Em memória do Nazareno, Pastor João Clemente Freitag,
falecido num hospital em Curitiba no dia 01/06/2021 quando do tratamento de um
câncer foi infectado pelo covid-19. O Nazareno foi o primeiro pastor da IECLB a
ser liberado pelo DE Uruguai para assessorar o Projeto de Acompanhamento ao MAB
dentro do DE Uruguai nos anos 80. Foi um tempo em que a repressão aos pastores
da IECLB não estava ainda institucionalizada como hoje pelas normas repressivas
aprovadas em Concílio numa tentativa de impedir a pura pregação da Palavra de
Deus como Lei e Evangelho o que ameaçaria a reprodução do capitalismo. Foi um
tempo que a IECLB ainda ouvia o grito dos empobrecidos e explorados e caminhava
com eles. Hoje a Igreja praticamente só ouve o grito da direita raivosa reacionária,
que quer jogar a Igreja nas trevas medievais da caça às bruxas, e se deixa
intimidar por ela.
Ítalo Calvino em ‘As cidades
invisíveis’ nos inspira com seu diálogo criado entre o Kublai Kan e o viajante veneziano
Marco Polo.
Kublai pergunta para Marco:
— Quando você retornar ao Poente, repetirá para a sua gente
as mesmas histórias que conta para mim?
— Eu falo, falo — diz Marco —, mas quem me ouve retém somente
as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua
bondosa atenção, outra é a que correrá os campanários de descarregadores e
gondoleiros às margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno,
outra ainda a que poderia ditar em idade avançada se fosse aprisionado por
piratas genoveses e colocado aos ferros na mesma cela de um escriba de romances
de aventuras. Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido.[1]
A sonoridade do relato
bíblico individual difere da sonoridade (interpretação) do relato coletivo da
Bíblia, pois a Bíblia foi escrita por um coletivo para ser lida
preferencialmente no coletivo (Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de
Deus, aos santos que vivem em Éfeso e
fiéis em Cristo Jesus, Ef 1.1), pois ali a interpretação é diferenciada e
múltipla, pois os pés dos ouvintes estão fincados em lugares sociais, étnicos,
de gênero e históricos diversos. O lugar social e histórico, a classe social, o
gênero e a cultura étnica dos ouvintes da Palavra condicionam a sua
interpretação. A sonoridade da narração bíblica para um capitalista europeu é
diferente da sonoridade (interpretação) da narração bíblica feita para um
coletivo camponês indígena aymara nos Andes da Bolívia e do Peru, que se pautam
pela visão de mundo do Sumak Kawsay, que desperta para uma consciência de que
somos filhos da Mãe Terra, da Pachamama, e toma consciência de que somos parte
dela, de que dela viemos e com ela nos complementamos e inclui a dimensão
solidária da comunidade humana; uma solidariedade sempre edificada sobre o respeito
pela diferença. Essa é uma Weltanschaung diferente da capitalista europeia,
baseada na Ditadura do Pensamento Único para legitimar e reproduzir a Ditadura
do Capital, que colonizou o Planeta pelas armas anulando fisicamente as
diferenças culturais pelo massacre genocida visando apenas o lucro individual
imediato e ilimitado a partir do qual a natureza é apenas uma mercadoria a ser
saqueada. Essas duas visões de mundo ancoradas em práticas diversas produzem
interpretações diferentes do texto bíblico.
Continua, no entanto,
fundamental ler e analisar todas as palavras escritas no texto bíblico e olhar
Por Trás da Palavra, como ensina Carlos Mesters. Tomemos o exemplo de Gn 11.1-9,
interpretado pelo P. Dr. Milton Schwantes[2]
a partir da periferia latinoamericana, onde mostra que a leitura da visão
europeia da Bíblia não lê todas as palavras e só fala da torre e não vê a
cidade, que era o problema, pois aqui significa Estado, que surge para defender
a propriedade privada da terra, a sociedade de classes e a exploração de
classe, tudo legitimado pelo templo controlado pelo Estado, que por sua vez é
controlado pelos proprietários privados da terra.
Vide ainda hoje como o
agronegócio - os donos privados da terra - (latifúndio, madeireiros, grileiros,
produtores e vendedores de máquinas agrícolas e de produtos químicos e venenos,
a cadeia de produção de carne [gado, suínos e frangos] junto com as empresas
que transportam os produtos do agronegócio e mineradores) é o grande
sustentáculo do bolsonarismo, como também o foi do governo de coalizão a partir
de 2003 até que a ingerência da CIA via empresariado local, a partir de 2013
dentro do processo de recolonoização da América Latina, interferiu para uma
virada para um neoliberalismo puro, que pariu a EC 55, congelou o salário
mínimo, fez a reformas trabalhista, previdenciária e administrativa, em
andamento, e privatizou grande parte do setor de energia (petróleo, energia
elétrica e água). Foram os mesmos votos da FPA que garantiram a deposição da
presidente Dilma que garantiram a permanência do presidente Temer no poder ao
evitar o seu impeachment. Agora o STF, que ajudou no Golpe de 2016, segundo o
senador Jucá, liberou o Lula para depor o Bolsonaro em 2022, pois o que o
empresariado quis com o Golpe já lhe foi concedido. O próximo presidente que se
vire com o lixo gerado e espalhado pelo país afora pelo bolsonarismo.
A visão européia da Bíblia só
pode ler Gn 11.1-9 acentuando a questão da torre e esquecendo a cidade porque
não integra em sua hermenêutica a leitura marxista da realidade que analisa a
história a partir da luta de classes. Schwantes[3]
escreve:
Uma interpretação dogmatizante parece ressurgir em meio tanto
à agonia quanto, contraditoriamente, ao revigoramento da leitura
histórico-crítica. Revive com entusiasmo uma leitura piedosa voltada com ênfase
para as experiências pessoais e interessada com vigor no aspecto simbólico dos
textos. A preocupação pela letra, numa interpretação fundamentalista, continua
hoje tão robustecida e ocasionadora de cismas eclesiásticos quanto no passado.
... Há muito que se
questiona o postulado da objetividade da interpretação exegética, afirmando-se
seu caráter existencial. Essa problemática exegética tradicional é aguçada e
profundamente reorientada em nossa realidade, resultando na pergunta: O que
significa se passamos a entender esta existência, que participa decisivamente
do processo hermenêutico, não como existência individualmente angustiada, mas
coletivamente oprimida e espoliada?
A torre (quartel, palácio,
templo, armazém) fica dentro da cidade e o texto diz que pararam de construir a
cidade e não fala mais da torre, porque o importante era a cidade. É a
linguagem (ideologia) da visão europeia que despreza a leitura marxista da
realidade e com isso não consegue enxergar o significado da cidade (Estado)
como mecanismo de exploração do campesinato. A linguagem única emburrece e faz
a classe explorada manter o sistema de exploração sobre ela. Deus destrói a
cidade e a torre (modo de produção tributário cujos malefícios Gn 47.13-26
descrevem) ao mudar a linguagem (ideologia, jeito de pensar) do campesinato. Na
torre “cujo tope chegue até aos céus” mora o rei que era considerado filho de deus
ou deus, é a divinização do Estado, como no caso do César no NT. A briga aqui é
contra o modo de produção tributário sustentado pela sociedade de classes
ancorada na propriedade privada da terra que tem no Estado o seu mecanismo
repressivo e legitimador. O que Gn 11.1-9 descreve acontece no relato de Js 8,
o fim do Estado e de sua origem, a propriedade privada da terra.
Os colecionadores dos relatos
do AT, a partir do lugar social da escravidão babilônica, estavam no lugar
social e histórico corretos ao colecionar os relatos, ordená-los,
interpretá-los e redigi-los para servirem de farol para as futuras gerações do
povo de Israel para que seus filhos e filhas não cometessem os mesmos erros que
os pais. No exílio babilônico esses escravos, antiga elite israelita junto com
os artesão especializados, tinham que responder a pergunta: porque Deus permitiu
que fossem deportados e eram obrigados a viver como escravos. Isso os obrigou a
rever a sua história e os obrigou a fazer uma releitura da história que
provocou uma releitura teológica de sua fé.
A coleção bíblica do AT é na
verdade uma reinterpretação dos escritos e dos fatos históricos da luta de
classes ocorrida para mudar o rumo e a perspectiva da história da luta de
classe do povo de Israel na escravidão babilônica. O lugar social e histórico
da escravidão babilônica ajudou o povo, agora escravo, a reencontrar o lugar
social de Javé e reescreveu os relatos existentes para novamente se inserir no
Projeto Global de Javé para a Humanidade. O AT é o relato de uma classe social,
a classe escrava, que fala da opção classista de Javé para apontar para o
Projeto Global de Deus para a Humanidade. A grande descoberta na avaliação dos
redatores do AT, a partir da luta de classes da escravidão da Babilônia, diz
que Javé deixou de ser um Deus étnico, local e nacional para ser um Deus da
Humanidade. Temos assim dois momentos importantes na história bíblica: o Êxodo
e o Exílio babilônico.
A história bíblica do AT aponta
dois momentos históricos fundamentais, o Êxodo,
quando Javé se revela à classe camponesa escrava no Egito e a escolhe para por
em marcha o seu Projeto da Terra Prometida que viabilizou uma sociedade não
classista nas montanhas da Palestina, e, o Exílio,
quando Deus se revela pela Palavra colecionada para chamar o povo ao
arrependimento ao fazer uma avaliação e uma releitura profundas da História, da
Profecia, da Lei e dos Salmos, como diz em 1 Sm 12.19: “a todos os nossos
pecados acrescentamos o mal de pedir para nós um rei”.
Os colecionadores dos relatos
(Evangelhos, Cartas, Apocalipse) sobre Jesus, o Cristo, também tinham os pés
fincados no lugar social dos explorados e oprimidos pela ditadura militar
escravocrata romana, pois esse é o lugar social do Javé feito pessoa em Jesus
de Nazaré, o Cristo, na classe camponesa explorada pelo Estado Romano e pelo
Templo de Jerusalém.
Kautsky[4]
diz que “No mundo antigo, particularmente no mundo romano, os artesãos eram
indivíduos miseráveis, trabalhando quase sempre sós, sem aprendizes, comumente
em casa dos fregueses, com material fornecido por este.” Isso lembra a vida
errante de Paulo vivendo como artesão e a vida do próprio Jesus de Nazaré, um
camponês artesão errante (Lc 9.58).
Kautsky[5] ainda
lembra que
Na antiguidade, a submissão tomava a forma de enfraquecimento
dos camponeses livres, oprimidos pelo serviço militar, por um barateamento da
força de trabalho, pela pressão de um fornecimento inesgotável de escravos, à
disposição dos possuidores de grandes recursos monetários, bem como pela usura,
de que falaremos mais tarde, todos fatores que reduzem a produtividade do
trabalho em vez de aumentá-la.
Tibério Graco falando da
realidade da plebe romana em 130 anos antes de Cristo diz (o que lembra Mt
8.20)
“Os animais selvagens da Itália têm suas covas e cavernas
onde descansar, mas os homens que lutam e morrem pela grandeza da Itália só
possuem a luz e o ar, pois isso não lhes pode ser tirado. Sem lar e sem lugar
onde abrigar-se, vagam de um lugar a outro com suas mulheres e filhos.”[6]
Isso aponta para Lucas 9.58
quando Jesus fala da realidade da vida dos empobrecidos, que era a grande massa
do povo, que viviam no Império Romano: “Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm
seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde
reclinar a cabeça”. Kautsky[7]
continua relatando que (isso lembra Lc 16.19-22; 1 Co 4.9-13; Mt 25.14-30; Mt
20.1-16; Mc 12.1-12; Mc 1.32-34; Lc 7.21-22)
Havia também multidões de cidadãos livres e escravos
libertos, camponeses empobrecidos, arrendatários arruinados e expulsos,
miseráveis artesãos urbanos e, finalmente, o lumpemproletariado das grandes
cidades, com a energia e a confiança própria do cidadão livre que chegara,
entretanto, a ser economicamente supérfluo na sociedade, sem lar, sem
segurança, dependendo exclusivamente das migalhas que os grandes senhores lhes
lançavam, movidos pela generosidade, pelo temor ou pelo desejo de paz. ... O
esgotamento das terras unido à falta de mão de obra, além do uso irracional do
trabalho, só podia resultar em uma constante redução no rendimento das
colheitas. ...
