29 de outubro de 2013

O cerne da IECLB.




A luta contra o TAM e a Avaliação batem diretamente no cerne da IECLB, pois ameaçam a base sobre a qual a Reestruturação foi construída. Que base é esta? A comunidade conservadora com prática de clube; esta a Reestruturação quer manter. Sobre o que a Reestruturação foi construída? A Reestruturação foi construída para adequar a 'cabeça' às práticas eclesiásticas da base. A Reestruturação só mexeu na estrutura da igreja da Paróquia para cima porque na paróquia não se queria mexer, pois esta base estava em grande parte conforme os interesses da direita anticlerical que capitaneou a Reestruturação. Não se queria uma base engajada no processo de construção de uma nova igreja engajada e comprometida com a luta por justiça em direção a uma nova sociedade igualitária. Exatamente isto se queria evitar com a Reestruturação. A Reestruturação foi uma reforma conservadora para solidificar o status quo neoliberal e colocar a igreja a reboque da forte propaganda da inevitabilidade do neoliberalismo em pleno momento político e econômico da privataria tucana, cujo resultado subvalorizado ficou em 83 bilhões que sumiram no poço sem fundo da dívida externa que mesmo assim continuou aumentando juntamente com a dívida interna que saltou de 59 bilhões para 650 bilhões no governo FHC e hoje está acima de 2 trilhões.
Temos que diferenciar a teologia oficial da IECLB da Reestruturação da IECLB. A teologia real não admite e nem suporta a teologia oficial, que é a que está nos documentos da Igreja: baseada na Bíblia e na confessionalidade inseridas na realidade brasileira.
Digo sempre, simploriamente, que a base da IECLB são os três X do alemão: xopp, xurrasco e xixo (que estão inseridos na dinâmica da economia de mercado, pois somos conhecidos como a igreja dos alemães que fazem comida boa - cuca, lingüiça, churrasco -, vendem muita cerveja e chopp e promovem grandes bailes que sustentam grandes conjuntos musicais que promovem a cultura de massas, que necessariamente não é uma cultura de resistência ao capital).
A Reestruturação eliminou o Distrito que era um fermentador e experimentador teológico não bem quisto e nem controlável pela direita. O Distrito nunca deixou a direita assumir o cargo de Pastor Presidente da IECLB e estava em muitos lugares inserido nas lutas do povo contra a ditadura civil-militar e do movimento sindical e popular e dos partidos de esquerda ou centro-esquerda. Isto era inadmissível para a direita anticlerical que capitaneou o processo da Reestruturação.
Era fundamental que houvesse um controle sobre a teologia da pastorada, que segundo o Regimento Interno, tem a função de dar a direção teológica da e na paróquia. Para a direita que quer dar a direção teológica da paróquia tem a sua base nos três X, que insere a igreja na dinâmica do mercado e garante que a Igreja seja e continue sendo apenas e somente Religião e nunca Evangelho, sendo um "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos". Os Distritos estavam com sua prática comunitária sendo 'contaminados' pelo processo das lutas populares e isto estava aflorando nos Concílios Gerais em que se proclamou documentos que propunham que se fizesse um trabalhe de base com o movimento popular, sindical e ambiental. Além disto, os Distritos eram incontroláveis eleitoralmente e nunca deixavam a direita assumir a presidência da Igreja. Aí pastores de direita e leigos de direita e anticlericais encamparam a luta da Reestruturação a isto se somaram muitos pastores ingênuos que não estavam entendendo o processo. Na verdade, poucos estavam, na época, entendendo o que de fato se queria. Queria-se que a dinâmica eclesial se adequasse às dinâmicas do mercado neoliberal e à sua ideologia, pois estávamos no auge da propaganda neoliberal junto com todo o processo da privataria tucana.
