8 de julho de 2014

O JOGO


Delmar Purper


Uma preliminar das eleições de 2014


APRESENTAÇÃO


O jogo é um texto sobre política. Tem o objetivo de ajudar a gente a se preparar antes que a campanha eleitoral comece.

É provável que as eleições de 2014 sejam as mais agitadas da história recente do Brasil. Nós eleitores vamos ficar perdidos no meio do tiroteio. E não adianta a gente querer ficar de fora porque vamos ser envolvidos. Afinal, é a política que, querendo ou não, define como será o país e como será a vida de cada um de nós.

Então, antes que a tormenta eleitoral comece, nós, que somos os maiores interessados nos rumos do estado e do país, devemos nos preparar de cabeça fria para depois não sermos levados na conversa por nenhum dos muitos candidatos que vão disputar o nosso voto.


INTICANDO COM OS URSOS


Você já viu um urso polar? Eu já vi um ao vivo, em um zoológico. É um bicho muito bonito. Estava intranquilo, provavelmente incomodado com as grades. Talvez estivesse sentindo calor. Quando livres na natureza, lá no polo norte, nos meses menos frios, os ursos polares são ativos, agitados, andam, caçam, engordam. Quando chega o inverno e o frio fica intenso demais, fazem uma coisa interessante: cavam uma toca na neve, enfiam-se lá dentro e vão dormir. Dormem o inverno inteiro. Só saem quando o clima melhora. Isso chama-se hibernação.

Durante vários anos, nas décadas de 80 e 90, fui um urso agitado: participava ativamente da política, acompanhava movimentos populares e sindicais, participava da construção de Conselhos Municipais de Saúde e de programas de saúde pública, em uma época em que o SUS ainda nem existia. Desgastes e desgostos me fizeram decidir dar um tempo e me dedicar somente à família. Cavei uma toca na neve, entrei e fui dormir. Quer dizer: alienei-me, afastei-me de todo tipo de militância. Minha atuação política resumia-se a votar.

Essa hibernação estava programada para durar 5 anos. Durou 17. No final de 2012 acordei, saí da toca e, fora a minha família, quase não vi outros ursos na paisagem. Há 17 anos atrás havia muita gente informada, consciente, discutindo política. Agora, ninguém quer nem saber do assunto. Houve uma campanha eleitoral municipal em 2012, que foi muito triste. Nenhuma discussão mais profunda, apenas interesses menores, fanatismo partidário e preconceitos. Conclusão: a maioria dos ursos está hibernando, alienados, como eu fiquei durante 17 anos.

Pra voltar ao mundo real, comecei a estudar e me informar. Naturalmente, não fui olhar o Jornal Nacional. A primeira coisa que quem quiser conhecer o Brasil precisa fazer é desligar a televisão. Fiz uma sistematização das experiências e aprendizados antigos e recentes, que é o livro A Revolução dos Plebeus.

Em 2014, teremos uma eleição importantíssima para o futuro do Brasil e dos brasileiros. Não podemos ficar alienados, dormindo, enquanto a história do Brasil está sendo escrita. Este texto, O JOGO, é um convite para que as pessoas participem da política. Que seja pra um lado ou pro outro, mas que seja conscientemente. Na verdade, estou querendo inticar com os ursos, pra ver se mais algum acorda e sai da toca.



SERÁ QUE JÚLIO CÉSAR TEM RAZÃO?

O Júlio César de quem eu falo não é o imperador de Roma. Também não é o goleiro da seleção do Felipão. É o Júlio César Scholocobier, técnico de enfermagem e também técnico agrícola, de Itaiópolis - SC. Trabalhamos juntos por um ano e pouco, ele como técnico de enfermagem, eu como médico. No final do expediente no posto de saúde da comunidade rural de Poço Claro, sentávamos na sala de espera e conversávamos sobre os assuntos mais diversos. Volta e meia o papo escorregava para a política. Não sei em quem ele votou na última eleição, nem em quem pretende votar na próxima, e isso não vem ao caso. O que me chamou a atenção é que o Júlio tem opinião própria, raciocina, duvida, questiona, discorda, sempre com argumentos. Parece estar acordado e fora da toca. É uma exceção em um município onde a maioria das pessoas que eu conheço evita falar de assuntos polêmicos, especialmente de política, como se este fosse um assunto sem importância, ou como se a vida de cada um não dependesse em grande parte do que acontece na política.

Pois, um dia desses falávamos sobre a alternância no poder, de como é importante que no município, no estado e no governo federal não fique sempre o mesmo grupo ou partido mandando. Eu disse que achava que no governo federal a era PT estava chegando ao fim. O Júlio discordou. Sem se manifestar contra ou a favor do governo, falou com muita convicção que o PT ainda vai permanecer no poder por muitos anos. Fiquei encasquetado com a segurança da sua afirmação. O que esse jovem de vinte e poucos anos estava vendo na política brasileira que eu não estava enxergando? Quem de nós dois está certo e quem está errado?

No Brasil, assim como na maioria dos países, um partido não governa sozinho. Os que apoiam e participam do governo são chamados situação, e os que são contra, oposição. Há, no Brasil, partidos de esquerda que mantém certa independência: apoiam alguns projetos do governo e são contra outros, ou seja, são oposição ao governo mas não se aliam ao PSDB e DEM. E há ainda partidos que mudam de lado, conforme os interesses e vantagens do momento. Existem mais de 30 partidos registrados no Brasil. Os principais partidos da situação são PT e PMDB. Os principais partidos da oposição são PSDB e DEM. O PSB, até recentemente junto com o governo, passou para a oposição e, informalmente, aliou-se ao PSDB. Marina Silva filiou-se ao PSB e, portanto, também está embaixo do guarda-chuva do PSDB. (Marina tentou criar e registrar um partido novo em poucos meses, o que leva, em média, 3 anos. Faltaram 250 mil assinaturas e o Tribunal Superior Eleitoral não aprovou o seu partido.) Existem ainda vários outros partidos importantes, como PDT, PTB, PP e outros, a maioria no bloco do governo. O próximo Presidente, sem dúvida, vai sair de um desses dois grupos, que polarizam a disputa, um comandado pelo PT e o outro pelo PSDB. Dificilmente um partido mais independente, de esquerda, vai chegar ao segundo turno.

Na conversa com o Júlio, falávamos a respeito do PT, mas, já que o PT não governa sozinho, o que interessa mesmo, é analisar a situação e a oposição pra tentar prever pra que lado a balança vai pender na próxima eleição.  Fiz isso da seguinte maneira: primeiro elaborei uma lista dos assuntos que, com certeza, vão ser considerados ou debatidos na campanha eleitoral pra Presidente, como segurança, saúde, educação, petróleo, mensalão, corrupção, etc. Depois, analisei cada tema procurando ver a quem ele  vai favorecer, pra quem ele vai puxar votos, pra situação ou pra oposição. Cada assunto vale 2 pontos, que podem ir pra situação, pra oposição ou um ponto pra cada lado. A soma dos pontos mostra o resultado mais provável da eleição.

O sistema de pontuação é parecido com o de uma luta de boxe, na qual os juízes marcam pontos cada vez que um lutador acerta um golpe no adversário e, ao final da luta, os pontos são somados pra ver quem ganhou.

Mas, afinal, pra que serve essa brincadeira, esse jogo? Serve pra gente se preparar pra eleição antes que a campanha comece. Como sabemos, durante a campanha eleitoral cada candidato conta vantagens pro seu lado e joga defeitos no adversário. Se conhecermos cada assunto que está sendo debatido, não vamos ser levados na conversa tão facilmente, nem por um lado, nem pelo outro.

E o que é necessário para jogar? Só sinceridade e vontade de entender o Brasil e a política. A vontade de entender é necessária porque as notícias chegam a nós de modo contraditório. É preciso duvidar de quem defende interesses próprio e buscar fontes de informação mais independentes.

A sinceridade é necessária por causa do preconceito. Alguns partidos, como DEM, PSDB e, especialmente, o PT, geram reações apaixonadas e fanáticas, ou a favor ou contra. Quem é fanaticamente a favor do PT, vai achar que o governo sempre está certo, e quem é fanaticamente contra vai dizer que o governo sempre está errado. Nenhuma das duas situações é boa política. Boa política é ser crítico, analisar caso a caso, ser equilibrado. Há uns 20 anos atrás eu era filiado e militante do PT. Saí porque achei que o partido estava ficando muito parecido com os outros partidos, já não era mais tão diferente como na sua origem. Acho que nem o PT, e muito menos os partidos que governaram antes dele, vão nos levar para o tipo de sociedade na qual eu gostaria de viver: onde todos fossem iguais e cada um valesse pelo que é e não pelo que tem, uma sociedade que não fosse governada pelo deus dinheiro, solidária em vez de egoísta, fraterna em vez de competitiva, sincera em vez de hipócrita, sem preconceitos de nenhum tipo, com educação e saúde públicas de qualidade para todos os cidadãos, com políticas públicas sustentadas pelos impostos de todos os cidadãos, de acordo com as suas posses (hoje é o contrário, rico não paga imposto), etc.

Geralmente, quem sai de um partido torna-se inimigo, opositor ferrenho, dos antigos companheiros. Não é o meu caso. Tenho, hoje, ainda mais críticas ao PT do que tinha antigamente, mas sei reconhecer o seu valor para a história do povo brasileiro. Quando a população se divide entre os "a favor" e os "contra", ser independente é bem desconfortável porque a gente leva chumbo dos dois lados. Entretanto, política não é futebol, no qual a gente torce totalmente para um time. A política deve ser feita com o coração, mas também com a cabeça, sem fanatismos, analisando cada situação. Devemos ser capazes de reconhecer os defeitos do partido ou candidato no qual votamos e qualidades naqueles nos quais não votamos.

A maioria dos partidos são o braço político, uma ferramenta, dos interesses econômicos de grupos dominantes da sociedade, nacionais ou internacionais. Às vezes, vemos vizinhos ficarem inimigos porque votam em partidos diferentes, quando os dois partidos, na verdade, apesar de terem nomes diferentes, são a mesma coisa, têm o mesmo patrão. E esse patrão sempre tira vantagem da divisão do povo trabalhador. Então, ser fanático por um partido, brigar por uma sigla, é bobagem. O que faz sentido é entender a política e a sociedade para que nós, o povo, não sejamos manipulados, usados e tocados de um lado pro outro, como boiada.   

