).
É só olhar a diferença no orçamento, entre o que foi para o pagamento dos juros da dívida e o Bolsa-Família:
200 bilhões por ano, no mínimo (em 2008, foram 282 bilhões; em 2009, 380 bilhões; em 2015, 500 bilhões), para os banqueiros e rentistas (que não chegam a 1 milhão de pessoas);
27 bilhões para o Bolsa-Família (cerca de 50 milhões de pessoas) – em que o valor máximo é 350 reais por família por mês.
A ausência das massas
Frente ao descalabro da política nacional, das ilegalidades cometidas por Temer e seu governo, das concessões à bancada ruralista, da distribuição de benefícios aos parlamentares para se manter no poder, apesar de tudo isso, não há manifestações de protesto à altura.
Houve reações até um determinado momento, em março, abril e maio deste ano. Mas, depois disso, arrefeceram. É possível que as pessoas, percebendo a ineficácia de seus esforços, tenham se cansado e desistido de ir às ruas. (Sem contar que a forte repressão desanimou as pessoas...).
A maior parte da população, as massas, se mantiveram ausentes. Estão atordoadas com o que está ocorrendo – o golpe, as medidas antipopulares que estão sendo aprovadas em ritmo acelerado, o desemprego atingindo ou ameaçando a todos/as.
Provavelmente, não acreditam piamente na grande mídia ou, pelo menos, desconfiam da versão dada por ela. Por outro lado, houve o fato de que o governo que representava o lado deles, dos trabalhadores, se mostrou indigno de confiança (ajuste fiscal, medidas impopulares, recessão, estelionato eleitoral).
Mesmo Lula, que é a liderança ainda respeitada pela maioria, perdeu parte do seu encanto em razão das sucessivas denúncias de corrupção (desde o "mensalão" até o "petrolão"), alardeadas pela grande mídia. Mesmo que nem todos acreditem na campanha mediática contra Lula, algo do que foi denunciado ficou.
É verdade que faltam alguns instrumentos importantes: os partidos políticos, que foram impulsionadores da campanha das Diretas Já em 1984, não representam mais nada hoje. O PT, embora tenha recuperado um pouco de seu brilho, não é mais símbolo de mudança.
O esforço permanente de esvaziamento da capacidade crítica dos movimentos sociais por parte dos governos Lula e Dilma levou a uma “desidratação” dos mesmos (veja-se a fraca atuação da CUT, da UNE – e mesmo do MST -, por exemplo, durante os governos Lula-Dilma).
Tudo isso pode explicar a ausência das massas nas ruas até o presente momento.
Há, porém, brasas embaixo das cinzas. Há um acúmulo de indignação, de desejo de protestar na grande maioria das pessoas. Falta pouco para esta raiva explodir, mas não sabemos quando nem onde nem o que provocará esta explosão. Porém, ela virá, mais cedo ou mais tarde. Em muito pouco tempo, menos de três anos, a situação da população trabalhadora, dos mais pobres, se deteriorou: desemprego, demissões, baixos salários, precarização, perda de renda, perda de moradia, perda de planos de saúde, aumento da população de rua. Ao mesmo tempo, os ricos ficaram mais ricos. E o governo gasta milhões para garantir a continuidade de seu apoio no Legislativo e no Judiciário.
Isto vai ter consequências, mais cedo ou mais tarde.
Construir um projeto de Brasil
Precisamos construir uma saída para esta situação. Hoje, não apenas há um governo ilegítimo que tomou o lugar do governo eleito: este governo está fazendo aprovar em pouco tempo – sem discussão com a sociedade - uma nova constituição, um conjunto de leis que desmontam o Estado que tínhamos anteriormente. O programa que está sendo implementado é o programa de governo que foi derrotado nas eleições de 2002, 2006, 2010 e 2014. A legislação trabalhista foi derrubada, a Constituição Cidadã foi rasgada, os recursos para as principais políticas públicas – saúde, educação – estão sendo cortados. E os recursos tirados dos mais pobres estão indo para os mais ricos.
Precisamos, em primeiro lugar, denunciar esta situação: o desmonte do Estado, o golpe na democracia.
Só há um meio de sermos ouvidos: as ruas. Sim, temos meios de nos fazermos ouvir: a comunicação via meios alternativos, via redes sociais. Mas não podemos parar na comunicação digital: temos de nos fazer presentes, fisicamente presentes.
E temos de nos organizar: nos bairros, nas escolas, nas universidades, no campo, nas cidades, nas aldeias. Discutir o que estamos vivendo, pensar coletivamente saídas, montar estratégias. Este trabalho dos pequenos grupos, das associações, das articulações, parece pouca coisa, mas é ele que vai embasar as grandes mudanças: o grande nasce do pequeno. Sem este trabalho de base, não se criam as raízes para as mobilizações.