Apesar de tudo, no entanto, os encargos militares aumentavam,
e, finalmente, tinham de tornar-se cada vez mais insuportáveis, e efetuar a
destruição definitiva do Império Romano. A soma total dos encargos públicos
(pagamentos em espécie, pagamentos em serviço, impostos monetários) permanecia
a mesma ou aumentava, enquanto diminuíam a riqueza e a população. O indivíduo
arcava com uma carga imposta pelo Estado cada vez mais pesada. Todos buscavam
uma forma de transferir essa carga para ombros mais fracos; a maior parte dessa
transferência fazia-se na direção dos miseráveis colonos, e sua situação, já
lamentável, tornou-se tão desesperadora que provocou inúmeras sublevações, como
a dos colonos gauleses ...
Nos quatro séculos que transcorreram desde o estabelecimento
da autoridade imperial por Augusto até a migração dos povos, o cristianismo
tomou forma: nesse período, que começa com o nível mais alto alcançado pelo
mundo antigo; com a mais colossal e embriagante acumulação de riquezas e poder
em poucas mãos; com a miséria mais terrível atingindo escravos, camponeses
arruinados; artesãos e as camadas proletárias mais baixas; com as mais
violentas oposições e os mais terríveis ódios de classe; e que termina com o
aniquilamento completo de toda sociedade. ...
Além da escravidão existiam duas outras formas de exploração
na sociedade antiga, que também atingiram seu ponto culminante nos primórdios
do cristianismo, aguçando os antagonismos de classe e depois acelerando
progressivamente a destruição da sociedade e do Estado: a usura e a pilhagem
das províncias subjugadas pelo poder central.
Kautsky[8]
lembra um texto de Engels.
O cristianismo é, em sua origem, um movimento dos pobres como
a social-democracia, e ambos têm muitos elementos em comum conforme já
assinalamos.
Engels também se referiu a essa semelhança em um artigo
intitulado "Acerca da história do cristianismo primitivo", publicado
em Die Neue Zeit, escrito pouco antes de sua morte, indicando quão
profundamente se interessava por essa matéria naquele tempo e como para ele era
natural o paralelo apresentado em sua introdução a As lutas de classe na
França.
Esse artigo diz:
A história do cristianismo primitivo apresenta coincidências
notáveis com o moderno movimento operário. Ele foi, em sua origem, um movimento
dos oprimidos; surgiu primeiro como religião de escravos e libertos, dos
pobres, dos proscritos, dos povos subjugados ou que Roma dispersou. O
cristianismo e o socialismo pregam uma próxima redenção da servidão e da
miséria; o cristianismo imagina essa redenção em uma vida no além, no Céu,
depois da morte; o socialismo, neste mundo, por meio da transformação da
sociedade. Ambos são caçados e perseguidos, seus partidários são proscritos,
sujeitos a legislação especial, apresentados, em algumas situações, como
inimigos da humanidade, em outras, como inimigos da nação, da religião, da
família, da ordem social. E, a despeito de todas as perseguições, e favorecidos
por elas, ambos avançam irresistivelmente.
Friedrich
Engels, na Introdução à edição de 1895 de “As Lutas de Classes na França de
1848 a 1850”[9]
de Karl Marx, nos diz:
Faz hoje quase 1,6 mil anos que no Império Romano atuava
também um perigoso partido subversivo. Esse partido minava a religião e todos
os fundamentos do Estado; negava sem rodeios que a vontade do imperador fosse a
lei suprema; era um partido sem pátria, internacional, estendia-se por todo o
império desde a Gália à Ásia e mesmo para lá das fronteiras imperiais. Durante
muito tempo, minara às escondidas, sob a terra. Todavia, já há muito tempo que
se considerava suficientemente forte para aparecer à luz do dia. Esse partido
subversivo, que era conhecido pelo nome de cristãos, tinha também uma forte
representação no exército; legiões inteiras eram cristãs. Quando lhes ordenavam
que estivessem presentes nas cerimônias sacrificiais da igreja oficial, para aí
prestarem as honneurs [honras - francês] esses soldados subversivos levavam o
seu atrevimento tão longe que, como protesto, punham no capacete uns
distintivos especiais: cruzes. Mesmo os vulgares castigos dos quartéis pelos
seus superiores não surtiam qualquer efeito. O imperador Diocleciano já não
podia assistir tranquilamente ao minar da ordem, da obediência e da disciplina
dentro do seu exército. Interveio energicamente porque ainda era tempo para
isso. Emitiu uma lei contra os socialistas, queria dizer, uma lei contra os
cristãos. Foram proibidas as reuniões de subversivos, os locais de reunião
encerrados ou demolidos, os símbolos cristãos, cruzes etc., proibidos, como na
Saxônia os lenços vermelhos. Os cristãos foram declarados incapacitados para ocuparem
cargos públicos, e nem sequer podiam ser cabos. Como nessa altura não se
dispunha de juízes tão bem amestrados no que diz respeito à "consideração
da pessoa", como o pressupõe o projeto de lei contra a subversão" do
senhor Herr von Köller, proibiu-se sem mais rodeios os cristãos de defender os
seus direitos perante o tribunal. Mas até essa lei de exceção não teve êxito.
Os cristãos arrancaram-na dos muros, escarnecendo dela, e diz-se mesmo que
deitaram fogo ao palácio, em Nicomedia, nas barbas do imperador. Este se vingou
com a grande perseguição aos cristãos do ano 303 da nossa era. Foi a última no
seu gênero. E foi tão eficaz que 17 anos mais tarde o exército era composto
predominantemente por cristãos e o autocrata de todo o Império Romano que se lhe
seguiu, Constantino, chamado pelos padres o Grande, proclamou o cristianismo
religião de Estado.
Isso nos dá uma perspectiva
melhor para avaliar a vida do povo empobrecido que rodeava Jesus e pertencia à
primeira comunidade cristã. Deus escolheu esse povo destroçado pela exploração
de classe como alavanca de seu Projeto Global para a Humanidade, que Jesus
chama de Reino de Deus, e criou para isso um instrumento político partidário
revolucionário, a Igreja. Partidário, porque tomou lado e partido a partir e
com as classes subalternas. Somente as classes subalternas querem e por isso
tem essa força para, motivados pelo Evangelho, participar da construção da
revolução evangélica do Reino de Deus conduzida por/em/com Jesus Cristo para
eliminar a sociedade de classes para que todos sejam um em Cristo (Gl 3.28).
Por isso Javé escolheu a classe camponesa escrava no Egito, no NT radicalizou
ao se tornar classe camponesa em Jesus de Nazaré e a comunidade primitiva era
composta em sua maioria por não cidadãos: mulheres, escravos, artesãos,
estrangeiros, sem terra, sem casa, diaristas (1 Pe 1.1; 1 Co 1.28; 4.9-13).
Esse é o lugar social do Evangelho do Reino de Deus. Ali Deus tem os pés
fincados e a partir dali ele organiza e conduz a revolução evangélica do Reino
de Deus.
Somente um olhar sobre a
totalidade do Projeto de Deus para a Humanidade na Bíblia nos facilitará
entender o conteúdo das perícopes.
O materialismo dialético,
segundo Lukács[10],
pressupõe “a consideração de todos os fenômenos parciais como elementos do
todo”, “o domínio universal e determinante do todo sobre as partes”. A
“Dialética, em sentido restrito, é - diz Lênin - o estudo das contradições
contidas na própria essência dos objetos.”[11]
Bogo[12]
lembra que “A dialética, portanto, é a lógica de ver as coisas e o mundo no
encadeamento das contradições que avançam e regridem”. José Paulo Neto[13]
diz que "não vê a totalidade como a "soma das partes", mas, sim,
uma totalidade que se articula com "totalidades menores", movidas por
contradições internas ativas e mediadas pela estrutura particular de cada
totalidade." Segundo Enrique Dussel[14]:
"O método dialético consiste em situar a "parte" no
"todo", como ato inverso ao efetuado pela abstração analítica".
Segundo Lukács[15]
"A ciência burguesa - de maneira consciente ou inconsciente, ingênua ou
sublimada - considera os fenômenos sociais sempre do ponto de vista do
indivíduo. E o ponto de vista do indivíduo não pode levar a nenhuma totalidade,
quando muito pode levar a aspectos de um domínio parcial, mas na maioria das
vezes somente a algo fragmentário: a "fatos" desconexos ou leis
parciais abstratas.". Plekhânov[16]
lembra que “Hegel diz: "A contradição leva avante". E para esta
concepção dialética a ciência encontra uma confirmação notável na luta de
classes. Se não se leva em conta esta última, nada se pode compreender da
evolução da vida social e espiritual de uma sociedade dividida em classes.”
Duas contribuições nos ajudam
a entender o mundo (também o mundo do tempo bíblico) dividido em classes
sociais em permanente luta de classes, o que ajuda entender o mundo bíblico a
partir do modo de produção da época e suas lutas de classes, como no exemplo de
Gn 47.13-26, que explica como funciona o modo de produção tributário
(expropriação dos camponeses [dinheiro, gado, terra, corpo e consciência] e
tributo em forma de mercadorias), e Dt 6.20-23; Êx 3 que explicam a luta de
classes entre camponeses escravizados e a classe do Estado (Faraó, corte,
exército, sacerdotes):
“O modo de produção da vida material condiciona o processo da
vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência da pessoa que
determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a
sua consciência.” Karl Marx[17].
“... em cada época histórica a produção econômica e a
estrutura social que dela necessariamente decorre constituem a base da história
política e intelectual dessa época; que, consequentemente (desde a dissolução
da antiga posse em comum da terra) toda a história tem sido a história da luta
de classe, de luta entre classes exploradas e classes exploradoras, entre
classes dominadas e classes dominantes, nos diferentes estágios do
desenvolvimento social;” Friedrich Engels[18].
Os processos econômicos e
sócio-político-culturais daí decorrentes nos dão uma visão mais clara de nosso
mundo. Esses processos foram determinantes para a formação do texto bíblico
como mecanismo de resistência e elaboração de um novo projeto de vida e de
sociedade propostos por Deus para as classes subalternas. A Bíblia, a partir da
luta de classes de sua época, propõe um projeto de sociedade em oposição à
sociedade de classes da época e nos desafia hoje, a partir da fé em Jesus
Cristo e como frutos da salvação concedida por graça e fé, a construir outro
projeto de sociedade e de vida frente à sociedade de classes de hoje. No
passado como no presente a Bíblia propõe a construção de uma sociedade sem
classes, de pessoas livres e iguais. Isso requereu, no passado bíblico, o
enfrentamento da sociedade de classes e seus mecanismos de reprodução (Dt
6.20-23; Lc 4.16-21; 4.43) e requer também hoje o enfrentamento da sociedade de
classes capitalista.
A Igreja é um dos
instrumentos políticos usados por Deus para eliminar a sociedade de classes,
que é o oposto do Reino de Deus. Por isso a pequena burguesia, braço estendido
no grande capital no local, aliada a pastores reacionários se esforçam tanto em
controlar o que os/as pastores/as pregam e construíram todo um arcabouço
jurídico legal repressivo na Igreja para viabilizar essa censura da Palavra de
Deus. A todo o momento reafirmam que a Igreja não deve fazer política, enquanto
essa pequena burguesia aliada a pastores/as reacionários faz abertamente
política de direita, escondendo-se atrás de sua demagogia ao se dizerem neutros,
mas defendendo a política genocida do Bolsonaro. A Igreja junto com seus
pastores/as por serem ingênuos e ofuscados pela visão europeia de Deus e
capitalista da realidade não enxergam isso. Ou não enxergam ou estão amedrontados
e acovardados.
