17 de maio de 2021

O Projeto Global de Deus para a Humanidade na Bíblia.

 

Em memória do Nazareno, Pastor João Clemente Freitag, falecido num hospital em Curitiba no dia 01/06/2021 quando do tratamento de um câncer foi infectado pelo covid-19. O Nazareno foi o primeiro pastor da IECLB a ser liberado pelo DE Uruguai para assessorar o Projeto de Acompanhamento ao MAB dentro do DE Uruguai nos anos 80. Foi um tempo em que a repressão aos pastores da IECLB não estava ainda institucionalizada como hoje pelas normas repressivas aprovadas em Concílio numa tentativa de impedir a pura pregação da Palavra de Deus como Lei e Evangelho o que ameaçaria a reprodução do capitalismo. Foi um tempo que a IECLB ainda ouvia o grito dos empobrecidos e explorados e caminhava com eles. Hoje a Igreja praticamente só ouve o grito da direita raivosa reacionária, que quer jogar a Igreja nas trevas medievais da caça às bruxas, e se deixa intimidar por ela.

 

 

Ítalo Calvino em ‘As cidades invisíveis’ nos inspira com seu diálogo criado entre o Kublai Kan e o viajante veneziano Marco Polo.

 

Kublai pergunta para Marco:

— Quando você retornar ao Poente, repetirá para a sua gente as mesmas histórias que conta para mim?

— Eu falo, falo — diz Marco —, mas quem me ouve retém somente as palavras que deseja. Uma é a descrição do mundo à qual você empresta a sua bondosa atenção, outra é a que correrá os campanários de descarregadores e gondoleiros às margens do canal diante da minha casa no dia do meu retorno, outra ainda a que poderia ditar em idade avançada se fosse aprisionado por piratas genoveses e colocado aos ferros na mesma cela de um escriba de romances de aventuras. Quem comanda a narração não é a voz: é o ouvido.[1]

 

A sonoridade do relato bíblico individual difere da sonoridade (interpretação) do relato coletivo da Bíblia, pois a Bíblia foi escrita por um coletivo para ser lida preferencialmente no coletivo (Paulo, apóstolo de Cristo Jesus por vontade de Deus, aos santos que vivem em Éfeso e fiéis em Cristo Jesus, Ef 1.1), pois ali a interpretação é diferenciada e múltipla, pois os pés dos ouvintes estão fincados em lugares sociais, étnicos, de gênero e históricos diversos. O lugar social e histórico, a classe social, o gênero e a cultura étnica dos ouvintes da Palavra condicionam a sua interpretação. A sonoridade da narração bíblica para um capitalista europeu é diferente da sonoridade (interpretação) da narração bíblica feita para um coletivo camponês indígena aymara nos Andes da Bolívia e do Peru, que se pautam pela visão de mundo do Sumak Kawsay, que desperta para uma consciência de que somos filhos da Mãe Terra, da Pachamama, e toma consciência de que somos parte dela, de que dela viemos e com ela nos complementamos e inclui a dimensão solidária da comunidade humana; uma solidariedade sempre edificada sobre o respeito pela diferença. Essa é uma Weltanschaung diferente da capitalista europeia, baseada na Ditadura do Pensamento Único para legitimar e reproduzir a Ditadura do Capital, que colonizou o Planeta pelas armas anulando fisicamente as diferenças culturais pelo massacre genocida visando apenas o lucro individual imediato e ilimitado a partir do qual a natureza é apenas uma mercadoria a ser saqueada. Essas duas visões de mundo ancoradas em práticas diversas produzem interpretações diferentes do texto bíblico.

Continua, no entanto, fundamental ler e analisar todas as palavras escritas no texto bíblico e olhar Por Trás da Palavra, como ensina Carlos Mesters. Tomemos o exemplo de Gn 11.1-9, interpretado pelo P. Dr. Milton Schwantes[2] a partir da periferia latinoamericana, onde mostra que a leitura da visão europeia da Bíblia não lê todas as palavras e só fala da torre e não vê a cidade, que era o problema, pois aqui significa Estado, que surge para defender a propriedade privada da terra, a sociedade de classes e a exploração de classe, tudo legitimado pelo templo controlado pelo Estado, que por sua vez é controlado pelos proprietários privados da terra.

Vide ainda hoje como o agronegócio - os donos privados da terra - (latifúndio, madeireiros, grileiros, produtores e vendedores de máquinas agrícolas e de produtos químicos e venenos, a cadeia de produção de carne [gado, suínos e frangos] junto com as empresas que transportam os produtos do agronegócio e mineradores) é o grande sustentáculo do bolsonarismo, como também o foi do governo de coalizão a partir de 2003 até que a ingerência da CIA via empresariado local, a partir de 2013 dentro do processo de recolonoização da América Latina, interferiu para uma virada para um neoliberalismo puro, que pariu a EC 55, congelou o salário mínimo, fez a reformas trabalhista, previdenciária e administrativa, em andamento, e privatizou grande parte do setor de energia (petróleo, energia elétrica e água). Foram os mesmos votos da FPA que garantiram a deposição da presidente Dilma que garantiram a permanência do presidente Temer no poder ao evitar o seu impeachment. Agora o STF, que ajudou no Golpe de 2016, segundo o senador Jucá, liberou o Lula para depor o Bolsonaro em 2022, pois o que o empresariado quis com o Golpe já lhe foi concedido. O próximo presidente que se vire com o lixo gerado e espalhado pelo país afora pelo bolsonarismo.

A visão européia da Bíblia só pode ler Gn 11.1-9 acentuando a questão da torre e esquecendo a cidade porque não integra em sua hermenêutica a leitura marxista da realidade que analisa a história a partir da luta de classes. Schwantes[3] escreve:

 

Uma interpretação dogmatizante parece ressurgir em meio tanto à agonia quanto, contraditoriamente, ao revigoramento da leitura histórico-crítica. Revive com entusiasmo uma leitura piedosa voltada com ênfase para as experiências pessoais e interessada com vigor no aspecto simbólico dos textos. A preocupação pela letra, numa interpretação fundamentalista, continua hoje tão robustecida e ocasionadora de cismas eclesiásticos quanto no passado. ... Há muito que se questiona o postulado da objetividade da interpretação exegética, afirmando-se seu caráter existencial. Essa problemática exegética tradicional é aguçada e profundamente reorientada em nossa realidade, resultando na pergunta: O que significa se passamos a entender esta existência, que participa decisivamente do processo hermenêutico, não como existência individualmente angustiada, mas coletivamente oprimida e espoliada?

 

A torre (quartel, palácio, templo, armazém) fica dentro da cidade e o texto diz que pararam de construir a cidade e não fala mais da torre, porque o importante era a cidade. É a linguagem (ideologia) da visão europeia que despreza a leitura marxista da realidade e com isso não consegue enxergar o significado da cidade (Estado) como mecanismo de exploração do campesinato. A linguagem única emburrece e faz a classe explorada manter o sistema de exploração sobre ela. Deus destrói a cidade e a torre (modo de produção tributário cujos malefícios Gn 47.13-26 descrevem) ao mudar a linguagem (ideologia, jeito de pensar) do campesinato. Na torre “cujo tope chegue até aos céus” mora o rei que era considerado filho de deus ou deus, é a divinização do Estado, como no caso do César no NT. A briga aqui é contra o modo de produção tributário sustentado pela sociedade de classes ancorada na propriedade privada da terra que tem no Estado o seu mecanismo repressivo e legitimador. O que Gn 11.1-9 descreve acontece no relato de Js 8, o fim do Estado e de sua origem, a propriedade privada da terra.

Os colecionadores dos relatos do AT, a partir do lugar social da escravidão babilônica, estavam no lugar social e histórico corretos ao colecionar os relatos, ordená-los, interpretá-los e redigi-los para servirem de farol para as futuras gerações do povo de Israel para que seus filhos e filhas não cometessem os mesmos erros que os pais. No exílio babilônico esses escravos, antiga elite israelita junto com os artesão especializados, tinham que responder a pergunta: porque Deus permitiu que fossem deportados e eram obrigados a viver como escravos. Isso os obrigou a rever a sua história e os obrigou a fazer uma releitura da história que provocou uma releitura teológica de sua fé.

A coleção bíblica do AT é na verdade uma reinterpretação dos escritos e dos fatos históricos da luta de classes ocorrida para mudar o rumo e a perspectiva da história da luta de classe do povo de Israel na escravidão babilônica. O lugar social e histórico da escravidão babilônica ajudou o povo, agora escravo, a reencontrar o lugar social de Javé e reescreveu os relatos existentes para novamente se inserir no Projeto Global de Javé para a Humanidade. O AT é o relato de uma classe social, a classe escrava, que fala da opção classista de Javé para apontar para o Projeto Global de Deus para a Humanidade. A grande descoberta na avaliação dos redatores do AT, a partir da luta de classes da escravidão da Babilônia, diz que Javé deixou de ser um Deus étnico, local e nacional para ser um Deus da Humanidade. Temos assim dois momentos importantes na história bíblica: o Êxodo e o Exílio babilônico.

A história bíblica do AT aponta dois momentos históricos fundamentais, o Êxodo, quando Javé se revela à classe camponesa escrava no Egito e a escolhe para por em marcha o seu Projeto da Terra Prometida que viabilizou uma sociedade não classista nas montanhas da Palestina, e, o Exílio, quando Deus se revela pela Palavra colecionada para chamar o povo ao arrependimento ao fazer uma avaliação e uma releitura profundas da História, da Profecia, da Lei e dos Salmos, como diz em 1 Sm 12.19: “a todos os nossos pecados acrescentamos o mal de pedir para nós um rei”.

Os colecionadores dos relatos (Evangelhos, Cartas, Apocalipse) sobre Jesus, o Cristo, também tinham os pés fincados no lugar social dos explorados e oprimidos pela ditadura militar escravocrata romana, pois esse é o lugar social do Javé feito pessoa em Jesus de Nazaré, o Cristo, na classe camponesa explorada pelo Estado Romano e pelo Templo de Jerusalém.

Kautsky[4] diz que “No mundo antigo, particularmente no mundo romano, os artesãos eram indivíduos miseráveis, trabalhando quase sempre sós, sem aprendizes, comumente em casa dos fregueses, com material fornecido por este.” Isso lembra a vida errante de Paulo vivendo como artesão e a vida do próprio Jesus de Nazaré, um camponês artesão errante (Lc 9.58).  Kautsky[5] ainda lembra que

 

Na antiguidade, a submissão tomava a forma de enfraquecimento dos camponeses livres, oprimidos pelo serviço militar, por um barateamento da força de trabalho, pela pressão de um fornecimento inesgotável de escravos, à disposição dos possuidores de grandes recursos monetários, bem como pela usura, de que falaremos mais tarde, todos fatores que reduzem a produtividade do trabalho em vez de aumentá-la.

 

Tibério Graco falando da realidade da plebe romana em 130 anos antes de Cristo diz (o que lembra Mt 8.20)

 

“Os animais selvagens da Itália têm suas covas e cavernas onde descansar, mas os homens que lutam e morrem pela grandeza da Itália só possuem a luz e o ar, pois isso não lhes pode ser tirado. Sem lar e sem lugar onde abrigar-se, vagam de um lugar a outro com suas mulheres e filhos.”[6]

 

Isso aponta para Lucas 9.58 quando Jesus fala da realidade da vida dos empobrecidos, que era a grande massa do povo, que viviam no Império Romano: “Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça”. Kautsky[7] continua relatando que (isso lembra Lc 16.19-22; 1 Co 4.9-13; Mt 25.14-30; Mt 20.1-16; Mc 12.1-12; Mc 1.32-34; Lc 7.21-22)

 

Havia também multidões de cidadãos livres e escravos libertos, camponeses empobrecidos, arrendatários arruinados e expulsos, miseráveis artesãos urbanos e, finalmente, o lumpemproletariado das grandes cidades, com a energia e a confiança própria do cidadão livre que chegara, entretanto, a ser economicamente supérfluo na sociedade, sem lar, sem segurança, dependendo exclusivamente das migalhas que os grandes senhores lhes lançavam, movidos pela generosidade, pelo temor ou pelo desejo de paz. ... O esgotamento das terras unido à falta de mão de obra, além do uso irracional do trabalho, só podia resultar em uma constante redução no rendimento das colheitas. ...

