Ou quando a alegria vira catástrofe.
No Natal falamos do Menino Jesus, aquele da Bíblia, onde o poder da fraqueza camponesa e o poder a partir do empobrecido viram notícias de libertação e de vida. No Natal lembramos que Deus radicalizou a sua proposta, pois no AT ele optou, na luta de classes entre o Estado e a classe camponesa sem terra escrava, pela classe camponesa escrava, porque era escrava e porque era classe camponesa. Por que a classe camponesa é a escolhida por Deus? Porque é a classe subalterna e oprimida, pois Deus não quer que haja uma sociedade de classes. Deus optou pela classe camponesa para, a partir dela, acabar com a luta de classes e com a sociedade de classes. No Natal Deus radicalizou esta proposta que vem desde o AT em que Ele mesmo se faz pessoa na classe camponesa palestina para acabar com a sociedade de classes que existe a partir do modo de produção opressor.
No tempo de Moisés Deus organizou a classe camponesa na luta contra o Estado porque este é um instrumento de classe em seu próprio benefício para poder oprimir a classe camponesa, não apenas a parte escravizada, como também a parte não escravizada que vivia no Egito. O Estado é o aparato da classe economicamente dominante para legitimar e garantir a reprodução da opressão e exploração da classe subalterna, que no caso do Egito era a classe camponesa. Hoje é a classe trabalhadora. No tempo do NT o próprio Deus se fez classe camponesa para propor a construção de uma nova sociedade não classista que Jesus chama de Reino de Deus. Por isso Deus se fez carne em Jesus de Nazaré numa família camponesa. O Natal é um símbolo, junto com a cruz e a ressurreição, da luta de Deus contra toda e qualquer sociedade de classes. É a partir da classe subalterna, a classe camponesa, que Deus em Jesus Cristo começa a sua luta por uma nova sociedade não classista que ele chama de Reino de Deus.
Esta é a alegria que o Natal nos traz: Deus está em Jesus Cristo no meio de nós pelo poder do Espírito Santo para nos ajudar a nos organizarmos na luta contra a atual sociedade de classes: o capitalismo. O Natal sinaliza que chegou o tempo de um novo tempo: o Reino de Deus, que já começou com o próprio Jesus Cristo. Assim como Javé organizou os camponeses escravos na luta de classes contra o Estado do Modo de Produção Tributário no Egito, assim hoje Javé está no meio de nós pelo poder do Espírito Santo para nos ajudar na organização da Classe Trabalhadora contra o Modo de Produção Capitalista em direção a uma nova sociedade não classista, igualitária e sem Estado que é o Reino de Deus.
O Natal nos sinaliza que Deus está no meio de nós na luta para acabar com a sociedade de classes, hoje, o capitalismo. A proposta para pôr no lugar do capitalismo é o que Jesus Cristo chama de Reino de Deus.
Esta notícia (do nascimento do Cristo) de alegria e de ânimo, na história da América Latina, foi uma notícia de imensa e profunda tristeza, foi um desastre, pois os arautos desta Boa Notícia do Reino de Deus (os conquistadores e seus sacerdotes), pela sua prática, inverteram a Boa Notícia, o Evangelho de Jesus Cristo, em má notícia.
Vamos ver como isto se deu.
O menino Jesus nos pagos gaúchos.
“Nos princípios do mês de maio próximo findo, estando Luís e sua mulher na varanda de sua própria casa, castigando barbaramente uma sua escrava menor de nome Maria, filha dos escravos Ignácio e Rosa, também de propriedade dos acusados, munidos de um laço e de um pau, ambos deram tanta pancada na referida menor que não pode resistir a tão grande castigo, caindo por terra sem sentido. Nesta ocasião, Irinea deu-lhe um pontapé reclamando: está fingindo de morta, mas em seguida, vendo que a menor Maria morria mesmo chamou por Ignácio Antônio que viesse acudir a Maria e por ele foi dito, depois de examiná-la, que ali nada mais tinha a fazer, como de fato poucos momentos depois faleceu Maria.