 Convido você, leitor, a jogar o jogo comigo. Marque seus pontos, que podem ser diferentes dos meus. Se esqueci de algum tema, acrescente. Naturalmente, isso é só um exercício de politização. Muita coisa pode acontecer até o dia da eleição, dependendo de fatos novos, de quem serão os candidatos, quais as coligações, etc., e isso pode alterar totalmente o resultado previsto. Mas, com certeza, quando a campanha começar, estaremos melhor preparados para entender o que os candidatos vão dizer.

O exercício também é útil se você quiser participar ativamente da campanha, seja a favor de um lado ou do outro. Você vai ter uma ideia melhor de quais são os pontos fortes e fracos do seu lado e que argumentos usar para conquistar votos.

Então, vamos ao jogo!

 O JOGO


1. SEGURANÇA

Temos notícias de algumas iniciativas do governo na área de segurança que deram certo, como por exemplo a pacificação de algumas comunidades dos morros do Rio de Janeiro. Porém, para a imensa maioria da população, a sensação de insegurança é cada vez maior, e não somente nas grandes cidades. Já morei e trabalhei em uma pequena cidade, bem do interior de Minas Gerais, onde a diretora do colégio teve que receber proteção policial porque estava sendo ameaçada por traficantes. Tráfico de drogas, assaltos, roubos, assassinatos e todos os tipos de violência acontecem em todos os lugares, no país inteiro. A oposição vai martelar muito esse assunto, e ganhar votos com ele. Acho que no item segurança, os dois pontos vão para a oposição.

Situação: 0      -      Oposição: 2


2. SAÚDE

Tradicionalmente, a situação da saúde, assim como a da segurança, dá votos para a oposição. Basta mostrar o que falta ou o que funciona mal no SUS para o governo perder votos. Então, pelo menos um ponto no nosso jogo deve ir para a oposição. Mas, há uma novidade na eleição de 2014, que é o Programa Mais Médicos. A Presidente Dilma andava pressionada pelos prefeitos e governadores para que resolvesse o problema da falta de médicos no interior e na periferia das grandes cidades. Acho que as manifestações de junho deram o empurrãozinho que faltava para ela se decidir a criar aquele Programa, já sabendo que haveria forte oposição das entidades representativas dos médicos. O Programa Mais Médicos é emergencial e temporário, não vai resolver todos os problemas da saúde do Brasil, mas vai levar um médico para cada um dos 705 municípios que não tinham nenhum, e diminuir a carência de assistência em milhares de outros municípios do interior e da periferia das grandes cidades. Quando estiver funcionando a pleno vapor, provavelmente em abril de 2014, os 13.000 médicos do Programa estarão atendendo mais de 40 milhões de pessoas. Impossível achar quem isso não vai favorecer o governo, eleitoralmente.

Acho que várias críticas dos médicos ao SUS têm fundamento: a rede hospitalar vai mal, é necessário investir mais em saúde, falta a regulamentação da carreira dos médicos, que precisam ter estabilidade, direitos trabalhistas, etc. Mas as manifestações dos médicos contra o governo muitas vezes foram muito agressivas, algumas vezes até mal educadas e cheias de raiva. Como você sabe, o Programa Mais Médicos dá preferência aos profissionais brasileiros. É proibido um prefeito demitir um médico brasileiro para colocar um estrangeiro no lugar. Só quando nenhum brasileiro quiser a vaga, o governo coloca um estrangeiro. Quando abriram as inscrições, mais de 18 mil médicos brasileiros se inscreveram para o Programa. Mas tem poucos trabalhando. A maioria se inscreveu com dados falsos, com um CRM (o número de registro no Conselho Regional de Medicina) inexistente ou sem CRM, só pra atrapalhar o Programa. A população não entendeu que o boicote era contra o governo, mas contra a população. Se no início da encrenca só metade dos brasileiros apoiava o Programa Mais Médicos, rapidamente uma ampla maioria passou a apoiá-lo. O governo passou a ser o mocinho da história, porque queria levar assistência médica a quem não tinha, e os médicos passaram a ser os bandidos, porque, na prática, tentavam impedir que o governo colocasse médicos nos lugares mais isolados e distantes, onde eles mesmo não queriam trabalhar. É uma situação injusta com a classe médica, porque muitos são a favor do Programa Mais Médicos, outros são contra mas não concordaram com o comportamento dos que fizeram o boicote. Junto com os médicos, alguns políticos da oposição também se queimaram perante a eleitorado, porque se manifestaram contra o Programa Mais Médicos.

Durante a campanha eleitoral o governo vai evitar os assuntos problemáticos, como as deficiências do SUS, e falar das coisas que dão certo como, por exemplo, o Programa Farmácia Popular, que fornece medicamentos essenciais de graça ou a preços baixos para muitos milhões de brasileiros, e o Programa Brasil Sorridente, no qual 22.213 equipes de saúde bucal atendem a mais de 70 milhões de pessoas. Este é considerado o maior programa de saúde bucal do mundo, que trabalha com educação, prevenção e assistência. É um tipo de Mais Médicos da odontologia, funciona principalmente onde não há dentista ou onde a assistência odontológica é mais precária. Segundo uma pesquisa do Ministério da Saúde, em 2003 vinte por cento da população já tinha perdido todos os dentes, 13 % dos adolescentes nunca tinha ido ao dentista e 45 % nem tinham escova de dentes. Depois de 10 anos de atuação do Programa, o Brasil é considerado pela Organização Mundial da Saúde como um dos países com baixa prevalência de cárie. Para as pessoas que já tinham perdido os dentes, o Programa fornece dentaduras: 410 mil foram entregues em 2012 e cerca de 500 mil em 2013. São números impressionantes que, com certeza, o governo vai mostrar durante a campanha eleitoral.

Provavelmente o governo vai lembrar os eleitores que Fernando Henrique Cardoso (FHC) tinha a CPMF, aquele imposto de 0,38% sobre as movimentações financeiras, que era investido em saúde, e que, em valores de hoje, estaria arrecadando aproximadamente 50 bilhões de reais por ano. O Congresso Nacional extinguiu a CPMF durante o governo Lula. Dilma, então, teve que se virar com 50 bilhões a menos na saúde, o que é muito dinheiro, equivale ao dobro do que foi gasto em 2013 com o Bolsa Família e o dobro dos gastos com a copa do mundo.

Na minha contagem, vou dar um ponto para a oposição, que vai conseguir votos mostrando as deficiências do SUS, e um ponto para a situação, que vai mostrar o que já fez na área da saúde.

Situação: 1      -      Oposição: 3

 3. EDUCAÇÃO

Particularmente, acho que o conteúdo da educação está ruim, porque não forma cidadãos críticos, apenas abelhinhas operárias para o mercado produtor e consumidor. Mas, isso não vai ser assunto de discussão na campanha. Os políticos vão falar de obras, escolas novas, etc. Se olharmos estatísticas, veremos que a educação começou a melhorar, muito pouco, é verdade, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso. E deu um salto a partir do primeiro governo de Lula: foram criadas 14 novas universidades públicas (FHC tinha criado só uma, se a estatística que eu li estiver correta), também foram criadas mais de 200 escolas técnicas, o acesso à universidade está sendo democratizado através do ENEM e do sistema de cotas e o pagamento dos estudos está sendo facilitado através de um programa de bolsas de estudo (PROUNI) e de financiamento (FIES). Muitos criticam as cotas e o ENEM mas, se pensarmos bem, eles estão dando a chance de cursar uma faculdade a quem antes praticamente não tinha esperança de se formar em um curso superior. Universidade era coisa quase só pra rico.

Na minha contagem, acho que o governo vai levar vantagem na briga pelos votos quando o assunto for educação.

Situação: 3      - Oposição: 3


4. A GRANDE IMPRENSA

Quando falo em grande imprensa, refiro-me, principalmente, ao sistema Globo (rádio CBN, jornal O Globo, TV Globo e suas afiliadas - aqui no sul a RBS), ao jornal Folha de São Paulo e à revista Veja. Há muito tempo a verdadeira oposição ao governo é esta imprensa, já que a oposição partidária é fraca. E as empresas de comunicação, especialmente a Globo, precisam urgentemente ganhar a eleição pra Presidente.

Nos protestos de junho, uma das principais reivindicações dos manifestantes foi a democratização da mídia, o fim do oligopólio. Oligopólio é o domínio de um setor por poucas pessoas ou empresas. No caso da imprensa, 2 ou 3 famílias controlam quase todo o ramo no Brasil e, claro, divulgam ou fabricam as notícias do jeito que interessa aos seus negócios. Durante os protestos, os manifestantes expulsavam os repórteres da Globo, que, por fim, tiveram que trabalhar sem a logomarca da empresa nos microfones e filmar somente de cima dos prédios. É claro que se você só vê a Globo, não sabe nada disso. Talvez também não saiba que a Globo é acusada de ter cometido irregularidades bilionárias, sendo uma delas uma dívida de impostos referentes à transmissão da copa do mundo de 2002, que, corrigida, já estaria na casa de 1 bilhão e 200 milhões de reais. Pra você ter uma ideia do valor que isso representa, o último Criança Esperança arrecadou em torno de 10 milhões de reais em doações. Ou seja, só uma das dívidas da Globo é 120 vezes maior do que toda a arrecadação do Criança Esperança. Há notícias de outro processo na Receita Federal cobrando outros 2 bilhões e 100 mil reais de impostos que, segundo a Receita, não foram pagos. Se a Globo realmente estivesse preocupada com as criancinhas pobres do Brasil, deveria pagar seus impostos em dia. Havia um processo na Receita Federal cobrando aquela dívida dos impostos da copa de 2002, mas o processo desapareceu. Depois de muita pressão da sociedade, a Polícia Federal abriu um inquérito sobre o caso, o nº 926/2013, conduzido pelo delegado federal Rubens Lyra. A sociedade está cada vez mais indignada, querendo um esclarecimento sobre o assunto. Até porque se eu ou você, leitor, ficarmos devendo algum imposto, o governo cobra imediatamente, não vai ser tão bonzinho como está sendo com a Globo.

Talvez você também não saiba, mas a TV aberta, assim como as rádios,  são concessões públicas. Isso quer dizer que o verdadeiro proprietário do ramo de rádio e TV é o governo, ou seja, nós. O governo pode ceder o direito de exploração do negócio para empresas de comunicação. A primeira exigência para que qualquer empresa participe de licitações ou de negócios com o governo é estar em dia com os impostos. Portanto, se há uma dívida de impostos, há muitos anos a concessão da TV Globo já deveria ter sido cassada. O governo está sendo muito mais bonzinho com a Globo do que é com qualquer um de nós em relação à cobrança de impostos. Mas essa bondade pode acabar a qualquer momento. Acho que o governo não fará nada antes das eleições para não parecer perseguição. Mas, se a pressão popular continuar e se a Dilma for reeleita, desconfio que vai ser forçada a acertar as contas com a Globo.

