A luta contra o TAM e a Avaliação batem diretamente no cerne
da IECLB, pois ameaçam a base sobre a qual a Reestruturação foi construída. Que
base é esta? A comunidade conservadora com prática de clube; esta a
Reestruturação quer manter. Sobre o que a Reestruturação foi construída? A
Reestruturação foi construída para adequar a 'cabeça' às práticas eclesiásticas
da base. A Reestruturação só mexeu na estrutura da igreja da Paróquia para cima
porque na paróquia não se queria mexer, pois esta base estava em grande parte
conforme os interesses da direita anticlerical que capitaneou a Reestruturação.
Não se queria uma base engajada no processo de construção de uma nova igreja
engajada e comprometida com a luta por justiça em direção a uma nova sociedade
igualitária. Exatamente isto se queria evitar com a Reestruturação. A
Reestruturação foi uma reforma conservadora para solidificar o status quo
neoliberal e colocar a igreja a reboque da forte propaganda da inevitabilidade
do neoliberalismo em pleno momento político e econômico da privataria tucana,
cujo resultado subvalorizado ficou em 83 bilhões que sumiram no poço sem fundo
da dívida externa que mesmo assim continuou aumentando juntamente com a dívida
interna que saltou de 59 bilhões para 650 bilhões no governo FHC e hoje está
acima de 2 trilhões.
Temos que diferenciar a teologia oficial da IECLB da
Reestruturação da IECLB. A teologia real não admite e nem suporta a teologia
oficial, que é a que está nos documentos da Igreja: baseada na Bíblia e na
confessionalidade inseridas na realidade brasileira.
Digo sempre, simploriamente, que a base da IECLB são os três
X do alemão: xopp, xurrasco e xixo (que estão inseridos na dinâmica da economia
de mercado, pois somos conhecidos como a igreja dos alemães que fazem comida
boa - cuca, lingüiça, churrasco -, vendem muita cerveja e chopp e promovem
grandes bailes que sustentam grandes conjuntos musicais que promovem a cultura
de massas, que necessariamente não é uma cultura de resistência ao capital).
A Reestruturação eliminou o Distrito que era um fermentador
e experimentador teológico não bem quisto e nem controlável pela direita. O
Distrito nunca deixou a direita assumir o cargo de Pastor Presidente da IECLB e
estava em muitos lugares inserido nas lutas do povo contra a ditadura
civil-militar e do movimento sindical e popular e dos partidos de esquerda ou
centro-esquerda. Isto era inadmissível para a direita anticlerical que
capitaneou o processo da Reestruturação.
Era fundamental que houvesse um controle sobre a teologia da
pastorada, que segundo o Regimento Interno, tem a função de dar a direção
teológica da e na paróquia. Para a direita que quer dar a direção teológica da
paróquia tem a sua base nos três X, que insere a igreja na dinâmica do mercado
e garante que a Igreja seja e continue sendo apenas e somente Religião e nunca
Evangelho, sendo um "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins
Religiosos". Os Distritos estavam com sua prática comunitária sendo
'contaminados' pelo processo das lutas populares e isto estava aflorando nos
Concílios Gerais em que se proclamou documentos que propunham que se fizesse um
trabalhe de base com o movimento popular, sindical e ambiental. Além disto, os
Distritos eram incontroláveis eleitoralmente e nunca deixavam a direita assumir
a presidência da Igreja. Aí pastores de direita e leigos de direita e
anticlericais encamparam a luta da Reestruturação a isto se somaram muitos
pastores ingênuos que não estavam entendendo o processo. Na verdade, poucos
estavam, na época, entendendo o que de fato se queria. Queria-se que a dinâmica
eclesial se adequasse às dinâmicas do mercado neoliberal e à sua ideologia,
pois estávamos no auge da propaganda neoliberal junto com todo o processo da
privataria tucana.