Também mataram de fome outro menor livre de nome Francisco, irmão da desventurada Maria, por que o denunciado Luis, se prevalecendo de seu senhorio, mandava Rosa pastorear gado no campo todos os dias, desde manha até noite, ficando o menor em uma rede sem que Luis ou sua mulher lhe dessem ou mandassem dar alimento algum, que só mamava de noite, quando sua infeliz mãe voltava do campo. Tantas vezes se repetiu este fato de barbaridade que ultimamente secara o leite de Rosa. Francisco, definhando aos pouco, faleceu pela fome sem que pudesse obter quer de seus pais quer dos outros escravos proteção alguma, pelo terror que tinham de seus senhores. Tanto que, as escondidas, o menor foi batizado pouco antes de falecer por uma escrava da casa, para não morrer pagão”. (Cfe. Processo Crime no. 1912, APRS. Cruz Alta, RS. 1877. Extraído do livro da Editora Unijuí. Brasil 500 anos. Org. Dinarte Belato e Gilmar Antonio Bedin. 2ª. ed, 2004)
Outro exemplo, menos bárbaro, mas igualmente cruel, nos é relatado por Auguste Saint-Hilaire, famoso naturalista francês, em viagem pelo Rio Grande do Sul, em 1820. Ele não deixou de notar a severidade com que se tratavam as crianças escravas. Numa casa de Pelotas, cujo proprietário ele considerava dos mais humanos, ele anotou em seu diário esta observação:
“há sempre na sala um pequeno negro de 10 a 12 anos, cuja função é ir chamar os outros escravos, servir água e prestar pequenos serviços caseiros. Não conheço criatura mais infeliz que essa criança. Nunca se assenta, jamais sorri, em tempo algum brinca! Passa a vida tristemente encostado à parede e é freqüentemente maltratado pelos filhos do dono. À noite chega-lhe o sono, e, quando não há ninguém na sala, cai de joelhos para poder dormir. Não é esta casa a única que usa esse impiedoso sistema. Ele é freqüente em outras”. (Auguste de Saint-Hilaire. Viagem ao Rio Grande do Sul. Belo Horizonte. Itatiaia, 1974.)
O menino Jesus no Caribe
Bartolomeu de Las Casas nos relata, em O Paraíso Destruído, as atrocidades cometidas pelos conquistadores europeus contra os habitantes destas terras seguindo, assim, a lógica da mentalidade renascentista sustentada na supremacia da razão instrumental:
“Os espanhóis, com seus cavalos, suas espadas e lanças começaram a praticar crueldades estranhas; entravam nas vilas, burgos e aldeias, não poupando nem as crianças e os homens velhos, nem as mulheres grávidas e parturientes e lhes abriam o ventre e as faziam em pedaços como se estivessem golpeando cordeiros fechados em seu redil. Faziam apostas sobre quem, de um só golpe de espada, fenderia e abriria um homem pela metade, ou quem, mais habilmente ou mais destramente, de um só golpe lhe cortaria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria melhor as entranhas de um homem de um só golpe”. (Bartolomeu de las Casas. O Paraíso Destruído. Porto Alegre. L&PM, 1984)
Bartolomeu de Las Casas continua nos relatando, em O Paraíso Destruído:
“os espanhóis não vão às Índias (América) movidos pelo zelo da fé, nem pela honra de Deus, nem para socorrer e adiantar a salvação do próximo, nem tão pouco para servir o seu rei como sempre se orgulham de dizer sob falsos pretextos; é a avareza e ambição que para ali os arrasta a fim de dominar perpetuamente sobre os índios, como tiranos e diabos, desejando que lhes sejam dados como animais. Isto falando numa linguagem bem plana e bem redonda, não é outra cousa senão despojar os reis de Castela de todo esse país do qual se apoderam eles mesmos, tiranizando e usurpando a soberania real." (Bartolomeu de las Casas. O Paraíso Destruído. Porto Alegre. L&PM, 1984)