Apesar de tudo, no entanto, os encargos militares aumentavam, e, finalmente, tinham de tornar-se cada vez mais insuportáveis, e efetuar a destruição definitiva do Império Romano. A soma total dos encargos públicos (pagamentos em espécie, pagamentos em serviço, impostos monetários) permanecia a mesma ou aumentava, enquanto diminuíam a riqueza e a população. O indivíduo arcava com uma carga imposta pelo Estado cada vez mais pesada. Todos buscavam uma forma de transferir essa carga para ombros mais fracos; a maior parte dessa transferência fazia-se na direção dos miseráveis colonos, e sua situação, já lamentável, tornou-se tão desesperadora que provocou inúmeras sublevações, como a dos colonos gauleses ...

Nos quatro séculos que transcorreram desde o estabelecimento da autoridade imperial por Augusto até a migração dos povos, o cristianismo tomou forma: nesse período, que começa com o nível mais alto alcançado pelo mundo antigo; com a mais colossal e embriagante acumulação de riquezas e poder em poucas mãos; com a miséria mais terrível atingindo escravos, camponeses arruinados; artesãos e as camadas proletárias mais baixas; com as mais violentas oposições e os mais terríveis ódios de classe; e que termina com o aniquilamento completo de toda sociedade. ...

Além da escravidão existiam duas outras formas de exploração na sociedade antiga, que também atingiram seu ponto culminante nos primórdios do cristianismo, aguçando os antagonismos de classe e depois acelerando progressivamente a destruição da sociedade e do Estado: a usura e a pilhagem das províncias subjugadas pelo poder central.

 

Kautsky[8] lembra um texto de Engels.

 

O cristianismo é, em sua origem, um movimento dos pobres como a social-democracia, e ambos têm muitos elementos em comum conforme já assinalamos.

Engels também se referiu a essa semelhança em um artigo intitulado "Acerca da história do cristianismo primitivo", publicado em Die Neue Zeit, escrito pouco antes de sua morte, indicando quão profundamente se interessava por essa matéria naquele tempo e como para ele era natural o paralelo apresentado em sua introdução a As lutas de classe na França.

Esse artigo diz:

A história do cristianismo primitivo apresenta coincidências notáveis com o moderno movimento operário. Ele foi, em sua origem, um movimento dos oprimidos; surgiu primeiro como religião de escravos e libertos, dos pobres, dos proscritos, dos povos subjugados ou que Roma dispersou. O cristianismo e o socialismo pregam uma próxima redenção da servidão e da miséria; o cristianismo imagina essa redenção em uma vida no além, no Céu, depois da morte; o socialismo, neste mundo, por meio da transformação da sociedade. Ambos são caçados e perseguidos, seus partidários são proscritos, sujeitos a legislação especial, apresentados, em algumas situações, como inimigos da humanidade, em outras, como inimigos da nação, da religião, da família, da ordem social. E, a despeito de todas as perseguições, e favorecidos por elas, ambos avançam irresistivelmente.

 

Friedrich Engels, na Introdução à edição de 1895 de “As Lutas de Classes na França de 1848 a 1850”[9] de Karl Marx, nos diz:

 

Faz hoje quase 1,6 mil anos que no Império Romano atuava também um perigoso partido subversivo. Esse partido minava a religião e todos os fundamentos do Estado; negava sem rodeios que a vontade do imperador fosse a lei suprema; era um partido sem pátria, internacional, estendia-se por todo o império desde a Gália à Ásia e mesmo para lá das fronteiras imperiais. Durante muito tempo, minara às escondidas, sob a terra. Todavia, já há muito tempo que se considerava suficientemente forte para aparecer à luz do dia. Esse partido subversivo, que era conhecido pelo nome de cristãos, tinha também uma forte representação no exército; legiões inteiras eram cristãs. Quando lhes ordenavam que estivessem presentes nas cerimônias sacrificiais da igreja oficial, para aí prestarem as honneurs [honras - francês] esses soldados subversivos levavam o seu atrevimento tão longe que, como protesto, punham no capacete uns distintivos especiais: cruzes. Mesmo os vulgares castigos dos quartéis pelos seus superiores não surtiam qualquer efeito. O imperador Diocleciano já não podia assistir tranquilamente ao minar da ordem, da obediência e da disciplina dentro do seu exército. Interveio energicamente porque ainda era tempo para isso. Emitiu uma lei contra os socialistas, queria dizer, uma lei contra os cristãos. Foram proibidas as reuniões de subversivos, os locais de reunião encerrados ou demolidos, os símbolos cristãos, cruzes etc., proibidos, como na Saxônia os lenços vermelhos. Os cristãos foram declarados incapacitados para ocuparem cargos públicos, e nem sequer podiam ser cabos. Como nessa altura não se dispunha de juízes tão bem amestrados no que diz respeito à "consideração da pessoa", como o pressupõe o projeto de lei contra a subversão" do senhor Herr von Köller, proibiu-se sem mais rodeios os cristãos de defender os seus direitos perante o tribunal. Mas até essa lei de exceção não teve êxito. Os cristãos arrancaram-na dos muros, escarnecendo dela, e diz-se mesmo que deitaram fogo ao palácio, em Nicomedia, nas barbas do imperador. Este se vingou com a grande perseguição aos cristãos do ano 303 da nossa era. Foi a última no seu gênero. E foi tão eficaz que 17 anos mais tarde o exército era composto predominantemente por cristãos e o autocrata de todo o Império Romano que se lhe seguiu, Constantino, chamado pelos padres o Grande, proclamou o cristianismo religião de Estado.

 

Isso nos dá uma perspectiva melhor para avaliar a vida do povo empobrecido que rodeava Jesus e pertencia à primeira comunidade cristã. Deus escolheu esse povo destroçado pela exploração de classe como alavanca de seu Projeto Global para a Humanidade, que Jesus chama de Reino de Deus, e criou para isso um instrumento político partidário revolucionário, a Igreja. Partidário, porque tomou lado e partido a partir e com as classes subalternas. Somente as classes subalternas querem e por isso tem essa força para, motivados pelo Evangelho, participar da construção da revolução evangélica do Reino de Deus conduzida por/em/com Jesus Cristo para eliminar a sociedade de classes para que todos sejam um em Cristo (Gl 3.28). Por isso Javé escolheu a classe camponesa escrava no Egito, no NT radicalizou ao se tornar classe camponesa em Jesus de Nazaré e a comunidade primitiva era composta em sua maioria por não cidadãos: mulheres, escravos, artesãos, estrangeiros, sem terra, sem casa, diaristas (1 Pe 1.1; 1 Co 1.28; 4.9-13). Esse é o lugar social do Evangelho do Reino de Deus. Ali Deus tem os pés fincados e a partir dali ele organiza e conduz a revolução evangélica do Reino de Deus.

Somente um olhar sobre a totalidade do Projeto de Deus para a Humanidade na Bíblia nos facilitará entender o conteúdo das perícopes.

O materialismo dialético, segundo Lukács[10], pressupõe “a consideração de todos os fenômenos parciais como elementos do todo”, “o domínio universal e determinante do todo sobre as partes”. A “Dialética, em sentido restrito, é - diz Lênin - o estudo das contradições contidas na própria essência dos objetos.”[11] Bogo[12] lembra que “A dialética, portanto, é a lógica de ver as coisas e o mundo no encadeamento das contradições que avançam e regridem”.  José Paulo Neto[13] diz que "não vê a totalidade como a "soma das partes", mas, sim, uma totalidade que se articula com "totalidades menores", movidas por contradições internas ativas e mediadas pela estrutura particular de cada totalidade." Segundo Enrique Dussel[14]: "O método dialético consiste em situar a "parte" no "todo", como ato inverso ao efetuado pela abstração analítica".

Segundo Lukács[15] "A ciência burguesa - de maneira consciente ou inconsciente, ingênua ou sublimada - considera os fenômenos sociais sempre do ponto de vista do indivíduo. E o ponto de vista do indivíduo não pode levar a nenhuma totalidade, quando muito pode levar a aspectos de um domínio parcial, mas na maioria das vezes somente a algo fragmentário: a "fatos" desconexos ou leis parciais abstratas.".  Plekhânov[16] lembra que “Hegel diz: "A contradição leva avante". E para esta concepção dialética a ciência encontra uma confirmação notável na luta de classes. Se não se leva em conta esta última, nada se pode compreender da evolução da vida social e espiritual de uma sociedade dividida em classes.”

Duas contribuições nos ajudam a entender o mundo (também o mundo do tempo bíblico) dividido em classes sociais em permanente luta de classes, o que ajuda entender o mundo bíblico a partir do modo de produção da época e suas lutas de classes, como no exemplo de Gn 47.13-26, que explica como funciona o modo de produção tributário (expropriação dos camponeses [dinheiro, gado, terra, corpo e consciência] e tributo em forma de mercadorias), e Dt 6.20-23; Êx 3 que explicam a luta de classes entre camponeses escravizados e a classe do Estado (Faraó, corte, exército, sacerdotes):

 

“O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência da pessoa que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência.” Karl Marx[17].

 

“... em cada época histórica a produção econômica e a estrutura social que dela necessariamente decorre constituem a base da história política e intelectual dessa época; que, consequentemente (desde a dissolução da antiga posse em comum da terra) toda a história tem sido a história da luta de classe, de luta entre classes exploradas e classes exploradoras, entre classes dominadas e classes dominantes, nos diferentes estágios do desenvolvimento social;” Friedrich Engels[18].

 

Os processos econômicos e sócio-político-culturais daí decorrentes nos dão uma visão mais clara de nosso mundo. Esses processos foram determinantes para a formação do texto bíblico como mecanismo de resistência e elaboração de um novo projeto de vida e de sociedade propostos por Deus para as classes subalternas. A Bíblia, a partir da luta de classes de sua época, propõe um projeto de sociedade em oposição à sociedade de classes da época e nos desafia hoje, a partir da fé em Jesus Cristo e como frutos da salvação concedida por graça e fé, a construir outro projeto de sociedade e de vida frente à sociedade de classes de hoje. No passado como no presente a Bíblia propõe a construção de uma sociedade sem classes, de pessoas livres e iguais. Isso requereu, no passado bíblico, o enfrentamento da sociedade de classes e seus mecanismos de reprodução (Dt 6.20-23; Lc 4.16-21; 4.43) e requer também hoje o enfrentamento da sociedade de classes capitalista.

A Igreja é um dos instrumentos políticos usados por Deus para eliminar a sociedade de classes, que é o oposto do Reino de Deus. Por isso a pequena burguesia, braço estendido no grande capital no local, aliada a pastores reacionários se esforçam tanto em controlar o que os/as pastores/as pregam e construíram todo um arcabouço jurídico legal repressivo na Igreja para viabilizar essa censura da Palavra de Deus. A todo o momento reafirmam que a Igreja não deve fazer política, enquanto essa pequena burguesia aliada a pastores/as reacionários faz abertamente política de direita, escondendo-se atrás de sua demagogia ao se dizerem neutros, mas defendendo a política genocida do Bolsonaro. A Igreja junto com seus pastores/as por serem ingênuos e ofuscados pela visão europeia de Deus e capitalista da realidade não enxergam isso. Ou não enxergam ou estão amedrontados e acovardados.

