7 de setembro de 2011

O Projeto da Direita na Igreja.

Algumas idéias em gestação para tentar entender melhor a dinâmica da igreja. Qual é o Projeto da Direita na Igreja? Existe um Projeto da Direita na Igreja? Como ele é? Afinal, ainda existem direita e esquerda na igreja e na sociedade, perguntam alguns? Direita e esquerda continuam existindo, porém de forma camuflada. A Direita não diz que é Direita e a Esquerda (em boa parte deixou de ser esquerda, mas não admite ser de direita) não tem coragem de agir como Esquerda. Nos anos 80 se dizia: Quem é contra a Reforma Agrária é pelego! Quem é a favor das Barragens é pelego! Hoje muitos destes que disseram isto no passado não o dizem mais. Então, viraram pelegos? Creio que existe um Projeto da Direita na Igreja, mas este Projeto não está formalmente formulado, planejado e como tal organizado. Também não existe uma organização formal da direita na igreja, assim como a direita, como tal, também não está formalmente organizada no Brasil com tal. A direita existe e está bem viva, mas não tem uma coordenação única e uma plataforma única, nem no nível de sociedade civil como também não no da igreja. Mas, na hora de reprimir a Classe Trabalhadora ela está muito unida, pois disto depende o seu lucro. A Direita está atomizada e espalhada em muitas e várias organizações pelo país afora. Ela está presente nos sindicatos, nas cooperativas, nos partidos políticos, nas organizações agrícolas e agrárias, nos Lions e Rotarys, CDLs, ACIs da vida, nas esferas do Estado e também na igreja. No entanto, a direita nunca se apresenta como sendo de direita. Se você chama alguém de direita ele se ofende e é capaz de te processar por calúnia. No Brasil muito poucos se reconhecem como sendo de direita. Quem é de direita? É de direita quem defende o capitalismo como sendo a única forma de organizar a vida e a sociedade dizendo que não há outra forma de organizar a vida além do capitalismo. Existe ainda a direita mais soft que se encaixa na social democracia. O que é a social democracia? É a turma que defende o Estado do Bem Estar Social que é garantir alguns benefícios à classe trabalhadora dentro do sistema capitalista. O que estes defendem também é o capitalismo, só com outro penteado, com outro disfarce. É mais ou menos assim: já que não dá para derrotar o capitalismo vamos nos aliar a ele e tentar arrancar algumas vantagens. Isto até é bom para a própria dinâmica do capitalismo, pois ajuda a confundir as coisas na cabeça da classe trabalhadora. Acabam fazendo o jogo da ideologia da classe dominante, se deixaram subjugar pelo sistema e entraram em sua dinâmica. Em vez de Reforma e Revolução, ficam apenas com a Reforma. As reformas são para fortalecer a revolução e não para aboli-la. Reformas são as conquistas alcançadas pela classe trabalhadora na luta para acabar com o capitalismo. Esquecem que o capitalismo não dá para reformar. E a igreja com isto e qual o papel da igreja nisso tudo? A dinâmica da igreja funciona desde a Comunidade até o Conselho da Igreja com a participação por representação. A comunidade escolhe a sua diretoria, ou como o quer a denominação eclesial: o presbitério. Mesmo nas comunidades mais empobrecidas e mais afastadas na grande curva do Rio Uruguai é assim que entre os pobres os menos pobres acabam sendo escolhidos como integrantes do presbitério. Estes são agora parte integrante do Conselho Paroquial que escolhe a sua diretoria. Este Conselho Paroquial e sua Diretoria escolhem o pastor ou a pastora da paróquia e decidem os rumos do trabalho eclesial da paróquia. O Conselho Paroquial, por sua vez, escolhe um representante para o Conselho Sinodal, assim como a Assembléia da Comunidade escolhe um representante para a Assembléia Sinodal. Estas pessoas escolhidas normalmente não têm muita formação teológica (não por culpa delas, normalmente) e seguem a ideologia da classe economicamente dominante, que é o jeito de pensar do capital. Estas pessoas normalmente também acham que não existe outra forma de organizar a vida e a sociedade além do capitalismo, pois isto elas ouvem todo o dia e durante a sua vida inteira na TV, no sindicato, na igreja, na cooperativa, na empresa e assim por diante. Como a igreja é coordenada por estas pessoas ela também não vai falar que existe outra forma de organizar a vida