Para ler e rir, para não chorar.
O conto do Projeto de Igreja da IECLB
O projeto real de Igreja da IECLB não é aquele baseado em
seus Documentos Teológicos aprovados em Concílio (como os dos Concílios de
82-88) e documentos teológicos frente nossa realidade elaborados pela Direção
da Igreja (A Federação Sinodal é Igreja de Jesus Cristo no Brasil com todas as
consequências daí advindas para a proclamação do Evangelho neste País e para a
corresponsabilidade pela formação da vida política, cultural e econômica de seu
povo.), mas é a reprodução do Projeto da Casa Grande e Senzala.
Na CO de março vimos isso claramente, sem nos darmos conta
disso.
A prática da Direção da Igreja é reunir em março de cada ano
os/as pastores/as sinodais com a Presidência. Não se faz uma análise de
conjuntura do país e da Igreja, apenas se levanta o que vai pela IECLB, coisas
boas e ruins. É a aula de catequese anual para os/as pastores/as sinodais, que
tem a tarefa de aplicar o apreendido e conversado nos sínodos. Na CO de março
em nosso sínodo tivemos um exemplo disso. O repasse da “catequese” com os estalos
intercalados do som da chibata do Feitor.
A Casa Grande (Sr. dos Passos) reúne seus Feitores
(pastores/as sinodais) em março, para avaliar o progresso e o desenvolvimento
havido no Engenho Colonial (Paróquia), que têm a tarefa de estalar a chibata na
Senzala (CO) para que haja uma melhora na produtividade; pôr alguns habitantes
da Senzala no tronco ou no pelourinho como exemplo para o resto da Senzala,
para que se comporte, senão a chibata pega geral. CO, Conferência de
Obreiros/as – hoje denominada de CM – Conferência Ministerial, o nome se refere
ao gesto de subserviência ao Estado capitalista colonial com papel de repressão
sobre as classes subalternas; pastores/as agora não são mais pastores/as, mas
ministros/as porque a lei previdenciária assim nos denomina, segundo a
interpretação da assessoria jurídica conservadora da Colônia, que temos que ser
submissos à autoridade do Estado Capitalista; a subserviência ao capital não é
linda?
Não estou xingando a Casa Grande e os Feitores por serem
Feitores, eles são pessoas da Senzala com funções temporárias específicas, mas
quero apontar que o problema está no sistema. Todos são vítimas do sistema.
Temos que mudar o sistema, pois este coopta, aliena e desumaniza. O sistema se
chama Reestruturação, que é o resultado da luta de classes que ocorreu na
Colônia onde a direita conseguiu construir o seu Projeto de Igreja para barrar
o Projeto Popular de Igreja que estava em processo de construção iluminado pela
Teologia da Libertação nos Distritos Eclesiásticos, que por isso esta instância
foi eliminada da Estrutura por ser encarada como subversiva, insurgente e não
submissa aos interesses da direita a serviço do imperialismo estadunidense
(vide as privatizações dos anos 90 para saquear o país e acabar com o Estado
Nacional, o que foi retomado agora com o Golpe de 2016) por estar envolvida nas
lutas do povo, explorado pelo capital, por justiça e paz, que são as
características do Reino de Deus, juntamente com a alegria no Espírito Santo,
segundo Paulo, Rm 14.17. A direita (leigos/as e ministros/as conservadores
[aqui uso o termo ministro para distinguir dos pastores]) conseguiu moldar o
sistema conforme o projeto capitalista neoliberal em vigência nos ano 90 para
legitimar todo o processo de exploração classista existente. A esquerda ingênua
e burra porque não leu o que deveria ter lido (porque não aprendeu isso em seu
estudo de teologia) foi engabelada pelo processo de tomada de poder da direita
na Colônia. Agora temos esse sistema que se molda ao sistema maior, que é o
capitalismo imperialista que deu mais um passo no Brasil com o Golpe. A Colônia
não conseguiu nem dizer não ao golpe, apenas está reagindo com algumas cartas
contra as conseqüências do golpe. O que é muito pouco, pois faz-se necessário pôr
o povo na rua contra o golpe e seu projeto de retirada de direitos que atinge a
Grande Senzala brasileira. Só com cartas não se consegue enfrentar o golpe, tem
que viabilizar uma dinâmica de pôr o povo na rua e isso o sistema da
Reestruturação não consegue, pois está atrelado aos donos e acionistas do
Engenho Colonial. Esse desatrelamento só é possível com a derrubada do sistema
da Reestruturação, e os habitantes da Senzala amedrontados não se dispõem a