Segundo a revista Forbes, que todos os anos divulga a lista das maiores fortunas do mundo, os três irmãos Marinho, juntos, são a família mais rica do Brasil, com uma fortuna de 27,3 bilhões de dólares (64 bilhões de reais). Nos últimos 6 meses, cada um dos irmãos enriqueceu quase 1 milhão de reais por hora, mais de um salário mínimo a cada 3 segundos. Da forma como é ganho, não dá pra dizer que esse é um dinheiro limpo. Os proprietários vão bem, mas há sinais de que as suas empresas não estão bem das pernas. A audiência da TV Globo cai de ano a ano. O Jornal Nacional, por exemplo, teve, em 2013, a audiência mais baixa da história. Cada vez menos gente olha o Jornal Nacional e cada vez menos gente acredita no que William Bonner diz. Também cada vez menos gente assiste novelas. A tendência é a Globo perder anunciantes e, consequentemente, receita. Principalmente para a internet. O Google está comendo a Globo por uma perna.

   Diante desse quadro, fica fácil entender o desespero da Globo. Ela precisa ganhar a eleição de qualquer jeito, para manter a concessão pública, ter as suas dívidas perdoadas e voltar a receber verbas maiores do governo. Então, o jogo em 2014 vai ser pesado, a Globo vai fazer de tudo para derrotar o governo e colocar um Presidente de sua confiança em Brasília. As intrigas vão ser grandes, e muita gente desinformada vai acreditar. Por isso, acho que tenho que marcar 2 pontos para a oposição.

Situação: 3      -     Oposição: 5


5. A MÁQUINA ADMINISTRATIVA

Dilma tem a caneta e a chave do cofre. Pode nomear pessoas para cargos e pode, dentro de certos limites legais, fazer alguns favorecimentos na distribuição de recursos. Assim, fica muito mais fácil conseguir o apoio de um prefeito, de um governador, de um deputado ou senador ou até de um partido inteiro. É mais fácil o governo conseguir aliados do que a oposição.

Acho que o uso político da máquina do governo é uma coisa muito errada. Mas, que ninguém se engane. É assim que funciona, e é assim que vai ser. Lula tentou várias vezes ser Presidente e uma das coisas que mais atrapalhava era que a máquina sempre estava contra o PT. Hoje, está a favor, vai ser usada, e isso vai trazer votos.

Situação: 5      -      Oposição: 5


6. O TEMPO NA TV

Pela Lei Eleitoral, o principal critério na distribuição do tempo que cada candidato vai ter para a sua propaganda eleitoral na televisão é o número de deputados federais da coligação que o apoia. A não ser que haja uma total reviravolta dos partidos que são da situação e da oposição, Dilma terá um tempo muito maior para propaganda eleitoral, e isso faz muita diferença, com certeza favorece muito a sua reeleição.

Situação: 7      -      Oposição: 5


7. MODELO ECONÔMICO

Antes de falar em modelo econômico, é interessante falar do que é um império. O império mais famoso da antiguidade, no ocidente, é o romano. Roma tinha um exército forte e bem treinado. Então, invadia os países vizinhos e os dominava. Deixava um exército comandado por um governador romano para manter a repressão e colocava um governo de políticos locais que fossem obedientes a Roma. O governador romano em terras invadidas que ficou mais famoso foi Pôncio Pilatos, da época da crucificação de Jesus. O rei puxa-saco mais famoso da história deve ter sido Herodes, do tempo do nascimento de Jesus. Os romanos cobravam altos impostos do povo e enviavam o dinheiro para Roma. Também tiravam do país invadido tudo o que tivesse valor, como ouro, gado, etc. Dessa maneira, os ricos de Roma ficavam cada vez mais ricos e tinham dinheiro para manter exércitos e continuar invadindo outros países. Os ricos do país dominado apoiavam os invasores, e então os romanos deixavam que ficassem com as suas fortunas. Assim, havia uma associação entre a elite do país dominado e a elite do país dominador. Quem se lascava eram os pobres, tanto de Roma quanto do país invadido.

Esse tipo de império sempre existiu ao longo da história. O império dominante, atualmente, são os Estados Unidos, donos de mais da metade de todas as armas do planeta. Essas armas são mais usadas para intimidar, mas, às vezes, servem para invadir outros países, como o que ocorreu com o Iraque. Com a desculpa de que aquele país tinha armas de destruição em massa que poderiam ser usadas contra os norte-americanos, os Estados Unidos invadiram para apoderar-se do petróleo. Saddam Hussein era um bandido, mas não tinha as tais armas. Milhares de civis iraquianos e de soldados dos dois lados foram mortos para aumentar a fortuna dos barões do petróleo, entre eles o próprio vice-presidente dos Estados Unidos.

No tempo dos romanos, as riquezas eram carregadas em carroças e barcos e levadas para Roma. Em tempos modernos, na maioria das vezes, não há a invasão física do país dominado, com exércitos. Hoje, as riquezas fluem pelos canais virtuais da economia capitalista globalizada. Em vez de exércitos invasores, hoje os Estados Unidos usam um modelo econômico, chamado neoliberalismo, para canalizar riquezas do mundo todo para suas grandes empresas. Mas, diferentemente do tempo dos romanos, hoje existe democracia e eleições. Então, para que o império consiga eleger governos "mansos", e favoráveis, é fundamental ter o controle da imprensa. Isso explica porque a empresa americana Time-Life assinou um acordo com Roberto Marinho, em 1962 para  criarem a TV Globo. Esse acordo era ilegal, porque a Constituição brasileira proibia a participação de estrangeiros nas empresas de comunicação nacionais. Um dos diretores da Time-Life passou a ser um dirigente importante da Globo no Brasil. Conhecendo-se esses fatos, fica claro porque a Globo se esforçou tanto para derrubar o governo democraticamente eleito de João Goulart, que beneficiava o povo e afastava-se dos Estados Unidos, porque a Globo apoiou a ditadura militar, por que "fabricou" Collor, por que apoiou tanto FHC e o seu entreguismo, por que escondeu do povo brasileiro a inacreditável corrupção que acontecia e ainda acontece nos governos tucanos e por que tenta de todas as maneiras derrubar Lula e Dilma, que não obedecem às ordens dos norte-americanos. A Globo, assim como alguns outros veículos de comunicação, são um braço de um império trabalhando pelo seu patrão estrangeiro, contra os interesses de 99% do povo brasileiro.

Recentemente, a grande imprensa tem apoiado os baderneiros mascarados, que tentam provocar desordem no país para impedir a realização da copa e das eleições. Pelo menos uma parte desses baderneiros são contratados para fazer o quebra-quebra, recebem 150 reais por manifestação. Há fortes indícios de que são comandados pelos Estados Unidos, da mesma forma que os mascarados da Venezuela e da Turquia.

Além do controle da imprensa, uma outra arma usada pelo império é a espionagem, como foi descoberto no ano passado, quando os Estados Unidos invadiram sistemas de empresas e governos do mundo todo, inclusive do Brasil. 

Depois das próximas eleições, o Brasil continuará sendo um país capitalista. Isso é certo. Não há nenhuma possibilidade de isso mudar a curto prazo, porque todos os candidatos com alguma chance de ganhar a eleição adotam o capitalismo como sistema econômico, mesmo que, às vezes, procurem disfarçar. Por exemplo: O PSB, Partido Socialista Brasileiro, não tem nada a ver com socialismo. E, muitas vezes, pessoas de partidos comunistas, de comunista não têm nada.

No capitalismo, o Estado, isto é, o governo, tem menor importância. A economia é dirigida pelas leis do mercado. O grande capitalista não gosta que o governo se meta nos seus negócios. Mas quando a sua empresa quebra, em vez de colocar o seu patrimônio pessoal para salvá-la, ele pede dinheiro pro governo. E o dinheiro que o governo dá pertence ao povo. Por isso se diz que o capitalismo privatiza os lucros e socializa os prejuízos. Isso já aconteceu no Brasil e aconteceu recentemente nos Estados Unidos: o governo deu dinheiro público para salvar instituições financeiras, enquanto os diretores e proprietários dessas instituições ficaram com a sua riqueza.

Se o PT e seus aliados são capitalistas e a oposição também é, qual é a diferença, pro povo, se um ou outro lado ganhar a eleição? Aí precisamos considerar que existem modelos econômicos diferentes no capitalismo. O PSDB, o ex-presidente FHC e os candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos, e até Marina Silva, adotaram o modelo neoliberal, ou neoliberalismo. As principais características desse modelo são o Estado mínimo, isto é, o governo quase não participa na determinação dos rumos da economia, há pouca proteção dos direitos e salários dos trabalhadores, privatização das empresas públicas, preços dos produtos e serviços regulados pela oferta e procura, sem controle do governo e submissão total ao império central, os Estados Unidos. O modelo neoliberal é muito vantajoso para os países ricos e muito prejudicial para os países menos desenvolvidos, como o Brasil. E, nos países menos desenvolvidos, quem mais sofre são os trabalhadores e os mais pobres. Por isso, no Brasil e em muitos outros países, como Equador, Bolívia, Venezuela, Argentina, Chile, Uruguai e outros, o neoliberalismo perdeu força.

O PT e a situação não romperam com o capitalismo, mas adotaram um modelo econômico diferente, o desenvolvimentismo: há um maior controle do governo sobre a economia, menos privatizações, alguma proteção aos direitos trabalhistas e políticas que favorecem o ganho real de salário, a distribuição de renda e o consumo. No plano internacional, o Brasil não aderiu à ALCA (Área de Livre Comércio das Américas), conforme FHC e Serra estavam encaminhando. Com a ALCA, os Estados Unidos pretendiam vender livremente seus produtos em toda a América Latina, o que teria quebrado nossa indústria e depois o comércio, gerando desemprego e miséria. Em vez de obedecer aos Estados Unidos, o Brasil, a partir da eleição de Lula, preferiu fortalecer o comércio com os países em desenvolvimento da América do Sul, através do MERCOSUL, da África e da Ásia. Isso, junto com o fortalecimento do mercado interno pela melhor distribuição da renda, nos salvou até agora da crise mundial.