e a sociedade além do capitalismo e se algum pastor ou pastora idiota inventar de dizer o contrário vai para a rua. Então isto é um imbróglio sem fim. As pessoas que são direção desde a comunidade até a instância máxima da igreja foram educadas como capitalistas e já tem isto dentro de seu DNA e não vão permitir que se confronte o sistema capitalista que é o instrumento que o diabo usa para combater o Reino de Deus. Aí vem a questão: Jesus disse em Lc 4.43 (Mc 1.15; Lc 8.1-5; Lc 16.16) que ele foi enviado para anunciar o Evangelho do Reino de Deus e não o capitalismo, portanto já há 2 mil anos tem uma outra proposta frente a proposta do mundo que hoje é o capitalismo. No tempo de Jesus a proposta do mundo era o sistema econômico escravista e hoje é o sistema econômico capitalista. Portanto nós cristãos batizados em nome do triúno Deus Pai, Filho e Espírito Santo dizemos em alto e bom tom que existe outra forma de organizar a vida e a sociedade além do capitalismo que Jesus Cristo chama de Reino de Deus, que é uma proposta não capitalista de organizar a vida e a sociedade. Além disto, Jesus deixa claro em João 16.33: “tende bom ânimo; eu venci o mundo”. Se Jesus já venceu o mundo e seu projeto na Páscoa, então, porque apostar num projeto já perdido e falido, que é o capitalismo? Isto a igreja não está deixando claro. Uma vez porque os próprios pastores e pastoras em sua maioria não sabem disto, pois não tem uma formação teológica clara e os membros, obviamente, também não porque são ensinados por estes pastores e pastoras que também não sabem disto. Jesus diz em João 18.36: “O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui”. Significa que o reino de Jesus não é o capitalismo, mas é o Reino de Deus. Esta palavra sempre foi usada para espiritualizar o Evangelho no sentido da alienação. Mesmo a teologia tradicional explica como o Reino de Deus? Diz que o Reino de Deus começa já aqui e agora e é completada no dia do Juízo Final. Começa neste mundo e se completa no dia da ressurreição do corpo (não da alma, pois não dá para separar os dois). Mesmo a teologia tradicional aponta que o Reino de Deus é uma proposta de organização da vida e da sociedade em oposição à proposta deste mundo, que hoje é o capitalismo. Foi “este mundo” que assassinou Jesus na cruz, isto se diz até no Credo Apostólico: “padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos” (representante do Império Romano que era a estrutura legal para legitimar o sistema econômico escravista, que, portanto, não poderia admitir outra proposta em oposição à vigente a do Reino de Deus). Assim uma coisa se entrelaça na outra. A igreja desde a base é composta por dirigentes capitalistas, que por causa da ideologia não tem clareza das coisas e por isso também a formação teológica dos pastores e pastoras e demais ministérios não pode ser contra a base da igreja. Mas a base da igreja não são os membros, mas Jesus Cristo. Jesus Cristo é o Senhor da igreja e não as diretorias das instâncias eclesiásticas, portanto o que deve valer é a essência do Evangelho do Reino de Deus e não a ideologia capitalista ou mesmo a teologia capitalista, pois o capital virou deus e por isso tem a sua própria teologia, muito bem misturada com conceitos errôneos sobre o Evangelho. A teologia do deus capital usa a Bíblia para ensinar a sua teologia. O diabo se apresenta como Deus e é reconhecido como tal. O deus capital usa a igreja como seu instrumento ideológico para poder perpetuar o capital eternamente, coisa que não vai acontecer porque o capitalismo é criação humana, portanto, passageiro, vai morrer, só Deus é eterno. Estas coisas básicas acabam sendo esquecidas na igreja. Lembro-me quando trabalhava na Paróquia de Xingu e atuava junto com o sindicato, associações de pequenos agricultores e o MPA, que estava surgindo, e por isso as lideranças da MEUC que também eram em sua maioria do PDS (hoje PP que veio da ARENA que era o partido que dava sustentação à Ditadura Militar que assassinou por tortura e fuzilamento 436 pessoas que lutavam pela democracia, torturou 30 mil pessoas e processou 50 mil pessoas) queriam me expulsar da paróquia porque eu seguia as orientações das decisões conciliares dos anos 80 que diziam para se fazer um trabalho de base com o movimento camponês. O missionário da MEUC até disse que