Na ideologia neoliberal não há mais lugar para uma grande
narração histórica, que abarca a totalidade da leitura da realidade, apenas há
a narração das partes, exatamente para não se entender o todo, para assim se
impedir o processo revolucionário do Reino de Deus. O neoliberalismo atomizou o
todo para que não possamos entendê-lo, só conseguimos enxergar as partes
desconectadas. De fato isto é mentira porque o próprio capitalismo tem uma
grande narrativa que é: não existe nada além do capitalismo planetário. O
capitalismo é a realização da história. Por isso foram criados na Igreja, no
apagar da luzes da velha estrutura e no final do ano, mais dois centros de
formação que tem a função de se contrapor à, hoje, EST, que era tida com
infiltrada pelo vírus da Teologia da Libertação. Depois a Igreja sob a nova
direção dos advogados simplesmente desvinculou os centros de formação do CNPJ
da Igreja para garantir na prática a pulverização teológica e tentar impedir
uma unidade teológica na Igreja e principalmente dar com o tempo um novo rosto
teológico para a IECLB. Logo depois tivemos o primeiro cisma na igreja em que o
MC (que foi uma cria do ME, que não fez até hoje o seu mea culpa) se retirou da
IECLB. Hoje a IECLB não controla mais a formação teológica na Igreja, ela se
ilude achando que com o PPHM e o colóquio se controla a questão, triste ilusão.
Por que os 18 Sínodos? Para fracionar a Igreja, dentro do
conceito neoliberal de que não há uma grande narrativa, mas apenas fatos
locais. Uma Igreja com um fio vermelho claro, como os Concílios dos anos 80
estavam querendo, era um perigo para a direita, por isso 18 igrejinhas isoladas
com muita autonomia (coisa que de fato não aconteceu) sob uma coordenação sem
poder do Pastor Presidente não se conseguirá firmar um projeto de "esquerda"
como acenavam as decisões conciliares dos anos 80. Hoje é o Tema do Ano que é o
'grande' unificador da Igreja. Cada Sínodo com mais poder controlado por um
Conselho Sinodal cujos conselheiros são indicados pelas paróquias e que
normalmente são conservadores é o ideal para impedir qualquer avanço em direção
à esta nova sociedade igualitária que Jesus Cristo chama de Reino de Deus e que
por isso mesmo questiona o capitalismo em sua essência. Os Distritos foram
esvaziados pela junção com outros para formar o Sínodo e assim estamos hoje, 15
anos depois, discutindo um Projeto de Igreja porque não sabemos para onde
estamos indo; ou melhor dito, porque sabemos para onde estamos indo: manter e
reproduzir o capitalismo.
Resultado de tudo isso: apatia teológica geral e reforço da
prática teológica dos três X. Lembro da comunidade de Passo Fundo onde o ME
tentou solapar as bases dos três X e foi expulso da paróquia pela ala
tradicional. Agora a direita controla o todo da Igreja: a base que antes já
controlava, em sua maioria, e agora controla também o resto da estrutura, haja
visto que o Pastor Presidente é apenas um convidado no Conselho da Igreja sem
direito a voto (o que é uma vergonha e mostra claramente o que o grupo
anticlerical queria), contrariando toda a prática nas demais instâncias da
Igreja, onde desde a paróquia e o sínodo os pastores são parte integrante
oficial da direção: diretoria da paróquia, conselho sinodal. Diz-se: o Pastor
Presidente cuida do teológico e nós, Conselho da Igreja (onde três por um são
leigos - não tenho problemas com os leigos, mas com os leigos e pastores de
direita que querem que a Igreja seja Religião e não Evangelho), cuida do
administrativo (do dinheiro e das leis); só que estes é que definem de fato o
teológico, porque não dá para separar o administrativo do teológico. Quem
controla as finanças diz o que e o que não é importante, o resto é conversa
fiada.
A prática define a verdade e não a teoria. Qual é a prática
da e na IECLB? Os três X? Não somente. A prática eclesial não é determinada
pela teologia oficial a Igreja, mas pelo que a direita permite e não permite.