Na ideologia neoliberal não há mais lugar para uma grande narração histórica, que abarca a totalidade da leitura da realidade, apenas há a narração das partes, exatamente para não se entender o todo, para assim se impedir o processo revolucionário do Reino de Deus. O neoliberalismo atomizou o todo para que não possamos entendê-lo, só conseguimos enxergar as partes desconectadas. De fato isto é mentira porque o próprio capitalismo tem uma grande narrativa que é: não existe nada além do capitalismo planetário. O capitalismo é a realização da história. Por isso foram criados na Igreja, no apagar da luzes da velha estrutura e no final do ano, mais dois centros de formação que tem a função de se contrapor à, hoje, EST, que era tida com infiltrada pelo vírus da Teologia da Libertação. Depois a Igreja sob a nova direção dos advogados simplesmente desvinculou os centros de formação do CNPJ da Igreja para garantir na prática a pulverização teológica e tentar impedir uma unidade teológica na Igreja e principalmente dar com o tempo um novo rosto teológico para a IECLB. Logo depois tivemos o primeiro cisma na igreja em que o MC (que foi uma cria do ME, que não fez até hoje o seu mea culpa) se retirou da IECLB. Hoje a IECLB não controla mais a formação teológica na Igreja, ela se ilude achando que com o PPHM e o colóquio se controla a questão, triste ilusão.
Por que os 18 Sínodos? Para fracionar a Igreja, dentro do conceito neoliberal de que não há uma grande narrativa, mas apenas fatos locais. Uma Igreja com um fio vermelho claro, como os Concílios dos anos 80 estavam querendo, era um perigo para a direita, por isso 18 igrejinhas isoladas com muita autonomia (coisa que de fato não aconteceu) sob uma coordenação sem poder do Pastor Presidente não se conseguirá firmar um projeto de "esquerda" como acenavam as decisões conciliares dos anos 80. Hoje é o Tema do Ano que é o 'grande' unificador da Igreja. Cada Sínodo com mais poder controlado por um Conselho Sinodal cujos conselheiros são indicados pelas paróquias e que normalmente são conservadores é o ideal para impedir qualquer avanço em direção à esta nova sociedade igualitária que Jesus Cristo chama de Reino de Deus e que por isso mesmo questiona o capitalismo em sua essência. Os Distritos foram esvaziados pela junção com outros para formar o Sínodo e assim estamos hoje, 15 anos depois, discutindo um Projeto de Igreja porque não sabemos para onde estamos indo; ou melhor dito, porque sabemos para onde estamos indo: manter e reproduzir o capitalismo.
Resultado de tudo isso: apatia teológica geral e reforço da prática teológica dos três X. Lembro da comunidade de Passo Fundo onde o ME tentou solapar as bases dos três X e foi expulso da paróquia pela ala tradicional. Agora a direita controla o todo da Igreja: a base que antes já controlava, em sua maioria, e agora controla também o resto da estrutura, haja visto que o Pastor Presidente é apenas um convidado no Conselho da Igreja sem direito a voto (o que é uma vergonha e mostra claramente o que o grupo anticlerical queria), contrariando toda a prática nas demais instâncias da Igreja, onde desde a paróquia e o sínodo os pastores são parte integrante oficial da direção: diretoria da paróquia, conselho sinodal. Diz-se: o Pastor Presidente cuida do teológico e nós, Conselho da Igreja (onde três por um são leigos - não tenho problemas com os leigos, mas com os leigos e pastores de direita que querem que a Igreja seja Religião e não Evangelho), cuida do administrativo (do dinheiro e das leis); só que estes é que definem de fato o teológico, porque não dá para separar o administrativo do teológico. Quem controla as finanças diz o que e o que não é importante, o resto é conversa fiada.