Precisamos discutir o Brasil que queremos, elaborar um Projeto de Brasil. Não basta eleger um candidato: precisamos definir o que queremos que se faça, o programa de governo, qualquer que seja o governante.
Queremos, para começar, que todas as medidas que foram votadas depois do impeachment da presidente (agosto de 2016), sejam submetidas a referendo popular. Elas só podem ser validadas depois de julgadas pela população, pelos cidadãos e cidadãs. Porque elas foram aprovadas por um Congresso constituído em boa parte por suspeitos de corrupção e em sua maioria por votos comprados. Portanto, estas leis não têm valor: são fruto da corrupção, da propina, do suborno.
Qualquer candidato que se apresente para nos representar tem de se comprometer com este programa.
Estamos vivendo um momento difícil, de muitos retrocessos, de muitas derrotas. Mas as coisas não vão permanecer assim, nós vamos mudá-las: lentamente, de baixo para cima, do pequeno para o grande, de poucos para muitos, nós chegaremos lá.
“Não temais os que podem matar o corpo, mas não têm poder para matar a alma”. Eles não podem matar a esperança.
31 de março de 2017
O conto do Projeto de Igreja da IECLB
Para ler e rir, para não chorar.
O conto do Projeto de Igreja da IECLB
O projeto real de Igreja da IECLB não é aquele baseado em
seus Documentos Teológicos aprovados em Concílio (como os dos Concílios de
82-88) e documentos teológicos frente nossa realidade elaborados pela Direção
da Igreja (A Federação Sinodal é Igreja de Jesus Cristo no Brasil com todas as
consequências daí advindas para a proclamação do Evangelho neste País e para a
corresponsabilidade pela formação da vida política, cultural e econômica de seu
povo.), mas é a reprodução do Projeto da Casa Grande e Senzala.
Na CO de março vimos isso claramente, sem nos darmos conta
disso.
A prática da Direção da Igreja é reunir em março de cada ano
os/as pastores/as sinodais com a Presidência. Não se faz uma análise de
conjuntura do país e da Igreja, apenas se levanta o que vai pela IECLB, coisas
boas e ruins. É a aula de catequese anual para os/as pastores/as sinodais, que
tem a tarefa de aplicar o apreendido e conversado nos sínodos. Na CO de março
em nosso sínodo tivemos um exemplo disso. O repasse da “catequese” com os estalos
intercalados do som da chibata do Feitor.
A Casa Grande (Sr. dos Passos) reúne seus Feitores
(pastores/as sinodais) em março, para avaliar o progresso e o desenvolvimento
havido no Engenho Colonial (Paróquia), que têm a tarefa de estalar a chibata na
Senzala (CO) para que haja uma melhora na produtividade; pôr alguns habitantes
da Senzala no tronco ou no pelourinho como exemplo para o resto da Senzala,
para que se comporte, senão a chibata pega geral. CO, Conferência de
Obreiros/as – hoje denominada de CM – Conferência Ministerial, o nome se refere
ao gesto de subserviência ao Estado capitalista colonial com papel de repressão
sobre as classes subalternas; pastores/as agora não são mais pastores/as, mas
ministros/as porque a lei previdenciária assim nos denomina, segundo a
interpretação da assessoria jurídica conservadora da Colônia, que temos que ser
submissos à autoridade do Estado Capitalista; a subserviência ao capital não é
linda?
Não estou xingando a Casa Grande e os Feitores por serem
Feitores, eles são pessoas da Senzala com funções temporárias específicas, mas
quero apontar que o problema está no sistema. Todos são vítimas do sistema.
