29 de outubro de 2013

Liberdade à luz da Reforma.




"Liberdade à luz da Reforma" é o tema a ser abordado em outubro pela Comissão do Jubileu da IECLB, diz a Revista NovoOlhar.
Penso que este é um tema oportuno a ser discutido na IECLB, pois a tal da liberdade anda um tanto escassa nesta Igreja. Explico:
Nos dias 30-31 de agosto a 1 de setembro no Sínodo Uruguai se reuniu o Conselho Sinodal e outras lideranças das comunidades do Sínodo para elaborar o Planejamento Estratégico do Sínodo. Perguntei ao Conselho Sinodal se ele garantia aos/às pastores/as do Sínodo a pregação livre e pura do Evangelho. Um ex-presidente do Sínodo e membro do Conselho Sinodal, com uma longa caminhada de liderança em comunidade e paróquia, respondeu: "O Conselho Sinodal não garante nada", e ninguém desdisse o que ele falou, pois falou a verdade.
Isto significa que cada pastor/a está por conta própria. A Igreja ordena a pastorada e não lhes garante costas quentes quando pregam puramente o Evangelho de Jesus Cristo nas comunidades. Mas, pergunto, é perigoso pregar puramente o Evangelho do Reino de Deus na Igreja?
É, pois ele inevitavelmente vai entrar em choque com o reino deste mundo, o capitalismo, e sua forma presente na agricultura que é o agronegócio que produz alimentos envenenados para a população, tanto carne (frango, suíno e gado - cheios de antibióticos, anabolizantes, hormônios para crescimento e engorda) como grãos (milho e soja transgênica; trigo e feijão; estes dois últimos antes da colheita levam uma dose de veneno chamado Roundup para morrerem de forma parelha para facilitar a colheita. Um agricultor disse: "Pastor este trigo não é para comer é para vender". Ele não vai comer este trigo, mas alguém vai comê-lo.) Este sistema capitalista demoníaco força os agricultores a entrar neste modelo de agricultura química, pois não se oferecem outras saídas. Os agricultores que engordam frangos e suínos nem sabem o que tudo está dentro da ração que eles tratam às aves e suínos.
O Evangelho de Jesus Cristo choca-se frontalmente com este modelo de agricultura e com este sistema econômico construído em cima da exploração da classe trabalhadora que produz o lucro dos capitalistas e com isto produz a doença e a morte.
Mas quem persegue os/as pastores/as nas comunidades? O capitalismo e de que forma? No tempo do Império Romano era o Estado que perseguia os cristãos que pregavam puramente o Evangelho de Jesus Cristo. Hoje, normalmente (digo 'normalmente' porque tem muitas exceções), quem persegue os/as pastores/as são os membros dos presbitérios das comunidades e paróquias que são filiados à ACI, CDL, Lions, Rotary, Cooperativa do agronegócio, maçonaria, sindicato rural. Por que? Porque estes normalmente não admitem que exista outra forma de organizar a vida e a sociedade além do capitalismo. Só que o Evangelho de Jesus Cristo propõe o Reino de Deus como a forma de organizar a vida em oposição à forma deste mundo, o capitalismo. A função do/a pastor/a é anunciar o Reino de Deus (não o capitalismo) como a forma verdadeira de se organizar a vida e a sociedade em oposição ao capitalismo e seus modelos no campo e na cidade.
Como mecanismo de regulamentar esta repressão a Igreja tem o TAM e a Avaliação para controlar e intimidar a pastorada a não se oporem ao sistema deste mundo, o capitalismo, mesmo que a Bíblia diga que a gente não é para se conformar com este século (Rm 12), se manter incontaminado do mundo (Tg 1,27) e como diz 1 João 2.15 "Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele".
Gostei da sinceridade deste conselheiro sinodal em dizer o que de fato existe nesta Igreja, o que não foi contestado pelos outros conselheiros; apenas o Pastor Sinodal disse que ele garante costas quentes à pastorada para que possam pregar livre e puramente o Evangelho. De fato ele não garante nada, por mais que queira, depois que o/a obreiro/a for afastado/a da paróquia por agredir os interesses do capital ao visitar e acompanhar um acampamento de sem terra, um acampamento de indígenas, um acampamento de atingidos por barragens que está ocupando um canteiro de obras de uma hidroelétrica ou falar dos malefícios do agronegócio e do capitalismo em si.
Como esta Igreja vai ser Igreja de Jesus Cristo se ela em sua estrutura não garante a livre e pura pregação do Evangelho de Jesus Cristo nas comunidades? A pastorada está por conta própria (Lc 10.3 Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos.), pois a instituição não lhes garante apoio no caso de serem expulsos da paróquia por pregarem puramente o Evangelho de Jesus Cristo que se confronta com o capitalismo.
Pensemos sobre isto no mês de outubro onde o tema é: "Liberdade à luz da Reforma".

A Base da IECLB.




Diante da realidade sempre temos duas posturas: conformar-se com ela ou não conformar-se com ela. Paulo diz em Rm 12 que a essência do Evangelho de Jesus Cristo é não nos conformarmos com a realidade existente em nosso mundo. Quem não se conforma com a realidade acaba sendo chato porque sempre tem que repetir a mesma coisa enquanto a realidade não for mudada. O MST já há 30 anos grita inconformado: Reforma Agrária Já! Reforma Agrária Já! Reforma Agrária Já! Enquanto a tal da Reforma Agrária não vier o MST continuará gritando: Reforma Agrária Já! Eu como não sou sem terra tenho outro tema do qual continuo gritando: Fora o TAM e a Avaliação, abaixo a Reestruturação Neoliberal da Direita na IECLB! Coisa chata essa de sempre se falar a mesma coisa!
O modelo de Igreja que questiono é este modelo da pequena burguesia, o qual também a classe trabalhadora acaba adotando por desconhecer outro. Se olharmos para a realidade da Igreja como Deus olhou para a realidade da luta de classes da sociedade tanto no AT como no NT forçosamente teremos que construir outro modelo de Igreja que vai ao encontro da classe explorada pela classe capitalista de hoje. Tanto no AT como no NT Deus quis construir outro projeto de sociedade. No NT a Igreja seria o instrumento para tal tarefa de construir esta nova sociedade que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. A tarefa primeira da Igreja não é meramente se reproduzir, mas é participar ativamente na construção desta nova sociedade igualitária e não classista que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. No entanto, na Igreja pouco se fala da construção de uma nova sociedade, como a requer o Evangelho de Jesus Cristo. Por que não se fala disto? Porque isto entra frontalmente em choque com o projeto de sociedade que a pequena burguesia, a serviço da grande burguesia, defende com o apoio da classe trabalhadora alienada pelo processo do capital. A Igreja acabou sendo um fim em si, quando é somente um instrumento (um meio) de Deus no processo de construir esta nova sociedade não capitalista, não classista, igualitária, de irmãos/ãs que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. No processo da construção do Reino de Deus é inevitável o enfrentamento com o projeto vigente na sociedade, que Paulo chama de 'este século', hoje o capitalismo. Mas, dentro da Igreja é totalmente ilusório pensar em pregar nesta perspectiva; quem faz isto não dura muito tempo na paróquia, pois o/a pastor/a está lá para fortalecer o projeto de Igreja que não é revolucionário, que é acomodador ao capitalismo. A Estrutura da Igreja tem a função de garantir que a pregação do Evangelho de Jesus Cristo seja revolucionária, pois o Reino de Deus é um processo revolucionário. O que a estrutura faz? Ela não garante isto. Envia a pastorada para pregar o Evangelho dentro da perspectiva do modelo de Igreja da pequena burguesia que legitima o capital. Um dos mecanismos da estrutura para garantir este modelo legitimador do capital está no EMO que se chama TAM e Avaliação.
Jesus Cristo foi chamado de agitador (Lc 23.13 Então, reunindo Pilatos os principais sacerdotes, as autoridades e o povo, 14 disse-lhes: Apresentastes-me este homem como agitador do povo;) e Paulo de peste, agitador e promovedor de sedições (At 24.5 Porque, tendo nós verificado que este homem é uma peste e promove sedições entre os judeus esparsos por todo o mundo, sendo também o principal agitador da seita dos nazarenos,) e os cristãos são as ovelhas mais mansas que se conhece e não questionam o sistema deste mundo que Javé em Jesus Cristo veio mudar radicalmente a partir de uma opção de classe, tornando-se classe camponesa, para a partir da perspectiva da classe explorada e oprimida (1 Co 1. 27 Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; 28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são;) construir uma sociedade sem classes; assim como Javé o fez no processo revolucionário do Êxodo na montanhas da Palestina onde os meios de produção (a terra) fico sob o controle de toda sociedade (das tribos) e não havia Estado, nem classes sociais e nem templo. A Igreja é este instrumento revolucionário usado por Deus para destruir a sociedade classista capitalista e construir uma sociedade sem classes: o Reino de Deus. 1 Jo 5.4-5 diz: "porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?". O mundo é o que exatamente hoje? O capitalismo. Quem crê em Jesus Cristo vence o mundo real e concreto chamado capitalismo. Assim, a fé em Jesus Cristo é essencialmente revolucionária e desta forma a Igreja de Jesus Cristo é revolucionária. A IECLB que se diz Igreja de Jesus Cristo no Brasil é revolucionária? As comunidades da IECLB se entendem como revolucionárias e tem uma prática revolucionária? Ali se organizam em seus espaços (igrejas, salas e pavilhões) a revolução do Reino de Deus a partir da classe trabalhadora explorada pelo capital num processo de extinguir o capitalismo? Na frente do altar de nossas igrejas se reúnem os sem terra, os atingidos por barragens, os sem teto, os trabalhadores sindicalizados, os estudantes, os funcionários públicos mal remunerados, os favelados, as vítimas dos venenos aplicados na agricultura, demais trabalhadores explorados e vítimas do capital porque isto está na constituição de nossa fé em Jesus Cristo que vence o mundo? Se não for isto, então para que serve a IECLB a não ser para legitimar este mundo que Jesus Cristo já venceu na Páscoa? Estamos apostando num projeto já derrotado por Jesus Cristo na Páscoa? Estamos na contramão do próprio Cristo? Jesus diz em Mt 12.30: "Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha". Como IECLB estamos ajuntando ou espalhando?