Agora em janeiro, o Brasil avançou mais um pouco nessa questão de diversificar os parceiros comerciais internacionais. Dilma inaugurou a primeira etapa das obras de ampliação do porto de Mariel, em Cuba, feitas em maior parte pela empresa brasileira Odebrecht, com financiamentos concedidos pelo BNDES e com material comprado no Brasil. Esse porto é o que tem as águas mais profundas da região, pode receber os navios gigantes. Está situado em um lugar estratégico, no Caribe, junto à América Central, regiões com as quais o nosso comércio ainda é fraco. O porto também está pertinho do Canal do Panamá, que atravessa do oceano Atlântico para o Pacífico. Quer dizer que nos tornamos sócios de um porto a partir do qual teremos acesso preferencial ao mercado de todos os países do Caribe, da América Central, ao sul dos Estados Unidos (quando o embargo comercial a Cuba cair) e, atravessando o canal do Panamá, à costa oeste dos Estados Unidos e do Canadá, à costa oeste da América do Sul e a toda a Ásia, que fica do outro lado do oceano Pacífico. Também há planos para instalar empresas brasileiras na zona franca que será desenvolvida junto ao porto de Mariel. Na verdade, já existem dezenas de empresas brasileiras em Cuba. A Souza Cruz, por exemplo, já atua lá há mais de 15 anos. É claro que parte da imprensa, que torce contra o Brasil, criticou, mas não esclarece que os cubanos são nossos parceiros comerciais há muitos anos, ainda do tempo de FHC, que, inclusive, fez empréstimos a Cuba. Até hoje Cuba nunca atrasou um pagamento de compromisso comercial. No caso do porto de Mariel, o pagamento do investimento brasileiro está amarrado aos rendimentos produzidos pelo próprio porto. Não há, portanto, risco de perdermos dinheiro lá. Dilma, em parceria e sem desrespeitar a soberania de outro país, ocupou um ponto comercial estratégico do planeta, e isso vai trazer grandes benefícios pra nós a médio e longo prazo. A parceria  do porto é ótima pra Cuba e excelente pro Brasil. Para entender melhor a questão do porto de Mariel e a relação comercial entre Brasil e Cuba, veja na internet a entrevista de Heródoto Barbeiro, da Record News, com Thomaz Zanotto, Diretor de Comércio Exterior da FIESP.

Os dois modelos, o do PSDB e o do PT, são muito criticados. Eu, que não sou economista, não vou me meter a fazer grandes análises sobre o assunto. Mas, assim como os outros eleitores, sei enxergar os resultados dos dois modelos. O da oposição, quando era governo, concentrava a renda nas mãos de cada vez menos pessoas, quebrava as pequenas indústrias, dificultava a vida dos comerciantes e espremia os trabalhadores. O modelo da situação, o do PT, distribuiu melhor a renda do país, tirou mais de 40 milhões de pessoas da pobreza, tornando-as consumidoras, o que ativou a economia, favorecendo a indústria, o comércio e o setor de prestação de serviços. Particularmente, não gosto de nenhum dos dois modelos, porque nos dois só sobram migalhas para os que realmente produzem tudo, os trabalhadores. Mas está bem claro que as migalhas do PT são maiores, e por isso a situação vai ganhar votos. Mesmo que o candidato mais forte da oposição não venha a ser o do PSDB, a disputa vai ser entre esses dois modelos econômicos, porque os economistas e intelectuais do neoliberalismo já estão se transferindo para outros partidos de oposição. Na minha contagem, os dois pontos vão para a situação.

Situação: 9      -      Oposição: 5

 8. A ECONOMIA

A situação da economia do país nos dias e semanas que antecedem a eleição é um fator decisivo para o eleitor escolher em quem votar. Como não sabemos de que jeito vai estar a economia dias antes da eleição, acho que tenho que dar um ponto pra situação e o outro pro governo.

O cidadão comum, como eu, tem dificuldades para entender detalhes da economia. Os economistas não ajudam muito porque, a partir de um mesmo fato, tiram conclusões contrárias. Está claro que, muitas vezes, falta aos economistas o que também falta a muitos jornalistas: honestidade. Se o economista é a favor do governo, tudo é maravilhoso, se é contra o governo, tudo é péssimo.

Na campanha eleitoral, o governo vai fazer muitas comparações entre a era FHC/PSDB e Lula/Dilma/PT, tanto no que se refere a estatísticas de dados econômicos quanto na realização de obras. Dei uma olhada nos números e, realmente, a comparação é chocante. Geralmente, a vantagem para o PT é enorme, coisa de 10 ou 20 pra 1. Por outro lado, a oposição, basicamente a Rede Globo, passou todo o ano de 2013 prevendo para o dia ou semana seguinte o caos, catástrofes econômicas, a falência do Brasil. Não vejo a Globo há vários anos, sei disso pelos blogs e revistas que leio diariamente. Apesar de os chamados "urubólogos" da Globo torcerem contra o Brasil e quererem nos fazer acreditar que estamos vivendo uma crise econômica enorme, o país continuou crescendo e gerando empregos durante o ano todo. Foi muito interessante a entrevista que Luiza Helena Trajano, a mulher que comanda a rede de lojas de varejo Magazine Luíza, deu ao Globo News agora em janeiro. A entrevista está na internet, é curtinha. Dê uma olhada que vale a pena.

 Analistas independentes avaliam que a economia brasileira realmente vai passar por dificuldades em 2014. Na verdade, o mundo todo está em dificuldades. Resta saber qual será o tamanho desses problemas e o quanto eles afetarão o dia a dia do eleitor.

Sinceramente, não acredito que os eleitores vão se impressionar muito nem com as estatísticas do PT, nem com as previsões catastróficas da oposição e da Globo, nem com as lorotas dos economistas. Os eleitores votam de acordo com a situação do seu bolso no dia da eleição. E aí, há três fatores que são decisivos: inflação, emprego e salário. Hoje, esses três índices são amplamente favoráveis ao governo, não se sabe como estarão no mês da eleição.

No final do governo do PSDB, em 2002, a inflação foi de 12,53%. No primeiro ano de governo, Lula ainda herdou a inflação de FHC e, em 2003, ela chegou a 9,3%. A partir daí a inflação sempre foi mais baixa. Em 2013, no final do terceiro ano de mandato de Dilma, a inflação foi de 5,91%, quase igual a 2012, quando foi 5,84%. Aliás, em 2013 o Brasil completou 10 anos seguidos de inflação sempre dentro da meta. Durante a campanha eleitoral, na guerra dos números, a oposição vai explorar esse 0,07% de aumento da inflação em 2013 em relação a 2012. E o governo vai mostrar, imagino eu, que Dilma teve a média de inflação mais baixa dos primeiros 3 anos de mandato dos últimos 5 governos (2 de FHC, 2 de Lula e 1 de Dilma).

Nós brasileiros somos traumatizados com a inflação porque já houve épocas em que ela passava de mil por cento ao ano. Aí, o dinheiro perdia o valor de um dia pro outro. Por isso, muitos sonham com a inflação zero. Mas, inflação zero também não é um bom negócio. Um dos fatores que causam inflação é justamente o reajuste dos salários. Pra não existir inflação nenhuma, não pode haver investimentos públicos e também não deve haver reajuste de salários. O que se deve garantir é que o aumento dos salários nunca seja menor do que a inflação. E essa regra o Brasil tem, como veremos adiante. Então, por caminhos indiretos, uma inflação controlada é um jeito de distribuir melhor a riqueza produzida pelo país. É ou não é? O eleitor que entender isso não vai se impressionar se a inflação oscilar um pouco pra cima ou pra baixo, desde que não dispare como antigamente.

Um dos principais índices para avaliar o desempenho da economia é a taxa de desemprego, que é a porcentagem de pessoas em idade de trabalhar que não está trabalhando. Quando pessoas, indústrias, comércio e empresas em geral vão mal, não contratam empregados, quando vão bem, contratam. No último ano de governo de FHC a taxa de desemprego era de 12,6%. A partir da posse de Lula, e depois no governo Dilma, o desemprego foi diminuindo ano a ano, chegando a 5,4% em 2013, que é uma das menores taxas do mundo. Dezembro de 2013 teve o menor nível de desemprego da história do Brasil, com 4,3%. Parece que haverá uma mudança no método da pesquisa, que pode aumentar esse números, porque vão entrar na conta dos desempregados os adolescentes acima de 14 anos (que devem estudar, não trabalhar), os aposentados (que já fizeram a sua parte e não precisam trabalhar) e as donas de casa (que trabalham muito, principalmente na zona rural, onde as mulheres cuidam da casa e ainda ajudam na roça).

Em 2013, foram criados mais de um milhão e meio de novos postos de trabalho com carteira assinada. Na minha opinião, nem há mais desemprego, vivemos, há anos, a situação definida pelos economistas como pleno emprego. Se em cada 100 pessoas 5 ou 6 não estão trabalhando, isso não significa que não existe trabalho. Muitos são jovens que estão estudando, são sustentados pelos pais ou têm bolsa de estudo e, portanto não precisam trabalhar ainda. Outros saíram de um emprego, estão no seguro-desemprego e, como não falta trabalho, não precisam pegar a primeira coisa que aparece, podem escolher com calma. Em Itaiópolis, volta e meia ouço um carro de som anunciando na rua vagas de empregos para admissão imediata. A impressão que me dá é que não há falta emprego. A imprensa faz escândalo quando o desemprego aumenta 0,1 % de um mês pro outro (como de agosto pra setembro de 2013), mas acho que uma taxa abaixo de 10 % é normal. Só pra ter uma ideia, a Espanha, há poucos anos saudada como uma maravilha de desenvolvimento, recentemente andou com o desemprego em torno de 30% e a França 11%. Os Estados Unidos estão festejando uma taxa de desemprego de 7% em 2013.

Nos últimos anos, houve um aumento real de salários, isto é, os salários aumentaram mais do que a inflação. Veja o exemplo do salário mínimo. No final do governo FHC o mínimo era 200 reais, hoje é 724 reais, o que dá um aumento de 362%. Descontada a inflação, o aumento foi de 72,35%. Comparado com cestas básicas, em 1995 um salário mínimo comprava 1,02 cestas, hoje compra 2,23 cestas, isto é, o poder de compra mais que dobrou. Sinceramente, acho isso muito pouco. Os trabalhadores só recebem migalhas do total de riquezas que produzem. Mas, pode piorar de novo. A elite brasileira (quando falo elite me refiro ao 1% dos mais ricos, que sempre mandaram e, em parte, ainda mandam no Brasil), liderada pela Globo, é contra a indexação do salário mínimo. É importante entender o que isso significa. O governo do PT indexou o salário mínimo ao PIB e à inflação. Indexar, neste caso, quer dizer amarrar, vincular. PIB é Produto Interno Bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país durante um ano. O salário mínimo é reajustado de acordo com a inflação do ano anterior e o PIB de 2 anos antes. Você deve lembrar que em anos passados, na época do reajuste do mínimo, havia uma briga enorme no Congresso Nacional. O governo fazia as contas e propunha o reajuste que achava possível e a oposição pedia aumentos absurdos (o PT, quando era oposição, fazia a mesma coisa). Essa encrenca acabou, porque a regra para o reajuste do salário mínimo já está estabelecida. Usar a inflação como medida garante o poder de compra do salário e usar o PIB favorece a distribuição da renda. É uma coisa lógica, que você e eu fazemos em nossas casas. Se a gente ganhou mais, pode gastar mais, se ganhou menos, tem que gastar menos. Se o PIB aumentou, é porque o povo trabalhou e produziu riquezas. Nada mais justo, então, do que repartir a riqueza entre os trabalhadores que a produziram. Aécio Neves (Folha de S. Paulo 01/05/13) e Eduardo Campos (Folha de S. Paulo 27/10/13) já se comprometeram a obedecer a Globo e a elite. Os dois dizem que são contra a indexação. Isso vai ser usado na campanha e muitos eleitores vão ter medo de que a oposição, se eleita, pode trazer de volta o arrocho salarial.