O Projeto de Deus na Bíblia é maior do que a mera salvação individual proposta pela visão europeia de Deus (que esconde a luta de classes existente e sua origem em nossa sociedade), mas requer a salvação de toda a humanidade (Jo 6.39) dentro do processo histórico da luta de classes na caminhada da construção de uma sociedade sem classes sociais (Gl 3.28) a partir da eliminação da origem da sociedade de classes, a propriedade privada dos meios de produção (Mt 19.16-22). A Bíblia é uma resposta ao processo histórico da luta de classes para encaminhar a construção de uma nova sociedade igualitária de pessoas livres e sem classes sociais. A Bíblia deve ser lida neste contexto.

A Bíblia foi construída a partir da Prática da luta de classes existente, como momento primeiro. Segue o texto bíblico, como momento segundo, como a Teoria, que responde a essa luta Prática, para apontar para uma nova Prática, como momento terceiro, que pode questionar a Teoria e a aprofundar, para melhorar a Prática e a Teoria: Prática-Teoria-Prática=Práxis, essa é a metodologia bíblica (Lc 24.13-34: os discípulos relatam os fatos ocorridos [Prática], Jesus Cristo os ilumina com as Escrituras [Teoria] e os discípulos reconhecem o Jesus ressurreto no partir do pão e voltam para Jerusalém com uma nova Prática, não de fuga, mas de enfrentamento do sistema classista opressor).

A Bíblia é uma totalidade composta por duas totalidades: o AT e o NT, que por sua vez se compõem de outras totalidades que são os livros que compõe cada Testamento, que por sua vez são compostos por muitas outras totalidades que são as perícopes. Somente entendemos corretamente as perícopes e os livros que compõem se temos uma visão da totalidade do Projeto Global da Bíblia para a Humanidade.

A salvação se concretiza no processo real de construção do Reino de Deus já agora até a volta de Cristo. A salvação não se separa do processo revolucionário de construção coletiva do Reino de Deus conduzido por Jesus Cristo, onde a nova criatura (2 Co 5.17) age a partir da fé dentro do processo da revolução evangélica para eliminar a sociedade de classes como fruto da fé e da salvação. A visão europeia-estadunidense de Deus separa a salvação do Reino de Deus, na verdade quase não fala do projeto central de Jesus Cristo, o Reino de Deus, por este ameaçar o reino classista do mundo, hoje o capitalismo ou o joga para depois da morte. A visão europeia-estadunidense de Deus concebe a salvação como um acontecimento privado e individual desvinculado de um contexto coletivo revolucionário no qual a pessoa salva se insere automaticamente como fruto da salvação lhe concedida por graça e fé. É claro que existem muitos teólogos europeus e estadunidenses hoje que não concebem a fé desta forma, somente os setores conservadores que utilizam a fé cristã como aparelho ideológico para justificar o capitalismo imperialista. Há também os ingênuos que foram treinados para pensar assim, que é a grande maioria do povo.

A fé bíblica não se restringe meramente à área privada (privatização da salvação), mas propõe um novo projeto de sociedade sem classes sociais - Gl 3.28 - e consequentemente sem luta de classes, sem Estado - Gn 11.1-9 -, sem Templo - Mq 3.12 - a partir da eliminação da propriedade privada dos meios de produção, circulação e distribuição pela proposta da auto-expropriação dos expropriadores - Mt 19.16-22; At 4.32-5.11 - como exigência da vida eterna e do discipulado de Jesus Cristo. Marx[19] fala do tema da expropriação assim:

 

À medida que diminui o número dos magnatas capitalistas que usurpam e monopolizam todas as vantagens desse processo de transformação, aumentam a miséria, a opressão, a escravização, a degradação, a exploração; mas, cresce também a revolta da classe trabalhadora, cada vez mais numerosa, disciplinada, unida e organizada pelo mecanismo do próprio processo capitalista de produção. O monopólio do capital passa a entravar o modo de produção que floresceu com ele e sob ele. A centralização dos meios de produção e a socialização do trabalho alcançam um ponto em que se tornam incompatíveis com o envoltório capitalista. O invólucro rompe-se. Soa a hora final da propriedade particular capitalista. Os expropriadores são expropriados. ... Antes, houve a expropriação da massa do povo por poucos usurpadores, hoje, trata-se da expropriação de poucos usurpadores pela massa do povo.

 

O processo de construção coletiva do Reino de Deus conduzido por Jesus Cristo passa pela organização política do povo de Deus, a Igreja, aliada a outros setores da sociedade, que lutam pelo fim da sociedade de classes. A fé em Jesus Cristo não se restringe à mera vivência, coerência e ação individual, mas conduz para o coletivo da organização política, a Igreja, aliada ao Movimento Popular, Movimento Específico – negros, indígenas e mulheres, Movimento Sindical, Partidos e ONGs de esquerda dentro do processo de construção da revolução internacional (At 1.8) do Reino de Deus por/em/com Jesus Cristo no processo de eliminação do reino do mundo, a sociedade de classes alicerçada na propriedade privada dos meios de produção, circulação e distribuição sustentada pelo Estado classista (1 Co 15.24).

Que visão de Deus e de mundo nós herdamos? Herdamos a visão idealista cartesiana positivista liberal de Deus e da realidade do homem (não da mulher), europeu, branco, proprietário privado, rico, patriarca, racista, escravocrata, colonialista, capitalista, imperialista de tradição judaico-greco-romana. Fomos ensinados e treinados a ver o mundo e a Bíblia a partir dessa visão, que se entende como neutra e apolítica. Dentro dessa visão somos idiótes (daí vem o termo idiota), não cidadãos, não exercendo seus direitos de cidadania, como os politikós, que exercem seu direito de cidadania O método histórico-crítico europeu (leitura dos textos originais hebraicos e gregos, forma e gênero literário, crítica literária, crítica das fontes, investigação do lugar vivencial do texto, a crítica redacional busca a linguagem e o estilo do autor, pesquisa arqueológica, histórica, cultural [tradições], religiosa e geográfica) ajudou muito na leitura, pesquisa e interpretação da Bíblia para descobrir o que está Por Trás da Palavra, mas não inclui a realidade, de hoje e do tempo bíblico, da luta de classes, do entendimento dos processos da economia política (modos de produção dos tempos bíblicos e de hoje), o materialismo histórico e dialético, como nos apontam Marx e Engels, no processo de interpretação bíblica.

Nos atemos aqui aos conceitos de sociedade desenvolvidos pelos gregos πολιτικός ≠ ιδιώτης. πολιτικός (politikós) ≠ (não é igual) ιδιώτης (idiótes). O politikós é o cidadão com todos os direitos (que era o homem escravocrata latifundiário, proprietário privado) que atua na política, no espaço público ao participar da assembléia (ekklesia) da cidade. O idiótes é apenas um morador da cidade que não atua no espaço político, só no espaço privado (os que não podiam atuar no espaço político eram os escravos, mulheres, estrangeiros, sem terra, os não cidadãos). Daí vem o termo idiota, o alienado. Só que os idiótes não podiam atuar no espaço político porque eram não cidadãos nessa sociedade de classes greco-romana.

Pastor/a (a pessoa cristã) foi tornado um idiótes (idiota, não cidadão) na Igreja e na sociedade para podar seu senso crítico que emana do Evangelho, para impedir a pura pregação da Palavra de Deus como Lei e Evangelho e assim reproduzir as dinâmicas do capital. Pastor/a é podado pela comunidade, controlada pela pequena burguesia conservadora, que exerce a sua cidadania plenamente nos partidos conservadores, em exercer seu direito de cidadão e participar do processo político partidário, pois o pastor/a poderia se alinhar à classe trabalhadora e camponesa, o que seria uma ameaça ao poder local desta pequena burguesia pelo poder que o cargo de pastor carrega consigo: credibilidade, mobilidade no meio do povo e platéia cativa (todo o fim de semana e durante a semana o/a pastor/a tem em sua frente uma platéia garantida espontaneamente, nenhum político tem isso). Por isso esse setor defende que a Igreja, quer dizer o pastor/a, não deve se meter em política. Mas este setor como Igreja faz política permanentemente dentro e fora da Igreja. Apenas não pode correr o risco de que o/a pastor/a se envolva em partidos de esquerda e atue no movimento popular e sindical o que desautorizaria essa pequena burguesia conservadora em sua ação política de direita como Igreja.

Caso o/a pastor/a atue abertamente na política com outro discurso que a pequena burguesia esta fica desautorizada em seu discurso de direita, pois o/a pastor/a é visto como autoridade. Se esta autoridade, o/a pastor/a, tem outro discurso que a pequena burguesia, que não é vista como autoridade, ela fica em maus lençóis e desautorizada perante o povo, que ela costuma iludir com seu discurso de direita. Por isso essa pequena burguesia ardilosamente difunde o discurso que pastor/a, subentendido a Igreja, não pode fazer política, pois isto desautorizaria o discurso ilusório e mentiroso da direita. Pastor somente está autorizado a fazer política partidária de direita e pode até ser candidato para prefeito e vencer eleições com apoio desta pequena burguesia conservadora, pois estará reproduzindo o discurso do capital, como foi o caso em Cunha Porã onde o pastor do Encontrão foi candidato e se elegeu prefeito pelo MDB. Neste caso, segundo esta pequena burguesia hipócrita, a Igreja não faz política, porque política de direita sempre se pode fazer. Desde pequenos somos educados (treinados) para sermos idiótes (idiotas, alienados), não cidadãos, apenas moradores da cidade que não participam do processo de cidadania – para sermos idiotas e reproduzir o senso comum.

Pastor/a deve ser um intelectual orgânico por causa do Projeto do Reino que parte da luta de classes para acabar com a sociedade de classes pela prática da luta social. Normalmente pastor/a é intelectual orgânico da burguesia ao se dizer neutro e apolítico e não denunciar a sociedade de classes e não procurar desmontar esta sociedade de classes. Igreja originalmente é intelectual orgânico coletivo dos empobrecidos, dos malditos, dos das classes subalternas – classe trabalhadora, camponesa e povos originários. A Igreja propõe outro projeto de sociedade e não tem a tarefa de reproduzir a atual sociedade classista. Manter e reproduzir a sociedade de classes é a tarefa do diabo e de seus asseclas.

Eis a tarefa da classe que pretende ser dirigente: 1 – conquistar os intelectuais tradicionais e favorecer o descer do muro porque eles têm força social, por exemplo, a Igreja; 2 – formar seus intelectuais orgânicos (quadros), sacerdócio geral de todos os crentes (1 Pe 2.5, 9).

Foi a Teologia da Libertação surgida a partir da luta de classes da América Latina a partir dos anos 1960 que começou a ler a Bíblia a partir do grito dos empobrecidos e explorados pelo capitalismo (negros, indígenas, camponeses, sem terra, posseiros, mulheres, LGBTQIA+, favelados, operários, movimento sindical e movimento popular), num período em que a América Latina estava toda ocupada por ditaduras militares projetadas e financiadas pelo imperialismo estadunidense, que faz uso da visão europeia de Deus para se reproduzir. Por isso o imperialismo estadunidense financiou as igrejas pentecostais e sua teologia, adotada também por setores conservadores das Igrejas históricas, para se propagarem pelos países dominados da América e da África para neutralizar outra leitura que a capitalista da Palavra de Deus como Lei e Evangelho. Somente a leitura capitalista da Bíblia tem validade, outra é tida como herética. Assim temos a leitura capitalista (neo)colonialista imperialista da Bíblia e a leitura não capitalista da Bíblia que parte do chão dos crucificados pelo capital, lugar social de Jesus Cristo. Como diz no caderno Os estudos bíblicos de um lavrador[20]:

 

O Evangelho é que nem a cana. Dela se tira o açúcar e a cachaça. O açúcar faz bem à saúde e dá gosto no alimento. Mas a cachaça embebeda, cria o vício da embriaguez, faz a pessoa sair do seu juízo e desconhecer a realidade. Tem pessoas que usam o Evangelho pra uma bebedeira. Usam o seu sumo, os seus ditos pra fugir da realidade, não ver a injustiça nem a prática contrária da sociedade. Desfazem da união dos fracos e apoiam os mais fortes no seu egoísmo. Não enxergam a vida. Ficam como gente embriagada que até dizem coisas verdadeiras, mas sem aquele sentido real. Com a pessoa que teima em ficar somente com o livro e se tranca nele pode acontecer até que chegue a enfraquecer na ideia. Aí o Evangelho deixa de ser uma boa nova, fica velho e antigo, como semente mofada, porque não foi plantado dentro da vida da pessoa. Pensando bem, aquilo nem Evangelho é porque fica só na conversa. O Evangelho é mais antes aquela semente que está escondida lá dentro do coração de todos.