Temos que mudar o sistema, pois este coopta, aliena e desumaniza. O sistema se
chama Reestruturação, que é o resultado da luta de classes que ocorreu na
Colônia onde a direita conseguiu construir o seu Projeto de Igreja para barrar
o Projeto Popular de Igreja que estava em processo de construção iluminado pela
Teologia da Libertação nos Distritos Eclesiásticos, que por isso esta instância
foi eliminada da Estrutura por ser encarada como subversiva, insurgente e não
submissa aos interesses da direita a serviço do imperialismo estadunidense
(vide as privatizações dos anos 90 para saquear o país e acabar com o Estado
Nacional, o que foi retomado agora com o Golpe de 2016) por estar envolvida nas
lutas do povo, explorado pelo capital, por justiça e paz, que são as
características do Reino de Deus, juntamente com a alegria no Espírito Santo,
segundo Paulo, Rm 14.17. A direita (leigos/as e ministros/as conservadores
[aqui uso o termo ministro para distinguir dos pastores]) conseguiu moldar o
sistema conforme o projeto capitalista neoliberal em vigência nos ano 90 para
legitimar todo o processo de exploração classista existente. A esquerda ingênua
e burra porque não leu o que deveria ter lido (porque não aprendeu isso em seu
estudo de teologia) foi engabelada pelo processo de tomada de poder da direita
na Colônia. Agora temos esse sistema que se molda ao sistema maior, que é o
capitalismo imperialista que deu mais um passo no Brasil com o Golpe. A Colônia
não conseguiu nem dizer não ao golpe, apenas está reagindo com algumas cartas
contra as conseqüências do golpe. O que é muito pouco, pois faz-se necessário pôr
o povo na rua contra o golpe e seu projeto de retirada de direitos que atinge a
Grande Senzala brasileira. Só com cartas não se consegue enfrentar o golpe, tem
que viabilizar uma dinâmica de pôr o povo na rua e isso o sistema da
Reestruturação não consegue, pois está atrelado aos donos e acionistas do
Engenho Colonial. Esse desatrelamento só é possível com a derrubada do sistema
da Reestruturação, e os habitantes da Senzala amedrontados não se dispõem a
participar desse processo de construção de outro sistema, um sistema
democrático onde todos têm poder e não só a elite local, defensora do projeto
do capital. Essa elite precisa de um Engenho Colonial subserviente ao
Imperialismo Colonial. A Casa Grande nega-se a entender isso e com isso
fortalece o Imperialismo Colonial a partir da subserviência ao subimperialismo
aqui instalado. A luta da Senzala é conquistar a liberdade para poder pregar
puramente o Evangelho para a qual foi ordenada. Essa é a hilariedade da
realidade: a função do Engenho Colonial é viabilizar a pregação pura do
Evangelho que está proibido de ser feito pelos donos e acionistas do Engenho
Colonial porque isso ameaça o Império Colonial. O Engenho Colonial existe para
algo que não pode e não deve executar. Entenda essa contradição maluca! É claro
que isso não está escrito em nenhum lugar, mas é só tentar viabilizar essa
tarefa que a repressão vai cair no infeliz habitante da Senzala por parte do
Engenho Colonial que o colocará no tronco ou no pelourinho e ainda é capaz de
levar uns estalaços da chibata do Feitor.
Devido a isso os habitantes da Senzala se esvaem em ativismo
para se justificar, trabalhando de 10 a 14 horas por dia, como os escravos
obedientes o fazem, que resulta em doença, estresse, suicídio e burrice, porque
não tem mais tempo para ler e estudar. Devido à ameaça da chibata cada
habitante da Senzala procura se salvar e se esconder em seu Projeto Individual
de Igreja para poder sobreviver e se salvar da rua da amargura do desemprego e
da humilhação. Salvação individual, essa é a lógica do liberalismo capitalista.
Não se dando conta que quando mais isolado mais sozinho e vulnerável está nas
mãos dos donos e acionistas do Engenho Colonial, a pequena burguesia
conservadora do campo e da cidade (pequena burguesia da cidade: ACI, CDL, cooperativa
do agronegócio, Lions, Rotary, Maçonaria, profissionais liberais, pequenos
industriários e comerciantes; no campo: granjeiros, integrados à agroindústria,
médios proprietários de terra) com apoio de habitantes da Senzala vendidos aos
patrões, que se denominam pastores/as conservadores, desculpe ministros/as
conservadores/as. Como eu não sou ministro, mas pastor, sempre me confundo. Pastor/a
é um termo subversivo de resistência ao projeto de subserviência ao estado
capitalista que usa a Colônia para se reproduzir e perpetuar. O interessante é
que a Senzala assumiu e assimilou o termo ministro sem muita resistência e
reflexão. O termo ministro não foi adotado porque está na Bíblia, mas porque a
legislação previdenciária o usa. Como a Colônia, com a Reestruturação, virou
capacho do Imperialismo Colonial ela se enquadra sem questionar as idéias dos
advogados conservadores que estão dando a linha teológica da Estrutura
Colonial.
Outro dirá, mas, as leis repressivas (TAM, Avaliação) foram
aprovadas em Concílio! Acontece que nós vivemos no Brasil e no Brasil algumas
leis valem e outras nem tanto. Por exemplo: a lei para aquele molusco marinho,
a lula, tem um valor e interpretação diferente como para aquele felino, o gato,
especificamente do tipo Angorá (que oculta sua comida em lugares impróprios),
tem outro valor e interpretação. O que o felino Angorá pode fazer o molusco
lula não pode. Assim no Engenho Colonial algumas decisões conciliares são
encaminhadas e outras não são. As encaminhadas são as de interesse dos acionistas
e donas do Engenho Colonial, que pagam e por isso podem mandar, como as leis
repressivas, mas as decisões conciliares que desagradam aos acionistas e donos
do Engenho Colonial, porque vão contra seus interesses de classe, como as
decisões conciliares de 1982, não são viabilizadas, porque em sua Mensagem às
Comunidades e Conclusões propõe a subversão insurgente evangélica da construção
coletiva da revolução do Reino de Deus viabilizada por/em/com Jesus Cristo:
Mensagem
...Para que todos possam usufruir das dádivas do
Criador, agindo responsavelmente diante delas, propomos o seguinte:
- realizar campanha de ampla informação e
conscientização dos problemas agrários e urbanos:
- apoiar o agricultor na sua luta pela
permanência no campo:
- assumir e defender com responsabilidade
evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de
base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra,
bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de
atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas.
