(Para nossa discussão no Sínodo Uruguai)
Houve tentativas no passado de elaborar a nível de Igreja um
Projeto de Igreja no tempo do Pastor Presidente Augusto Ernesto Kunert - 1982-1986 - a partir
de algumas prioridades embasadas na realidade brasileira na qual a IECLB está
inserida, pois a Missão se faz dentro e a partir desta realidade, e da realidade
interna da Igreja. A Missão é de Deus e ele nos convida a participar desta
Missão a partir do lugar em que vivemos. Desconsiderar o nosso lugar vivencial
é não entender o que é Missão, porque fazemos Missão contra a realidade que o
mundo nos impõe, pois estamos construindo um novo Projeto que Jesus Cristo
chama de Reino de Deus, em oposição ao reino do mundo. Se não conhecemos o
mundo que nos rodeia seremos cooptados por ele e a nossa Missão está
inviabilizada, pois fortalecerá o projeto do mundo e não o Projeto do Reino de
Deus.
Martim Lutero falando sobre a pregação do Evangelho diz:
“Se me fosse possível começar,
hoje, a pregar o evangelho, eu o faria de modo bem diferente. Deixaria toda
essa grande e rude massa de gente debaixo do regime do papa. Eles não se
emendam mesmo, pelo Evangelho, mas só abusam de sua liberdade. Em vez disso pregaria
o Evangelho e o consolo especialmente para as consciências temerosas,
humilhadas, desesperadas e simples. Por isso o pregador deve conhecer o mundo
muito bem e reconhecer que ele é desesperadamente mau, propriedade do diabo, na
melhor das hipóteses. Eu é que fui estupidamente ingênuo, não sabendo quando
comecei, como eram as coisas, pensando que o mundo seria muito piedoso e, tão
logo ouvisse o evangelho, viria correndo para aceitá-lo com alegria. Mas agora
descubro, com grande dor, que fui vergonhosamente enganado” (Reflexões em torno de Lutero’ vol. I uma Edição especial da
Revista “Estudos Teológicos” de 1981).
Prioridades
da IECLB (1979-1982)
1.Unidade na Pluralidade
2.Evangelização
3.Índio
4.Reforma Agrária
5.Contribuição Proporcional
Na
reedição destas prioridades da próxima gestão a expressão e prioridade Reforma
Agrária desapareceu, sendo substituído por Comunidade Missionária na Realidade
Rural e Urbana (não é tão agressivo, polêmico, inconveniente e é mais ampla,
também mais soft! Mesmo que estas duas realidades não tenham nada de soft. Na
realidade rural a UDR também tem vez, afinal, são filhos de Deus também. Não
são?) e acrescentado o tema da Educação.
Prioridades
da IECLB (1983-1986):
1.Confissão evangélico-luterana
2.Comunidade missionária na
realidade rural e urbana
3.Educação
4.Índio
5.Contribuição Proporcional
(Neste período [1979-1986] os
Concílios Gerais propuseram várias ações voltadas para a realidade do povo
brasileiro com um trabalho de base na Igreja com os movimentos populares e
sindicais.)
P. Dr. Gottfried
Brakemeier - 1986-1994
Prioridades
da IECLB (1987-1994):
1.Nossa identidade luterana
2.Edificar comunidade na área
rural e urbana
3.Justiça e responsabilidade
social
(Aqui as Prioridades foram
reduzidas para três com propostas amplas e pouco concretas que não agridem os
interesses da direita. Tem tudo a ver com a proposta teológica do P. Dr. Brakemeier
que é um teólogo conservador da tradição teológica alemã tradicional. Aqui a
prioridade Índio sumiu, deve ser subentendida na prioridade: Justiça e
responsabilidade social. Aos poucos as questões sociais foram dando lugar à
preocupação interna da Igreja somente.)
P. Huberto
Kirchheim - 1994-2002
Prioridade
da IECLB (1995):
1.Igreja solidária
Vemos
aqui que as prioridades e as decisões conciliares gradativamente, com o passar
dos anos, foram amenizadas e os temas conflituosos foram sendo substituídos por
expressões mais amplas, mas mais vagas também, apesar do aumento dos conflitos
de classe que ocorreram no país: luta pela terra dos sem terra e dos povos
indígenas, greves gerais convocadas pelas centrais sindicais, saques em
supermercados, luta contra as barragens, crise na agricultura, fortalecimento
do movimento negro e das mulheres, privatização da estatais dentro do processo
neoliberal, etc. Na verdade estas prioridades e decisões conciliares eram
prioridades e decisões de papel, pois não havia um encaminhamento de uma
pastoral popular que pudesse atender a estas demandas muito reais de nosso
povo. Havia o Comin, o CAPA, o LACHARES, e tentativas localizadas de luta com
os sem terra, contra as barragens e um envolvimento com a CPT, movimento das
oposições sindicais da CUT e no movimento de mulheres agricultoras. Coisas
localizadas em alguns distritos, mas desconectadas de uma articulação nacional.