Os nossos cuidados devem ser com a terra, não tanto com a semente. Se a gente esforça para preparar bem a terra e capinar a tempo, a semente cresce sozinha. Não adianta olhar diário a semente, nem mexer diário com ela, se a terra não esta boa, falta adubo, ou tem aquele lençol de timbete (capim-amoroso).

Noutra comparação, se pode pensar no sol, numa lua forte. Faltando luz, tudo entra na escuridão e a gente não sabe mais onde pisa. Mas se tem um luzeiro bem forte e a gente ficar fitando somente, dá o escuro nos olhos encandeia e não se enxerga mais nada. A luz não é feita pra gente pregar os olhos nela, mas pra clarear o lugar onde a gente está. O Evangelho é uma forte luz. Na claridade dele podemos olhar a vida; aí ele nos faz enxergar. Mas, se fitarmos só o Evangelho, podemos ficar encandeados.

 

A Igreja sempre é um instrumento político a serviço da sociedade de classes ou em luta contra ela, ela nunca é neutra e nem é apolítica. Ela é um instrumento político revolucionário criado pelo Espírito Santo como instrumento político de luta contra a sociedade de classes dentro do processo revolucionário evangélico de construção do Reino de Deus por/em/com Jesus Cristo, que é uma sociedade não classista, democrática, de pessoas livres, santas e irmãs no já agora na espera da volta de Cristo para a ressurreição do corpo e da vida eterna.

O Documento de Santa Fé de 1980 ("Uma nova política interamericana para os anos 80", Comitê Santa Fé) produzido por assessores do presidente Reagen reproduz a política intervencionista e propõe o controle da teologia nas Igrejas da América Latina como algo vital para a dominação imperialista estadunidense:

 

A América Latina é vital para os EUA: a projeção do poder global dos EUA sempre se baseou em um Caribe cooperando e numa América do Sul que nos apóie. Para os EUA o isolacionismo é impossível. A contenção da URSS não é suficiente. A distensão é a morte. Somente os EUA podem, como sócios, proteger as nações independentes da América Latina da conquista comunista e ajudar a preservar a cultura hispano-americana de sua esterilização pelo materialismo marxista internacional. Os EUA devem assumir a direção. Não somente estão em perigo as relações dos EUA com a América Latina, mas a própria sobrevivência de nosso país está em jogo. ... A guerra e não a paz é a norma que rege os assuntos internacionais.[21] ... a política externa dos Estados Unidos deve começar a neutralizar (não reagir) à Teologia da Libertação, como é usada na América Latina pelo clero a ela vinculado ... O papel da igreja na América Latina é vital para o conceito de liberdade política. Infelizmente, as forças marxistas-leninistas passaram a usar a Igreja Católica como uma arma política contra a propriedade privada e o capitalismo produtivo, infiltrando a comunidade religiosa com ideias menos cristãs e mais comunistas.[22]

 

Dentro dessa lógica imperialista (“A guerra e não a paz é a norma que rege os assuntos internacionais.”) a teologia do Encontrão, da MEUC, dos Herdeiros de Worms se encaixam dentro da necessidade de se submeter à visão europeia-estadunidense de Deus e da realidade juntamente com muitos outros setores conservadores da IECLB que se alinham ao Bolsonaro. A reprodução dessa teologia imperialista estadunidense é tão sutil e escondida que os próprios reprodutores não sabem que a reproduzem. Se confrontar o pessoal do Encontrão, da MEUC e dos Herdeiros de Worms com isso eles negarão veementemente que estejam sujeitos a essa teologia esboçada pelo Documento de Santa Fé, mas na prática eles reproduzem essa teologia. Essa é a genialidade da ideologia, a pessoa que a reproduz não sabe que a reproduz. Os setores mais esclarecidos destes grupos o sabem, mas o negam.

Outra visão de Deus é uma ameaça à sociedade de classes e à sua reprodução. A Igreja é um espaço político fundamental para a reprodução e perpetuação do capital como também como instrumento de derrota do capital dependendo de sua visão de Deus e de realidade. Uma leitura bíblica que leva em conta a realidade da luta de classes não é desejada pelo imperialismo estadunidense. Muitos cristãos latino-americanos desde os anos ’60 foram martirizados (perseguidos, presos, torturados e assassinados) porque construíram outra visão de Deus em sua prática de fé inserida na luta de classes dentro do processo de construção coletiva do Reino de Deus conduzido por Jesus Cristo. Aqui no Brasil foi do frei Carlos Mesters que surgiu a questão de olhar Por Trás da Palavra que produziu várias metodologias de leitura bíblicas, a sociológica (olhar o lado social, político, econômico e religioso no texto – leitura dos quatro lados), a feminista, a negra, a indígena, etc.

A visão europeia de Deus está embasada no

Idealismo - Deus está no coração da pessoa, fé cristã como idéia e sentimento, a conversão do coração.

Cartesianismo - Uma coisa está separada da outra, salvação individual desconectada do processo coletivo de construção do Reino de Deus. Fé, negócios e política são coisas separadas.

Positivismo - Cada coisa (matemática, geografia, ciência, história, filosofia, teologia, etc.) é neutra, não tem ligação com outra e não sofre influência de outra.

Liberalismo - doutrina capitalista baseada na defesa da liberdade individual, nos campos econômico, político, religioso e intelectual, contra as ingerências e atitudes coercitivas do poder estatal. Este é o pacote ideológico europeu que nos foi imposto para legitimar e reproduzir o capitalismo.

Essa visão europeia de Deus e da realidade se foca apenas no indivíduo para desfocar o processo de luta de classes na qual a Igreja está inserida e desviar a atenção do Projeto Global de Deus para a Humanidade que requer a eliminação da sociedade de classes. O acento na conversão apenas do indivíduo sem apontar para a conversão (revolução) de toda a sociedade ajuda a perpetuar a sociedade de classes que Deus quer eliminar pelo processo da revolução evangélica do Reino de Deus conduzida por Jesus Cristo.

No AT Deus conduz a Revolução Agrária para implantar nas montanhas da Palestina um modo de produção sem propriedade privada, pois a terra, meio de produção, estava sob controle coletivo da tribo e por isso não havia Estado, nem classe sociais e nem templo, que sempre é o instrumento de dominação ideológica estatal pela religião. No NT é o Evangelho do Reino de Deus que propõe esse processo revolucionário de construir coletivamente, pela organização política da Igreja e seus aliados, esse novo modo de produção onde não há classes sociais, pois não há propriedade privada (At 4.32-5.11). Segundo o NT o Estado foi o grande instrumento de perseguição à Igreja que ameaçava o modo de produção escravista alicerçado na propriedade privada da terra e da mão de obra. Gl 3.28 aponta para esse novo modo de produção sem classes sociais e sem patriarcado. Não podemos ser um em Cristo quando existe exploração e dominação de classe que perpetua o patriarcado. A fé em Jesus Cristo e o batismo inserem nesse processo revolucionário evangélico.

A Bíblia se compõe de livros e por isso esses livros devem ser lidos e interpretados “como a racionalidade humana costuma interpretar qualquer outro livro”, diz Flávio Schmitt[23]. A palavra "Bíblia" é de origem grega e significa: "livros"; é, na verdade, uma pequena biblioteca de 66 livros (73 livros na versão católica) escrita por diversos autores a partir do processo da luta de classes de sua época para explicar a realidade na qual se vivia e a realidade que se buscava a partir do Projeto Global de Deus para a Humanidade.

 

A hermenêutica é uma disciplina filosófica e, no caso da Bíblia, também teológica de interpretação de texto. Ela é o estudo sistemático e criterioso de princípios que devem reger a busca pela interpretação pretensamente "mais correta" ou "verdadeira" do texto bíblico. Evidentemente, faz parte da filosofia hermenêutica discutir o que se deve entender por "mais correta" ou "verdadeira" interpretação. ...

As principais tarefas da exegese bíblica são: fazer a melhor tradução possível dos textos originais; analisar o contexto linguístico, semântico, sintático, e histórico do processo que produziu o texto; verificar o sentido do texto na fidelidade da intenção de seu(s) autor(es) e/ou redator(es); extrair o significado mais próximo da mensagem original que os autores e redatores da Bíblia pretendiam comunicar.

Hermenêutica e exegese devem juntas ajudar a interpretar a mensagem, na busca pela fidelidade ao texto, na intenção de seus autores e/ou redatores originais, sem cair na arbitrariedade de interpretações que ora desprezam a "letra" (o sentido literal) em nome do "espírito" (sentido não literal) e por vezes negligenciam o "espírito" em nome da "letra". Por isso, entender a Bíblia como Palavra de Deus é compreendê-la primeiro como palavra vivida e só depois como palavra escrita.[24]

 

A Bíblia é o resultado da inserção de Deus no processo histórico da luta de classes, portanto, primeiro vem a prática da luta de classes na qual Javé se insere para acabar com a sociedade de classes, que é fixada pelo texto bíblico, como momento segundo, para se poder construir sob a condução de Deus o momento terceiro, que é a nova prática na nova sociedade sem classes, que Deus propõe. Por isso é fundamental entendermos todo o processo histórico da luta de classes e os modos de produção existentes que ocorreram na humanidade para entendermos o texto bíblico e sua proposta para hoje e para o futuro da Humanidade. Isso aponta que hoje a Igreja primeiro precisa fazer uma análise da estrutura e conjuntura sob o capitalismo – a prática – para que o texto bíblico possa iluminar essa prática e apontar como seguir lutando para continuar inserido no Projeto de Deus hoje, que continua sendo uma sociedade livre, sem classes, que Jesus chama de Reino de Deus.

Na pregação a Igreja sempre começa com o texto bíblico para depois apontar para a realidade. Segundo a metodologia bíblica (Prática-Teoria-Prática) seria necessário começar a pregação com a prática da luta de classes atual (análise da conjuntura sob o capitalismo) para depois deixar o texto bíblico iluminar essa prática para que possa surgir nova prática ou uma prática melhorada. O problema é que a Igreja quase não está inserida na prática da luta de classes a favor e ao lado das classes exploradas. As comunidades não estão inseridas em lutas concretas por justiça e paz (Rm 14.17) por isso a pregação não inicia a partir da prática de luta comunitária porque esta não existe. Por isso a pregação da Igreja inicia pela Teoria – o texto bíblico – porque não participa da luta de classes com e ao lado das classes exploradas, mas por causa de sua omissão a Igreja participa da luta de classes ao lado e com a burguesia para fortalecer e reproduzir o capitalismo, instrumento usado pelo diabo para tentar impedir o processo revolucionário de construção coletiva do Reino de Deus conduzido por Jesus Cristo. A Igreja ao não apoiar e nem se inserir nas lutas das classes subalternas ela está optando pela classe dominante, dizendo-se neutra. A Igreja acaba cedendo às pressões da pequena burguesia conservadora que administra a Igreja a partir de suas bases com o argumento de manter a unidade da Igreja. Com isso o grito dos explorados pelo capital não ecoa na Igreja, somente os resmungos e protestos da pequena burguesia conservadora quando ela se sente ameaçada pela prática evangélica dos setores marginalizados.