A prática define a verdade e não a teoria. Qual é a prática da e na IECLB? Os três X? Não somente. A prática eclesial não é determinada pela teologia oficial a Igreja, mas pelo que a direita permite e não permite. Quem de fato dá a linha teológica na IECLB, não são os teólogos formados pela Igreja nos centros de formação, mas são os presbitérios com parca formação teológica evangélica luterana e boa formação ideológica capitalista. Estes é que precisam do TAM e da Avaliação para garantir que a IECLB seja Religião e não Evangelho, com sua centralidade na cruz de Cristo (1 Co 1.18-31). Mexer no TAM e Avaliação é mexer no cerne da Reestruturação que veio para garantir a adaptação da Igreja ao capitalismo neoliberal, pois, afinal, a utopia não existe mais! Não existe mais outra forma de organizar a sociedade toda além do capitalismo neoliberal, dizem os teólogos do deus capital. Só que o Evangelho de Jesus Cristo diz que há outra forma de organizar a vida e a sociedade toda naquilo que Jesus Cristo chama de Reino de Deus, que é sua mensagem central.
Por mais que a direita tente ela não vai poder controlar o Espírito Santo, pois aqui e ali o Evangelho da cruz de Cristo continua sendo pregado e tentado ser concretizado nas comunidades da IECLB. O TAM e a Avaliação são mecanismos preciosos para garantir certo controle para que o cerne da IECLB permaneça sendo apenas uma "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos", que impede que a Igreja seja missionária e se apegue apenas às tradições eclesiásticas solidificadas em quase 200 anos no Brasil. A IECLB é conhecida na sociedade como? Como a igreja dos alemães e das festas e não pelo seu engajamento evangélico revolucionário nas lutas do povo brasileiro pela justiça, que está no cerne de nosso batismo, como diz Jesus em Mt 3.15: "porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça", em Mt 6.33: "buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" e Paulo acrescenta em Rm 14.17: "Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo".
Para que a IECLB seja missionária ela terá de se inserir nos processos da realidade brasileira e nas lutas do povo que até 80% recebe até 3 salários mínimo, que é, portanto, pobre. E segundo o Evangelho é com os pobres que Deus constrói o Reino de Deus (Lc 6.20; Lc 10.21, 1 Co 4.9-13), os ricos (e trabalhadores alienados e iludidos pelo sistema capitalista) também são convidados, pois o Evangelho é pregado à todos, mas estes não estão interessados numa nova sociedade igualitária e não classista que é o Reino de Deus, onde todos são irmãos e irmãs. Os capitalistas na igreja querem perpetuar a sociedade de classes onde predomina a dominação e exploração de uma classe sobre a outra e por isso o Evangelho para eles é subversivo que precisa ser controlado porque quer acabar com a sociedade de classes para que sejamos todos irmãos e irmãs. Será que é isto que Mateus chama de pecado contra o Espírito Santo que não tem perdão (Mt 12.32)?
Com a Reestruturação se elaborou o arcabouço jurídico doutrinário da igreja capitaneado pela direita, são estas leis que determinam hoje a vida da Igreja, entre elas o TAM e a Avaliação, que são apenas pequena parte, mas fundamental para manter o cerne da Reestruturação, manter a Igreja aliada do capitalismo neoliberal, que ainda não morreu apesar das crises. Controlando indiretamente pelo TAM e a Avaliação a pregação da pastorada que está desorganizada, individualizada, acomodada e acossada, tudo características ideais para manter o controle teológico sobre eles e sua prática comunitária. Portanto, o TAM e a Avaliação não são coisas marginais, mas centrais para o controle da pregação do Evangelho, segundo os interesses do capital.
Não tenho ilusões de que consigamos derrubar estas leis repressivas, pois isto derrubaria com o tempo toda a estrutura da Reestruturação. Isto não quer dizer que vamos desistir de lutar contra estas leis repressivas e contra todo o modelo da Reestruturação e sua teologia ancorada no deus capital. Em 2007 a Igreja fez a sua avaliação da Reestruturação e concluiu que ela é um sucesso. Isto de fato é verdade. A Reestruturação é um sucesso para a manutenção deste século e para a manutenção do modelo de igreja defendido pela direita para impedir que as comunidades se engajem na luta por justiça a partir da exploração que o povo brasileiro sofre por parte do capital.