O menino Jesus no Brasil:
Os portugueses não ficaram atrás dos espanhóis:
“estava o governador - Dom Duarte da Costa - de viagem para Pernambuco em barco surto defronte de Vila Velha, quando os ruídos do ataque o alarmaram [ ... ] com setenta homens a pé e seis a cavalo lançou-se contra a aldeia rebelada [ ... ] e a arrasou. [ ... ] partiu [depois] em auxílio de Antônio Cardoso de Barros cercado no seu engenho. Queimaram cinco aldeias, destroçaram uma tranqueira onde mil índios resistiram [ ... ], e para que doutra parte não crescessem em insolência, desfizeram três aldeias além do Rio Vermelho [ .. .]” (Pedro Calmon. História do Brasil. Rio de Janeiro. José Olympo Editora. 1963)
O governador, Mem de Sá, participava diretamente do comando do extermínio dos índios resistentes:
“na noite que entrei nos Ilhéus fui a pé dar em uma aldeia que estava a sete léguas da vila em um alto pequeno [ ... ] e ante manhã duas horas dei n’aldeia e a destruí e matei todos os que quiseram resistir e, à vinda vim queimando e destruindo todas as aldeias que ficaram para trás". E acrescenta o padre Manoel da Nóbrega: "Em menos de dois meses que lá esteve [Ilhéus] deixou os índios sujeitos e tributários [ ... ] e obrigados a refazerem os engenhos e não comerem carne humana”. (Pedro Calmon. História do Brasil. Rio de Janeiro. José Olympo Editora. 1963) Qual a diferença entre trucidar milhares de pessoas e o canibalismo dos indígenas? O canibalismo indígena não matava tantas pessoas como o faziam os portugueses e espanhóis. No caso dos espanhóis o canibalismo fazia parte do processo da Conquista.
O padre Bartolomeu de las Casas descreve com cores vivas a violência da conquista que, em alguns casos, como a da Guatemala, assumiu a forma de práticas massivas de canibalismo:
“esse tirano, quando movia guerra a alguma vila ou província, tinha o costume de levar consigo índios subjugados, tantos quantos pudesse a fim de fazer guerra aos outros: e como não dava de comer a uns dez ou vinte mil homens que levava consigo, permitia-lhes comer os índios que tomassem: de modo que tinha comumente no seu campo um verdadeiro açougue de carne humana, em que, segundo a preferência, matavam-se e rostiam-se crianças; matavam os homens somente por causa das mãos e dos pés, que consideravam os melhores pedaços”. (Bartolomeu de las Casas. O Paraíso Destruído. Porto Alegre. L&PM, 1984)
Enquanto isso, no Brasil, os índios kaiowá-guaranis continuam sendo assassinados e continuam tendo as suas terras roubadas pelos conquistadores de hoje: os capitalistas do agronegócio, que no Natal cantam: “Noite Feliz” e “Vinde meninos”.
O padre Antônio Vieira, com sua estupenda capacidade intelectual e retórica, assim justifica e sublima a escravidão:
Não há trabalho, nem gênero de vida mais parecido à cruz e à paixão de Cristo, que o vosso (dos escravos) em um destes engenhos [ ... ] Bem-aventurados vós se soubéreis conhecer a fortuna de vosso estado, e com a conformidade e imitação de alta e divina semelhança aproveitar e santificar o trabalho. Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado [ ... ] porque padeceis de um modo muito semelhante o que o Senhor padeceu na cruz, e em toda a sua paixão. (Padre Antônio vieira, Sermões do Rosário. Sermão décimo quarto - 1633)
Segundo Jo 1.14: “E o Verbo se fez carne e armou tenda entre nós” para acabar com o massacre e o canibalismo do sistema capitalista legitimado pela lei e o Estado de Direito. Canibalismo hoje? Como o canibalismo capitalista se expressa hoje?