O Projeto de Deus na Bíblia é
maior do que a mera salvação individual proposta pela visão europeia de Deus
(que esconde a luta de classes existente e sua origem em nossa sociedade), mas
requer a salvação de toda a humanidade (Jo 6.39) dentro do processo histórico
da luta de classes na caminhada da construção de uma sociedade sem classes
sociais (Gl 3.28) a partir da eliminação da origem da sociedade de classes, a
propriedade privada dos meios de produção (Mt 19.16-22). A Bíblia é uma
resposta ao processo histórico da luta de classes para encaminhar a construção
de uma nova sociedade igualitária de pessoas livres e sem classes sociais. A
Bíblia deve ser lida neste contexto.
A Bíblia foi construída a
partir da Prática da luta de classes existente, como momento primeiro. Segue o
texto bíblico, como momento segundo, como a Teoria, que responde a essa luta
Prática, para apontar para uma nova Prática, como momento terceiro, que pode questionar
a Teoria e a aprofundar, para melhorar a Prática e a Teoria: Prática-Teoria-Prática=Práxis,
essa é a metodologia bíblica (Lc 24.13-34: os discípulos relatam os fatos
ocorridos [Prática], Jesus Cristo os ilumina com as Escrituras [Teoria] e os
discípulos reconhecem o Jesus ressurreto no partir do pão e voltam para
Jerusalém com uma nova Prática, não de fuga, mas de enfrentamento do sistema classista
opressor).
A Bíblia é uma totalidade
composta por duas totalidades: o AT e o NT, que por sua vez se compõem de
outras totalidades que são os livros que compõe cada Testamento, que por sua
vez são compostos por muitas outras totalidades que são as perícopes. Somente
entendemos corretamente as perícopes e os livros que compõem se temos uma visão
da totalidade do Projeto Global da Bíblia para a Humanidade.
A salvação se concretiza no
processo real de construção do Reino de Deus já agora até a volta de Cristo. A
salvação não se separa do processo revolucionário de construção coletiva do
Reino de Deus conduzido por Jesus Cristo, onde a nova criatura (2 Co 5.17) age
a partir da fé dentro do processo da revolução evangélica para eliminar a
sociedade de classes como fruto da fé e da salvação. A visão europeia-estadunidense
de Deus separa a salvação do Reino de Deus, na verdade quase não fala do
projeto central de Jesus Cristo, o Reino de Deus, por este ameaçar o reino
classista do mundo, hoje o capitalismo ou o joga para depois da morte. A visão
europeia-estadunidense de Deus concebe a salvação como um acontecimento privado
e individual desvinculado de um contexto coletivo revolucionário no qual a
pessoa salva se insere automaticamente como fruto da salvação lhe concedida por
graça e fé. É claro que existem muitos teólogos europeus e estadunidenses hoje que
não concebem a fé desta forma, somente os setores conservadores que utilizam a
fé cristã como aparelho ideológico para justificar o capitalismo imperialista.
Há também os ingênuos que foram treinados para pensar assim, que é a grande
maioria do povo.
A fé bíblica não se restringe
meramente à área privada (privatização da salvação), mas propõe um novo projeto
de sociedade sem classes sociais - Gl 3.28 - e consequentemente sem luta de
classes, sem Estado - Gn 11.1-9 -, sem Templo - Mq 3.12 - a partir da
eliminação da propriedade privada dos meios de produção, circulação e
distribuição pela proposta da auto-expropriação dos expropriadores - Mt
19.16-22; At 4.32-5.11 - como exigência da vida eterna e do discipulado de
Jesus Cristo. Marx[19]
fala do tema da expropriação assim:
À medida que diminui o número dos magnatas capitalistas que
usurpam e monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação,
aumentam a miséria, a opressão, a escravização, a degradação, a exploração;
mas, cresce também a revolta da classe trabalhadora, cada vez mais numerosa,
disciplinada, unida e organizada pelo mecanismo do próprio processo capitalista
de produção. O monopólio do capital passa a entravar o modo de produção que
floresceu com ele e sob ele. A centralização dos meios de produção e a
socialização do trabalho alcançam um ponto em que se tornam incompatíveis com o
envoltório capitalista. O invólucro rompe-se. Soa a hora final da propriedade
particular capitalista. Os expropriadores são expropriados. ... Antes, houve a
expropriação da massa do povo por poucos usurpadores, hoje, trata-se da
expropriação de poucos usurpadores pela massa do povo.
O processo de construção
coletiva do Reino de Deus conduzido por Jesus Cristo passa pela organização
política do povo de Deus, a Igreja, aliada a outros setores da sociedade, que
lutam pelo fim da sociedade de classes. A fé em Jesus Cristo não se restringe à
mera vivência, coerência e ação individual, mas conduz para o coletivo da
organização política, a Igreja, aliada ao Movimento Popular, Movimento
Específico – negros, indígenas e mulheres, Movimento Sindical, Partidos e ONGs
de esquerda dentro do processo de construção da revolução internacional (At
1.8) do Reino de Deus por/em/com Jesus Cristo no processo de eliminação do
reino do mundo, a sociedade de classes alicerçada na propriedade privada dos
meios de produção, circulação e distribuição sustentada pelo Estado classista
(1 Co 15.24).
Que visão de Deus e de mundo
nós herdamos? Herdamos a visão idealista cartesiana positivista liberal de Deus
e da realidade do homem (não da mulher), europeu, branco, proprietário privado,
rico, patriarca, racista, escravocrata, colonialista, capitalista, imperialista
de tradição judaico-greco-romana. Fomos ensinados e treinados a ver o mundo e a
Bíblia a partir dessa visão, que se entende como neutra e apolítica. Dentro
dessa visão somos idiótes (daí vem o
termo idiota), não cidadãos, não exercendo seus direitos de cidadania, como os politikós, que exercem seu direito de
cidadania O método histórico-crítico europeu (leitura dos textos originais
hebraicos e gregos, forma e gênero literário, crítica literária, crítica das
fontes, investigação do lugar vivencial do texto, a crítica redacional busca a
linguagem e o estilo do autor, pesquisa arqueológica, histórica, cultural
[tradições], religiosa e geográfica) ajudou muito na leitura, pesquisa e
interpretação da Bíblia para descobrir o que está Por Trás da Palavra, mas não
inclui a realidade, de hoje e do tempo bíblico, da luta de classes, do
entendimento dos processos da economia política (modos de produção dos tempos
bíblicos e de hoje), o materialismo histórico e dialético, como nos apontam
Marx e Engels, no processo de interpretação bíblica.
Nos atemos aqui aos conceitos de sociedade
desenvolvidos pelos gregos πολιτικός ≠ ιδιώτης. πολιτικός (politikós) ≠ (não é
igual) ιδιώτης (idiótes). O politikós
é o cidadão com todos os direitos (que era o homem escravocrata latifundiário,
proprietário privado) que atua na política, no espaço público ao participar da
assembléia (ekklesia) da cidade. O idiótes
é apenas um morador da cidade que não atua no espaço político, só no espaço
privado (os que não podiam atuar no espaço político eram os escravos, mulheres,
estrangeiros, sem terra, os não cidadãos). Daí vem o termo idiota, o alienado.
Só que os idiótes não podiam atuar no
espaço político porque eram não cidadãos nessa sociedade de classes greco-romana.
Pastor/a (a pessoa cristã) foi tornado um idiótes (idiota, não cidadão) na Igreja
e na sociedade para podar seu senso crítico que emana do Evangelho, para
impedir a pura pregação da Palavra de Deus como Lei e Evangelho e assim
reproduzir as dinâmicas do capital. Pastor/a é podado pela comunidade,
controlada pela pequena burguesia conservadora, que exerce a sua cidadania
plenamente nos partidos conservadores, em exercer seu direito de cidadão e
participar do processo político partidário, pois o pastor/a poderia se alinhar
à classe trabalhadora e camponesa, o que seria uma ameaça ao poder local desta
pequena burguesia pelo poder que o cargo de pastor carrega consigo:
credibilidade, mobilidade no meio do povo e platéia cativa (todo o fim de
semana e durante a semana o/a pastor/a tem em sua frente uma platéia garantida
espontaneamente, nenhum político tem isso). Por isso esse setor defende que a
Igreja, quer dizer o pastor/a, não deve se meter em política. Mas este setor
como Igreja faz política permanentemente dentro e fora da Igreja. Apenas não
pode correr o risco de que o/a pastor/a se envolva em partidos de esquerda e
atue no movimento popular e sindical o que desautorizaria essa pequena
burguesia conservadora em sua ação política de direita como Igreja.
Caso o/a pastor/a atue abertamente na
política com outro discurso que a pequena burguesia esta fica desautorizada em
seu discurso de direita, pois o/a pastor/a é visto como autoridade. Se esta
autoridade, o/a pastor/a, tem outro discurso que a pequena burguesia, que não é
vista como autoridade, ela fica em maus lençóis e desautorizada perante o povo,
que ela costuma iludir com seu discurso de direita. Por isso essa pequena
burguesia ardilosamente difunde o discurso que pastor/a, subentendido a Igreja,
não pode fazer política, pois isto desautorizaria o discurso ilusório e
mentiroso da direita. Pastor somente está autorizado a fazer política
partidária de direita e pode até ser candidato para prefeito e vencer eleições
com apoio desta pequena burguesia conservadora, pois estará reproduzindo o
discurso do capital, como foi o caso em Cunha Porã onde o pastor do Encontrão foi
candidato e se elegeu prefeito pelo MDB. Neste caso, segundo esta pequena
burguesia hipócrita, a Igreja não faz política, porque política de direita
sempre se pode fazer. Desde pequenos somos educados (treinados) para sermos idiótes (idiotas, alienados), não
cidadãos, apenas moradores da cidade que não participam do processo de
cidadania – para sermos idiotas e reproduzir o senso comum.
Pastor/a deve ser um intelectual orgânico
por causa do Projeto do Reino que parte da luta de classes para acabar com a
sociedade de classes pela prática da luta social. Normalmente pastor/a é
intelectual orgânico da burguesia ao se dizer neutro e apolítico e não
denunciar a sociedade de classes e não procurar desmontar esta sociedade de
classes. Igreja originalmente é intelectual orgânico coletivo dos empobrecidos,
dos malditos, dos das classes subalternas – classe trabalhadora, camponesa e
povos originários. A Igreja propõe outro projeto de sociedade e não tem a
tarefa de reproduzir a atual sociedade classista. Manter e reproduzir a
sociedade de classes é a tarefa do diabo e de seus asseclas.
Eis a tarefa da classe que pretende ser
dirigente: 1 – conquistar os intelectuais tradicionais e favorecer o descer do
muro porque eles têm força social, por exemplo, a Igreja; 2 – formar seus
intelectuais orgânicos (quadros), sacerdócio geral de todos os crentes (1 Pe
2.5, 9).
Foi a Teologia da Libertação surgida a partir da luta de classes da América Latina a partir dos
anos 1960 que começou a ler a Bíblia a partir do grito dos empobrecidos e
explorados pelo capitalismo (negros, indígenas, camponeses, sem terra,
posseiros, mulheres, LGBTQIA+, favelados, operários, movimento sindical e
movimento popular), num período em que a América Latina estava toda ocupada por
ditaduras militares projetadas e financiadas pelo imperialismo estadunidense,
que faz uso da visão europeia de Deus para se reproduzir. Por isso o
imperialismo estadunidense financiou as igrejas pentecostais e sua teologia,
adotada também por setores conservadores das Igrejas históricas, para se
propagarem pelos países dominados da América e da África para neutralizar outra
leitura que a capitalista da Palavra de Deus como Lei e Evangelho. Somente a
leitura capitalista da Bíblia tem validade, outra é tida como herética. Assim
temos a leitura capitalista (neo)colonialista imperialista da Bíblia e a
leitura não capitalista da Bíblia que parte do chão dos crucificados pelo
capital, lugar social de Jesus Cristo. Como diz no caderno Os estudos bíblicos
de um lavrador[20]:
O
Evangelho é que nem a cana. Dela se tira o açúcar e a cachaça. O açúcar faz bem
à saúde e dá gosto no alimento. Mas a cachaça embebeda, cria o vício da
embriaguez, faz a pessoa sair do seu juízo e desconhecer a realidade. Tem
pessoas que usam o Evangelho pra uma bebedeira. Usam o seu sumo, os seus ditos
pra fugir da realidade, não ver a injustiça nem a prática contrária da
sociedade. Desfazem da união dos fracos e apoiam os mais fortes no seu egoísmo.