Uma coisa que vamos ver durante a campanha eleitoral é o PT tentando vincular toda a oposição ao PSDB e ao governo FHC, e alguns candidatos de oposição dizendo que não têm nada a ver com aquele governo. Os 8 anos de presidência de FHC foram tão prejudiciais para o Brasil e para o povo brasileiro, que os candidatos do seu próprio partido não quiseram que ele participasse da campanha, pra não perderem votos. Você lembra que FHC não ajudou Serra contra Lula em 2002, nem Alckmin contra Lula em 2006 e nem Serra contra Dilma em 2010? Quem lê o livro "O PRÍNCIPE DA PRIVATARIA" descobre que FHC entende pouco de economia, nem sequer é o "pai do real", como sempre se dizia. Mas os seus economistas, defensores do neoliberalismo que deu de presente o precioso patrimônio de todos nós para empresas particulares e para pessoas amigas, que quebraram o Brasil mais de uma vez em 8 anos, que nos endividaram até o pescoço, a tal ponto que já nem era mais o governo brasileiro que decidia a política econômica, mas o FMI, pois esses economistas e intelectuais continuam na ativa, e estão agora formulando a política econômica de outros partidos de oposição. Um exemplo interessante é Eduardo Gianetti da Fonseca, conselheiro de Marina Silva. Diz ele, segundo artigo publicado no blog Tijolaço em 20.10.13, que o aquecimento global é devido, em grande parte, aos aviões a jato e aos gases eliminados pelo gado (no Brasil existem aproximadamente 210 milhões de cabeças de gado). A solução para problema do aquecimento do planeta, segundo o conselheiro da Marina, é aumentar o preço das passagens aéreas, da carne e do leite, para forçar o consumo a baixar. Haveria menos aviões no ar e menos gado pra soltar pum. Nem precisa explicar, você já entendeu como funciona a cabeça de um neoliberal: se há um problema, jogamos a culpa e a responsabilidade de resolvê-lo para os brasileiros que ganham menos. Os ricos vão continuar viajando de avião, não importa o preço da passagem. E vão continuar assando a picanha e tomando o iogurte. Quem não vai mais poder viajar de avião, comer carne e tomar leite são os que ganham menos. Baixando o consumo, quebra-se as companhias aéreas, gerando desemprego, quebra-se a pecuária brasileira, quebra-se a indústria leiteira e quebra-se os agricultores que trabalham com o leite.

Não importa quantos candidatos a Presidente a oposição terá, o choque, na economia, vai ser entre o modelo capitalista neoliberal e o modelo capitalista do PT. E não dá pra arriscar um palpite de quem vai levar a melhor, eleitoralmente. Por isso, marco um ponto pra cada lado.

Situação: 10      -      Oposição: 6


9. OS BANQUEIROS

Ao contrário do que muitos esperavam, inclusive eu, os bancos não diminuíram os seus lucros enormes quando Lula assumiu a presidência. Pelo contrário, continuaram ganhando mais do que muitas empresas produtivas. Acho que isso está errado. Não deveria haver especulação financeira ou negócios abstratos. O dinheiro não deveria ser vendido, deveria ser usado em empreendimentos que gerassem empregos e bem estar para a população.

Mesmo não tendo perdido com os governos do PT, acho que está claro que os banqueiros preferem o capitalismo neoliberal da oposição. Vão, então, por meios legais ou não, investir na campanha da oposição.

Situação: 10      -      Oposição: 8


10. OS EMPRESÁRIOS

Para a maioria dos empresários o modelo neoliberal não é bom porque não protege os salários e concentra a renda nas mãos de poucos, o que diminui o poder de compra da população, é dependente dos Estados Unidos, endivida o país e manda fortunas para o exterior como pagamento de juros, investe pouco em programas sociais, o que também gera pobreza e baixa capacidade de consumo. O modelo econômico do governo atual é muito mais interessante para todos os empresários, desde o dono da pequena vendinha da zona rural, passando pelas lojas e supermercados das cidades, pelos prestadores de serviços e profissionais autônomos como advogados, médicos, cabeleireiros, etc., até as pequenas, médias e grandes indústrias. Para todos eles é melhor uma política econômica que distribui renda através da proteção do poder de compra dos salários, da redução de impostos sobre bens prioritários, do incentivo e do financiamento a pequenas empresas, do investimento em políticas sociais, etc. Os ricos aplicam o seu dinheiro, muitas vezes no exterior. A classe média, os assalariados e até os beneficiários do Bolsa Família não aplicam nem guardam o seu dinheiro embaixo do colchão, mas gastam, colocam-no em circulação. Então, é uma burrice algum empresário, micro, pequeno, médio ou grande, preferir o neoliberalismo da oposição ao invés do desenvolvimentismo do governo. A entrevista de Luiza Trajano, da qual falei acima, deixa claro como é importante para os varejistas a política de distribuição de renda. Segundo a empresária, por exemplo, as milhões de famílias que estão construindo casa própria através do Programa Minha Casa Minha Vida precisam mobiliar essa casa e, como têm emprego e têm renda, o comércio varejista vai continuar crescendo ainda por muito tempo. Também agora em janeiro o instituto de pesquisa Data Popular publicou um estudo brasileiro que mostra que os jovens da classe C, têm um poder de consumo maior do que a soma das classes A, B e D.

Até aqui, falei de um tipo saudável de negócios, de empresários honestos. Mas existe um tipo de empresariado nem sempre honesto que, acho eu, também prefere apoiar a situação: os empreiteiros. Quando Lula assumiu a presidência, a infraestrutura do país estava defasada em algumas décadas: faltavam estradas e as que havia estavam mal conservadas, não tínhamos ferrovias (ainda temos muito poucas) e os portos eram precários (o transporte por trem e navio é muito mais barato do que por caminhão), os aeroportos só davam conta de atender aos ricos, a capacidade de geração e distribuição de energia elétrica era insuficiente e aconteciam apagões, e até os estádios de futebol eram tão ruins que a sua estrutura não era muito diferente da do Coliseu de Roma, construído há quase dois mil anos atrás. Em todos esses setores, além de outros, há obras em andamento pelo país todo, seja por conta diretamente do governo, seja através de concessões ou de parcerias público-privadas, e isso é ótimo para as empreiteiras. Infelizmente, o Brasil é o paraíso das empreiteiras e dos superfaturamentos. Todos sabemos que nem sempre pagamos por uma obra o que ela realmente custa.

Acho que os dois pontos devem ir para a situação, porque tanto os empresários do bem como os do mal vão, por meios legais ou não, investir na campanha do governo.

Situação: 12      -      Oposição: 8


Antes de passar para o próximo item, gostaria de tratar de um assunto que vai ser muito debatido na próxima campanha, principalmente pelos candidatos a cargos legislativos: deputados estaduais, federais e senadores. É a reforma política, especificamente, a forma de financiamento das campanhas. Já vou logo dizendo que sou favorável ao financiamento público exclusivo, isto é, as campanhas eleitorais, de todos os candidatos, somente poderiam usar dinheiro público, destinado especificamente para esse fim. Todas as doações de pessoas físicas ou jurídicas para candidatos e partidos seriam proibidas, e quem desrespeitasse essa lei perderia o cargo e iria para a cadeia. Quem é contra o financiamento público exclusivo vai dizer que é um absurdo dar dinheiro público pra esses políticos. Mas, se você pensar bem, vai ver que absurdo é permitir doações milionárias por pessoas ou empresas para os candidatos. Ninguém dá um monte de dinheiro pra um partido ou candidato à toa. Como diz o senador Pedro Simon, "Em política não há almoço de graça". Depois da eleição, o doador vai cobrar tudo com juros e correção monetária. O candidato é eleito com o nosso voto, mas com o dinheiro de quem doou. Dos eleitores o sujeito esquece logo, mas dos doadores da campanha não, porque, depois de quatro anos, vai querer se eleger de novo e vai precisar de mais dinheiro. O prejuízo que esse tipo de político nos dá é milhares de vezes maior do que se tivéssemos pago a sua campanha e ele fosse livre para nos servir, em vez de servir aos interesses particulares de quem lhe deu dinheiro.


11. PROGRAMAS SOCIAIS

Programas sociais são aquelas iniciativas do governo que procuram ajudar as pessoas ou as famílias a melhorar de vida ou resolver um problema específico. Os principais programas sociais federais, entre outros, são: Minha Casa Minha Vida, Luz Para Todos, FAT (que mantém o seguro desemprego), PRONATEC (bolsas de estudo para cursos técnicos e profissionalizantes), PROUNI (bolsas de estudo para universitários de baixa renda) e o Bolsa Família.

No final de 2013, o Programa Bolsa Família completou 10 anos. O IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e o Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome publicaram o livro "Programa Bolsa Família - uma década de inclusão e cidadania", que faz uma avaliação dos resultados do Programa. As estatísticas mostram como ele foi importante na redução da pobreza (em 10 anos, só esse Programa tirou 22 milhões de brasileiros da miséria), na diminuição da mortalidade infantil e na melhoria da educação. Os números também desmentem alguns preconceitos que temos em relação ao Bolsa Família. Por exemplo: muitos acham que o Bolsa Família gera preguiça. A estatística mostra que a taxa de ocupação e de procura de emprego é idêntica entre beneficiários e não beneficiários. Muitos dizem que as mulheres do Bolsa Família têm filhos só pra ganhar mais dinheiro do governo. Os números mostram que nos últimos 10 anos a taxa de fecundidade, do número de filhos, diminuiu 20% em todo o Brasil, mas entre as mulheres que estão no Programa essa taxa caiu 30%. Com mais acesso à informação e aos serviços de saúde, os beneficiários do Bolsa Família passaram a ter famílias menores.

