200 anos distribuindo leite, quando a IECLB vai crescer?
Leite
vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não podíeis
suportá-lo. Nem ainda agora podeis, porque ainda sois carnais. 1 Co 3.2
Ora,
todo aquele que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça,
porque é criança. Hb 5.13
Porque
o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito
Santo. Rm 14.17
Sumário
Introdução
1 - A realidade sob o capital na qual vivemos.
1.1 - A sociedade de classes.
1.2 - Nancy Fraser resume o capitalismo em quatro itens
2 - A IECLB na realidade da luta de classes.
2.1 - Quem manda na Igreja?
3 - 200 anos distribuindo leite?
3.1 - Quando o nosso povo vai receber um churrasco de costela de boi velho para degustar?
3.2 - Os trinta
anos de churrasco.
3.3 - A Reestruturação capitalista neoliberal veio para retomar a distribuição do leite.
4 - Como se chegou a isso?
5 - Sobre a estrutura do Concílio
6 - O Projeto Popular de Igreja
6.1 - Experiências fora do Modelo de Igreja de Atendimento numa tentativa de se construir um Projeto Popular de Igreja para a IECLB a nível nacional
7 - O neoliberalismo na Igreja.
8 - Uma Avaliação desse processo
9 - E a esperança, cadê?
9.1 - Trabalho de Base
9.2 – Formação massiva e de lideranças
9.3 – As Lutas de Classe
9.3.1 - Qual o nó górdio?
9.3.2 - Devemos começar em todas as frentes.
Introdução.
Antes de distribuir leite ou churrasco de costela de boi ao povo da Igreja e à sociedade classista brasileira a Igreja tem que conhecer o mundo, a sociedade de classes em permanente luta de classes, na qual ela atua, senão não consegue atualizar corretamente a Palavra de Deus como Lei e Evangelho, pois não conhece a dinâmica da sociedade de classes para qual prega a Palavra de Deus.
Primeiro vem a questão teórica para entender a nossa realidade sob o capital imperialista, pois a Bíblia é o momento segundo - a Teoria. Ela reproduz no texto, o momento primeiro – a Prática, o processo histórico da luta de classes na qual Javé/Jesus se inseriu para acabar com a sociedade de classes, e, no momento terceiro – nova Prática, viabilizar o processo revolucionário de construção por/em/com Jesus Cristo do Reino de Deus hoje. A metodologia bíblica é Prática-Teoria-Prática = Práxis. O Projeto Político Revolucionário Global de Deus para a Humanidade em construção na Bíblia Javé/Jesus quer viabilizar hoje. Essa é a nova prática apontada pelo texto bíblico para hoje. O instrumento político revolucionário classista para isso foi criado pelo Espírito Santo que se chama Igreja de Jesus Cristo, aliado ao movimento popular, sindical, partidos políticos de esquerda e setores desprezados pela sociedade de classes. Esse Instrumento Político Revolucionário sem fronteiras luta hoje contra o projeto do capital, que devemos conhecer bem para poder eliminá-lo como exigência do Evangelho, pois é um dos instrumentos que o diabo usa para tentar impedir a construção revolucionária sem fronteiras do Reino de Deus por/em/com Jesus Cristo.
Marx[1] afirma, para entender a realidade, que
O modo de produção da vida material condiciona o
processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência da
pessoa que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que
determina a sua consciência.
Engels[2] continua:
A ideia fundamental que atravessa todo o
Manifesto – a saber, que em cada época histórica a produção econômica e a
estrutura social que dela necessariamente decorre constituem a base da história
política e intelectual dessa época; que, consequentemente (desde a dissolução
da antiga posse em comum da terra) toda a história tem sido a história da luta
de classe, de luta entre classes exploradas e classes exploradoras, entre
classes dominadas e classes dominantes, nos diferentes estágios do
desenvolvimento social;
David Harvey,
em entrevista[3],
nos aponta a necessidade de ler Marx para entendermos as contradições de nossa
sociedade. E a Igreja faz parte desta sociedade e participa do processo
revolucionário do Reino de Deus.
A revolução é um processo, não é um acontecimento. E é um
processo que demora muito a seguir adiante e precisa avançar em diferentes
frentes. Supõe transformações em conceitos mentais sobre o mundo, as relações
sociais, as tecnologias e também em estilos de vida. Cada um de nós tem uma
posição em nossa sociedade, onde pode contribuir em alguma destas frentes.
(...) A economia contemporânea tende a evitar as contradições. Não gosta das
contradições, desse modo, finge que não existem. Então, Marx vem e diz que o
capital por definição é contraditório, e se você deseja uma análise sobre o
funcionamento das contradições, você tem que se colocar e precisa estudar Marx.
A Igreja também
não gosta das contradições, procura esconder e abafar as contradições e os
conflitos dentro dela e principalmente os da sociedade. A Igreja também finge
que não existe a luta de classes dentro dela e com isso concede poder a quem
manda na Igreja, a pequena burguesia urbana e rural conservadora com o apoio de
pastores/as conservadores defensores intransigentes do capital. O Reino de Deus
é um processo revolucionário em andamento que “Supõe transformações em
conceitos mentais sobre o mundo, as relações sociais, as tecnologias e também
em estilos de vida”, como lembra Harvey.
No texto Karl Marx, publicado em 1878, Engels[4] relata sobre as duas mais
importantes descobertas de Marx para entender a realidade.
Entre
as numerosas e importantes descobertas com que Marx inscreveu seu nome na
história da ciência, só duas queremos destacar aqui.
A
primeira é a revolução que realizou em toda a concepção da história universal.
... Marx demonstrou que toda história da humanidade, até hoje, é uma história
de lutas de classes que todas as lutas políticas, tão variadas e complexas
giram unicamente em torno do poder social e político de umas e outras classes
sociais; por parte das classes novas, para conquistá-lo. ...
A
segunda descoberta importante de Marx consiste em haver esclarecido definitivamente
a relação entre o capital e o trabalho; em outros termos, em haver demonstrado
como se opera, dentro da sociedade atual, com o modo de produção capitalista, a
exploração do operário pelo capitalista.
Um exemplo dessa exploração do mais-valor:
Voltando de Chapecó, SC, de carona com mais algumas pessoas ouvi a seguinte conversa de um caminhoneiro, que dirige um caminhão frigorífico (transporta a produção dos frigoríficos de Chapecó), fã e eleitor do presidente derrotado nas eleições de 2022:
“Como caminhoneiro recebo de 7 a 8 mil reais ao mês, não mais que isso. Este mês de setembro de 2022 vou receber de salário e porcentagem R$ 6.850,00. O patrão descontando os gastos com o caminhão fica com R$ 20.000,00. Ele tem 18 caminhões o que soma R$ 360.000,00 ao mês. Uma boa bolada.”
O peão caminhoneiro, da classe trabalhadora, paga R$ 20.000,00 ao patrão para poder trabalhar (patrão não paga salário, o peão o produz com o seu trabalho) e fica com R$ 6.850,00 para sustentar a sua família. O peão caminhoneiro trabalha uma semana para gerar o valor de seu salário e o resto do mês, três semanas, trabalha de graça para o patrão. A pergunta que fica: Como um peão, alguém da classe trabalhadora, que produz o mais-valor de R$ 20.000,00 ao mês para o patrão, mesmo sabendo do lucro que produz para o patrão, não tem consciência de classe?
Por isso é fundamental que a pequena burguesia conservadora controle a administração das paróquias para impor a sua teologia à Igreja para que ela não possa construir condições para a peonada criar consciência de classe.
Leite para o povo!
1 - A realidade sob o capital na qual vivemos.
1.1 - A sociedade de classes.
Vivemos numa sociedade de classes chamada de capitalismo, que nasceu do resultado das contradições geradas no feudalismo, que se compõe de duas forças: a classe capitalista (os proprietários, os exploradores) e as classes subalternas (os não proprietários, os explorados): a classe trabalhadora, a classe camponesa e os povos originários (povos americanos). Estas classes, exploradores e explorados, estão em permanente luta de classes para defender seus interesses de classe. O capitalismo só sobrevive se mantém os não proprietários na sua condição de não proprietários.
A classe capitalista é a proprietária privada dos meios de produção (terras do latifúndio, fábricas, minas), circulação (empresas de transporte de carga e de pessoas) e distribuição (grande comércio, mercados, bancos). Por ser proprietária privada dos meios de produção a classe capitalista precisa controlar o Estado e seus aparatos para garantir os seus interesses, legalizar a exploração e a expropriação de classe, reduzir os direitos das classes subalternas, apropriar-se dos recursos naturais do país (terras, minas, petróleo, energia, água, vento), e impor a sua repressão às classes subalternas exploradas descontentes, através dos aparatos repressivos do Estado e das leis, como algo legal e legítimo para intimidá-las para que se deixem explorar e expropriar sem resistência e ainda apóiem o capitalismo.
A exploração e a expropriação das classes subalternas (classe trabalhadora e classe camponesa) é vista pela burguesia (os capitalistas) como um direito natural inquestionável e divino seu. Por sua vez a expropriação dos expropriadores (classe capitalista) de seus meios de produção, acumulados e gerados pelo sobretrabalho (mais-valor) das classes subalternas, é inadmissível, uma subversão, um pecado imperdoável e uma heresia, uma violência sem igual segundo os capitalistas. A classe capitalista pode expropriar, nós não. Na visão dos capitalistas a expropriação das classes subalternas não é uma violência, é algo natural, faz parte da vida da economia.
1.2 - Nancy Fraser[5] resume o capitalismo em quatro itens:
1 - Não há capitalismo sem “trabalhadores” que produzem mercadorias para gerar o mais-valor para os proprietários e nem sem os “cuidadores” (mulheres e idosos), que estão fora da economia oficial, que reproduzem os seres humanos, historicamente não remunerados.
2 - O capitalismo não vive sem a exploração dos recursos naturais, entendidos como inesgotáveis, para obter as matérias primas para a produção de mercadorias.
3 - É essencial para a acumulação de capital a riqueza saqueada das populações dominadas racialmente pelo capital, é o que se chama de ação imperialista. A produção capitalista para ser lucrativa depende de um fluxo contínuo de insumos baratos, incluindo recursos naturais, trabalho não livre ou dependente e endividamento nacional.
4 - Isso tudo requer um aparelho que garante esse processo que é o Estado, o poder público, com seu sistema jurídico, que garante a propriedade privada, com seu poder de regulação e de repressão sobre as classes expropriadas e suas leis para legitimar a expropriação de classe. Este poder também constrói as infraestruturas necessárias ao capital e garante o desmonte dos direitos das classes subalternas.
Para entender o capitalismo precisamos olhar a economia, a política, as relações de gênero, a etnia, a ecologia e o império. O capitalismo não é apenas uma economia, mas é algo maior, é uma ordem social institucionalizada.
Maurice Briton[6] descreve a nossa realidade sob o capital:
Em
toda a parte do mundo, os homens, na sua grande maioria, estão privados de
qualquer controle sobre as decisões que afetam a sua vida de modo mais profundo
e mais direto. Vendem a sua força de trabalho, enquanto que outros, que possuem
ou controlam os meios de produção, acumulam riquezas, fazem as leis e utilizam
o aparelho de Estado para perpetuar e reforçar os seus privilégios. ... Os
sindicatos e os partidos "operários" foram originariamente criados
para modificar essa situação. Mas todos acabaram por se adaptar de uma ou outra
maneira às formas de exploração existentes. Na prática, transformaram-se hoje
em engrenagem essencial ao funcionamento "normal" da sociedade de
exploração: os sindicatos servem de intermediários no mercado de trabalho, os
partidos políticos utilizam as lutas e as aspirações da classe operária para
fins que se são próprios. A degenerescência das organizações da classe
operária, ela própria um resultado da degenerescência do movimento
revolucionário, contribui de modo decisivo para mergulhar na apatia a classe
operária, e essa apatia levou por sua vez a uma maior degenerescência dos
partidos e sindicatos. ... O que queremos é simplesmente que os próprios
operários decidam acerca dos objetivos das suas lutas, e que a direção e a
organização dessas lutas lhes não escapem.
O mundo operário
como a Igreja estão numa encruzilhada e precisam se desvencilhar da cooptação
capitalista.
2 - A IECLB na
realidade da luta de classes.
2.1 - Quem manda na Igreja?
Normalmente a pequena burguesia conservadora
com parca formação teológica, defensora intransigente do capital. Ela é o longo
braço estendido do capital internacional nos municípios e administra a maioria
das paróquias desde a base comunitária, com isso controla a teologia na e da
Igreja, e controla todas as instituições no município: Igrejas, Prefeitura,
Câmara de Vereadores, cooperativa do agronegócio, clubes de idosos, clubes de
futebol, casa de idosos, sindicatos conservadores, maçonaria, Lions, Rotary,
Câmara Júnior, Escoteiros, APAE, CTG, CDL, ACI, hospital, Liga Feminina de
Combate ao Câncer, partidos políticos, o comércio, a indústria e por aí vai.
Nosso inimigo de classe no município é a pequena burguesia urbana e rural
conservadora. Por que isso é assim? Porque “O modo de
produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e
espiritual em geral.” diz Marx. O modo de produção da vida material é a forma
como se produz as mercadorias pela escravidão assalariada e o mais-valor na
sociedade de classes na relação entre patrão e peão.
A sociedade de
classes é que nem uma barragem que armazena uma enorme força que é contida pela
taipa. Se houver uma pequena fissura na taipa a barragem arrebenta. O papel da
pequena burguesia conservadora é remendar qualquer fissura no tecido social
para que ele não se rasgue e se crie uma nova sociedade não classista. Por isso
a pequena burguesia conservadora precisa controlar todas as instituições dos
municípios para impedir qualquer fissura no tecido social e assim ameaçar o
poder do capital internacional. A Igreja é uma instituição com credibilidade,
poder de convocação e tem público cativo a todo o domingo por isso ela precisa
ser controlada pelo capital. Quem faz esse papel de cão de guarda raivoso no
local é a pequena burguesia urbana e rural. São estes que, pela pressão, ameaça
de desemprego dos/as obreiros/as e leis repressivas escritas pelo processo da
Reestruturação, impõe à Igreja a sua teologia. Não são os pastores e as
pastoras que conduzem teologicamente a Paróquia, mas a pequena burguesia
conservadora e reacionária. Pastores/as são apenas “Hampelmänner”, com suas
devidas e honrosas exceções.
Pregação pura
da Palavra de Deus como Lei e Evangelho? Bela ilusão. O normal é amaciamento do
Evangelho para agradar e legitimar o capital. A distribuição do leite serve
para isso. Só que com o tempo o leite azeda e vira cachaça, como diz Lênin:
“ópio religioso que embrutece o povo”.