eram decisões de muitos anos atrás e, portanto nada valiam; no entanto, o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo é bem mais antigo e continua valendo. Uma liderança da MEUC me disse que se a MEUC e os seus missionários não trabalham com o movimento popular então o pastor da IECLB também não o pode fazer. A direita tenta dar (e normalmente dá) a linha teológica na paróquia e passa por cima de tudo que não lhe interessa. É o capital determinando a prática eclesial em nome de Jesus Cristo contra o próprio Evangelho do Reino de Deus por Ele pregado e vivido. Fui perseguido e caluniado pela MEUC porque seguia as decisões conciliares em meu trabalho pastoral. Significa: o Concílio Geral da Igreja dá uma orientação que a direita não quer deixar implementar porque ameaça o capitalismo. As decisões conciliares dos anos 80 ainda não foram revogadas por outro concílio, portanto continuam válidas como orientações da igreja para o trabalho com o povo oprimido nas paróquias. Falo disto para mostrar como a direita se impõe na paróquia, se você como obreiro/a não tiver respaldo dentro da paróquia você está na rua. Portanto, esse papo da pregação pura e reta do Evangelho é um tanto quanto questionável. Na Paróquia de Xingu tive o respaldo da diretoria da paróquia e por isso a direita não conseguiu me mandar embora. Para não falar só de mim lembro-me de uma conversa com alguém do CAPA - Centro de Apoio ao Pequeno Agricultor - que disse que anos atrás o pastor da Paróquia de Erexim não tinha nem coragem de entrar no escritório do CAPA com medo de ser mandado embora da paróquia por causa disto. Por que o CAPA é tão subversivo? Porque ele tem uma prática agroecológica que é uma ameaça ao sistema capitalista construído no campo pelo agronegócio escravocrata que é dinamizado pelos venenos e sementes transgênicas. Imagine, em 2009 o Brasil vendeu e despejou na terra 1 bilhão de litros de venenos. Isto significa milhões de reais de lucro. O Planeta Terra e a saúde do povo? Eles que se danem! O lucro está acima da vida! O lucro deve ser defendido a todo custo! Se um pastorzinho panaca atravessar o caminho do lucro a gente manda ele embora. No tempo da ditadura militar o pastor era denunciado pelos membros da diretoria ao Dops como subversivo e comunista. Coisas do amor ao próximo! Afinal, o capital está acima do Evangelho de Jesus Cristo. Além disso, o Evangelho de Jesus Cristo tem que se dobrar diante das exigências do capital. Aqui tem que ser lembrado o texto de At 5.29: “Então, Pedro e os demais apóstolos afirmaram: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens”. Hoje os/as pastores/as não são mais denunciados/as ao Dops (que não mais existe desta forma, pois o serviço de informação mudou de cara, mas continua vigiando de perto o movimento popular e setores da igreja considerados perigosos), mas eles são simplesmente mandados embora com qualquer outra desculpa. Ou até com a verdade, pois em Condor um técnico agrícola da Cotripal (Cooperativa que é grande vendedora de venenos, adubos químicos e sementes transgênicas e, portanto, representante máxima do capital ali que se sentia ameaçada pela minha atuação), tentou fazer um abaixo assinado, que não decolou, para me mandar embora porque entre outras coisas eu falava contra o capitalismo, dizendo que ele é instrumento do diabo para impedir a construção do Reino de Deus. É assim que o capital se mistura ao e no trabalho da igreja e tenta forçar a igreja defender os interesses do capital, cujo objetivo maior é o lucro a qualquer custo. Se você é pastor ou pastora e quer sobreviver na igreja então seja esperto/a: não ameace o lucro do capital; só que tem um problema: não sei se daí você vai sobreviver ao Juízo Final. O que dizem as decisões conciliares dos anos 80 e como surgiram? Estas decisões surgiram dentro da conjuntura do ascenso do movimento popular e da luta contra a ditadura militar da qual muitos pastores e pastoras nos Distritos Eclesiásticos participavam. Estes Distritos Eclesiásticos, por serem incontroláveis pela direção da igreja da época, foram extintos no processo da Reestruturação ocorrida em 1997. Na época em que foram elaboradas estas decisões conciliares a própria direção da igreja não fez nenhum encaminhamento prático para que estas decisões fossem viabilizadas no trabalho