Um outro dado divulgado pelo IPEA é muito interessante: cada real gasto pelo governo no Bolsa Família, gera 2,4 reais no consumo final das famílias e aumenta 1,78 real no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Isso acontece porque aquele real não fica parado, ele circula, passa por muitas mãos e porque, ao melhorar de vida, a família passa a ganhar mais e gastar mais, não só o benefício recebido do governo. Aproximadamente 300 mil beneficiários tornaram-se empreendedores, isto é, iniciaram seu pequeno negócio próprio, uma lojinha, um salão de beleza, etc. Portanto, além de melhorar a qualidade de vida e o sentimento de dignidade de quem recebe o benefício, o Bolsa Família tem um efeito positivo sobre a economia de todo o país, beneficiando inclusive quem é contra o Programa.

Pra encerrar, o Bolsa Família está sendo implantado na cidade de Nova York, no Japão e na Suíça, sempre com assessoria de técnicos brasileiros. O programa já virou produto de exportação. Norte-americanos, japoneses e suíços não são bestas, não iriam copiar o Bolsa Família se ele não fosse bom.

Pelos benefícios que trazem à população e pelo número de pessoas beneficiadas, que são dezenas de milhões, é claro que os programas sociais vão somar votos para o governo.

Situação: 14      -      Oposição: 8


12. IDH

Todos os governos, e o do PT não é diferente, escondem ou diminuem seus problemas, defeitos e fracassos e mostram, de preferência de modo ampliado, suas qualidades e realizações. Por isso, sempre é bom ver o que organismos internacionais neutros dizem do Brasil. Um desses organismos é a ONU (Organização das Nações Unidas). A ONU calcula o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano, de países de todo o mundo. O IDH leva em conta a saúde, a educação e a renda do povo. É uma medida melhor do que o PIB, Produto Interno Bruto, que é a soma de tudo o que se produz no país. A riqueza de um país pode ser mal distribuída. Então, o PIB pode ser alto, mas o povo é pobre, porque a riqueza está nas mãos de poucos.

Dos 187 países avaliados, 100 estão piores que o Brasil, e oitenta e poucos têm IDH mais elevado. Não estamos, portanto, na ponta da lista. Mas o fato que certamente vai ser citado durante a campanha eleitoral é que o Brasil evoluiu muito nos últimos anos, saindo do grupo dos países com IDH médio e entrando no grupo dos que têm IDH alto. E o que mais puxou o índice pra cima foi o item longevidade, que avalia a saúde da população. Longevidade é o tempo de vida esperado, ou expectativa de vida, que é a média da idade das pessoas quando morrem. Quanto menos crianças morrerem e quanto mais idosas as pessoas ficarem, maior é a longevidade. A expectativa de vida no Brasil já chegou a 73,9 anos. O UNICEF, agência das Nações Unidas que cuida da infância, divulgou relatório em dezembro de 2013 dizendo que houve uma grande redução da mortalidade infantil no Brasil nos últimos anos. Segundo o UNICEF, isso se deve aos Programas de Saúde da Família, ao aleitamento materno, à vacinação e a melhorias do saneamento básico. O Banco Mundial, em relatório de dezembro de 2013 também diz que o SUS é o responsável pela melhoria dos indicadores de saúde e desenvolvimento humano.

Dos três itens que compõe o IDH o que menos cresceu no Brasil foi a educação, e, mesmo assim, já atingiu o nível alto. Existe uma prova internacional chamada PISA (sigla em inglês para Programa Internacional Para Avaliação de Estudantes), da qual participam alunos de 15 anos de vários países, de 3 em 3 anos, cada vez com foco em uma matéria diferente. Em 2012 a prova foi de matemática. Os resultados foram divulgados em dezembro de 2013 e lá consta que o Brasil foi o país que mais cresceu.

Sobre o terceiro item do cálculo do IDH, a renda das pessoas, nem precisa falar, porque todos sabem que os trabalhadores hoje ganham muito melhor, apesar de ainda ser pouco, porque a economia valoriza mais o capital do que o trabalho.

Consultando as estatísticas, dá pra ver que a maioria dos indicadores começou a melhorar ainda durante o governo FHC. Mas melhoraram pouco naquele período. A maior parte do progresso deu-se a partir do primeiro governo Lula, e isso vai ser mostrado na campanha e vai conquistar votos.

Situação: 16      -      Oposição: 8

 13. MOBILIDADE URBANA

Para as pessoas que moram em pequenas cidades, esse problema não existe. Mas nas grandes cidades, onde se concentra grande parte do eleitorado, é um problemão. As pessoas gastam grande parte do dia presas no trânsito. E esse é um tempo perdido. O congestionamento das ruas, assim como o congestionamento dos aeroportos, é, em grande parte, resultado da melhoria das condições financeiras de milhões de pessoas. O Brasil não foi planejado pelos governos do passado para ser o país de todos os brasileiros. O povo era pra andar de ônibus, a elite de carro e de avião. De certa forma, os congestionamentos são um bom problema, mas tem que ser resolvido.

A partir das manifestações de junho, Dilma começou a dar mais atenção a esse assunto, iniciando obras que melhorarão a mobilidade urbana e, consequentemente, trarão votos. Mas, esse não é um problema que vai ser resolvido a curto prazo. Dou, então, os dois pontos para a oposição.

Situação: 16      -      Oposição: 10


14. PETRÓLEO

O petróleo passou a ser um assunto obrigatório em todas as conversas sobre política e economia. Vai ser também na eleição.

O petróleo existe dentro da rocha, no fundo da terra, inclusive da terra que fica abaixo do mar. Há muitos anos o Brasil retira o óleo da chamada camada pós-sal, uma fatia de rocha que tem uns mil metros de espessura. Depois do pós-sal, existe uma camada de sal de aproximadamente 2 mil metros de espessura. Aí vem o pré-sal, também com 2 mil metros de espessura, dentro do qual há grandes depósitos de petróleo. Então, os engenheiros precisam furar uns 5 km de rocha e sal para chegar ao tesouro. Contando com mais 2 km de água, a profundidade do mar, é necessária uma tubulação de 7 km para retirar o petróleo do pré-sal. Acho essa uma façanha incrível da engenharia. E os nossos técnicos e engenheiros são os melhores do mundo nesse trabalho, o que deve causar orgulho a cada brasileiro.

Durante o governo Lula, o Brasil alcançou a autossuficiência em petróleo mas, por razões diversas, volta e meia ainda temos que importar combustível. Antes, tínhamos que importar muito petróleo. Os mais velhos talvez se lembrem que na década de 70 houve uma crise, os preços do óleo dispararam no mercado internacional, o Brasil gastava muito com as importações e ainda assim, às vezes, faltava combustível. Com a descoberta do pré-sal, em breve seremos grandes exportadores de petróleo. A Agência Internacional de Energia, órgão da ONU, prevê que isso vai acontecer já no ano que vem.

O petróleo gera polêmicas desde a década de 1940, quando os nacionalistas lançaram a campanha "O petróleo é nosso". O escritor Monteiro Lobato foi um grande defensor dessa campanha. Contra eles havia os chamados entreguistas, que defendiam que a exploração do petróleo deveria ser entregue a empresas estrangeiras porque o Brasil não tinha tecnologia para a perfuração de poços. A corrente "O petróleo é nosso" venceu, e, em 1953, Getúlio Vargas criou a Petrobras, que hoje é uma das maiores empresas do mundo. A Petrobras quase foi privatizada no governo FHC. Chegaram a mudar seu nome para Petrobrax, que agradava mais aos estrangeiros. Não foi privatizada porque a empresa era muito lucrativa e houve reação da sociedade, principalmente dos próprios funcionários. Mas boa parte das ações da empresa, que pertenciam ao governo, foram vendidas na bolsa de Nova Iorque. Quando FHC assumiu, o governo era dono de 80% do capital. Quando o segundo mandato acabou, o governo só tinha em torno de 40%, mas continua com a maioria dos votos, e por isso o governo ainda não perdeu o controle sobre a empresa.

Quando o petróleo do pré-sal foi descoberto, Lula e Dilma não o entregaram à Petrobras. Se tivessem feito isso, teriam entregado a maior parte desse tesouro aos acionistas da empresa, inclusive aos estrangeiros. Em vez disso, criaram a empresa Pré-Sal Petróleo S.A, controlada pelo governo, que vai gerenciar a exploração do petróleo. No leilão do Campo de Libra, que é apenas um de muitos campos petrolíferos que já existem (estão sendo descobertos outros), a Petrobras entrou com 40% da participação no consórcio que vai tirar o óleo do fundo do mar, junto com duas empresas privadas (a francesa Total e a Shell, da Holanda e Inglaterra) e mais duas estatais chinesas.

Acho que a entrada dos chineses no consórcio foi importante. Mais do que lucro, os chineses querem a garantia do fornecimento de petróleo, pois eles importam muito e é estratégico diversificar fornecedores para não ficarem sem combustível caso aconteça uma guerra, por exemplo no oriente médio. Participando do consórcio, os chineses terão preferência na compra e nós teremos comprador garantido para o nosso petróleo excedente. Além disso, há um outro aspecto que o governo brasileiro deve estar considerando: a China caminha para ser a maior potência econômica mundial. Há poucos dias, em janeiro, já ultrapassou os Estados Unidos como potência comercial. É muito mais inteligente sermos aliados, de igual pra igual, com quem está crescendo, como China, Índia, África do Sul, países da América Latina, do que sermos submissos, como constantemente defendem a imprensa e os neoliberais da oposição, aos Estados Unidos, que estão lentamente afundando.

Se o Regime de Partilha, criado pelo governo para o Campo de Libra, é melhor ou pior do que o Regime de Concessão, que existia antes, é difícil saber. Os cálculos do governo mostram que o Brasil vai ficar com 84,65% da renda gerada, mas já vi cálculos que mostram que podemos ficar só com 39,43%. Na verdade, há variáveis imprevisíveis nesses cálculos. Seria muito bom se o governo estivesse certo em suas contas, porque só o Campo de Libra traria para nós mais de um trilhão de reais durante os 35 anos do contrato, e parte disso, por lei, terá que ser investido em educação e saúde. Porém, é possível que a realidade vai ficar em algum ponto intermediário entre o pessimismo exagerado e o otimismo extremo.

