"Liberdade à luz da Reforma" é o tema a ser
abordado em outubro pela Comissão do Jubileu da IECLB, diz a Revista NovoOlhar.
Penso que este é um tema oportuno a ser discutido na IECLB,
pois a tal da liberdade anda um tanto escassa nesta Igreja. Explico:
Nos dias 30-31 de agosto a 1 de setembro no Sínodo Uruguai
se reuniu o Conselho Sinodal e outras lideranças das comunidades do Sínodo para
elaborar o Planejamento Estratégico do Sínodo. Perguntei ao Conselho Sinodal se
ele garantia aos/às pastores/as do Sínodo a pregação livre e pura do Evangelho.
Um ex-presidente do Sínodo e membro do Conselho Sinodal, com uma longa
caminhada de liderança em comunidade e paróquia, respondeu: "O Conselho
Sinodal não garante nada", e ninguém desdisse o que ele falou, pois falou
a verdade.
Isto significa que cada pastor/a está por conta própria. A
Igreja ordena a pastorada e não lhes garante costas quentes quando pregam
puramente o Evangelho de Jesus Cristo nas comunidades. Mas, pergunto, é perigoso
pregar puramente o Evangelho do Reino de Deus na Igreja?
É, pois ele inevitavelmente vai entrar em choque com o reino
deste mundo, o capitalismo, e sua forma presente na agricultura que é o
agronegócio que produz alimentos envenenados para a população, tanto carne
(frango, suíno e gado - cheios de antibióticos, anabolizantes, hormônios para
crescimento e engorda) como grãos (milho e soja transgênica; trigo e feijão;
estes dois últimos antes da colheita levam uma dose de veneno chamado Roundup
para morrerem de forma parelha para facilitar a colheita. Um agricultor disse:
"Pastor este trigo não é para comer é para vender". Ele não vai comer
este trigo, mas alguém vai comê-lo.) Este sistema capitalista demoníaco força
os agricultores a entrar neste modelo de agricultura química, pois não se
oferecem outras saídas. Os agricultores que engordam frangos e suínos nem sabem
o que tudo está dentro da ração que eles tratam às aves e suínos.
O Evangelho de Jesus Cristo choca-se frontalmente com este
modelo de agricultura e com este sistema econômico construído em cima da
exploração da classe trabalhadora que produz o lucro dos capitalistas e com
isto produz a doença e a morte.
Mas quem persegue os/as pastores/as nas comunidades? O
capitalismo e de que forma? No tempo do Império Romano era o Estado que
perseguia os cristãos que pregavam puramente o Evangelho de Jesus Cristo. Hoje,
normalmente (digo 'normalmente' porque tem muitas exceções), quem persegue
os/as pastores/as são os membros dos presbitérios das comunidades e paróquias
que são filiados à ACI, CDL, Lions, Rotary, Cooperativa do agronegócio,
maçonaria, sindicato rural. Por que? Porque estes normalmente não admitem que
exista outra forma de organizar a vida e a sociedade além do capitalismo. Só
que o Evangelho de Jesus Cristo propõe o Reino de Deus como a forma de
organizar a vida em oposição à forma deste mundo, o capitalismo. A função do/a
pastor/a é anunciar o Reino de Deus (não o capitalismo) como a forma verdadeira
de se organizar a vida e a sociedade em oposição ao capitalismo e seus modelos
no campo e na cidade.
Como mecanismo de regulamentar esta repressão a Igreja tem o
TAM e a Avaliação para controlar e intimidar a pastorada a não se oporem ao
sistema deste mundo, o capitalismo, mesmo que a Bíblia diga que a gente não é
para se conformar com este século (Rm 12), se manter incontaminado do mundo (Tg
1,27) e como diz 1 João 2.15 "Não ameis o mundo nem as coisas que há no
mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele".
Gostei da sinceridade deste conselheiro sinodal em dizer o
que de fato existe nesta Igreja, o que não foi contestado pelos outros
conselheiros; apenas o Pastor Sinodal disse que ele garante costas quentes à
pastorada para que possam pregar livre e puramente o Evangelho. De fato ele não
garante nada, por mais que queira, depois que o/a obreiro/a for afastado/a da
paróquia por agredir os interesses do capital ao visitar e acompanhar um
acampamento de sem terra, um acampamento de indígenas, um acampamento de
atingidos por barragens que está ocupando um canteiro de obras de uma
hidroelétrica ou falar dos malefícios do agronegócio e do capitalismo em si.
Como esta Igreja vai ser Igreja de Jesus Cristo se ela em
sua estrutura não garante a livre e pura pregação do Evangelho de Jesus Cristo
nas comunidades? A pastorada está por conta própria (Lc 10.3 Ide! Eis que eu
vos envio como cordeiros para o meio de lobos.), pois a instituição não lhes
garante apoio no caso de serem expulsos da paróquia por pregarem puramente o
Evangelho de Jesus Cristo que se confronta com o capitalismo.
Pensemos sobre isto no mês de outubro onde o tema é:
"Liberdade à luz da Reforma".
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