participar desse processo de construção de outro sistema, um sistema
democrático onde todos têm poder e não só a elite local, defensora do projeto
do capital. Essa elite precisa de um Engenho Colonial subserviente ao
Imperialismo Colonial. A Casa Grande nega-se a entender isso e com isso
fortalece o Imperialismo Colonial a partir da subserviência ao subimperialismo
aqui instalado. A luta da Senzala é conquistar a liberdade para poder pregar
puramente o Evangelho para a qual foi ordenada. Essa é a hilariedade da
realidade: a função do Engenho Colonial é viabilizar a pregação pura do
Evangelho que está proibido de ser feito pelos donos e acionistas do Engenho
Colonial porque isso ameaça o Império Colonial. O Engenho Colonial existe para
algo que não pode e não deve executar. Entenda essa contradição maluca! É claro
que isso não está escrito em nenhum lugar, mas é só tentar viabilizar essa
tarefa que a repressão vai cair no infeliz habitante da Senzala por parte do
Engenho Colonial que o colocará no tronco ou no pelourinho e ainda é capaz de
levar uns estalaços da chibata do Feitor.
Devido a isso os habitantes da Senzala se esvaem em ativismo
para se justificar, trabalhando de 10 a 14 horas por dia, como os escravos
obedientes o fazem, que resulta em doença, estresse, suicídio e burrice, porque
não tem mais tempo para ler e estudar. Devido à ameaça da chibata cada
habitante da Senzala procura se salvar e se esconder em seu Projeto Individual
de Igreja para poder sobreviver e se salvar da rua da amargura do desemprego e
da humilhação. Salvação individual, essa é a lógica do liberalismo capitalista.
Não se dando conta que quando mais isolado mais sozinho e vulnerável está nas
mãos dos donos e acionistas do Engenho Colonial, a pequena burguesia
conservadora do campo e da cidade (pequena burguesia da cidade: ACI, CDL, cooperativa
do agronegócio, Lions, Rotary, Maçonaria, profissionais liberais, pequenos
industriários e comerciantes; no campo: granjeiros, integrados à agroindústria,
médios proprietários de terra) com apoio de habitantes da Senzala vendidos aos
patrões, que se denominam pastores/as conservadores, desculpe ministros/as
conservadores/as. Como eu não sou ministro, mas pastor, sempre me confundo. Pastor/a
é um termo subversivo de resistência ao projeto de subserviência ao estado
capitalista que usa a Colônia para se reproduzir e perpetuar. O interessante é
que a Senzala assumiu e assimilou o termo ministro sem muita resistência e
reflexão. O termo ministro não foi adotado porque está na Bíblia, mas porque a
legislação previdenciária o usa. Como a Colônia, com a Reestruturação, virou
capacho do Imperialismo Colonial ela se enquadra sem questionar as idéias dos
advogados conservadores que estão dando a linha teológica da Estrutura
Colonial.
Outro dirá, mas, as leis repressivas (TAM, Avaliação) foram
aprovadas em Concílio! Acontece que nós vivemos no Brasil e no Brasil algumas
leis valem e outras nem tanto. Por exemplo: a lei para aquele molusco marinho,
a lula, tem um valor e interpretação diferente como para aquele felino, o gato,
especificamente do tipo Angorá (que oculta sua comida em lugares impróprios),
tem outro valor e interpretação. O que o felino Angorá pode fazer o molusco
lula não pode. Assim no Engenho Colonial algumas decisões conciliares são
encaminhadas e outras não são. As encaminhadas são as de interesse dos acionistas
e donas do Engenho Colonial, que pagam e por isso podem mandar, como as leis
repressivas, mas as decisões conciliares que desagradam aos acionistas e donos
do Engenho Colonial, porque vão contra seus interesses de classe, como as
decisões conciliares de 1982, não são viabilizadas, porque em sua Mensagem às
Comunidades e Conclusões propõe a subversão insurgente evangélica da construção
coletiva da revolução do Reino de Deus viabilizada por/em/com Jesus Cristo:
Mensagem
...Para que todos possam usufruir das dádivas do
Criador, agindo responsavelmente diante delas, propomos o seguinte:
- realizar campanha de ampla informação e
conscientização dos problemas agrários e urbanos:
- apoiar o agricultor na sua luta pela
permanência no campo:
- assumir e defender com responsabilidade
evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de
base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra,
bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de
atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas.
