29 de outubro de 2013

A Base da IECLB.




Diante da realidade sempre temos duas posturas: conformar-se com ela ou não conformar-se com ela. Paulo diz em Rm 12 que a essência do Evangelho de Jesus Cristo é não nos conformarmos com a realidade existente em nosso mundo. Quem não se conforma com a realidade acaba sendo chato porque sempre tem que repetir a mesma coisa enquanto a realidade não for mudada. O MST já há 30 anos grita inconformado: Reforma Agrária Já! Reforma Agrária Já! Reforma Agrária Já! Enquanto a tal da Reforma Agrária não vier o MST continuará gritando: Reforma Agrária Já! Eu como não sou sem terra tenho outro tema do qual continuo gritando: Fora o TAM e a Avaliação, abaixo a Reestruturação Neoliberal da Direita na IECLB! Coisa chata essa de sempre se falar a mesma coisa!
O modelo de Igreja que questiono é este modelo da pequena burguesia, o qual também a classe trabalhadora acaba adotando por desconhecer outro. Se olharmos para a realidade da Igreja como Deus olhou para a realidade da luta de classes da sociedade tanto no AT como no NT forçosamente teremos que construir outro modelo de Igreja que vai ao encontro da classe explorada pela classe capitalista de hoje. Tanto no AT como no NT Deus quis construir outro projeto de sociedade. No NT a Igreja seria o instrumento para tal tarefa de construir esta nova sociedade que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. A tarefa primeira da Igreja não é meramente se reproduzir, mas é participar ativamente na construção desta nova sociedade igualitária e não classista que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. No entanto, na Igreja pouco se fala da construção de uma nova sociedade, como a requer o Evangelho de Jesus Cristo. Por que não se fala disto? Porque isto entra frontalmente em choque com o projeto de sociedade que a pequena burguesia, a serviço da grande burguesia, defende com o apoio da classe trabalhadora alienada pelo processo do capital. A Igreja acabou sendo um fim em si, quando é somente um instrumento (um meio) de Deus no processo de construir esta nova sociedade não capitalista, não classista, igualitária, de irmãos/ãs que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. No processo da construção do Reino de Deus é inevitável o enfrentamento com o projeto vigente na sociedade, que Paulo chama de 'este século', hoje o capitalismo. Mas, dentro da Igreja é totalmente ilusório pensar em pregar nesta perspectiva; quem faz isto não dura muito tempo na paróquia, pois o/a pastor/a está lá para fortalecer o projeto de Igreja que não é revolucionário, que é acomodador ao capitalismo. A Estrutura da Igreja tem a função de garantir que a pregação do Evangelho de Jesus Cristo seja revolucionária, pois o Reino de Deus é um processo revolucionário. O que a estrutura faz? Ela não garante isto. Envia a pastorada para pregar o Evangelho dentro da perspectiva do modelo de Igreja da pequena burguesia que legitima o capital. Um dos mecanismos da estrutura para garantir este modelo legitimador do capital está no EMO que se chama TAM e Avaliação.
Jesus Cristo foi chamado de agitador (Lc 23.13 Então, reunindo Pilatos os principais sacerdotes, as autoridades e o povo, 14 disse-lhes: Apresentastes-me este homem como agitador do povo;) e Paulo de peste, agitador e promovedor de sedições (At 24.5 Porque, tendo nós verificado que este homem é uma peste e promove sedições entre os judeus esparsos por todo o mundo, sendo também o principal agitador da seita dos nazarenos,) e os cristãos são as ovelhas mais mansas que se conhece e não questionam o sistema deste mundo que Javé em Jesus Cristo veio mudar radicalmente a partir de uma opção de classe, tornando-se classe camponesa, para a partir da perspectiva da classe explorada e oprimida (1 Co 1. 27 Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; 28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são;) construir uma sociedade sem classes; assim como Javé o fez no processo revolucionário do Êxodo na montanhas da Palestina onde os meios de produção (a terra) fico sob o controle de toda sociedade (das tribos) e não havia Estado, nem classes sociais e nem templo. A Igreja é este instrumento revolucionário usado por Deus para destruir a sociedade classista capitalista e construir uma sociedade sem classes: o Reino de Deus. 1 Jo 5.4-5 diz: "porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?". O mundo é o que exatamente hoje? O capitalismo. Quem crê em Jesus Cristo vence o mundo real e concreto chamado capitalismo. Assim, a fé em Jesus Cristo é essencialmente revolucionária e desta forma a Igreja de Jesus Cristo é revolucionária. A IECLB que se diz Igreja de Jesus Cristo no Brasil é revolucionária? As comunidades da IECLB se entendem como revolucionárias e tem uma prática revolucionária? Ali se organizam em seus espaços (igrejas, salas e pavilhões) a revolução do Reino de Deus a partir da classe trabalhadora explorada pelo capital num processo de extinguir o capitalismo? Na frente do altar de nossas igrejas se reúnem os sem terra, os atingidos por barragens, os sem teto, os trabalhadores sindicalizados, os estudantes, os funcionários públicos mal remunerados, os favelados, as vítimas dos venenos aplicados na agricultura, demais trabalhadores explorados e vítimas do capital porque isto está na constituição de nossa fé em Jesus Cristo que vence o mundo? Se não for isto, então para que serve a IECLB a não ser para legitimar este mundo que Jesus Cristo já venceu na Páscoa? Estamos apostando num projeto já derrotado por Jesus Cristo na Páscoa? Estamos na contramão do próprio Cristo? Jesus diz em Mt 12.30: "Quem não é por mim é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha". Como IECLB estamos ajuntando ou espalhando?