A Teologia da Libertação surgiu porque neste contexto a Igreja estava inserida no processo histórico da luta de classes com e ao lado das classes exploradas pelo capital. Isso ajudou a Igreja a fazer uma releitura do próprio texto bíblico, pois estava com os pés fincados em outro lugar social, o lugar dos explorados pelo capital. O lugar social no qual se está ajuda ou atrapalha a leitura bíblica. A Igreja normalmente está no lugar social dos empobrecidos, maioria do povo brasileiro, mas quem a comanda é a pequena burguesia conservadora, braço estendido dos interesses do grande capital em cada município, que impõe outra prática teológica. É uma posição esquizofrênica: a Igreja é composta em sua maioria por pessoas das classes subalternas, mas, por ser administrada pela pequena burguesia do campo e da cidade, ela não se coloca do lado das classes exploradas em suas lutas por justiça e paz. Muitas vezes esta pequena burguesia conservadora está aliada ao clero conservador, o que piora a situação. Este clero normalmente tem sua origem no campesinato empobrecido ou no operariado, mas foi cooptado quando acha que não pertence mais à classe trabalhadora, mas é classe média ou pensa que é supraclassista. O clero é um setor da sociedade que pertence à classe trabalhadora porque vende a sua força de trabalho por um salário para a Igreja. Como a Igreja fala em vocação e não em profissão então a questão de classe social fica encoberta, mas assalariado pertence à classe trabalhadora. Aí a maioria do clero por ignorância (porque não estudou o marxismo) não sabe que pertence à classe trabalhadora opta por outra classe social ou pensa que está acima das classes sociais e da luta de classes. Aí o Evangelho é espiritualizado e desencarnado, com isso se ajuda a dominação da classe capitalista sobre as classes subalternas. Aí o Evangelho vira religião como ópio do povo.

 

Um esquema, como síntese, para termos uma visão melhor sobre os três projetos expostos.

Projeto da Terra Prometida

Projeto do Reino de Deus

Capitalismo

1. Sociedade sem propriedade privada dos meios de produção: a terra – Lv 25.23; Sl 24.1; Nm 26.54-56

2. Sociedade sem Classes Sociais – Dt 15.4; Lv 25.23; Nm 26.54-56

3. Não há luta de classes porque não há propriedade privada da terra - Nm 26.52-54; Lv 25.23

4. Sociedade sem Estado (Js 6-8; Gn 11.1-9)

5. Sociedade sem Templo (Js 8.30 somente altar), mas com a Lei e os Profetas (Lc 16.16; Mt 7.12)

6. Poder Popular – Js 6-8; Js 24, Js 8.33

7. Assembleia Popular – Nm 27.1-11

8. Sociedade plural e livre - Gn 11.9; Js 8.33

9. Projeto societário utópico profético - Dt 18.9-22; Dt 34.10; Êx 7.1 “Então disse o Senhor a Moisés: Eis que te tenho posto como Deus a Faraó, e Arão, teu irmão, será o teu profeta”.

10. Sacerdócio popular – levitas sem-terra são os guardiões da teologia fiel à Javé a partir dos pobres Nm 18.24; Dt 18.1; 26.12

11. Revolução Agrária viabilizada pelo Movimento de Massas camponês incentivada, planejada, organizada e comandada por Javé desde o Êxodo - Êx 3; Js 6-8

1. Sociedade sem propriedade privada dos meios de produção: a terra – At 2.42-47; Mt 19.21

2. Sociedade sem Classes Sociais – At 4.32-35; Gl 3.28

3. Não há luta de classes porque não há propriedade privada dos meios de produção – Mt 22.37-40; At 4.32-35; Mt 19.21

4. Sociedade sem Estado – Ap 13; Lc 22.25-26; 1 Co 15.24

5. Sociedade sem Templo [Religião como ópio do povo], mas com o Evangelho do Reino de Deus – Lc 16.16 – 1 Co 3.16; 2 Co 6.16; 1 Co 3.17: “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”.

6. Poder Popular reunido e exercido em assembleia popular - At 6.1-6; At 15

7.  Igreja insurgente utópica profética - 1 Co 14.1 “Segui o amor; ... mas principalmente o de profetizar”

8. Sociedade plural e livre - Mc 15.30, 40-41; Mt 21.43; Gl 3.28; Cl 3.11; 1 Co 9.19-22

9. Sacerdócio profético de pessoas pobres – 1 Co 14; 1 Co 4.9-13; At 18.1-4 Discípulos e apóstolos são pobres - Mt 19.27. Os pobres são o vaso que guarda o tesouro do Evangelho.

10. Sacerdócio popular profético - 1 Pe 2.5,9; 1 Co 14.1-40; 4.1; Lc 1.2

11. Revolução do Reino de Deus iniciada por Jesus Cristo pelo Evangelho a partir dos empobrecidos é internacional - Mc 1.15; Lc 4.43

1. Propriedade privada dos meios de produção, circulação e distribuição como chave da organização social

2. Sociedade de classes

3. Luta de Classes

4. Estado a serviço do Mercado

5. Capitalismo como Religião

Fetiche da mercadoria

6. Ideologia, Individualismo, Meritocracia, Pensamento único

7. Trabalho assalariado

8. Livre iniciativa – concorrência e competição

9. Ditadura do mercado geradora da pobreza e da riqueza

10. Anarquia da produção

11. Desemprego estrutural

12. Crises cíclicas, guerra e desemprego estrutural

13. Formas de governo: ditadura (civil ou militar) ou democracia burguesa

14. Neocolonialismo, Imperialismo

15. Objetivo: Lucro ilimitado através do crescimento ilimitado pelo processo de produção de mercadorias que gera o mais-valor e a especulação.

Obs: Notamos que o Capitalismo nada tem de semelhante com os dois outros projetos que são semelhantes

 

Aqui outra comparação para vermos as semelhanças e diferenças entre os projetos.

 

Capitalismo

Reino de Deus

Comunismo

1. Propriedade privada dos meios de produção, circulação e distribuição como chave da organização social.

2. Sociedade de classes: Classe Trabalhadora, Classe Camponesa, Classe Capitalista.

3. Luta de classe permanente.

4. Estado aliado, mantido e a serviço do Mercado.

5. Capitalismo como Religião e Religião como legitimadora do capitalismo. Religião como interesse privado.

6. Ideologia, Fim da História, Individualismo, Meritocracia, Ditadura do Pensamento Único para legitimar a Ditadura do Capital.

7. Trabalho assalariado que produz o mais-valor para o capitalista.

8. Livre iniciativa – concorrência e competição.

9. Ditadura do mercado geradora da pobreza.

10. Crises cíclicas para concentrar capital, desemprego estrutural, guerras, genocídio, colapso planetário.

11. Anarquia da produção

12. Desemprego estrutural

13. Formas de governo: ditadura (civil ou militar) ou democracia burguesa.

14. Neoliberalismo, Neocolonialismo,

Imperialismo, Liberdade de circulação internacional de capitais e de mercadorias, mas não de pessoas empobrecidas.

15. Objetivo final: Lucro ilimitado com crescimento ilimitado a qualquer custo (guerra, genocídio, exploração ilimitada das pessoas e da natureza).

16. Colapso planetário como resultado final.

1. Sociedade sem propriedade privada, mas coletiva dos meios de produção, circulação e distribuição – At 2.42-47; Mt 19.21 (Nm 26.53-56; Dt 15.4: “para que entre ti não haja pobre”).

2. Sociedade sem Classes Sociais – At 4.32-35; Gl 3.28; Cl 3.9b-11.

3. Não há luta de classes porque a propriedade privada foi eliminada pelo amor a Deus e ao próximo – Mt 22.37-40; At 4.32-35; Mt 19.21 – pela prática da vivência da Ceia do Senhor (Mc 14.22-25; Mt 26.26-29; Lc 22.15-20. 1 Co11.23-29)

4. Sociedade sem Estado - Ap 13; 1 Co 15.24.

5. Sociedade sem Templo [Religião como ópio do povo], mas com o Evangelho revolucionário do Reino de Deus – Lc 16.16 – 1 Co 3.16; 2 Co 5.16; 1 Co 3.17 “Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado”.

6. Assembleia Popular e Poder Popular - At 6.1-6; At 15.

7. Sociedade plural e livre - Mc 15.30, 40-41; Mt 21.43; Rm 10.12; Gl 3.28; Cl 3.9b-11; 1 Co 9.19-22; Gl 5.1.

8. Sacerdócio profético de pessoas pobres - 1 Co 4.9-13; 1 Co 14; At 18.1-4. Discípulos/as e apóstolos/as são pobres - Mt 19.27 - para garantir a pureza da vivência e da pregação evangélica (semelhante no AT [Nm 18.24; Dt 18.1; Js 14.4,7] onde os levitas pobres controlavam a teologia). Os pobres são o vaso que guarda o tesouro do Evangelho.

9. Igreja insurgente utópica profética - 1 Co 14.1 “Segui o amor e procurai, com zelo, os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis”. 2 Pe 3.13; 1 Pe 2.5,9-10; Ap 19.10: “Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia”.

10. Revolução do Reino de Deus (ruptura com o velho) iniciada e continuada por Jesus Cristo pelo Evangelho do Reino de Deus (Mc 1.15; Lc 4.43; 1 Co 15.24-26).

11. Vida plena aqui e agora (Jo 10.10) e eterna (Rm 6.22).

1. Sociedade sem propriedade privada dos meios de produção, circulação e distribuição.

2. Sociedade sem Classes Sociais.

3. Sociedade sem luta de classes.

4. Sociedade sem Estado.

5. Religião como questão social e coletiva. Teoria revolucionária e movimento revolucionário.

6. Conselhos Populares de Operários, Camponeses, Soldados, Indígenas e Quilombolas.

7. Poder Popular via Conselhos Populares de operários, camponeses, soldados, indígenas e quilombolas.

8. Militância revolucionária de trabalhadores/as, camponeses e povos originários.

9. Democracia Popular pluripartidária (com vários partidos comunistas) com plebiscitos e referendos.

10. Revolução comunista viabilizada pelo Movimento de Massas (proletário-camponês-indígena).

11. Sociedade democrática, plural e livre. Aqui começa a História da Humanidade, pois até aqui a humanidade viveu na barbárie da sociedade de classes. “As relações burguesas de produção são a última forma antagônica do processo social de produção, ... Com esta formação social se encerra, portanto, a pré-história, da sociedade humana.” MARX, Karl. Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política”.

 

Deus constrói seu Projeto para a Humanidade na Bíblia dentro e a partir da sociedade de classes existente em permanente luta de classes a partir e com as classes subalternas: a classe camponesa, a classe escrava e os setores marginalizados da sociedade: mulheres, estrangeiros, artesãos, não cidadãos, para construir uma sociedade sem classes onde os meios de produção estão sob controle popular. A questão do controle dos meios de produção é fundamental em qualquer sociedade, por isso no Documento de Santa Fé diz: “as forças marxistas-leninistas passaram a usar a Igreja Católica como uma arma política contra a propriedade privada e o capitalismo produtivo”. O Evangelho pregado na Igreja está ameaçando a base da sociedade capitalista, a propriedade privada e o capitalismo, diz em outras palavras esse documento. O Evangelho é uma ameaça em potencial para o capitalismo imperialista.