Conclusões
... Conscientização
1.
Ler e viver o
Evangelho de Jesus Cristo.
2.
Promover
consciência de que fé e vida são inseparáveis
3.
Promover
consciência de serviço (servir).
4.
Conscientização, a
nível pessoal e comunitário, em todos os níveis da igreja sobre:
a) O problema da terra (fundiário)
b) A situação do agricultor, mormente o pequeno e o
sem terra
c) Migração e suas causas. Êxodo rural.
d) A necessidade de fixar o agricultor na sua terra
e reverter o processo do êxodo
e) O Estatuto da Terra e os direitos e deveres do
homem do campo (agricultor)
f) O uso e trato responsável da terra
g) A necessidade de unir os pequenos
h) A necessidade de diversificar culturas agrícolas
i)
A distribuição mais
justa da riqueza nacional
j)
A situação e forma
de exploração dos assalariados
k) Os danos da macro-tecnologia
l)
A situação e
estruturação das cidades
m) Uma pastoral urbana da IECLB
n) Uma pastoral educacional na IECLB
o) O ambiente natural e as depredações que hoje
ocorrem
p) A necessidade da paz com justiça a nível local,
nacional e internacional
q) A interdependência dos países e povos e os
processos de exploração dos países ricos do Hemisfério Norte sobre os do Sul
Sinais de Apoio
Apoio engajado e consciente ao pequeno
agricultor e à pequena indústria, dentro da perspectiva de um modelo simples de
vida, decorrente do próprio Evangelho. Por isso apoiar:
a)
Movimentos
Populares, associações de bairro, órgãos de classe, sindicatos dos
trabalhadores rurais, cooperativismo sadio.
b)
Projeto de CAPA
(Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor), LACHARES, grupos em defesa da
ecologia e ambiente natural
c)
Movimentos no
espírito de não violência
d)
As prioridades de
ação da IECLB e confessionalidade luterana
Estas decisões, como também as dos outros concílios dos anos
80, nunca foram encaminhadas e nem fiscalizadas pela Casa Grande para ver se
estão sendo implementadas por serem decisões conciliares. Nunca nenhum Feitor a
mando da Casa Grande estalou a chibata para lembrar à Senzala que é fundamental
a execução dessas decisões conciliares.
Por que não? Por que a lei no Brasil para aquele molusco marinho, a lula,
tem outro valor que para aquele gato Angorá, simples assim. Como diria o velho
lutador Brizola: Os interésses são outros. Outro dirá, mas isso foi há mais de
30 anos atrás! Bem, o Evangelho de Jesus Cristo é bem mais antigo e nem por
isso deixa de ter validade! O que joga aqui são os interésses de classe, ponto.
A teologia, na prática, no Engenho Colonial está subjugada a esses interésses
de classe, da classe capitalista adoradora do deus capital com máscara de Jesus
Cristo. Ai do habitante da Senzala que gritar em alto e bom tom: Fora Temer
golpista! Vai para o tronco.