Com a palavra Siderlei de Oliveira:
“Antigamente, um trabalhador de frigorífico levaria 15 anos para aparecer com uma doença, por exemplo, pelo frio, como uma pneumonia, ou um reumatismo, além de alguns cortes que eram comuns na época – acidente em frigorífico era corte –, e algumas contaminações biológicas. Hoje não. Hoje um jovem de 25, 30 anos, com 5 ou 6 anos de frigorífico já está doente, com lesões irreversíveis. Porém, é um setor que emprega em torno de 800 mil trabalhadores no Brasil, só na fábrica, sem contar com os trabalhadores-satélites da fábrica. Com esse ritmo, 25% dos trabalhadores já estão doentes, ou dentro da fábrica, ou na previdência ou desempregado, porque as empresas já mandaram embora devido às doenças.
O problema dos frigoríficos não se resolve com médicos, nem com técnicos, mas se resolve com questões políticas, com a vontade dos empresários de resolver os problemas que criam as doenças dos trabalhadores. É preciso mexer nos locais de trabalho, nas condições de trabalho, com redução de ritmo e pausas de 10 minutos em cada 50 para a recuperação dos líquidos lubrificantes das articulações, já que as lesões são causadas pela falta desse líquido. Mas mexer com isso é prejuízo, porque reduz a produção. Esse é um problema de Estado, de nação, em que os trabalhadores não estão sendo cuidados como deveriam.
O próprio Ministério do Trabalho não cumpre a sua parte, e, quando cumpre, a multa é tão pequena, tão irrisória, que os empresários pagam a multa rindo e continuam fazendo as mesmas coisas, sem melhorar nada. Agora, com a ação do Ministério Público, as denúncias começaram a aparecer. Diz o Ministério Público que está denunciando tudo que tem encontrado e tem aplicado pesadas multas, de 26 milhões, 14 milhões, porque o Ministério Público faz o cálculo baseado numa publicação dos frigoríficos de quanto um homem produz por ano de trabalho. A partir deste valor e calculando uma expectativa de vida, cobra-se na Justiça aquele ‘X’ que ele produz por ano, na expectativa de 40 anos úteis de trabalho, e tem dado ações muito grandes.
Uma outra característica onde tem indústria avícola é o número de farmácias existente na cidade. É impressionante, porque o consumo de medicamentos é muito grande. E os medicamentos vendidos lá são anti-inflamatórios, remédio para dor e calmantes. A outra questão também é o número de doentes enviados para a previdência nessas cidades. A previdência também tem que se envolver, porque quem está pagando a conta somos nós, através da Previdência Social. Esses doentes são jogados lá e a empresa diz que cumpre a lei, que paga suas obrigações. Agora, por pagar as obrigações não tem direito de mutilar, não tem direito de adoecer.
A cadeia produtiva avícola, por exemplo, passa de 1 milhão e meio de trabalhadores envolvidos: tem o integrado, tem o transportador, a fábrica de ração, os apanhadores de frango, que apanham os frangos na madrugada. No setor bovino, fala-se em 500 mil. O setor melhor organizado no ramo alimentício é o setor avícola. Os frigoríficos bovinos estão nos estados de Goiás, Mato Grosso, Minas Gerais. Mas o setor avícola é um setor urbano. Ele está dentro da cidade porque precisa muita mão de obra. Então aí nós temos bastante organização. A média salarial está em torno de 800 a 900 reais por mês, porque não precisa de especialização nenhuma. Chegou em frente à fábrica, imediatamente já pode entrar e trabalhar.
O BNDES pega parte do dinheiro dos trabalhadores, dos fundos de garantia, e dá para as empresas. Mas onde está a contrapartida social? No mínimo as empresas tinham que prometer dar boas condições para os trabalhadores. Mas isso não acontece. Esse dinheiro público tem que ter uma contrapartida para os trabalhadores que fazem parte desse jogo, que não é só econômico.”
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=47632
Continuando a conversa, com a palavra Leandro Inácio Walter:
“Hoje, o Brasil é um dos grandes produtores e exportadores de carne de aves. Os custos sociais que envolvem essa produção não estão sendo computados pela Previdência. Um levantamento realizado pelo sindicado dos trabalhadores das empresas do estado de Santa Catarina demonstrou que a Sadia contribuiu com 30 milhões ao INSS, no período de 2003 a 2007, e que, em contrapartida, o INSS desembolsou 170 milhões em benefício previdenciário, seja como afastamento do trabalho, aposentadoria por invalidez, etc.
