1 de dezembro de 2012

Natal: Deus na contramão.



Segundo a Teologia da Prosperidade, defendida pelas igrejas pentecostais, os poderosos e os ricos são ricos porque foram abençoados por Deus e Deus só está com os ricos. Os pobres são pobres porque estão longe de Deus, dizem os pentecostais. Os Evangelhos de Mateus e Lucas, na história do Natal, mostram que não é isto, muito pelo contrário, Deus está no meio dos empobrecidos, pois Ele mesmo se fez pobre (2 Co 8.9: "se fez pobre por amor de vós"), para a partir destes fazer as grandes mudanças a partir do que Jesus Cristo chama de Reino de Deus.

Os magos (que não eram reis, leia direito o texto bíblico!), segundo Mt 2, foram procurar o Messias no palácio do rei Herodes na capital, no meio dos ricos e poderosos, mas ele não estava lá. Encontraram-no fora da cidade, numa estrebaria, deitado numa manjedoura, porque os pobres em nossa sociedade não são acolhidos em suas necessidades. Depois o Deus encarnado na pessoa do camponês palestino sem terra Jesus de Nazaré teve que fugir e viver no Exílio no Egito porque os poderosos o viam como uma ameaça; o que era verdade, pois ele veio para acabar com a opressão e a pobreza que é gerada pela exploração dos ricos e poderosos sobre o povo, como ele diz em Lc 4.18-19.

Esta postura de Deus se colocar na contramão da história dos poderosos não é coisa nova. Já no relato do Êxodo ele mostra que ele anda com os camponeses sem terra escravos no Egito e luta contra o poderoso Faraó. Na luta de classes de nossa sociedade Deus sempre se coloca do lado e com a classe explorada. Os relatos bíblicos ainda nos mostram que Deus continua com os camponeses empobrecidos quando estes chegam à Palestina e lutam, comandados por Deus, contra os poderosos que controlam a região e que moravam em cidades e pelo aparato do Estado controlavam toda a região da Palestina, como nos conta Js 6-8. Ali, nas montanhas da Palestina, Deus constrói a partir da classe camponesa uma nova sociedade de iguais onde a terra está sob o controle de toda a sociedade, não é propriedade privada, pois ali não havia classes sociais e nem Estado.

Mesmo quando este povo camponês se descuidou e de repente ficou novamente sob o controle dos ricos e poderosos, segundo 1 Sm 8, Deus enviou profetas e profetisas para anunciar que Deus não mudou de lado: ele continua com a classe camponesa explorada, perseguida e oprimida e chama, pelas palavras do profeta Isaías, os poderosos, que controlavam o aparato do Estado e o sistema econômico vigente, de ladrões e corruptos (Is 1.21-31).

Os relatos do Natal nos querem ajudar a olhar de que lado Deus está. Ele está do lado dos que denunciam a opressão política e econômica, como nos relata Lc 2.1-5 e 3.1-2, dizendo quem são os exploradores e opressores do povo que não querem que haja uma nova sociedade de iguais que Jesus Cristo chama de Reino de Deus, que é sua mensagem central, segundo Lc 4.43: "É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado". Para isto Deus se fez pessoa num camponês sem terra e sem teto para a partir da periferia da sociedade israelita, de Nazaré da Galiléia (Jo 1.46), mostrar que ele anda na contramão da vontade dos poderosos e por isso ele foi crucificado como subversivo e herege, conforme Lc 23.2 e 5: "Pegamos este homem tentando fazer o nosso povo se revoltar, dizendo a eles que não pagassem impostos ao Imperador e afirmando que ele é o Messias, um rei. ... Ele está causando desordem entre o povo em toda a Judéia". Deus, que se tornou camponês sem terra palestino denominado Jesus de Nazaré, o Servo (Fp 2.7: antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo), foi crucificado porque andou na contramão dos interesses dos ricos e poderosos que exploravam e oprimiam o povo a partir do Estado e do sistema econômico escravista vigente.

O apóstolo Paulo continua afirmando que Deus continua neste caminho da contramão da história dos poderosos e opressores dizendo em 2 Co 12.9-10: "Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte".

O apóstolo Paulo havia entendido bem a história e o acontecimento do Natal, pois pela sua prática missionária também era mal visto porque andava na contramão da história, como nos relata o livro de Atos 24.5: "Porque, tendo nós verificado que este homem é uma peste e promove sedições entre os judeus esparsos por todo o mundo, sendo também o principal agitador da seita dos nazarenos".

Vamos ler os relatos de Natal segundo Mateus e Lucas com os olhares que Deus usa que vem da contramão da história para sabermos onde procurar Deus. Segundo Mt 25.31-46 Deus está com e entre as vítimas do sistema dominante, hoje o capitalismo. Se acolhermos estas vítimas do capitalismo (que são a esmagadora maioria do povo brasileiro) estaremos acolhendo o próprio Deus neste Natal, caso contrário o estaremos expulsando de nossas vidas como Herodes e o Faraó o fizeram.

Günter Adolf Wolff



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