O Projeto de Igreja da Casa Grande e Senzala usa os
habitantes da Senzala para o mútuo controle de um mecanismo de repressão que
eufemisticamente é chamado de Visitação em nosso Sínodo (O Dicionário diz: Eufemismo
é uma figura de linguagem que emprega termos mais agradáveis para suavizar uma
expressão.): Vistoria de produtividade e averiguação de fidelidade ao Projeto
do Engenho Colonial cujos proprietários privados são a pequena burguesia
conservadora. Chamar a Avaliação de Visitação é que nem chamar a cachaça de
pinga. Muda o nome, mas o efeito tonteador e alienante é o mesmo. Isso se
chama: manipulação. Me engana que eu gosto! O problema é que tem muito
habitante da Senzala que gosta de ser enganado, se sente bem melhor assim,
iludido e lascado. Estou oficialmente convidando os habitantes iludidos e ingênuos
da Senzala que fazem parte de uma dessas ‘Equipes de Visitação” para se retirar
da Equipe de Visitação e assim boicotar essa lei repressiva. Permanecer numa
dessas equipes é legitimar a repressão eclesiástica e o sistema da
Reestruturação imposta pelos donos e acionistas da Colônia com a ajuda de
alguns ingênuos e inocentes úteis da Senzala. Ninguém é obrigado a permanecer
numa dessas “Equipes de Visitação”. Usa-se o mito de que a Visitação não tem
nada a ver com a renovação ou não do “livre contrato de trabalho” chamado de
TAM.
O
mito, por exemplo, de que a ordem opressora é uma ordem de liberdade. De que
todos são livres para trabalhar onde queiram. Se não lhes agrada o patrão,
podem então deixá-lo e procurar outro emprego. O mito de que esta
"ordem" respeita os direitos da pessoa humana e que, portanto, é
digna de todo apreço. O mito de que todos, bastando não ser preguiçosos, podem
chegar a ser empresários - mais ainda, o mito de que o homem que vende, pelas
ruas, gritando: "doce de banana e goiaba" é um empresário tal qual o
dono de uma grande fábrica. ... O mito
de que as elites dominadoras, "no reconhecimento de seus deveres",
são as promotoras do povo, devendo este, num gesto de gratidão, aceitar a sua
palavra e conformar-se com ela. O mito de que a rebelião do povo é um pecado
contra Deus. O mito da propriedade privada, como fundamento do desenvolvimento
da pessoa humana, desde, porém, que pessoas humanas sejam apenas os opressores.
O mito da operosidade dos opressores e o da preguiça e desonestidade dos
oprimidos. O mito da inferioridade "ontológica" destes e o da
superioridade daqueles. Todos estes mitos e mais outros que o leitor poderá
acrescentar, cuja introjeção pelas massas populares oprimidas é básica para a
sua conquista, são levados a elas pela propaganda bem organizada, pelos
slogans, cujos veículos são sempre os chamados "meios de comunicação com
as massas". Como se o depósito deste conteúdo alienante nelas fosse
realmente comunicação. (Paulo Freire. Pedagogia do Oprimido. 3ª ed. Paz e
Terra. Rio de Janeiro. 1975, p. 163-164)
A “Visitação”, segundo dizem os Feitores, diretamente não
tem ligação com a renovação do TAM (“livre contrato de trabalho” que passa a
ilusão de ter a liberdade de escolher o patrão ou morrer de fome), mas
realmente tem (pergunte isso aos donos e acionistas do Engenho Colonial que não
deixam de fazer essa relação) como expõe um habitante da Senzala num e-mail:
“Estou naquela época triste: renovação do TAM. Desde
novembro sofro com o terrorismo realizado por algumas lideranças e, obviamente,
minha família sofre junto.
Também, mesmo por isso, a pergunta que não quer calar é quem
é o patrão dos ministros e ministras? As lideranças entendem o TAM como um
contrato de trabalho, e, sendo assim, que estas são os patrões, já que pagam o
"salário do pastor". Na verdade, por mais que tenha buscado, esta
questão não tem sido respondida satisfatoriamente por ninguém. Muitos chegam a
tanger a questão, mas ninguém a diz claramente.
Da mesma forma as comunidades e paróquias entendem com a
avaliação como sendo do ministro ou ministra, mas não do CAM.
Eu busco uma resposta clara, teológica, sobre estas questões
e pergunto se tu podes ajudar.”
Outro habitante da Senzala comenta o e-mail do colega:
“Deveríamos fazer um caderno de memórias de colegas
massacrados/as diante da unilateral regra do TAM.
