Título: A volta dos quartéis
Texto: Então, vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com
grande voz, falando a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos
para a grande ceia de Deus, para que comais carnes de reis, carnes de
comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e seus cavaleiros, carnes
de todos, quer livres, quer escravos, tanto pequenos como grandes. Ap 19.17-18
Achávamos em 2016 que o Golpe era apenas um Golpe
parlamentar-jurídico-midiático-empresarial, mas a fala do senador Jucá já
apontava para a questão central, os militares, que ele havia consultado para
derrubar a presidenta Dilma. Hoje sabemos que desde 2014 os quartéis estavam se
preparando para retornar à cena política e escolheram o Bolsonaro para os
representar. Usou-se a sua usual truculência para provocar a esquerda, as
mulheres, os negros, a comunidade LGBT para ganhar notoriedade na mídia – tudo
pensado. Ele, dentro do processo da recolonização da América Latina pelos USA
com auxílio do Instituto Atlas (braço civil da CIA), liberou e deu voz ao que
há de pior escondido no íntimo do ser humano: o ódio, a intolerância, o
racismo, o machismo, o preconceito contra a esquerda, o pobre, o indígena, o
negro e o povo nordestino.
Seguiram-se os seguintes passos para viabilizar o Golpe
militar pseudodemocrático nazi-fascista ultraliberal que o processo eleitoral legitimou:
1. Deposição da presidenta Dilma
2. Inviabilizar a candidatura do Lula
3. Eleger o Bolsonaro
Viramos novamente um satélite dos USA para facilitar o saque
de nossas riquezas e extorquir de forma mais eficiente o mais-valor produzido
pela classe trabalhadora.
Günter Adolf Wolff
Palmitos, SC
A seguir dois artigos reveladores:
" Sobre política, distração e destruição
O atual governo tem três núcleos:
1. O ideológico-diversionista.(presidente, seus filhos, Onix, os pentecostais e outros doidos soltos.)
Serve apenas para manter a moral da "tropa" em alta, dando representatividade e acomodação psicológica a quem realmente acredita que o Brasil é socialista, que existe ideologia de gênero ou que a terra é plana. Serve também para causar indignação e tristeza nos "progressistas" e, assim, desviar a atenção das questões centrais manejadas pelos núcleos 2 e, especialmente, pelo núcleo 3.. Pode também ser utilizado para criar bodes expiatórios: se algo der errado em qualquer setor dir-se-á que foi porque não houve "pulso" para combater a ameaça vermelha, os defensores dos direitos humanos ou os apologistas da ideologia de gênero. Basta trocar por outro mais moderado ou ainda mais alucinado, a depender das circunstâncias. Por mais que haja oportunismo, é importante que os recrutas desse núcleo acreditem nas coisas que dizem. É o exército de Brancaleone, mas causará muitos estragos.
2. O policial-jurídico-militar. (moro e os generais , o almirante e a PF)
Aqui não tem brincadeira e nem folclore. Acabou o circo. Gente profissional, que sabe operar a máquina repressiva. Vai garantir a materialidade das loucuras do núcleo 1 eliminando os críticos e dando corpo aos "inimigos da pátria", provavelmente por meio do processo penal. Mas também irá este núcleo abrir espaço para a concretização das medidas no núcleo 3. Aqui não tem arminha com o dedo. É arma de verdade. É cadeia. É destruição física e moral.
3. O núcleo econômico. (Guedes e os Chicago boys, o Santander cuidando do banco central)
Aqui está o nervo. Aqui a terra é redonda; não tem fala contra a globalização; ninguém acredita que exista socialismo no horizonte. Aqui a turma estuda, tem PHD e já leu Marx. Aqui "dinheiro não fede", podendo vir dos EUA, da China ou da Rússia. Os direitos trabalhistas, a previdência, a assistência social, a saúde e a educação irão para o vinagre a partir daqui e não pelas mãos da turma do "menino veste azul e menina veste rosa" (que baita distração, hein?). Daqui vem a ordem para por agrotóxico na comida, retirar terra de índio e quilombola, afrouxar licenciamento ambiental e garantir o sequestro dos bens públicos e do orçamento. O resto é tudo lateral. Depois de feito o trabalho, será até possível o núcleo 2 pegar mais leve. Até essa coisa de direitos humanos pode voltar. E assim o núcleo 1 se torna dispensável. Depois que tudo for (des)feito, pode vir uma pessoa "sensata", um liberal, uma versão made in Brazil do francês Macron para reestabelecer a "racionalidade", a "democracia" e o "estado de direito"."