A base da sociedade é a sua forma de produção de mercadorias (para entender uma sociedade precisamos entender o seu modo de produção da vida material, como, por quem e para que as mercadorias são produzidas), por isso o controle sobre os meios de produção é fundamental, quer dizer, quem vai controlar e como vai ser o controle sobre os meios de produção? Vai ser um controle privado, o indivíduo, ou um controle coletivo, a sociedade? Essa decisão vai condicionar a forma de ser da pessoa individual. Deus opta pelo controle coletivo dos meios de produção (Nm 26.52-54) porque ele é o dono da terra, nós somos apenas posseiros (Lv 25.23), por isso a terra (os meios de produção, circulação e distribuição) deve estar disponível para todas as pessoas. No NT a questão do controle sobre os meios de produção aparece em Atos 4.32-5.11; 2.42-47 e nos Evangelhos Mt 19.16-22; Mc 10.17-22; Lc 18.18-23 e nos textos da celebração da Ceia do Senhor, onde se propõe partilhar tudo: 1 Co 11.17-34; Mt 26.30; Mc 14.22-26; Lc 22.14-20. Todos terão acesso ao comer e ao beber quando tudo for partilhado, principalmente os meios de produção. Sem a partilha radical dos meios de produção nem todas as pessoas terão o que comer e o que beber, no sentido da explicação de Martim Lutero do Pão nosso de cada dia no Catecismo Menor, o que contraria o cerne teológico da celebração da Ceia do Senhor.

Isso lembra o Lula, que não é comunista, mas propõe construir uma política governamental que garanta três refeições diárias para todos os brasileiros, que é o mínimo que cada governo deveria garantir. Essa proposta soa como uma ameaça mortal para a burguesia brasileira de mentalidade escravocrata, pois isso só será possível se os meios de produção estiverem sob controle popular, começando pela Reforma Agrária sob controle popular. Nossa burguesia de mentalidade escravocrata não pode permitir que todos os brasileiros comam três vezes ao dia. Isso é um fato democrático impensável para quem quer as classes subalternas permanentemente ajoelhadas pedindo um emprego com um salário mínimo desvalorizado. Não se consegue mais empregada que durma no emprego, gritam as madames da burguesia. Aeroporto agora é como se fosse rodoviária, clamam os cartazes em protesto nos bairros chiques. Já ouvimos isso há dez anos atrás e precisamos de uma terceira via, grita a burguesia hoje, quando olha para os candidatos a presidência que desfilam nas pesquisas. O fantasma das três refeições continua presente no cenário atual, para o desespero da burguesia e da classe média branca com formação universitária que sai às ruas de verde e amarelo, fingindo patriotismo ao querer de volta a ditadura. Se isso continuar, os pobres comerem três vezes ao dia, essas classes subalternas vão poder pensar melhor e querer mais do que isso, quem sabe construir o comunismo. Temos que cortar o mal pela raiz, dizem os apavorados escravocratas.

O Lula é a esperança dos pobres e a burguesia não tem ninguém para destacar como líder de massa. Por isso Lula é tão odiado pela burguesia, apesar de não ser comunista, mas socialdemocrata. Nas entrelinhas de sua proposta das três refeições está a ameaça da socialização dos meios de produção: a terra, as fábricas, os bancos, o grande comércio, a tecnologia, as máquinas. Nos anos ’80 quando os sem terra do MST da Fazenda Annoni marchavam para Porto Alegre, exigindo Reforma Agrária, o presidente da Farsul disse: “Não se pode dar terra para os sem terra, porque daqui a pouco vão aparecer os sem fábrica e os sem banco”. Ele entendeu o perigo. A Reforma Agrária é uma ameaça global ao capitalismo. Não dá para abrir exceções. Por isso a Reforma Agrária foi excluída da Agenda. É uma ameaça ao capital, pois legitima a desapropriação/expropriação de um meio de produção, a terra. Daqui a pouco os sem fábrica vão querer desapropriar/expropriar as fábricas e os sem banco desapropriar/expropriar os bancos. Vai que a moda pega!

A visão europeia de Deus acentua que Javé é um Deus pessoal que fala sobre as questões existenciais individuais com Abraão, com Hagar, com Moisés, com Davi, com os/as profetas. Mas nenhuma pessoa é uma ilha, ela vive em sociedade e é condicionada por esta sociedade e seu modo de produção da vida material, ela age e pensa conforme a organização social dessa sociedade, como nos lembra Marx: “o seu ser social é que determina a sua consciência”. O credo histórico do povo de Israel em Dt 6.20-23 fala do projeto de libertação para todo o povo hebreu escravo no Egito e em Js 8.33, 35 fala que estão integrados ao Projeto da Terra Prometida todos os grupos que se juntaram aos hebreus. Segundo o Credo o Projeto de Deus é para um grupo coletivo, a classe camponesa, que tomou o poder e eliminou o Estado e construiu uma sociedade sem classes porque eliminou a propriedade privada da terra. Agora estas pessoas têm outro referencial para organizar a sua vida e a vida da sociedade. Construíram outro modo de produção da vida material que irá condicionar a sua sociedade. Agora não vale mais o referencial do modo de produção tributário, agora vale o referencial do modo de produção tribal, houve uma revolução, que organizou a sociedade a partir do aprendizado dos 40 anos de deserto.

O conjunto de referências para as pessoas organizarem a sua sociedade parte de outro modo de produção que cria outra consciência e se compõe de outra leitura e de outra visão de Deus. Não é mais o Estado com seus deuses, que legitimam a exploração de classe, que são os referenciais que ditam as normas de vida. Agora é Javé, o Libertador, que é a referência, aquele que os libertou da escravidão do Estado egípcio e os conduziu na Revolução Agrária e os conduzirá nessa nova sociedade sem classes sociais. Em cima dessa história os camponeses construirão a sua sociedade e expressam sua fé a partir desse fato da luta de classes. Javé construiu com a classe camponesa uma nova sociedade. É isso que Paulo fala em 2 Co 5.17: “se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.” Pela fé e pelo batismo somos nova criatura no processo de construção de uma nova sociedade que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. É o projeto coletivo para a Humanidade no NT.

Afirmar na pregação que só Jesus salva e cada um se vira como pode daqui para frente no capitalismo não basta, tem que mostrar como vai ser a vida dos salvos dentro da comunhão dos santos vivendo como nova criatura numa sociedade de irmãos, que é a sociedade sem classes e sem exploração de classe porque um santo não pode explorar outro santo para ficar rico. O salvo por graça e fé não pensa em ficar rico, enquanto o resto vive na miséria, e se dar bem sozinho porque vive na comunhão dos santos onde todos são irmãos e iguais porque se partilha tudo conforme a celebração da Ceia do Senhor.

Como é a sociedade na qual os santos, salvos por graça e fé, vivem? A sociedade capitalista onde um santo explora outro santo pela escravidão assalariada? Agora você está salvo, mas como você viverá na comunhão dos santos dentro do capitalismo? Vai deixar o capitalismo intacto para continuar a exploração de classe entre os santos, salvos por graça e fé, ou a salvação produz frutos que irão produzir outra sociedade não capitalista? Para produzir outra sociedade sem exploração de classe é necessário eliminar o capitalismo, não tem outro jeito. Como vai ser essa outra sociedade não capitalista? Para isso precisamos pesquisar na Bíblia que indicações ela nos fornece para construirmos outra sociedade sem exploração de classe e olhar o que nos apontam o AT e o NT.

Por isso é fundamental descobrirmos quais as características do Projeto de Deus para a Humanidade que a Bíblia nos apresenta e ver o que a Humanidade já produziu em teoria e prática através da luta de classes em direção à construção de uma sociedade sem classes sociais e comparar as diferenças e as semelhanças nas propostas. A partir daí poderemos construir um novo projeto de sociedade que se assemelha às características do que deve ser a comunhão dos santos. Isso significa que o novo não vai surgir sem uma ruptura, uma conversão da sociedade, como nos mostra Mc 1.15. Não basta a conversão individual se não se produzir a conversão de toda a sociedade que irá impactar sobre a vida individual das pessoas. Uma nova prática político-econômica-social-cultural-religiosa individual será produzida por essa nova sociedade não capitalista que gerará uma nova consciência que reforçará essa nova prática. Que teorias a Humanidade já produziu sobre uma nova sociedade sem exploração de classe? Temos a socialdemocracia, que é um capitalismo com outro penteado, e temos o comunismo. Temos ainda o Sumak Kawsay, a Terra sem Males, o Ubuntu dos povos originários e africanos que nos ajudam nessa tarefa de elaborar um novo conceito de sociedade.

Sobre a socialdemocracia nos fala alguém que já foi da direção da Internacional Socialista. Jean Ziegler[25] em entrevista fala da socialdemocracia.

 

Por anos, fui membro do Conselho Executivo da Internacional Socialista. Seu presidente, Willy Brandt, dizia a nós jovens, como eu, Brizola e Jospin: não se preocupem. A cada votação, vamos avançar aos poucos e as pessoas vão se dar conta. Lei por lei, vamos instaurar uma democracia social, igualdade de oportunidades e justiça social. Mas isso não ocorreu. No lugar do progresso da democracia social, o que vimos foi a instauração da ditadura mundial de oligarquias do capital financeiro globalizado que dá suas ordens, mesmo aos estados mais poderosos. Desde a queda do Muro de Berlim em 1989, a liberalização do mercado e a perda do poder normativo dos estados avançou mais que nunca e, ao mesmo tempo, a desigualdade social aumentou. Mas Brandt também nos dizia: quando vocês falarem publicamente, é necessário dar esperança. O discurso deve ser analiticamente exato. Mas ele precisa ser concluído com uma afirmação de esperança. Caso contrário, é melhor ficar em casa.

Mas onde está essa esperança?

É a sociedade civil planetária. É a misteriosa fraternidade da noite, a miríade de movimentos sociais – Greenpeace, Anistia Internacional, movimento antirracista, de luta pela terra – que lutam contra a ordem canibal do mundo, cada qual em seu domínio. São entidades que não obedecem a um comitê central ou a uma linha de partido, e que funcionam por um só princípio: o imperativo categórico. ... O escritor francês George Bernanos escreveu: “Deus não tem outra mão que seja a nossa”. Ou somos nós que mudaremos essa ordem canibal do mundo, ou ninguém o fará.

 

Décio Saes[26] lembra sobre a ilusão que temos do Estado:

 

... os homens caem, entretanto numa solução ilusória, imaginando uma comunidade aparentemente universal: o Estado, guardião do interesse geral da sociedade. Por isso, tais premissas são a fonte da alienação política: realimentam continuamente o Estado separado da sociedade civil, permitem a sua reprodução contínua.

 

Lênin[27] falando do surgimento do Estado, como resultado da sociedade de classes e para abafar a luta de classes, afirma:

 

O Estado - diz Engels, fazendo o balanço da sua análise histórica - não é, portanto, de modo nenhum, um poder imposto de fora à sociedade; tão-pouco é 'a realidade da ideia moral', 'a imagem e a realidade da razão', como Hegel afirma. É, isso sim, um produto da sociedade em determinada etapa de desenvolvimento; é a admissão de que esta sociedade se envolveu numa contradição insolúvel consigo mesma, se cindiu em contrários inconciliáveis que ela é impotente para banir. Mas para que estes contrários, classes com interesses econômicos em conflito, não se devorem e à sociedade numa luta infrutífera, tornou-se necessário um poder, que aparentemente está acima da sociedade, que abafe o conflito e o mantenha dentro dos limites da 'ordem'; e este poder, nascido da sociedade, mas que se coloca acima dela, e que cada vez mais se aliena dela, é o Estado. ... Como o Estado nasceu da necessidade de conter os antagonismos de classe, e como ele, porém, ao mesmo tempo, nasceu no meio dos conflitos destas classes, ele é, em regra, o Estado da classe mais poderosa, economicamente dominante, a qual por meio dele se torna também a classe politicamente dominante e assim adquire novos meios para a repressão e exploração da classe oprimida. ... Segundo Marx, o Estado é um órgão de dominação de classe, um órgão de opressão de uma classe por outra, é a criação da 'ordem' que legaliza e consolida esta opressão moderando o conflito de classes.