Ainda: INCLUIR esse tema na agenda da nossa assembléia (da
APPI) de maio. E buscar relatos de colegas pra desmascarar a coisa.
Eu mesmo passei, assim como o ..., situação semelhante no
ano passado. Por causa de 2-3 pessoas num horizonte de 3 mil.”
Eu respondi ao colega da Senzala:
“Na verdade nós somos Terceirizados.
Somos contratados pela Empresa IECLB, pela ORDENAÇÃO, que
nos subloca para a Empresa Paróquia onde manda o Conselho Paroquial, composto
pela pequena burguesia conservadora (normalmente golpista), que nos paga, que é
o patrão verdadeiro. O patrão primeiro é só pró-forma, que legaliza a
Terceirização. Na Terceirização o peão está lascado (troquei o termo ofensivo à
boa moral e conduta por esse)! É o nosso caso. Ponto.
A IECLB é o caso mais avançado da modernização das leis
trabalhistas que o Congresso só agora está discutindo. A IECLB já usa essa
legislação há muitos anos. Somos capitalisticamente mais avançados que o
próprio capitalismo. Viva Nóis!
Pode chorar em alemão ou em chinês que não muda nada.
Pastores/as de toda IECLB uni-vos! Ou laquem-se! (na verdade
usei outro termo considerado chulo e de mau gosto, que vocês sabem qual é)
Lembre-se: PASTORES/AS, não ministros, que é o melhor
exemplo da subserviência da Igreja às leis do Estado burguês. Subserviência
legalmente nem necessária, mas a Igreja de tão pelega, que é, é mais realista
que o rei.”
Em nossa Senzala (Sínodo Uruguai – nome derivado do Distrito
Eclesiástico Uruguai, que nunca aceitaria tal manipulação, mas os tempos
capitalistas neoliberais são outros) a Avaliação recebeu outro nome, chama-se
Visitação (soa melhor e engana melhor), como forma de manipulação dos fatos e
da realidade. Na verdade é uma espécie de ópio para dopar os habitantes da
Senzala e deixá-los mais amigáveis e produtivos conforme os interesses dos
donos e acionistas do Engenho Colonial, que estão sempre muitos atentos a
qualquer som antigolpista não permitido e nem tolerado na Senzala nas
cerimônias religiosas oficiais. Sobre a manipulação ouçamos Paulo Freire
(escrevi – ouçamos – para você ler em voz alta para entender melhor esse
mecanismo ilusionista):
“Através
da manipulação, as elites dominadoras vão tentando conformar as massas
populares a seus objetivos. E, quanto mais imaturas, politicamente, estejam
elas (rurais ou urbanas) tanto mais facilmente se deixam manipular pelas elites
dominadoras que não podem querer que se esgote o seu poder. ... O apoio das
massas populares à chamada “burguesia nacional” para a defesa do duvidoso
capital nacional foi um destes pactos, de que sempre resulta, cedo ou tarde, o
esmagamento das massas. ... A manipulação se impõe nestas fases como
instrumento fundamental para a manutenção da dominação. ... Na “organização”
que resulta do ato manipulador, as massas populares, meros objetos dirigidos,
se acomodam às finalidades dos manipuladores enquanto na organização
verdadeira, em que os indivíduos são sujeitos do ato de organizar-se, as
finalidades não são impostas por uma elite. ... Insistindo as elites
dominadoras na manipulação vão inculcando nos indivíduos o apetite burguês do
êxito pessoal.” Paulo Freire. Pedagogia do Oprimido, p. 172-175
Por causa do “êxito pessoal” há no Engenho Colonial uma
coisa chamada Abono Local e Abono função. Os que tem mais êxito pessoal tem
melhor recompensa financeira. Alguns habitantes da Senzala suspeitam fortemente
que esses abonos são mecanismos de cooptação, para não dizer corrupção, usados
pelos donos e acionistas do Engenho Colonial para que não se questione a o Sistema
Colonial subimperialista alicerçado na propriedade privada dos meios de
produção. Mas, são meras suspeitas. Para os desinformados que vivem fora da
Senzala informo que os mecanismos de repressão eclesiásticos instituídos na
Senzala pelo EMO são o TAM, a Avaliação e o não voto no presbitério de alguns
habitantes da Senzala, para o habitante da Senzala saber sempre qual o seu
lugar, lugar de peão. Pois, temos os donos e acionistas do Engenho Colonial e
um Coordenador da Senzala, com direito ao voto (dividir para governar e
insuflar o ego de alguns habitantes da Senzala para se acharem que são escravos
melhores que os outros; hierarquia é bom para todo e qualquer sistema de
dominação), os outros são meros subalternos segundo as leis da Colônia,
subalterna ao Imperialismo estadunidense.