Não enxergam a vida. Ficam como gente embriagada que até dizem coisas
verdadeiras, mas sem aquele sentido real. Com a pessoa que teima em ficar
somente com o livro e se tranca nele pode acontecer até que chegue a
enfraquecer na ideia. Aí o Evangelho deixa de ser uma boa nova, fica velho e
antigo, como semente mofada, porque não foi plantado dentro da vida da pessoa.
Pensando bem, aquilo nem Evangelho é porque fica só na conversa. O Evangelho é
mais antes aquela semente que está escondida lá dentro do coração de todos.
Os
nossos cuidados devem ser com a terra, não tanto com a semente. Se a gente
esforça para preparar bem a terra e capinar a tempo, a semente cresce sozinha.
Não adianta olhar diário a semente, nem mexer diário com ela, se a terra não
esta boa, falta adubo, ou tem aquele lençol de timbete (capim-amoroso).
Noutra
comparação, se pode pensar no sol, numa lua forte. Faltando luz, tudo entra na
escuridão e a gente não sabe mais onde pisa. Mas se tem um luzeiro bem forte e
a gente ficar fitando somente, dá o escuro nos olhos encandeia e não se enxerga
mais nada. A luz não é feita pra gente pregar os olhos nela, mas pra clarear o
lugar onde a gente está. O Evangelho é uma forte luz. Na claridade dele podemos
olhar a vida; aí ele nos faz enxergar. Mas, se fitarmos só o Evangelho, podemos
ficar encandeados.
A Igreja sempre é um
instrumento político a serviço da sociedade de classes ou em luta contra ela,
ela nunca é neutra e nem é apolítica. Ela é um instrumento político revolucionário
criado pelo Espírito Santo como instrumento político de luta contra a sociedade
de classes dentro do processo revolucionário evangélico de construção do Reino
de Deus por/em/com Jesus Cristo, que é uma sociedade não classista, democrática,
de pessoas livres, santas e irmãs no já agora na espera da volta de Cristo para
a ressurreição do corpo e da vida eterna.
O Documento de Santa Fé de
1980 ("Uma nova política interamericana para os anos 80", Comitê
Santa Fé) produzido por assessores do presidente Reagen reproduz a política
intervencionista e propõe o controle da teologia nas Igrejas da América Latina
como algo vital para a dominação imperialista estadunidense:
A América Latina é vital para os EUA: a projeção do poder
global dos EUA sempre se baseou em um Caribe cooperando e numa América do Sul
que nos apóie. Para os EUA o isolacionismo é impossível. A contenção da URSS
não é suficiente. A distensão é a morte. Somente os EUA podem, como sócios,
proteger as nações independentes da América Latina da conquista comunista e
ajudar a preservar a cultura hispano-americana de sua esterilização pelo
materialismo marxista internacional. Os EUA devem assumir a direção. Não
somente estão em perigo as relações dos EUA com a América Latina, mas a própria
sobrevivência de nosso país está em jogo. ... A guerra e não a paz é a norma
que rege os assuntos internacionais.[21] ... a
política externa dos Estados Unidos deve começar a neutralizar (não reagir) à
Teologia da Libertação, como é usada na América Latina pelo clero a ela
vinculado ... O papel da igreja na América Latina é vital para o conceito de
liberdade política. Infelizmente, as forças marxistas-leninistas passaram a
usar a Igreja Católica como uma arma política contra a propriedade privada e o
capitalismo produtivo, infiltrando a comunidade religiosa com ideias menos
cristãs e mais comunistas.[22]
Dentro dessa lógica
imperialista (“A guerra e não a paz é a norma que rege os assuntos
internacionais.”) a teologia do Encontrão, da MEUC, dos Herdeiros de Worms se
encaixam dentro da necessidade de se submeter à visão europeia-estadunidense de
Deus e da realidade juntamente com muitos outros setores conservadores da IECLB
que se alinham ao Bolsonaro. A reprodução dessa teologia imperialista estadunidense
é tão sutil e escondida que os próprios reprodutores não sabem que a
reproduzem. Se confrontar o pessoal do Encontrão, da MEUC e dos Herdeiros de Worms
com isso eles negarão veementemente que estejam sujeitos a essa teologia
esboçada pelo Documento de Santa Fé, mas na prática eles reproduzem essa
teologia. Essa é a genialidade da ideologia, a pessoa que a reproduz não sabe
que a reproduz. Os setores mais esclarecidos destes grupos o sabem, mas o
negam.
Outra visão de Deus é uma
ameaça à sociedade de classes e à sua reprodução. A Igreja é um espaço político
fundamental para a reprodução e perpetuação do capital como também como
instrumento de derrota do capital dependendo de sua visão de Deus e de
realidade. Uma leitura bíblica que leva em conta a realidade da luta de classes
não é desejada pelo imperialismo estadunidense. Muitos cristãos
latino-americanos desde os anos ’60 foram martirizados (perseguidos, presos,
torturados e assassinados) porque construíram outra visão de Deus em sua
prática de fé inserida na luta de classes dentro do processo de construção
coletiva do Reino de Deus conduzido por Jesus Cristo. Aqui no Brasil foi do
frei Carlos Mesters que surgiu a questão de olhar Por Trás da Palavra que
produziu várias metodologias de leitura bíblicas, a sociológica (olhar o lado
social, político, econômico e religioso no texto – leitura dos quatro lados), a
feminista, a negra, a indígena, etc.
A visão europeia de Deus está
embasada no
Idealismo - Deus está no
coração da pessoa, fé cristã como idéia e sentimento, a conversão do coração.
Cartesianismo - Uma coisa
está separada da outra, salvação individual desconectada do processo coletivo
de construção do Reino de Deus. Fé, negócios e política são coisas separadas.
Positivismo - Cada coisa
(matemática, geografia, ciência, história, filosofia, teologia, etc.) é neutra,
não tem ligação com outra e não sofre influência de outra.
Liberalismo - doutrina capitalista
baseada na defesa da liberdade individual, nos campos econômico, político,
religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do poder
estatal. Este é o pacote ideológico europeu que nos foi imposto para legitimar
e reproduzir o capitalismo.
Essa visão europeia de Deus e
da realidade se foca apenas no indivíduo para desfocar o processo de luta de
classes na qual a Igreja está inserida e desviar a atenção do Projeto Global de
Deus para a Humanidade que requer a eliminação da sociedade de classes. O
acento na conversão apenas do indivíduo sem apontar para a conversão
(revolução) de toda a sociedade ajuda a perpetuar a sociedade de classes que
Deus quer eliminar pelo processo da revolução evangélica do Reino de Deus
conduzida por Jesus Cristo.
No AT Deus conduz a Revolução
Agrária para implantar nas montanhas da Palestina um modo de produção sem
propriedade privada, pois a terra, meio de produção, estava sob controle
coletivo da tribo e por isso não havia Estado, nem classe sociais e nem templo,
que sempre é o instrumento de dominação ideológica estatal pela religião. No NT
é o Evangelho do Reino de Deus que propõe esse processo revolucionário de
construir coletivamente, pela organização política da Igreja e seus aliados,
esse novo modo de produção onde não há classes sociais, pois não há propriedade
privada (At 4.32-5.11). Segundo o NT o Estado foi o grande instrumento de
perseguição à Igreja que ameaçava o modo de produção escravista alicerçado na
propriedade privada da terra e da mão de obra. Gl 3.28 aponta para esse novo
modo de produção sem classes sociais e sem patriarcado. Não podemos ser um em
Cristo quando existe exploração e dominação de classe que perpetua o
patriarcado. A fé em Jesus Cristo e o batismo inserem nesse processo
revolucionário evangélico.
A Bíblia se compõe de livros
e por isso esses livros devem ser lidos e interpretados “como a racionalidade humana
costuma interpretar qualquer outro livro”, diz Flávio Schmitt[23].
A palavra "Bíblia" é de origem grega e significa: "livros";
é, na verdade, uma pequena biblioteca de 66 livros (73 livros na versão
católica) escrita por diversos autores a partir do processo da luta de classes
de sua época para explicar a realidade na qual se vivia e a realidade que se
buscava a partir do Projeto Global de Deus para a Humanidade.
A hermenêutica é uma disciplina filosófica e, no caso da Bíblia,
também teológica de interpretação de texto. Ela é o estudo sistemático e
criterioso de princípios que devem reger a busca pela interpretação
pretensamente "mais correta" ou "verdadeira" do texto
bíblico. Evidentemente, faz parte da filosofia hermenêutica discutir o que se
deve entender por "mais correta" ou "verdadeira"
interpretação. ...
As principais tarefas da exegese bíblica são: fazer a melhor
tradução possível dos textos originais; analisar o contexto linguístico,
semântico, sintático, e histórico do processo que produziu o texto; verificar o
sentido do texto na fidelidade da intenção de seu(s) autor(es) e/ou
redator(es); extrair o significado mais próximo da mensagem original que os
autores e redatores da Bíblia pretendiam comunicar.
Hermenêutica e exegese devem juntas ajudar a interpretar a
mensagem, na busca pela fidelidade ao texto, na intenção de seus autores e/ou
redatores originais, sem cair na arbitrariedade de interpretações que ora
desprezam a "letra" (o sentido literal) em nome do "espírito"
(sentido não literal) e por vezes negligenciam o "espírito" em nome
da "letra". Por isso, entender a Bíblia como Palavra de Deus é
compreendê-la primeiro como palavra vivida e só depois como palavra escrita.[24]
A Bíblia é o resultado da
inserção de Deus no processo histórico da luta de classes, portanto, primeiro
vem a prática da luta de classes na qual Javé se insere para acabar com a
sociedade de classes, que é fixada pelo texto bíblico, como momento segundo,
para se poder construir sob a condução de Deus o momento terceiro, que é a nova
prática na nova sociedade sem classes, que Deus propõe. Por isso é fundamental
entendermos todo o processo histórico da luta de classes e os modos de produção
existentes que ocorreram na humanidade para entendermos o texto bíblico e sua
proposta para hoje e para o futuro da Humanidade. Isso aponta que hoje a Igreja
primeiro precisa fazer uma análise da estrutura e conjuntura sob o capitalismo
– a prática – para que o texto bíblico possa iluminar essa prática e apontar
como seguir lutando para continuar inserido no Projeto de Deus hoje, que
continua sendo uma sociedade livre, sem classes, que Jesus chama de Reino de
Deus.
Na pregação a Igreja sempre
começa com o texto bíblico para depois apontar para a realidade. Segundo a
metodologia bíblica (Prática-Teoria-Prática) seria necessário começar a
pregação com a prática da luta de classes atual (análise da conjuntura sob o
capitalismo) para depois deixar o texto bíblico iluminar essa prática para que
possa surgir nova prática ou uma prática melhorada. O problema é que a Igreja
quase não está inserida na prática da luta de classes a favor e ao lado das
classes exploradas. As comunidades não estão inseridas em lutas concretas por
justiça e paz (Rm 14.17) por isso a pregação não inicia a partir da prática de
luta comunitária porque esta não existe. Por isso a pregação da Igreja inicia
pela Teoria – o texto bíblico – porque não participa da luta de classes com e ao
lado das classes exploradas, mas por causa de sua omissão a Igreja participa da
luta de classes ao lado e com a burguesia para fortalecer e reproduzir o
capitalismo, instrumento usado pelo diabo para tentar impedir o processo
revolucionário de construção coletiva do Reino de Deus conduzido por Jesus
Cristo. A Igreja ao não apoiar e nem se inserir nas lutas das classes
subalternas ela está optando pela classe dominante, dizendo-se neutra. A Igreja
acaba cedendo às pressões da pequena burguesia conservadora que administra a
Igreja a partir de suas bases com o argumento de manter a unidade da Igreja.