paroquial. Cada um fazia o que lhe dava na telha. Alguns pastores e pastoras atuavam no Movimento Popular outros não e com a chegada dos anos 90 a coisa foi esfriando e esquecida. Hoje ninguém mais fala disso. No entanto, a miséria do povo continua a tal ponto que até o Estado tem como meta acabar com a miséria e a pobreza. Tem até políticas específicas a respeito e a igreja faz de conta que não está acontecendo nada. Há a luta por 40 horas semanais encabeçada pelas centrais sindicais, há a luta pelo fim do fator previdenciário, há a luta contra as barragens, há a luta pela terra, há a luta por melhores salários (os 15 milhões de novos empregos no governo Lula são em sua esmagadora maioria empregos de até 2 Salários Mínimos, que é a reprodução da pobreza), há a luta contra a superexploração da classe trabalhadora (os/as trabalhadores/as dos frigoríficos tem uma vida útil de 5 anos e são descartados com lesões permanentes por causa dos movimentos repetitivos e de alta velocidade; no setor de frangos tem que se fazer 90 cortes por minuto; a vida útil dos escravos no século 19 era de 15 a 20 anos, os ‘escravos’ de hoje só duram 5 anos), há a luta contra a violência doméstica, há a luta contra a homofobia e a xenofobia, há a luta específica da Via Campesina, há a luta pela preservação da Amazônia, do Cerrado e da Mata Atlântica, há a luta por melhores preços para os produtos dos pequenos agricultores, há a luta das pequenas cooperativas de agricultores e agricultoras para defender os pequenos do grande capital, há a luta agroecológica e ecológica em geral, há a luta dos povos indígenas, há a luta dos pequenos agricultores atingidos por áreas indígenas, mas não há nenhum incentivo e proposta claros por parte da igreja para se inserir nestas lutas. Por que? Ainda pergunta? Não espere nada da Direção da Igreja, dali não virá proposta nenhuma, nem respaldo. Esta nova pastoral tem que surgir nas paróquias e forçar a Direção a assumir e a respaldar esta pastoral. As lutas do povo brasileiro deveria ser tema de discussão e análise do próximo Concílio da Igreja em Chapecó com uma Análise de Conjuntura e Estrutura claras para se poder encaminhar uma nova pastoral nas comunidades. Vá sonhando!!! Quando da Assembléia Geral da FLM em 90 a igreja fez uma boa análise de conjuntura no livro Raízes da Pobreza, mas sem encaminhamentos práticos em direção de uma pastoral popular. Já fizemos algo nesta direção, basta fazer de novo com encaminhamentos práticos supervisionados pela Direção da Igreja, porque nas paróquias vai haver grandes boicotes por parte da direita, tanto de pastores/as e membros. Mas, e o medo da direita? Hoje no máximo se discute um trabalho missionário restrito ao aumento do número de membros, mas não se quer saber em que realidade estes membros vivem e lutam. As famílias membros de nossa igreja são em sua esmagadora maioria composta de pobres com renda de até 3 SM, afinal vivemos na realidade brasileira. Os dados do IBGE mostram que a distribuição percentual, por classes de rendimento mensal domiciliar per capita de 83,9% da população brasileira são de pessoas que recebem até 3 SM, segundo dados de 2006. No País retratado em 2010 pelo IBGE, a maioria da população (60,7%) vivia em domicílios com renda familiar per capita de menos de um salário mínimo (no valor de R$ 510 na época), apesar de em dez anos ter diminuído o número de famílias nos extratos mais baixos de rendimento. A IECLB pelo que sei vive no Brasil. É melhor mudar o rumo desta prosa, pois isto está ameaçando o sacro santo capitalismo. Além do mais, o diabo não gosta de ser questionado! As propostas conciliares dos anos 80 continuam sendo o respaldo para se entrar nestas lutas do povo oprimido, falta a Direção da Igreja dar costas quentes para este trabalho nas paróquias a partir de encaminhamentos práticos para respaldar a assessoria que a igreja pode dar ao Movimento Popular. Falta a igreja ter uma teologia clara e corajosa a respeito da participação dela nas lutas dos oprimidos. Para saber qual a teologia oficial e atual da igreja leia o Jornal Evangélico Luterano. Ali você não encontrará nada disto aludido acima. Coloco abaixo extratos das questões práticas dos documentos aprovados nos anos 80, caso não os conheça. Se os conhece é bom ler de novo. A Bíblia também é bom ler todo o dia.