Os documentos teológicos oficiais da IECLB estão bem dentro da linha revolucionária do Evangelho de Jesus Cristo, mas são apenas documentos, que a maioria nem conhece, nem pastores/as e muito menos as comunidades. O nosso problema é a prática comunitária que é controlada pela pequena burguesia aliada ao capital, com o apoio de trabalhadores alienados; que vão continuar alienados porque não se permite a pregação pura e reta do Evangelho na Igreja. Até se permite, mas quem o faz está com a corda no pescoço e o pé no traseiro e vai para a rua. O TAM e a Avaliação são instrumentos estruturais para viabilizar este projeto de igreja da pequena burguesia a serviço do capital, portanto do diabo (porque o capital é um dos instrumentos que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus), para intimidar, amedrontar e ameaçar com o desemprego a pastorada.
A Constituição da IECLB diz que sua base são as comunidades. Esta base, a comunidade/paróquia, é que determina tudo na Igreja. Foi ela que determinou a Reestruturação de 1997. Na Reestruturação não se mexeu na base, comunidade/paróquia, apenas se mexeu no Distrito Eclesiástico, na Região Eclesiástica e na estrutura da Direção da IECLB. Por que não se mexeu na base: comunidade/paróquia? Porque ela está conforme os interesses dos setores conservadores que inventaram a Reestruturação capitalista neoliberal. O problema de nossa base comunitária não são as pessoas exploradas e empobrecidas pelo capital, mas são as lideranças aliadas ao capital (alguns sem o saber, no entanto, algumas lideranças o sabem muito bem) que dão a linha teológica na Igreja. Na verdade a IECLB é uma Igreja privilegiada porque a esmagadora maioria de seus membros são pessoas pertencentes à classe trabalhadora explorada (a maioria de nossos membros são pobres e recebem até 3 SM), mas não são, na maioria das vezes, estes que são a direção das comunidades. Temos em nossas comunidades um grande potencial em pessoas empobrecidas e exploradas pelo sistema capitalista, mas que são sufocadas pela direção teológica (mais ideológica) das lideranças da pequena burguesia que mandam nas comunidades que tem mais influência na paróquia. Em muitas situações as comunidades pequenas e empobrecidas enfrentam as comunidades maiores que determinam as coisas na paróquia, mas é uma luta inglória, desgastante e a longo prazo perdida. A dinâmica da dominação é exatamente de intimidar os empobrecidos para que não tentem enfrentar os representantes do sistema e isto se reproduz na comunidade e na paróquia. Os pobres até chegam ao/a pastor/a e dizem nós estamos contigo, mas não enfrentam a direita encastelada no poder nas reuniões, via de regra.  Na direção da comunidade sede (onde reside o/a pastor/a) e na paróquia normalmente estão os representantes do capital (só representantes, porque capital eles também não tem). Estes normalmente têm clareza ideológica, não teológica, pois transitam no comércio local e fazem parte dos instrumentos locais de reprodução do sistema capitalista: prefeitura, CDL, ACI, Maçonaria, Lions. Não dá para dizer que o problema da IECLB está na Sr. dos Passos ou no Conselho da Igreja, estes são apenas o espelho, o reflexo das comunidades, e representam e reproduzem o modelo de Igreja que a pequena burguesia defende nas comunidades. A coisa mais difícil é mexer nas comunidades, a direção da Igreja não tem peito nem de enfrentar a corrupção que há nas comunidades quando estas sonegam parte do Dízimo. O sistema de Cotas da antiga estrutura foi eliminado por causa da corrupção (e substituído pelo Dízimo) e ela continua na Reestruturação com o desvio para o caixa das comunidades de parte do Dízimo devido ao Sínodo e à IECLB.
A chave de tudo antigamente estava no Distrito Eclesiástico e na luta pelo poder de alguns Pastores Regionais e ex-Regionais conservadores em querer se tornar Pastor Presidente. Qual era o problema dos Distritos Eclesiásticos. Um dos problemas dos DEs era que eles eram incontroláveis e nunca votavam nos Concílios como a direita queria que votassem. Outro problema é que os DEs funcionavam, via de regra, e, pior para os conservadores, pastores/as e leigos/as dos Distritos Eclesiásticos estavam engajados nas lutas populares, pois o movimentos de massas estava em ascenso nos anos 80 no Brasil. Pastores/as e leigos/as dos distritos levavam as reivindicações das massas para a discussão nos concílios distritais, regionais e geral. Era a luta contra a ditadura civil-militar, a luta pelas Diretas Já, a luta pela redemocratização, a luta pela terra dos sem terra e povos indígenas, a luta dos setores urbanos e tudo isto não fechava com a teologia dos setores de direita na IECLB tanto de pastores/as como, e principalmente, das comunidades. Havia iniciativas nas comunidades/paróquias de tomada de poder por parte destes setores engajados nas lutas populares e no movimento ecumênico ligado à teologia da libertação. Assim em muitas comunidades e paróquias estes/as leigos/as de esquerda ascenderam para a diretoria de muitas comunidades e paróquias incentivados e articulados pelos seus pastores/as que discutiam todas as coisas referentes à Igreja e à realidade nas Conferências de Obreiros/as.