Digamos que o TAM e a Avaliação sejam derrubadas, isto vai mudar o modelo de igreja da "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos"? Não vai, mas abre a possibilidade de haver maior liberdade de pregar pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo e com o tempo construir um novo modelo de igreja conforme os documentos teológicos oficiais da IECLB. Se você hoje ousar seguir a teologia dos documentos oficiais da IECLB você será, no final do TAM ou antes, convidado a procurar outra paróquia, gentilmente ou de forma brusca. Os documentos oficiais da IECLB são evangelicamente subversivos, por isso a maioria da pastorada não os conhece a fundo e os presbitérios muito menos. Estes documentos deveriam estar numa publicação só e disponíveis para cada presbitério para o estudo com a comunidade.
No texto Unidade: Contexto e Identidade da IECLB – 2004 a Igreja coloca quais os documentos que dão a teologia oficial da Igreja: (documentos desconhecidos pela maioria dos/as obreiros/as)
"Outros escritos relevantes para a unidade da IECLB, embora em nível descendente de importância, são:
a) os documentos normativos (Constituição, Regimento Interno, Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, Ordenamento Jurídico-Doutrinário – OJD);
b) os documentos orientadores (Nossa Fé – Nossa Vida, PAMI, A IECLB às Portas do Novo Milênio, A IECLB no Pluralismo Religioso);
c) manifestos e posicionamentos;
d) declarações conciliares;
e) cartas pastorais da Direção da Igreja."
Todos esses documentos e escritos, em seu conjunto, dão a feição teológica oficial da IECLB.
O que eu estou defendendo aqui? Puro conservadorismo! Quero que a igreja seja conservadora na prática de sua teologia oficial viabilizando o que dizem seus escritos oficiais. Estamos tão mal pegados que até ser conservador nesta igreja é ser subversivo e ser mal visto. Eu sou um conservador, pois sou evangelicamente utópico, ser moderno é não ter mais utopia, pois o mercado já realizou a história, que daqui para diante o futuro será nosso presente, não há futuro no capitalismo, só o presente. O Evangelho de Jesus Cristo é utópico, pois aponta para o futuro, dizendo que haverá um futuro novo, que até já começou a partir de uma nova prática de fé (2 Co 5.17) e vai se realizar na segunda vinda de Cristo, quando o Reino de Deus vai ser entregue a Deus por Cristo após o poder e a morte terem sido derrotados totalmente (1 Co 15.24-26). Só que o presente diz que há 1 bilhão e 200 milhões de famintos no mundo, diz que 80% dos trabalhadores brasileiros recebem até 3 salários mínimos, diz que se mata 45 mil pessoas por ano no país e morrem mais 40 mil no trânsito, 100 milhões de brasileiros, a metade da população, vivem da assistência do Estado (INSS e programas sociais), 44% da terra está concentrada na mão de 0,9% dos proprietários, os pobres são expulsos de suas propriedades para serem viabilizados os projetos do capital como barragens e empreendimentos relacionados com a copa e as olimpíadas e assim vai. Belo futuro que temos no presente!
Isto tudo o Evangelho de Jesus Cristo deve ignorar e muito menos mexer nisto. Para manter isto assim e de preferência piorar a concentração da riqueza foi construída a Reestruturação que por sua vez elaborou uma série de leis para reproduzir esta estrutura e a teologia inerente à ela com vistas à manutenção do status quo. Temos assim: uma teologia oficial (evangelicamente subversiva) e uma teologia real (acomodadora à realidade vigente). Assim o oficial é fictício e o fictício (o real não revelado, escondido e ignorado, pois a comunidade real normalmente não é realmente evangélica subversiva, por isso é fictícia) é oficial. Fictícia é a comunidade não baseada na prática evangélica revolucionária, pois não é comunidade de Jesus Cristo, mas é esta a real, na maioria dos casos. A insegurança e o medo são fundamentais para a reprodução de qualquer sistema de dominação, pois o medo paralisa e a IECLB está paralisada, parada, no meio do capitalismo neoliberal sem proposta prática evangélica subversiva diante dele.