Onde a Colônia quer chegar com as leis repressivas? A função
dessas leis é impedir que os habitantes da Senzala façam aquilo para o qual foram
ordenados, pregar livre e puramente o Evangelho de Jesus Cristo no Engenho
Colonial e na Colônia. Não é muita contradição isso, ser ordenado para fazer o
que não se deve fazer e se por acaso fizer será severamente punido? As leis
repressivas têm esse papel de por o habitante da Senzala no seu devido lugar
para fazer apenas o que os donos e acionistas do Engenho Colonial permitem e
querem que faça. Portanto, nada de gritar fora golpistas, abaixo o capitalismo,
que é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino
de Deus. Também não pode o habitante da Senzala andar no meio do povão
organizado na luta pela reforma agrária e na luta contra a perda de direitos,
pois ele tem um compromisso apenas com as questões internas da produção do
Engenho Colonial. Nada de produzir na linha de produção bens simbólicos não
autorizados como revolução evangélica, reforma agrária, comunismo, reforma da
Igreja, etc. Nada de se meter onde não foi chamado. Por isso as decisões
conciliares dos anos 80 são tão subversivas e nunca foram implementadas pela
direção da Colônia porque mexem com o poder do Engenho Colonial, com a Colônia
e com o Império Colonial que manda na Colônia. Os habitantes da Senzala, o
Feitor e a Casa Grande apenas são parte de um sistema maior para viabilizar a
produção (de bens simbólicos) no Engenho Colonial conforme a demanda do Império
Colonial que manda na Colônia. Os donos e acionistas do Engenho Colonial querem
que os habitantes da Senzala apenas façam o seu trabalho para manter o Engenho
Colonial funcionando segundo os objetivos postos por estes que se enquadram nos
interesses do Império Colonial. Por isso os Documentos teológicos elaborados
pelos Concílios e Direção da Igreja no processo histórico da luta de classes
desse país devem ser ignorados e devidamente arquivados apenas para lembrança
histórica num futuro muito distante. Nada de elaborar um Projeto de Igreja conforme
a tradição teológica da Igreja, apenas viabilizar no Engenho Colonial o que
interessa aos donos e acionistas do Engenho Colonial. Participar de uma Equipe
de Visitação é legitimar todo o sistema no qual o Engenho Colonial está
inserido segundo os interésses do Império Colonial. O Tema do Ano de 2017 é na
verdade uma piada manipuladora porque a Igreja não quer nem de longe fazer
qualquer reforma séria em sua estrutura e em sua teologia (controlada pelos
donos e acionistas do Engenho Colonial a serviço do Império Colonial e
subsidiada legalmente pelos advogados conservadores que propõe a subserviência
ao Estado capitalista). A gente faz de conta que a Reforma é um compromisso
permanente da Igreja e se ilude com o passado glorioso, mas não se atreve a mexer
no presente opressivo. Reforma apenas no pavilhão da comunidade para aumentar o
espaço para poder fazer festas maiores e ganhar mais dinheiro para poder
aumentar o espaço do pavilhão para poder fazer festas maiores e ganhar mais
dinheiro para poder aumentar o pavilhão para poder fazer festas maiores e
ganhar mais dinheiro... Vocês sabem como continua indefinidamente o objetivo
central da maioria das comunidades. Mas, o objetivo da comunidade não é
participar do processo histórico revolucionário coletivo da construção do Reino
de Deus realizado por/em/com Jesus Cristo? Psiu, olha a chibata e o tronco!