Os documentos teológicos oficiais da IECLB estão bem dentro da linha revolucionária do Evangelho de Jesus Cristo, mas são apenas documentos, que a maioria nem conhece, nem pastores/as e muito menos as comunidades. O nosso problema é a prática comunitária que é controlada pela pequena burguesia aliada ao capital, com o apoio de trabalhadores alienados; que vão continuar alienados porque não se permite a pregação pura e reta do Evangelho na Igreja. Até se permite, mas quem o faz está com a corda no pescoço e o pé no traseiro e vai para a rua. O TAM e a Avaliação são instrumentos estruturais para viabilizar este projeto de igreja da pequena burguesia a serviço do capital, portanto do diabo (porque o capital é um dos instrumentos que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus), para intimidar, amedrontar e ameaçar com o desemprego a pastorada.
A Constituição da IECLB diz que sua base são as comunidades. Esta base, a comunidade/paróquia, é que determina tudo na Igreja. Foi ela que determinou a Reestruturação de 1997. Na Reestruturação não se mexeu na base, comunidade/paróquia, apenas se mexeu no Distrito Eclesiástico, na Região Eclesiástica e na estrutura da Direção da IECLB. Por que não se mexeu na base: comunidade/paróquia? Porque ela está conforme os interesses dos setores conservadores que inventaram a Reestruturação capitalista neoliberal. O problema de nossa base comunitária não são as pessoas exploradas e empobrecidas pelo capital, mas são as lideranças aliadas ao capital (alguns sem o saber, no entanto, algumas lideranças o sabem muito bem) que dão a linha teológica na Igreja. Na verdade a IECLB é uma Igreja privilegiada porque a esmagadora maioria de seus membros são pessoas pertencentes à classe trabalhadora explorada (a maioria de nossos membros são pobres e recebem até 3 SM), mas não são, na maioria das vezes, estes que são a direção das comunidades. Temos em nossas comunidades um grande potencial em pessoas empobrecidas e exploradas pelo sistema capitalista, mas que são sufocadas pela direção teológica (mais ideológica) das lideranças da pequena burguesia que mandam nas comunidades que tem mais influência na paróquia. Em muitas situações as comunidades pequenas e empobrecidas enfrentam as comunidades maiores que determinam as coisas na paróquia, mas é uma luta inglória, desgastante e a longo prazo perdida. A dinâmica da dominação é exatamente de intimidar os empobrecidos para que não tentem enfrentar os representantes do sistema e isto se reproduz na comunidade e na paróquia. Os pobres até chegam ao/a pastor/a e dizem nós estamos contigo, mas não enfrentam a direita encastelada no poder nas reuniões, via de regra.  Na direção da comunidade sede (onde reside o/a pastor/a) e na paróquia normalmente estão os representantes do capital (só representantes, porque capital eles também não tem). Estes normalmente têm clareza ideológica, não teológica, pois transitam no comércio local e fazem parte dos instrumentos locais de reprodução do sistema capitalista: prefeitura, CDL, ACI, Maçonaria, Lions. Não dá para dizer que o problema da IECLB está na Sr. dos Passos ou no Conselho da Igreja, estes são apenas o espelho, o reflexo das comunidades, e representam e reproduzem o modelo de Igreja que a pequena burguesia defende nas comunidades. A coisa mais difícil é mexer nas comunidades, a direção da Igreja não tem peito nem de enfrentar a corrupção que há nas comunidades quando estas sonegam parte do Dízimo. O sistema de Cotas da antiga estrutura foi eliminado por causa da corrupção (e substituído pelo Dízimo) e ela continua na Reestruturação com o desvio para o caixa das comunidades de parte do Dízimo devido ao Sínodo e à IECLB.
A chave de tudo antigamente estava no Distrito Eclesiástico e na luta pelo poder de alguns Pastores Regionais e ex-Regionais conservadores em querer se tornar Pastor Presidente. Qual era o problema dos Distritos Eclesiásticos. Um dos problemas dos DEs era que eles eram incontroláveis e nunca votavam nos Concílios como a direita queria que votassem. Outro problema é que os DEs funcionavam, via de regra, e, pior para os conservadores, pastores/as e leigos/as dos Distritos Eclesiásticos estavam engajados nas lutas populares, pois o movimentos de massas estava em ascenso nos anos 80 no Brasil. Pastores/as e leigos/as dos distritos levavam as reivindicações das massas para a discussão nos concílios distritais, regionais e geral. Era a luta contra a ditadura civil-militar, a luta pelas Diretas Já, a luta pela redemocratização, a luta pela terra dos sem terra e povos indígenas, a luta dos setores urbanos e tudo isto não fechava com a teologia dos setores de direita na IECLB tanto de pastores/as como, e principalmente, das comunidades. Havia iniciativas nas comunidades/paróquias de tomada de poder por parte destes setores engajados nas lutas populares e no movimento ecumênico ligado à teologia da libertação. Assim em muitas comunidades e paróquias estes/as leigos/as de esquerda ascenderam para a diretoria de muitas comunidades e paróquias incentivados e articulados pelos seus pastores/as que discutiam todas as coisas referentes à Igreja e à realidade nas Conferências de Obreiros/as.
A PPL em seu encontro nacional em São Paulo em meados de 80 até tomou uma resolução de que a esquerda deveria tomar o poder nas comunidades e paróquias e demais instâncias da IECLB. Isto deu um belo bafafá na Igreja. Pois, é normal a direita estar no poder, como a esquerda tem a ousadia de tomar o poder que sempre foi da direita? Lembro de Ibirubá, RS onde uma senhora do grupo que há anos controlava o poder na comunidade e na paróquia ao se referir à alguém do PT que era presidente da paróquia: "O que a petezada quer na diretoria?" Para a direita era e continua sendo o fim da picada o fato de alguém da esquerda ser da diretoria da comunidade ou da paróquia; este é e sempre foi um espaço ocupado pela direita, o que a esquerda quer ali? Eles não podem ocupar este espaço. É a velha luta de classes correndo solto na Igreja.
Nos anos 80 havia em muitos Distritos Eclesiásticos em suas diretorias e nas comunidades e paróquias pessoas engajadas nas lutas populares e com isto as pautas dos movimentos populares acabavam chegando aos Concílios Distritais, Regionais e Concílio Geral. Aí soou o alarme para a direita que historicamente ocupou os espaços de poder na Igreja, ela ficou apavorada, era necessário fazer algo. Para lembrar de tal pavor: o Alfredo Müller (filiado ao PT) que era o representante do Distrito Uruguai na Diretoria da Região III conta que ao receber uma carona do Becker de Chapada, representante do Distrito Ijuí, até Palmeiras das Missões este lhe perguntou no caminho: "Se o Lula ganhar a eleição vocês vão me deixar viver?" Aí dá para entender o pavor na qual a direita viveu naquela época. Este pavor era real e nisto era necessário dar um jeito. O jeito foi o movimento pela Reestruturação da IECLB pela cabeça iniciado no final dos anos 80.