Assim não se fala da teologia real (aquela viabilizada na comunidade que não é evangelicamente subversiva, mas mantenedora deste século) e nem do medo real que há no meio de nós por causa das leis repressivas para que o Evangelho seja domesticado (coisa nada nova na cristandade ocidental).
A reformulação da Avaliação que o Conselho da Igreja está promovendo (porque a repressão aos pastores era evidente com fraudes e outras coisas mais) e que prevê a manutenção do TAM é o que o Bush chamou de "humanizar a tortura", quando foi denunciada a tortura em Guantánamo e outros centros de detenção secretos espalhados pelo mundo - é a "democracia" sob o capital. O TAM e a Avaliação querem garantir o cerne da Reestruturação: um projeto de igreja de direita que elimine qualquer teologia da cruz, pois teologia da cruz é insurgente e revolucionária (Lc 23.1-5).
Precisamos ler novamente, para quem já leu, e quem ainda não leu, deve ler dois livrinhos de Lutero: Da Autoridade Secular e Da Liberdade Cristã. No tempo de Lutero o Estado impedia a pregação pura e reta do Evangelho, hoje é a própria igreja que patrocina esta atividade censuradora via legislação repressiva construída a partir de um projeto de igreja da direita que reina pelo medo e pela insegurança. Nada disto é dito e nem está escrito oficialmente em lugar nenhum, mas que é muito real. Não enxergamos isto porque não temos a prática de fazer análise de conjuntura eclesial e nem da conjuntura e da estrutura do capital. O que não vemos não sabemos. Acontece que a repressão sobre a pastorada vemos e a vemos nas práticas comunitárias conservadoras que a pastorada reproduz. Não é o Evangelho que diz o que o capitalismo deve fazer (sumir), mas é o capitalismo que diz o que a igreja deve fazer. Em vez da Igreja (Evangelho) evangelizar o mundo capitalista é o mundo capitalista que evangeliza a Igreja. É esta a dinâmica do capital que transforma as pessoas em coisas e as coisas em pessoas. E, as pessoas que fazem as coisas são guiadas (mandadas) pelas coisas que fizeram, é o fetichismo do capital. O capital diz como o Evangelho deve ser pregado, assim é o capital que muda as pessoas (para não mudarem de fato porque aquilo que é pecado não o é mais) e não o Evangelho.
A Reestruturação foi construída para que o Evangelho de Jesus Cristo não seja pregado e vivido como algo subversivo (teologia da cruz), mas como algo que deve manter este século (o capitalismo) como está. Por isso o TAM e a Avaliação são tão importantes neste processo e precisam ser mantidos; mexer num é mexer no outro. Só tem um porém: o Espírito Santo não se deixa engaiolar e nem se amedrontar, ele sopra onde quer.