A PPL em seu encontro nacional em São Paulo em meados de 80 até tomou uma resolução de que a esquerda deveria tomar o poder nas comunidades e paróquias e demais instâncias da IECLB. Isto deu um belo bafafá na Igreja. Pois, é normal a direita estar no poder, como a esquerda tem a ousadia de tomar o poder que sempre foi da direita? Lembro de Ibirubá, RS onde uma senhora do grupo que há anos controlava o poder na comunidade e na paróquia ao se referir à alguém do PT que era presidente da paróquia: "O que a petezada quer na diretoria?" Para a direita era e continua sendo o fim da picada o fato de alguém da esquerda ser da diretoria da comunidade ou da paróquia; este é e sempre foi um espaço ocupado pela direita, o que a esquerda quer ali? Eles não podem ocupar este espaço. É a velha luta de classes correndo solto na Igreja.
Nos anos 80 havia em muitos Distritos Eclesiásticos em suas diretorias e nas comunidades e paróquias pessoas engajadas nas lutas populares e com isto as pautas dos movimentos populares acabavam chegando aos Concílios Distritais, Regionais e Concílio Geral. Aí soou o alarme para a direita que historicamente ocupou os espaços de poder na Igreja, ela ficou apavorada, era necessário fazer algo. Para lembrar de tal pavor: o Alfredo Müller (filiado ao PT) que era o representante do Distrito Uruguai na Diretoria da Região III conta que ao receber uma carona do Becker de Chapada, representante do Distrito Ijuí, até Palmeiras das Missões este lhe perguntou no caminho: "Se o Lula ganhar a eleição vocês vão me deixar viver?" Aí dá para entender o pavor na qual a direita viveu naquela época. Este pavor era real e nisto era necessário dar um jeito. O jeito foi o movimento pela Reestruturação da IECLB pela cabeça iniciado no final dos anos 80.
Em todo o período dos anos 80 foram tiradas decisões pastorais nos Concílios Gerais da IECLB no sentido de se fazer um trabalho de base nas comunidades/paróquias com os movimentos populares. Isto entendido como parte do trabalho missionário da Igreja. É óbvio que a Direção da Igreja nunca encaminhou como viabilizar isto na prática, mas nas paróquias havia o envolvimento direto de pastores/as e de leigos nas lutas populares, por isto isso chegou ao Concílio Geral. Tudo dentro da ótica da Teologia da Libertação. Também na FacTeol - hoje EST - havia um grupo bem grande de esquerda se reunindo e discutindo a TdL e quando estes chegavam nos Distritos automaticamente se engajavam nas lutas populares e discutiam a partir do púlpito e nos grupos de estudo os temas da luta pela terra, da luta contra as barragens, da redemocratização, etc. O 'perigo vermelho' era, portanto, concreto do ponto de vista da direita que ainda era a esmagadora maioria na Igreja, mas o pessoal da esquerda, que era minoria, mas muito ativo e dinâmico aproveitando o espírito da época, que era de luta contra a ditadura civil-militar, conseguia pôr estas pautas nos centros decisórios da Igreja e a direita não tinha legitimidade, diante do movimento de redemocratização no país, para se contrapor. A prática da direita então era de engavetar as decisões conciliares e não encaminhá-las para execução nas paróquias. Aí ficava a cargo de cada pastor/a ou Distrito se as encaminhava ou não. Alguns Distritos nos quais havia um engajamento com o movimento popular e ecumênico as decisões eram encaminhadas de uma ou outra forma. O problema era, na época, como hoje, que nós não estamos acostumados a fazer análise de conjuntura eclesial e nem da realidade do país e por isso não tínhamos claro esta luta de classes que se desenvolvia no seio eclesiástico. Por isso não se entendia todo este processo da Reestruturação que foi puxado pela direita na Igreja. A gente era contra o processo de Reestruturação por causa dos argumentos mentirosos que foram usados para justificar este processo, mas não entendíamos bem que era um processo mais ou menos planejado da direita para garantir que o poder da direita fosse ampliado nos centros decisórios da Igreja contra a TdL e o risco que o capitalismo, segundo eles, estava correndo com a ascensão da esquerda na Igreja e no país. O mesmo espírito reinante nas comunidades deveria reinar em toda estrutura da Igreja. Aí veio um papo demagógico de democracia e participação maior de leigos nas instâncias da estrutura, mas não analisamos bem que 'leigos' assumiriam os espaços da estrutura, claro leigos da direita. O povo não é de direita por opção, mas isto se deve analisar a partir da ideologia da classe dominante: o povo desde pequeno é ensinado a não ver as coisas como elas de fato são e por isso repete o que a ideologia dos capitalistas lhe ensina. A ideologia é o resultado da luta de classes e que tem por função esconder a existência dessa luta. O poder ou a eficácia da ideologia aumenta quanto maior for a sua capacidade para ocultar a origem da divisão social em classes e a luta de classes. Como ninguém explica ao povo como o capitalismo funciona ele continua pensando como os capitalistas querem que pense. Com este jeito de pensar o povo participa da comunidade e isto determina sua teologia. Como na Igreja não há um planejamento de formação que inclua a explicação de nossa realidade esta teologia da direita vai continuar a determinar a vida e o pensar de nosso povo. Na verdade o que há é que a Igreja tem medo de explicar o funcionamento do capitalismo ao povo por causa da reação da direita que manda nas comunidades e paróquias. Assim o que determina a vida das comunidades é a dinâmica da ideologia capitalista e não a dinâmica do Evangelho do Reino de Deus que é o oposto do capitalismo. Dentro desta realidade a Igreja ordena os/as pastores/as para que preguem pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo. Como se isto fosse possível sem rupturas na comunidade e sem que os/as pregadores/s sejam expulsos/as da paróquia por serem subversivos e agitadores como Jesus Cristo o foi. Lembro Lc 23.13-14: "Então, reunindo Pilatos os principais sacerdotes, as autoridades e o povo, disse-lhes: Apresentastes-me este homem como agitador do povo". Pastor/a que começa a explicar como funciona a nossa sociedade e diz claramente o que é o que ou, pior ainda, quando se mete nas organizações populares não dura muito na paróquia. O máximo que agüenta é até o vencimento do TAM e aí a paróquia o despacha gentilmente, na melhor das hipóteses. Uma/a agitador/a como Jesus Cristo a paróquia não quer e nem precisa. O que ela quer e precisa é de alguém que legitima a nossa realidade de luta de classes e a nossa sociedade dividida em classes sociais como algo da vontade divina. Falar que o capitalismo é um dos instrumentos que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus não é coisa que se diga do púlpito. Por isso: Crucifica-o!