Conclusões
... Conscientização
1.
Ler e viver o
Evangelho de Jesus Cristo.
2.
Promover
consciência de que fé e vida são inseparáveis
3.
Promover
consciência de serviço (servir).
4.
Conscientização, a
nível pessoal e comunitário, em todos os níveis da igreja sobre:
a) O problema da terra (fundiário)
b) A situação do agricultor, mormente o pequeno e o
sem terra
c) Migração e suas causas. Êxodo rural.
d) A necessidade de fixar o agricultor na sua terra
e reverter o processo do êxodo
e) O Estatuto da Terra e os direitos e deveres do
homem do campo (agricultor)
f) O uso e trato responsável da terra
g) A necessidade de unir os pequenos
h) A necessidade de diversificar culturas agrícolas
i)
A distribuição mais
justa da riqueza nacional
j)
A situação e forma
de exploração dos assalariados
k) Os danos da macro-tecnologia
l)
A situação e
estruturação das cidades
m) Uma pastoral urbana da IECLB
n) Uma pastoral educacional na IECLB
o) O ambiente natural e as depredações que hoje
ocorrem
p) A necessidade da paz com justiça a nível local,
nacional e internacional
q) A interdependência dos países e povos e os
processos de exploração dos países ricos do Hemisfério Norte sobre os do Sul
Sinais de Apoio
Apoio engajado e consciente ao pequeno
agricultor e à pequena indústria, dentro da perspectiva de um modelo simples de
vida, decorrente do próprio Evangelho. Por isso apoiar:
a)
Movimentos
Populares, associações de bairro, órgãos de classe, sindicatos dos
trabalhadores rurais, cooperativismo sadio.
b)
Projeto de CAPA
(Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor), LACHARES, grupos em defesa da
ecologia e ambiente natural
c)
Movimentos no
espírito de não violência
d)
As prioridades de
ação da IECLB e confessionalidade luterana
Estas decisões, como também as dos outros concílios dos anos
80, nunca foram encaminhadas e nem fiscalizadas pela Casa Grande para ver se
estão sendo implementadas por serem decisões conciliares. Nunca nenhum Feitor a
mando da Casa Grande estalou a chibata para lembrar à Senzala que é fundamental
a execução dessas decisões conciliares.
Por que não? Por que a lei no Brasil para aquele molusco marinho, a lula,
tem outro valor que para aquele gato Angorá, simples assim. Como diria o velho
lutador Brizola: Os interésses são outros. Outro dirá, mas isso foi há mais de
30 anos atrás! Bem, o Evangelho de Jesus Cristo é bem mais antigo e nem por
isso deixa de ter validade! O que joga aqui são os interésses de classe, ponto.
A teologia, na prática, no Engenho Colonial está subjugada a esses interésses
de classe, da classe capitalista adoradora do deus capital com máscara de Jesus
Cristo. Ai do habitante da Senzala que gritar em alto e bom tom: Fora Temer
golpista! Vai para o tronco.
O Projeto de Igreja da Casa Grande e Senzala usa os
habitantes da Senzala para o mútuo controle de um mecanismo de repressão que
eufemisticamente é chamado de Visitação em nosso Sínodo (O Dicionário diz: Eufemismo
é uma figura de linguagem que emprega termos mais agradáveis para suavizar uma
expressão.): Vistoria de produtividade e averiguação de fidelidade ao Projeto
do Engenho Colonial cujos proprietários privados são a pequena burguesia
conservadora. Chamar a Avaliação de Visitação é que nem chamar a cachaça de
pinga. Muda o nome, mas o efeito tonteador e alienante é o mesmo. Isso se
chama: manipulação. Me engana que eu gosto! O problema é que tem muito
habitante da Senzala que gosta de ser enganado, se sente bem melhor assim,
iludido e lascado. Estou oficialmente convidando os habitantes iludidos e ingênuos
da Senzala que fazem parte de uma dessas ‘Equipes de Visitação” para se retirar
da Equipe de Visitação e assim boicotar essa lei repressiva. Permanecer numa
dessas equipes é legitimar a repressão eclesiástica e o sistema da
Reestruturação imposta pelos donos e acionistas da Colônia com a ajuda de
alguns ingênuos e inocentes úteis da Senzala. Ninguém é obrigado a permanecer
numa dessas “Equipes de Visitação”. Usa-se o mito de que a Visitação não tem
nada a ver com a renovação ou não do “livre contrato de trabalho” chamado de
TAM.