Concílio de 1982 Mensagem
...Para que todos possam usufruir das dádivas do Criador, agindo responsavelmente diante delas, propomos o seguinte:
- realizar campanha de ampla informação e conscientização dos problemas agrários e urbanos:
- apoiar o agricultor na sua luta pela permanência no campo:
- assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra, bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas.
Conclusões
... Conscientização
1. Ler e viver o Evangelho de Jesus Cristo.
2. Promover consciência de que fé e vida são inseparáveis
3. Promover consciência de serviço (servir).
4. Conscientização, a nível pessoal e comunitário, em todos os níveis da igreja sobre:
a) O problema da terra (fundiário)
b) A situação do agricultor, mormente o pequeno e o sem terra
c) Migração e suas causas. Êxodo rural.
d) A necessidade de fixar o agricultor na sua terra e reverter o processo do êxodo
e) O Estatuto da Terra e os direitos e deveres do homem do campo (agricultor)
f) O uso e trato responsável da terra
g) A necessidade de unir os pequenos
h) A necessidade de diversificar culturas agrícolas
i) A distribuição mais justa da riqueza nacional
j) A situação e forma de exploração dos assalariados
k) Os danos da macro-tecnologia
l) A situação e estruturação das cidades
m) Uma pastoral urbana da IECLB
n) Uma pastoral educacional na IECLB
o) O ambiente natural e as depredações que hoje ocorrem
p) A necessidade da paz com justiça a nível local, nacional e internacional
q) A interdependência dos países e povos e os processos de exploração dos países ricos do Hemisfério Norte sobre os do Sul
Sinais de Apoio Apoio engajado e consciente ao pequeno agricultor e à pequena indústria, dentro da perspectiva de um modelo simples de vida, decorrente do próprio Evangelho. Por isso apoiar:
a) Movimentos Populares, associações de bairro, órgãos de classe, sindicatos dos trabalhadores rurais, cooperativismo sadio.
b) Projeto de CAPA (Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor), LACHARES, grupos em defesa da ecologia e ambiente natural
c) Movimentos no espírito de não violência
d) As prioridades de ação da IECLB e confessionalidade luterana

CONCÍLIO DE 1984 Mensagem:
... Como Igreja de Jesus Cristo no Brasil, comprometida com o Evangelho, devemos nos colocar ao lado de todas aquelas forças da sociedade que possibilitam vida para todos, entre outras, os sindicatos, as cooperativas, os movimentos de bairros, grupos de base. Comprometidos com o Evangelho denunciamos:
• a implantação de uma política econômica recessiva, causadora de desemprego e compressão salarial;
• a imposição aos operários de um sistema de escala de revezamento de trabalho que desagrega a família;
• o estabelecimento de uma política agrária que leva a desesperança aos agricultores, em particular aos pequenos e os sem terra;
• a invasão de terras, o massacre, os preconceitos da sociedade contra os povos indígenas;
• a liberação da pornografia nos meios de comunicação, em especial na televisão;
• o massacre a que está sujeito o povo nordestino: Solidarizamo-nos com as comunidades e o povo nordestino em sua luta para que os recursos naturais existentes (água e terra) sejam colocados ao alcance de todos, em prol de uma verdadeira justiça, pois “a justiça exalta as nações, mas o pecado é opróbio dos povos”.) Pv 14.34)
Conclusões: ... Temos um compromisso. Eis algumas propostas de como atendê-los:
5.2.3 - no Brasil - Torna-se esperança uma Igreja que não passa de largo aos múltiplos sofrimentos dos injustiçados, famintos, explorados. Está marcada a nossa sociedade por corrupção, injustiça, violência. Lembramos em especial a injusta distribuição da terra, o genocídio no Nordeste, o descaso para com o meio ambiente, a marginalização do povo no processo político. Comunidade cristã, pelas misericórdias de Deus, deve aí levantar protesto e solidarizar-se com a causa justa de movimentos populares...