Com isso o grito dos explorados pelo capital não ecoa na Igreja, somente os
resmungos e protestos da pequena burguesia conservadora quando ela se sente
ameaçada pela prática evangélica dos setores marginalizados.
A Teologia da Libertação
surgiu porque neste contexto a Igreja estava inserida no processo histórico da
luta de classes com e ao lado das classes exploradas pelo capital. Isso ajudou
a Igreja a fazer uma releitura do próprio texto bíblico, pois estava com os pés
fincados em outro lugar social, o lugar dos explorados pelo capital. O lugar
social no qual se está ajuda ou atrapalha a leitura bíblica. A Igreja
normalmente está no lugar social dos empobrecidos, maioria do povo brasileiro,
mas quem a comanda é a pequena burguesia conservadora, braço estendido dos
interesses do grande capital em cada município, que impõe outra prática
teológica. É uma posição esquizofrênica: a Igreja é composta em sua maioria por
pessoas das classes subalternas, mas, por ser administrada pela pequena
burguesia do campo e da cidade, ela não se coloca do lado das classes
exploradas em suas lutas por justiça e paz. Muitas vezes esta pequena burguesia
conservadora está aliada ao clero conservador, o que piora a situação. Este
clero normalmente tem sua origem no campesinato empobrecido ou no operariado,
mas foi cooptado quando acha que não pertence mais à classe trabalhadora, mas é
classe média ou pensa que é supraclassista. O clero é um setor da sociedade que
pertence à classe trabalhadora porque vende a sua força de trabalho por um
salário para a Igreja. Como a Igreja fala em vocação e não em profissão então a
questão de classe social fica encoberta, mas assalariado pertence à classe
trabalhadora. Aí a maioria do clero por ignorância (porque não estudou o
marxismo) não sabe que pertence à classe trabalhadora opta por outra classe
social ou pensa que está acima das classes sociais e da luta de classes. Aí o
Evangelho é espiritualizado e desencarnado, com isso se ajuda a dominação da
classe capitalista sobre as classes subalternas. Aí o Evangelho vira religião
como ópio do povo.
Um esquema, como síntese,
para termos uma visão melhor sobre os três projetos expostos.
Projeto da Terra Prometida |
Projeto do Reino de Deus |
Capitalismo |
1. Sociedade sem propriedade privada dos meios de produção: a terra –
Lv 25.23; Sl 24.1; Nm 26.54-56 2. Sociedade sem Classes Sociais – Dt 15.4; Lv 25.23; Nm 26.54-56 3. Não há luta de classes porque não há propriedade privada da terra -
Nm 26.52-54; Lv 25.23 4. Sociedade sem Estado (Js 6-8; Gn 11.1-9) 5. Sociedade sem Templo (Js 8.30 somente altar), mas com a Lei e os
Profetas (Lc 16.16; Mt 7.12) 6. Poder Popular – Js 6-8; Js 24, Js 8.33 7. Assembleia Popular – Nm 27.1-11 8. Sociedade plural e livre - Gn 11.9; Js 8.33 9. Projeto societário utópico profético - Dt 18.9-22; Dt 34.10; Êx 7.1
“Então disse o Senhor a Moisés: Eis que te tenho posto como Deus a Faraó, e
Arão, teu irmão, será o teu profeta”. 10. Sacerdócio popular – levitas sem-terra são os guardiões da teologia
fiel à Javé a partir dos pobres Nm 18.24; Dt 18.1; 26.12 11. Revolução Agrária viabilizada pelo Movimento de Massas camponês
incentivada, planejada, organizada e comandada por Javé desde o Êxodo - Êx 3;
Js 6-8 |
1. Sociedade sem propriedade privada dos
meios de produção: a terra – At 2.42-47; Mt 19.21 2. Sociedade sem Classes Sociais – At
4.32-35; Gl 3.28 3. Não há luta de classes porque não há
propriedade privada dos meios de produção – Mt 22.37-40; At 4.32-35; Mt 19.21 4. Sociedade sem Estado – Ap 13; Lc
22.25-26; 1 Co 15.24 5. Sociedade sem Templo [Religião como ópio
do povo], mas com o Evangelho do Reino de Deus – Lc 16.16 – 1 Co 3.16; 2 Co
6.16; 1 Co 3.17: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá;
porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”. 6. Poder Popular reunido e exercido em
assembleia popular - At 6.1-6; At 15 7.
Igreja insurgente utópica profética - 1 Co 14.1 “Segui o amor; ... mas
principalmente o de profetizar” 8. Sociedade plural e livre - Mc 15.30,
40-41; Mt 21.43; Gl 3.28; Cl 3.11; 1 Co 9.19-22 9. Sacerdócio profético de pessoas pobres –
1 Co 14; 1 Co 4.9-13; At 18.1-4 Discípulos e apóstolos são pobres - Mt 19.27.
Os pobres são o vaso que guarda o tesouro do Evangelho. 10. Sacerdócio popular profético - 1 Pe
2.5,9; 1 Co 14.1-40; 4.1; Lc 1.2 11. Revolução do Reino de Deus iniciada por Jesus Cristo pelo Evangelho
a partir dos empobrecidos é internacional - Mc 1.15; Lc 4.43 |
1. Propriedade privada dos meios de produção, circulação e
distribuição como chave da organização social 2. Sociedade de classes 3. Luta de Classes 4. Estado a serviço do Mercado 5. Capitalismo como Religião Fetiche da mercadoria 6. Ideologia, Individualismo, Meritocracia, Pensamento único 7. Trabalho assalariado 8. Livre iniciativa – concorrência e competição 9. Ditadura do mercado geradora da pobreza e da riqueza 10. Anarquia da produção 11. Desemprego estrutural 12. Crises cíclicas, guerra e desemprego estrutural 13. Formas de governo: ditadura (civil ou militar) ou democracia
burguesa 14. Neocolonialismo, Imperialismo 15. Objetivo: Lucro ilimitado através do crescimento ilimitado pelo
processo de produção de mercadorias que gera o mais-valor e a especulação. Obs: Notamos que o Capitalismo nada tem de semelhante com os dois
outros projetos que são semelhantes |
Aqui outra comparação para
vermos as semelhanças e diferenças entre os projetos.
Capitalismo |
Reino de Deus |
Comunismo |
1. Propriedade
privada dos meios de produção, circulação e distribuição como chave da
organização social. 2. Sociedade de
classes: Classe Trabalhadora, Classe Camponesa, Classe Capitalista. 3. Luta de classe
permanente. 4. Estado aliado,
mantido e a serviço do Mercado. 5. Capitalismo como
Religião e Religião como legitimadora do capitalismo. Religião como interesse
privado. 6.
Ideologia, Fim da História, Individualismo, Meritocracia, Ditadura do
Pensamento Único para legitimar a Ditadura do Capital. 7. Trabalho
assalariado que produz o mais-valor para o capitalista. 8.
Livre iniciativa – concorrência e competição. 9. Ditadura do
mercado geradora da pobreza. 10. Crises cíclicas
para concentrar capital, desemprego estrutural, guerras, genocídio, colapso
planetário. 11. Anarquia da
produção 12. Desemprego estrutural 13. Formas de
governo: ditadura (civil ou militar) ou democracia burguesa. 14.
Neoliberalismo, Neocolonialismo, Imperialismo,
Liberdade de circulação internacional de capitais e de mercadorias, mas não
de pessoas empobrecidas. 15. Objetivo final:
Lucro ilimitado com crescimento ilimitado a qualquer custo (guerra,
genocídio, exploração ilimitada das pessoas e da natureza). 16. Colapso
planetário como resultado final. |
1.
Sociedade sem propriedade privada, mas coletiva dos meios de produção, circulação
e distribuição – At 2.42-47; Mt 19.21 (Nm 26.53-56; Dt
15.4: “para que entre ti não haja pobre”). 2.
Sociedade sem Classes Sociais – At 4.32-35; Gl 3.28; Cl
3.9b-11. 3. Não
há luta de classes porque a propriedade privada foi eliminada pelo amor a
Deus e ao próximo – Mt 22.37-40; At 4.32-35; Mt 19.21 – pela prática da vivência da Ceia do Senhor (Mc 14.22-25; Mt
26.26-29; Lc 22.15-20. 1 Co11.23-29) 4.
Sociedade sem Estado - Ap 13; 1 Co 15.24. 5.
Sociedade sem Templo [Religião como ópio do povo], mas com o Evangelho
revolucionário do Reino de Deus – Lc 16.16 – 1 Co 3.16; 2 Co 5.16; 1 Co 3.17
“Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário
de Deus, que sois vós, é sagrado”. 6.
Assembleia Popular e Poder Popular - At 6.1-6; At 15. 7. Sociedade plural e livre - Mc
15.30, 40-41; Mt 21.43; Rm 10.12; Gl 3.28; Cl 3.9b-11; 1 Co 9.19-22; Gl 5.1. 8. Sacerdócio
profético de pessoas pobres - 1 Co 4.9-13; 1 Co 14; At 18.1-4. Discípulos/as
e apóstolos/as são pobres - Mt 19.27 - para garantir a pureza da vivência e
da pregação evangélica (semelhante no AT [Nm 18.24; Dt 18.1; Js 14.4,7] onde
os levitas pobres controlavam a teologia). Os pobres são o vaso que guarda o
tesouro do Evangelho. 9. Igreja insurgente
utópica profética - 1 Co 14.1 “Segui o amor e procurai, com zelo, os dons
espirituais, mas principalmente que profetizeis”. 2 Pe 3.13; 1 Pe 2.5,9-10;
Ap 19.10: “Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia”. 10. Revolução do
Reino de Deus (ruptura com o velho) iniciada e continuada por Jesus Cristo
pelo Evangelho do Reino de Deus (Mc 1.15; Lc 4.43; 1 Co 15.24-26). 11. Vida
plena aqui e agora (Jo 10.10) e eterna (Rm 6.22). |
1. Sociedade sem propriedade privada dos meios de produção, circulação
e distribuição. 2.
Sociedade sem Classes Sociais. 3. Sociedade sem luta de classes. 4.
Sociedade sem Estado. 5. Religião como questão social e coletiva. Teoria revolucionária e movimento revolucionário. 6. Conselhos Populares de Operários, Camponeses, Soldados, Indígenas e
Quilombolas. 7. Poder Popular via Conselhos Populares de operários, camponeses,
soldados, indígenas e quilombolas. 8. Militância revolucionária de trabalhadores/as, camponeses e povos
originários. 9. Democracia Popular pluripartidária (com vários partidos comunistas)
com plebiscitos e referendos. 10. Revolução comunista viabilizada pelo Movimento de Massas
(proletário-camponês-indígena). 11. Sociedade
democrática, plural e livre. Aqui começa a História da Humanidade, pois
até aqui a humanidade viveu na barbárie da sociedade de classes. “As relações
burguesas de produção são a última forma antagônica do processo social de produção,
... Com esta formação social se encerra, portanto, a pré-história, da
sociedade humana.” MARX, Karl. Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia
Política”. |
Deus constrói seu Projeto
para a Humanidade na Bíblia dentro e a partir da sociedade de classes existente
em permanente luta de classes a partir e com as classes subalternas: a classe
camponesa, a classe escrava e os setores marginalizados da sociedade: mulheres,
estrangeiros, artesãos, não cidadãos, para construir uma sociedade sem classes
onde os meios de produção estão sob controle popular. A questão do controle dos
meios de produção é fundamental em qualquer sociedade, por isso no Documento de
Santa Fé diz: “as forças marxistas-leninistas passaram a usar a Igreja Católica
como uma arma política contra a propriedade privada e o capitalismo produtivo”.
O Evangelho pregado na Igreja está ameaçando a base da sociedade capitalista, a
propriedade privada e o capitalismo, diz em outras palavras esse documento. O
Evangelho é uma ameaça em potencial para o capitalismo imperialista.