O
mito, por exemplo, de que a ordem opressora é uma ordem de liberdade. De que
todos são livres para trabalhar onde queiram. Se não lhes agrada o patrão,
podem então deixá-lo e procurar outro emprego. O mito de que esta
"ordem" respeita os direitos da pessoa humana e que, portanto, é
digna de todo apreço. O mito de que todos, bastando não ser preguiçosos, podem
chegar a ser empresários - mais ainda, o mito de que o homem que vende, pelas
ruas, gritando: "doce de banana e goiaba" é um empresário tal qual o
dono de uma grande fábrica. ... O mito
de que as elites dominadoras, "no reconhecimento de seus deveres",
são as promotoras do povo, devendo este, num gesto de gratidão, aceitar a sua
palavra e conformar-se com ela. O mito de que a rebelião do povo é um pecado
contra Deus. O mito da propriedade privada, como fundamento do desenvolvimento
da pessoa humana, desde, porém, que pessoas humanas sejam apenas os opressores.
O mito da operosidade dos opressores e o da preguiça e desonestidade dos
oprimidos. O mito da inferioridade "ontológica" destes e o da
superioridade daqueles. Todos estes mitos e mais outros que o leitor poderá
acrescentar, cuja introjeção pelas massas populares oprimidas é básica para a
sua conquista, são levados a elas pela propaganda bem organizada, pelos
slogans, cujos veículos são sempre os chamados "meios de comunicação com
as massas". Como se o depósito deste conteúdo alienante nelas fosse
realmente comunicação. (Paulo Freire. Pedagogia do Oprimido. 3ª ed. Paz e
Terra. Rio de Janeiro. 1975, p. 163-164)
A “Visitação”, segundo dizem os Feitores, diretamente não
tem ligação com a renovação do TAM (“livre contrato de trabalho” que passa a
ilusão de ter a liberdade de escolher o patrão ou morrer de fome), mas
realmente tem (pergunte isso aos donos e acionistas do Engenho Colonial que não
deixam de fazer essa relação) como expõe um habitante da Senzala num e-mail:
“Estou naquela época triste: renovação do TAM. Desde
novembro sofro com o terrorismo realizado por algumas lideranças e, obviamente,
minha família sofre junto.
Também, mesmo por isso, a pergunta que não quer calar é quem
é o patrão dos ministros e ministras? As lideranças entendem o TAM como um
contrato de trabalho, e, sendo assim, que estas são os patrões, já que pagam o
"salário do pastor". Na verdade, por mais que tenha buscado, esta
questão não tem sido respondida satisfatoriamente por ninguém. Muitos chegam a
tanger a questão, mas ninguém a diz claramente.
Da mesma forma as comunidades e paróquias entendem com a
avaliação como sendo do ministro ou ministra, mas não do CAM.
Eu busco uma resposta clara, teológica, sobre estas questões
e pergunto se tu podes ajudar.”
Outro habitante da Senzala comenta o e-mail do colega:
“Deveríamos fazer um caderno de memórias de colegas
massacrados/as diante da unilateral regra do TAM.
Ainda: INCLUIR esse tema na agenda da nossa assembléia (da
APPI) de maio. E buscar relatos de colegas pra desmascarar a coisa.
Eu mesmo passei, assim como o ..., situação semelhante no
ano passado. Por causa de 2-3 pessoas num horizonte de 3 mil.”
Eu respondi ao colega da Senzala:
“Na verdade nós somos Terceirizados.
Somos contratados pela Empresa IECLB, pela ORDENAÇÃO, que
nos subloca para a Empresa Paróquia onde manda o Conselho Paroquial, composto
pela pequena burguesia conservadora (normalmente golpista), que nos paga, que é
o patrão verdadeiro. O patrão primeiro é só pró-forma, que legaliza a
Terceirização. Na Terceirização o peão está lascado (troquei o termo ofensivo à
boa moral e conduta por esse)! É o nosso caso. Ponto.
A IECLB é o caso mais avançado da modernização das leis
trabalhistas que o Congresso só agora está discutindo. A IECLB já usa essa
legislação há muitos anos. Somos capitalisticamente mais avançados que o
próprio capitalismo. Viva Nóis!
Pode chorar em alemão ou em chinês que não muda nada.
Pastores/as de toda IECLB uni-vos! Ou laquem-se! (na verdade
usei outro termo considerado chulo e de mau gosto, que vocês sabem qual é)
Lembre-se: PASTORES/AS, não ministros, que é o melhor
exemplo da subserviência da Igreja às leis do Estado burguês. Subserviência
legalmente nem necessária, mas a Igreja de tão pelega, que é, é mais realista
que o rei.”