Em todo o período dos anos 80 foram tiradas decisões pastorais nos Concílios Gerais da IECLB no sentido de se fazer um trabalho de base nas comunidades/paróquias com os movimentos populares. Isto entendido como parte do trabalho missionário da Igreja. É óbvio que a Direção da Igreja nunca encaminhou como viabilizar isto na prática, mas nas paróquias havia o envolvimento direto de pastores/as e de leigos nas lutas populares, por isto isso chegou ao Concílio Geral. Tudo dentro da ótica da Teologia da Libertação. Também na FacTeol - hoje EST - havia um grupo bem grande de esquerda se reunindo e discutindo a TdL e quando estes chegavam nos Distritos automaticamente se engajavam nas lutas populares e discutiam a partir do púlpito e nos grupos de estudo os temas da luta pela terra, da luta contra as barragens, da redemocratização, etc. O 'perigo vermelho' era, portanto, concreto do ponto de vista da direita que ainda era a esmagadora maioria na Igreja, mas o pessoal da esquerda, que era minoria, mas muito ativo e dinâmico aproveitando o espírito da época, que era de luta contra a ditadura civil-militar, conseguia pôr estas pautas nos centros decisórios da Igreja e a direita não tinha legitimidade, diante do movimento de redemocratização no país, para se contrapor. A prática da direita então era de engavetar as decisões conciliares e não encaminhá-las para execução nas paróquias. Aí ficava a cargo de cada pastor/a ou Distrito se as encaminhava ou não. Alguns Distritos nos quais havia um engajamento com o movimento popular e ecumênico as decisões eram encaminhadas de uma ou outra forma. O problema era, na época, como hoje, que nós não estamos acostumados a fazer análise de conjuntura eclesial e nem da realidade do país e por isso não tínhamos claro esta luta de classes que se desenvolvia no seio eclesiástico. Por isso não se entendia todo este processo da Reestruturação que foi puxado pela direita na Igreja. A gente era contra o processo de Reestruturação por causa dos argumentos mentirosos que foram usados para justificar este processo, mas não entendíamos bem que era um processo mais ou menos planejado da direita para garantir que o poder da direita fosse ampliado nos centros decisórios da Igreja contra a TdL e o risco que o capitalismo, segundo eles, estava correndo com a ascensão da esquerda na Igreja e no país. O mesmo espírito reinante nas comunidades deveria reinar em toda estrutura da Igreja. Aí veio um papo demagógico de democracia e participação maior de leigos nas instâncias da estrutura, mas não analisamos bem que 'leigos' assumiriam os espaços da estrutura, claro leigos da direita. O povo não é de direita por opção, mas isto se deve analisar a partir da ideologia da classe dominante: o povo desde pequeno é ensinado a não ver as coisas como elas de fato são e por isso repete o que a ideologia dos capitalistas lhe ensina. A ideologia é o resultado da luta de classes e que tem por função esconder a existência dessa luta. O poder ou a eficácia da ideologia aumenta quanto maior for a sua capacidade para ocultar a origem da divisão social em classes e a luta de classes. Como ninguém explica ao povo como o capitalismo funciona ele continua pensando como os capitalistas querem que pense. Com este jeito de pensar o povo participa da comunidade e isto determina sua teologia. Como na Igreja não há um planejamento de formação que inclua a explicação de nossa realidade esta teologia da direita vai continuar a determinar a vida e o pensar de nosso povo. Na verdade o que há é que a Igreja tem medo de explicar o funcionamento do capitalismo ao povo por causa da reação da direita que manda nas comunidades e paróquias. Assim o que determina a vida das comunidades é a dinâmica da ideologia capitalista e não a dinâmica do Evangelho do Reino de Deus que é o oposto do capitalismo. Dentro desta realidade a Igreja ordena os/as pastores/as para que preguem pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo. Como se isto fosse possível sem rupturas na comunidade e sem que os/as pregadores/s sejam expulsos/as da paróquia por serem subversivos e agitadores como Jesus Cristo o foi. Lembro Lc 23.13-14: "Então, reunindo Pilatos os principais sacerdotes, as autoridades e o povo, disse-lhes: Apresentastes-me este homem como agitador do povo". Pastor/a que começa a explicar como funciona a nossa sociedade e diz claramente o que é o que ou, pior ainda, quando se mete nas organizações populares não dura muito na paróquia. O máximo que agüenta é até o vencimento do TAM e aí a paróquia o despacha gentilmente, na melhor das hipóteses. Uma/a agitador/a como Jesus Cristo a paróquia não quer e nem precisa. O que ela quer e precisa é de alguém que legitima a nossa realidade de luta de classes e a nossa sociedade dividida em classes sociais como algo da vontade divina. Falar que o capitalismo é um dos instrumentos que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus não é coisa que se diga do púlpito. Por isso: Crucifica-o!
Como é isto nas comunidades e paróquias? Quem normalmente compõe as diretorias, ou se vamos usar a linguagem eclesiástica: os presbitérios? No interior normalmente são os agricultores em melhores condições financeiras que tem um carro para ir às reuniões do Conselho Paroquial e na cidade normalmente são comerciantes, pequenos industriais e profissionais liberais. Estes nas cidades são os que normalmente também fazem parte da ACI, CDL, Lions, CTG, Rotary e também alguns da Maçonaria. São todos árduos defensores do capitalismo, portanto esta história de fazer um trabalho de base com o movimento popular não é coisa que se possa apoiar. Na maioria dos casos, são estes os leigos que representam as comunidades e paróquias na, hoje, Assembléia Sinodal e Concílio da Igreja. Na estrutura anterior havia um número maior de pastores/as nos Concílios, agora são 3 leigos por um pastor/a; e destes 3 a maioria são conservadores e do 1 (pastor) também encontramos muitos conservadores.
A partir dos anos 90 estas temáticas do movimento popular não entraram mais em pauta, era o já descenso do movimento de massas no Brasil e vivíamos um intenso bombardeio da propaganda neoliberal que dizia que não há outra alternativa além do capitalismo. O capitalismo veio para ficar eternamente, pois é o fim e a realização da História, portanto o futuro já chegou, não há mais futuro; o presente é o futuro. Esta bela propaganda nos pegou de surpresa e por causa de nossa fraca teologia engolimos esta asneira, pois a Bíblia deixa muito claro exatamente o contrário da propaganda neoliberal: nós temos esperança, nos é prometido um futuro e este já começou, em parte, pelo processo coletivo da construção do Reino de Deus. Esquecemos, na época, de dizer que o capitalismo não salva, só Jesus Cristo salva! Só isto já derrubaria todo o processo da direita.
Por isso nas leis desta nova estrutura eclesiástica desenhada pela direita, com apoio de alguns ingênuos que eram e/ou se diziam de esquerda, temos uma série de restrições aos pastores/as: 3 (leigos/as) por 1 (pastor/a) nas instâncias de poder e o EMO inclui o TAM e a Avaliação como leis repressivas para avisar aos navegantes que não se comportam conforme os interesses das bases (leia-se direita no poder nas comunidades/paróquias) e principalmente se acabou com a maior instância eclesiástica subversiva que era o Distrito Eclesiástico, que não votava nos Concílios Gerais nas propostas da direita, nem elegia para Pastor Presidente os representantes da direita e colocava na pauta as lutas do povo empobrecido pelo capitalismo e, pior, participava das lutas do movimento popular e sindical e colocava leigos engajados neste processo da luta de classes de nossa sociedade nas diretorias das comunidades/paróquias e Distrito Eclesiástico e Região. O símbolo desta luta de classes na Igreja na RE III era o Alfredo Müller (PT), colono do DE Uruguai, e o Arnildo Becker, granjeiro de soja do Distrito Ijuí. Eram os dois expoentes deste confronto teológico e da luta de classes na IECLB na RE III.
No DE Uruguai a pastorada havia tomado como decisão política de viabilizar a eleição para as diretorias das comunidades e paróquias pessoas que estavam engajadas no movimento popular e sindical ou participava de um partido de esquerda. Chegamos a ter nos Concílios Distritais ampla maioria dos representantes das paróquias pessoas que eram de esquerda. Na época faltou clareza teológica para nós e também clareza da luta de classes para potencializar esta realidade. Como na Igreja não se estuda o marxismo com certa clareza e assiduidade não conseguimos na época entender o processo no qual estávamos. Hoje nas Assembléias Sinodais se chega ao cúmulo de só haver leitura de relatórios e nenhuma discussão de um tema teológico e muito menos da realidade, menos ainda se faz uma análise da realidade brasileira na qual como Igreja estamos inseridos e menos ainda se faz uma análise da conjuntura da IECLB (a não ser esta de que a Reestruturação é um sucesso total, o que do ponto de vista da direita não deixa de ser verdade). A melhor forma de se entender a atual realidade eclesiástica é ler o Jornal Evangélico Luterano. Nos últimos 5 anos houve apenas uma reportagem sobre a realidade brasileira, pois era a vez do Sínodo da Amazônia colocar as suas atividades e houve então um artigo de duas páginas sobre a Realidade da Amazônia, isto foi lá por 2009 ou 2010. A cada Jornal que recebo folheio rapidamente para ver se há alguma reportagem sobre a realidade na qual vivemos como Igreja, e nada! Depois que o  JorEv virou jornal oficial da IECLB ele endireitou, na verdade reflete a teologia atual da Igreja. A revista NovOlhar, da Editora Sinodal (que antes editava o JorEv), procura fazer o contraponto colocando temas da realidade brasileira. Estamos num atraso e marasmo teológico monumental na Igreja.
Lembro do professor e Dr. Oneide Bobsin, reitor da EST, que ao falar das críticas que recebe por parte das comunidades por causa de posturas de estudantes, diz: "Os estudantes vêm das comunidades. São as comunidades que nos enviam os estudantes, portanto eles trazem para a EST a realidade das comunidades". Só que nas comunidades não há espaço para expor estes temas que eles expõem na EST porque as comunidades são muito conservadoras, ao menos, normalmente, as suas direções. Apesar de que nem todas as diretorias das paróquias são conservadoras, há diretorias em que se pode com muita liberdade discutir os temas que os estudantes da EST discutem, como homofobia e casamento homossexual. Experimentei isto em Condor. Mas, no geral, a direita é muito militante e insistente e bate forte contra qualquer tentativa de diálogo. Graças a Deus o Estado é laico, apesar de se pautar pelos discursos raivosos da direita eclesiástica, tanto pentecostal, protestante ou católica, que em determinados temas esquecem suas divergências teológicas e estruturais, pois no fundo a sua teologia é a mesma.