A base da sociedade é a sua
forma de produção de mercadorias (para entender uma sociedade precisamos
entender o seu modo de produção da vida material, como, por quem e para que as
mercadorias são produzidas), por isso o controle sobre os meios de produção é
fundamental, quer dizer, quem vai controlar e como vai ser o controle sobre os
meios de produção? Vai ser um controle privado, o indivíduo, ou um controle
coletivo, a sociedade? Essa decisão vai condicionar a forma de ser da pessoa
individual. Deus opta pelo controle coletivo dos meios de produção (Nm
26.52-54) porque ele é o dono da terra, nós somos apenas posseiros (Lv 25.23),
por isso a terra (os meios de produção, circulação e distribuição) deve estar
disponível para todas as pessoas. No NT a questão do controle sobre os meios de
produção aparece em Atos 4.32-5.11; 2.42-47 e nos Evangelhos Mt 19.16-22; Mc
10.17-22; Lc 18.18-23 e nos textos da celebração da Ceia do Senhor, onde se
propõe partilhar tudo: 1 Co 11.17-34; Mt 26.30; Mc 14.22-26; Lc 22.14-20. Todos
terão acesso ao comer e ao beber quando tudo for partilhado, principalmente os
meios de produção. Sem a partilha radical dos meios de produção nem todas as
pessoas terão o que comer e o que beber, no sentido da explicação de Martim
Lutero do Pão nosso de cada dia no Catecismo Menor, o que contraria o cerne
teológico da celebração da Ceia do Senhor.
Isso lembra o Lula, que não é
comunista, mas propõe construir uma política governamental que garanta três
refeições diárias para todos os brasileiros, que é o mínimo que cada governo
deveria garantir. Essa proposta soa como uma ameaça mortal para a burguesia
brasileira de mentalidade escravocrata, pois isso só será possível se os meios
de produção estiverem sob controle popular, começando pela Reforma Agrária sob
controle popular. Nossa burguesia de mentalidade escravocrata não pode permitir
que todos os brasileiros comam três vezes ao dia. Isso é um fato democrático
impensável para quem quer as classes subalternas permanentemente ajoelhadas
pedindo um emprego com um salário mínimo desvalorizado. Não se consegue mais
empregada que durma no emprego, gritam as madames da burguesia. Aeroporto agora
é como se fosse rodoviária, clamam os cartazes em protesto nos bairros chiques.
Já ouvimos isso há dez anos atrás e precisamos de uma terceira via, grita a
burguesia hoje, quando olha para os candidatos a presidência que desfilam nas
pesquisas. O fantasma das três refeições continua presente no cenário atual,
para o desespero da burguesia e da classe média branca com formação
universitária que sai às ruas de verde e amarelo, fingindo patriotismo ao
querer de volta a ditadura. Se isso continuar, os pobres comerem três vezes ao
dia, essas classes subalternas vão poder pensar melhor e querer mais do que
isso, quem sabe construir o comunismo. Temos que cortar o mal pela raiz, dizem
os apavorados escravocratas.
O Lula é a esperança dos
pobres e a burguesia não tem ninguém para destacar como líder de massa. Por
isso Lula é tão odiado pela burguesia, apesar de não ser comunista, mas
socialdemocrata. Nas entrelinhas de sua proposta das três refeições está a
ameaça da socialização dos meios de produção: a terra, as fábricas, os bancos,
o grande comércio, a tecnologia, as máquinas. Nos anos ’80 quando os sem terra
do MST da Fazenda Annoni marchavam para Porto Alegre, exigindo Reforma Agrária,
o presidente da Farsul disse: “Não se pode dar terra para os sem terra, porque daqui
a pouco vão aparecer os sem fábrica e os sem banco”. Ele entendeu o perigo. A
Reforma Agrária é uma ameaça global ao capitalismo. Não dá para abrir exceções.
Por isso a Reforma Agrária foi excluída da Agenda. É uma ameaça ao capital,
pois legitima a desapropriação/expropriação de um meio de produção, a terra.
Daqui a pouco os sem fábrica vão querer desapropriar/expropriar as fábricas e
os sem banco desapropriar/expropriar os bancos. Vai que a moda pega!
A visão europeia de Deus
acentua que Javé é um Deus pessoal que fala sobre as questões existenciais individuais
com Abraão, com Hagar, com Moisés, com Davi, com os/as profetas. Mas nenhuma
pessoa é uma ilha, ela vive em sociedade e é condicionada por esta sociedade e
seu modo de produção da vida material, ela age e pensa conforme a organização
social dessa sociedade, como nos lembra Marx: “o seu ser social é que determina
a sua consciência”. O credo histórico do povo de Israel em Dt 6.20-23 fala do
projeto de libertação para todo o povo hebreu escravo no Egito e em Js 8.33, 35
fala que estão integrados ao Projeto da Terra Prometida todos os grupos que se
juntaram aos hebreus. Segundo o Credo o Projeto de Deus é para um grupo
coletivo, a classe camponesa, que tomou o poder e eliminou o Estado e construiu
uma sociedade sem classes porque eliminou a propriedade privada da terra. Agora
estas pessoas têm outro referencial para organizar a sua vida e a vida da
sociedade. Construíram outro modo de produção da vida material que irá
condicionar a sua sociedade. Agora não vale mais o referencial do modo de
produção tributário, agora vale o referencial do modo de produção tribal, houve
uma revolução, que organizou a sociedade a partir do aprendizado dos 40 anos de
deserto.
O conjunto de referências
para as pessoas organizarem a sua sociedade parte de outro modo de produção que
cria outra consciência e se compõe de outra leitura e de outra visão de Deus.
Não é mais o Estado com seus deuses, que legitimam a exploração de classe, que
são os referenciais que ditam as normas de vida. Agora é Javé, o Libertador,
que é a referência, aquele que os libertou da escravidão do Estado egípcio e os
conduziu na Revolução Agrária e os conduzirá nessa nova sociedade sem classes
sociais. Em cima dessa história os camponeses construirão a sua sociedade e expressam
sua fé a partir desse fato da luta de classes. Javé construiu com a classe
camponesa uma nova sociedade. É isso que Paulo fala em 2 Co 5.17: “se alguém
está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se
fizeram novas.” Pela fé e pelo batismo somos nova criatura no processo de
construção de uma nova sociedade que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. É o
projeto coletivo para a Humanidade no NT.
Afirmar na pregação que só Jesus
salva e cada um se vira como pode daqui para frente no capitalismo não basta,
tem que mostrar como vai ser a vida dos salvos dentro da comunhão dos santos
vivendo como nova criatura numa sociedade de irmãos, que é a sociedade sem
classes e sem exploração de classe porque um santo não pode explorar outro
santo para ficar rico. O salvo por graça e fé não pensa em ficar rico, enquanto
o resto vive na miséria, e se dar bem sozinho porque vive na comunhão dos
santos onde todos são irmãos e iguais porque se partilha tudo conforme a
celebração da Ceia do Senhor.
Como é a sociedade na qual os
santos, salvos por graça e fé, vivem? A sociedade capitalista onde um santo
explora outro santo pela escravidão assalariada? Agora você está salvo, mas
como você viverá na comunhão dos santos dentro do capitalismo? Vai deixar o
capitalismo intacto para continuar a exploração de classe entre os santos,
salvos por graça e fé, ou a salvação produz frutos que irão produzir outra
sociedade não capitalista? Para produzir outra sociedade sem exploração de
classe é necessário eliminar o capitalismo, não tem outro jeito. Como vai ser
essa outra sociedade não capitalista? Para isso precisamos pesquisar na Bíblia
que indicações ela nos fornece para construirmos outra sociedade sem exploração
de classe e olhar o que nos apontam o AT e o NT.
Por isso é fundamental
descobrirmos quais as características do Projeto de Deus para a Humanidade que
a Bíblia nos apresenta e ver o que a Humanidade já produziu em teoria e prática
através da luta de classes em direção à construção de uma sociedade sem classes
sociais e comparar as diferenças e as semelhanças nas propostas. A partir daí
poderemos construir um novo projeto de sociedade que se assemelha às
características do que deve ser a comunhão dos santos. Isso significa que o
novo não vai surgir sem uma ruptura, uma conversão da sociedade, como nos
mostra Mc 1.15. Não basta a conversão individual se não se produzir a conversão
de toda a sociedade que irá impactar sobre a vida individual das pessoas. Uma
nova prática político-econômica-social-cultural-religiosa individual será
produzida por essa nova sociedade não capitalista que gerará uma nova
consciência que reforçará essa nova prática. Que teorias a Humanidade já
produziu sobre uma nova sociedade sem exploração de classe? Temos a
socialdemocracia, que é um capitalismo com outro penteado, e temos o comunismo.
Temos ainda o Sumak Kawsay, a Terra sem Males, o Ubuntu dos povos originários e
africanos que nos ajudam nessa tarefa de elaborar um novo conceito de
sociedade.
Sobre a socialdemocracia nos
fala alguém que já foi da direção da Internacional Socialista. Jean Ziegler[25] em
entrevista fala da socialdemocracia.
Por anos, fui membro do Conselho Executivo da Internacional
Socialista. Seu presidente, Willy Brandt, dizia a nós jovens, como eu, Brizola
e Jospin: não se preocupem. A cada votação, vamos avançar aos poucos e as
pessoas vão se dar conta. Lei por lei, vamos instaurar uma democracia social,
igualdade de oportunidades e justiça social. Mas isso não ocorreu. No lugar do
progresso da democracia social, o que vimos foi a instauração da ditadura
mundial de oligarquias do capital financeiro globalizado que dá suas ordens,
mesmo aos estados mais poderosos. Desde a queda do Muro de Berlim em 1989, a liberalização
do mercado e a perda do poder normativo dos estados avançou mais que nunca e,
ao mesmo tempo, a desigualdade social aumentou. Mas Brandt também nos dizia:
quando vocês falarem publicamente, é necessário dar esperança. O discurso deve
ser analiticamente exato. Mas ele precisa ser concluído com uma afirmação de
esperança. Caso contrário, é melhor ficar em casa.
Mas onde está essa esperança?
É a sociedade civil planetária. É a misteriosa fraternidade
da noite, a miríade de movimentos sociais – Greenpeace, Anistia Internacional,
movimento antirracista, de luta pela terra – que lutam contra a ordem canibal
do mundo, cada qual em seu domínio. São entidades que não obedecem a um comitê
central ou a uma linha de partido, e que funcionam por um só princípio: o
imperativo categórico. ... O escritor francês George Bernanos escreveu: “Deus
não tem outra mão que seja a nossa”. Ou somos nós que mudaremos essa ordem
canibal do mundo, ou ninguém o fará.
Décio Saes[26]
lembra sobre a ilusão que temos do Estado:
... os homens caem, entretanto numa solução ilusória,
imaginando uma comunidade aparentemente universal: o Estado, guardião do
interesse geral da sociedade. Por isso, tais premissas são a fonte da alienação
política: realimentam continuamente o Estado separado da sociedade civil,
permitem a sua reprodução contínua.
Lênin[27]
falando do surgimento do Estado, como resultado da sociedade de classes e para
abafar a luta de classes, afirma:
O Estado - diz Engels,
fazendo o balanço da sua análise histórica - não é, portanto, de modo nenhum,
um poder imposto de fora à sociedade; tão-pouco é 'a realidade da ideia moral',
'a imagem e a realidade da razão', como Hegel afirma. É, isso sim, um produto
da sociedade em determinada etapa de desenvolvimento; é a admissão de que esta
sociedade se envolveu numa contradição insolúvel consigo mesma, se cindiu em
contrários inconciliáveis que ela é impotente para banir. Mas para que estes
contrários, classes com interesses econômicos em conflito, não se devorem e à
sociedade numa luta infrutífera, tornou-se necessário um poder, que
aparentemente está acima da sociedade, que abafe o conflito e o mantenha dentro
dos limites da 'ordem'; e este poder, nascido da sociedade, mas que se coloca
acima dela, e que cada vez mais se aliena dela, é o Estado. ... Como o Estado nasceu da necessidade
de conter os antagonismos de classe, e como ele, porém, ao mesmo tempo, nasceu
no meio dos conflitos destas classes, ele é, em regra, o Estado da classe mais
poderosa, economicamente dominante, a qual por meio dele se torna também a
classe politicamente dominante e assim adquire novos meios para a repressão e
exploração da classe oprimida. ... Segundo Marx, o Estado é um órgão de
dominação de classe, um órgão de opressão de uma classe por outra, é a criação
da 'ordem' que legaliza e consolida esta opressão moderando o conflito de
classes.