 

Outra fala que temos é a de Lênin[28]:

 

Queremos alcançar uma organização nova e melhor da sociedade, na qual não haja ricos nem pobres e todos tenham que trabalhar! Que não seja um punhado de ricaços, mas sim, todos os trabalhadores que tenham proveito dos frutos do trabalho de todos! Que as máquinas e outros aperfeiçoamentos facilitem o trabalho de todos e não sirvam apenas para enriquecer a alguns a custa de milhões e milhões de homens do povo! Esta sociedade nova e melhor se chama sociedade socialista. A doutrina que trata dessa sociedade se chama socialismo.

 

Os marxistas procuram definir o comunismo em conceitos.

 

"O comunismo não é uma doutrina, mas um movimento; procede não de princípios, mas de fatos" (Engels, 1977, p. 291).[29]

 

O comunismo não é para nós um estado de coisas que deve ser instaurado, um ideal a que a realidade deverá adequar-se. Chamamos de comunismo o movimento real que abolirá o estado de coisas presente. (MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. A ideologia Alemã)[30]

 

No que consiste o socialismo?[31]

Ele não tem nada de misterioso ou obscuro. Seu princípio fundamental é transparente e claro como água da cascata: os meios de produção devem pertencer à sociedade e as grandes decisões sobre investimentos, produção e distribuição não devem ser abandonadas às leis cegas do mercado, a um punhado de exploradores ou a uma camarilha burocrática, mas tomadas, depois de um amplo e pluralista debate democrático, pelo conjunto da população. Nada mais simples, mas exige, para ser realizado, uma verdadeira revolução, a supressão do sistema capitalista e do poder das classes dominantes...

O socialismo significa, concretamente, que a produção não será mais submetida às exigências do lucro, da acumulação do capital, da produção em massa de mercadorias inúteis ou nocivas, mas voltada para a satisfação das necessidades sociais: alimentação, vestuário, habitação, saneamento básico, água, educação, saúde, cultura. Significa também o fim da discriminação racial – contra o negro, o mestiço, o indígena – da opressão das mulheres, da desigualdade social, da destruição do meio ambiente, das guerras imperialistas. ...

Um dos primeiros marxistas latino-americanos, o peruano José Carlos Mariátegui, já escrevia em 1928: “Contra uma América do Norte capitalista, plutocrática, imperialista, só é possível opor, de maneira eficaz, uma América, latina ou ibera, socialista”. ... José Carlos Mariátegui, que havia escrito no mesmo documento de 1928: “Não queremos, certamente, que o socialismo seja nas Américas calco e cópia. Deve ser criação heroica. Temos de dar vida, com nossa própria realidade, com nossa própria linguagem, ao socialismo indo-americano”. ...

A construção do socialismo é inseparável de certos valores éticos, contrariamente ao que afirmavam as concepções dogmáticas e economicistas, que só consideravam “o desenvolvimento das forças produtivas”. Na famosa entrevista com o jornalista francês Jean Daniel (julho de 1963), Guevara insistia: “o socialismo econômico sem a moral comunista não me interessa. Lutamos contra a miséria, mas ao mesmo tempo contra a alienação. (...) Se o comunismo passar por cima dos fatos da consciência, poderá ser um método de distribuição, mas não será mais uma moral revolucionária”. Se o socialismo pretende lutar contra o capitalismo e vencê-lo em seu próprio terreno (o terreno do produtivismo e do consumismo), utilizando suas próprias armas (a forma mercantil, a concorrência), está condenado ao fracasso.

 

José Paulo Netto[32] na Introdução ao livro Miséria da Filosofia de Marx fala sobre alienação e comunismo.

 

Marx põe em causa justamente aquilo que a economia política não questiona: a propriedade privada - e nela localiza a raiz da alienação. Suprimir a propriedade privada para suprimir a alienação é instaurar o comunismo, garantia do humanismo real. Não se trata do comunismo vulgar, que subsume o indivíduo no gênero; trata-se de uma revolução radical, do comunismo como "abolição positiva da propriedade privada (ela mesma alienação humana em si) e, consequentemente, apropriação real da essência humana pelo homem e para o homem... Este comunismo ... é a verdadeira solução do antagonismo entre o homem e a natureza, o homem e o homem, a verdadeira solução da luta entre existência e essência, objetivação e afirmação de si, liberdade e necessidade, indivíduo e gênero". Este comunismo, no entanto, não deriva de uma tensão ética que levaria ao termo da história: "é o momento real da emancipação e da retomada de si do homem"; não é a meta da sociedade humana, mas "a sua forma". ...

... a liquidação da alienação pela prática revolucionária exercitada pelo proletariado constitui o comunismo, que "não é um estado ... um ideal... Chamamos comunismo ao movimento real que acaba com o atual estado de coisas". O que se conceptualiza, pois, é uma teoria da revolução e seu sujeito: a revolução não é apenas a liquidação da classe dominante, mas a condição que "permitirá à classe que derruba a outra aniquilar toda podridão do velho sistema e tornar-se apta a fundar a sociedade sobre bases novas"; a revolução, o movimento prático, "acaba com a dominação de todas as classes, pois é efetuada pela classe que, no âmbito da atual sociedade... constitui a expressão da dissolução de todas as classes...".

 

James Petras[33] falando do conceito de socialismo hoje

 

... o verdadeiro socialismo, em primeiro lugar, implica na socialização dos meios de produção, na transformação da propriedade e no controle dos bancos, das fábricas, da terra, dos serviços sociais, do comércio exterior, assim como na transferência do poder dos capitalistas para os produtores diretos, para os consumidores e para os defensores do meio ambiente. O socialismo significa oposição a todas as guerras imperialistas, às intervenções militares, significa o apoio à autodeterminação das nações e dos movimentos de libertação nacional. Num regime socialista, a representação e as eleições terão lugar nos locais de trabalho, nos bairros e nas cooperativas, buscando a formação de uma assembleia nacional, que deverá prestar contas diretamente às organizações dos trabalhadores, dos camponeses e dos consumidores. O socialismo promoverá profundas reformas na família, no trabalho e nos serviços sociais para facilitar a igualdade entre homens e mulheres. O orçamento deverá ser modificado para, em vez de subsidiar os capitalistas e de pagar a dívida externa, ser canalizado para um amplo e gratuito serviço de saúde, educação e lazer para o povo em geral.

 

Albert Einstein[34] escreveu em 1949

 

Estou convencido de que existe apenas um caminho para eliminar esses graves males, e esse é o estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educacional orientado para objetivos sociais. Em uma economia tal, os meios de produção são propriedade da própria sociedade, e utilizados de modo planejado. Uma economia planejada, que ajusta a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre todos os capazes de trabalhar, e garantiria o sustento de cada homem, mulher e criança. A educação do indivíduo, além de desenvolver suas próprias habilidades inatas, se empenharia em desenvolver nele um senso de responsabilidade por seus companheiros de humanidade, em lugar da glorificação do poder e do sucesso, como temos na sociedade atual.

Contudo é preciso lembrar que uma economia planejada ainda não é socialismo. Uma economia planejada pode ser acompanhada por uma escravização completa do indivíduo. A realização do socialismo requer a solução de alguns problemas sociopolíticos extremamente difíceis: como é possível, em face da centralização abrangente do poder político e econômico, impedir que a burocracia se torne todo-poderosa e prepotente? Como se podem proteger os direitos do indivíduo e garantir com isso um contrapeso democrático ao poder da burocracia?

 

Deus é um Deus da Humanidade que se interessa por cada pessoa. O seu Projeto para a Humanidade vai impactar sobre a pessoa nela inserida e ela terá outro comportamento porque tem outros referenciais. Por isso é importante conhecer o Projeto Global de Deus para a Humanidade que vai condicionar a vida da pessoa não mais para saídas individuais, mas coletivas. Por isso o Espírito Santo criou a Igreja, uma organização política partidária que pensa o coletivo a partir da vivência de fé das pessoas caminhando dentro do processo de construção do Reino de Deus por/em/com Jesus Cristo. A Igreja é uma organização política partidária no sentido de tomar o lado e o partido dos crucificados pela sociedade de classes, que são as pessoas das classes subalternas – 1 Co 1.28; 1 Co 4.9-13; Lc 10.21 – a partir das quais Jesus Cristo constrói o seu Reino, convidando a todos; aqui os expropriadores são também convidados segundo a dinâmica de Mt 19.16-22 que pede o fim da propriedade privada para acabar com a pobreza como gesto concreto para poder ser discípulo de Jesus. Em Lc 10.21 o Espírito Santo é flagrantemente tendencioso, parcial e partidário, pois leva Jesus a tomar o partido dos pequeninos no processo da luta de classes da sociedade (Lc 4.18-19).

 

 

O Credo do AT no processo da luta de classes.

 

Dt 6.21 Éramos escravos de Faraó, no Egito; porém o Senhor de lá nos tirou com poderosa mão. 22 Aos nossos olhos fez o Senhor sinais e maravilhas, grandes e terríveis, contra o Egito e contra Faraó e toda a sua casa; 23 e dali nos tirou, para nos levar e nos dar a terra que sob juramento prometeu a nossos pais. [ler ainda Dt 26.1-19; Js 24.2-18]

 

O Projeto Global de Javé no AT

O Projeto de Javé no AT, segundo o credo histórico da classe camponesa israelita de Dt 6.20-23, se caracteriza por Javé ter iniciado e organizado, a partir da motivação das lideranças já existentes dos escravos (Êx 3.16), o processo de libertação da escravidão dos camponeses escravos hebreus, ao enfrentar o Estado egípcio, ao motivar a organização e a resistência dos camponeses escravos hebreus no Egito (Êx 3) e conduzir o processo da luta de classes, a partir, com e ao lado da classe camponesa, para a saída da escravidão do Egito (Êx 1-15) até a conquista da Terra Prometida nas montanhas da Palestina (Js 6-8; Jz 1). Nesse processo da luta de classes Javé se volta contra o Estado (Gn 11.1-9) e o denuncia como o elemento repressor (Êx 5) e mantenedor da escravidão que favorece os controladores do Estado, a elite latifundiária e os sacerdotes (Gn 47.22, 26).

No período de 40 anos da travessia do deserto (Êx-Dt) Javé conduziu e amparou o povo camponês nesse tempo de aprendizagem, onde a teologia está intimamente ligada à prática da luta de classes, para capacitá-lo, a partir da luta pela terra, juntando Prática (luta concreta contra o Estado) e Teoria (nova compreensão teológica de Deus e de sociedade - Êx 16; 18; 20; 32) [a teologia bíblica está ancorada nessa metodologia: Prática-Teoria-Prática], para a construção de uma nova sociedade igualitária e livre, que finalmente desembocou no processo revolucionário camponês pela Revolução Agrária conduzida por Javé (Js-Jz), que destruiu o Estado (cidades-estado) e a sociedade de classes, ancorados na propriedade privada da terra, nas montanhas da Palestina (Js 6-8; Jz 1), para criar ali uma sociedade plural (Js 6.23; 8.33, 35), livre e sem classes sociais (Dt 15.4), sem Estado (Gn 11.1-9; Js 8), sem templo (Js 8.30) e sem propriedade privada da terra (Nm 26.52-56; Lv 25.23), onde o povo camponês palestino (classe camponesa) exerce o Poder Popular (Êx 18.13-26) na Assembleia Popular (Js 24; Nm 27.1-11).