Assim a Direção da Igreja é o reflexo fiel de suas bases. Isto significa que o problema não está na Sr. dos Passos, mas nas comunidades/paróquias. Ali precisa ocorrer uma Reestruturação no trabalho, na teologia e na compreensão de Igreja e o papel desta na sociedade; mas esquece, ali ninguém vai mexer; quem o tentar vai ser 'TAMiado' e severamente Avaliado como agitador; e lugar de agitador é fora da cidade na cruz!
Nos anos 80 se dizia, brincando, que as comunidades são da ARENA e os/as pastores/as são do MDB, hoje isto não mais confere. A pastorada, em sua maioria, também se acomodou com medo dos mecanismos de controle e pressão do EMO: TAM e Avaliação; que tiveram o efeito real e visível de legitimar o status quo capitalista contrapondo-se à proposta do Evangelho de Jesus Cristo. O que o povo da Sr. dos Passos poderia fazer, mas não vai fazer, seria enviar uma moção ao Concílio das Igreja propondo retirar do EMO o TAM e a Avaliação. O máximo que o povo da Sr. dos Passos fará, via Conselho da Igreja, é "humanizar a tortura", como diria o presidente terrorista estadunidense Bush, e vai 'humanizar' a avaliação. A Igreja ordena a pastorada e a instala nas paróquias para que pregue pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo, mas é a primeira que impede isto via leis e mecanismos de repressão que estão no EMO. Haja contradição! É claro que a pastorada tenta driblar como pode estes esquemas para que a sua pregação seja reta, mas muitos acabam cansando e se adaptando às exigências das direções das comunidades/paróquias para que falem apenas o que estas permitem. Sempre tem os/as que não se conformam com este século (Rm 12) e aí numa destas reuniões da Maçonaria, do CDL ou do Lions se decide que este/a pastor/a deve ser mandado/a embora e o é e não há nada que se possa fazer para reverter o caso, nem pela intervenção do Pastor Presidente. Os capitalistas via Maçonaria não mandam só na política brasileira desde o primeiro reinado (o atual vice presidente da República, Temer, é maçom), mas também em algumas paróquias da IECLB. Nós, pastores/as ingênuos, é que não nos damos conta disto, por acharmos que na Igreja não existe a luta de classes e que tudo funciona na base da harmonia e do amor ao próximo. A classe economicamente dominante no Brasil está usando a Igreja Cristã desde 1500 para legitimar a exploração da mão de obra, antes indígena e negra, e agora classe trabalhadora de todas as cores. Por isso a Igreja não pode e não deve fazer uma opção de classe como Javé a fez, desde que existe a luta de classes, para acabar com a sociedade de classes e a conseqüente luta de classes e construir uma sociedade de iguais, de irmãos e de irmãs, que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. No processo de construção do Reino de Deus é necessária a eliminação da sociedade de classes, caso contrário o Reino de Deus não será o Reino de Deus, mas a reprodução da sociedade classista diabólica. A Igreja tem que optar em quem seguir: Jesus Cristo ou o Capital, como diz em Mt 6.24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas".
Para termos uma idéia do que a Igreja Cristã a serviço do capital legitima e só ler o abaixo tirado da Página http://www.revistapersona.com.ar/Persona65/65Flammariom.htm
Em 14 de fevereiro de 1856, o Dr. Hermann Blumenau escreve uma carta ao Presidente (Governador) da Província de Santa Catarina apelando por socorro policial. Nela consta:
“...só uma medida grande e enérgica, uma desinfecção completa do terreno entre Itajaí Grande e o Mirim, uma destruição e aprisionamento deste bando de rapinas pode restabelecer a tranqüilidade e nos tirar deste estado lamentável.”
Reafirmando as constantes reclamações do Dr. Blumenau, o Presidente da Província de Santa Catarina, João José Joaquim, num pronunciamento público, em 1856 diz:
“Esses bárbaros, que não poupam nem mulheres, nem crianças, e que só pensam em roubar-nos e assaltar-nos de emboscada, segundo o meu modo de ver, não poderão nunca ser tratados com bondade e condescendência. (....) Cada vez me convenço mais que o prático, senão até mesmo necessário, é arrancar os selvagens à força das florestas e colocá-los em lugar onde não possam escapar. Dessa forma poderíamos proteger os agricultores contra esses assassinos e poder-se-ia, pelo menos, dos filhos desses bárbaros, fazer cidadãos úteis.” (...)
As expedições dos bugreiros, ou matadores de índios, se tornaram lucrativas, e em conseqüência, muitos grupos se formaram. Elas percorriam as florestas durante vários dias, seguindo os indícios que os indígenas deixavam como trilhas, fezes, ossos de animais e restos de fogueiras. Ao ser encontrado o acampamento do grupo perseguido, era feito o reconhecimento do terreno e do número de seus integrantes. O ataque dava-se ao final da madrugada, quando os índios se encontravam em sono profundo. Primeiro eram eliminada as suas armas, para em seguida ocorrer o ataque. Os bugreiros caiam sobre o grupo fazendo uma enorme gritaria e disparando seus revólveres e espingardas e, após descarregá-las utilizavam suas coronhas e facões. O filho de um bugreiro fez o seguinte relato:
“A turma não tinha nem tempo de carregar a arma de novo. Iam de facão mesmo, subindo e descendo, cortando. O pai lembra de uma meninota que saiu correndo pro mato quando o primo dele agarrou ela pelos cabelos e desceu o facão. O aço desceu pelo ombro até as partes (vagina). Cortou que nem bananeira. Ao ouvirem a gritaria e os tiros dos caçadores, os bugres procuravam suas armas, como não as encontravam, debandavam de forma desesperada mato adentro, deixando tudo para trás.” (...)
Esta cultura de matar o índio, ainda existente do início do século XX, teve como marco, a Carta Régia de 05.11.1808, assinada por D. João VI, a qual determinava guerra aos indígenas. Entre outros tópicos consta no referido documento:
“(...) sendo-me também igualmente presentes os louváveis fructos que têm resultado das providências dadas contra os  Botocudos, e fazendo-me cada dia mais evidente que não há meio algum de civilizar povos bárbaros, senão ligando-os a uma escola severa (...); (...) desde o momento em que receberdes esta minha Carta Régia, deveis considerar como principiada a guerra contra estes bárbaros Índios (...).”
Na Página http://www.portaldorancho.com.br/noticias/martinho-bugreiro-eu-nao-matei-100-matei-1-000 diz: "O personagem mais cruel, herói dalguns e anti-herói de outros, foi Martinho Marcelino de Jesus – o MARTINHO BUGREIRO – que aos 18 anos começou a matar índio. ... Numa das maiores batalhas, morreram mais de duzentos índios e segundo historiadores se passou pela região de Rancho Queimado. Foram poupadas apenas duas crianças, uma menina e o seu irmão. Martinho Bugreiro os trouxe à cidade e uma família de Taquaras adotou os bugrezinhos. Do menino, sabe-se que conseguiu fugir e embrenhou-se na mata de novo. A menina recebeu o nome de Sophia, cresceu na sua nova família, foi batizada e está enterrada no cemitério luterano da cidade."
A demarcação da Reserva Duque de Caxias, ocorreu em 1926, quando o Governo do estado de Santa Catarina repassou aos indígenas pacificados 141.565.866,02 m2, com a garantia de que Eduardo (Eduardo de Lima e Silva Hoermann, chamado de O Pacificador) os faria sustentar-se por meio do trabalho agrícola – fato não ocorrido.
Depois de 1930, os Xokleng começaram a depender cada vez mais da sociedade regional. (...). Eles tornaram-se sedentários e mudaram sua dieta alimentar, necessitando dinheiro para comprar fumo, cachaça e bugigangas; os índios passaram a sobreviver da melhor maneira que podiam, mas à margem do sistema regional".