A Igreja se adaptou ao modo de
produção da vida material vigente, não só porque “o fator que em última instância
determina a história é a produção e a reprodução da vida real” (Engels), mas
também por causa da ingenuidade de seus obreiros/as que, atolados na visão
europeia idealista cartesiana positivista liberal patriarcal colonialista de
Deus e de mundo, não aprenderam a fazer análise de conjuntura e de estrutura da
Igreja e do capitalismo. Não sabem como a sociedade de classes capitalista
funciona. Iludidos pensam que são neutros, apolíticos e que a Igreja é
supraclassista. A maioria nem sabe que pertence à classe trabalhadora, pois
vende a sua força de trabalho para a Igreja em troca de um salário.
3 - 200 anos distribuindo leite?
3.1 - Quando o
nosso povo vai receber um churrasco de costela de boi velho para degustar?
A celebração dos
200 anos da presença luterana (para nós IECLB) no Brasil deve ser um evento
para uma avaliação profunda para descobrir os avanços, os entraves e os recuos.
Em toda celebração tem lugar a Confissão de Pecados, o Kyrie e o Glória.
Cuidado para não ficar só no Glória. Devemos nos perguntar se fazemos jus ao
nome: Igreja de Jesus Cristo no Brasil. Quem sabe já somos Igreja do deus
capital com máscara de Jesus Cristo no Brasil. Quem sabe...
Entre os anos 1970 a 2000 a IECLB começou a distribuir churrasco de costela de boi para o povo, mas por falta de conhecimento, como diz Oséias, a Igreja se deixou enrolar pela propaganda neoliberal: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento. Porque tu, sacerdote, rejeitaste o conhecimento, também eu te rejeitarei, para que não sejas sacerdote diante de mim; visto que te esqueceste da lei do teu Deus, também eu me esquecerei de teus filhos.” Os 4.6.
Qual o conhecimento que faltou? Faltou dominar o marxismo para ter condições de fazer uma análise realista da luta de classes na sociedade e na Igreja. Fomos treinados a ler a Bíblia e a olhar para a teologia pela via idealista cartesiana positivista liberal, que entende a realidade e a teologia como neutras. Por falta do conhecimento do povo da TdL que era ingênuo e não conhecia o marxismo e por isso não conseguiu fazer uma análise correta da luta de classe do tempo do capitalismo neoliberal nos anos 90 e então a direita neoliberal abalroou o processo. Não aprendemos a fazer análise de conjuntura e estrutura e por isso fomos patrolados em nossa burrice.
Por que não dominamos o marxismo como método de leitura da realidade? Porque a Igreja não nos ensina o marxismo. Por quê? Porque ela não pode ensinar o que não sabe. Ou a opção de classe, pela classe capitalista, impede a Igreja de estudar o marxismo e aplicar este método de análise no diagnóstico de nossa realidade?
Segundo o Credo Histórico de Israel Javé fez uma opção de classe, pela classe camponesa, no processo do Êxodo para emancipar a humanidade da sociedade de classes. No NT Javé radicalizou e optou em se tornar artesão na classe camponesa palestina em Jesus de Nazaré e construiu a sua Igreja a partir dos não cidadãos, que nada são (1 Co 1.26-29; 1 Co 4.9-13), do Império Romano. Deus faz uma opção de classe para viabilizar a emancipação da humanidade. Ele opta pelas classes subalternas, pois estas querem uma nova sociedade de pessoas livres e emancipadas. A classe proprietária privada dos meios de produção não quer mudar a sociedade de classes (Êx 5), pois vive da exploração e expropriação das classes subalternas. Disso nos lembra Rosa Luxemburgo[7] em O que quer a Liga Spartakus?
Não passa de delírio
extravagante acreditar que os capitalistas se renderiam de bom grado ao
veredicto socialista de um Parlamento, de uma Assembleia Nacional, que
renunciariam tranquilamente à propriedade, ao lucro, aos privilégios da
exploração. Todas as classes dominantes, com a mais tenaz energia, lutaram até
ao fim por seus privilégios. ... – todos derramaram rios de sangue, caminharam
sobre cadáveres, em meio a incêndios e crimes, provocaram a guerra civil e
traíram seus países para defender privilégios e poder.
Olhando para o Projeto Político Global de Deus para a Humanidade veremos que ele detona a sociedade de classes e propõe uma sociedade sem classes.
Sociedade Proposta na Bíblia para emancipar
a Humanidade |
AT |
NT |
Sem propriedade privada dos meios de
produção |
Lv 25.23; Sl 24.1; Nm 26.54-56 |
At 2.42-47; Mt 19.21-22; 1 Tm 6.6-10 |
Sem classes sociais |
Dt 15.4; Lv 25.23; Nm 26.52-56 |
At 4.32-35; Gl 3.28; Cl 3.9b-11 |
Sem luta de classes porque não há
propriedade privada da terra |
Nm 26.52-54; Lv 25.23 |
Mt 22.37-40; At 4.32-35; Mt 19.21 |
Sem exploração e expropriação de classe |
Is 5.8; Am 2.7; 4.1 |
Tg 5.1-6 |
Sem Estado |
Js 6-8; Gn 11.1-9 |
Ap 13; Lc 22.25-26; 1 Co 15.24; Rm 13.8 |
Sem Templo, como religião do Estado |
Js 8.30 somente um altar; Êx 30.20; Êx 32.5 |
Lc 16.16 – 1 Co 3.16; 2 Co 6.16; 1 Co 3.17. Jesus é o Templo Vivo – Jo
2.21-22; Ap 21.22 |
O Poder Popular se exerce na Assembleia
Popular |
Nm 27.1-11; Js 24 |
At 6.1-6; At 15 |
Resumindo: O Projeto Político Revolucionário Global de Deus para a Humanidade, para o agora, segundo a Bíblia, é uma sociedade onde os meios de produção, circulação e distribuição são de posse, uso e controle coletivos para benefício coletivo, sob controle popular (não há propriedade privada dos meios de produção), por isso não existem classes sociais (proprietários e não proprietários), nem luta de classes, nem opressão cultural, étnica e de gênero (incluso o fim do preconceito e opressão contra a comunidade LGBTQIA+), põe fim ao patriarcado e não há exploração e expropriação de classe. O Estado se extinguiu porque não há classes para reprimir ou privilegiar e não existe a Religião do Estado ou do modo de produção vigente (capitalismo como religião ou cristianismo como religião do capitalismo), para legitimar, garantir e reproduzir a propriedade privada dos meios de produção que gera a sociedade de classes e os seus mecanismos de sustentação e reprodução. O Poder Popular é exercido pela Assembleia Popular. Jesus Cristo não apenas quer salvar a Humanidade da destruição gerada pela sociedade de classes, mas quer ressuscitar o corpo da escravidão da morte para a vida eterna do corpo (1 Co 15).
Esse Projeto Global de Deus para a Humanidade condiciona a leitura e a interpretação das perícopes, pois não há uma parte isolada do todo. Este Projeto é o guarda chuva sob o qual se abrigam os livros e perícopes da Bíblia. A função do texto bíblico é mostrar que Deus age hoje da mesma forma como agiu no passado. O texto bíblico sempre aponta que Deus reproduz a sua ação e opção do passado no presente.
A Bíblia é uma totalidade composta por duas totalidades: o AT e o NT, que por sua vez se compõem de outras totalidades que são os livros que compõe cada Testamento, que por sua vez são compostos por muitas outras totalidades que são as perícopes, nas quais aparece o movimento das contradições, dos avanços, dos recuos, dos conflitos da luta de classes da sociedade. Somente entendemos corretamente as perícopes e os livros que compõem se temos uma visão da totalidade do Projeto Político Global de Deus na Bíblia para a Humanidade.
Na explicação bíblica normalmente se esquece de mostrar ou não se sabe o todo da qual a parte se compõe junto com o movimento de suas contradições, avanços e retrocessos. É que o “todo” não está claro para a maioria e também muito subversivo para ser lembrado na explicação das partes (das perícopes). O Projeto Global de Deus (a visão da totalidade, a compreensão do todo) deve nortear o entendimento e a interpretação das perícopes que compõem os livros bíblicos. A perícope é uma parte do todo, mas tem a sua totalidade dentro da totalidade do Projeto Global de Deus.
Isso nos remete para olharmos
para a opção de classe que a IECLB tomou. Não adianta dizer que a Igreja é
supraclassista, não faz opção de classe e é neutra dentro do processo histórico
da luta de classe em andamento na sociedade na qual a Igreja está inserida no
Brasil, pois na base ela é administrada por uma classe social, a pequena
burguesia urbana e rural conservadora a serviço do grande capital, que tenta
sempre impor a sua teologia à Igreja, a teologia do deus capital com máscara de
Jesus Cristo, com suas devidas e honrosas exceções. A Igreja é espaço de luta
pela hegemonia do capital. A Igreja está inserida na luta de classes da
sociedade capitalista, entendendo isso ou não. E como disse o bilionário Warren Buffett: “Existe, sim, guerra de classe,
mas é a minha classe, a classe dos ricos, que está fazendo guerra, e estamos
ganhando”.
A cruz de Cristo (crucifixo e cruz vazia, pois o Cristo ressurreto com as marcas da cruz é o Cristo crucificado – Jo 20.19-20), nosso símbolo, é o símbolo da vitória de Deus na luta de classes contra a sociedade de classes e o seu Estado e o seu Templo. Na Páscoa a sociedade de classes e seus mecanismos de reprodução já foram vencidos, quem aposta neles, aposta num projeto já vencido e derrotado por Deus em Jesus Cristo.
3.2 - Os trinta
anos de churrasco.
O Manifesto de
Curitiba de 1970 ao Manifesto Chapada dos Guimarães de 2000 compreende o
período do churrasco, do Projeto Popular de Igreja. Aí voltou o leite. Este
período foi possível devido a Segunda Guerra Mundial que forçou a Igreja a
constituir o Pré-Teológico e depois a Faculdade de Teologia onde se formaram
pessoas advindas majoritariamente do campesinato empobrecido brasileiro. Esta
origem classista facilitou uma leitura da realidade de opressão do povo
brasileiro expropriado pelo capital, encarnado na ditadura
civil-militar-empresarial-cristã de 64. Estas pessoas de origem camponesa, que
cresceram na pobreza, tiveram um olhar crítico frente à realidade e se
inseriram em boa parte nas lutas que surgem nos anos 60 contra a ditadura,
contra a pobreza do campesinato, a falta da reforma agrária que forçou o
campesinato para a migração, etc. Somos uma Igreja que acompanha o seu povo no
processo migratória sem questionar esse processo e sua origem, que está na
dinâmica do capital nacional.
O processo da unificação dos Sínodos em 1968 foi positivo para construir um rosto nacional de Igreja e sair do gueto germânico e teológico atrelado à teologia europeia idealista colonialista alemã. A IECLB se constituiu em nível nacional a partir da reunião dos sínodos, a saber,
Sínodo Evangélico-Luterano de Santa Catarina, Paraná e Outros Estados do Brasil (Sínodo da Caixa de Deus) (1905-1962)
Associação Evangélica de Comunidades de Santa Catarina (1911-1962)
Sínodo do Brasil Central (1912-1968)
Sínodo Evangélico Luterano-Unido (1962-1968)
Sínodo Rio-Grandense (1886-1968)
Sínodo Teuto-Evangélico da Província do Rio Grande do Sul (1868-1870/1875) - extinto
Em 1962 o Sínodo Evangélico-Luterano de Santa Catarina, Paraná e Outros Estados do Brasil (Sínodo da Caixa de Deus) (1905-1962) e o Sínodo - Associação Evangélica de Comunidades de Santa Catarina (1911-1962) se fundiram, vindo a constituir o Sínodo Evangélico-Luterano Unido.
Nos anos 60 se
discutia Barth e Bultmann na Faculdade de Teologia e os anos 70 trouxeram a TdL
para a Faculdade de Teologia. Assim a Faculdade de Teologia sem querer mudou o
rosto teológico da IECLB a partir do campesinato empobrecido. A origem
camponesa dos pastores e pastoras nos anos 70-80 ajudou na inserção na luta
contra a ditadura, ainda não era uma luta contra o capitalismo. A reação contra
este olhar para a classe camponesa e operária explorada veio no final dos anos
80 a partir da antiga RE II, reduto conservador, que não conseguia controlar
política e teologicamente os DEs. Por isso a Reestruturação eliminou os DEs e
com isso eliminou o trabalho inserido dos DEs que havia no movimento popular e
sindical e ecumênico. Vitória da direita.
3.3 - A
Reestruturação capitalista neoliberal veio para retomar a distribuição do
leite.
O problema
central da IECLB não é o processo da Reestruturação conservadora legalizado em
1997, mas a defesa intransigente da propriedade privada dos meios de produção
feita pela Igreja através da burguesia que controla, via pequena burguesia, a
base da Igreja e assim impõe a sua teologia ao impedir a pura pregação do
Evangelho e não se preocupar com a administração correta dos Sacramentos. A
propriedade privada dos meios de produção tira a liberdade que Deus deu à
pessoa criada por ele. Liberdade plena só numa sociedade onde o coletivo
controla os meios de produção. Deus acaba com os instrumentos que tiram a liberdade
das pessoas no Projeto da Terra Prometida em Js 6-8 ao destruir a
cidade-estado: o Estado, as classes sociais, a propriedade privada da terra e o
templo. Após Deus acabar com a propriedade privada da terra (Nm 26.52-56) pela
tomada do poder político nas montanhas da Palestina os camponeses tornaram-se
livres e emancipados ao controlar a terra coletivamente pela tribo.
Para garantir a
reprodução do modo de produção capitalista, alicerçado na propriedade privada
dos meios de produção, circulação e distribuição, a IECLB fez nos anos 90 o
mesmo processo do capital, fez uma reestruturação.
Os termos
"reestruturação" e "globalização" são comuns na vida
econômica e ideológica real da sociedade dos anos ‘90. Dali se retirou o termo
Reestruturação da Igreja. O capitalismo passa por uma reestruturação dos
processos produtivos e ideológicos. Assim, a Igreja usa da mesma formulação e
formatação capitalista neoliberal do processo econômico em andamento no mundo
para fazer a sua “Reestruturação” (estrutural e teológica), para se adaptar ao
processo vigente do modo de produção da vida material capitalista. Nada cai do
céu por acaso! A Igreja anda a reboque do processo de reestruturação do capital
adaptando a sua estrutura, sua teologia e sua prática comunitária ao novo
modelo do capitalismo, o neoliberal, também como este, para combater a esquerda
dentro dela, que sonha com outro mundo e outra Igreja possível.
Interessante
notar que o termo usado foi “Reestruturação”, copiado do processo pelo qual
estava passando o capitalismo (reestruturação produtiva, qualidade total,
reengenharia), para melhor se adaptar a ele, e não se usou o termo “Reforma”.
Ana Carolina Santini de Abreo e Luci Mara Resende em artigo “Reestruturação
produtiva: algumas reflexões sobre seus rebatimentos no serviço social”[8]
escrevem sobre o período neoliberal dizendo que
(...) tratou-se de introduzir mudanças na organização
produtiva, por meio do que se convencionou chamar de reestruturação produtiva.