Toda e qualquer dissidência legal a esse Projeto do Engenho
Colonial tem como resposta a chibata do Feitor, que representa a Casa Grande na
roça do Engenho Colonial a serviço do Império Colonial. Este é o papel do Feitor,
estalar a chibata para aumentar a produtividade e a subserviência da Senzala.
Nada de pessoal é o sistema! Um manda e outro obedece. Parece não haver mais
espírito de resistência ao Projeto de Igreja instalado pela direita pela
Reestruturação. Todos aceitam o papel que lhes foi imposto e se resignam a esse
papel e, pior, não se sonha e nem se tenta construir outro projeto além do
imposto. Antes da reestruturação havia muitas experiências pelos Distritos
afora que foram sufocadas pelo processo de Reestruturação. Hoje sobram muitos
destes sinais do Projeto Popular de Igreja, mas estão todos isolados, ilhados,
sem interconexão apesar dos sistemas eficientes de comunicação existentes hoje.
Hoje os/as pastores/as tem até medo de ler nos cultos e reuniões dos grupos da
paróquia os documentos da Direção da Igreja que denunciam a agressão aos
direitos do povo brasileiro pelo governo golpista a serviço do grande capital
internacional.
Portanto, nada de criar conflitos e muito menos mostrar os
conflitos de classe reinantes em nossa Colônia, que alguns subversivos na
Senzala insistem em chamar de luta de classes para acabar com a sociedade de
classes baseada na propriedade privada dos meios de produção para que tenhamos
uma sociedade igualitária de irmãos e irmãs, que num certo livro um elemento
(termo usado pela polícia para o criminoso preso) messiânico chama de Reino de
Deus. Tal conversê é altamente proibido na Senzala e muito menos no Engenho
Colonial, pois os donos e acionistas do Engenho Colonial ficam ouriçados e
aplicarão os mecanismos repressivos previstos no EMO e os habitantes
insubmissos da Senzala serão vendidos e transferidos para outro Engenho
Colonial, se é que algum ainda os queira! Pelourinho e chibata para os
insubmissos!
Frente à agressão da cruz, no processo histórico da luta de
classes, imposta pelo Estado e pelo Templo, Deus reagiu subversivamente ressuscitando
a Jesus Cristo e como conseqüência em Pentecostes o Espírito Santo cria uma
ação coletiva, a Igreja – Assembléia do Povo de Deus – com um projeto de
libertar o povo da opressão da sociedade de classes no processo coletivo
revolucionário da construção histórica do Reino de Deus pelo Cristo ressurreto,
presente no meio de nós. A Igreja (um coletivo) como construção coletiva de
resistência à sociedade de classes escravocrata (Rm 12.2) como resposta à
salvação dada por graça e fé num processo de construção de uma sociedade
igualitária de irmãos e de irmãs, cf. Gl 3.28. Foi para a liberdade que Cristo
nos libertou, diz Paulo em Gl 5.1. A fé luterana lembra: "E “a fé não
pergunta se há boas obras a fazer, sim, antes que surja a pergunta, a fé já as
realizou e sempre está a realizar”." (PEvC p. 184 e respectivamente OSel
8,133.11-13). "Que boas obras certamente e sem dúvida seguem a fé
verdadeira – quando, não é fé morta, e sim viva -, como fruto de boa
árvore". (Fórmula de Concórdia. Livro de Concórdia. 1980, p. 513) As boas
obras são o processo revolucionário de resistência à sociedade de classes
opressora no processo histórico de participação pela fé e pelo batismo da
construção coletiva do Reino de Deus construído com/em/por Jesus Cristo. A não
inserção nesse processo histórico da luta de classes denota que não há boas
obras como resultado da fé. A Igreja vira Religião (com a dinâmica de se acomodar
à sociedade de classes opressora) e deixa de ser Evangelho quando não se insere
no processo coletivo de resistência à sociedade de classes no processo de
participar da construção dessa nova sociedade que Jesus Cristo chama de Reino
de Deus. Quando pastores/as têm medo de serem claros (e o deixam de ser) em sua
pregação evangélica é porque a Igreja virou religião para se acomodar à
sociedade de classes capitalista e deixa de produzir os frutos da fé. A
Igreja-Evangelho é revolucionária e a Igreja-Religião é acomodadora a este
século (Rm 12.2). Walter
Benjamin em seu livro “O capitalismo como religião” fala da Igreja-Religião:
“No Ocidente, o capitalismo se desenvolveu como parasita do
cristianismo - o que precisa ser demonstrado não só com base no calvinismo, mas
também com base em todas as demais tendências cristãs ortodoxas -, de tal forma
que, no final das contas, sua história é essencialmente a história de seu
parasita, ou seja, do capitalismo”. (Walter Benjamin. O capitalismo como
religião. Boitempo. São Paulo. 2013, p. 23)
Cada um tem o seu papel no sistema do Engenho Colonial: tem
a Casa Grande, tem o Feitor e tem a Senzala e as leis feitas pela Casa Grande
na reunião dos donos e acionista do Engenho Colonial. Essa é a vontade de Deus!