Em nossa Senzala (Sínodo Uruguai – nome derivado do Distrito
Eclesiástico Uruguai, que nunca aceitaria tal manipulação, mas os tempos
capitalistas neoliberais são outros) a Avaliação recebeu outro nome, chama-se
Visitação (soa melhor e engana melhor), como forma de manipulação dos fatos e
da realidade. Na verdade é uma espécie de ópio para dopar os habitantes da
Senzala e deixá-los mais amigáveis e produtivos conforme os interesses dos
donos e acionistas do Engenho Colonial, que estão sempre muitos atentos a
qualquer som antigolpista não permitido e nem tolerado na Senzala nas
cerimônias religiosas oficiais. Sobre a manipulação ouçamos Paulo Freire
(escrevi – ouçamos – para você ler em voz alta para entender melhor esse
mecanismo ilusionista):
“Através
da manipulação, as elites dominadoras vão tentando conformar as massas
populares a seus objetivos. E, quanto mais imaturas, politicamente, estejam
elas (rurais ou urbanas) tanto mais facilmente se deixam manipular pelas elites
dominadoras que não podem querer que se esgote o seu poder. ... O apoio das
massas populares à chamada “burguesia nacional” para a defesa do duvidoso
capital nacional foi um destes pactos, de que sempre resulta, cedo ou tarde, o
esmagamento das massas. ... A manipulação se impõe nestas fases como
instrumento fundamental para a manutenção da dominação. ... Na “organização”
que resulta do ato manipulador, as massas populares, meros objetos dirigidos,
se acomodam às finalidades dos manipuladores enquanto na organização
verdadeira, em que os indivíduos são sujeitos do ato de organizar-se, as
finalidades não são impostas por uma elite. ... Insistindo as elites
dominadoras na manipulação vão inculcando nos indivíduos o apetite burguês do
êxito pessoal.” Paulo Freire. Pedagogia do Oprimido, p. 172-175
Por causa do “êxito pessoal” há no Engenho Colonial uma
coisa chamada Abono Local e Abono função. Os que tem mais êxito pessoal tem
melhor recompensa financeira. Alguns habitantes da Senzala suspeitam fortemente
que esses abonos são mecanismos de cooptação, para não dizer corrupção, usados
pelos donos e acionistas do Engenho Colonial para que não se questione a o Sistema
Colonial subimperialista alicerçado na propriedade privada dos meios de
produção. Mas, são meras suspeitas. Para os desinformados que vivem fora da
Senzala informo que os mecanismos de repressão eclesiásticos instituídos na
Senzala pelo EMO são o TAM, a Avaliação e o não voto no presbitério de alguns
habitantes da Senzala, para o habitante da Senzala saber sempre qual o seu
lugar, lugar de peão. Pois, temos os donos e acionistas do Engenho Colonial e
um Coordenador da Senzala, com direito ao voto (dividir para governar e
insuflar o ego de alguns habitantes da Senzala para se acharem que são escravos
melhores que os outros; hierarquia é bom para todo e qualquer sistema de
dominação), os outros são meros subalternos segundo as leis da Colônia,
subalterna ao Imperialismo estadunidense.
Onde a Colônia quer chegar com as leis repressivas? A função
dessas leis é impedir que os habitantes da Senzala façam aquilo para o qual foram
ordenados, pregar livre e puramente o Evangelho de Jesus Cristo no Engenho
Colonial e na Colônia. Não é muita contradição isso, ser ordenado para fazer o
que não se deve fazer e se por acaso fizer será severamente punido? As leis
repressivas têm esse papel de por o habitante da Senzala no seu devido lugar
para fazer apenas o que os donos e acionistas do Engenho Colonial permitem e
querem que faça. Portanto, nada de gritar fora golpistas, abaixo o capitalismo,
que é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino
de Deus. Também não pode o habitante da Senzala andar no meio do povão
organizado na luta pela reforma agrária e na luta contra a perda de direitos,
pois ele tem um compromisso apenas com as questões internas da produção do
Engenho Colonial. Nada de produzir na linha de produção bens simbólicos não
autorizados como revolução evangélica, reforma agrária, comunismo, reforma da
Igreja, etc. Nada de se meter onde não foi chamado. Por isso as decisões
conciliares dos anos 80 são tão subversivas e nunca foram implementadas pela