Esta tem implicado, portanto no reordenamento da produção e acumulação com
repercussões no mundo do trabalho, alterando processos e relações de trabalho,
mediante inovações no sistema produtivo e nas modalidades de gestão, consumo e
controle da força de trabalho. ... Fazer a reengenharia é reinventar a empresa,
desafiando suas doutrinas, práticas e atividades existentes, para, em seguida,
redesenhar seus recursos de maneira inovadora, em processos que integram as
funções departamentos. Essa reinvenção tem como objetivo otimizar a posição
competitiva da organização, seu valor para os acionistas e sua contribuição
para a sociedade.
Foi isso que
ocorreu com a IECLB (“reinventar a empresa, desafiando suas doutrinas, práticas
e atividades existentes”). Só que a Igreja não ficou competitiva, pelo
contrário, estagnou e retrocedeu em sua prática pastoral e teológica. Copiar
simplesmente os processos do capitalismo para a Igreja não funciona assim como
se quer. Sua doutrina foi desafiada e atropelada, mas mais competitiva a Igreja
não ficou, pelo contrário estagnou. O que funcionou foi a exploração e a
repressão contra os trabalhadores/as (obreiros/as) da Igreja, como requer o
neoliberalismo.
Por que não se
usou o termo “Reforma”? Porque não se queria fazer uma Reforma, apenas uma
reestruturação, uma reengenharia, assim como o capitalismo apenas estava se
reestruturando no processo neoliberal para aprofundar a exploração de classe e
elevar a sua taxa de lucro pela superexploração da classe trabalhadora, dos
recursos naturais e pelo processo de privatização feita pelo Estado. A Igreja seguiu
a reboque do capital!
4 - Como se
chegou a isso?
A história do
surgimento da IECLB começa em 1824 com a imigração alemã em que a Igreja da
Alemanha, mais tarde, enviou pastores para acompanhar o povo alemão em sua
visão europeia colonialista de Deus e de Igreja no Brasil. Depois os Sínodos e,
finalmente, a IECLB continuou fazendo isso, acompanhando o povo alemão e seus
descendentes no Brasil em sua visão europeia de Deus, em seu processo
migratório no território nacional, sem questionar a sociedade de classes e suas
contradições estruturais, com suas devidas exceções.
É claro que
alguns ‘nativos’ (caboclos e ‘brasileiros’), devidamente mal vistos e
suportados pelo racismo, se integraram na IECLB dentro da visão europeia de
Deus existente. A visão europeia de Deus não é revolucionária, mas é
colonialista, patriarcal e acomodadora ao capital. Nossa mente e teologia foram
colonizadas pela visão de Deus e de mundo do homem branco, rico, europeu,
proprietário privado, patriarcal, colonialista, racista, escravocrata,
capitalista, imperialista de tradição judaico-greco-romana. Essa visão de Deus
condicionou a estrutura e a teologia da Igreja.
Houve a partir
dos anos ‘70 tentativas de quebrar esse ‘monopólio’ numa tentativa de construir
um Projeto Popular de Igreja a partir das lutas do povo explorado e oprimido
(num processo de construir outra visão de Deus a partir dos explorados) pelo
capital em suas lutas por justiça e paz dentro e a partir da participação de
setores da Igreja nas lutas do Movimento Popular, Sindical, Partidos de
esquerda e Povos originários. Essa tentativa foi derrotada no processo de
Reestruturação neoliberal da Igreja de 1997; sobraram alguns setores
minoritários, que procuram sobreviver imersos nessa avalanche da Reestruturação
capitalista neoliberal de 1997, que continuam se inserindo nas lutas populares
como parte do processo de construção do Reino de Deus, mas são grupos isolados
e acuados pela máquina capitalista estrutural vigente na Igreja.
A esquerda ingênua na Igreja, porque não
leu Marx, não tem um projeto de poder, ela sempre se contentou com os pastores
presidentes liberais com cara socialdemocrata pensando que eram seus aliados,
mas estes fizeram a Reestruturação e depois não mexeram um dedo para derrubar o
processo da Reestruturação, mas o aprofundaram.
Com a
Reestruturação a direita (leigos anticlericais e pastores conservadores com o
discurso contra o pastorcentrismo) tomou o poder da estrutura da Igreja, assim
como a burguesia tomou o poder do aparato estatal no país. Quem é
economicamente dominante na sociedade precisa ser também politicamente
dominante para gerenciar o Estado (aqui a Igreja) conforme seus interesses de
classe. Essa dinâmica da luta de classes precisa ser ocultada pela ideologia.
A Faculdade de
Teologia em São Leopoldo formava pastores/as a partir de pessoas enviadas pelas
comunidades (normalmente da classe camponesa empobrecida) que estavam
familiarizadas com a realidade de marginalização no Brasil, diferente dos
pastores alemães (com exceção de alguns), começa-se o movimento de construir
pastorais e uma teologia a partir da realidade da luta de classes existente,
alimentado pela Teologia da Libertação que formou a PPL (Pastoral Popular
Luterana).
A primeira
postura crítica frente à ditadura civil-empresarial-militar-cristã de 64 surge
no Concílio Geral de 1970 em Curitiba, alertando para a tortura aplicada a
presos políticos no Brasil, expresso no Manifesto de Curitiba. Com o
ressurgimento da luta sindical do final dos anos ‘70 e com o ascenso do movimento
de massas, a base da IECLB, ligada a Teologia da Libertação, pressiona os
Concílios Gerais dos anos 80 a se posicionar a favor da luta da classe
trabalhadora e camponesa por justiça e paz, que são as características básicas
do Reino de Deus, segundo Rm 14.17, junto com a alegria no Espírito Santo.
O Projeto
Popular de Igreja construído nos anos 70-80 a partir da pressão das bases da
Igreja nos DEs inseridas no movimento popular e sindical contra a Ditadura e
seus projetos megalomaníacos e o sofrimento do povo a partir da exploração
capitalista simbolizada e personificada na Ditadura têm o seguinte
desenvolvimento cronológico, a partir dos documentos da IECLB:
-
1970 - Manifesto de
Curitiba;
-
1972 - Novas Áreas de
Colonização (aprovação no Concílio de Panambi da criação das NAC [Novas Áreas
de Colonização] dentro da estrutura da Igreja, como inserção da Igreja nesse
contexto para caminhar junto com nosso povo migrante e atendê-lo em suas
necessidades comunitárias e lutas nas quais estava inserido);
-
1974 - Discipulado
Permanente - Catecumenato Permanente;
-
1978 - Nossa
Responsabilidade Social e Mensagem de Natal do Conselho Diretor da IECLB;
-
1979-1982/1983-1986/1987-1992/1992-1995
- Prioridades da IECLB;
-
1982/84/86/88 -
Decisões e Mensagens Conciliares.
Apesar de suas
contradições internas a dinâmica profética evangélica da Igreja durou de 1970 a
2000. O Manifesto de Curitiba (1970), como reação frente à reformatação do
capitalismo (ditadura civil-empresarial-militar-cristã de 64 a serviço do
imperialismo estadunidense), e o Manifesto Chapada dos Guimarães (2000),
escrito para comemorar os 30 anos do Manifesto de Curitiba, ironicamente
encerrou esse ciclo profético. Em 1968 a IECLB deu um grande passo ao sair do
gueto (que iniciou em 1949) para se tornar uma Igreja à procura de um Projeto Nacional
de Igreja e em 1997, a Igreja deu um segundo passo, agora para trás, ao voltar
para o gueto do conservadorismo dos sínodos ao enterrar a procura de um Projeto
Popular Nacional de Igreja para esconder as contradições de classe existentes
na sociedade e na Igreja.
5 - Sobre a
estrutura do Concílio:
Somando os
conciliares temos aproximadamente 43 membros natos da estrutura, os
representantes de instituições e departamentos (JE, LELUT, OASE, Rede Sinodal,
etc.), 36 delegados leigos escolhidos nos sínodos, 5 obreiros da base (antes
havia 48; os perigosos pastores distritais, que só causavam problemas para a
Igreja, foram varridos do mapa). Estrutura e base quase empatam em número. Da
base comunitária participam cinco obreiros (pastores, catequistas, diáconos,
missionários) e dois delegados leigos por sínodo, que normalmente são da
pequena burguesia conservadora, pois peão de fábrica ou do campo não é liberado
pelo patrão para se ausentar do serviço por cinco dias.
No tempo dos
Distritos o Concílio Geral (segundo a Constituição de 1969) era composto em
média por 134 pessoas, sendo 48 pastores distritais, que também eram pastores
de paróquia, e um leigo por Distrito (somando 96 pessoas da base), além do
Conselho Diretor da Igreja (21 pessoas), 4 da Faculdade de Teologia (2 docentes
e 2 estudantes), 2 dirigentes de instituições, 5 representantes de setores de
trabalho. Ainda faziam parte do Concílio Geral os 10 vogais leigos eleitos nos
Concílios Regionais. A representação da base da Igreja eram aproximadamente 113
pessoas e 25 pessoas eram da estrutura. Tendo 4,5 vezes mais pessoas da base do
que da estrutura.
Na estrutura
atual temos aproximadamente 43 pessoas da estrutura e 41 da base, o que mostra
a desproporção da estrutura no Concílio da Igreja. A estrutura anterior era
muito mais democrática. Quando a direita dá o golpe não podemos esperar mais
democracia. Somente os pastores distritais eram o dobro da representação da
estrutura e estes eram incontroláveis e muitos deles metidos nas lutas
populares ou eram simpáticos a elas. Ali a direita não tinha chance e precisou
de muita contrapropaganda com falsas informações, manipulações, mentiras e de
dois concílios para acabar com essa estrutura desvantajosa para a direita numa
época (anos 90) que lhe era oportuno, pois era um tempo de confusão ideológica.
Os pastores/as
de comunidade foram radicalmente afastados do Concílio para que sua visão de
Igreja e sua inserção na luta popular fosse ignorada e abafada. Nada é por
acaso. Hoje o Concílio é da estrutura que ignora a realidade de exploração e
opressão de seu povo.
O Concílio da Igreja
reunida na Rondônia não levantou os problemas graves da região: assassinatos de
camponeses, indígenas e ambientalistas, grilagem de terras indígenas e da União
por fazendeiros e especuladores, roubo de madeira das áreas indígenas e de
Unidades de Conservação, mineração em áreas da União e em áreas indígenas,
exploração de petróleo na Amazônia Legal, legalização da grilagem pelas leis
feitas no Congresso Nacional, não realização da Reforma Agrária, construção de
barragens que expulsam os ribeirinhos, ameaça aos povos indígenas isolados,
queimadas e derrubada da floresta incentivados pelo governo Bolsonaro,
flexibilização da legislação ambiental para impedir multar e punir os
contraventores, atrapalhar os mecanismos de fiscalização trabalhista para proteger
os fazendeiros escravocratas. Por que o Concílio se reuniu na região Amazônica
se não discutiu os problemas da região? Algumas pessoas até se escandalizaram
com uma pintura de uma pessoa membro que retratou as frutas da região na cruz.
Imaginem se ela tivesse retratado a luta de classes que ocorre na região
amazônica.
Para termos uma
ideia do que já foi discutido e proposto na Igreja (quando se estava tentando
quebrar a visão europeia colonialista patriarcal de Deus na tentativa de se
construir um Projeto Popular de Igreja) segue em anexo alguns elementos
abordados no Concílio Geral de 1982. Esta contribuição da temática do Concílio
nos chega até nós através do texto apresentado pelo Pastor Werner Fuchs[9],
que afirma: "Considera antievangélico e imoral assalariar outros para
trabalharem para ele em sua propriedade."
3. - Sugestões (em forma de propostas de resolução)
3.3 - Em favor da continuidade do tema de 1982, e englobando
a realidade urbana dos marginalizados e também dos nossos membros bem situados,
escolhemos para um dos próximos temas da IECLB o lema "PARA QUE HAJA
IGUALDADE" (II Coríntios 8.13-15). Nosso objetivo é refletir sobre o
mínimo para a sobrevivência digna, sobre o limite entre necessário e supérfluo,
sobre a propriedade e o trabalho, a militância sociopolítica, sobre formas
comunitárias de convivência fraternal, sobre ascese e renúncia, sobre nossa
disposição de pagar o preço da justiça. Enfim, queremos estabelecer o padrão de
vida e serviço evangélico em nossa realidade atual, nos níveis pessoal,
eclesial e sociopolítico.
3.4 - Aprovamos a seguinte CARTA DE ORIENTAÇÃO DO CRISTÃO
EVANGÉLICO-LUTERANO:
Diante da realidade fundiária e da angustiosa situação social
no campo e na cidade, o compromisso do cristão evangélico-luterano que quer servir
a Deus no próximo concretiza-se assim:
3.4.1 - Ele assume a luta por uma Reforma Agrária ampla,
fazendo suas as reivindicações dos sem-terra, apoiando movimentos e
organizações autônomas dos trabalhadores e incentivando formas comunitárias de
uso e defesa da terra de trabalho e de moradia.
3.4.2 - Ele restringe sua propriedade e seu estilo de vida,
para poder restituir sabiamente ao próximo o que ele necessita para sobreviver.
3.4.3 - Considera antievangélico e imoral, quando tiver uma
profissão ou um meio de vida assegurado, ser proprietário de terras ou mesmo de
um "sítio de lazer".
3.4.4 - Considera antievangélico e imoral assalariar outros
para trabalharem para ele em sua propriedade.
3.4.5 - Não participa em atividades de colonização particular
que facilitam acesso a terra somente daqueles que tem dinheiro (picaretagem).
3.4.6 - Não apoia o presente regime de opressão e extermínio
do homem do campo, negando-se a trabalhar para organismos do governo
responsáveis pela repressão ao trabalhador, e empenhando-se no aperfeiçoamento
de partidos que permitem a democracia a partir das bases.
Algo assim hoje
é inimaginável ser estudado em um Concílio da Igreja. Isso mostra o tamanho do
retrocesso no qual nos metemos como Igreja.
São ainda da
base comunitária pessoas dos departamentos e setores de trabalho. Nesta
composição dificilmente o grito do povo explorado pelo capital será ouvido e
nem sairá um Projeto Popular de Igreja embasado na insurgência utópica
profética revolucionária do Evangelho do Reino de Deus. O Concílio da Igreja
nos últimos 20 anos só discutiu e rediscutiu leis e estatutos sob a assessoria
de advogados conservadores, exceto o documento Manifesto Chapada dos Guimarães
de 2000 para lembrar o Manifesto de Curitiba de 1970 que denunciou a tortura e
repressão da ditadura de 64.
No Concílio da
Igreja de 2016, em Brusque, o pastor presidente em pleno clima pós-Golpe de
2016 escreve em seu relatório[10]:
(...) se a IECLB não instituiu um magistério que dá (decide!)
a última palavra, então não se pode querer que a Presidência emita um parecer
claro (sic!) diante de temas que sabidamente dividem nossa sociedade e, por
conseguinte, nossas Comunidades.