Silvio Almeida- Professor FGV - presidente Instituto Luis Gama
“Nova democracia”: o plano do general Villas Bôas que levou Bolsonaro à presidência. Por Joaquim de Carvalho
Publicado por Joaquim de Carvalho
Jair Bolsonaro foi sincero quando disse, na posse do novo ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, que deve sua eleição ao general Eduardo Villas Bôas.
“Eu não precisava falar, mas hierarquia, disciplina e respeito é que fará (sic) do Brasil uma grande nação. Meu muito obrigado, comandante Villas Bôas. O que nós já conversamos morrerá entre nós, mas o senhor é um dos responsáveis por estar aqui. Muito obrigado mais uma vez”, disse.
Ao ouvir, Villas Bôas chorou, como mostra a imagem de TV.
A eleição de Bolsonaro é um plano que começou a ser arquitetado no Exército em 2014, quando se completaram 50 anos do golpe de 64.
A revelação é de uma reportagem publicada na prestigiada publicação Letra P, da Argentina, em outubro do ano passado, três dias antes do primeiro turno das eleições.
O enviado especial Marcelo Falak entrevistou um militar de alta patente, sob a condição de anonimato, e relatou, em detalhes, como o plano Bolsonaro foi preparado.
Segundo ele, na caserna, a eleição de Bolsonaro é definida como o primeiro passo de uma “nova democracia”.
E o que significa isso?
A fonte do Letra P explicou:
A ideia é testar uma “terceira via”, que é algo diferente de uma situação em que os militarem sejam cabeças de um regime próprio ou subordinados passivos a autoridades civis. Queremos ser aceitos como cidadãos. É por isso que estamos falando de uma nova democracia.
Nele, não deve haver restrição à participação de oficiais militares em cargos públicos.
Estamos nos esforçando para que a sociedade, a classe política e a imprensa se modernizem e parem de nos considerar cidadãos de segunda classe. Oficiais militares são pessoas muito qualificadas, somos competentes, conhecemos idiomas, temos pós-graduações. Nós devemos terminar com o fato de que nós não podemos ser ministros
Quando os militares começaram a conversar com Bolsonaro sobre este plano, a imagem do capitão da reserva não era uma unanimidade positiva entre os oficiais do Exército.
O general Ernesto Geisel, um dos ditadores pós-64, se referiu a ele como um “mau militar”, na entrevista que concedeu a um projeto de memória da Fundação Getúlio Vargas.
Em 1986, quando estava na ativa, Bolsonaro conseguiu espaço na revista Veja em que publicou um artigo para reivindicar aumento de salário e espinafrar o então ministro do Exército, Leônidas Pires Gonçalves.
Na gestação da “nova democracia”, a partir de 2014, os militares o teriam convencido de que precisava mudar.
“Ele mudou muito pessoalmente, casou com sua terceira esposa, teve uma filha e, algo que ninguém sabe, ele fez psicanálise por dois anos”, disse a fonte.
Mas a mudança que eles mais queriam era da visão sobre a economia.
Segue o que disse o militar de alta patente:
Bolsonaro estava aberto ao diálogo e, dia a dia, vimos que ele mostrava valores importantes, como disciplina, respeito e muita humildade. Ele aceitou nossas sugestões e mudou muitas de suas posições anteriores. Por exemplo, passou do nacionalismo econômico que anteriormente defendia ao liberalismo. Isso, o que é visto na campanha, foi o produto do diálogo que o Exército abriu com ele, não tem dúvidas.
O capitão Exército já chegou a ser um nacionalista extremado, quando andava ao lado de Eneas Carneiro, e falava sobre a necessidade de fortalecer as estatais.