Imagine a situação: o Concílio da Igreja se reúne e são feitas análises da conjuntura da igreja e da realidade brasileira sob a hegemonia do capital e com isto se descobre que a nossa realidade não tem muita coisa de justa e que nós como igreja não estamos fazendo nada contra esta realidade injusta que provém da essência do capitalismo e que a fé evangélica luterana essencialmente nos empurra ao encontro dos injustiçados para com eles lutar por justiça (Mt 25.31-46); como é que ficam os delegados/as que viceralmente são defensores do capitalismo? Quem vai defender nas comunidades o engajamento da IECLB nas lutas populares, sindicais e político partidárias? Quem vai dar costas quentes aos pastores/as para viabilizar os encaminhamentos do concílio que decidiu que como igreja teremos que participar concretamente nas lutas do povo por justiça a partir da realidade local? Foi este o dilema dos anos 80 onde havia esta decisão, não se encaminhou isto concretamente e planejadamente para as comunidades porque isto feria abertamente o conceito e prática de igreja como "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos". Mesmo que isto não ter sido encaminhado pela direção da igreja, acendeu a luz vermelha para a direita e ela decidiu prevenir para não remediar e daí surge a Reestruturação em 1997, gestada nos finais dos anos 80 e posto goela abaixo em Ivoti em 1997. Foi o golpe branco na igreja para perpetuar o capitalismo (não que ele precisasse fundamentalmente da IECLB para se manter, mas não dá para bobear) e para isto são necessárias regras claras para preservar esta vitória da direita; entre estas o TAM e a Avaliação. A luta contra o TAM e a Avaliação faz parte da luta por uma nova estrutura de igreja que viabilize a sua própria teologia oficial, pois atualmente não é possível, sem sofrer repressão, viabilizar concretamente na prática comunitária a teologia oficial da IECLB. Não esquecendo que há resistência teimosa de muitos pastores/as, catequistas, diáconos e diaconisas e de missionários (este meio não conheço bem), que procuram furar e driblar a repressão e estão encaminhando partes da teologia oficial na prática comunitária, com temor e tremor, como diz Paulo. O que é uma calamidade, pois na Igreja a pregação e vivência prática do Evangelho deveriam ser livres e abertas, como testemunho diante do mundo capitalista de que nós temos um futuro (no capitalismo não há futuro, pois ele não salva, só Jesus Cristo salva!), que já está em andamento, pois temos esperança: 1 Pd 3.15: "estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós".
A IECLB ordena os/as obreiros/as para que preguem pura e retamente o Evangelho e administrem retamente os sacramentos, que são Palavra de Deus visíveis e palpáveis, nas comunidades, mas a instituição não tem mecanismos de proteger e defender os/as ordenados/as e enviados/as quando forem chutadas da paróquia porque foram fiéis pregadores do Evangelho (em Palavra e Sacramentos) deixando claro que o capitalismo não salva, pois é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus ou porque fizeram um trabalho em favor da formação teológica tendo em vista o engajamento dos membros nas lutas por justiça do movimento popular e sindical, isto que nem estou falando de engajamento político partidário de esquerda. Assim, a Igreja ordena para pregar o Evangelho nas comunidades e quando o/a ordenado/a o fizer vai para rua por isso e não tem nada que se possa fazer. A melhor forma de se desviar de tudo isto é botar o/a obreiro/a a trabalhar 3 turnos ao dia, todo o dia, para que não possa estudar teologia e não tenha tempo para se engajar na luta popular e preparar teologicamente os membros para isto. Sacerdócio geral, então, nem pensar! Pagamos o/a pastor/a para fazer o que nós não queremos ou não sabemos e também não queremos aprender para poder fazer. Acontece uma luta sindical ou do movimento popular o/a obreiro/a não pode participar porque tem ensino confirmatório ou uma OASE, e ai se ele faltar, afinal é pago para fazer. A função do/a obreiro/a não é se matar correndo para cobrir sua agenda superlotada imposta pelas comunidades para mostrar serviço, mas é ter tempo para o estudo e a oração para se preparar para poder capacitar teologicamente a comunidade para o seu exercício do ministério sacerdotal. O sacerdócio geral de todos os crentes não está no horizonte utópico das comunidades. Assim esta Igreja vai lenta, mas inevitavelmente, definhar, por não ser missionária. A Reestruturação foi a pazada de cal final para fechar a cova; sem Segenssprung. Estamos num processo de aprisionamento da Palavra de Deus pela teologia do deus capital, que não admite ter outro Deus (Trindade) do seu lado. Estamos no dilema colocado em Mt 6.24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas". É um grande dilema, pois na prática não somos membros da comunidade pelo batismo e pela fé, como diz a teologia, mas pela contribuição financeira. Contribuição financeira atrasada veta o batismo, a confirmação e o enterro, diz a prática legal. Coisa do clube chamado "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos". Pastor/a que desobedece esta regra de ouro clubista está fora cedo ou tarde.