A ordem é:
“Silêncio!” e “Cala a boca!” O silêncio da Igreja frente o Golpe militar-parlamentar-midiático-empresarial-jurídico-cristão
de 2016 e outras realidades do país recordam a fala de Ralph Kunz (2018, p.
170)[11],
citando Walter Lüthi:
Uma igreja que fica de parede a parede com o mundo só pode
deixar valer um pouco de cautela, muita consideração e muito propósito.
Em tal igreja, há decisões, audiências, até discursos de púlpito,
que são como Comunicados bem equilibrados, sermões que dão um pouco a todos, a
ninguém tudo, que não machucam a ninguém, mas também não criam bem estar para
ninguém. Então a palavra de Deus, essa periculosidade, esse fermento, esse
poder de sal e dinamite, finalmente também na igreja evangélica, na Igreja da
Palavra, pode ficar garantido e desarmado burocraticamente dentro da igreja
(tradução do autor).
A Igreja só ouve o grito de revolta dos que
apóiam a opressão capitalista quando denunciados em seu processo de opressão,
mas não ouve o grito dos explorados e expropriados pelo capital, pois estes não
sabem a quem dirigir seu protesto ou estão simplesmente alienados e acham que
tudo é assim mesmo.
6 - O Projeto Popular de Igreja
Devemos lembrar
que dentro do Projeto Popular de Igreja em andamento nessa época temos vários
grupos (Movimentos Teológicos) que surgem na IECLB. Além destes há os
mecanismos de resistência criados pela estrutura da Igreja como o curso sobre
Realidade Brasileira em Araras (RJ) para pastores/as, sugerido pelo pastor
regional Albrecht Baeske ao Conselho Diretor (parece-me que foi uma ideia do
Grupo de Curitiba) e depois coordenado por ele a pedido do Conselho Diretor
(após pressão de vários pastores o Conselho Diretor aprovou a ideia), e o
Centro de Informação e Documentação que coletava notícias de resistência à
ditadura e as repassava.
Após a gestão
conservadora do pastor presidente Karl Gottschald (que visitava o general
ditador assassino Geisel, temos foto dessa visita), assume o pastor Augusto
Ernesto Kunert, 1978-1986, que tinha experiência militante e já havia sido
vereador pelo PTB, o que ajudou no processo de construção do Projeto Popular de
Igreja nas bases. O que aqui nomeio de “Projeto Popular de Igreja” é formulação
minha. Na época não se falava dessa forma. São experiências que brotavam dentro
da Igreja na procura de uma proposta de Igreja que incluísse as lutas populares
e o sofrimento do povo explorado na luta contra a ditadura e contra o capital.
Cito a seguir as que consegui catalogar com a ajuda de várias pessoas (deve ter
havido ainda outras experiências):
-
Grupo dos 80;
-
Grupo 01 no DESES;
-
Grupo dissidente de
estudantes que sai da EST para se inserir na vida do povo empobrecido e vai
para Diamantino, MT;
-
Grupão - Grupo de
estudantes da EST de esquerda que se reúne periodicamente;
-
Projeto Denes – Criado
na região norte do Estado do Espírito Santo. Objetivo: organização da
agricultura familiar, melhorar a diversificação da produção agrícola por meio
da fruticultura e tecnologia de melhora da produção de café conilon
introduzindo mudas clonais, saúde popular (chás, produção de ervas medicinais,
massagem terapêutica), cria-se ali o devocionário Semente de Esperança;
-
Projeto Guandu –
Criado na região da orla do Rio Guandu, no centro do Estado do Espírito Santo
com o objetivo de diversificação da produção agrícola, introdução de novas
mudas frutíferas tendo como base o sítio da ADL, beneficiamento e
comercialização de produtos agrícolas por meio de associações;
-
APSAT Vida – produção
orgânica, sustentabilidade, venda direta dos produtos agrícolas (produtor –
consumidor) por meio de feiras livres juntamente com um trabalho sobre saúde
que ainda existe no norte do Espírito Santo;
-
Albergue Martim Lutero
– Casa de albergamento em Vitória, ES para encaminhamento de pessoas do
interior para especialidades médicas na grande Vitória. Ali surge o Programa
dermatológico, com o objetivo de ajudar pessoas do interior com câncer de pele,
por meio de consultas, pequenas cirurgias realizadas nas comunidades que
abrigam o programa;
-
Pastoral da
Convivência, ES, onde um grupo de pastores se instala no meio rural das
comunidades pomeranas para viver com e como os camponeses;
-
Partiu do Espírito
Santo a primeira CARTA AOS ELEITORES elaborada na IECLB, cuja ideia mais tarde
a instituição copiou, além de outros distritos eclesiásticos, entre eles o DE
Uruguai. No Espírito Santo, coordenado pelo pastor regional Baeske, foi escrito
e divulgado, depois, um caderno de conscientização comunitária na linha da
CARTA, que provocou grande discussão na Igreja e em sua Direção;
-
Projeto Lachares, em
Taquaras, SC, coordenado pelo Pastor Silvino Schneider;
-
CEM - Centro de
Elaboração de Material criado pela Igreja;
-
SIP – Serviço de
Informação Pastoral, uma publicação de pastores, coordenada pelo pastor Dario
Schäffer e pastora Marga Rothe para intercambiar ideias e experiências e criar
um elo entre as várias lutas na Igreja. O pastor Dario Schäffer e sua esposa
Roswita, a partir de Juiz de Fora, MG, publicaram pela PU – Publicadora Uruguai
um livro sobre sua dura experiência de resistência na Igreja;
-
Movimento de justiça e
não violência da EST;
-
Núcleo Avançados da
EST;
-
Grupo da EST que vai
ter um processo de convivência com o MST da fazenda Annoni;
-
RE 4 e 6 constroem a
Pastoral Rural com o CAPA;
-
Grupo de Curitiba, que
sugeriu a publicação do livro de homilética Proclamar Libertação para ajudar a
um olhar mais crítico da realidade a partir da Bíblia. Dentro desse espírito
surge em espaço ecumênico nacional o CEBI (Centro Ecumênico de Estudos
Bíblicos);
-
Grupo que forma a PPL;
-
Comin;
-
CAPA que brota a
partir do campesinato na RE III;
-
Comunhão Martim Lutero
que surge, mais tarde, nos anos 90 na RE II (que é mais da linha do luteranismo
conservador);
-
Pastores/as e pessoas
leigas que participam da CPT;
-
Os/as pastores/as nas
Novas Áreas de Colonização – NAC – que pressionados pela realidade violenta de
exploração do campesinato na Amazônia procuram construir propostas de
resistência ao capitalismo selvagem ali reinante;
-
A comunidade de Belém
do Pará via pastora Marga Rothe insere a comunidade nas lutas populares da
região;
-
Grupo de pastores e
pessoas leigas que participam do Movimento Justiça e Terra na luta contra a
barragem de Itaipu; Distritos Eclesiásticos do Sudoeste e Oeste paranaense
motivados pela luta contra a Itaipu viabilizam atividades contestatórias ali;
-
Surge de forma massiva
nos anos 90 a APPI – Associação de Pastoras e Pastores da IECLB – como forma
dos pastores/as se organizar, criado em Cascavel, PR;
-
Grupo de pastores do
DE Uruguai que desde 1970 (Silvio Meincke, Lothar Hoch, Edio Schwantes) elabora
material para o Ensino Confirmatório começando com o ‘Estrada da Vida’ e depois
com quatro cadernos a partir de 1977, além de outras publicações de resistência
da PU – Publicadora Uruguai;
-
Forma-se, também, no
final dos anos ’60 no DE Uruguai o PIAI – Plano Integrado de Ação Inter
paroquial – que se compõe das Paróquias de Cunha Porã, Maravilha, Palmitos e
Mondaí para capacitar lideranças leigas para o trabalho nessas paróquias por
causa da falta de pastores na Igreja. Dentro desse Plano os pastores trabalham
nas paróquias a questão sindical, cooperativismo e ajudam a formar o MDB.
Dentro desse contexto surge no DE Uruguai em 1985 o Projeto de assessoria ao
MST, financiado parcialmente, no início, pelos/as pastores/as do DE Uruguai e
com verbas do Pão para o Mundo, (coordenado pelo pastor Günter Wolff depois
pelo pastor Flávio Schmidt e finalmente pelo jovem leigo Elmar Wahlbrink de
Maravilha, SC), depois se constrói no DEU o projeto de assessoria ao MAB
(coordenado pelo pastor João Clemente Freitag, depois pela pastora Louraine
Christmann e depois pelo casal Danilo e Selmira Schwanz de Maidana, município
de Águas de Chapecó, SC). Esses Projetos acabam em meados dos anos 90 porque a
Teologia da Libertação na Igreja já não era mais importante e tinha poucos
seguidores no DE Uruguai, o movimento de massas em nível de país estava em
descenso por causa do neoliberalismo e havia na Igreja já o processo de
Reestruturação em andamento para acabar com qualquer tentativa de construir um
Projeto Popular de Igreja que ameaçasse o capital.
-
Acrescento ainda que nos
anos 90 no DE Uruguai se criou o CTP - Curso de Teologia Popular (espécie de
continuação do Curso do Lobo do tempo em que eu estava no Projeto de acompanhar
o MST), que hoje está em processo de extinção. Durou de 1993-94 até 2021.
Começou a coordenar o CTP a pastora Regene Lamb, depois a pastora Silvia Genz,
a pastora Neiva Barth e por fim a diácona Catia Berner. Talvez ainda haja uma
continuidade. O problema deste curso era a método idealista cartesiano
positivista liberal que é corrente na Igreja. Não está vinculado às lutas
populares e não conduz para elas. Forma para o trabalho assistencialista da
paróquia e não insere nas lutas populares.
Deve ter havido
muito mais sinais de resistência dos quais não tenho conhecimento. A propaganda
neoliberal foi tão forte que desestabilizou politicamente o DE Uruguai, que
historicamente foi de resistência ao capital e ao projeto conservador de
Igreja, que votou a favor da Reestruturação em 1997 (o único DE da RE III,
todos os outros cinco votaram contra), graças à esquerda ingênua e desavisada
que construiu uma política de aproximação e conciliação com a Direção da Igreja
e foi engolida nesse processo.
Sobre os grupos
de resistência na Igreja o pastor Dario Schaeffer escreve num e-mail:
Quanto ao grupo
dos 80 eu não tenho muita informação. Ele foi criado no fim dos anos 70, se não
me engano, em Caxias do Sul. Deveria ser uma ampliação e uma continuação do
assim chamado "Grupo de Curitiba", este criado em 1971/72 num
Encontro sobre radiocomunicação em Porto Alegre e ampliado por convites a
colegas escolhidos. Naquele tempo havia indícios de que pastores estavam sob
pressão por causa de seu posicionamento crítico diante da ditadura. Pressão
esta vinda das próprias comunidades e de suas direções.
Os documentos
oficiais da IECLB, quanto mais críticos diante do golpe que tenham sido, não
eram assimilados pela base luterana e pela consciência burguesa existente. Por
isso pastores que se posicionavam favoráveis a esses documentos eram criticados
e ameaçados de expulsão. Com o intuito de dar força e respaldo às pessoas,
pastores e não pastores, que se sentiam representadas por estes documentos, bem
como faziam parte de movimentos ou partidos de esquerda, criou-se um grupo de
pastores que se encontrava regularmente uma vez ao ano, na maioria das vezes em
Curitiba. Por uma questão de segurança era um grupo um pouco clandestino. Não
se divulgava os nomes das pessoas nem as datas e lugares de encontros.
Reuniam-se em
torno de vinte pastores, que faziam análise de conjuntura, trocavam relatos de
experiências vividas ou sofridas no trabalho, pressões ou perseguições,
trocavam-se informações muito necessárias por causa da censura que impedia uma
informação aberta. Debatia-se apoio a movimentos e lutas dentro e fora do
Brasil. Por exemplo, foi enviado um documento de apoio ao bispo Frenz da Igreja
Evangélica Luterana do Chile, crítica à ditadura de Pinochet e que se separou
da ILCH - Igreja Luterana do Chile, que apoiava a ditadura. Foi criada a partir
de propostas deste grupo a Pastoral Popular Luterana - PPL, conhecida pela sua
atuação de conscientização nas bases da IECLB, o Proclamar Libertação como
subsídio teológico para a preparação de pregações, e da própria PPL surgiu o
Sementes de Esperança, caderno de meditações que deveria ser um contraponto aos
calendários de meditações que vinham da Alemanha, traduzidos ou não, tendo como
público alvo os membros das comunidades.
Quando se
vislumbrou o fim da ditadura nos fins dos anos 70, início dos 80, resolveu-se
sair da clandestinidade e ampliar o grupo, incluindo também não-pastores,
abrindo ecumenicamente para membros de outras igrejas. Participei do primeiro
encontro em Caxias do Sul e mais uma vez de um em Porto Alegre, mas não me
lembro das datas.
Não havia uma
liderança específica. Para cada encontro era escolhido alguém diferente que
fazia a convocação e escolhia o lugar. Não consigo me lembrar de muito mais no
momento, pois com o fato de ter ido ao Espírito Santo em 1981 e ter integrado
lá o Grupo 01 até 1987, a relação com o grupo dos 80 ficou mais distante, e foi
substituído pela ação da PPL, a qual também pertenci. Nem sei quando e por que
resolveram dissolver o grupo.
O pastor Silvio
Meincke lembra desse período e comenta num e-mail:
Lembrava-me apenas da reunião de Curitiba onde o tema foi a
eleição, quando Kunert foi candidato. O grupo pediu que Burger se candidatasse
com uma plataforma apoiada por nós, e ele topou. Em resposta, Kunert divulgou
uma plataforma mais "progressista" que a de (Germano) Burger.
São iniciativas
que brotam dessa vontade de construir um Projeto Popular de Igreja que não
tiveram o apoio direto da Direção da Igreja, mas também não foram perseguidos
por ela, foram tolerados, pois brotaram como consequência do movimento de
massas que havia no país. O que havia eram reuniões que a Direção da Igreja
mantinha, por convocação, com os chamados ‘Movimentos’ dentro da Igreja: PPL,
Encontrão, MEUC. Estes grupos sempre foram mal vistos e sentidos como uma
ameaça pela Direção da Igreja porque eram militantes e mais organizados, tidos
como uma ameaça teológica por terem organização e dinâmicas próprias e
influenciavam as bases da Igreja, e que existem até hoje.
6.1 - Experiências
fora do Modelo de Igreja de Atendimento numa tentativa de se construir um
Projeto Popular de Igreja para a IECLB a nível nacional:
1.
Estudantes da
Faculdade de Teologia em 1977 saem da FacTeol numa crítica ao Modelo de Igreja
de Atendimento e vão para a periferia da cidade de Diamantino, MT com a cara e
a coragem, trabalhar com os setores marginalizados da sociedade urbana. A
Igreja não tentou nem conversar com o grupo porque se sentiu questionada, numa
postura de autodefesa;
2.