Acertados os ponteiros, militares e Bolsonaro marcharam juntos, alicerçados na ideia de que os antigos partidos não eram o caminho para a volta dos militares ao poder.
A elite nunca se importou com a nação, desde a época do império. Ela só pensava em si mesma e nunca fazia o que o país precisava. Então, ficamos claros que os partidos do centro não se uniriam para enfrentar a esquerda.
Por isso, nessa entrevista, três meses antes de Bolsonaro relatar a existência da conversa entre ele e Villas Bôas que levará para o túmulo, a fonte declarou como estratégicas duas manifestações do comandante do Exército durante o ano de 2018.
Em abril do ano passado, na véspera do julgamento pelo STF do HC que poderia impedir a prisão de Lula, Villas Bôas publicou dois tuítes que podem ser considerados como ameaça aos ministros do Supremo.
Em setembro, na véspera do julgamento pelo TSE do registro da candidatura de Lula, ele concedeu entrevista para o Estadão para dizer que o Brasil não aceitaria a candidatura de um político enquadrado na lei da ficha limpa.
São manifestações golpistas, como lembra o enviado especial da publicação argentina, que seriam inadmissíveis no seu país, mas a fonte considera que não. Segundo ela, se Haddad tivesse vencido as eleições, assumiria.
Não porque as Forças Armadas gostariam, mas porque haveria pressão popular. “Em 64, não havia Facebook, o mundo era diferente. Um golpe não ocorrerá em nenhum caso, afirmou.
Então, quando pressionou as instituições democráticas, Villas Bôas estaria apenas blefando?
Lamentavelmente, o STF cedeu.
A ministra Rosa Weber era (e ainda diz ser) favorável ao princípio da presunção de inocência, isto é, contrária à prisão a partir de decisão de segunda instância.
Mas, no julgamento do HC, votou contra, numa manifestação confusa, em que ela começa dando inclinações de que atenderia ao pedido da defesa do ex-presidente, mas conclui com um cavalo de pau, em que coloca o princípio da colegialidade acima de sua convicção pessoal.
Na prática, foi a primeira vez em que a maioria aceitou perder para a minoria. Pelas manifestações dos ministros, havia, na ocasião, seis votos contra a prisão de segunda instância, e cinco a favor.
A concessão dessa importante entrevista a um jornalista da Argentina parece também indicar um movimento para que o exemplo brasileiro se espalhe pelo continente.
“Falamos sobre essas questões (a doutrina da ‘nova democracia’) com nossos colegas uruguaios, mas infelizmente não com as da Argentina, que ainda sentimos deprimidos demais. Eles têm um treinamento que é muito bom, mas a falta de apoio da sociedade significa que eles ainda não desenvolveram uma perspectiva política”, comentou o militar.
Na perspectiva da “nova democracia”, o adversário eleito é o PT, “a besta fera”. A fonte do Letra P admite que a bandeira do nacionalismo econômico agora é exclusividade dos petistas, mas, para ele, isso não é importante.
Se abandonaram a bandeira do nacionalismo, por que se mobilizaram tanto pela eleição de Bolsonaro como caminho para recuperar espaço no poder?
É uma questão relacionada ao sentimento dos militares que eram de média patente quando o movimento das diretas os mandou de volta aos quartéis.
Com Bolsonaro, contemporâneo deles na Academia Militar de Agulhas Negras, estão de volta.
E a tendência, como ocorreu a partir de 64, é que procurem ocupar cada vez mais espaço. Na época, se dizia que, depois de Castelo Branco, devolveriam o poder aos civis.
Isso não aconteceu.
E o Brasil mergulhou num período tenebroso, sem liberdade política e crise na economia, que terminou com uma recessão profunda (a base da chamada década perdida, a de 80) e com altos níveis de corrupção.
O país não pode permitir que esta tragédia se repita.
Já está em andamento, mas pode ser evitada.
O Brasil é muito maior do que a turma que se formou com Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras.
https://www.diariodocentrodomundo.com.br/nova-democracia-o-plano-do-general-villas-boas-que-levou-bolsonaro-a-presidencia-por-joaquim-de-carvalho/
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