Na minha opinião, cálculos complicados não vão impressionar os eleitores. A oposição tem contra si centenas de reportagens de jornais e televisão provando que tentaram, de qualquer maneira, privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, três dos mais importantes instrumentos de desenvolvimento do país. E o governo tem a seu favor o fato de ter lutado contra essas privatizações quando ainda era oposição, de ter criado a Pré-Sal Petróleo SA e de ter feito a lei que destina os recursos do petróleo para a educação e saúde. Como diz Delfim Netto em sua coluna da revista Carta Capital de 30.10.13, "...o governo tinha razão em mudar o regime, pois o pré-sal não é propriedade da Petrobras, mas um patrimônio de toda a sociedade brasileira, no presente e no futuro." No final das contas, é isso que vai pesar para o eleitor, e por isso dou os dois pontos para a situação.

Situação: 18      -      Oposição: 10


15. DENUNCISMO

Denuncismo é a prática de a imprensa fazer acusações sem fundamento e sem provas contra os candidatos ou partidos que não querem que sejam eleitos. A justiça e a lei são defeituosas, não há agilidade no direito à resposta. Geralmente, quando fica provado que a denúncia era falsa a eleição já passou e o estrago já foi feito. Como a imprensa é contra o governo, é contra o governo que essa prática vai ser usada. Não lembro de uma eleição em que o PT não tenha sido vítima de denúncias falsas. De memória, sem pesquisar, cito algumas. Há muitos anos, dias antes de uma eleição, alguns manifestantes foram mortos a tiros e a imprensa divulgou que foram os deputados do PT que atiraram. Passada a eleição, foi divulgado o laudo pericial das balas retiradas dos cadáveres: as balas eram da polícia. Em outra ocasião, divulgou-se que não se devia votar no Lula porque o PT tinha uma base de treinamento de guerrilheiros no interior do Brasil. Claro, isso nunca existiu. Em 89, a ameaça era que se Lula fosse eleito confiscaria o dinheiro depositado na poupança das pessoas. Collor ganhou e a primeira coisa que ele fez foi confiscar não só a poupança, mas o dinheiro depositado em todas as contas bancárias dos brasileiros, inclusive o meu. Só ficaram 50 mil cruzados novos, o equivalente a 6 mil reais de hoje, na conta da cada cidadão. Ainda na eleição de 89, o empresário Abílio Diniz, que tinha sido sequestrado, foi libertado nas vésperas da eleição e a polícia colocou camisetas de Lula nos sequestradores quando os mostrou à imprensa. Em 2010, o Jornal Nacional denunciou que Serra tinha sofrido um atentado no Rio de Janeiro. Militantes do PT teriam atingido a sua cabeça com um objeto pesado e duro (Serra disse que pesava meio kg, outros falavam em 1 kg). O candidato foi às pressas para um hospital onde um médico amigo seu fez uma tomografia da sua cabeça. Pra azar da Globo, uma equipe de TV concorrente filmou tudo e o que se vê é uma mão, aparentemente de um segurança do próprio Serra, jogando uma bolinha de papel em sua cabeça. Desmoralizado, o Jornal Nacional disse que a agressão não foi naquele momento, que foi mais tarde, e mostrou um vídeo, depois desmascarado como sendo uma montagem grosseira, no qual também não se vê nada atingindo a cabeça de Serra. O episódio é histórico porque os próprios funcionários da Globo vaiaram a reportagem quando ela foi ao ar. No dia seguinte ao "atentado", em campanha no Paraná, Serra dava entrevistas, sem um arranhão na careca. Para muitos, até hoje José Serra é conhecido como "Zé Bolinha". Na mesma campanha, Erenice Guerra, ministra da Casa Civil de Lula, foi acusada de corrupção. Pra não prejudicar a campanha de Dilma, Erenice pediu demissão. Lembro que uma pesquisa mostrou que Dilma perdeu 8 milhões de votos por causa dessa denúncia. A eleição, que teria sido decidida no primeiro turno, foi ao segundo turno. Agora você, leitor, faça uma pesquisa pra ver como terminou o assunto. Vai descobrir que a justiça, que não perdoa nada quando a acusação é contra o PT, arquivou o processo contra Erenice em 20 de julho de 2012, simplesmente porque não havia crime algum. E tem ainda o caso da ficha criminal da Dilma publicada pela Folha de São Paulo. A montagem era tão grosseira, que, mais tarde, o próprio jornal teve que reconhecer que a ficha era falsa.

Bom, chega desse assunto! Eu não acredito em nada que seja publicado pela Globo, pela CBN, pela Folha de S. Paulo, pela Veja, pelo UOL e por alguns outros veículos de comunicação, mas tem gente ingênua que acredita. A julgar pelo desespero que esses veículos de comunicação, principalmente a Globo, mostraram em 2013, é de se esperar todo tipo de baixaria em 2014. E isso vai tirar votos da situação.

Situação: 18      -      Oposição: 12


16. AS REDES SOCIAIS

As redes sociais, e a internet de um modo geral, são cada vez mais utilizadas nas campanhas eleitorais. Através da internet circulam propostas de governo, propaganda eleitoral, informações, opiniões, etc. E circulam, também, uma infinidade de intrigas, fofocas, mentiras e calúnias. Não dá pra saber agora se a situação ou a oposição vai usar melhor a internet e as redes sociais para fazer a campanha sadia. Mas, já dá pra saber que dos dois lados vão ocorrer baixarias. O pessoal mais de esquerda, que tem uma tendência maior de apoiar o PT, tem o defeito da intolerância, da arrogância e da falta de paciência. Quando topam com um comentário contrário às suas convicções, não procuram estabelecer um diálogo, vão logo taxando quem discorda de "fascista", "nazista", etc. Isso ofende e anula a possibilidade de conversar. Os antipetistas fanáticos têm o defeito de não usarem o cérebro. Repetem, como papagaios, aquilo que a Globo diz. Ou então fazem o papel de inocentes úteis, passando adiante todas as calúnias e os preconceitos que o 1% dos mais ricos, que não se conformam de ter perdido o poder, plantam todos os dias nas redes sociais.

Tenho opinião formada de que a campanha de calúnias é um tiro no pé de quem a faz. Quem faz fofocas a respeito dos adversários prejudica o seu próprio candidato, mesmo que esse candidato não tenha autorizado a fofoca ou nem concorde com ela. A seguir, explico porque cheguei a essa conclusão.

Em primeiro lugar, já foi provado muitas vezes pelos especialistas em marketing e propaganda que a afirmação chama mais a atenção do que a negação. Isso quer dizer que falar bem do seu candidato dá mais votos do que falar mal do candidato adversário, mostrar pontos positivos do seu candidato conquista mais eleitores do que mostrar pontos negativos do adversário. Volte alguns anos no tempo e relembre como foi a campanha pra Presidente em 2010. Tanto Serra quanto Dilma, certamente orientados pelos seus marqueteiros, fizeram uma campanha inteligente na televisão, procurando mostrar o que pretendiam realizar se fossem eleitos. Mas na internet, a campanha feita pelos simpatizantes dos dois candidatos foi totalmente diferente. Os que defendiam Dilma faziam uma campanha de propostas e de comparações com o período dos governos do PSDB. Já os simpatizantes de Serra promoveram uma campanha de intrigas, de pregação de ódio e preconceito como o país nunca tinha visto. Não tenho dúvidas de que isso tirou votos de Serra.

O segundo ponto negativo da fofoca é que ela pode ser desmentida ou se voltar contra o fofoqueiro, e ele  perde a credibilidade. Se alguém mentir pra você, você não acredita mais nessa pessoa nem que depois ela fale a verdade. Isso também aconteceu na eleição de 2010. Lembra que começou a circular na internet que não era pra votar na Dilma porque ela ia legalizar o aborto no Brasil (coisa que, aliás, nem é atribuição do Presidente, é assunto do Congresso)? Uma aluna da esposa do Serra divulgou na internet que a professora contou para diversas alunas que, quando moravam no Chile,  eles, o casal Serra, tinham feito um aborto. Esse é um assunto de família, que não nos interessa e que nem deveria tornar-se público, mas que só foi divulgado porque alguém resolveu dizer que a Dilma iria fazer uma coisa ruim que o Serra, na verdade, já tinha feito. A fofoca foi um tiro no próprio pé, tirou votos de Serra.

O terceiro motivo para não se fazer fofoca é que ela revolta as pessoas mais inteligentes e mais bem informadas. Essas pessoas são formadoras de opinião, isto é, quando vão pra um lado, não vão sozinhas, levam muita gente junto. Um exemplo disso é o que aconteceu na eleição de 2010 com D. Luiz Eccel, bispo diocesano de Caçador, SC. Ele conta que já tinha escolhido o candidato em quem votaria pra Presidente, quando a caixa de entrada do seu e-mail começou a ser invadida por intrigas e falsas denúncias contra Dilma. Notou que só a candidata do PT era apedrejada. Revoltado com a baixaria das mensagens que estava recebendo, começou a estudar melhor o passado dos candidatos, relacionando a sua atuação e a sua história e com o evangelho. E decidiu, então, mudar seu voto, votar em Dilma. Mas, não fez isso em silêncio, pelo contrário, divulgou duas cartas abertas ao povo, apoiando a candidata. Essas cartas, uma de 12.10.10 e a outra de 28.10.10, estão disponíveis na internet. Mais tarde, D. Eccel renunciou ao seu cargo, não sei se a renúncia está relacionada ao seu apoio a Dilma. O que nos interessa aqui é que o apedrejamento da candidata a transformou em vítima. Uma pessoa influente, um bispo da igreja católica, que iria votar em outro candidato e levar muitos votos com ele, mudou de opinião. As cartas do bispo geraram uma reação negativa de setores conservadores da igreja católica, que de qualquer forma não iriam votar na Dilma mesmo, mas foram amplamente divulgadas pelos militantes do PT e, não há dúvidas, somaram milhares de votos para a sua candidata. Mais uma vez, os fofoqueiros deram um tiro no próprio pé.