Grupo 01 no Espírito
Santo, na mesma época, na região conhecida como Mata Fria, faz uma experiência
de Igreja de Convivência no ambiente camponês que também não teve apoio da
Instituição, fora do pastor regional Baeske. O grupo tentou uma conversa com o
pastor presidente Brakemeier que disse que se a experiência desse certo a
Igreja apoiaria.
Os dois grupos
duraram certo tempo, mas sem respaldo institucional e financeiro se desfizeram.
A Igreja em vez de acolher a crítica e acompanhar novas experiências tem uma
visão limitada (pela ideologia da classe dominante) e reducionista. As pessoas
da Direção ao verem que a Instituição é criticada se sentem pessoalmente
criticadas e não conseguem entender que se pode desenvolver outros modelos de
Igreja. A visão europeia de Deus barra qualquer teologia não convencional, que
tenta englobar os empobrecidos e excluídos pela sociedade do capital, o que
Jesus propõe em Mc 3.3: colocar os desprezados, os odiados, os malditos e os
que não podem se defender por si só no centro da roda. Quando os conceitos da
pequena burguesia não estão no centro então se despreza qualquer coisa. A visão
europeia patriarcal e colonialista de Deus não consegue entender isso. A Igreja
se acorrentou ao Modelo de Atendimento e não consegue enxergar nada além disso,
pois esse modelo se adapta aos interesses da pequena burguesia conservadora,
que o consegue controlar e dar a linha teológica.
3.
Missão Zero foi uma
tentativa dos setores conservadores da Igreja, do Movimento Encontrão, de fazer
missão para reproduzir o Modelo de Igreja de Atendimento em áreas não atingidas
pela IECLB (Nordeste e regiões de São Paulo) e por isso teve certo apoio da
instituição;
4.
PIAI foi uma
experiência dentro do Modelo de Igreja de Atendimento no Distrito Uruguai que
capacitava leigos para o trabalho comunitário e produzia material de estudo
para grupos de reflexão, especialmente para a catequese – Ensino Confirmatório,
mas trabalhava a luta política contra a ditadura, fortalecendo pequenas
cooperativas, associações e o movimento sindical de camponeses e se inseriu no
partido de oposição da época, o MDB. Algo semelhante se desenvolveu nos dois
Distritos do Espírito Santo e nos Distritos do oeste do Paraná. Quando os
idealizadores se transferiram de paróquia a experiência enfraqueceu, mas deixou
marcas no Distrito que construiu outras experiências com o movimento popular
(MST, MAB) e ecumênico (CPT, CIMI, CEBI).
Essas
experiências foram puxadas por pastores jovens de origem camponesa em sua
maioria. Sempre vale a pena investir na juventude, mas os setores conservadores
(pessoas de mais idade, já acomodadas, e que estão na Direção da Igreja) se
sentem ameaçados pelos jovens e barram o que podem, num desserviço à Igreja.
7 - O neoliberalismo
na Igreja.
Destacamos
algumas das dinâmicas capitalistas neoliberais aplicadas na Igreja no processo
da Reestruturação, comparadas às aplicadas pelo governo neoliberal ao país:
-
Retirada de direitos
dos trabalhadores no país e retirada do direito ao voto no presbitério da
paróquia do pastor/a Coordenador Ministerial, os outros pastores, se houver,
nem precisam participar da reunião, são supérfluos, não mandam nada mesmo;
-
Flexibilização
salarial e das leis trabalhistas e falou-se até 2012 em flexibilização salarial
na Igreja e de fato paróquias pequenas não pagam a Subsistência Ministerial
integral por não terem dinheiro. Como cada paróquia está sozinha e não existe
qualquer tipo de solidariedade evangélica entre as paróquias na Igreja então os
pastores/as pagam o pato;
-
Rotatividade da mão de
obra via terceirização que precariza os empregos e na Igreja TAM e Avaliação
fazem este papel de facilitar a rotatividade da mão de obra;
-
Produtividade e
qualidade total na economia e exigência de produtividade na paróquia sob o
controle dos presbitérios que não querem que os pastores/as saiam da paróquia
para reuniões no Sínodo. Pastor é nosso peão então não tem nada de andar em
reuniões do Sínodo, muito menos em reuniões do movimento popular;
-
Esvaziamento do
aparelho estatal com Programa de Demissão Voluntária no Estado para economizar
dinheiro para pagar a dívida interna e externa e esvaziamento de pessoal na
Secretaria Geral e fechamento de secretarias e departamentos na Igreja por não
haver mais dinheiro, que foi reduzido com a modalidade do Dízimo;
-
Privatização de
empresas estatais, da saúde, da previdência e “privatização” do ensino de
teologia com a terceirização dos centros de formação teológicos e retirada da
Instituição da tarefa de dar a linha teológica dos centros de formação, com o
objetivo de mudar o rosto teológico da Igreja em oposição à Teologia da
Libertação, muito presente na teologia oficial, para se adequar às exigências
do mercado religioso condicionado pelo capitalismo.
-
A privatização da
previdência ocorre com a falência do FERAP, que era uma proposta de previdência
complementar da Igreja. No lugar do FERAP surge a Luterprev, que agora foi
entregue à Aspecir, porque não conseguiu ser competitivo no mercado. Hoje a
Instituição não é mais responsável pelo cuidado com a previdência dos
obreiros/as, cada um se vira. A Instituição insiste que obreiros/as cuidem de
sua previdência, tem até mecanismos de fiscalização. O resultado é que muitos
pastores/as se aposentam mal pelo INSS, por vários motivos. Um deles é que o
pastor com mais idade e doente fica sem paróquia e é forçada a pedir
aposentadoria com valores baixos por causa do fator previdenciário;
-
Estímulo à
concorrência com abertura de importações para baixar o preço dos produtos
internos, que quebrou muitas empresas no país, e na Igreja a criação de mais
dois Centros de Formação Teológica para concorrer com a EST, que inviabiliza
economicamente os três centros e cria a concorrência entre estes, reduzindo o
tempo de estudo e desviando da teologia oficial que consta nos Documentos
teológicos aprovados em Concílio. Outra Estrutura requer outra Teologia, assim
como no Templo de Salomão não poderia continuar a teologia da Arca da Aliança,
que foi escondida no Santo dos Santos. Compare os dois credos de Israel: Dt
6.20-23 e Dt 26.1-11 e verás a diferença teológica neles já desde o local onde
são confessados, o primeiro na família camponesa, e o segundo no Templo do rei,
onde não se poderia falar que Deus luta contra o Estado e pela terra (Dt 6.22
“Aos nossos olhos fez o Senhor sinais e maravilhas, grandes e terríveis, contra
o Egito e contra Faraó e toda a sua casa”), pois esta parte foi deixada fora no
capítulo 26;
-
Mudança da ideologia
capitalista no país (keynesianismo para neoliberalismo e pós-modernidade) e na
Igreja abandono da teologia oficial aprovada nos Concílios e Direção da Igreja
para cada um adotar a que mais lhe convém e que se adapte à nova realidade do
modo de produção da vida material para poder sobreviver. Uma teologia
gelatinosa, descontextualizada da realidade conforme o gosto do freguês e
conforme as exigências do mercado religioso, pois surge o Movimento Carismático
como filhote do Encontrão para adaptar a teologia da IECLB à dinâmica de um
mercado religioso aquecido. Felizmente esse Movimento se retirou da IECLB;
-
O Estado não tem
compromisso com a formação universitária e incentiva as universidades privadas
e na Igreja ela não tem compromisso com os estudantes de teologia que têm que
financiar o seu sustento e seu estudo trabalhando nas horas que deveriam
estudar baixando a qualidade da formação;
-
Mudanças nos impostos
de exportação (Lei Kandir em 1996) e facilidade de importação (que quebrou
muitas empresas nacionais) e na Igreja mudança do Sistema de Cotas para Dízimo
(que quebrou financeiramente a Igreja e beneficiou os membros que tiveram uma
redução percentual na contribuição anual, que para eles não era vital,
economizaram alguns trocados, mas para o orçamento da IECLB foi vital e fatal);
-
Individualismo,
hedonismo e consumismo no mundo e individualismo e acomodação sem procura de um
Projeto coletivo de Igreja, cada um se vira para sobreviver no espaço de 18
igrejinhas semiautônomas, subdivididas e atomizadas em núcleos ou UPs, o que
impede a troca de experiências pastorais e a construção de um Projeto de Igreja
em nível nacional. Está tudo fragmentado, como quer a pós-modernidade, pois
povo dividido é mais fácil de governar e manipular;
-
Submissão às dinâmicas
das leis do mercado e submissão às leis e normas eclesiásticas repressivas e às
opiniões dos advogados conservadores (“Rechts”anwälte) que dão assessoria
jurídica à Igreja na elaboração das normas eclesiásticas e assim ditam a
teologia na Igreja, pois normas e leis não são neutras, tem lado, tem partido e
tem classe;
-
Abandono das práticas
de mercado do mundo bipolar para um mundo unipolar e na Igreja abandono das
atividades coletivas dos DEs e os grupos viraram associações: OASE, LELUT com
independência e autonomia em relação à Igreja mesmo fazendo parte dela;
-
O Estado não é mais
responsável pela saúde, pela educação, pela previdência e a Igreja não tem mais
responsabilidade e vínculo jurídico com grupos, escolas, EST, asilos, ADL, etc.
cada um se vira;
-
O país é bombardeado com a nova teoria
político-econômica neoliberal, que precisava de novas normas
jurídico-econômicas para agilizar o capitalismo (FHC queria acabar com a
herança da Era Vargas, que o Golpe de 2016 vai agora realizar) e a Igreja é
bombardeada com as ideias da assessoria jurídica conservadora, que procurou
adaptar a vida da Igreja e sua teologia segundo as normas e ideologias do
Estado neoliberal, para acabar com a herança das propostas dos concílios dos
anos 80.
Nada pode ser
feito e decidido sem a opinião dos juristas que foram e são os
ideólogos/teólogos atuais da Igreja. Construiu-se a nova estrutura da Igreja
conforme a ideologia neoliberal dos juristas avalizados pelos membros e
pastores conservadores que queriam acabar com a “ameaça” da Teologia da
Libertação, que estava tentando achar um caminho pela teologia oficial da
IECLB, que consta nos seus documentos teológicos, para construir um Projeto
Popular de Igreja que ameaçava o capitalismo.
No fundo, a
Reestruturação foi uma vitória do projeto do capital na Igreja, que se adaptou
a este, pois ‘o modo de produção da vida material condiciona o processo da vida
espiritual’. A decisão de retirar o direito dos pastores de votar nos
presbitérios paroquiais é meramente uma decisão jurídica de se adaptar às
normas do Estado, ou isso não traz consigo outro conceito de ordenação e de
compreensão de Igreja, onde tem patrões e peões, anulando o batismo que nos
torna iguais em Cristo?
A seguir uma
análise e um comentário sobre o artigo do P. em. Dr. Gerd Uwe Kliewer ao falar
dos motivos que levaram ao processo da Reestruturação. “Reestruturação da IECLB
- por quê?” (2016, p. 164-165; 167-168)[12],
publicado no Anuário Evangélico de 2017. O Dr. Kliewer foi Secretário Geral no período
da Reestruturação e articulador deste processo retrógrado.
Avaliação do
Dr. Gerd Uwe Kliewer |
Minha
Avaliação |
-
a Direção da Igreja estava muito longe das comunidades; que esta não tinha
conhecimento da base da Igreja, nem consciência das dificuldades do trabalho
pastoral na base. |
Isso
continua hoje da mesma forma. Nada mudou. Os pastores/as estão sozinhos na
paróquia e a instituição não lhes garante a liberdade da pregação pura do
Evangelho. Se o fizerem com muita insistência e clareza são expulsos da
paróquia por agressão à ideologia do capital. O que temos de fato é a Igreja
sendo aparelho ideológico do Estado capitalista. |
-
a estrutura da Igreja era grande e cara demais, e a manutenção desta
estrutura - que abarcava também a aposentadoria dos pastores - um peso
exagerado para as paróquias, cujos membros não entendiam a necessidade de
pagar por esta estrutura. |
Com
a Reestruturação a estrutura da Igreja ficou maior e mais cara. O dinheiro
apenas foi redistribuído entre os Sínodos e a administração central da
Igreja. Antes havia 8 Regiões e a administração em Porto Alegre. Hoje são 18
administrações sinodais e a administração em Porto Alegre. A Contribuição dos
membros baixou e parte dos recursos da administração central foram
canalizados para os sínodos, isso dificultou o financiamento do estudo de
teologia para os estudantes, que foi ‘privatizado’ segundo as normas do
neoliberalismo. |
-
muitos pastores não se empenhavam em explicar a importância da estrutura e em
motivar a contribuição para ela, acusando-a de ser o motivo da contribuição
alta. |
Isso
ficou no mesmo. Os membros hoje continuam reclamando que a contribuição está
alta. Em torno de 20% a 30 % do orçamento da paróquia ia antes para custear a
estrutura, hoje são 10% (sobre a contribuição e os eventos) e o povo continua
reclamando. |
-
a estrutura era centralizadora e burocrática e os processos decisórios
concentrados na cúpula. |
A
estrutura continua burocrática, longe da realidade das comunidades e alienada
da realidade brasileira e algumas decisões ocorrem nos sínodos. |
-
a Igreja era pastorcêntrica, valorizando pouco os leigos e outros obreiros;
os próprios pastores, porém, sentiam-se desprotegidos. |
O
sacerdócio geral de todos os crentes continua sendo apenas um belo palavreado
e os pastores estão mais desprotegidos e isolados do que nunca, nas mãos da
pequena burguesia conservadora que dá a linha teológica na Igreja com o
intuito de proteger os interesses do capital. O pastorcentrismo continua o
mesmo, com a diferença que o pastor/a não tem mais poder e virou peão que tem
que fazer tudo. |
-
A Secretaria Geral e o Conselho Diretor queixavam-se que os pastores jogavam
todos os problemas para a Direção da Igreja resolver, tanto os seus pessoais
quanto os das comunidades. |
Aqui
agora se distribuiu um pouco a resolução dos problemas entre a Secretaria
Geral, Conselho da Igreja e os Sínodos. A Secretaria Geral continua
sobrecarregada porque foi enxuta com a Reestruturação por falta de dinheiro
que foi repartido com os Sínodos. |
-
Os Pastores Distritais reclamavam que, sendo pastores de paróquia, não tinham
como cumprir também as tarefas exigidas do cargo de Pastor Distrital. Ficou
sempre mais difícil encontrar pastores dispostos a assumir este cargo. |
Isso
em alguns Distritos Eclesiásticos acontecia quando não havia um Projeto de
Igreja e nenhuma inserção na luta do Movimento Popular, Sindical e movimento
ecumênico. |
-
Com as decisões concentradas no Conselho Diretor, este se queixava da imensa
agenda a ser vencida nas quatro reuniões anuais e da falta de tempo para
analisar os assuntos a fundo. |
O
Conselho da Igreja de hoje continua com a agenda superlotada e com as mesmas
dificuldades. |
-
A Direção da Igreja sentia que a falta de liderança espiritual forte
favorecia a influência de movimentos de reavivamento de fora e propiciava o
surgimento de linhas teológicas na Igreja que ameaçavam a unidade. |
Isso
continua no mesmo ainda hoje. Os movimentos surgiram na Igreja porque estavam
à procura de um Projeto de Igreja. Hoje com 18 igrejinhas (Sínodos) a unidade
está muito mais ameaçada que antigamente. A “liderança espiritual forte”
agora é exercida pela pequena burguesia conservadora que manda nas paróquias
e tenta, e normalmente consegue, impedir a pura pregação do Evangelho. Linhas
teológicas diferentes não são problema, problema é a submissão da teologia à
ideologia do capital. |
-
A cobrança de cotas por membro fomentava a tentação das comunidades de
"sonegarem membros", isto é, de informarem um número menor de
"cotas", de maneira que a Igreja tinha muita dificuldade de saber o
número total de membros. |
A
sonegação (corrupção) sob a modalidade do Dízimo continua como antes.