Como é isto nas comunidades e paróquias? Quem normalmente compõe as diretorias, ou se vamos usar a linguagem eclesiástica: os presbitérios? No interior normalmente são os agricultores em melhores condições financeiras que tem um carro para ir às reuniões do Conselho Paroquial e na cidade normalmente são comerciantes, pequenos industriais e profissionais liberais. Estes nas cidades são os que normalmente também fazem parte da ACI, CDL, Lions, CTG, Rotary e também alguns da Maçonaria. São todos árduos defensores do capitalismo, portanto esta história de fazer um trabalho de base com o movimento popular não é coisa que se possa apoiar. Na maioria dos casos, são estes os leigos que representam as comunidades e paróquias na, hoje, Assembléia Sinodal e Concílio da Igreja. Na estrutura anterior havia um número maior de pastores/as nos Concílios, agora são 3 leigos por um pastor/a; e destes 3 a maioria são conservadores e do 1 (pastor) também encontramos muitos conservadores.
A partir dos anos 90 estas temáticas do movimento popular não entraram mais em pauta, era o já descenso do movimento de massas no Brasil e vivíamos um intenso bombardeio da propaganda neoliberal que dizia que não há outra alternativa além do capitalismo. O capitalismo veio para ficar eternamente, pois é o fim e a realização da História, portanto o futuro já chegou, não há mais futuro; o presente é o futuro. Esta bela propaganda nos pegou de surpresa e por causa de nossa fraca teologia engolimos esta asneira, pois a Bíblia deixa muito claro exatamente o contrário da propaganda neoliberal: nós temos esperança, nos é prometido um futuro e este já começou, em parte, pelo processo coletivo da construção do Reino de Deus. Esquecemos, na época, de dizer que o capitalismo não salva, só Jesus Cristo salva! Só isto já derrubaria todo o processo da direita.
Por isso nas leis desta nova estrutura eclesiástica desenhada pela direita, com apoio de alguns ingênuos que eram e/ou se diziam de esquerda, temos uma série de restrições aos pastores/as: 3 (leigos/as) por 1 (pastor/a) nas instâncias de poder e o EMO inclui o TAM e a Avaliação como leis repressivas para avisar aos navegantes que não se comportam conforme os interesses das bases (leia-se direita no poder nas comunidades/paróquias) e principalmente se acabou com a maior instância eclesiástica subversiva que era o Distrito Eclesiástico, que não votava nos Concílios Gerais nas propostas da direita, nem elegia para Pastor Presidente os representantes da direita e colocava na pauta as lutas do povo empobrecido pelo capitalismo e, pior, participava das lutas do movimento popular e sindical e colocava leigos engajados neste processo da luta de classes de nossa sociedade nas diretorias das comunidades/paróquias e Distrito Eclesiástico e Região. O símbolo desta luta de classes na Igreja na RE III era o Alfredo Müller (PT), colono do DE Uruguai, e o Arnildo Becker, granjeiro de soja do Distrito Ijuí. Eram os dois expoentes deste confronto teológico e da luta de classes na IECLB na RE III.
No DE Uruguai a pastorada havia tomado como decisão política de viabilizar a eleição para as diretorias das comunidades e paróquias pessoas que estavam engajadas no movimento popular e sindical ou participava de um partido de esquerda. Chegamos a ter nos Concílios Distritais ampla maioria dos representantes das paróquias pessoas que eram de esquerda. Na época faltou clareza teológica para nós e também clareza da luta de classes para potencializar esta realidade. Como na Igreja não se estuda o marxismo com certa clareza e assiduidade não conseguimos na época entender o processo no qual estávamos. Hoje nas Assembléias Sinodais se chega ao cúmulo de só haver leitura de relatórios e nenhuma discussão de um tema teológico e muito menos da realidade, menos ainda se faz uma análise da realidade brasileira na qual como Igreja estamos inseridos e menos ainda se faz uma análise da conjuntura da IECLB (a não ser esta de que a Reestruturação é um sucesso total, o que do ponto de vista da direita não deixa de ser verdade). A melhor forma de se entender a atual realidade eclesiástica é ler o Jornal Evangélico Luterano. Nos últimos 5 anos houve apenas uma reportagem sobre a realidade brasileira, pois era a vez do Sínodo da Amazônia colocar as suas atividades e houve então um artigo de duas páginas sobre a Realidade da Amazônia, isto foi lá por 2009 ou 2010. A cada Jornal que recebo folheio rapidamente para ver se há alguma reportagem sobre a realidade na qual vivemos como Igreja, e nada! Depois que o  JorEv virou jornal oficial da IECLB ele endireitou, na verdade reflete a teologia atual da Igreja. A revista NovOlhar, da Editora Sinodal (que antes editava o JorEv), procura fazer o contraponto colocando temas da realidade brasileira. Estamos num atraso e marasmo teológico monumental na Igreja.