Com o ressurgimento da propriedade privada da terra (1 Sm 25) e da luta de classes (1 Sm 22.1-2) nas áreas libertas (Jz-1 Sm) os proprietários privados da terra e donos de bois (1 Sm 11) conduziram o processo de construção do Estado monárquico (1 Sm 8; 11.12-15). Isso os/as profetas denunciaram (Mq 3; 1 Sm 12.19) como sendo uma agressão ao Projeto da Terra Prometida de Javé, pelo fato do Estado, na pessoa do rei, tomar o lugar de Deus no processo de condução do povo (1 Sm 8.7-8; Sl 2.1-7), o que resulta na solidificação da sociedade de classes através da cimentação da propriedade privada da terra (1 Rs 21), na luta de classes e na Religião como aparelho ideológico do Estado (Mq 3.11) para controlar a classe subalterna, combatidas por Javé pelo Projeto da Terra Prometida no passado.

As autoridades (Rm 13.1; Js 8.33-35) do Poder Popular (Nm 27.2; Js 24; Êx 18.21-23) foram instituídas por Deus (At 6.1-7), não o Estado, contra o qual Deus luta (Gn 11.1-9; Êx 3; Js 6-8; 1 Sm 8.7), cujo poder vem do diabo (Ap 13), que tem sua base na propriedade privada dos meios de produção (Gn 47.13-26). Frente esse desmonte do Projeto de Javé os/as profetas anunciam a vinda do Messias (Is 7.13-16) para reconduzir o povo e sua organização popular (Is 1.26) ao caminho da justiça (Is 11.1-10) e da paz (Is 9.1-7).

 

O Credo do NT no processo da luta de classes.

 

1 Co 15.3 Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, 4 e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.

2 Co 8.9 pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos.

Fp 2.5-8 Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de escravo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz.

 

O Projeto Global de Javé no NT

O Projeto de Javé (1 Jo 5.7) no NT, o Reino de Deus (Mt 4.17; At 1.3b; Rm 14.17), construído por/em/com Jesus, o Cristo (Mt 3.13-17), se caracteriza por uma sociedade sem classes sociais e sem luta de  classes, de etnia e de gênero (Gl 3.28), de pessoas libertas (Gl 5.1; 2 Co 5.17), como sacerdotes e sacerdotisas (1 Pe 2.9), santas (1 Co 1.2; 2 Tm 1.14), como santuário sagrado de Deus (1 Co 3.16-17; 6.19), sendo iguais (Gl 3.28), salvas por graça e fé (Ef 2.8), com cidadania plena na assembleia (Igreja) do povo de Deus (Ef 2.19), sem Estado (Ap 13; 18; Rm 13.8), sem templo (1 Co 6.19-20; 2 Co 6.16; Ap 21.22) e sem propriedade privada dos meios de produção (At 4.32-5.11; Mt 19.16-29) no processo de condução da construção da revolução evangélica (Mc 1.15) do Reino de Deus por/em/com Jesus Cristo (Lc 4.43).

A Igreja é um instrumento político, a organização política revolucionária evangélica internacional (At 1.8) criada pelo Espírito Santo (At 20.28; At 2), a partir das classes subalternas (Mt 11.25; Lc 10.21; 1 Co 1.28; 1 Co 4.9-13), conduzida por Jesus Cristo (Cl 1.18-20, 24), o Senhor da Igreja (Cl 1.18), para organizar a resistência frente o reino classista do mundo com a finalidade de sua eliminação (Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. 1 Jo 3.8) e a luta pelo Reino de Deus (At 19.8; 1 Co 15.24), aliada a outros setores revolucionários como o movimento popular (incluído o movimento popular específico – negros, mulheres, indígenas), movimento sindical, partidos e ONGs de esquerda, para eliminar o reino classista do mundo (Rm 12.2; Gl 1.4; Ap 18) através do engajamento na luta por justiça e paz (Rm 14.17), dos que nada são (1 Co 1.28), que trabalham com as próprias mãos e são considerados lixo do mundo (1 Co 4.9-13), em direção ao Reino de Deus (Lc 7.18-23) para acabar com o que é (1 Co 1.28): a sociedade de classes (Mt 25.14-30) alicerçada na propriedade privada (1 Rs 21; Mt 19.16-22; At 5.1-11) e seus mecanismos de exploração (Mt 20.1-16; Tg 5.1-6), de legitimação (Jo 11.47-48; Mt 20.18-19) e de reprodução (Gn 11.1-9; Mc 11.15-18): a ideologia (linguagem), o Estado, o fetiche do Capital, o mercado fetichizado, a igreja idólatra, o capitalismo como religião (1 Tm 6.7-12). Esse é o Reino de Deus em permanente processo de luta (2 Co 11.16-33) no já agora que se completa com a volta de Cristo com a ressurreição [do corpo] dos mortos (1 Co 15) e com a vida eterna (Jo 3.15; 1 Jo 2.25).

Disso concluímos que a Igreja também tem que fazer uma opção de classe, pelas classes não proprietárias (subalternas - que são a maioria das pessoas e as escolhidas preferenciais de Deus), para que estas deem a direção teológica na e da Igreja. A Igreja acolhe todas as pessoas (proprietárias e não proprietárias), mas a direção teológica fica a cargo das classes não proprietárias (Dt 18.1; Js 14.4 - aos levitas sem terra pobres coube a tarefa de dar a direção teológica da caminhada do povo; Mt 19.27-29), as quais participarão de um processo de formação teológica, a partir e dentro da realidade da luta de classes, unida às lutas populares por justiça e paz dentro do processo de eliminar a sociedade de classes para que todos sejam um em Cristo na comunhão dos santos. A Igreja de Jesus Cristo e a sociedade de classes são elementos antagônicos (Rm 12.2; Gl 1.3-4) em permanente luta de classes (Ap 6.9-11; 12; 18-19) até a volta de Cristo. Para entendermos isso precisamos estudar o marxismo aliado ao estudo da teologia.

 

O Projeto Global de Javé para a Humanidade.

Comparando o Projeto de Javé do AT com o do NT vemos uma grande semelhança. A Bíblia propõe uma sociedade, a partir dos que nada são, em permanente revolução (conversão diária), sem propriedade privada dos meios de produção, circulação e distribuição, sem classes sociais, sem luta de classes, sem exploração de classe, sem Estado, sem templo (Religião como ópio do povo), uma sociedade plural organizada no Poder Popular em Assembleia Popular onde as pessoas são concidadãs, livres, iguais, santas, irmãs, sacerdotes e sacerdotisas sem que as diferenças étnicas, culturais e de gênero criem conflitos.

Isso Jesus, o Cristo, chama de Reino de Deus no aqui e agora em permanente movimento no processo de construção pela revolução evangélica do Reino de Deus conduzida por/em/com Jesus Cristo. Tudo isso sob a ótica da Cruz e da Ressurreição de Jesus Cristo que no final se completará com a ressurreição do corpo e com a vida eterna.

 



[1] CALVINO, Ítalo. As cidades invisíveis. São Paulo. Companhia das Letras. 1990, p. 80

[2] http://www.periodicos.est.edu.br/index.php/estudos_teologicos/article/viewFile/1331/1282

[3] SCHWANTES, Milton. A Cidade e a Torre (Gn 11.1-9) Exercícios hermenêuticos in http://www.periodicos.est.edu.br

[4] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 79

[5] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 84

[6] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 91

[7] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 91, 98, 101-103, 109

[8] KAUTSKY, Karl. A origem do cristianismo. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira. 2010, p. 502-503

[9]ENGELS, Friedrich. Introdução de Friedrich Engels à edição de 1895 de As lutas de classe na França de 1848 a 1850 in MARX, Karl. A Revolução antes da revolução, vol. 2. 2ª ed. São Paulo. Expressão Popular. 2008, p. 61-62

[10] LUKÁCS, Georg. Rosa Luxemburgo como marxista in História e Consciência de classe. São Paulo. Martins Fontes. 2003, p. 105-107

[11] https://www.marxists.org/portugues/stalin/1938/09/mat-dia-hist.htm

[12] BOGO, Ademar. Organização Política e Política de Quadros. Expressão Popular, 2011, p. 169

[13] BOGO, Ademar. Organização Política e Política de Quadros. Expressão Popular, 2011, p. 170

[14] DUSSEL, Enrique. A produção teórica de Marx. Um comentário aos Grundrisse. São Paulo. Expressão Popular. 2012, p. 53

[15] LUKÁCS, Georg. Rosa Luxemburgo como marxista in História e Consciência de classe. São Paulo. Martins Fontes. 2003, p. 107

[16] PLEKHÂNOV, G. V. Os Princípios Fundamentais do Marxismo. São Paulo. Hucitec. 1978, p. 99

[17] MARX, Karl. Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política” in MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Textos, vol. III. São Paulo. Edições Sociais. 1977, p. 301

[18] ENGELS, Friedrich. Prefácio à edição alemã de 1883 do Manifesto do Partido Comunista in Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis. Vozes, 1988, p. 45-46

[19] MARX, Karl. O Capital. Livro 1, volume 2. 6ª ed. Rio de Janeiro. Editora Civilização Brasileira. 1980, p. 881-882

[20] Os estudos bíblicos de um lavrador. CEI – Suplemento nº 25. Rio de Janeiro. Tempo e Presença. Agosto 1979, p. 18-19

[21] FADUL, Anamaria. Rádio e processo revolucionário em El Salvador in Boletim 41. São Paulo. Intercom. 1983, p. 8-9

[22] WRUBEL, Federico Pérez. Os Cristo-Fascismos in https://www.alainet.org de 05/12/2019

[23] SCHMITT, Flavio. Método histórico-crítico: um olhar em perspectiva in Estudos Teológicos. Vol. 59, n. 2. São Leopoldo. EST. jul./dez. 2019, p. 328

[24] Lara, Valter Luiz. A bíblia e o desafio da interpretação sociológica. Introdução ao primeiro testamento à luz de seus contextos históricos e sociais. São Paulo. Paulus. 2009, p. 32-33,38

[25] CHADE, Jamil. A democracia representativa está esgotada. Entrevista com Jean Ziegler in www.ihu.unisinos.br de 21/05/2019

[26] SAES, Décio. Do Marx de 1843-1844 ao Marx das Obras Históricas: duas concepções distintas de Estado in Estado e democracia: ensaios teóricos. Campinas. UNICAMP. 1998, p. 62

[27] LENINE, V.I. O Estado e a Revolução in Obras Escolhidas, vol. 2. São Paulo. Editora Alfa-Omega. 1980, p. 226, 230

[28] LENIN. V. I. Aos Pobres do Campo. Explicação aos camponeses daquilo que querem os sociais-democratas. Março de 1903. https://www.marxists.org/portugues/lenin/1903/03/pobres.htm

[29] SMITH, John. Exploração e superexploração na teoria do imperialismo in LÓPEZ, Emiliano. As veias do sul continuam abertas. São Paulo. Expressão Popular. 2020, p. 33

[30] BAMBIRRA, Vania. A teoria marxista da transição e a prática socialista. Brasília. Editora Universidade de Brasília. 1993, p. 235

[31] LÖWY, Michael. Socialismo in SAMPAIO, Plínio de Arruda. Org. Desafios da luta pelo socialismo. São Paulo. Expressão Popular. 2002, p. 76-79

[32] NETTO, José Paulo. Introdução in MARX, Karl. A Miséria da Filosofia. São Paulo. Global Editora. 1980, p. 22, 24

[33] Petras, James. A luta pelo socialismo na atualidade in SAMPAIO, Plínio de Arruda. Org. Desafios da luta pelo socialismo. São Paulo. Expressão Popular. 2002, p. 85-86

[34]EINSTEIN, Albert. Por que Socialismo?Maio1949https://www.marxists.org/portugues/einstein/1949/05/socialismo.htm


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