direção da Colônia porque mexem com o poder do Engenho Colonial, com a Colônia
e com o Império Colonial que manda na Colônia. Os habitantes da Senzala, o
Feitor e a Casa Grande apenas são parte de um sistema maior para viabilizar a
produção (de bens simbólicos) no Engenho Colonial conforme a demanda do Império
Colonial que manda na Colônia. Os donos e acionistas do Engenho Colonial querem
que os habitantes da Senzala apenas façam o seu trabalho para manter o Engenho
Colonial funcionando segundo os objetivos postos por estes que se enquadram nos
interesses do Império Colonial. Por isso os Documentos teológicos elaborados
pelos Concílios e Direção da Igreja no processo histórico da luta de classes
desse país devem ser ignorados e devidamente arquivados apenas para lembrança
histórica num futuro muito distante. Nada de elaborar um Projeto de Igreja conforme
a tradição teológica da Igreja, apenas viabilizar no Engenho Colonial o que
interessa aos donos e acionistas do Engenho Colonial. Participar de uma Equipe
de Visitação é legitimar todo o sistema no qual o Engenho Colonial está
inserido segundo os interésses do Império Colonial. O Tema do Ano de 2017 é na
verdade uma piada manipuladora porque a Igreja não quer nem de longe fazer
qualquer reforma séria em sua estrutura e em sua teologia (controlada pelos
donos e acionistas do Engenho Colonial a serviço do Império Colonial e
subsidiada legalmente pelos advogados conservadores que propõe a subserviência
ao Estado capitalista). A gente faz de conta que a Reforma é um compromisso
permanente da Igreja e se ilude com o passado glorioso, mas não se atreve a mexer
no presente opressivo. Reforma apenas no pavilhão da comunidade para aumentar o
espaço para poder fazer festas maiores e ganhar mais dinheiro para poder
aumentar o espaço do pavilhão para poder fazer festas maiores e ganhar mais
dinheiro para poder aumentar o pavilhão para poder fazer festas maiores e
ganhar mais dinheiro... Vocês sabem como continua indefinidamente o objetivo
central da maioria das comunidades. Mas, o objetivo da comunidade não é
participar do processo histórico revolucionário coletivo da construção do Reino
de Deus realizado por/em/com Jesus Cristo? Psiu, olha a chibata e o tronco!
Toda e qualquer dissidência legal a esse Projeto do Engenho
Colonial tem como resposta a chibata do Feitor, que representa a Casa Grande na
roça do Engenho Colonial a serviço do Império Colonial. Este é o papel do Feitor,
estalar a chibata para aumentar a produtividade e a subserviência da Senzala.
Nada de pessoal é o sistema! Um manda e outro obedece. Parece não haver mais
espírito de resistência ao Projeto de Igreja instalado pela direita pela
Reestruturação. Todos aceitam o papel que lhes foi imposto e se resignam a esse
papel e, pior, não se sonha e nem se tenta construir outro projeto além do
imposto. Antes da reestruturação havia muitas experiências pelos Distritos
afora que foram sufocadas pelo processo de Reestruturação. Hoje sobram muitos
destes sinais do Projeto Popular de Igreja, mas estão todos isolados, ilhados,
sem interconexão apesar dos sistemas eficientes de comunicação existentes hoje.
Hoje os/as pastores/as tem até medo de ler nos cultos e reuniões dos grupos da
paróquia os documentos da Direção da Igreja que denunciam a agressão aos
direitos do povo brasileiro pelo governo golpista a serviço do grande capital
internacional.
Portanto, nada de criar conflitos e muito menos mostrar os
conflitos de classe reinantes em nossa Colônia, que alguns subversivos na
Senzala insistem em chamar de luta de classes para acabar com a sociedade de
classes baseada na propriedade privada dos meios de produção para que tenhamos
uma sociedade igualitária de irmãos e irmãs, que num certo livro um elemento
(termo usado pela polícia para o criminoso preso) messiânico chama de Reino de
Deus. Tal conversê é altamente proibido na Senzala e muito menos no Engenho
Colonial, pois os donos e acionistas do Engenho Colonial ficam ouriçados e
aplicarão os mecanismos repressivos previstos no EMO e os habitantes
insubmissos da Senzala serão vendidos e transferidos para outro Engenho
Colonial, se é que algum ainda os queira! Pelourinho e chibata para os
insubmissos!