Lembro do professor e Dr. Oneide Bobsin, reitor da EST, que ao falar das críticas que recebe por parte das comunidades por causa de posturas de estudantes, diz: "Os estudantes vêm das comunidades. São as comunidades que nos enviam os estudantes, portanto eles trazem para a EST a realidade das comunidades". Só que nas comunidades não há espaço para expor estes temas que eles expõem na EST porque as comunidades são muito conservadoras, ao menos, normalmente, as suas direções. Apesar de que nem todas as diretorias das paróquias são conservadoras, há diretorias em que se pode com muita liberdade discutir os temas que os estudantes da EST discutem, como homofobia e casamento homossexual. Experimentei isto em Condor. Mas, no geral, a direita é muito militante e insistente e bate forte contra qualquer tentativa de diálogo. Graças a Deus o Estado é laico, apesar de se pautar pelos discursos raivosos da direita eclesiástica, tanto pentecostal, protestante ou católica, que em determinados temas esquecem suas divergências teológicas e estruturais, pois no fundo a sua teologia é a mesma.
Assim a Direção da Igreja é o reflexo fiel de suas bases. Isto significa que o problema não está na Sr. dos Passos, mas nas comunidades/paróquias. Ali precisa ocorrer uma Reestruturação no trabalho, na teologia e na compreensão de Igreja e o papel desta na sociedade; mas esquece, ali ninguém vai mexer; quem o tentar vai ser 'TAMiado' e severamente Avaliado como agitador; e lugar de agitador é fora da cidade na cruz!
Nos anos 80 se dizia, brincando, que as comunidades são da ARENA e os/as pastores/as são do MDB, hoje isto não mais confere. A pastorada, em sua maioria, também se acomodou com medo dos mecanismos de controle e pressão do EMO: TAM e Avaliação; que tiveram o efeito real e visível de legitimar o status quo capitalista contrapondo-se à proposta do Evangelho de Jesus Cristo. O que o povo da Sr. dos Passos poderia fazer, mas não vai fazer, seria enviar uma moção ao Concílio das Igreja propondo retirar do EMO o TAM e a Avaliação. O máximo que o povo da Sr. dos Passos fará, via Conselho da Igreja, é "humanizar a tortura", como diria o presidente terrorista estadunidense Bush, e vai 'humanizar' a avaliação. A Igreja ordena a pastorada e a instala nas paróquias para que pregue pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo, mas é a primeira que impede isto via leis e mecanismos de repressão que estão no EMO. Haja contradição! É claro que a pastorada tenta driblar como pode estes esquemas para que a sua pregação seja reta, mas muitos acabam cansando e se adaptando às exigências das direções das comunidades/paróquias para que falem apenas o que estas permitem. Sempre tem os/as que não se conformam com este século (Rm 12) e aí numa destas reuniões da Maçonaria, do CDL ou do Lions se decide que este/a pastor/a deve ser mandado/a embora e o é e não há nada que se possa fazer para reverter o caso, nem pela intervenção do Pastor Presidente. Os capitalistas via Maçonaria não mandam só na política brasileira desde o primeiro reinado (o atual vice presidente da República, Temer, é maçom), mas também em algumas paróquias da IECLB. Nós, pastores/as ingênuos, é que não nos damos conta disto, por acharmos que na Igreja não existe a luta de classes e que tudo funciona na base da harmonia e do amor ao próximo. A classe economicamente dominante no Brasil está usando a Igreja Cristã desde 1500 para legitimar a exploração da mão de obra, antes indígena e negra, e agora classe trabalhadora de todas as cores. Por isso a Igreja não pode e não deve fazer uma opção de classe como Javé a fez, desde que existe a luta de classes, para acabar com a sociedade de classes e a conseqüente luta de classes e construir uma sociedade de iguais, de irmãos e de irmãs, que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. No processo de construção do Reino de Deus é necessária a eliminação da sociedade de classes, caso contrário o Reino de Deus não será o Reino de Deus, mas a reprodução da sociedade classista diabólica. A Igreja tem que optar em quem seguir: Jesus Cristo ou o Capital, como diz em Mt 6.24: "Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas".
Para termos uma idéia do que a Igreja Cristã a serviço do capital legitima e só ler o abaixo tirado da Página http://www.revistapersona.com.ar/Persona65/65Flammariom.htm
Em 14 de fevereiro de 1856, o Dr. Hermann Blumenau escreve uma carta ao Presidente (Governador) da Província de Santa Catarina apelando por socorro policial. Nela consta:
“...só uma medida grande e enérgica, uma desinfecção completa do terreno entre Itajaí Grande e o Mirim, uma destruição e aprisionamento deste bando de rapinas pode restabelecer a tranqüilidade e nos tirar deste estado lamentável.”