O que vamos fazer com Rm 10.17 onde diz que “a fé vem pela pregação e a pregação pela palavra de Cristo” se a pregação está delimitada pelos interesses do capital que faz uso das leis da estrutura eclesial para engaiolar e na melhor das hipóteses adaptar o Evangelho aos interesses do capital? Anos atrás o pastor em Erechim (que não mais está lá hoje) nem ousava cruzar a soleira da porta do escritório do CAPA (quanto mais abrir as portas das comunidades para o CAPA - que há mais de um quarto de século presta bons serviços à sociedade brasileira e à Igreja) com medo de ser despejado da paróquia (deve ter sido explicitamente advertido frente tal ousadia) porque o CAPA não defende o modelo agrícola e agrário do agronegócio, que é o nome moderno do velho e carcomido latifúndio escravista e assassino. Como pregar o Evangelho de Jesus Cristo nesta situação de engaiolamento deste? A instituição garantiria o seu pastorado nesta paróquia se ele fosse trabalhar com o CAPA nas comunidades? Não estou nem falando de trabalhar com sem terra ou quilombolas, mas com um órgão da IECLB.
Resumindo: temos que acabar com a estrutura atual da Igreja para que possa ser evangélica de confissão luterana no Brasil (inserida nas lutas do povo brasileiro por justiça em direção ao Reino de Deus), uma igreja onde é possível pregar livremente pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo sem receio de repressão por parte da Igreja, apenas do mundo, pois este sempre vai nos perseguir; como diz Jesus Cristo em Lc 10.3: "Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos". Por uma Igreja sem lobos, apenas de cordeiros! A Igreja é como o PT que começou dizendo ser um partido sem patrão, agora são os patrões que governam; a Igreja começou apenas com cordeiros, agora está cheia de lobos que dizem o que fazer e o que não fazer; como raposas que administram e cuidam do galinheiro. É o que Marx chama de luta de classes, que é o motor da história, que temos que mudar em situações que nos foram dadas e não como queríamos que fossem, que perpassa toda a sociedade, também a Igreja. Mostrar que existe a luta de classes na igreja já é um avanço, mas nem isto a igreja consegue fazer, pelo contrário procura a todo custo esconder este processo para não desmascarar a classe economicamente dominante que através de seus testas de ferro (pequena burguesia e trabalhadores alienados) comandam a igreja.
Termino com uma palavra bonita de Lutero que se encontra na edição da Bíblia da SSB com Reflexões de Lutero:
Pv 30.13
Visto que Deus é o mais elevado e que nada existe acima dele, ele há que dirigir seu olhar necessariamente para si mesmo e para baixo; quanto mais baixo alguém está, tanto melhor ele o enxerga. Os olhos do mundo, porém, e os dos homens fazem o contrário: olham somente para cima e querem erguer-se a todo custo, como se lê em Pv 30.13. Esta é nossa experiência diária: todos estão em busca de coisas acima deles, de honra, poder, riqueza, conhecimentos, bem-estar e tudo que é grande e elevado. E onde existem pessoas assim, todos se agregam a elas, a elas acorrem, a elas servem com prazer; todos querem estar ali e ter parte em sua posição elevada. Por outro lado, ninguém quer olhar para baixo, onde existe pobreza, miséria, desgraça; disso todo o mundo desvia o olhar. E onde existem tais pessoas, todos se afastam e ninguém se lembra de lhes ajudar, e trabalhar para que também sejam algo. Aí não existe criador entre os homens que fosse capaz de fazer algo do nada, como São Paulo ensina em Rm 12.16: "Prezados irmãos, não atenteis para as coisas elevadas, mas solidarizai-vos com as humildes." OS 6,24

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