Outra fala que temos é a de
Lênin[28]:
Queremos alcançar uma organização nova e melhor da sociedade,
na qual não haja ricos nem pobres e todos tenham que trabalhar! Que não seja um
punhado de ricaços, mas sim, todos os trabalhadores que tenham proveito dos
frutos do trabalho de todos! Que as máquinas e outros aperfeiçoamentos
facilitem o trabalho de todos e não sirvam apenas para enriquecer a alguns a
custa de milhões e milhões de homens do povo! Esta sociedade nova e melhor se
chama sociedade socialista. A doutrina que trata dessa sociedade se chama
socialismo.
Os marxistas procuram definir
o comunismo em conceitos.
"O comunismo não é uma doutrina, mas um movimento; procede
não de princípios, mas de fatos" (Engels, 1977, p. 291).[29]
O comunismo não é para nós um estado de coisas que deve ser
instaurado, um ideal a que a realidade deverá adequar-se. Chamamos de comunismo
o movimento real que abolirá o estado de coisas presente. (MARX, Karl e ENGELS,
Friedrich. A ideologia Alemã)[30]
No que consiste o socialismo?[31]
Ele não tem nada de misterioso ou obscuro. Seu princípio
fundamental é transparente e claro como água da cascata: os meios de produção
devem pertencer à sociedade e as grandes decisões sobre investimentos, produção
e distribuição não devem ser abandonadas às leis cegas do mercado, a um punhado
de exploradores ou a uma camarilha burocrática, mas tomadas, depois de um amplo
e pluralista debate democrático, pelo conjunto da população. Nada mais simples,
mas exige, para ser realizado, uma verdadeira revolução, a supressão do sistema
capitalista e do poder das classes dominantes...
O socialismo significa, concretamente, que a produção não
será mais submetida às exigências do lucro, da acumulação do capital, da
produção em massa de mercadorias inúteis ou nocivas, mas voltada para a
satisfação das necessidades sociais: alimentação, vestuário, habitação,
saneamento básico, água, educação, saúde, cultura. Significa também o fim da
discriminação racial – contra o negro, o mestiço, o indígena – da opressão das
mulheres, da desigualdade social, da destruição do meio ambiente, das guerras
imperialistas. ...
Um dos primeiros marxistas latino-americanos, o peruano José
Carlos Mariátegui, já escrevia em 1928: “Contra uma América do Norte
capitalista, plutocrática, imperialista, só é possível opor, de maneira eficaz,
uma América, latina ou ibera, socialista”. ... José Carlos Mariátegui, que
havia escrito no mesmo documento de 1928: “Não queremos, certamente, que o
socialismo seja nas Américas calco e cópia. Deve ser criação heroica. Temos de
dar vida, com nossa própria realidade, com nossa própria linguagem, ao
socialismo indo-americano”. ...
A construção do socialismo é inseparável de certos valores
éticos, contrariamente ao que afirmavam as concepções dogmáticas e
economicistas, que só consideravam “o desenvolvimento das forças produtivas”.
Na famosa entrevista com o jornalista francês Jean Daniel (julho de 1963),
Guevara insistia: “o socialismo econômico sem a moral comunista não me
interessa. Lutamos contra a miséria, mas ao mesmo tempo contra a alienação.
(...) Se o comunismo passar por cima dos fatos da consciência, poderá ser um
método de distribuição, mas não será mais uma moral revolucionária”. Se o
socialismo pretende lutar contra o capitalismo e vencê-lo em seu próprio
terreno (o terreno do produtivismo e do consumismo), utilizando suas próprias
armas (a forma mercantil, a concorrência), está condenado ao fracasso.
José Paulo Netto[32]
na Introdução ao livro Miséria da Filosofia de Marx fala sobre alienação e
comunismo.
Marx põe em causa justamente aquilo que a economia política
não questiona: a propriedade privada - e nela localiza a raiz da alienação.
Suprimir a propriedade privada para suprimir a alienação é instaurar o
comunismo, garantia do humanismo real. Não se trata do comunismo vulgar, que
subsume o indivíduo no gênero; trata-se de uma revolução radical, do comunismo
como "abolição positiva da propriedade privada (ela mesma alienação humana
em si) e, consequentemente, apropriação real da essência humana pelo homem e
para o homem... Este comunismo ... é a verdadeira solução do antagonismo entre
o homem e a natureza, o homem e o homem, a verdadeira solução da luta entre
existência e essência, objetivação e afirmação de si, liberdade e necessidade,
indivíduo e gênero". Este comunismo, no entanto, não deriva de uma tensão
ética que levaria ao termo da história: "é o momento real da emancipação e
da retomada de si do homem"; não é a meta da sociedade humana, mas "a
sua forma". ...
... a liquidação da alienação pela prática revolucionária
exercitada pelo proletariado constitui o comunismo, que "não é um estado
... um ideal... Chamamos comunismo ao movimento real que acaba com o atual estado
de coisas". O que se conceptualiza, pois, é uma teoria da revolução e seu
sujeito: a revolução não é apenas a liquidação da classe dominante, mas a
condição que "permitirá à classe que derruba a outra aniquilar toda
podridão do velho sistema e tornar-se apta a fundar a sociedade sobre bases
novas"; a revolução, o movimento prático, "acaba com a dominação de
todas as classes, pois é efetuada pela classe que, no âmbito da atual
sociedade... constitui a expressão da dissolução de todas as classes...".
James Petras[33]
falando do conceito de socialismo hoje
... o verdadeiro socialismo, em primeiro lugar, implica na
socialização dos meios de produção, na transformação da propriedade e no
controle dos bancos, das fábricas, da terra, dos serviços sociais, do comércio
exterior, assim como na transferência do poder dos capitalistas para os
produtores diretos, para os consumidores e para os defensores do meio ambiente.
O socialismo significa oposição a todas as guerras imperialistas, às
intervenções militares, significa o apoio à autodeterminação das nações e dos
movimentos de libertação nacional. Num regime socialista, a representação e as
eleições terão lugar nos locais de trabalho, nos bairros e nas cooperativas,
buscando a formação de uma assembleia nacional, que deverá prestar contas
diretamente às organizações dos trabalhadores, dos camponeses e dos
consumidores. O socialismo promoverá profundas reformas na família, no trabalho
e nos serviços sociais para facilitar a igualdade entre homens e mulheres. O
orçamento deverá ser modificado para, em vez de subsidiar os capitalistas e de
pagar a dívida externa, ser canalizado para um amplo e gratuito serviço de
saúde, educação e lazer para o povo em geral.
Albert Einstein[34]
escreveu em 1949
Estou convencido de que existe apenas um caminho para
eliminar esses graves males, e esse é o estabelecimento de uma economia
socialista, acompanhada por um sistema educacional orientado para objetivos
sociais. Em uma economia tal, os meios de produção são propriedade da própria sociedade,
e utilizados de modo planejado. Uma economia planejada, que ajusta a produção
às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre todos
os capazes de trabalhar, e garantiria o sustento de cada homem, mulher e
criança. A educação do indivíduo, além de desenvolver suas próprias habilidades
inatas, se empenharia em desenvolver nele um senso de responsabilidade por seus
companheiros de humanidade, em lugar da glorificação do poder e do sucesso,
como temos na sociedade atual.
Contudo é preciso lembrar que uma economia planejada ainda
não é socialismo. Uma economia planejada pode ser acompanhada por uma
escravização completa do indivíduo. A realização do socialismo requer a solução
de alguns problemas sociopolíticos extremamente difíceis: como é possível, em
face da centralização abrangente do poder político e econômico, impedir que a
burocracia se torne todo-poderosa e prepotente? Como se podem proteger os
direitos do indivíduo e garantir com isso um contrapeso democrático ao poder da
burocracia?
Deus é um Deus da Humanidade
que se interessa por cada pessoa. O seu Projeto para a Humanidade vai impactar
sobre a pessoa nela inserida e ela terá outro comportamento porque tem outros
referenciais. Por isso é importante conhecer o Projeto Global de Deus para a
Humanidade que vai condicionar a vida da pessoa não mais para saídas
individuais, mas coletivas. Por isso o Espírito Santo criou a Igreja, uma
organização política partidária que pensa o coletivo a partir da vivência de fé
das pessoas caminhando dentro do processo de construção do Reino de Deus
por/em/com Jesus Cristo. A Igreja é uma organização política partidária no
sentido de tomar o lado e o partido dos crucificados pela sociedade de classes,
que são as pessoas das classes subalternas – 1 Co 1.28; 1 Co 4.9-13; Lc 10.21 –
a partir das quais Jesus Cristo constrói o seu Reino, convidando a todos; aqui
os expropriadores são também convidados segundo a dinâmica de Mt 19.16-22 que
pede o fim da propriedade privada para acabar com a pobreza como gesto concreto
para poder ser discípulo de Jesus. Em Lc 10.21 o Espírito Santo é flagrantemente
tendencioso, parcial e partidário, pois leva Jesus a tomar o partido dos
pequeninos no processo da luta de classes da sociedade (Lc 4.18-19).
O Credo do AT no processo da
luta de classes.
Dt 6.21 Éramos escravos de
Faraó, no Egito; porém o Senhor de lá nos tirou com poderosa mão. 22 Aos
nossos olhos fez o Senhor sinais e maravilhas, grandes e terríveis, contra o
Egito e contra Faraó e toda a sua casa; 23 e dali nos tirou, para nos
levar e nos dar a terra que sob juramento prometeu a nossos pais. [ler ainda Dt
26.1-19; Js 24.2-18]
O Projeto Global de Javé no
AT
O Projeto de Javé no AT,
segundo o credo histórico da classe camponesa israelita de Dt 6.20-23, se
caracteriza por Javé ter iniciado e organizado, a partir da motivação das lideranças
já existentes dos escravos (Êx 3.16), o processo de libertação da escravidão dos
camponeses escravos hebreus, ao enfrentar o Estado egípcio, ao motivar a
organização e a resistência dos camponeses escravos hebreus no Egito (Êx 3) e conduzir
o processo da luta de classes, a partir, com e ao lado da classe camponesa, para
a saída da escravidão do Egito (Êx 1-15) até a conquista da Terra Prometida nas
montanhas da Palestina (Js 6-8; Jz 1). Nesse processo da luta de classes Javé se
volta contra o Estado (Gn 11.1-9) e o denuncia como o elemento repressor (Êx 5)
e mantenedor da escravidão que favorece os controladores do Estado, a elite latifundiária
e os sacerdotes (Gn 47.22, 26).
No período de 40 anos da
travessia do deserto (Êx-Dt) Javé conduziu e amparou o povo camponês nesse
tempo de aprendizagem, onde a teologia está intimamente ligada à prática da
luta de classes, para capacitá-lo, a partir da luta pela terra, juntando
Prática (luta concreta contra o Estado) e Teoria (nova compreensão teológica de
Deus e de sociedade - Êx 16; 18; 20; 32) [a teologia bíblica está ancorada
nessa metodologia: Prática-Teoria-Prática], para a construção de uma nova
sociedade igualitária e livre, que finalmente desembocou no processo
revolucionário camponês pela Revolução Agrária conduzida por Javé (Js-Jz), que
destruiu o Estado (cidades-estado) e a sociedade de classes, ancorados na
propriedade privada da terra, nas montanhas da Palestina (Js 6-8; Jz 1), para
criar ali uma sociedade plural (Js 6.23; 8.33, 35), livre e sem classes sociais
(Dt 15.4), sem Estado (Gn 11.1-9; Js 8), sem templo (Js 8.30) e sem propriedade
privada da terra (Nm 26.52-56; Lv 25.23), onde o povo camponês palestino
(classe camponesa) exerce o Poder Popular (Êx 18.13-26) na Assembleia Popular
(Js 24; Nm 27.1-11).