Reafirmando as constantes reclamações do Dr. Blumenau, o Presidente da Província de Santa Catarina, João José Joaquim, num pronunciamento público, em 1856 diz:
“Esses bárbaros, que não poupam nem mulheres, nem crianças, e que só pensam em roubar-nos e assaltar-nos de emboscada, segundo o meu modo de ver, não poderão nunca ser tratados com bondade e condescendência. (....) Cada vez me convenço mais que o prático, senão até mesmo necessário, é arrancar os selvagens à força das florestas e colocá-los em lugar onde não possam escapar. Dessa forma poderíamos proteger os agricultores contra esses assassinos e poder-se-ia, pelo menos, dos filhos desses bárbaros, fazer cidadãos úteis.” (...)
As expedições dos bugreiros, ou matadores de índios, se tornaram lucrativas, e em conseqüência, muitos grupos se formaram. Elas percorriam as florestas durante vários dias, seguindo os indícios que os indígenas deixavam como trilhas, fezes, ossos de animais e restos de fogueiras. Ao ser encontrado o acampamento do grupo perseguido, era feito o reconhecimento do terreno e do número de seus integrantes. O ataque dava-se ao final da madrugada, quando os índios se encontravam em sono profundo. Primeiro eram eliminada as suas armas, para em seguida ocorrer o ataque. Os bugreiros caiam sobre o grupo fazendo uma enorme gritaria e disparando seus revólveres e espingardas e, após descarregá-las utilizavam suas coronhas e facões. O filho de um bugreiro fez o seguinte relato:
“A turma não tinha nem tempo de carregar a arma de novo. Iam de facão mesmo, subindo e descendo, cortando. O pai lembra de uma meninota que saiu correndo pro mato quando o primo dele agarrou ela pelos cabelos e desceu o facão. O aço desceu pelo ombro até as partes (vagina). Cortou que nem bananeira. Ao ouvirem a gritaria e os tiros dos caçadores, os bugres procuravam suas armas, como não as encontravam, debandavam de forma desesperada mato adentro, deixando tudo para trás.” (...)
Esta cultura de matar o índio, ainda existente do início do século XX, teve como marco, a Carta Régia de 05.11.1808, assinada por D. João VI, a qual determinava guerra aos indígenas. Entre outros tópicos consta no referido documento:
“(...) sendo-me também igualmente presentes os louváveis fructos que têm resultado das providências dadas contra os  Botocudos, e fazendo-me cada dia mais evidente que não há meio algum de civilizar povos bárbaros, senão ligando-os a uma escola severa (...); (...) desde o momento em que receberdes esta minha Carta Régia, deveis considerar como principiada a guerra contra estes bárbaros Índios (...).”
Na Página http://www.portaldorancho.com.br/noticias/martinho-bugreiro-eu-nao-matei-100-matei-1-000 diz: "O personagem mais cruel, herói dalguns e anti-herói de outros, foi Martinho Marcelino de Jesus – o MARTINHO BUGREIRO – que aos 18 anos começou a matar índio. ... Numa das maiores batalhas, morreram mais de duzentos índios e segundo historiadores se passou pela região de Rancho Queimado. Foram poupadas apenas duas crianças, uma menina e o seu irmão. Martinho Bugreiro os trouxe à cidade e uma família de Taquaras adotou os bugrezinhos. Do menino, sabe-se que conseguiu fugir e embrenhou-se na mata de novo. A menina recebeu o nome de Sophia, cresceu na sua nova família, foi batizada e está enterrada no cemitério luterano da cidade."
A demarcação da Reserva Duque de Caxias, ocorreu em 1926, quando o Governo do estado de Santa Catarina repassou aos indígenas pacificados 141.565.866,02 m2, com a garantia de que Eduardo (Eduardo de Lima e Silva Hoermann, chamado de O Pacificador) os faria sustentar-se por meio do trabalho agrícola – fato não ocorrido.
Depois de 1930, os Xokleng começaram a depender cada vez mais da sociedade regional. (...). Eles tornaram-se sedentários e mudaram sua dieta alimentar, necessitando dinheiro para comprar fumo, cachaça e bugigangas; os índios passaram a sobreviver da melhor maneira que podiam, mas à margem do sistema regional".