Ninguém está, por Deus, isento de, dentro de suas possibilidades, engajar-se em favor do bem comum - uma forma de atender o mandamento do amor.

Concílio de 1986 Mensagem:
... Constatamos, a partir do estudo do nosso tema, que em nosso mundo não há paz, porque há injustiça e que há injustiça por não haver aceitação do senhorio de Jesus Cristo e porque as pessoas não se entendem como mordomos de Deus no mundo, e sim como seus senhores. Por isso, o Evangelho nos chama a repensar a nossa prática de fé e nos coloca os seguintes desafios:
• Como Igreja que aceita Jesus Cristo como seu Senhor temos o compromisso de assumir a responsabilidade política e social como nossa resposta ao amor de Deus e parte imprescindível de nossa fé.
• Sugerimos fazer isso das seguintes formas:
a) Denúncia profética e ação solidária;
b) Educação libertadora e maior amparo à infância;
c) Formação de lideranças para assumirem sempre melhor a tarefa da missão comprometida com o anúncio do Evangelho que quer a verdadeira paz com justiça para todos;
d) Criação de material de fácil acesso e compreensão que possa auxiliar nessa caminhada;
e) Destinação de recursos orçamentários a todos os níveis de igreja para a execução dessa tarefa educacional;
f) Visitação e intercâmbio de experiências dentro da Igreja;
g) Participação política engajada de todos os membros inclusive da escolha criteriosa de candidatos à Constituinte, cujos programas e metas incluam estas nossas preocupações e acompanhamento crítico e constante de todo o processo de elaboração de nova Constituição Estamos convencidos de que os frutos de uma tal atitude, motivada pela fé no Senhor Jesus Cristo, contribuirão para a transformação de nossa sociedade e mostrar-se-ão concretamente num apoio mais comprometido aos sem terra e casa, aos índios, aos negros, às mulheres, aos operários e aos pequenos agricultores, mostrar-se-ão em sinais concretos de justiça e de promoção de vida plena entre nós e no mundo que nos cerca.

CONCÍLIO DE 1988
... Do concílio compartilhamos os seguintes estímulos:
- Proporcionar a todos os leigos nas Comunidades maior participação na missão, na re-leitura da Bíblia, na evangelização, na conscientização de nossa confissão luterana. Isto também faz parte do nosso pão nosso de cada dia.
- Aceitar que a graça de Deus nos liberta da ganância, da auto-justificação e da necessidade de acumular. - Assumir posicionamentos em questões sociais, políticas e econômicas a partir do Evangelho.
- Apoiar e desenvolver ações em favor da natureza, obra do Criador. Também isto é repartir o pão.

AÇÃO PASTORAL REGIONAL - RE III
O 13° Concílio Regional aprovou uma proposta missionária na Terceira Região Eclesiástica.
1. Celebração Comunitária na ótica da Comunidade solidária;
2. Integração do Movimento Popular na concepção do trabalho missionário;
3. Formação bíblica na ótica da leitura popular.

Lembro estas decisões porque elas estão prá lá de esquecidas, além de serem subversivas. A teologia do deus capital se mistura tão bem no meio da igreja que é difícil de reconhecer quem é quem e o que é o que. Por isso o diabo (no seu significado grego) é aquele que confunde as coisas, como diz o próprio Jesus no Evangelho de João: é o pai da mentira (Jo 8.44). Assim, a mentira (a teologia do deus capital) acaba tendo na igreja status de verdade. Que mentira é esta? Que não existe outra forma de organizar a vida, a igreja e a sociedade além do capitalismo. Os elementos básicos do capitalismo perpassam a vida da igreja. Por ex.: hoje não se usa mais oficialmente o termo “pastor ou pastora”, mas ministro. Por que está na Bíblia? Não, porque as leis do país enquadram os pastores e pastoras como ministros religiosos, por isso agora se usa este termo. Não se partiu da base bíblica, mas se partiu da base jurídica do Estado (isto foi dito com todas as letras quando se discutiu a última reformulação da Constituição da Igreja) que é o instrumento para legitimar e perpetuar o capitalismo.