Havia lutas no Espírito Santo, no oeste do Paraná, no oeste catarinense, no Rio
Grande do Sul, nas Novas Áreas de Colonização, mas sem uma coordenação geral e
nem vontade política de coordenar estas ações.
Na gestão do P. Huberto
Kirchheim começou o PAMI (I e II) - "Plano
de Ação Missionária da IECLB" como proposta de Projeto de Igreja e no período do P. Dr. Walter
Altmann - 2002-2010 - veio o Plano de Ação Missionária da IECLB "Missão de Deus - Nossa Paixão".
Os dois são longos textos teológicos sem propostas práticas ancoradas na
realidade, por isso também não deram em nada. Lembrando ainda que propostas
concretas ancoradas na realidade brasileira não passam e se passam não são
executadas por causa do conservadorismo teológico na IECLB; isto não quer dizer
que não devam ser colocadas, pelo contrário.
Nos anos 90 e início dos anos 2000 a IECLB estava ocupada em discutir e
se adaptar à Reestruturação neoliberal da Igreja capitaneada pela direita. Esta
Reestruturação desmantelou em parte o trabalho existente nos Distritos com a
unificação de vários Distritos diferentes entre si historicamente e se começou
um processo de procura de um modelo eclesiástico através dos recém formados
Sínodos, mas acabou-se ficando com o mesmo de sempre: a "Associação
Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos". A participação de
obreiros/as da IECLB em Movimentos Populares e Sindicais foi desaparecendo aos
poucos e ficou restrito à algumas pessoas. As leis repressivas contra a
pastorada via EMO (TAM e Avaliação) foram aprovadas no final de 2002 e aí
começou um processo mais intenso de introversão e de auto-proteção da pastorada
que dura até hoje, mesmo que já havia poucos obreiros/as que ainda se inseriam
no processo da luta popular como parte inerente da Missão na luta pelo Reino de
Deus. Com o descenso do movimento popular nos anos 90 a nível de país ocorreu o
mesmo descenso da participação da pastorada no movimento popular a nível de
Igreja (mas não de nossos membros, cuja participação aumentou pelas
necessidades econômicas opressivas dos anos 90, mas sem amparo e acompanhamento
teológico de seus pastores/as) como se a preocupação pelo Reino de Deus fosse
algo restrito apenas à Igreja e estivesse desvinculado da luta por vida plena e
digna e ao respeito à criação de Deus.
Este é um breve histórico de
tentativas de elaboração de um Projeto de Igreja para a IECLB e que
evidentemente não deram em nada ou muito pouco de concretização nas paróquias
porque estas propostas desestabilizam e desalojam obreiros/as e lideranças
comunitárias em sua prática de Igreja como "Associação Cultural e
Recreativa Alemã com fins Religiosos".
Proposta de Projeto
de Igreja para o Sínodo Uruguai
(Concretamente deverá haver uma
Coordenação Sinodal do Projeto de Igreja que encaminha, pensa, acompanha,
propõe e avalia o desenrolar deste Projeto de Igreja nas paróquias e que está
subordinada ao Conselho Sinodal. Esta coordenação tem a função de cobrar a
discussão, o encaminhamento e a execução deste Projeto de Igreja do Conselho
Sinodal e das Paróquias. Estas 4 Prioridades caminharão como linha norteadora
para todas as atividades missionárias já existentes nas paróquias e
comunidades, como OASE, Legião, Casais, Ensino Confirmatório, JE, etc.,
calçadas na realidade de nosso povo em nosso Sínodo. A participação da Igreja
na construção do Reino de Deus se dá a partir da transformação da realidade do
mundo e da própria Igreja - Rm 12.2; Lc 4.18-19; Ap 18; 2 Co 5.17; 1 Co 9.16: "Se
anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação;
porque ai de mim se não pregar o evangelho!")
1. Luta pela Terra
- Lutar pela Reforma Agrária
para que os/as filhos/as de camponeses com terra insuficiente e camponeses sem
terra possam permanecer no campo e com isto fortalecer o comércio local e a
indústria brasileira que produz para o mercado interno gerando renda e empregos.
- Lutar contra as Barragens que
beneficiam o Hidronegócio, o Agronegócio e o Capital Internacional e expulsam
os camponeses da terra e inviabilizam a produção de alimentos, o comércio e a indústria
locais.