Mudou-se apenas o jeito de viabilizar a corrupção. Hoje a corrupção
normalmente ocorre em que os valores das promoções, festas, bailes, não são
computados totalmente ou são sonegados totalmente. A parte sonegada ao Sínodo
fica para reforçar o caixa da comunidade. |
-
Após a Reestruturação - Os membros leigos ocuparam os espaços previstos, e
dominam não somente a administração das comunidades e paróquias, mas
participam com maior peso das instâncias superiores. Nos sínodos isso é
perceptível, em alguns mais, em outros menos. Há sínodos, onde a
administração está realmente na mão dos leigos, liberando o Pastor Sinodal
para as suas atribuições específicas. No Concílio e no Conselho da Igreja a
voz dos leigos é muito mais ouvida. Não creio que o critério de ser pastorcêntrica
ainda se aplica à IECLB. |
Isso
confere. Agora somos uma Igreja comandada por leigos com baixa formação
teológica que pertencem à pequena burguesia conservadora (em parte altamente
reacionária) que dão a linha teológica da Igreja segundo os interesses do
capital. Na maioria dos Sínodos o Pastor Sinodal ainda tem que se ocupar
muito com a administração e gasta seu tempo apagando incêndios nas
comunidades e não consegue ser o pastor dos pastores. O número de suicídio de
obreiros aumenta o que é um sinal de que a coisa anda feia. Não somos mais
apenas uma Igreja pastorcêntrica, somos uma igreja onde os leigos da pequena
burguesia conservadora dão a linha teológica da Igreja, segundo os interesses
do capital, e tentam impedir a livre e pura pregação do Evangelho que ameaça
o capital. Usam entre outros meios o EMO que contém o TAM e a Avaliação. |
O
Dr. Milton Laske, liderança leiga que, como assessor jurídico, acompanhou
todo o processo de elaboração da Constituição, contribuindo com os seus
conhecimentos jurídicos, cuidando para que fossem respeitadas as leis
brasileiras e que o processo de votação seguisse o rito correto.
Posteriormente ainda acompanhou a reformulação e adaptação dos documentos
normativos complementares. Deixou a sua marca na nova estrutura. A Igreja lhe
deve gratidão. -------------- Observação: Quem
deve gratidão a esse advogado conservador é o capital em seu formato
imperialista sob hegemonia estadunidense, não a Igreja de Jesus Cristo no
Brasil. |
Isso
infelizmente confere. Ele por sua assessoria jurídica construiu a estrutura
da Igreja conforme a ideologia neoliberal vigente, pois a interpretação das
leis não é algo neutra, mas política e ideologicamente definida, normalmente
a favor do capitalismo. Essa assessoria subordinou a Igreja às normas do
Estado capitalista neoliberal brasileiro, a tal ponto que hoje os pastores/as
não são mais pastores/as, mas ministros/as, segundo a definição da legislação
previdenciária do Estado. Graças a esse advogado conservador, aos pastores/as
conservadores e aos pastores/as, que se diziam de esquerda, ingênuos, temos a
estrutura e a teologia que temos. Graças ao acovardamento atual dos
pastores/as e leigos/as de esquerda desarticulados vamos continuar
sustentando essa estrutura antievangélica, pois não garante a livre e pura
pregação da Palavra de Deus, como Lei e Evangelho, aos seus obreiros e nem
permite a inserção da Igreja nas lutas por justiça e paz (Rm 14.17) de nosso
povo, como rezam as decisões conciliares dos anos 80. |
Como podemos
ver, o ataque foi dirigido contra a estrutura da Igreja e não se estava
preocupado com o trabalho de base na comunidade e muito menos preocupado em
viabilizar as decisões conciliares dos anos 80. O que estava na mira da direita
anticlerical especificamente era o Distrito Eclesiástico onde os pastores/as se
articulavam na tentativa de construir um Projeto Popular de Igreja. O DE foi
eliminado da estrutura e com isso se eliminou o espaço de articulação dos
pastores/as de esquerda engajados na luta popular. O que foi colocado no lugar
do Distrito foi o Sínodo, que na verdade é parecido com o que era a Região
Eclesiástica, e isso desarticulou os pastores/as, que não estavam entendendo o
que estava se passando.
8 - Uma
Avaliação desse processo
Esse é o
resultado exitoso da Reestruturação da IECLB, mas não é isso que diz a
avaliação da própria Igreja realizada 8 anos após em 2005. A avaliação foi
feita sob o ponto de vista de seus idealizadores e constataram muitas falhas,
mas nada foi encaminhado para sua correção, o que é trágico. Para melhor
compreensão, seguem alguns itens da Sinopse das Avaliações feita nesse Fórum de
Avaliação da Reestruturação da IECLB, realizado nos dias 08 a 11 de novembro de
2005 em São Leopoldo, RS.
A
missão não foi beneficiada pela nova estrutura. ...
Pergunta-se
se todos têm a visão de um só corpo, ou de dezoito “igrejinhas”
semi-independentes. Em vista das múltiplas tendências teológicas existentes,
manifestadas em comunidades e nos três centros de formação, pergunta-se pela
identidade luterana e pela unidade da igreja. A reestruturação é responsável
direta pela quebra da unidade da igreja. ...
Houve
um total esvaziamento da autoridade pastoral e eclesiástica, sendo que pastores
se portam como funcionários e empregados dos presbíteros; pastores sinodais se
tornaram reféns da "política administrativa" dos presbíteros; os
pastores sinodais não estão mais próximos dos obreiros (o número crescente de
conflitos pessoais e familiares o confirmam).
Obreiros/as
se sentem coagidos a agradarem a comunidade às custas do compromisso
evangélico.
Houve
"laicização empresarial", sendo que presbíteros não devidamente
preparados transferem critérios empresariais para a administração da
comunidade. ...
Comunidades
e paróquias se imbuíram de poder tratar obreiros/as como funcionários/as
(problema da autoridade e do poder). ...
A
atual estrutura é mais cara e menos operativa. ...
A nova estrutura está mais cara, sendo que
falta mais dinheiro para a missão.[13]
Essas questões entre outras não tiveram
nenhum encaminhamento para se achar soluções. Fez-se a avaliação e tudo
continuou como antes, era tudo pró forma.
Claus
Schwambach (2015, p. 86-87)[14],
citando Zimmer, diz que na IECLB pós Reestruturação
Não existem objetivos grandes e programáticos" e a
unidade é "frágil". Ela atua como "órgão de administração e
controle, que procura manter a unidade da IECLB não mediante conteúdos /
orientação programática, mas por presença e cuidados com colaboradores e
colaboradoras, o que, porém, ela dificilmente consegue. Todas as ideias de
edificação de igreja ela delegou para as bases".
O efeito de todos esses processos mostra-se nas comunidades e
nos ministros. Zimmer constata que há muitos pastores sobrecarregados com
realização de tarefas pastorais clássicas. Constata que a participação de
leigos, em cargos, deu forte conotação conservadora, exigindo dos pastores a
conservação das ofertas tradicionais. As exigências da direção (materializadas
p. ex. nos programas do Vai e Vem, na exigência de uma boa formação teológica, e
no dever de crescer) pesam nos ombros dos ministros, ao lado do trabalho e da
administração. As elevadas exigências de membros resultam em menores liberdades
teológico-práticas para os pastores. Assim, pastores e pastoras
"atualmente se encontram expostos à pesada sobrecarga", e "sobre
[sic] forte pressão, crises, [...] [e] grande necessidade de apoio
psicoterapêutico".
Zimmer, citada acima por Schwambach, lembra que "Todas as ideias de edificação de igreja ela [IECLB] delegou para as bases" (SCHWAMBACH, 2015, p. 86) que são conservadoras, por serem controladas pela pequena burguesia conservadora defensora em princípio e acima de tudo do capital. A teologia deve se adaptar aos interesses do capital. Lembra também que “As elevadas exigências de membros resultam em menores liberdades teológico-práticas para os pastores” (SCHWAMBACH, 2015, p. 87).
Schwambach
(2015, p. 81-82), continuando a citar Zimmer, aponta para as contradições entre
o PAMI - Plano de Ação Missionária da Igreja - e a Reestruturação de 1997.
Dentre uma série de fatores, ela recorda um evento que mudou
significativamente a forma de estruturação da IECLB, que foi a reforma da
estrutura administrativa e de poder da igreja implantada no Concílio
extraordinário da IECLB, em 1997, com a criação dos 18 Sínodos. A
reestruturação aumentou a influência dos leigos sobre os rumos da IECLB,
descentralizou mais as decisões e aumentou a autonomia das comunidades. Houve
eliminação da Secretaria de Missão da IECLB, com a consequência de que a missão
deveria ocorrer em âmbito local. Em compensação, o principal marco recente, em
termos de missão e edificação de comunidades foi, indubitavelmente, o PAMI -
Plano de Ação Missionária da Igreja. ... E o PAMI I "pela primeira vez
exigiu explicitamente a superação de barreiras étnicas e a conquista de pessoas
de fora da igreja no entorno de cada comunidade". O problema que Zimmer
registra, no entanto, é que PAMI e a mencionada reestruturação da IECLB tiveram
efeitos contrários:
As reformas estruturais e o plano missionário PAMI tiveram,
[...] efeitos contrários. Enquanto que as reformas estruturais reforçaram
inicialmente tendências conservadoras na igreja, o PAMI exigiu das comunidades
inovações e transposições de fronteiras. A mudança conservadora, porém,
provocou resistência contra essa tendência inovadora nas comunidades. [...]
PAMI [era] um programa ... bem simpático, [mas] ele não era aplicado pelas
comunidades.
O PAMI exigia
abertura, mas a Reestruturação já havia feito o fechamento da Igreja em si
mesma para legitimar o capital a partir de sua dinâmica neoliberal, o que
automaticamente se reverteu no fechamento dos pastores/as em si mesmos para se
preservar. Como os pastores/as vão se inserir no Projeto do PAMI se lhe
tolheram a iniciativa e o poder de pregar puramente o Evangelho e se extinguiu
um instrumento ágil e dinâmico, que foi sendo construído por décadas, que foi o
Distrito Eclesiástico, que tinha poder e iniciativa na procura de um Projeto
Popular de Igreja?
Marc Lienhard em Martim Lutero cita
“Lá onde Cristo vem com seus discípulos, começa o tumulto”
(WA 17, II, 107, 21-2); “Lá onde o reino de Cristo é anunciado pelo evangelho,
a cruz e a perseguição se seguem certamente e de imediato” (WA 20, 564, 32-3).
... O crente deixa-se colocar sob a cruz. Sabe que quem confessa Cristo deve
prever a hostilidade de Satã, as injúrias e as perseguições. Entre as calúnias
que irá enfrentar, há em particular a acusação de que a vida cristã é
sediciosa, “embora ela sofra a sedição antes de incitar outros a ela” (WA 17,
II, 183, 7-8). O cristão “deve ser semelhante a alguém agonizante que, no
mundo, sempre prevê a morte, por causa do ódio, da inveja e de toda espécie de
perseguições” (WA 17, II, 185, 32-4). Quem não é um “crucianus” (crucificado)
não é um “christianus” (cristão) (WA 43, 617, 33-4).[15]
Loewenich
(1987, p. 17)[16]
esclarece o sentido do entendimento da teologia da cruz em Lutero.
Para o teólogo da cruz há conhecimento apenas "através
dos sofrimentos e da cruz". "Deus somente pode ser encontrado no
sofrimento e na cruz." (1,362,28s.) Podemos observar aqui a mesma
ambiguidade como acima no termo "obras". "Cruz" e
"sofrimentos" representam em primeiro plano o sofrimento e a cruz de
Cristo. Ao mesmo tempo, porém, Lutero pensa na cruz do cristão. A cruz de
Cristo e a cruz do cristão são por ele vistas em conjunto. A cruz de Cristo
para ele não é fato histórico isolado, para com o qual a vida do cristão
tivesse apenas relação de causalidade (cf. 1,219.30), mas na cruz de Cristo
tornou-se evidente a situação reinante entre Deus e a pessoa humana. ... à cruz
de Cristo corresponde a cruz do cristão. Reconhecer a Deus "através dos
sofrimentos e da cruz", isto é, conhecimento de Deus surge na cruz, cujo
sentido somente fica manifesto àquele que se encontra em cruz e sofrimento ele
próprio. É neste um ponto. O teólogo da glória vê Deus "presente em toda
parte" (1,614,9). O teólogo da cruz sabe: "no Cristo crucificado
estão a verdadeira teologia e o verdadeiro conhecimento e Deus"
(1,362,18s). Buscar a Deus em outra parte seria "pensamento volátil"
("volatilis cogitatus", ib., linha 16).