Uma Igreja a serviço do capital legitima isto. Esta é a prática do mundo que a partir da fé em Jesus Cristo deve ser vencida e eliminada. Estes relatos históricos mostram de como o povo luterano participou deste processo de reprodução do sistema. Eram dominados, mas em relação aos povos indígenas eram dominadores. É o dominado reproduzindo a sua dominação sobre grupos minoritários. A IECLB, herdeira dos Sínodos, já expressou o seu mea culpa por ter participado deste processo genocida? Assim agem as pessoas dominadas pela ideologia do mundo, mesmo se dizendo cristãs luteranas. Hoje o processo de dominação às vezes é mais sutil outras vezes não, mas cabe à Igreja proclamar que isto (matar para roubar a terra da sua vítima) não confere com a expressão de sua fé em Jesus Cristo. O povo luterano aqui chegado foi vítima desta política de Estado de fazer colonização ao lado e em cima de áreas dos povos indígenas. Assim, o Estado capitalista, a serviço da burguesia, fez uso da colonização para exterminar os povos indígenas através dos colonos (vítimas na Europa pelas políticas de Estado e vítimas no Brasil pelas políticas de Estado daqui) para se apropriar de suas terras e integrá-las ao mercado. Os cristãos luteranos foram 'inocentes úteis' neste processo. As vítimas acabaram sendo opressores. Por que? Porque não sabiam que eram vítimas e opressores e ninguém lhes explicou este processo. Como a Igreja normalmente é reprodutora do status quo ela não explicou este processo de vitimização mútua. O pior é que a própria Igreja por estar tão interiorizada no sistema capitalista nem sabia que estava ajudando a legitimar o processo genocida. Hoje é o mesmo. A Igreja está tão atrelada ao sistema capitalista que não consegue ver como hoje os seus membros são vitimados pelo processo de exploração do capital, tanto no campo como nas cidades. Como a leitura da realidade pelo método marxista é coisa de comunista, então isto não se usa na Igreja, por isso acontece que o nosso povo luterano vive nas trevas da ignorância (do não saber) e acaba reproduzindo o mundo como ele é em vez de combatê-lo como o exige o Evangelho de Jesus Cristo. Diz-se de boca para fora: "Só Jesus salva!", mas pensa-se e age-se de fato como se só o capital salvasse! Esta é a teologia real em nossas comunidades e se algum/a pastor/a se meter à besta e dizer o contrário ele/a será vitimado pelo TAM. Assim funciona a luta de classes na Igreja. Confesso que esta leitura que faço da Igreja é muito chata e deixa as pessoas aborrecidas porque acaba com o romantismo e a ilusão ingênua que temos da Igreja como meio de salvação. A Igreja não salva, somente a fé coerente em Jesus Cristo salva. A Igreja continua sendo um instrumento que anuncia a salvação pela Palavra e pelos Sacramentos. Salvação também não uma coisa etérea, mas muito concreta e visível em nossa prática de luta pelo Reino de Deus.
Lembro-me que em meados dos anos 80 no DE Uruguai num Dia Distrital da Igreja em Mondaí, SC, estudamos textos de Lutero: Da Autoridade Secular e O Sermão sobre a Usura, e o CDL de Mondaí escreveu ao então Pastor Presidente perguntando escandalizado se estes textos subversivos eram de fato de Lutero. Então, achar que CDL, Prefeitura, Lions, Maçonaria, etc. não interferem nas paróquias é pura ingenuidade. Então, pastorada, comportem-se, preguem apenas o que os capitalistas permitem e terão vida longa nas paróquias!
Não foi por acaso que Jesus Cristo, ao enviar seus discípulos, lhes disse, segundo Mt 10.16, "Eis que eu vos envio como ovelhas para o meio de lobos; sede, portanto, prudentes como as serpentes e símplices como as pombas". Símplice não quer dizer: ingênuo, pois isto nós pastores/as o somos e muito. Jesus continua segundo Mateus: "17 E acautelai-vos dos homens; porque vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; 18 por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis, para lhes servir de testemunho, a eles e aos gentios. 19 E, quando vos entregarem, não cuideis em como ou o que haveis de falar, porque, naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer, 20 visto que não sois vós os que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós. 21 Um irmão entregará à morte outro irmão, e o pai, ao filho; filhos haverá que se levantarão contra os progenitores e os matarão. 22 Sereis odiados de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo."
O camponês palestino sem terra e sem teto Jesus de Nazaré, o Cristo, o Servo, sabia como funcionava a luta de classes, mesmo não conhecendo este conceito marxista. Nós que poderíamos conhecer como hoje funciona a luta de classes, que é o motor da história, porque temos este instrumental de Marx de ler a realidade e não o conhecemos por puro preconceito e também por uma opção teológica inculcada pela direita que este é um instrumental comunista e anticristão. O cristão pode ser capitalista (que significa legitimar a exploração de uma pessoa sobre a outra), mas não pode ser comunista (que significa lutar contra a exploração de uma pessoa sobre a outra e participar de um processo de construção de uma sociedade sem classes sociais e, portanto, sem exploração, que Jesus Cristo chama de Reino de Deus). O instrumental é apenas um instrumental de ler a realidade, assim como os psicólogos tem seus instrumentais. É claro que este instrumental vai ler a realidade a partir da situação da classe trabalhadora e vai revelar a exploração capitalista sobre a sociedade toda e vai mostrar como funciona a Teoria do Valor Trabalho, que deve ser ocultado a todo custo da classe trabalhadora. Mas Javé também se fez pobre (2 Co 8.9) e servo (Fl 2.7) em Jesus de Nazaré, o Cristo. Este é o lugar social a partir do qual a Bíblia lê a realidade e constrói o Reino de Deus (1 Co 1.26-29). Mas, nós como Igreja nos recusamos a ler a realidade a partir de onde o próprio Deus a lê (1 Co 4.11-13) e nos recusamos a pôr os pés onde Javé os pôs em Cristo, na manjedoura e na cruz, no processo de construção do Reino de Deus. Fazemos um malabarismo teológico enorme para não deslegitimar a exploração de classe que há na sociedade atual; quando os Evangelhos já desde os relatos do Natal deixam claro a luta de classes existente na qual Deus se fez pessoa, em Mt e Lc 1-2: citam o César e a família camponesa sem terra explorada que teve que se submeter ao censo que visava a exploração romana via impostos, além de citar Herodes que quis eliminar fisicamente o menino Jesus. Ali a luta de classes está muito clara entre o Projeto do Reino de Deus e o reino romano. Javé fez a sua opção de classe, tanto no AT (ao ficar do lado dos camponeses hebreus sem terra escravos) como no NT (onde Javé se fez classe camponesa em Jesus de Nazaré, o camponês sem terra palestino). No entanto hoje, na Igreja, fazemos de conta que não existe luta de classes e com isto legitimamos a exploração capitalista tornando-nos, como Igreja, Religião (que tem a função histórica de legitimar o status quo) em vez de ser Evangelho (que é essencialmente insurgente e revolucionário, pois em oposição ao reino do mundo, o capital, quer construir o Reino de Deus).