Frente à agressão da cruz, no processo histórico da luta de
classes, imposta pelo Estado e pelo Templo, Deus reagiu subversivamente ressuscitando
a Jesus Cristo e como conseqüência em Pentecostes o Espírito Santo cria uma
ação coletiva, a Igreja – Assembléia do Povo de Deus – com um projeto de
libertar o povo da opressão da sociedade de classes no processo coletivo
revolucionário da construção histórica do Reino de Deus pelo Cristo ressurreto,
presente no meio de nós. A Igreja (um coletivo) como construção coletiva de
resistência à sociedade de classes escravocrata (Rm 12.2) como resposta à
salvação dada por graça e fé num processo de construção de uma sociedade
igualitária de irmãos e de irmãs, cf. Gl 3.28. Foi para a liberdade que Cristo
nos libertou, diz Paulo em Gl 5.1. A fé luterana lembra: "E “a fé não
pergunta se há boas obras a fazer, sim, antes que surja a pergunta, a fé já as
realizou e sempre está a realizar”." (PEvC p. 184 e respectivamente OSel
8,133.11-13). "Que boas obras certamente e sem dúvida seguem a fé
verdadeira – quando, não é fé morta, e sim viva -, como fruto de boa
árvore". (Fórmula de Concórdia. Livro de Concórdia. 1980, p. 513) As boas
obras são o processo revolucionário de resistência à sociedade de classes
opressora no processo histórico de participação pela fé e pelo batismo da
construção coletiva do Reino de Deus construído com/em/por Jesus Cristo. A não
inserção nesse processo histórico da luta de classes denota que não há boas
obras como resultado da fé. A Igreja vira Religião (com a dinâmica de se acomodar
à sociedade de classes opressora) e deixa de ser Evangelho quando não se insere
no processo coletivo de resistência à sociedade de classes no processo de
participar da construção dessa nova sociedade que Jesus Cristo chama de Reino
de Deus. Quando pastores/as têm medo de serem claros (e o deixam de ser) em sua
pregação evangélica é porque a Igreja virou religião para se acomodar à
sociedade de classes capitalista e deixa de produzir os frutos da fé. A
Igreja-Evangelho é revolucionária e a Igreja-Religião é acomodadora a este
século (Rm 12.2). Walter
Benjamin em seu livro “O capitalismo como religião” fala da Igreja-Religião:
“No Ocidente, o capitalismo se desenvolveu como parasita do
cristianismo - o que precisa ser demonstrado não só com base no calvinismo, mas
também com base em todas as demais tendências cristãs ortodoxas -, de tal forma
que, no final das contas, sua história é essencialmente a história de seu
parasita, ou seja, do capitalismo”. (Walter Benjamin. O capitalismo como
religião. Boitempo. São Paulo. 2013, p. 23)
Cada um tem o seu papel no sistema do Engenho Colonial: tem
a Casa Grande, tem o Feitor e tem a Senzala e as leis feitas pela Casa Grande
na reunião dos donos e acionista do Engenho Colonial. Essa é a vontade de Deus!
Submetam-se! Caso contrário, outros Engenhos Coloniais progredirão mais que o
nosso e convencerão os habitantes de nosso Engenho a mudar de Engenho.
Essa submissão tem que ser rompida! Deus se fez classe
camponesa em Jesus de Nazaré, o Cristo, para nos libertar das dinâmicas
opressivas do Templo de Jerusalém e do Estado classista para pela fé participar
da construção do processo histórico revolucionário do Reino de Deus. Já fomos
salvos de graça pela fé então a salvação está garantida e por isso podemos nos
jogar nesse processo revolucionário coletivo de participar da construção do
Reino de Deus construído com/em/por Jesus Cristo contra o projeto da sociedade
de classes que está nos impondo o seu projeto de Igreja para manter e
reproduzir essa sociedade de classes capitalista que é um instrumento que o
diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus.
1 Jo 5.4 lembra: “porque todo o que é nascido de Deus vence
o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. A fé em Jesus
Cristo não admite a sujeição e submissão ao projeto do diabo que é o capitalismo
e ao seu projeto de Igreja que nos quer acomodar à sociedade de classes opressora.
Pior, nos submeter à religião do capitalismo metamorfoseado de evangelho de
Jesus Cristo. As pessoas vão ao culto para adorar o deus capital com máscara de
Jesus Cristo porque o Evangelho de Jesus Cristo não é permitido ali anunciar
clara e puramente porque ameaça os interesses do capital, caso contrário o/a
pastor/a vai para a rua da amargura. Chega de submissão subserviente ao deus
capital metamorfoseado de Jesus Cristo na Igreja! Abaixo o medo! Pelo direito e
a obrigação advinda da ordenação de poder pregar livre e puramente o Evangelho
na Igreja! Abaixo com as dinâmicas e os mecanismos eclesiásticos repressivos (visíveis
e invisíveis) que criam o medo em pregar livre e puramente o Evangelho na
Igreja e na sociedade!
1 Jo 4.18 “No amor não há medo antes o perfeito amor lança
fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está
aperfeiçoado no amor”.
Qualquer semelhança com a realidade é a mais pura verdade.
Fora Temer golpista!
Um abraço
Lobo
PS. Aos habitantes da Senzala comunico que vai haver uma
assembléia da APPI em São Leopoldo no prédio da OGA, Rua Sinodal, 50, Morro do
Espelho, no dia 16 de maio a partir da 9 horas da manhã. Como somos uma
entidade democrática a Casa Grande e os Feitores da Casa Grande também estão
gentilmente convidados, podem até trazer a chibata. Os Feitores o são por um
certo período depois voltam para a Senzala e sentirão a chibata democrática de
outro Feitor em suas costas. Tem alguns Feitores que conseguem subir na
hierarquia por meio de muita diplomacia, acordos, conchavos escusos e nunca
mais voltam para a fétida e escura Senzala. Para estes, voltar para a Senzala é
uma humilhação e um desprestígio insuportável. Isso se chama carreira
eclesiástica.
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