Albrecht Baeske[17]
em alocução durante a ordenação ao ministério pastoral junto à IECLB (Maracaju,
MS, em 03/05/2008) fala da ação do diabo dizendo que
O campus de “satanás” é a Igreja; infiltra-se, mascara-se,
desempenha seu papel na comunidade. Não na periferia desta, ao contrário, bem
em seu centro, onde se o confessa em alto e bom som. No decorrer da história da
Igreja poucos discípulos de Jesus Cristo o compreenderam nesta parte tal qual
Martim Lutero. Por isso insiro frases deste: “Satanás não vem ao boteco da
esquina”. Ele “aparece na Igreja, chegando a sentar-se no templo, em cima do
altar, querendo se passar por Deus”. Corre “para a Igreja, não para o mundo”, o
qual, de momento, lhe pertence. “Os que satanás já possui – estes ele não
tenta.” É assanhado por aquilo que não é seu: o próprio Jesus Cristo e seus
discípulos mais familiarizados. “Sempre se mete no meio deles”; “satanás” está
– ressalta Lutero – “permanentemente onde Jesus Cristo está, coladinho nele;
onde este constrói uma igreja, aquele constrói uma capela encostadinha;
esperando por dar seu bote”. ... “Satanás” é todo aquele e tudo aquilo que quer
Jesus Cristo sem a cruz; um movimento “satânico” está se formando onde e quando
se quer a Igreja e suas congregações sem uma imagem dele na cruz. “Satanás” é
arqui-inimigo da cruz de Jesus Cristo e pessoas “satânicas” são “as inimigas da
cruz de Cristo” (cf. Fp 3.18). Elas começam a enveredar nesta direção se
colocam cruzes sem o Crucificado no altar ou retiram dos templos qualquer tipo
de cruz. Algo já em franco andamento na IECLB. ... “Satanás” é arqui-inimigo da
cruz de Jesus Cristo e “os inimigos da cruz de Cristo” limpam (como afirmam)
seus templos das cruzes.
Entre os pastores/as da IECLB temos muitos
arqui-inimigos de Cristo, pois são muitos os que retiram o crucifixo das
igrejas. Por falta de clareza teológica ou opção de classe servem ao diabo.
9 - E a esperança, cadê?
A insurgência evangélica do Reino de Deus
ainda está em andamento também na IECLB, mesmo que escondida em muitas Paróquias
e Sínodos. O diabo, através do capitalismo, não vencerá esta batalha. Continua
havendo membros e pastores/as inseridos nos Movimentos Populares, no Movimento
Sindical de resistência, no Movimento Específico (na luta das mulheres, dos negros,
dos povos originários e da comunidade LGBTQIA+), nas ONGs de Esquerda, como o
CAPA, ACESA, e as pastorais como Comin, CPT, etc. e Partidos Políticos de
Esquerda (comunistas).
Por onde começar?
Começa-se sempre pelo tripé do Movimento de
Massas: Trabalho de Base, Formação político-teológica e Lutas de Classes.
9.1 - Trabalho de Base
Trabalho de Base a partir da luta de
classes na qual a paróquia está inserida nos municípios e dentro da própria
paróquia. Identificar as forças em luta dentro da paróquia e municípios que a
abrangem. Ver quem é a favor do capital e quem é a favor do Evangelho e
descobrir as contradições, avanços e recuos na construção de um Projeto Popular
de Igreja.
Maurice Briton[18]
escreve
Uma sociedade
socialista não pode pois ser construída a não ser partindo da base - "a
partir de baixo". As decisões relativas à produção e ao trabalho devem ser
tomadas por Conselhos de trabalhadores compostos por delegados eleitos e
revogáveis. As decisões noutros setores devem ser tomadas partindo das
discussões e da consulta o mais ampla possível do conjunto da população. Aquilo
que entendemos por "poder dos trabalhadores" é precisamente essa
democratização da sociedade no seu próprio fundamento. ... Para os
revolucionários, as únicas ações providas de sentido são as que permitem
aumentar a confiança, a iniciativa, a participação, a solidariedade, as
tendências igualitárias e a autonomia das massas e que contribuem para
desmistificá-las.
É isso que a Bíblia nos
ensina sobre o exercício do Poder Popular em Assembleia Popular em Nm 27.1-11; Êx
18; Js 8.33-35; Js 24; At 6.1-7; At 15.
Aprendi do professor Jorge
Moreno (juiz aposentado do Maranhão) num curso de extensão da UFFS o seguinte
sobre trabalho de base:
Sun Tzu em “A Arte da Guerra”
diz que há 5 opções para ganhar uma guerra:
1. Disciplina;
2. Conhecer o Tempo (clima);
3. Conhecer o Espaço (a
geografia e a realidade do país);
4. Doutrina (convicções,
teoria revolucionária);
5. Comando (direção)
Para o Trabalho de Base
precisa: (O que nos move é a esperança: 1 Pe 3.15 “antes, santificai a Cristo,
como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados para responder a todo
aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós,”)
Só existe Movimento de Massas
se há Trabalho de Base, Formação e Lutas. O Trabalho de Base se constrói em
cima e a partir da Formação (estudo) e das Lutas e vice versa. Esse é o tripé
que vai derrotar o tripé do Capitalismo: Propriedade Privada dos meios de
produção, Trabalho Assalariado e Livre Iniciativa.
16 dicas para o Trabalho de Base:
1.
Dizer para que veio.
Jesus Cristo disse logo no início de sua pregação conforme Mc
1.15 e Lc 4.43 para que veio: anunciar a construção do Reino de Deus.
Dividir logo –
não fazer acordos e conciliar, para saber logo quem é amigo e quem é inimigo de
classe. Em inimigo de classe a gente não confia.
Mt 10.34 “Não
penseis que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada”.
Mt 12.30 “Quem
não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha”.
2. Procurar quem
ninguém quer.
1 Co 1.28 “Deus
escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são,
para reduzir a nada as que são”;
Procurar quem
não está nos Movimentos da Esquerda e nos Sindicatos, quem não está organizado.
3. “Fazer Milagre”
– Realizar uma ação concreta. Para juntar a multidão tem que fazer algo: tirar
prefeito, delegado, etc.
Revolução se
constrói com enfrentamento não com conversa. Ações bem definidas conseguem
convencer e se começa com o inimigo mais fraco. Os USA nunca atacam um país
forte, sempre um fraco para se fazer respeitar no mundo. Fazer o que é possível
e não o que a gente quer – Fazer o que a gente não quer por primeiro, mas que o
povo quer. Ex.: Padre no Nordeste insiste com o povo para cavar um poço para
ter água. O povo queria arrumar e ajeitar primeiro o cemitério. Quando o padre
topou arrumar o cemitério o povo logo depois foi cavar o poço.
4. Antes de chegar à
Jerusalém tem que percorrer todos os povoados.
Tem que conhecer a realidade do país e do povo como Jesus
fez.
5. Sem grupo ninguém
tem medo de ti.
Sozinho e isolado não se faz nada. Organizar os Conselhos
Populares de Camponeses, Operários, Indígenas e Quilombolas com formação
teórica e lutas.
6. Todos têm talentos
– cabe à liderança conhecer e descobrir.
7. Fugir quando querem
endeusar a gente.
Mc 1.45 “Mas,
tendo ele saído, entrou a propalar muitas coisas e a divulgar a notícia, a
ponto de não mais poder Jesus entrar publicamente em qualquer cidade, mas
permanecia fora, em lugares ermos; e de toda parte vinham ter com ele.”
8. Grupo forma o líder.
Maior função de um líder é formar um grupo; ir de casa em
casa. Lc 10.1 “Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de
dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava
para ir”.
A reunião faz a
base – corpo a corpo com insistência e não desistir de conversar e insistir.
Compreender as manias do povo, de sua resistência e de seu medo de não se
envolver logo.
9. Não se faz luta com
quem tem tempo, mas com quem precisa.
Mt 8.21-22 “E
outro dos discípulos lhe disse: Senhor, permite-me ir primeiro sepultar meu
pai. Replicou-lhe, porém, Jesus: Segue-me, e deixa aos mortos o sepultar os
seus próprios mortos.” (Talmud diz que quem não vai ao enterro do pai perde a
herança. Herança - propriedade privada dos meios de produção - é prioridade e
mais importante que seguir Jesus Cristo, no caso do discípulo citado).
10. Ninguém está no
grupo por obrigação, mas por escolha.
Mt 19.27
“Então, lhe falou Pedro: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos; que será,
pois, de nós?”
A gente
escolheu trabalhar com o povo, de fazer militância porque temos esperança,
sonho – fizemos uma escolha – ter convicção – escolha de vida.
11. Perseguição faz
parte do processo – cruz é resultado da luta. Mt 16.24 “Então, disse Jesus
a seus discípulos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua
cruz e siga-me”.
12. Quem financia a
luta é o povo.
Mc 6.38-39 “E
ele lhes disse: Quantos pães tendes? Ide ver! E, sabendo-o eles, responderam:
Cinco pães e dois peixes. Então, Jesus lhes ordenou que todos se assentassem,
em grupos, sobre a relva verde.”
Organizar o
financiamento via grupos que descobrem que tem a comida necessária, pois a
produzem. O povo que não financia sua luta não vai entender a sua libertação.
13. Militante cumpre tarefa,
nunca volta sem resultado.
Foi, não teve
reunião – volta e faz visita de casa em casa e conversa com o povo. Não adianta
dizer que o povo não quer nada com nada. A culpa não é do povo se não se
organiza, mas das lideranças incompetentes que não tem persistência e esperança
(Lc 10.1-12).
14. Todo resultado
deve ser divulgado.
Mc 1.40-45:
“Aproximou-se dele um leproso rogando-lhe, de joelhos Se quiseres, podes
purificar-me. Jesus, profundamente compadecido, estendeu a mão, tocou-o e
disse-lhe: Quero, fica limpo! No mesmo instante, lhe desapareceu a lepra, e
ficou limpo. (43) Fazendo-lhe, então, veemente advertência, logo o despediu e
lhe disse: Olha, não digas nada a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e
oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para servir de testemunho
ao povo. Mas, tendo ele saído, entrou a propalar muitas coisas e a divulgar a
notícia, a ponto de não mais poder Jesus entrar publicamente em qualquer
cidade, mas permanecia fora, em lugares ermos; e de toda parte vinham ter com
ele.” O velho truque do: “Não conte para ninguém” e toda vila fica sabendo.
15. Só a multidão é
capaz de enfrentar o poder.
Revolução não se faz com vanguardas, mas com a massa. O
momento é de convencer a multidão, porque estamos numa democracia, mesmo que
burguesa. Numa ditadura é mais difícil. “O marxismo ensina que o motor da
história são as massas, cujo movimento é inelutável. Tudo depende de que o
trabalho de base tenha importância fundamental, pois é este o trabalho que
impele as massas e dá solidez à ação” (MARIGHELLA, 2011, p. 85)[19].
16. Todo trabalho deve
levar os oprimidos caminhar com seus próprios pés.
Nada de criar dependência, achar que a gente é insubstituível
- é ter sede de poder, querer ser chefe. Quanto mais pés, mais coices. Antes de
Jerusalém tem que percorrer a Palestina para conhecer e convencer para a luta.
Ao disputar o poder tem que derrubar cercas: caçar prefeito, etc.
Por isso a Mensagem às Comunidades do Concílio Geral da
IECLB, Terra de Deus - Terra para todos (Hamburgo Velho/RS. 20 a 24 de outubro
de 1982) está no caminho certo, porque diz: “(...) assumir e defender com
responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo
um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens,
colonos sem-terra, boias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de
inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e
real entre as pessoas”. Aqui a Igreja
entende que a participação coletiva no processo da construção no Reino de Deus
vai muito além do seu próprio umbigo.
O pastor
Albrecht Baeske no Semente de Esperança (2016, p. 216)[20]
lembra: “Aí Martim Lutero nos consola: a igreja parece morta, sim, ela está no
caixão – para a ressurreição. E João Calvino acrescenta: a História da Igreja é
uma sequência de ressurreições. Que Deus nos conceda tal experiência!”
9.2 – Formação massiva e de lideranças
Formação nas paróquias a partir de uma
análise de conjuntura da realidade na qual a paróquia está inserida. Cada
Paróquia precisa construir uma Escola Popular de Teologia coordenada pelos
pastores/as locais para atender as necessidades das comunidades, com formação
massiva: Dias de Comunidade (manhã e tarde); Noites de Comunidade, Tardes de
Comunidades, Dias de Igreja paroquiais, Palestras, cursos bíblicos e sobre a
realidade brasileira (nos fins de semana ou à noite durante 3 horas) dentro de
um Planejamento Missionário de 10 a 15 anos; cursos específicos; inserção dos
pastores/as e dos membros nas lutas populares dos sindicatos, movimentos
populares, ONGs de esquerda e Partidos Políticos de Esquerda (comunistas).
Jesus Cristo não é neutro e a IECLB também
não. A pretensa neutralidade da Igreja na verdade é um engajamento ativo do
lado da direita (fascista). A direita gritará em alto e bom tom que a opção da
Igreja pelas classes subalternas exploradas e expropriadas ela não pode fazer
como Javé fez, só pode fazer a opção pela direita como sempre foi. É claro que
a opção da Igreja pela direita a direita nunca vai reconhecer como uma opção,
mas a prática da Igreja mostra essa opção de forma muito clara. O silêncio da
Igreja diante da exploração e expropriação de classe é ensurdecedor. Ouve-se
esse silêncio retumbante há quilômetros de distância. É um silêncio enrolado na
bandeira verde-amarela.
Conteúdo Programático de um Curso de Formação para lideranças em 23 dias espalhados em dois anos, animando sempre para participar das lutas populares e sindicais; teoria sem prática não faz avançar (Prática-Teoria-Prática= Práxis):
1 - Modos de Produção - Tribal, Tributário, Escravista, Feudal – 2 dias
2 - Capitalismo (estrutura, desenvolvimento histórico, dinâmicas) – 2 dias
3 - Chave de Leitura da Realidade - Marxismo (materialismo histórico, materialismo dialético, teoria da luta de classes, teoria do valor trabalho, fetichismo e comunismo) – 2 dias
4 - Análise da Conjuntura e da Realidade Brasileira – 2 dias
5 - Chave de Leitura Bíblica (Êxodo-Cruz/Ressurreição) a partir das lutas da sociedade de classes para entender o Projeto Político Global de Deus para a Humanidade – 1 dia
6 - O Projeto de Deus no AT (Formação do Povo de Israel, Projeto da Terra Prometida, Monarquia e Profetismo, Exílio e Pós-Exílio) – 2 dias
7 - O Projeto de Deus no NT (O mundo do NT, Jesus Cristo, Evangelhos, Reino de Deus, Primeiras Comunidades, Cartas, Apocalipse) – 2 dias
8 - História da Igreja (Conjuntura da Palestina e de Roma de 33 d. C. a 135 d. C.; Martírio e perseguições; O Crescimento da Igreja – missão antes e depois de 313 d. C. até hoje; O Cânon do AT e NT; Patrística; A Igreja cooptada; Os movimentos de resistência à “igreja cooptada” (ex. monges, donatistas, os movimentos ‘heréticos’); história da Reforma Luterana – 2 dias
9 - História da IECLB (Sínodos, Federação Sinodal, IECLB e Reestruturação; a IECLB na luta de classes no Brasil – posturas e omissões) – 1 dia
10 - Reino de Deus como prática e anúncio central de Jesus Cristo contra o reino classista do mundo – 1 dia
11 - As lutas do povo brasileiro (indígenas, escravos, camponeses, operários, mulheres, comunidade LGBTQIA+ e outras minorias) - opressão e resistência – 1 dia
12 - A História do Movimento Sindical Urbano no Brasil – 1 dia
13 - A História do Movimento Sindical Camponês no Brasil, Movimentos Camponeses Messiânicos e Movimentos Camponeses de hoje - Via Campesina e outros – 1 dia
14 - Formação sócio-econômica do Oeste Catarinense no qual estamos inseridos na atual conjuntura e estrutura das Igrejas – 1 dia (cada Sínodo faz o estudo de sua região)
15 - Teologia Luterana – 1 dia
16 - Teologia da Libertação – 1 dia
17 - ... etc.