Quem de fato dá a linha teológica na IECLB, não são os teólogos formados pela
Igreja nos centros de formação, mas são os presbitérios com parca formação
teológica evangélica luterana e boa formação ideológica capitalista. Estes é
que precisam do TAM e da Avaliação para garantir que a IECLB seja Religião e
não Evangelho, com sua centralidade na cruz de Cristo (1 Co 1.18-31). Mexer no
TAM e Avaliação é mexer no cerne da Reestruturação que veio para garantir a
adaptação da Igreja ao capitalismo neoliberal, pois, afinal, a utopia não
existe mais! Não existe mais outra forma de organizar a sociedade toda além do
capitalismo neoliberal, dizem os teólogos do deus capital. Só que o Evangelho
de Jesus Cristo diz que há outra forma de organizar a vida e a sociedade toda
naquilo que Jesus Cristo chama de Reino de Deus, que é sua mensagem central.
Por mais que a direita tente ela não vai poder controlar o
Espírito Santo, pois aqui e ali o Evangelho da cruz de Cristo continua sendo
pregado e tentado ser concretizado nas comunidades da IECLB. O TAM e a
Avaliação são mecanismos preciosos para garantir certo controle para que o
cerne da IECLB permaneça sendo apenas uma "Associação Cultural e Recreativa
Alemã com fins Religiosos", que impede que a Igreja seja missionária e se
apegue apenas às tradições eclesiásticas solidificadas em quase 200 anos no
Brasil. A IECLB é conhecida na sociedade como? Como a igreja dos alemães e das
festas e não pelo seu engajamento evangélico revolucionário nas lutas do povo
brasileiro pela justiça, que está no cerne de nosso batismo, como diz Jesus em
Mt 3.15: "porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça", em Mt
6.33: "buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e
todas estas coisas vos serão acrescentadas" e Paulo acrescenta em Rm 14.17:
"Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e
alegria no Espírito Santo".
Para que a IECLB seja missionária ela terá de se inserir nos
processos da realidade brasileira e nas lutas do povo que até 80% recebe até 3
salários mínimo, que é, portanto, pobre. E segundo o Evangelho é com os pobres
que Deus constrói o Reino de Deus (Lc 6.20; Lc 10.21, 1 Co 4.9-13), os ricos (e
trabalhadores alienados e iludidos pelo sistema capitalista) também são
convidados, pois o Evangelho é pregado à todos, mas estes não estão
interessados numa nova sociedade igualitária e não classista que é o Reino de
Deus, onde todos são irmãos e irmãs. Os capitalistas na igreja querem perpetuar
a sociedade de classes onde predomina a dominação e exploração de uma classe
sobre a outra e por isso o Evangelho para eles é subversivo que precisa ser
controlado porque quer acabar com a sociedade de classes para que sejamos todos
irmãos e irmãs. Será que é isto que Mateus chama de pecado contra o Espírito
Santo que não tem perdão (Mt 12.32)?
Com a Reestruturação se elaborou o arcabouço jurídico
doutrinário da igreja capitaneado pela direita, são estas leis que determinam
hoje a vida da Igreja, entre elas o TAM e a Avaliação, que são apenas pequena
parte, mas fundamental para manter o cerne da Reestruturação, manter a Igreja
aliada do capitalismo neoliberal, que ainda não morreu apesar das crises.
Controlando indiretamente pelo TAM e a Avaliação a pregação da pastorada que
está desorganizada, individualizada, acomodada e acossada, tudo características
ideais para manter o controle teológico sobre eles e sua prática comunitária.
Portanto, o TAM e a Avaliação não são coisas marginais, mas centrais para o
controle da pregação do Evangelho, segundo os interesses do capital.
Não tenho ilusões de que consigamos derrubar estas leis
repressivas, pois isto derrubaria com o tempo toda a estrutura da
Reestruturação. Isto não quer dizer que vamos desistir de lutar contra estas
leis repressivas e contra todo o modelo da Reestruturação e sua teologia
ancorada no deus capital. Em 2007 a Igreja fez a sua avaliação da
Reestruturação e concluiu que ela é um sucesso. Isto de fato é verdade. A
Reestruturação é um sucesso para a manutenção deste século e para a manutenção
do modelo de igreja defendido pela direita para impedir que as comunidades se
engajem na luta por justiça a partir da exploração que o povo brasileiro sofre
por parte do capital.