Mas, o Espírito Santo é forte, pois já conduziu a sua Igreja para fora do feudalismo e também o fará para fora do capitalismo. É uma questão de tempo, infelizmente de séculos. A Reestruturação capitalista da IECLB não durará para sempre. Um dia ela vai cair de podre, assim como o nazismo e o stalinismo caíram de podre. O problema é como vamos justificar a repressão eclesiástica, conforme os interesses da direita que quer impedir a pregação pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo porque isto fere seus interesses econômicos e políticos, no Dia do Juízo Final? É claro que a direita vai dizer que não está impedindo a pregação pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo, apenas com o seu controle quer exatamente preservar a pureza evangélica diante da comunização ideológica da TdL. A direita não se pauta por ideologia alguma, apenas pelo Evangelho, dirá; só a esquerda que é ideológica. A direita é 'neutra' do lado do capital!
Alguém pergunta: Se o TAM e a Avaliação caírem, ao serem excluído do EMO, o que muda na Igreja? O que muda? Muda o fato de que teremos dois elementos de repressão institucional a menos na Igreja para nos pressionar a vender o Evangelho e adaptá-lo conforme os interesses da classe econômica e politicamente dominante. Esta pressão sempre existiu e sempre existirá enquanto vivermos numa sociedade de classes. Mas, com o TAM e a Avaliação fora do EMO não estará na essência da estrutura eclesiástica o elemento de pressão para nos intimidar e nos induzir a vender o Evangelho ou de adaptá-lo conforme os interesses do capital, por causa do medo da demissão por causa da pregação do Evangelho que não se coaduna com o capitalismo. A Direção da Igreja ao se dar conta desta pressão pela venda do Evangelho deveria ser a primeira a sugerir a supressão do TAM e da Avaliação do EMO sob o risco do pecado da omissão.
Sei que as comunidades não quererão abrir mão facilmente deste elemento de controle sobre a pastorada. É urgente explicar às comunidades o que significa se estas leis repressivas continuarem. As comunidades de hoje não tem noção do porque da Reestruturação e que isto faz parte da luta de classes na Igreja e na sociedade. Isto também terá de ser explicado à elas. Será que tenho a impressão certa de que a Direção da Igreja nunca explicará isto às comunidades?
Perguntando finalmente: Tem como reverter esta dinâmica do controle ideológico da pequena burguesia sobre o trabalho e a linha teológica das paróquias?
Conheço um caso em que o pastor peitou o chefe da paróquia e conseguiu afastá-lo da diretoria, mas o pastor se aposentou em agosto e em janeiro o tal chefe já estava de volta na diretoria e mais ainda era representante da paróquia no Sínodo e foi escolhido para ser da Diretoria do Sínodo. Ele trabalha numa cooperativa do agronegócio e ninguém do povo tem coragem de peitá-lo. Só para se ter uma idéia de como esta história de mudar o poder e a teologia na paróquia não é fácil. Este pessoal antes de ser cristão é capitalista e o Evangelho tem que se adaptar às necessidades da dinâmica do capital, o resto é conversa fiada.
Só um programa de formação teológica a longo prazo, massivo para o povo, de quadros intermediários e avançados para comunidades e paróquias junto com uma articulação do povo empobrecido para ocupar os cargos de direção nas comunidades e paróquias aliado a uma participação ativa no movimento sindical e popular e dos partidos políticos de esquerda poderá reverter esta questão do poder do capital nas paróquias para que haja liberdade de pregar pura e retamente o Evangelho de Jesus Cristo na IECLB. Mas isto depende de uma decisão política da direção dos sínodos e da IECLB que não vai cair tão facilmente por causa da correlação de forças que há nestas direções. Terá que ser uma tomada de poder a longo prazo. Impossível não é se a pastorada tiver respaldo da direção ela terá condições de encaminhar isto. Mas antes tem que cair o TAM e a Avaliação juntamente com uma decisão política da Direção da Igreja em respaldar a pastorada neste processo. Por enquanto isso tudo parece uma bela ilusão. Mas, como ninguém esperava as mobilizações populares massivas de junho de 2013 no Brasil que podem ter posto em xeque a reeleição da Dilma em 2014 (só para lembrar se a Dilma não se reeleger a direita vai se eleger, fazendo de conta que a Dilma é de centro esquerda) assim pode acontecer um fato histórico que favoreça este processo na Igreja. A história dá voltas que a gente não prevê. Mas admito que isto é uma possibilidade muito remota, por enquanto a pregação pura do Evangelho revolucionário do Reino de Deus na IECLB continua em risco e sob severo controle segundo os  interesses do capital.

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