Uma Igreja a serviço do capital legitima isto. Esta é a prática do mundo que a partir da fé em Jesus Cristo deve ser vencida e eliminada. Estes relatos históricos mostram de como o povo luterano participou deste processo de reprodução do sistema. Eram dominados, mas em relação aos povos indígenas eram dominadores. É o dominado reproduzindo a sua dominação sobre grupos minoritários. A IECLB, herdeira dos Sínodos, já expressou o seu mea culpa por ter participado deste processo genocida? Assim agem as pessoas dominadas pela ideologia do mundo, mesmo se dizendo cristãs luteranas. Hoje o processo de dominação às vezes é mais sutil outras vezes não, mas cabe à Igreja proclamar que isto (matar para roubar a terra da sua vítima) não confere com a expressão de sua fé em Jesus Cristo. O povo luterano aqui chegado foi vítima desta política de Estado de fazer colonização ao lado e em cima de áreas dos povos indígenas. Assim, o Estado capitalista, a serviço da burguesia, fez uso da colonização para exterminar os povos indígenas através dos colonos (vítimas na Europa pelas políticas de Estado e vítimas no Brasil pelas políticas de Estado daqui) para se apropriar de suas terras e integrá-las ao mercado. Os cristãos luteranos foram 'inocentes úteis' neste processo. As vítimas acabaram sendo opressores. Por que? Porque não sabiam que eram vítimas e opressores e ninguém lhes explicou este processo. Como a Igreja normalmente é reprodutora do status quo ela não explicou este processo de vitimização mútua. O pior é que a própria Igreja por estar tão interiorizada no sistema capitalista nem sabia que estava ajudando a legitimar o processo genocida. Hoje é o mesmo. A Igreja está tão atrelada ao sistema capitalista que não consegue ver como hoje os seus membros são vitimados pelo processo de exploração do capital, tanto no campo como nas cidades. Como a leitura da realidade pelo método marxista é coisa de comunista, então isto não se usa na Igreja, por isso acontece que o nosso povo luterano vive nas trevas da ignorância (do não saber) e acaba reproduzindo o mundo como ele é em vez de combatê-lo como o exige o Evangelho de Jesus Cristo. Diz-se de boca para fora: "Só Jesus salva!", mas pensa-se e age-se de fato como se só o capital salvasse! Esta é a teologia real em nossas comunidades e se algum/a pastor/a se meter à besta e dizer o contrário ele/a será vitimado pelo TAM. Assim funciona a luta de classes na Igreja. Confesso que esta leitura que faço da Igreja é muito chata e deixa as pessoas aborrecidas porque acaba com o romantismo e a ilusão ingênua que temos da Igreja como meio de salvação. A Igreja não salva, somente a fé coerente em Jesus Cristo salva. A Igreja continua sendo um instrumento que anuncia a salvação pela Palavra e pelos Sacramentos. Salvação também não uma coisa etérea, mas muito concreta e visível em nossa prática de luta pelo Reino de Deus.
Lembro-me que em meados dos anos 80 no DE Uruguai num Dia Distrital da Igreja em Mondaí, SC, estudamos textos de Lutero: Da Autoridade Secular e O Sermão sobre a Usura, e o CDL de Mondaí escreveu ao então Pastor Presidente perguntando escandalizado se estes textos subversivos eram de fato de Lutero. Então, achar que CDL, Prefeitura, Lions, Maçonaria, etc. não interferem nas paróquias é pura ingenuidade. Então, pastorada, comportem-se, preguem apenas o que os capitalistas permitem e terão vida longa nas paróquias!
Não foi por acaso que Jesus Cristo, ao enviar seus discípulos, lhes disse, segundo Mt 10.16, "Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas". Símplice não quer dizer: ingênuo, pois isto nós pastores/as o somos e muito. Jesus continua segundo Mateus: "17 E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; 18 por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios. 19 E, quando vos entregarem, não cuideis em como ou o que haveis de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer, 20 visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós. 21 Um irmão entregará à morte outro irmão, e o pai, ao filho; filhos haverá que se levantarão contra os progenitores e os matarão. 22 Sereis odiados de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo."
O camponês palestino sem terra e sem teto Jesus de Nazaré, o Cristo, o Servo, sabia como funcionava a luta de classes, mesmo não conhecendo este conceito marxista. Nós que poderíamos conhecer como hoje funciona a luta de classes, que é o motor da história, porque temos este instrumental de Marx de ler a realidade e não o conhecemos por puro preconceito e também por uma opção teológica inculcada pela direita que este é um instrumental comunista e anticristão. O cristão pode ser capitalista (que significa legitimar a exploração de uma pessoa sobre a outra), mas não pode ser comunista (que significa lutar contra a exploração de uma pessoa sobre a outra e participar de um processo de construção de uma sociedade sem classes sociais e, portanto, sem exploração, que Jesus Cristo chama de Reino de Deus). O instrumental é apenas um instrumental de ler a realidade, assim como os psicólogos tem seus instrumentais. É claro que este instrumental vai ler a realidade a partir da situação da classe trabalhadora e vai revelar a exploração capitalista sobre a sociedade toda e vai mostrar como funciona a Teoria do Valor Trabalho, que deve ser ocultado a todo custo da classe trabalhadora. Mas Javé também se fez pobre (2 Co 8.9) e servo (Fl 2.7) em Jesus de Nazaré, o Cristo. Este é o lugar social a partir do qual a Bíblia lê a realidade e constrói o Reino de Deus (1 Co 1.26-29). Mas, nós como Igreja nos recusamos a ler a realidade a partir de onde o próprio Deus a lê (1 Co 4.11-13) e nos recusamos a pôr os pés onde Javé os pôs em Cristo, na manjedoura e na cruz, no processo de construção do Reino de Deus. Fazemos um malabarismo teológico enorme para não deslegitimar a exploração de classe que há na sociedade atual; quando os Evangelhos já desde os relatos do Natal deixam claro a luta de classes existente na qual Deus se fez pessoa, em Mt e Lc 1-2: citam o César e a família camponesa sem terra explorada que teve que se submeter ao censo que visava a exploração romana via impostos, além de citar Herodes que quis eliminar fisicamente o menino Jesus. Ali a luta de classes está muito clara entre o Projeto do Reino de Deus e o reino romano. Javé fez a sua opção de classe, tanto no AT (ao ficar do lado dos camponeses hebreus sem terra escravos) como no NT (onde Javé se fez classe camponesa em Jesus de Nazaré, o camponês sem terra palestino). No entanto hoje, na Igreja, fazemos de conta que não existe luta de classes e com isto legitimamos a exploração capitalista tornando-nos, como Igreja, Religião (que tem a função histórica de legitimar o status quo) em vez de ser Evangelho (que é essencialmente insurgente e revolucionário, pois em oposição ao reino do mundo, o capital, quer construir o Reino de Deus).
Mas, o Espírito Santo é forte, pois já conduziu a sua Igreja para fora do feudalismo e também o fará para fora do capitalismo. É uma questão de tempo, infelizmente de séculos. A Reestruturação capitalista da IECLB não durará para sempre. Um dia ela vai cair de podre, assim como o nazismo e o stalinismo caíram de podre. O problema é como vamos justificar a repressão eclesiástica, conforme os interesses da direita que quer impedir a pregação pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo porque isto fere seus interesses econômicos e políticos, no Dia do Juízo Final? É claro que a direita vai dizer que não está impedindo a pregação pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo, apenas com o seu controle quer exatamente preservar a pureza evangélica diante da comunização ideológica da TdL. A direita não se pauta por ideologia alguma, apenas pelo Evangelho, dirá; só a esquerda que é ideológica. A direita é 'neutra' do lado do capital!
Alguém pergunta: Se o TAM e a Avaliação caírem, ao serem excluído do EMO, o que muda na Igreja? O que muda? Muda o fato de que teremos dois elementos de repressão institucional a menos na Igreja para nos pressionar a vender o Evangelho e adaptá-lo conforme os interesses da classe econômica e politicamente dominante. Esta pressão sempre existiu e sempre existirá enquanto vivermos numa sociedade de classes. Mas, com o TAM e a Avaliação fora do EMO não estará na essência da estrutura eclesiástica o elemento de pressão para nos intimidar e nos induzir a vender o Evangelho ou de adaptá-lo conforme os interesses do capital, por causa do medo da demissão por causa da pregação do Evangelho que não se coaduna com o capitalismo. A Direção da Igreja ao se dar conta desta pressão pela venda do Evangelho deveria ser a primeira a sugerir a supressão do TAM e da Avaliação do EMO sob o risco do pecado da omissão.
Sei que as comunidades não quererão abrir mão facilmente deste elemento de controle sobre a pastorada. É urgente explicar às comunidades o que significa se estas leis repressivas continuarem. As comunidades de hoje não tem noção do porque da Reestruturação e que isto faz parte da luta de classes na Igreja e na sociedade. Isto também terá de ser explicado à elas. Será que tenho a impressão certa de que a Direção da Igreja nunca explicará isto às comunidades?
Perguntando finalmente: Tem como reverter esta dinâmica do controle ideológico da pequena burguesia sobre o trabalho e a linha teológica das paróquias?
Conheço um caso em que o pastor peitou o chefe da paróquia e conseguiu afastá-lo da diretoria, mas o pastor se aposentou em agosto e em janeiro o tal chefe já estava de volta na diretoria e mais ainda era representante da paróquia no Sínodo e foi escolhido para ser da Diretoria do Sínodo. Ele trabalha numa cooperativa do agronegócio e ninguém do povo tem coragem de peitá-lo. Só para se ter uma idéia de como esta história de mudar o poder e a teologia na paróquia não é fácil. Este pessoal antes de ser cristão é capitalista e o Evangelho tem que se adaptar às necessidades da dinâmica do capital, o resto é conversa fiada.