Assim também o símbolo da IECLB é a representação da colunata do Palácio da Alvorada residência do/a mandatário/a do país. Usa-se o símbolo do poder do Estado (que tem a função de reprimir a classe trabalhadora e sempre beneficiar a classe capitalista) para representar o país e assim também a igreja e desta forma se legitima este mesmo poder que sempre está a serviço do capital. Vêem-se, assim, como as coisas se misturam. E é esta a jogada do diabo, que tem no sistema capitalista como seu instrumento de dominação, para confundir para poder dominar melhor. Assim como o símbolo do poder do estado capitalista se mistura com o símbolo da igreja, assim a teologia do deus capital se mistura com o Evangelho de Jesus Cristo na igreja, e a confusão está feita. Este é o papel do diabo e ele o faz muito bem. Nós é que não fazemos bem o nosso papel que é contestar o projeto deste mundo, o capitalismo, no processo de construção do Reino de Deus. Assim estamos como no filme: Dormindo com o Inimigo. Está na hora de separar o joio do trigo: identificando o que é joio e o que é trigo. Dizendo que isto é trigo e isto é joio. Aí o bicho vai pegar. Até própria estrutura reclama desta confusão. Por ex.: a norma na igreja é entregar o dízimo das contribuições e promoções. O que acontece? As diretorias de comunidades e de paróquias sonegam valores. Isto se chama de corrupção. Mas dentro do sistema capitalista isto não é corrupção; é o que se faz por aí dentro do sistema capitalista. É a Lei do Gerson. Levar vantagem em tudo. As diretorias sabem que isto é corrupção? Sabem, mas mesmo assim o fazem. É a ação da ideologia/teologia do deus capital perpassado a dinâmica da igreja. Se algum pastor enfrenta esta corrupção ele vai para a rua, não com este argumento, mas vai se achar alguma outra coisa para pô-lo para fora ou vai se infernizar a sua vida de tal maneira que ele acaba indo embora. O mais hilário é que no Concílio da Igreja em Panambi em 2006 se disse em alto e bom tom: Não há corrupção na igreja! Como a memória é curta e a safadeza é comprida ninguém mais fala que a dinâmica do Dízimo foi adotada exatamente por causa da corrupção que acontecia quando havia a contribuição na forma de “cotas” para a igreja: as paróquias sonegavam cotas para não precisar repassar tudo para a igreja e ficavam com uma parte para engordar o seu orçamento e poder dizer na Assembléia no final do ano que a atual gestão da paróquia ou da comunidade entregou o caixa com um bom saldo no banco. É a dinâmica do sistema capitalista perpassando a dinâmica da igreja porque as teologias se confundem. A teologia do deus capital acaba sendo a teologia de Jesus Cristo e vice versa. No Sínodo Noroeste Riograndense uma comissão de finanças passou pela paróquia de Pratos (como também em outras paróquias) e somente uma comunidade, a mais pobre entre as pobres, não estava fazendo corrupção: sonegando o Dízimo. O projeto do mundo, o capitalismo que é instrumento do diabo, acaba perpassando a dinâmica da igreja e a sua teologia. Assim, pode ser que o representante da paróquia no Conselho Sinodal seja um destes corruptos que segue a dinâmica do capital e ali ele acaba sendo indicado na Assembléia Sinodal para ser do Conselho da Igreja. Eu disse pode ser, não estou dizendo todos. Mas a defesa, quase, intransigente do capitalismo perpassa os representantes legais da estrutura da igreja desde a comunidade até o Conselho da Igreja. Eu sei que há pessoas desde a diretorias da comunidade até o Conselho da Igreja que não defendem o capitalismo como a única forma de organizar a vida, a igreja e a sociedade, mas este conselho nunca vai se empenhar para que o estudo de teologia nos centros de formação seja baseado na metodologia: Prática-Teoria-Prática, que é também a dinâmica da própria Bíblia. Por que? Porque isto ameaça o sistema capitalista e a teologia do deus capital que perpassa as nossas comunidades. O Projeto da Direita na Igreja não está escrito em nenhum lugar e a própria direita não está organicamente organizada, mas ela se manifesta pela dinâmica do capital que perpassa as instâncias da igreja. Ouso dizer que a base “de fato” da igreja em muitos casos não é Jesus Cristo, mas é a dinâmica do capital. Jesus