Digamos que o TAM e a Avaliação sejam derrubadas, isto vai
mudar o modelo de igreja da "Associação Cultural e Recreativa Alemã com
fins Religiosos"? Não vai, mas abre a possibilidade de haver maior
liberdade de pregar pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo e com o tempo
construir um novo modelo de igreja conforme os documentos teológicos oficiais
da IECLB. Se você hoje ousar seguir a teologia dos documentos oficiais da IECLB
você será, no final do TAM ou antes, convidado a procurar outra paróquia,
gentilmente ou de forma brusca. Os documentos oficiais da IECLB são
evangelicamente subversivos, por isso a maioria da pastorada não os conhece a
fundo e os presbitérios muito menos. Estes documentos deveriam estar numa
publicação só e disponíveis para cada presbitério para o estudo com a
comunidade.
No texto Unidade:
Contexto e Identidade da IECLB – 2004 a Igreja coloca quais os documentos
que dão a teologia oficial da Igreja: (documentos desconhecidos pela maioria
dos/as obreiros/as)
"Outros escritos relevantes para a unidade da IECLB,
embora em nível descendente de importância, são:
a) os documentos normativos (Constituição, Regimento
Interno, Estatuto do Ministério com Ordenação – EMO, Ordenamento
Jurídico-Doutrinário – OJD);
b) os documentos orientadores (Nossa Fé – Nossa Vida, PAMI,
A IECLB às Portas do Novo Milênio, A IECLB no Pluralismo Religioso);
c) manifestos e posicionamentos;
d) declarações conciliares;
e) cartas pastorais da Direção da Igreja."
Todos esses documentos e escritos, em seu conjunto, dão a
feição teológica oficial da IECLB.
O que eu estou defendendo aqui?
Puro conservadorismo! Quero que a igreja seja conservadora na prática de sua
teologia oficial viabilizando o que dizem seus escritos oficiais. Estamos tão
mal pegados que até ser conservador nesta igreja é ser subversivo e ser mal
visto. Eu sou um conservador, pois sou evangelicamente utópico, ser moderno é
não ter mais utopia, pois o mercado já realizou a história, que daqui para
diante o futuro será nosso presente, não há futuro no capitalismo, só o presente.
O Evangelho de Jesus Cristo é utópico, pois aponta para o futuro, dizendo que
haverá um futuro novo, que até já começou a partir de uma nova prática de fé (2
Co 5.17) e vai se realizar na segunda vinda de Cristo, quando o Reino de Deus vai
ser entregue a Deus por Cristo após o poder e a morte terem sido derrotados
totalmente (1 Co 15.24-26). Só que o presente diz que há 1 bilhão e 200 milhões
de famintos no mundo, diz que 80% dos trabalhadores brasileiros recebem até 3
salários mínimos, diz que se mata 45 mil pessoas por ano no país e morrem mais
40 mil no trânsito, 100 milhões de brasileiros, a metade da população, vivem da
assistência do Estado (INSS e programas sociais), 44% da terra está concentrada
na mão de 0,9% dos proprietários, os pobres são expulsos de suas propriedades
para serem viabilizados os projetos do capital como barragens e empreendimentos
relacionados com a copa e as olimpíadas e assim vai. Belo futuro que temos no
presente!
Isto tudo o Evangelho de Jesus Cristo deve ignorar e muito
menos mexer nisto. Para manter isto assim e de preferência piorar a
concentração da riqueza foi construída a Reestruturação que por sua vez
elaborou uma série de leis para reproduzir esta estrutura e a teologia inerente
à ela com vistas à manutenção do status quo. Temos assim: uma teologia oficial
(evangelicamente subversiva) e uma teologia real (acomodadora à realidade
vigente). Assim o oficial é fictício e o fictício (o real não revelado,
escondido e ignorado, pois a comunidade real normalmente não é realmente
evangélica subversiva, por isso é fictícia) é oficial. Fictícia é a comunidade
não baseada na prática evangélica revolucionária, pois não é comunidade de
Jesus Cristo, mas é esta a real, na maioria dos casos. A insegurança e o medo
são fundamentais para a reprodução de qualquer sistema de dominação, pois o
medo paralisa e a IECLB está paralisada, parada, no meio do capitalismo
neoliberal sem proposta prática evangélica subversiva diante dele.