Só um programa de formação teológica a longo prazo, massivo para o povo, de quadros intermediários e avançados para comunidades e paróquias junto com uma articulação do povo empobrecido para ocupar os cargos de direção nas comunidades e paróquias aliado a uma participação ativa no movimento sindical e popular e dos partidos políticos de esquerda poderá reverter esta questão do poder do capital nas paróquias para que haja liberdade de pregar pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo na IECLB. Mas isto depende de uma decisão política da direção dos sínodos e da IECLB que não vai cair tão facilmente por causa da correlação de forças que há nestas direções. Terá que ser uma tomada de poder a longo prazo. Impossível não é se a pastorada tiver respaldo da direção ela terá condições de encaminhar isto. Mas antes tem que cair o TAM e a Avaliação juntamente com uma decisão política da Direção da Igreja em respaldar a pastorada neste processo. Por enquanto isso tudo parece uma bela ilusão. Mas, como ninguém esperava as mobilizações populares massivas de junho de 2013 no Brasil que podem ter posto em xeque a reeleição da Dilma em 2014 (só para lembrar se a Dilma não se reeleger a direita vai se eleger, fazendo de conta que a Dilma é de centro esquerda) assim pode acontecer um fato histórico que favoreça este processo na Igreja. A história dá voltas que a gente não prevê. Mas admito que isto é uma possibilidade muito remota, por enquanto a pregação pura do Evangelho revolucionário do Reino de Deus na IECLB continua em risco e sob severo controle segundo os  interesses do capital.

O cerne da IECLB.




A luta contra o TAM e a Avaliação batem diretamente no cerne da IECLB, pois ameaçam a base sobre a qual a Reestruturação foi construída. Que base é esta? A comunidade conservadora com prática de clube; esta a Reestruturação quer manter. Sobre o que a Reestruturação foi construída? A Reestruturação foi construída para adequar a 'cabeça' às práticas eclesiásticas da base. A Reestruturação só mexeu na estrutura da igreja da Paróquia para cima porque na paróquia não se queria mexer, pois esta base estava em grande parte conforme os interesses da direita anticlerical que capitaneou a Reestruturação. Não se queria uma base engajada no processo de construção de uma nova igreja engajada e comprometida com a luta por justiça em direção a uma nova sociedade igualitária. Exatamente isto se queria evitar com a Reestruturação. A Reestruturação foi uma reforma conservadora para solidificar o status quo neoliberal e colocar a igreja a reboque da forte propaganda da inevitabilidade do neoliberalismo em pleno momento político e econômico da privataria tucana, cujo resultado subvalorizado ficou em 83 bilhões que sumiram no poço sem fundo da dívida externa que mesmo assim continuou aumentando juntamente com a dívida interna que saltou de 59 bilhões para 650 bilhões no governo FHC e hoje está acima de 2 trilhões.
Temos que diferenciar a teologia oficial da IECLB da Reestruturação da IECLB. A teologia real não admite e nem suporta a teologia oficial, que é a que está nos documentos da Igreja: baseada na Bíblia e na confessionalidade inseridas na realidade brasileira.
Digo sempre, simploriamente, que a base da IECLB são os três X do alemão: xopp, xurrasco e xixo (que estão inseridos na dinâmica da economia de mercado, pois somos conhecidos como a igreja dos alemães que fazem comida boa - cuca, lingüiça, churrasco -, vendem muita cerveja e chopp e promovem grandes bailes que sustentam grandes conjuntos musicais que promovem a cultura de massas, que necessariamente não é uma cultura de resistência ao capital).
A Reestruturação eliminou o Distrito que era um fermentador e experimentador teológico não bem quisto e nem controlável pela direita. O Distrito nunca deixou a direita assumir o cargo de Pastor Presidente da IECLB e estava em muitos lugares inserido nas lutas do povo contra a ditadura civil-militar e do movimento sindical e popular e dos partidos de esquerda ou centro-esquerda. Isto era inadmissível para a direita anticlerical que capitaneou o processo da Reestruturação.
Era fundamental que houvesse um controle sobre a teologia da pastorada, que segundo o Regimento Interno, tem a função de dar a direção teológica da e na paróquia. Para a direita que quer dar a direção teológica da paróquia tem a sua base nos três X, que insere a igreja na dinâmica do mercado e garante que a Igreja seja e continue sendo apenas e somente Religião e nunca Evangelho, sendo um "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos". Os Distritos estavam com sua prática comunitária sendo 'contaminados' pelo processo das lutas populares e isto estava aflorando nos Concílios Gerais em que se proclamou documentos que propunham que se fizesse um trabalhe de base com o movimento popular, sindical e ambiental. Além disto, os Distritos eram incontroláveis eleitoralmente e nunca deixavam a direita assumir a presidência da Igreja. Aí pastores de direita e leigos de direita e anticlericais encamparam a luta da Reestruturação a isto se somaram muitos pastores ingênuos que não estavam entendendo o processo. Na verdade, poucos estavam, na época, entendendo o que de fato se queria. Queria-se que a dinâmica eclesial se adequasse às dinâmicas do mercado neoliberal e à sua ideologia, pois estávamos no auge da propaganda neoliberal junto com todo o processo da privataria tucana.
Na ideologia neoliberal não há mais lugar para uma grande narração histórica, que abarca a totalidade da leitura da realidade, apenas há a narração das partes, exatamente para não se entender o todo, para assim se impedir o processo revolucionário do Reino de Deus. O neoliberalismo atomizou o todo para que não possamos entendê-lo, só conseguimos enxergar as partes desconectadas. De fato isto é mentira porque o próprio capitalismo tem uma grande narrativa que é: não existe nada além do capitalismo planetário. O capitalismo é a realização da história. Por isso foram criados na Igreja, no apagar da luzes da velha estrutura e no final do ano, mais dois centros de formação que tem a função de se contrapor à, hoje, EST, que era tida com infiltrada pelo vírus da Teologia da Libertação. Depois a Igreja sob a nova direção dos advogados simplesmente desvinculou os centros de formação do CNPJ da Igreja para garantir na prática a pulverização teológica e tentar impedir uma unidade teológica na Igreja e principalmente dar com o tempo um novo rosto teológico para a IECLB. Logo depois tivemos o primeiro cisma na igreja em que o MC (que foi uma cria do ME, que não fez até hoje o seu mea culpa) se retirou da IECLB. Hoje a IECLB não controla mais a formação teológica na Igreja, ela se ilude achando que com o PPHM e o colóquio se controla a questão, triste ilusão.
Por que os 18 Sínodos? Para fracionar a Igreja, dentro do conceito neoliberal de que não há uma grande narrativa, mas apenas fatos locais. Uma Igreja com um fio vermelho claro, como os Concílios dos anos 80 estavam querendo, era um perigo para a direita, por isso 18 igrejinhas isoladas com muita autonomia (coisa que de fato não aconteceu) sob uma coordenação sem poder do Pastor Presidente não se conseguirá firmar um projeto de "esquerda" como acenavam as decisões conciliares dos anos 80. Hoje é o Tema do Ano que é o 'grande' unificador da Igreja. Cada Sínodo com mais poder controlado por um Conselho Sinodal cujos conselheiros são indicados pelas paróquias e que normalmente são conservadores é o ideal para impedir qualquer avanço em direção à esta nova sociedade igualitária que Jesus Cristo chama de Reino de Deus e que por isso mesmo questiona o capitalismo em sua essência. Os Distritos foram esvaziados pela junção com outros para formar o Sínodo e assim estamos hoje, 15 anos depois, discutindo um Projeto de Igreja porque não sabemos para onde estamos indo; ou melhor dito, porque sabemos para onde estamos indo: manter e reproduzir o capitalismo.
Resultado de tudo isso: apatia teológica geral e reforço da prática teológica dos três X. Lembro da comunidade de Passo Fundo onde o ME tentou solapar as bases dos três X e foi expulso da paróquia pela ala tradicional. Agora a direita controla o todo da Igreja: a base que antes já controlava, em sua maioria, e agora controla também o resto da estrutura, haja visto que o Pastor Presidente é apenas um convidado no Conselho da Igreja sem direito a voto (o que é uma vergonha e mostra claramente o que o grupo anticlerical queria), contrariando toda a prática nas demais instâncias da Igreja, onde desde a paróquia e o sínodo os pastores são parte integrante oficial da direção: diretoria da paróquia, conselho sinodal. Diz-se: o Pastor Presidente cuida do teológico e nós, Conselho da Igreja (onde três por um são leigos - não tenho problemas com os leigos, mas com os leigos e pastores de direita que querem que a Igreja seja Religião e não Evangelho), cuida do administrativo (do dinheiro e das leis); só que estes é que definem de fato o teológico, porque não dá para separar o administrativo do teológico. Quem controla as finanças diz o que e o que não é importante, o resto é conversa fiada.
A prática define a verdade e não a teoria. Qual é a prática da e na IECLB? Os três X? Não somente. A prática eclesial não é determinada pela teologia oficial a Igreja, mas pelo que a direita permite e não permite. Quem de fato dá a linha teológica na IECLB, não são os teólogos formados pela Igreja nos centros de formação, mas são os presbitérios com parca formação teológica evangélica luterana e boa formação ideológica capitalista. Estes é que precisam do TAM e da Avaliação para garantir que a IECLB seja Religião e não Evangelho, com sua centralidade na cruz de Cristo (1 Co 1.18-31). Mexer no TAM e Avaliação é mexer no cerne da Reestruturação que veio para garantir a adaptação da Igreja ao capitalismo neoliberal, pois, afinal, a utopia não existe mais! Não existe mais outra forma de organizar a sociedade toda além do capitalismo neoliberal, dizem os teólogos do deus capital. Só que o Evangelho de Jesus Cristo diz que há outra forma de organizar a vida e a sociedade toda naquilo que Jesus Cristo chama de Reino de Deus, que é sua mensagem central.