Cristo diz em Mt 7.16: “Pelos seus frutos os conhecereis”. Estes frutos estão bem claros e espalhados por toda a igreja: o pavilhão de festas é o local mais importante na comunidade; se faz festas para aumentar o pavilhão para fazer festas maiores para aumentar o pavilhão para fazer festas maiores para poder aumentar mais o pavilhão ainda; a corrupção da sonegação do Dízimo está espalhada por muitas comunidades, em Condor um membro da diretoria (que era vice presidente da Assembléia Sinodal, portanto não era um ignorante) disse, com a maior cara de pau, que na gestão anterior da comunidade, da qual fazia parte, haviam sonegado o dízimo; lutar pela Reforma Agrária e se empenhar por um novo modelo agrícola não baseado no veneno é conversa pra boi dormir nas comunidades, pior, numa reunião em Panambi da Legião Evangélica Luterana, um defensor do agronegócio fez a defesa dos venenos como a salvação do mundo da fome, o pior de tudo é que ele acredita piamente nisto; a diretoria da comunidade de Panambi cogitou em me processar pelo que eu falava no Programa de Rádio, pois isto feria os interesses do capital. No entanto, a ideologia da classe economicamente dominante, que é a classe capitalista, faz bem o seu papel que é de esconder e camuflar a realidade. Desta forma faz-se de conta que a dinâmica na igreja é o Evangelho do Reino de Deus. Mesmo sendo a prática do capital se diz que isto é a prática do Evangelho de Jesus Cristo. Assim, a “teologia politicamente neutra” continua sendo a teologia que as comunidades querem porque estão sob as ordens do capital, sem o saber, evidentemente, na maioria dos casos. Nada de opção de classe, como Deus a fez no AT (ficar, na luta de classes entre o Estado e a Classe Camponesa, do lado e com a classe camponesa sem terra escrava) e no NT (onde Deus se torna pessoa em Jesus de Nazaré da e na classe camponesa que morreu como morriam os camponeses que não se enquadravam na dinâmica opressora do sistema econômico escravista legitimado pelo Estado aliado à Religião do Templo de Jerusalém). Mesmo tendo este símbolo em nossas igrejas: a cruz de Cristo, não se consegue ver isto. Além do mais na maioria de nossas igrejas (templos) não há crucifixos, apenas a cruz vazia. Separa-se a cruz da ressurreição. Por que? Porque a cruz mostra a realidade de pecado na qual vivemos e mostra a realidade da luta de classes de nossa sociedade, por isso preferimos falar do Cristo, apenas, glorificado. A teologia da glória se sobrepõe a teologia da cruz. Lutero já falava disto na Tese 21 da Demonstração das Teses Debatidas no Capítulo de Heidelberg: “O teólogo da glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que é bom; o teólogo da cruz diz as coisas como elas são. Isto é evidente, pois enquanto ignora Cristo, ele ignora o Deus oculto nos sofrimentos. Por isso, prefere as obras aos sofrimentos, a glória à cruz, o poder à debilidade, a sabedoria à tolice e, de um modo geral, o bem ao mal. Esses são os que o apóstolo chama de inimigos da cruz de Cristo, certamente porque odeiam a cruz e os sofrimentos, ao passo que amam as obras e a sua glória. Assim, eles chamam o bem da cruz de um mal, e o mal da obra de um bem. Já dissemos, no entanto, que Deus não é encontrado senão nos sofrimentos e na cruz. Os amigos da cruz afirmam que a cruz é boa e que as obras são más, porque, pela cruz, são destruídas as obras e é crucificado Adão; pelas obras, este é, antes, edificado. Portanto, é impossível que não se envaideça com suas obras a pessoa que não for primeiramente examinada e destruída pelos sofrimentos e males, até que saiba que ela nada é e que as obras não são suas, mas de Deus”. Temos que fazer permanentemente análise de conjuntura na igreja para podermos ver melhor e entender melhor como é a dinâmica da igreja e como o capital perpassa esta dinâmica para poder combatê-lo e com a ajuda do Espírito Santo entender como o Reino de Deus hoje se viabiliza para poder fortalecê-lo. Temos que sair do isolamento, nos reunir e estudar em conjunto para termos maior clareza teológica para podermos combater o Projeto da Direita na Igreja e entender como ele se desenvolve e se articula.

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