Assim não se fala da teologia real (aquela viabilizada na
comunidade que não é evangelicamente subversiva, mas mantenedora deste século)
e nem do medo real que há no meio de nós por causa das leis repressivas para
que o Evangelho seja domesticado (coisa nada nova na cristandade ocidental).
A reformulação da Avaliação que o Conselho da Igreja está promovendo
(porque a repressão aos pastores era evidente com fraudes e outras coisas mais)
e que prevê a manutenção do TAM é o que o Bush chamou de "humanizar a
tortura", quando foi denunciada a tortura em Guantánamo e outros centros
de detenção secretos espalhados pelo mundo - é a "democracia" sob o
capital. O TAM e a Avaliação querem garantir o cerne da Reestruturação: um
projeto de igreja de direita que elimine qualquer teologia da cruz, pois
teologia da cruz é insurgente e revolucionária (Lc 23.1-5).
Precisamos ler novamente, para quem já leu, e quem ainda não
leu, deve ler dois livrinhos de Lutero: Da Autoridade Secular e Da Liberdade
Cristã. No tempo de Lutero o Estado impedia a pregação pura e reta do
Evangelho, hoje é a própria igreja que patrocina esta atividade censuradora via
legislação repressiva construída a partir de um projeto de igreja da direita
que reina pelo medo e pela insegurança. Nada disto é dito e nem está escrito
oficialmente em lugar nenhum, mas que é muito real. Não enxergamos isto porque
não temos a prática de fazer análise de conjuntura eclesial e nem da conjuntura
e da estrutura do capital. O que não vemos não sabemos. Acontece que a
repressão sobre a pastorada vemos e a vemos nas práticas comunitárias
conservadoras que a pastorada reproduz. Não é o Evangelho que diz o que o
capitalismo deve fazer (sumir), mas é o capitalismo que diz o que a igreja deve
fazer. Em vez da Igreja (Evangelho) evangelizar o mundo capitalista é o mundo
capitalista que evangeliza a Igreja. É esta a dinâmica do capital que
transforma as pessoas em coisas e as coisas em pessoas. E, as pessoas que fazem
as coisas são guiadas (mandadas) pelas coisas que fizeram, é o fetichismo do
capital. O capital diz como o Evangelho deve ser pregado, assim é o capital que
muda as pessoas (para não mudarem de fato porque aquilo que é pecado não o é
mais) e não o Evangelho.
A Reestruturação foi construída para que o Evangelho de
Jesus Cristo não seja pregado e vivido como algo subversivo (teologia da cruz),
mas como algo que deve manter este século (o capitalismo) como está. Por isso o
TAM e a Avaliação são tão importantes neste processo e precisam ser mantidos;
mexer num é mexer no outro. Só tem um porém: o Espírito Santo não se deixa
engaiolar e nem se amedrontar, ele sopra onde quer.
Imagine a situação: o Concílio da Igreja se reúne e são
feitas análises da conjuntura da igreja e da realidade brasileira sob a
hegemonia do capital e com isto se descobre que a nossa realidade não tem muita
coisa de justa e que nós como igreja não estamos fazendo nada contra esta
realidade injusta que provém da essência do capitalismo e que a fé evangélica
luterana essencialmente nos empurra ao encontro dos injustiçados para com eles
lutar por justiça (Mt 25.31-46); como é que ficam os delegados/as que
viceralmente são defensores do capitalismo? Quem vai defender nas comunidades o
engajamento da IECLB nas lutas populares, sindicais e político partidárias?