Por mais que a direita tente ela não vai poder controlar o Espírito Santo, pois aqui e ali o Evangelho da cruz de Cristo continua sendo pregado e tentado ser concretizado nas comunidades da IECLB. O TAM e a Avaliação são mecanismos preciosos para garantir certo controle para que o cerne da IECLB permaneça sendo apenas uma "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos", que impede que a Igreja seja missionária e se apegue apenas às tradições eclesiásticas solidificadas em quase 200 anos no Brasil. A IECLB é conhecida na sociedade como? Como a igreja dos alemães e das festas e não pelo seu engajamento evangélico revolucionário nas lutas do povo brasileiro pela justiça, que está no cerne de nosso batismo, como diz Jesus em Mt 3.15: "porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça", em Mt 6.33: "buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" e Paulo acrescenta em Rm 14.17: "Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo".
Para que a IECLB seja missionária ela terá de se inserir nos processos da realidade brasileira e nas lutas do povo que até 80% recebe até 3 salários mínimo, que é, portanto, pobre. E segundo o Evangelho é com os pobres que Deus constrói o Reino de Deus (Lc 6.20; Lc 10.21, 1 Co 4.9-13), os ricos (e trabalhadores alienados e iludidos pelo sistema capitalista) também são convidados, pois o Evangelho é pregado à todos, mas estes não estão interessados numa nova sociedade igualitária e não classista que é o Reino de Deus, onde todos são irmãos e irmãs. Os capitalistas na igreja querem perpetuar a sociedade de classes onde predomina a dominação e exploração de uma classe sobre a outra e por isso o Evangelho para eles é subversivo que precisa ser controlado porque quer acabar com a sociedade de classes para que sejamos todos irmãos e irmãs. Será que é isto que Mateus chama de pecado contra o Espírito Santo que não tem perdão (Mt 12.32)?
Com a Reestruturação se elaborou o arcabouço jurídico doutrinário da igreja capitaneado pela direita, são estas leis que determinam hoje a vida da Igreja, entre elas o TAM e a Avaliação, que são apenas pequena parte, mas fundamental para manter o cerne da Reestruturação, manter a Igreja aliada do capitalismo neoliberal, que ainda não morreu apesar das crises. Controlando indiretamente pelo TAM e a Avaliação a pregação da pastorada que está desorganizada, individualizada, acomodada e acossada, tudo características ideais para manter o controle teológico sobre eles e sua prática comunitária. Portanto, o TAM e a Avaliação não são coisas marginais, mas centrais para o controle da pregação do Evangelho, segundo os interesses do capital.
Não tenho ilusões de que consigamos derrubar estas leis repressivas, pois isto derrubaria com o tempo toda a estrutura da Reestruturação. Isto não quer dizer que vamos desistir de lutar contra estas leis repressivas e contra todo o modelo da Reestruturação e sua teologia ancorada no deus capital. Em 2007 a Igreja fez a sua avaliação da Reestruturação e concluiu que ela é um sucesso. Isto de fato é verdade. A Reestruturação é um sucesso para a manutenção deste século e para a manutenção do modelo de igreja defendido pela direita para impedir que as comunidades se engajem na luta por justiça a partir da exploração que o povo brasileiro sofre por parte do capital.
Digamos que o TAM e a Avaliação sejam derrubadas, isto vai mudar o modelo de igreja da "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos"? Não vai, mas abre a possibilidade de haver maior liberdade de pregar pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo e com o tempo construir um novo modelo de igreja conforme os documentos teológicos oficiais da IECLB. Se você hoje ousar seguir a teologia dos documentos oficiais da IECLB você será, no final do TAM ou antes, convidado a procurar outra paróquia, gentilmente ou de forma brusca. Os documentos oficiais da IECLB são evangelicamente subversivos, por isso a maioria da pastorada não os conhece a fundo e os presbitérios muito menos. Estes documentos deveriam estar numa publicação só e disponíveis para cada presbitério para o estudo com a comunidade.
No texto Unidade: Contexto e Identidade da IECLB – 2004 a Igreja coloca quais os documentos que dão a teologia oficial da Igreja: (documentos desconhecidos pela maioria dos/as obreiros/as)
"Outros escritos relevantes para a unidade da IECLB, embora em nível descendente de importância, são:
a) os documentos normativos (Constituição, Regimento Interno, Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, Ordenamento Jurídico-Doutrinário – OJD);
b) os documentos orientadores (Nossa Fé – Nossa Vida, PAMI, A IECLB às Portas do Novo Milênio, A IECLB no Pluralismo Religioso);
c) manifestos e posicionamentos;
d) declarações conciliares;
e) cartas pastorais da Direção da Igreja."
Todos esses documentos e escritos, em seu conjunto, dão a feição teológica oficial da IECLB.
O que eu estou defendendo aqui? Puro conservadorismo! Quero que a igreja seja conservadora na prática de sua teologia oficial viabilizando o que dizem seus escritos oficiais. Estamos tão mal pegados que até ser conservador nesta igreja é ser subversivo e ser mal visto. Eu sou um conservador, pois sou evangelicamente utópico, ser moderno é não ter mais utopia, pois o mercado já realizou a história, que daqui para diante o futuro será nosso presente, não há futuro no capitalismo, só o presente. O Evangelho de Jesus Cristo é utópico, pois aponta para o futuro, dizendo que haverá um futuro novo, que até já começou a partir de uma nova prática de fé (2 Co 5.17) e vai se realizar na segunda vinda de Cristo, quando o Reino de Deus vai ser entregue a Deus por Cristo após o poder e a morte terem sido derrotados totalmente (1 Co 15.24-26). Só que o presente diz que há 1 bilhão e 200 milhões de famintos no mundo, diz que 80% dos trabalhadores brasileiros recebem até 3 salários mínimos, diz que se mata 45 mil pessoas por ano no país e morrem mais 40 mil no trânsito, 100 milhões de brasileiros, a metade da população, vivem da assistência do Estado (INSS e programas sociais), 44% da terra está concentrada na mão de 0,9% dos proprietários, os pobres são expulsos de suas propriedades para serem viabilizados os projetos do capital como barragens e empreendimentos relacionados com a copa e as olimpíadas e assim vai. Belo futuro que temos no presente!
Isto tudo o Evangelho de Jesus Cristo deve ignorar e muito menos mexer nisto. Para manter isto assim e de preferência piorar a concentração da riqueza foi construída a Reestruturação que por sua vez elaborou uma série de leis para reproduzir esta estrutura e a teologia inerente à ela com vistas à manutenção do status quo. Temos assim: uma teologia oficial (evangelicamente subversiva) e uma teologia real (acomodadora à realidade vigente). Assim o oficial é fictício e o fictício (o real não revelado, escondido e ignorado, pois a comunidade real normalmente não é realmente evangélica subversiva, por isso é fictícia) é oficial. Fictícia é a comunidade não baseada na prática evangélica revolucionária, pois não é comunidade de Jesus Cristo, mas é esta a real, na maioria dos casos. A insegurança e o medo são fundamentais para a reprodução de qualquer sistema de dominação, pois o medo paralisa e a IECLB está paralisada, parada, no meio do capitalismo neoliberal sem proposta prática evangélica subversiva diante dele.
Assim não se fala da teologia real (aquela viabilizada na comunidade que não é evangelicamente subversiva, mas mantenedora deste século) e nem do medo real que há no meio de nós por causa das leis repressivas para que o Evangelho seja domesticado (coisa nada nova na cristandade ocidental).
A reformulação da Avaliação que o Conselho da Igreja está promovendo (porque a repressão aos pastores era evidente com fraudes e outras coisas mais) e que prevê a manutenção do TAM é o que o Bush chamou de "humanizar a tortura", quando foi denunciada a tortura em Guantánamo e outros centros de detenção secretos espalhados pelo mundo - é a "democracia" sob o capital. O TAM e a Avaliação querem garantir o cerne da Reestruturação: um projeto de igreja de direita que elimine qualquer teologia da cruz, pois teologia da cruz é insurgente e revolucionária (Lc 23.1-5).
Precisamos ler novamente, para quem já leu, e quem ainda não leu, deve ler dois livrinhos de Lutero: Da Autoridade Secular e Da Liberdade Cristã. No tempo de Lutero o Estado impedia a pregação pura e reta do Evangelho, hoje é a própria igreja que patrocina esta atividade censuradora via legislação repressiva construída a partir de um projeto de igreja da direita que reina pelo medo e pela insegurança. Nada disto é dito e nem está escrito oficialmente em lugar nenhum, mas que é muito real. Não enxergamos isto porque não temos a prática de fazer análise de conjuntura eclesial e nem da conjuntura e da estrutura do capital. O que não vemos não sabemos. Acontece que a repressão sobre a pastorada vemos e a vemos nas práticas comunitárias conservadoras que a pastorada reproduz. Não é o Evangelho que diz o que o capitalismo deve fazer (sumir), mas é o capitalismo que diz o que a igreja deve fazer. Em vez da Igreja (Evangelho) evangelizar o mundo capitalista é o mundo capitalista que evangeliza a Igreja. É esta a dinâmica do capital que transforma as pessoas em coisas e as coisas em pessoas. E, as pessoas que fazem as coisas são guiadas (mandadas) pelas coisas que fizeram, é o fetichismo do capital. O capital diz como o Evangelho deve ser pregado, assim é o capital que muda as pessoas (para não mudarem de fato porque aquilo que é pecado não o é mais) e não o Evangelho.