Submetam-se! Caso contrário, outros Engenhos Coloniais progredirão mais que o
nosso e convencerão os habitantes de nosso Engenho a mudar de Engenho.
Essa submissão tem que ser rompida! Deus se fez classe
camponesa em Jesus de Nazaré, o Cristo, para nos libertar das dinâmicas
opressivas do Templo de Jerusalém e do Estado classista para pela fé participar
da construção do processo histórico revolucionário do Reino de Deus. Já fomos
salvos de graça pela fé então a salvação está garantida e por isso podemos nos
jogar nesse processo revolucionário coletivo de participar da construção do
Reino de Deus construído com/em/por Jesus Cristo contra o projeto da sociedade
de classes que está nos impondo o seu projeto de Igreja para manter e
reproduzir essa sociedade de classes capitalista que é um instrumento que o
diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus.
1 Jo 5.4 lembra: “porque todo o que é nascido de Deus vence
o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé”. A fé em Jesus
Cristo não admite a sujeição e submissão ao projeto do diabo que é o capitalismo
e ao seu projeto de Igreja que nos quer acomodar à sociedade de classes opressora.
Pior, nos submeter à religião do capitalismo metamorfoseado de evangelho de
Jesus Cristo. As pessoas vão ao culto para adorar o deus capital com máscara de
Jesus Cristo porque o Evangelho de Jesus Cristo não é permitido ali anunciar
clara e puramente porque ameaça os interesses do capital, caso contrário o/a
pastor/a vai para a rua da amargura. Chega de submissão subserviente ao deus
capital metamorfoseado de Jesus Cristo na Igreja! Abaixo o medo! Pelo direito e
a obrigação advinda da ordenação de poder pregar livre e puramente o Evangelho
na Igreja! Abaixo com as dinâmicas e os mecanismos eclesiásticos repressivos (visíveis
e invisíveis) que criam o medo em pregar livre e puramente o Evangelho na
Igreja e na sociedade!
1 Jo 4.18 “No amor não há medo antes o perfeito amor lança
fora o medo; porque o medo envolve castigo; e quem tem medo não está
aperfeiçoado no amor”.
Qualquer semelhança com a realidade é a mais pura verdade.
Fora Temer golpista!
Um abraço
Lobo
PS. Aos habitantes da Senzala comunico que vai haver uma
assembléia da APPI em São Leopoldo no prédio da OGA, Rua Sinodal, 50, Morro do
Espelho, no dia 16 de maio a partir da 9 horas da manhã. Como somos uma
entidade democrática a Casa Grande e os Feitores da Casa Grande também estão
gentilmente convidados, podem até trazer a chibata. Os Feitores o são por um
certo período depois voltam para a Senzala e sentirão a chibata democrática de
outro Feitor em suas costas. Tem alguns Feitores que conseguem subir na
hierarquia por meio de muita diplomacia, acordos, conchavos escusos e nunca
mais voltam para a fétida e escura Senzala. Para estes, voltar para a Senzala é
uma humilhação e um desprestígio insuportável. Isso se chama carreira
eclesiástica.
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