A participação de um curso apenas não é o
suficiente, é necessário que os participantes deste tenham a oportunidade de
participar de outros nos próximos anos, tanto na igreja como no movimento
sindical e popular e partidos de esquerda (comunistas). O aprendizado deve ser
permanente junto com o engajamento nas lutas populares. A formação deve ser
mais ampla. A Escola Popular de Teologia deve planejar a formação para vários
anos.
Teremos que rediscutir o tempo gasto com os
grupos de convivência que se reúnem só para comer e fazer festa que tomam todo
o tempo dos pastores/as. Não somos um clube de entretenimento.
Precisamos de formação permanente para
os/as pastores/as (cursos, indicação de literatura e organizar um dia por
semana para o estudo e reflexão – mero ativismo é suicídio – trabalhar 10 a 14
horas por dia só traz doenças e desgaste físico) e organizá-los junto com
membros para ter capacidade de enfrentar a luta de classes na Igreja e na
sociedade.
A Direção da Igreja tem que garantir que
cada obreiro/a possa dedicar um dia por semana ao estudo, leitura, reflexão e
oração. Isso faz parte do trabalho, se capacitar teologicamente. Diz-se que
Lutero dedicava 4 horas por dia para isso.
9.3 – As Lutas de Classe
A IECLB sempre participou ativamente das
Lutas de Classe que ocorreram no país de duas formas:
a) silenciando e apoiando o processo de exploração,
opressão e expropriação da classe trabalhadora, da classe camponesa e dos povos
originários fingindo neutralidade para agradar a direita fascista. O silêncio é
uma postura clara, nada neutra.
b) manifestando-se com Cartas Pastorais da
Presidência, com propostas dos Concílios para inserção na luta de classes, engajamento
pelos DEs nas lutas populares, com projetos nas paróquias que apóiam as lutas
populares via FLD e outras fontes.
Primeiro precisamos aprender a fazer
análise de conjuntura e estrutura da Igreja e da sociedade para entender a luta
de classes na qual estamos inseridos, para isso precisamos estudar o marxismo
que nos dá os elementos para tal.
9.3.1 - Qual o nó górdio?
Ser fiel ao Evangelho ao viabilizar 1 Co 14
ou ficar quieto e salvar a estrutura da Igreja comprometida com o capital?
Os pastores/as foram formados e
ordenados/as para garantir a reprodução da estrutura da Igreja. O Evangelho de
Jesus Cristo aponta para a cruz no processo revolucionário insurgente
evangélico coletivo de construção por/em/com Jesus Cristo do Reino de Deus.
A opção da Igreja se vê nos altares das
igrejas sem crucifixo, às vezes até sem cruz vazia. Normalmente Jesus Cristo
não pode entrar nas igrejas da IECLB, pois estas não deixam entrar os sem
terra, os povos indígenas, os movimentos populares e sindicais e a comunidade
LGBTQIA+ para na hora do Kyrie falar de suas dores e criar condições para
organizá-los em suas lutas por justiça e paz (Rm 14.17). Mt 25 diz que Jesus
Cristo está nos com fome, sede, sem direitos, etc. e se estes não podem se
expressar no culto ou nem entrar nele de forma organizada então Jesus Cristo
não está presente neste culto. Adora-se então ali o deus capital com máscara de
Jesus Cristo.
A IECLB não consegue dar a linha teológica
nas paróquias porque é comandada pela pequena burguesia conservadora que
administra as paróquias e as comunidades, com suas devidas e honrosas exceções,
que dá a linha teológica, ameaçando os pastores/as com o desemprego, com a
calúnia, mentira e guerra psicológica quando não se sujeitam à teologia do deus
capital com máscara de Jesus Cristo. A IECLB nunca conseguiu dizer isso para
essa pequena burguesia e enfrentar ela com medo da ruptura e da divisão e do
esvaziamento da Igreja. Até hoje não se provou que isso esvaziará a Igreja ou
haverá uma ruptura. A tática da direita é fazer uma gritaria quando sente o
capital ser ameaçado pela pregação e prática da Igreja e com isso a Igreja
recua para se auto-preservar e por isso a ordem é dar leite ao povo, mesmo ao
povo que já pode comer churrasco de costela de boi velho.
9.3.2 - Devemos começar em todas as
frentes.
Uma delas é acabar com a estrutura, que a
Reestruturação criou, para empoderar novamente os pastores/as, diáconos/as,
catequistas e missionários/as e valorizar sua ordenação. Quem dá a linha
teológica na paróquia são os/as obreiros/as, não a pequena burguesia
conservadora, diz o regimento Interno da IECLB. A Igreja tem que garantir isso.
A nossa luta é garantir que a
IECLB seja Evangelho e não Religião, pois a Religião sempre tem o papel de
legitimar o status quo e o Evangelho tem a função de se insurgir contra o
status quo. O símbolo do Evangelho é o crucifixo, o Cristo crucificado e ressurreto,
a teologia da Cruz de Cristo (cruz é símbolo da resistência frente o sistema
deste mundo, hoje o capitalismo); o símbolo da Religião é a prosperidade, o
capital, a teologia da glória.
“O teólogo da glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que
é bom; o teólogo da cruz diz as coisas como elas são. Isto é evidente, pois
enquanto ignora Cristo, ele ignora o Deus oculto nos sofrimentos. Por isso,
prefere as obras aos sofrimentos, a glória à cruz, o poder à debilidade, a
sabedoria à tolice e, de um modo geral, o bem ao mal. Esses são os que o
apóstolo chama de inimigos da cruz de Cristo, certamente porque odeiam a cruz e
os sofrimentos, ao passo que amam as obras e a sua glória. Assim, eles chamam o
bem da cruz de um mal, e o mal da obra de um bem. Já dissemos, no entanto, que
Deus não é encontrado senão nos sofrimentos e na cruz". (Martim Lutero
Tese 21 da Demonstração das Teses Debatidas no Capítulo de Heidelberg in Obras
Selecionadas. Vol 1. Editora Sinodal e Concórdia. São Leopoldo. 1987, p. 50)
Em termos práticos,
a seguir proponho alguns elementos para um Projeto Político no processo de
construção de um Projeto Nacional de Igreja e furar o esquema das 18 igrejinhas
isoladas e subdivididas em Núcleos e UPs.
Igreja
missionária é Igreja que tem esperança e não tem medo!
Igreja medrosa
e acomodada nunca será missionária!
Ninguém solta a
mão de ninguém!
1. Revogação da
Reestruturação e elaboração de nova Constituição e com novo Regimento Interno
para a IECLB;
2. Revogação no
EMO - Estatuto do Ministério com Ordenação - do TAM e da Avaliação. (EMO Art.
28 eliminar a expressão "para um período de três a seis anos" e
eliminar do Art. 33 o item I);
3. Revogação no
Regimento Interno do:
-
Não direito ao voto do
Pastor Presidente e vices e Secretário Geral no Conselho da Igreja e Pastor
Sinodal no Conselho Sinodal (Revogação dos § 5° e § 6° do Art. 66 e do § 1° do
Art. 44);
-
Não direito ao voto do
Coordenador Ministerial e do representante da Paróquia no Conselho Sinodal na
diretoria da paróquia (Revogação do Parágrafo único do Art 26.);
-
A não necessidade da
participação dos outros pastores/as e demais obreiros na reunião da diretoria
da paróquia (Revogação do Parágrafo único do Art 26.).
-
Revogar e denominação
“Ministro” no lugar de pastor/a, catequista, diácono/a e missionário/a
4. Valorização
e dignificação da Ordenação;
5. Igualdade de
direitos e deveres de membros e obreiros/as;
6. Garantia
institucional do pastor/a poder dar a linha teológica na paróquia, que é seu
papel segundo o Regimento Interno da IECLB no Art. 7º;
7. Garantia
institucional aos pastores/as e demais obreiros/as da livre e pura pregação do
Evangelho na Igreja e na sociedade e verificação da correta administração dos
Sacramentos;
8. Projeto de
formação teológica continuada de obreiros/as coordenada pela EST à distância e
presencial.
9. Projeto de
formação teológica de membros para capacitá-los para o sacerdócio geral de
todos os crentes e para serem presbíteros e lutadores do povo no processo de
eliminar o capitalismo. Sem formação teológica mínima de cursos estipulados
pela Igreja não pode ser presbítero;
10. Escola de
Formação Teológica para leigos nos Sínodos[21]
com currículo mínimo elaborado pela EST juntamente com o Sínodo;
11. Maior
participação de obreiros/as (mínimo de 1 obreiro/a por Sínodo, além do pastor
sinodal) e pessoas leigas da base comunitária no Concílio da Igreja na
proporção de 75% da base por 25% da estrutura;
12. Construir
um Projeto Nacional de Igreja para a IECLB, baseado no sacerdócio geral real de
todos os crentes, a partir da realidade social e cultural do país no lugar do
Modelo de Igreja de Atendimento que está falido.
Nós sabemos
como fazer isso: fazer moções nas Assembleias Sinodais e enviá-las ao Concílio
da Igreja. Para isso precisa-se organizar nos sínodos pastores/as e membros da
esquerda para garantir isso nas Assembleias Sinodais e depois no Concílio da
Igreja. Antes disso a pastorada encagaçada tem que sair da toca e se organizar
nos sínodos com encontros regulares para fazer análise de conjuntura da realidade
brasileira e da realidade da IECLB e estudar teologia e marxismo para termos um
método de leitura da realidade.
A nós cabe a
tarefa de fortalecer o Trabalho de Base com Formação (política e teológica),
unida à Luta de Classes, na sociedade e na Igreja, para criar o Movimento de
Massas que ajudará o processo revolucionário do Reino de Deus conduzido
por/em/com Jesus Cristo, no já agora, para emancipar a Humanidade e cancelar o
Colapso Planetário em andamento criado pelo capitalismo predador da vida, um
dos instrumentos que o diabo usa para tentar eliminar a vida criada por Deus e
tentar impedir a viabilização do Reino de Deus, no já agora.
Uma tarefa
imediata, que a história na IECLB nos ensina (Grupo de Curitiba, Grupo dos 80),
é organizar um Grupo de pastores/as e pessoas leigas engajadas para se
encontrar anualmente para fazer análise de conjuntura do país e da IECLB e a
partir dali reorganizar a IECLB para que nela esteja garantida a livre e pura
pregação da Palavra de Deus como Lei e Evangelho e reta administração dos
Sacramentos. Isso hoje não está garantido. A IECLB não garante a sua própria
essência e motivo de sua própria existência. Essa é a contradição.
Como diria o pastor Germano Burger: Quem
assume essa tarefa?
Palmitos, 7 de setembro
de 2023.
Pastor Günter Adolf
Wolff
[1] MARX, Karl. Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política” in MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Textos, vol. III. São Paulo. Edições Sociais. 1977, p. 301-302
[2] ENGELS, Friedrich. Prefácio à edição alemã de 1883 do Manifesto do Partido Comunista in Manifesto do Partido Comunista. Petrópolis. Vozes, 1988, p. 45-46
[3]GOZALO-SALELLAS, Ignasi, BASTIDA, Álvaro Guzmán e MUNIENTE, Héctor. “Todos devemos participar de um processo revolucionário que nos distancie da loucura do capitalismo”. Entrevista com David Harvey in http://www.ihu.unisinos.br de 24/11/2017.
[4] ENGELS, Friedrich. Karl Marx. In Karl Marx e Friedrich Engels. Textos. Vol. 2. São Paulo. Edições Sociais. 1976, p. 207-209
[5] MONTICELI, Lara. Nancy Fraser: O que é capitalismo? in https://blogdaboitempo.com.br de 24/09/2021
[6] BRITON, Maurice. Os Bolcheviques e o controle operário. Porto. Edições Afrontamento, 1975
[7] LUXEMBURGO, Rosa. O que quer a Liga Spartakus? In A Revolução Russa. Petrópolis. Vozes. 1991, p. 104.
[8]ABREO, Ana Carolina Santini de e RESENDE, Luci Mara. Reestruturação produtiva: algumas reflexões sobre seus rebatimentos no serviço social in http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v4n1_reestrut.htm.
[9]FUCHS, Werner. Anexo 34. Painel no XIII Concílio Geral da IECLB - Terra de Deus - Terra para todos. Subtema: Sinais Concretos de ação. Hamburgo Velho/RS. 20 a 24 de outubro de 1982.
[10]IECLB. Relatório 2014 – 2016. XXX Concílio da Igreja. Brusque. 19 a 23 de outubro de 2016, p. 79.
[11] KUNZ, Ralph. Das Boot ist voll. Zur Resonaz einer politischen Predigt, die sich gegen die Politik richtet in Göttinger Predigt-Meditationen. 72. Jahrgang. Heft 2. Göttingen. Vandenhoeck & Ruprecht. 2018.
[12]KLIEWER. Gerd Uwe. Reestruturação da IECLB - por quê? In Anuário Evangélico 2017. Blumenau. Editora Otto Kuhr. 2016.
[13] HASENACK, Johannes Friedrich; BOCK, Carlos Gilberto, Org. Avaliação da Reestruturação da IECLB. Fóruns IECLB. Vol. II. Blumenau. Gráfica e Editora Otto Kuhr Ltda. 2006, p. 9, 11, 14-15, 18.
[14] SCHWAMBACH, Claus e SPEHR, Christopher. Reforma e Igreja. Estudos sobre a eclesiologia da reforma na história e na atualidade. São Bento do Sul. FLT e União Cristã. 2015.
[15]LIENHARD, Marc. Martim Lutero. Tempo, vida e mensagem. São Leopoldo. Sinodal, IEPG. 1998, p. 293.
[16]LOEWENICH. Walther von. A teologia da cruz de Lutero. São Leopoldo. Sinodal. 1987.
[17]BAESKE, Albrecht. Alocução durante a ordenação ao ministério pastoral junto à IECLB em Maracaju, MS, em 03/05/2008.
[18] BRITON, Maurice. Os Bolcheviques e o controle operário. Porto. Edições Afrontamento, 1975
[19]MARIGHELLA, Carlos – Porque resisti à prisão in Resoluções Políticas: IV Assembleia Nacional "Carlos Marighella". São Paulo. Consulta Popular. 2011.
[20]BAESKE, Albérico. Igreja da palavra in Semente de Esperança. São Leopoldo. Editora Sinodal.
[21]Ainda uso o termo Sínodo porque não sabemos que instâncias administrativas a nova Estrutura terá. Revogar a terminologia ministro/a que está embasada na subserviência à legislação estatal previdenciária.
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