Hoje, os serviços de saúde que atendem aos trabalhadores adoecidos não mudam a realidade de trabalho dentro das empresas. São medidas paliativas, pois as condições de trabalho continuam as mesmas. Os trabalhadores tomam antidepressivos, mas a pressão no trabalho não se altera. A atuação sindical tem esse viés de apenas tratar os sintomas e não a causa, embora estejam tentando dar maior visibilidade aos casos de doença do trabalho.
Ao cobrar metas, as chefias tratam os funcionários de maneira ofensiva para instaurar o medo no ambiente de trabalho. Eles, por sua vez, muitas vezes não conseguem atender às suas necessidades básicas como ir ao banheiro, tomar água, ir ao atendimento médico da empresa. O medo tem um papel muito forte para manter os trabalhadores na produção.
Como um indivíduo vai trabalhar em um ambiente de trabalho em que não possui seus direitos básicos respeitados? Ouvi relatos de pessoas que não conseguiam ir ao banheiro e acabavam trabalhando urinadas e defecadas. Nós estamos falando da situação de trabalho de um local que produz alimentos.
Perguntei para os trabalhadores entrevistados se eles comiam frango, e a maioria disse que não. Isso tem a ver com a qualidade do produto que é produzido, com o clima de trabalho que existe dentro da empresa.
Quais são os principais sintomas de doença do trabalho apresentado pelos trabalhadores de frigoríficos?
São geralmente problemas mentais: as pessoas evitam contato social, ficam deprimidas, algumas tentam cometer suicídio, outras apresentam quadros de sofrimento grave. Para se ter uma ideia, muitos dos trabalhadores que participaram da pesquisa vinham acompanhados de familiares, pois tinham medo de se perder na cidade. Eles relatavam que se esquecem das coisas, que chegavam ao mercado e não lembram o que iriam comprar, por exemplo.”
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=47879
Qual a diferença do massacre, do canibalismo e da tortura praticados durante a Conquista dos portugueses e dos espanhóis com os relatos da situação da classe trabalhadora nas fábricas de hoje? Fábricas que fazem parte do complexo do agronegócio.
Para os cristãos portugueses era crime ser antropófago: comer carne humana, mas não é crime massacrar milhares de pessoas que querem permanecer livres e não estarem sujeitas à ganância devoradora canibalista dos conquistadores capitalistas.
As atrocidades da Conquista nos causa revolta. A atrocidade da exploração capitalista é encarada como normal. Por que? Porque a Ditadura do Pensamento Único que legitima a Ditadura do Capital nos convenceu de que isto é assim e assim sempre será e não há outra forma de organizar a vida e a sociedade além do capitalismo.
Aí é que entra o Evangelho do Menino Jesus que denuncia a opressão capitalista e aponta para a proposta da construção desta nova sociedade não capitalista que é o Reino de Deus.
Neste Natal podemos dizer bem alto: Há outra proposta de organizar a sociedade: o Reino de Deus. O capitalismo é o instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção desta nova sociedade não capitalista que Jesus chama de Reino de Deus.