Com o ressurgimento da
propriedade privada da terra (1 Sm 25) e da luta de classes (1 Sm 22.1-2) nas
áreas libertas (Jz-1 Sm) os proprietários privados da terra e donos de bois (1
Sm 11) conduziram o processo de construção do Estado monárquico (1 Sm 8;
11.12-15). Isso os/as profetas denunciaram (Mq 3; 1 Sm 12.19) como sendo uma
agressão ao Projeto da Terra Prometida de Javé, pelo fato do Estado, na pessoa
do rei, tomar o lugar de Deus no processo de condução do povo (1 Sm 8.7-8; Sl
2.1-7), o que resulta na solidificação da sociedade de classes através da cimentação
da propriedade privada da terra (1 Rs 21), na luta de classes e na Religião
como aparelho ideológico do Estado (Mq 3.11) para controlar a classe
subalterna, combatidas por Javé pelo Projeto da Terra Prometida no passado.
As autoridades (Rm 13.1; Js
8.33-35) do Poder Popular (Nm 27.2; Js 24; Êx 18.21-23) foram instituídas por
Deus (At 6.1-7), não o Estado, contra o qual Deus luta (Gn 11.1-9; Êx 3; Js
6-8; 1 Sm 8.7), cujo poder vem do diabo (Ap 13), que tem sua base na
propriedade privada dos meios de produção (Gn 47.13-26). Frente esse desmonte
do Projeto de Javé os/as profetas anunciam a vinda do Messias (Is 7.13-16) para
reconduzir o povo e sua organização popular (Is 1.26) ao caminho da justiça (Is
11.1-10) e da paz (Is 9.1-7).
O Credo do NT no processo da
luta de classes.
1 Co 15.3 Antes de tudo,
vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados,
segundo as Escrituras, 4 e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro
dia, segundo as Escrituras.
2 Co 8.9 pois conheceis a
graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de
vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos.
Fp 2.5-8 Tende em vós o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de
Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se
esvaziou, assumindo a forma de escravo, tornando-se em semelhança de homens; e,
reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até
à morte e morte de cruz.
O Projeto Global de Javé no
NT
O Projeto de Javé (1 Jo 5.7)
no NT, o Reino de Deus (Mt 4.17; At 1.3b; Rm 14.17), construído por/em/com
Jesus, o Cristo (Mt 3.13-17), se caracteriza por uma sociedade sem classes
sociais e sem luta de classes, de etnia
e de gênero (Gl 3.28), de pessoas libertas (Gl 5.1; 2 Co 5.17), como sacerdotes
e sacerdotisas (1 Pe 2.9), santas (1 Co 1.2; 2 Tm 1.14), como santuário sagrado
de Deus (1 Co 3.16-17; 6.19), sendo iguais (Gl 3.28), salvas por graça e fé (Ef
2.8), com cidadania plena na assembleia (Igreja) do povo de Deus (Ef 2.19), sem
Estado (Ap 13; 18; Rm 13.8), sem templo (1 Co 6.19-20; 2 Co 6.16; Ap 21.22) e
sem propriedade privada dos meios de produção (At 4.32-5.11; Mt 19.16-29) no
processo de condução da construção da revolução evangélica (Mc 1.15) do Reino
de Deus por/em/com Jesus Cristo (Lc 4.43).
A Igreja é um instrumento
político, a organização política revolucionária evangélica internacional (At
1.8) criada pelo Espírito Santo (At 20.28; At 2), a partir das classes subalternas
(Mt 11.25; Lc 10.21; 1 Co 1.28; 1 Co 4.9-13), conduzida por Jesus Cristo (Cl
1.18-20, 24), o Senhor da Igreja (Cl 1.18), para organizar a resistência frente
o reino classista do mundo com a finalidade de sua eliminação (Para isto se
manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. 1 Jo 3.8) e a luta
pelo Reino de Deus (At 19.8; 1 Co 15.24), aliada a outros setores
revolucionários como o movimento popular (incluído o movimento popular
específico – negros, mulheres, indígenas), movimento sindical, partidos e ONGs
de esquerda, para eliminar o reino classista do mundo (Rm 12.2; Gl 1.4; Ap 18)
através do engajamento na luta por justiça e paz (Rm 14.17), dos que nada são
(1 Co 1.28), que trabalham com as próprias mãos e são considerados lixo do
mundo (1 Co 4.9-13), em direção ao Reino de Deus (Lc 7.18-23) para acabar com o
que é (1 Co 1.28): a sociedade de classes (Mt 25.14-30) alicerçada na
propriedade privada (1 Rs 21; Mt 19.16-22; At 5.1-11) e seus mecanismos de
exploração (Mt 20.1-16; Tg 5.1-6), de legitimação (Jo 11.47-48; Mt 20.18-19) e
de reprodução (Gn 11.1-9; Mc 11.15-18): a ideologia (linguagem), o Estado, o
fetiche do Capital, o mercado fetichizado, a igreja idólatra, o capitalismo
como religião (1 Tm 6.7-12). Esse é o Reino de Deus em permanente processo de
luta (2 Co 11.16-33) no já agora que se completa com a volta de Cristo com a
ressurreição [do corpo] dos mortos (1 Co 15) e com a vida eterna (Jo 3.15; 1 Jo
2.25).
Disso concluímos que a Igreja
também tem que fazer uma opção de classe, pelas classes não proprietárias
(subalternas - que são a maioria das pessoas e as escolhidas preferenciais de
Deus), para que estas deem a direção teológica na e da Igreja. A Igreja acolhe todas
as pessoas (proprietárias e não proprietárias), mas a direção teológica fica a
cargo das classes não proprietárias (Dt 18.1; Js 14.4 - aos levitas sem terra
pobres coube a tarefa de dar a direção teológica da caminhada do povo; Mt
19.27-29), as quais participarão de um processo de formação teológica, a partir
e dentro da realidade da luta de classes, unida às lutas populares por justiça
e paz dentro do processo de eliminar a sociedade de classes para que todos
sejam um em Cristo na comunhão dos santos. A Igreja de Jesus Cristo e a
sociedade de classes são elementos antagônicos (Rm 12.2; Gl 1.3-4) em
permanente luta de classes (Ap 6.9-11; 12; 18-19) até a volta de Cristo. Para
entendermos isso precisamos estudar o marxismo aliado ao estudo da teologia.
O Projeto Global de Javé para
a Humanidade.
Comparando o Projeto de Javé
do AT com o do NT vemos uma grande semelhança. A Bíblia propõe uma sociedade, a
partir dos que nada são, em permanente revolução (conversão diária), sem
propriedade privada dos meios de produção, circulação e distribuição, sem
classes sociais, sem luta de classes, sem exploração de classe, sem Estado, sem
templo (Religião como ópio do povo), uma sociedade plural organizada no Poder
Popular em Assembleia Popular onde as pessoas são concidadãs, livres, iguais,
santas, irmãs, sacerdotes e sacerdotisas sem que as diferenças étnicas,
culturais e de gênero criem conflitos.
Isso Jesus, o Cristo, chama
de Reino de Deus no aqui e agora em permanente movimento no processo de
construção pela revolução evangélica do Reino de Deus conduzida por/em/com
Jesus Cristo. Tudo isso sob a ótica da Cruz e da Ressurreição de Jesus Cristo
que no final se completará com a ressurreição do corpo e com a vida eterna.
[1] CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo. Companhia das Letras. 1990, p. 80
[2] http://www.periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/viewFile/1331/1282
[3] SCHWANTES, Milton. A Cidade e a Torre (Gn 11.1-9) Exercícios hermenêuticos in http://www.periodicos.est.edu.br
[4] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 79
[5] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 84
[6] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 91
[7] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 91, 98, 101-103, 109
[8] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 502-503
[9]ENGELS, Friedrich. Introdução de Friedrich Engels à edição de 1895 de As lutas de classe na França de 1848 a 1850 in MARX, Karl. A Revolução antes da revolução, vol. 2. 2ª ed. São Paulo. Expressão Popular. 2008, p. 61-62
[10] LUKÁCS, Georg. Rosa Luxemburgo como marxista in História e Consciência de classe. São Paulo. Martins Fontes. 2003, p. 105-107
[11] https://www.marxists.org/portugues/stalin/1938/09/mat-dia-hist.htm
[12] BOGO, Ademar. Organização Política e Política de Quadros. Expressão Popular, 2011, p. 169
[13] BOGO, Ademar. Organização Política e Política de Quadros. Expressão Popular, 2011, p. 170
[14] DUSSEL, Enrique. A produção teórica de Marx. Um comentário aos Grundrisse. São Paulo. Expressão Popular. 2012, p. 53
[15] LUKÁCS, Georg. Rosa Luxemburgo como marxista in História e Consciência de classe. São Paulo. Martins Fontes. 2003, p. 107
[16] PLEKHÂNOV, G. V. Os Princípios Fundamentais do Marxismo. São Paulo. Hucitec. 1978, p. 99
[17] MARX, Karl. Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política” in MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Textos, vol. III. São Paulo. Edições Sociais. 1977, p. 301
[18] ENGELS, Friedrich. Prefácio à edição alemã de 1883 do Manifesto do Partido Comunista in Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis. Vozes, 1988, p. 45-46
[19] MARX, Karl. O Capital. Livro 1, volume 2. 6ª ed. Rio de Janeiro. Editora Civilização Brasileira. 1980, p. 881-882
[20] Os estudos bíblicos de um lavrador. CEI – Suplemento nº 25. Rio de Janeiro. Tempo e Presença. Agosto 1979, p. 18-19
[21] FADUL, Anamaria. Rádio e processo revolucionário em El Salvador in Boletim 41. São Paulo. Intercom. 1983, p. 8-9
[22] WRUBEL, Federico Pérez. Os Cristo-Fascismos in https://www.alainet.org de 05/12/2019
[23] SCHMITT, Flavio. Método histórico-crítico: um olhar em perspectiva in Estudos Teológicos. Vol. 59, n. 2. São Leopoldo. EST. jul./dez. 2019, p. 328
[24] Lara, Valter Luiz. A bíblia e o desafio da interpretação sociológica. Introdução ao primeiro testamento à luz de seus contextos históricos e sociais. São Paulo. Paulus. 2009, p. 32-33,38
[25] CHADE, Jamil. A democracia representativa está esgotada. Entrevista com Jean Ziegler in www.ihu.unisinos.br de 21/05/2019
[26] SAES, Décio. Do Marx de 1843-1844 ao Marx das Obras Históricas: duas concepções distintas de Estado in Estado e democracia: ensaios teóricos. Campinas. UNICAMP. 1998, p. 62
[27] LENINE, V.I. O Estado e a Revolução in Obras Escolhidas, vol. 2. São Paulo. Editora Alfa-Omega. 1980, p. 226, 230
[28] LENIN. V. I. Aos Pobres do Campo. Explicação aos camponeses daquilo que querem os sociais-democratas. Março de 1903. https://www.marxists.org/portugues/lenin/1903/03/pobres.htm
[29] SMITH, John. Exploração e superexploração na teoria do imperialismo in LÓPEZ, Emiliano. As veias do sul continuam abertas. São Paulo. Expressão Popular. 2020, p. 33
[30] BAMBIRRA, Vania. A teoria marxista da transição e a prática socialista. Brasília. Editora Universidade de Brasília. 1993, p. 235
[31] LÖWY, Michael. Socialismo in SAMPAIO, Plínio de Arruda. Org. Desafios da luta pelo socialismo. São Paulo. Expressão Popular. 2002, p. 76-79
[32] NETTO, José Paulo. Introdução in MARX, Karl. A Miséria da Filosofia. São Paulo. Global Editora. 1980, p. 22, 24
[33] Petras, James. A luta pelo socialismo na atualidade in SAMPAIO, Plínio de Arruda. Org. Desafios da luta pelo socialismo. São Paulo. Expressão Popular. 2002, p. 85-86
[34]EINSTEIN, Albert. Por que Socialismo?Maio1949https://www.marxists.org/portugues/einstein/1949/05/socialismo.htm
Grato pela partilha Lobo. Excelente luz e homenagem ao Naza! Abraços
ResponderExcluirmeu email é eliezerbublitz@uol.com.br
ResponderExcluir