A Reestruturação foi construída para que o Evangelho de Jesus Cristo não seja pregado e vivido como algo subversivo (teologia da cruz), mas como algo que deve manter este século (o capitalismo) como está. Por isso o TAM e a Avaliação são tão importantes neste processo e precisam ser mantidos; mexer num é mexer no outro. Só tem um porém: o Espírito Santo não se deixa engaiolar e nem se amedrontar, ele sopra onde quer.
Imagine a situação: o Concílio da Igreja se reúne e são feitas análises da conjuntura da igreja e da realidade brasileira sob a hegemonia do capital e com isto se descobre que a nossa realidade não tem muita coisa de justa e que nós como igreja não estamos fazendo nada contra esta realidade injusta que provém da essência do capitalismo e que a fé evangélica luterana essencialmente nos empurra ao encontro dos injustiçados para com eles lutar por justiça (Mt 25.31-46); como é que ficam os delegados/as que viceralmente são defensores do capitalismo? Quem vai defender nas comunidades o engajamento da IECLB nas lutas populares, sindicais e político partidárias? Quem vai dar costas quentes aos pastores/as para viabilizar os encaminhamentos do concílio que decidiu que como igreja teremos que participar concretamente nas lutas do povo por justiça a partir da realidade local? Foi este o dilema dos anos 80 onde havia esta decisão, não se encaminhou isto concretamente e planejadamente para as comunidades porque isto feria abertamente o conceito e prática de igreja como "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos". Mesmo que isto não ter sido encaminhado pela direção da igreja, acendeu a luz vermelha para a direita e ela decidiu prevenir para não remediar e daí surge a Reestruturação em 1997, gestada nos finais dos anos 80 e posto goela abaixo em Ivoti em 1997. Foi o golpe branco na igreja para perpetuar o capitalismo (não que ele precisasse fundamentalmente da IECLB para se manter, mas não dá para bobear) e para isto são necessárias regras claras para preservar esta vitória da direita; entre estas o TAM e a Avaliação. A luta contra o TAM e a Avaliação faz parte da luta por uma nova estrutura de igreja que viabilize a sua própria teologia oficial, pois atualmente não é possível, sem sofrer repressão, viabilizar concretamente na prática comunitária a teologia oficial da IECLB. Não esquecendo que há resistência teimosa de muitos pastores/as, catequistas, diáconos e diaconisas e de missionários (este meio não conheço bem), que procuram furar e driblar a repressão e estão encaminhando partes da teologia oficial na prática comunitária, com temor e tremor, como diz Paulo. O que é uma calamidade, pois na Igreja a pregação e vivência prática do Evangelho deveriam ser livres e abertas, como testemunho diante do mundo capitalista de que nós temos um futuro (no capitalismo não há futuro, pois ele não salva, só Jesus Cristo salva!), que já está em andamento, pois temos esperança: 1 Pd 3.15: "estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós".
A IECLB ordena os/as obreiros/as para que preguem pura e retamente o Evangelho e administrem retamente os sacramentos, que são Palavra de Deus visíveis e palpáveis, nas comunidades, mas a instituição não tem mecanismos de proteger e defender os/as ordenados/as e enviados/as quando forem chutadas da paróquia porque foram fiéis pregadores do Evangelho (em Palavra e Sacramentos) deixando claro que o capitalismo não salva, pois é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus ou porque fizeram um trabalho em favor da formação teológica tendo em vista o engajamento dos membros nas lutas por justiça do movimento popular e sindical, isto que nem estou falando de engajamento político partidário de esquerda. Assim, a Igreja ordena para pregar o Evangelho nas comunidades e quando o/a ordenado/a o fizer vai para rua por isso e não tem nada que se possa fazer. A melhor forma de se desviar de tudo isto é botar o/a obreiro/a a trabalhar 3 turnos ao dia, todo o dia, para que não possa estudar teologia e não tenha tempo para se engajar na luta popular e preparar teologicamente os membros para isto. Sacerdócio geral, então, nem pensar! Pagamos o/a pastor/a para fazer o que nós não queremos ou não sabemos e também não queremos aprender para poder fazer. Acontece uma luta sindical ou do movimento popular o/a obreiro/a não pode participar porque tem ensino confirmatório ou uma OASE, e ai se ele faltar, afinal é pago para fazer. A função do/a obreiro/a não é se matar correndo para cobrir sua agenda superlotada imposta pelas comunidades para mostrar serviço, mas é ter tempo para o estudo e a oração para se preparar para poder capacitar teologicamente a comunidade para o seu exercício do ministério sacerdotal. O sacerdócio geral de todos os crentes não está no horizonte utópico das comunidades. Assim esta Igreja vai lenta, mas inevitavelmente, definhar, por não ser missionária. A Reestruturação foi a pazada de cal final para fechar a cova; sem Segenssprung. Estamos num processo de aprisionamento da Palavra de Deus pela teologia do deus capital, que não admite ter outro Deus (Trindade) do seu lado. Estamos no dilema colocado em Mt 6.24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas". É um grande dilema, pois na prática não somos membros da comunidade pelo batismo e pela fé, como diz a teologia, mas pela contribuição financeira. Contribuição financeira atrasada veta o batismo, a confirmação e o enterro, diz a prática legal. Coisa do clube chamado "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos". Pastor/a que desobedece esta regra de ouro clubista está fora cedo ou tarde.
O que vamos fazer com Rm 10.17 onde diz que “a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo” se a pregação está delimitada pelos interesses do capital que faz uso das leis da estrutura eclesial para engaiolar e na melhor das hipóteses adaptar o Evangelho aos interesses do capital? Anos atrás o pastor em Erechim (que não mais está lá hoje) nem ousava cruzar a soleira da porta do escritório do CAPA (quanto mais abrir as portas das comunidades para o CAPA - que há mais de um quarto de século presta bons serviços à sociedade brasileira e à Igreja) com medo de ser despejado da paróquia (deve ter sido explicitamente advertido frente tal ousadia) porque o CAPA não defende o modelo agrícola e agrário do agronegócio, que é o nome moderno do velho e carcomido latifúndio escravista e assassino. Como pregar o Evangelho de Jesus Cristo nesta situação de engaiolamento deste? A instituição garantiria o seu pastorado nesta paróquia se ele fosse trabalhar com o CAPA nas comunidades? Não estou nem falando de trabalhar com sem terra ou quilombolas, mas com um órgão da IECLB.
Resumindo: temos que acabar com a estrutura atual da Igreja para que possa ser evangélica de confissão luterana no Brasil (inserida nas lutas do povo brasileiro por justiça em direção ao Reino de Deus), uma igreja onde é possível pregar livremente pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo sem receio de repressão por parte da Igreja, apenas do mundo, pois este sempre vai nos perseguir; como diz Jesus Cristo em Lc 10.3: "Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos". Por uma Igreja sem lobos, apenas de cordeiros! A Igreja é como o PT que começou dizendo ser um partido sem patrão, agora são os patrões que governam; a Igreja começou apenas com cordeiros, agora está cheia de lobos que dizem o que fazer e o que não fazer; como raposas que administram e cuidam do galinheiro. É o que Marx chama de luta de classes, que é o motor da história, que temos que mudar em situações que nos foram dadas e não como queríamos que fossem, que perpassa toda a sociedade, também a Igreja. Mostrar que existe a luta de classes na igreja já é um avanço, mas nem isto a igreja consegue fazer, pelo contrário procura a todo custo esconder este processo para não desmascarar a classe economicamente dominante que através de seus testas de ferro (pequena burguesia e trabalhadores alienados) comandam a igreja.
Termino com uma palavra bonita de Lutero que se encontra na edição da Bíblia da SSB com Reflexões de Lutero:
Pv 30.13
Visto que Deus é o mais elevado e que nada existe acima dele, ele há que dirigir seu olhar necessariamente para si mesmo e para baixo; quanto mais baixo alguém está, tanto melhor ele o enxerga. Os olhos do mundo, porém, e os dos homens fazem o contrário: olham somente para cima e querem erguer-se a todo custo, como se lê em Pv 30.13. Esta é nossa experiência diária: todos estão em busca de coisas acima deles, de honra, poder, riqueza, conhecimentos, bem-estar e tudo que é grande e elevado. E onde existem pessoas assim, todos se agregam a elas, a elas acorrem, a elas servem com prazer; todos querem estar ali e ter parte em sua posição elevada. Por outro lado, ninguém quer olhar para baixo, onde existe pobreza, miséria, desgraça; disso todo o mundo desvia o olhar. E onde existem tais pessoas, todos se afastam e ninguém se lembra de lhes ajudar, e trabalhar para que também sejam algo. Aí não existe criador entre os homens que fosse capaz de fazer algo do nada, como São Paulo ensina em Rm 12.16: "Prezados irmãos, não atenteis para as coisas elevadas, mas solidarizai-vos com as humildes." OS 6,24