O Natal nos traz esta notícia de alegria: Existe outra proposta além do capitalismo. Esta proposta é o Reino de Deus que começou a ser construído a partir de uma criança, a partir de uma manjedoura, a partir da classe camponesa oprimida. O Natal nos anuncia: Deus continua se fazendo classe subalterna para acabar com a sociedade de classes. O Natal nos anuncia que Deus continua no meio da classe oprimida, hoje, a classe trabalhadora, para acabar com o capitalismo que é o oposto do Evangelho do Reino de Deus. No Natal os anjos anunciaram aos camponeses pastores que Deus está no meio da classe camponesa como camponês e hoje anuncia que ele continua com a mesma postura de então, ele está com e no meio da classe trabalhadora para organizá-la na luta contra o capital em direção da construção, a partir da classe trabalhadora, desta nova sociedade que Jesus chama de Reino de Deus. O Natal nos anuncia que a partir da luta de classes de hoje entre capitalistas e trabalhadores Deus está com e na classe trabalhadora. Por que? Porque somente ela quer e tem as condições de participar da construção de uma nova sociedade não classista e igualitária, segundo as características contidas no Evangelho do Reino de Deus. O Natal nos anuncia a denúncia de que o Evangelho do Menino Jesus, como na época da Conquista, continua a legitimar a antropofagia capitalista, onde a classe trabalhadora é devorada e triturada pela ganância da dinâmica do capital. O Natal nos anuncia que para legitimar o lucro, o mais valor produzido por parte do trabalho realizado e não pago, o Evangelho do menino Jesus é usado para legitimar o roubo e a rapina capitalista. O Natal nos anuncia pela denúncia que o diabo se faz deus, no capital, mas Deus se fez carne no menino camponês Jesus de Nazaré, que o capitalismo transforma em produto falsificado vendido pela televisão no açougue do capitalismo. O Natal nos anuncia que um dos produtos falsificados do capitalismo é o Papai Noel que vem nas cores da Coca Cola para legitimar o capital. O Natal nos anuncia que outro produto falsificado, que o capitalismo nos vende como autêntico, é que a fé em Jesus Cristo nos deixará ricos. O Natal nos anuncia que o Evangelho de Jesus Cristo não é uma mercadoria vendida no mercado religioso conforme o gosto, a necessidade e a vontade do freguês. O Natal nos anuncia que os Herodes de hoje também não admitem que o menino Jesus proponha uma nova sociedade não capitalista e igualitária. O Natal nos anuncia que os Herodes de hoje continuam se sentindo ameaçados por esta nova sociedade não classista e não capitalista que é o Reino de Deus construído por Jesus, com a nossa ajuda a partir do batismo e da fé nele, em oposição ao capitalismo. O Natal nos anuncia, pela reação do rei Herodes (Mt 2.1-23), que este menino Jesus e seus seguidores até hoje são essencialmente subversivos (Rm 12.2) e até hoje continuam ameaçando a ordem estabelecida pela classe economicamente dominante que também hoje controla o Estado, que por sua vez é controlado pelo capital, para que este possa se reproduzir indefinidamente e sem oposição por parte da classe por ele explorada e massacrada: a classe trabalhadora. O Natal nos anuncia que chegou o início de um novo tempo que vai começar a acabar com o capitalismo porque ele é o instrumento que o diabo usa para tentar derrotar a proposta do menino Jesus que se chama: Reino de Deus. O Natal nos anuncia que o Reino de Deus vai ser construído de qualquer jeito por Jesus e será concluído “quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte” 1 Co 15.24-26.
“Agora, veio a salvação, o poder,
o reino do nosso Deus
e a autoridade do seu Cristo,
pois foi expulso o acusador de nossos irmãos,
o mesmo que os acusa de dia e de noite, diante do nosso Deus.
Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro
e por causa da palavra do testemunho que deram
e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida.
Por isso, festejai, ó céus,
e vós, os que neles habitais.
Ai da terra e do mar,
pois o diabo desceu até vós,
cheio de grande cólera,
sabendo que pouco tempo lhe resta” Ap 12.10-12.
A forma que o diabo usa hoje é a forma do capital. O diabo, na forma do capital, sabe de antemão de sua derrota por isso ele persegue e mata a todos que a ele resistem, na tentativa de lhe dar uma sobrevida. Lutando contra o capital estaremos lutando contra o diabo e a favor do Evangelho do Reino de Deus. O capital já foi vencido no primeiro duelo, pois em suas entranhas está a sua destruição: a classe trabalhadora, animada e guiada por Deus na luta pelo Reino de Deus. Lembremo-nos: “Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo”. Jo 16.33 A vitória final é só uma questão de tempo que acontecerá no Juízo Final.
O Natal nos quer lembrar do porque Deus se fez pessoa no camponês palestino sem terra e sem teto Jesus de Nazaré: para construir o Reino de Deus, uma nova sociedade não capitalista e não classista. Por isso: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre as pessoas, a quem ele quer bem” Lc 2.14.
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