Quem vai dar costas quentes aos pastores/as para viabilizar os encaminhamentos
do concílio que decidiu que como igreja teremos que participar concretamente
nas lutas do povo por justiça a partir da realidade local? Foi este o dilema
dos anos 80 onde havia esta decisão, não se encaminhou isto concretamente e
planejadamente para as comunidades porque isto feria abertamente o conceito e
prática de igreja como "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins
Religiosos". Mesmo que isto não ter sido encaminhado pela direção da
igreja, acendeu a luz vermelha para a direita e ela decidiu prevenir para não
remediar e daí surge a Reestruturação em 1997, gestada nos finais dos anos 80 e
posto goela abaixo em Ivoti em 1997. Foi o golpe branco na igreja para
perpetuar o capitalismo (não que ele precisasse fundamentalmente da IECLB para
se manter, mas não dá para bobear) e para isto são necessárias regras claras
para preservar esta vitória da direita; entre estas o TAM e a Avaliação. A luta
contra o TAM e a Avaliação faz parte da luta por uma nova estrutura de igreja
que viabilize a sua própria teologia oficial, pois atualmente não é possível,
sem sofrer repressão, viabilizar concretamente na prática comunitária a
teologia oficial da IECLB. Não esquecendo que há resistência teimosa de muitos pastores/as,
catequistas, diáconos e diaconisas e de missionários (este meio não conheço
bem), que procuram furar e driblar a repressão e estão encaminhando partes da
teologia oficial na prática comunitária, com temor e tremor, como diz Paulo. O
que é uma calamidade, pois na Igreja a pregação e vivência prática do Evangelho
deveriam ser livres e abertas, como testemunho diante do mundo capitalista de
que nós temos um futuro (no capitalismo não há futuro, pois ele não salva, só
Jesus Cristo salva!), que já está em andamento, pois temos esperança: 1 Pd
3.15: "estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos
pedir razão da esperança que há em vós".
A IECLB ordena os/as obreiros/as para que preguem pura e
retamente o Evangelho e administrem retamente os sacramentos, que são Palavra
de Deus visíveis e palpáveis, nas comunidades, mas a instituição não tem
mecanismos de proteger e defender os/as ordenados/as e enviados/as quando forem
chutadas da paróquia porque foram fiéis pregadores do Evangelho (em Palavra e
Sacramentos) deixando claro que o capitalismo não salva, pois é um instrumento
que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus ou porque
fizeram um trabalho em favor da formação teológica tendo em vista o engajamento
dos membros nas lutas por justiça do movimento popular e sindical, isto que nem
estou falando de engajamento político partidário de esquerda. Assim, a Igreja
ordena para pregar o Evangelho nas comunidades e quando o/a ordenado/a o fizer
vai para rua por isso e não tem nada que se possa fazer. A melhor forma de se
desviar de tudo isto é botar o/a obreiro/a a trabalhar 3 turnos ao dia, todo o
dia, para que não possa estudar teologia e não tenha tempo para se engajar na
luta popular e preparar teologicamente os membros para isto. Sacerdócio geral,
então, nem pensar! Pagamos o/a pastor/a para fazer o que nós não queremos ou
não sabemos e também não queremos aprender para poder fazer. Acontece uma luta
sindical ou do movimento popular o/a obreiro/a não pode participar porque tem
ensino confirmatório ou uma OASE, e ai se ele faltar, afinal é pago para fazer.
A função do/a obreiro/a não é se matar correndo para cobrir sua agenda superlotada
imposta pelas comunidades para mostrar serviço, mas é ter tempo para o estudo e
a oração para se preparar para poder capacitar teologicamente a comunidade para
o seu exercício do ministério sacerdotal. O sacerdócio geral de todos os
crentes não está no horizonte utópico das comunidades. Assim esta Igreja vai
lenta, mas inevitavelmente, definhar, por não ser missionária. A Reestruturação
foi a pazada de cal final para fechar a cova; sem Segenssprung. Estamos num
processo de aprisionamento da Palavra de Deus pela teologia do deus capital,
que não admite ter outro Deus (Trindade) do seu lado. Estamos no dilema
colocado em Mt 6.24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de
aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro.
Não podeis servir a Deus e às riquezas". É um grande dilema, pois na
prática não somos membros da comunidade pelo batismo e pela fé, como diz a
teologia, mas pela contribuição financeira. Contribuição financeira atrasada
veta o batismo, a confirmação e o enterro, diz a prática legal. Coisa do clube
chamado "Associação Cultural e Recreativa Alemã com fins Religiosos".