- Lutar contra a Migração campo-cidade e pela permanência
dos camponeses na terra com a criação de pequenas cooperativas para produção,
industrialização e comercialização da produção camponesa.
- Engajamento nas Lutas da Via Campesina e Movimento
Sindical camponês para viabilizar a permanência na terra e fortalecer a
Agricultura Camponesa em oposição à do Agronegócio dependente e excludente.
- Fortalecer e viabilizar a Pastoral da Cidadania, o Conselho
do Direito à Terra e o CAPA.
- Questão Indígena - Se inserir na Luta dos Povos Indígenas
e na Luta dos Camponeses atingidos por áreas indígenas.
- Engajamento na Agricultura Agroecológica para uma vida
saudável junto com uma Pastoral da Saúde.
- Lutar contra a "Economia Verde" que pretende privatizar
os bens da natureza que são de toda a humanidade.
2. Luta pela Emancipação Humana
- Constituir empresas cooperativadas e auto-gestionadas sob
o controle dos/as trabalhadores/as financiadas pelo BNDES.
- Lutar contra a exploração desumana dos/as trabalhadores/as
dos frigoríficos do Agronegócio e outras empresas do agronegócio com trabalho
escravo.
- Construção de uma Cidade Humanizadora a partir de nossa
participação nas lutas por melhorias urbanas.
- Participar da Luta Sindical e do Movimento Popular urbano.
- Fortalecer a educação para a Cidadania nas escolas, nas
igrejas e na sociedade (ensino religioso).
- Facilitar o envolvimento no Movimento Ecumênico (CPT, CIER,
Conic e diálogo Inter-religioso).
- Engajamento Político Partidário e no Movimento Popular e
Sindical para a Emancipação Humana.
3. Formação Teológica
- Formação teológica para obreiros/as e leigos/as nas áreas
da Bíblia, da Confessionalidade e da Realidade nas Paróquias e no Sínodo a
partir de um Planejamento Estratégico do Sínodo e da IECLB.
- Lutar por uma formação teológica engajada a partir da
realidade brasileira nos Centros de Formação teológica da IECLB enviando
estudantes para estudar teologia e já os preparando no Sínodo anteriormente em
cursos, práticos e teóricos específicos, para isto realizados a partir de
campanhas vocacionais para pessoas que estão no Ensino Médio ou já o concluíram,
havendo, assim, um acompanhamento das comunidades aos seus estudantes de
teologia antes e durante o estudo teológico.
4. Sacerdócio Geral de Todos os Crentes
Segundo as
Escrituras Sagradas, apontadas pelo P. Albrecht Baeske, as prioridades da ação
da Igreja de Cristo são:
I - Missão e
Evangelização
"Mas agora,
sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos
profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para
todos [e sobre todos] os que crêem; porque não há distinção, pois todos
pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua
graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus". Rm 3.21-24
1ª prioridade da ação
eclesial: é a tarefa da proclamação evangélica profética de que a pessoa e
toda a sociedade são e permanecem pecadoras (Mc 1.15) e de que Deus
justifica, salva e recria a pessoa arrependida (Rm 1.16-17) pela mediação
verbal (Mc 2.1-12; Mt 9.22), e também, pela mediação palpável e degustável dos
sacramentos em meio a comunidade (Mt 28.18-20; Mt 26.26-28);
II - Sacerdócio geral de todos os
santos
"também vós mesmos, como
pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo,
a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio
de Jesus Cristo. ... Vós, porém, sois
raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de
Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para
a sua maravilhosa luz; vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora,
sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora,
alcançastes misericórdia". I Pe 2.5 e 9-10
2ª prioridade da ação eclesial: é a explicação e o
estudo do significado do sacerdócio geral de todos os crentes com a comunidade,
conseqüentemente também o ensaio e a execução, na própria comunidade, do
sacerdócio das pessoas que crêem (I Pe 2.5 e 9) e foram
batizadas, e, por isso, exercitam o sacerdócio comum (de todos os
batizados crentes), mútuo (um é sacerdote para com o outro) e em conjunto (toda
comunidade tem o ministério sacerdotal via batismo: o ministério da reconciliação
- II Co 5.18-19; Jo 20.22-23);
III - Diaconia
"Porque o reino de Deus não
é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo". Rm
14.17
3ª prioridade da ação
eclesial: é toda luta por justiça em favor
da construção desta nova sociedade igualitária de irmãos e de irmãs que Jesus
chama de Reino de Deus em que nós nos engajamos a partir da fé em Jesus Cristo.
Este Reino de Deus já começou (Lc 17.21), mas ainda não está completo e o será
apenas na volta de Cristo no Dia do Juízo Final.
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