Pastor/a que desobedece esta regra de ouro clubista está fora cedo ou tarde.
O que vamos fazer com Rm 10.17 onde diz que “a fé vem pela
pregação e a pregação pela palavra de Cristo” se a pregação está delimitada
pelos interesses do capital que faz uso das leis da estrutura eclesial para
engaiolar e na melhor das hipóteses adaptar o Evangelho aos interesses do
capital? Anos atrás o pastor em Erechim (que não mais está lá hoje) nem ousava
cruzar a soleira da porta do escritório do CAPA (quanto mais abrir as portas
das comunidades para o CAPA - que há mais de um quarto de século presta bons
serviços à sociedade brasileira e à Igreja) com medo de ser despejado da
paróquia (deve ter sido explicitamente advertido frente tal ousadia) porque o
CAPA não defende o modelo agrícola e agrário do agronegócio, que é o nome
moderno do velho e carcomido latifúndio escravista e assassino. Como pregar o
Evangelho de Jesus Cristo nesta situação de engaiolamento deste? A instituição
garantiria o seu pastorado nesta paróquia se ele fosse trabalhar com o CAPA nas
comunidades? Não estou nem falando de trabalhar com sem terra ou quilombolas,
mas com um órgão da IECLB.
Resumindo: temos que acabar com a estrutura atual da Igreja
para que possa ser evangélica de confissão luterana no Brasil (inserida nas
lutas do povo brasileiro por justiça em direção ao Reino de Deus), uma igreja
onde é possível pregar livremente pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo
sem receio de repressão por parte da Igreja, apenas do mundo, pois este sempre
vai nos perseguir; como diz Jesus Cristo em Lc 10.3: "Ide! Eis que eu vos
envio como cordeiros para o meio de lobos". Por uma Igreja sem lobos,
apenas de cordeiros! A Igreja é como o PT que começou dizendo ser um partido
sem patrão, agora são os patrões que governam; a Igreja começou apenas com
cordeiros, agora está cheia de lobos que dizem o que fazer e o que não fazer;
como raposas que administram e cuidam do galinheiro. É o que Marx chama de luta
de classes, que é o motor da história, que temos que mudar em situações que nos
foram dadas e não como queríamos que fossem, que perpassa toda a sociedade,
também a Igreja. Mostrar que existe a luta de classes na igreja já é um avanço,
mas nem isto a igreja consegue fazer, pelo contrário procura a todo custo
esconder este processo para não desmascarar a classe economicamente dominante
que através de seus testas de ferro (pequena burguesia e trabalhadores
alienados) comandam a igreja.
Termino com uma palavra bonita de Lutero que se encontra na
edição da Bíblia da SSB com Reflexões de Lutero:
Pv 30.13
Visto que Deus é o mais elevado e que nada existe acima
dele, ele há que dirigir seu olhar necessariamente para si mesmo e para baixo;
quanto mais baixo alguém está, tanto melhor ele o enxerga. Os olhos do mundo,
porém, e os dos homens fazem o contrário: olham somente para cima e querem
erguer-se a todo custo, como se lê em Pv 30.13. Esta é nossa experiência
diária: todos estão em busca de coisas acima deles, de honra, poder, riqueza,
conhecimentos, bem-estar e tudo que é grande e elevado. E onde existem pessoas
assim, todos se agregam a elas, a elas acorrem, a elas servem com prazer; todos
querem estar ali e ter parte em sua posição elevada. Por outro lado, ninguém
quer olhar para baixo, onde existe pobreza, miséria, desgraça; disso todo o
mundo desvia o olhar. E onde existem tais pessoas, todos se afastam e ninguém
se lembra de lhes ajudar, e trabalhar para que também sejam algo. Aí não existe
criador entre os homens que fosse capaz de fazer algo do nada, como São Paulo
ensina em Rm 12.16: "Prezados irmãos, não atenteis para as coisas
elevadas, mas solidarizai-vos com as humildes." OS 6,24
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