O quarto motivo pra não se usar intrigas e falsas denúncias na campanha eleitoral é que elas muitas vezes estimulam preconceitos. Um exemplo disso é o preconceito contra nordestinos que foi pregado durante e depois das eleições de 2010. Aqui no sul, esse preconceito é muito difundido. Já morei em muitos cantos do Brasil, convivi muito com nordestinos e posso dizer sem medo de errar que os preconceitos não se justificam. É verdade que os eleitores do nordeste votaram mais em Dilma do que na oposição. Mas o culpado disso é a própria oposição, a elite, o 1% dos mais ricos, que governaram o Brasil durante 500 anos e que sempre deixaram o nordeste abandonado, só se lembrando na época das eleições que lá tinha gente. Se agora aquela região é tratada com mais respeito, progride, as pessoas melhoram de vida rapidamente, é lógico que vão continuar votando no governo. Você não faria a mesma coisa? Entretanto, os que pregam o preconceito culpam os nordestinos pela derrota em 2010, dizem que o PT ganhou por causa do nordeste. Como tem certas coisas que eu só acredito vendo, resolvi conferir os números. Faça isso você também! Lição de casa: entre na página do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e confira o resultado da eleição de 2010! Os números estão mais fáceis de entender no "Clicrbs eleições 2010". Você vai ver que Dilma ganhou de Serra, no país todo, no segundo turno, por uma diferença de um pouco mais de 12 milhões de votos. Excluí os votos do nordeste e... surpresa! Mesmo sem o nordeste, Dilma ganha por mais de um milhão e trezentos mil votos. Descontei, então, os votos da região norte, já que os nortistas também são "culpados" por muitos de apoiarem o PT. Mesmo assim, Dilma ganhou por 275 mil votos. Conclusão: o sul, o sudeste e o centro-oeste elegeriam Dilma, sem precisar dos votos do norte e do nordeste. Se você tiver um pouco mais de paciência, faça um levantamento da votação do segundo turno por estado. Vai descobrir que quem desequilibrou a eleição a favor de Dilma foi Minas Gerais, justamente o estado onde o atual presidente do PSDB, Aécio Neves, tinha sido governador e onde o seu partido esperava ganhar de goleada. A derrota em Minas Gerais foi tão difícil de admitir, que os nordestinos acabaram pagando o pato, foram "culpados" pela eleição de Dilma.

Existem ainda outros motivos para se evitar calúnias: o candidato que precisa disso pra se eleger não merece ser votado, porque não queremos um país governado por mentirosos. Além disso, a fofoca pode custar caro. Uma vítima constante das redes sociais é o filho do Lula. Se o rapaz é santo ou não, isso eu não sei. Sei que ele perdeu um processo pra revista Veja que divulgou que ele estava progredindo rapidamente demais como empresário, mas ganhou outro do empresário Alexandre Paes dos Santos, que terá que pagar uma indenização de 5 mil reais por ofensa. E sei que ele não é dono do Friboi, porque basta ver na internet a composição societária da empresa. Muita gente se diverte com a ingenuidade das pessoas que acreditam em tudo e passam adiante qualquer bobagem que caia no seu facebook. No ano passado, alguém tirou uma foto da Escola Superior de Agricultura de Piracicaba, um baita de um prédio, e postou na rede como sendo a sede da fazenda do filho de Lula. Acho que milhares acreditaram na piada e passaram adiante como verdade. Isso é perigoso, porque a internet não é mais a casa da sogra. E a lei não faz diferença entre quem cria a calúnia ou quem a passa adiante. A punição é a mesma. Como o filho de Lula não é dono do Friboi, não tem e nunca teve nem fazenda nem avião, ele está processando quem divulga essas fofocas. A última notícia que eu vi é que 6 pessoas já tinham sido indiciadas e a fonte das calúnias seria o Instituto Fernando Henrique Cardoso, de São Paulo. 

Gostaria que a campanha eleitoral de 2014 fosse limpa e que as redes sociais fossem usadas para uma saudável disputa de ideias e de propostas. Entretanto, sei que não vai ser assim. As intrigas e falsas denúncias vão correr soltas. Acho que vai ser favorecido quem não apelar para a baixaria. Como ainda não dá pra saber qual vai ser o comportamento de cada candidato e de sua militância, melhor dar um ponto pra cada lado.

Situação: 19      -      Oposição: 13





17. A COPA DO MUNDO

Ganhar ou não ganhar a copa do mundo de 2014 não vai eleger nem deixar de eleger ninguém. Mas a organização do evento em si pode ter influência na eleição. E acho que a chance maior é de favorecer a oposição.

Não tenho complexo de vira-lata, acho que o Brasil tem todas as condições para organizar uma copa do mundo ou uma olimpíada, se vai conseguir ou não, é esperar pra ver. Complexo de vira-lata é aquela manifestação de algumas pessoas, quase sempre da oposição, de que o brasileiro é inferior, não tem capacidade, os bons são os estrangeiros. Temos capacidade igual, e em algumas coisas somos até melhores, porque houve investimento em pesquisa e tecnologia. É o caso da exploração de petróleo.

É lógico que vão acontecer problemas nos aeroportos, congestionamentos nas cidades, etc. como ocorre em todos os países do mundo que sediam grandes eventos. Mas isso não é motivo para torcermos pra dar tudo errado.

Não acho que sediar uma copa do mundo seja ruim. Se fosse ruim, os países não brigariam tanto para ser a sede desse torneio. A copa pode trazer muito dinheiro para o país sede. Estudos feitos em países que já sediaram a copa, como a Alemanha, mostram que os benefícios com o aumento do turismo continuam por anos após a realização do evento. E ele obriga o governo a preparar o país, melhorando a infraestrutura, principalmente de aeroportos e obras de mobilidade urbana, melhorias que ficam depois que a copa acaba.

Também não concordo com as críticas porque estão sendo construídos estádios "padrão FIFA". Nos países desenvolvidos, as pessoas têm no estádio de futebol o mesmo conforto que têm no cinema ou no teatro. Por que o torcedor brasileiro deveria continuar sentando em arquibancadas de concreto, debaixo de sol e chuva, sem banheiros decentes e sem outros confortos? Nossos estádios antigos são iguais ao Coliseu de Roma, onde, há quase 2 mil anos atrás, o povo ia assistir lutas de gladiadores.

Também não acho errado investir recursos públicos na copa, principalmente porque o governo investe dinheiro nas obras que vão ficar para as cidades e empresta para a iniciativa privada construir estádios. Todo esse investimento tem retorno alto e garantido. Há muita desinformação em relação aos gastos da copa. Dos quase 26 bilhões que serão investidos, apenas 8 bilhões (30%) serão usados na construção de estádios. Os outros 70% serão investidos em obras de infraestrutura, serviços e formação de mão de obra. Na verdade, a copa já está trazendo vantagens ao povo brasileiro: até a Copa das Confederações, no ano passado, a construção dos estádios já tinha gerado 24.500 empregos diretos.

Outra bobagem é dizer que estão sendo desviados para a copa recursos da saúde e educação. Os recursos destinados à saúde e educação aumentaram em 2013 e vão aumentar de novo em 2014. Os 26 bilhões da copa equivalem a apenas um ano de investimento no Bolsa Família do país inteiro e à metade do que a CPMF estaria arrecadando por ano hoje, se não tivesse sido extinta pela oposição no governo Lula. Quer dizer que só com o dinheiro da CPMF, que se destinava exclusivamente à saúde, daria pra fazer duas copas do mundo por ano. Então, se a preocupação com a saúde fosse séria, esses políticos e a imprensa que hoje gritam contra a copa não deveriam ter acabado com a CPMF. Você já sabe, mas não custa lembrar: a CPMF não foi extinta porque era um imposto caro, foi extinta porque permitia à Receita Federal acompanhar a movimentação financeira das pessoas. Os 0,38% da CPMF, descontados de todas as movimentações financeiras em bancos, não pesavam no meu bolso nem no teu, mas, ao cruzar as informações com o imposto de renda, a Receita Federal descobriu que das 100 pessoas que mais movimentavam dinheiro no país, 60 nem declaravam imposto de renda. Isso provou o que já se suspeitava, que rico no Brasil não paga imposto. Os impostos só são pesados pra nós, o povo, porque a elite não paga a parte dela. 

A copa necessita de muitas obras, e de obras grandes, que mobilizam muito dinheiro. E dinheiro atrai corruptos como o esterco atrai moscas. Então, pra mim, o problema não é a copa em si, mas a corrupção e o superfaturamento que, acredito, acontecem em muitas das grandes obras, já que o Brasil é o paraíso das empreiteiras e dos superfaturamentos. Mas nem sempre é assim. A Arena das Dunas, estádio de Natal, no Rio Grande do Norte, custou 3% a menos do que estava previsto no orçamento.

Espera-se que haja protestos e manifestações de rua contra a copa, mas a sua influência eleitoral é incerta, principalmente porque a copa é em junho e julho e a eleição em outubro. As manifestações de junho de 2013 prejudicaram o governo num primeiro momento, mas depois o governo tirou proveito delas, e até outubro já tinha recuperado a popularidade. Também é possível que ocorram atentados como, por exemplo, a explosão de estações de eletricidade, deixando estádios ou cidades sem energia. Nesse caso, com certeza, quem sai ganhando eleitoralmente é o governo. O Brasil assinou cerca de 900 contratos referentes à realização da copa. Se ela tiver que ser transferida para outro país por motivos de segurança, e se os contratos não forem cumpridos, quem sai perdendo não é a FIFA, é o Brasil, ou seja, nós, o povo. E o povo não vai votar na oposição, se ela esculhambar a copa e nos der um prejuízo de bilhões, vai votar no governo, que tentou fazer uma copa bonita e foi impedido pela oposição. O governo fica sendo a vítima, porque os brasileiros apoiam manifestações pacíficas, mas não gostam de baderna e de violência, muito menos de terrorismo. Em 25 de janeiro de 2014, houve uma manifestação de baderneiros mascarados contra a copa em São Paulo, no final da qual o fusca de um senhorzinho pegou fogo. Ele ficou sentado na calçada, chorando. Depois um cinegrafista foi morto por um rojão. Quem é que vai apoiar uma coisa dessas?

Se a oposição for inteligente, vai apoiar a realização da copa, porque ela é do Brasil, mas vai denunciar todo o tipo de desvio e desonestidade que ela descobrir. Uma CPI da Copa, pra Globo ter o que falar de manhã, de tarde e de noite, certamente desgastaria o governo, mesmo que depois da eleição se demonstre que algumas acusações eram falsas. Como não acredito que a oposição vai ser burra e ficar contra a copa, mas vai ser inteligente e denunciar as irregularidades, o que, afinal, é a sua obrigação, dou os 2 pontos para a oposição.

Situação: 19      -      Oposição: 15





18. PROTESTOS

A popularidade da Presidenta Dilma e a aprovação ao seu governo desabaram durante e logo após os protestos de junho de 2013. Mas ela soube lidar com a situação do jeito certo: não reprimiu as manifestações e tentou atender o que o povo pedia, na medida do possível, até porque as reivindicações eram bastante vagas. O Programa Mais Médicos e uma maior atenção para o problema da mobilidade urbana são respostas aos protestos. A aprovação da lei que vincula o dinheiro do petróleo à educação e à saúde também é resultado das manifestações. A Presidenta já vinha tentando que o Congresso aprovasse a lei que destinava 100% dos recursos do petróleo para a educação, mas os parlamentares recusavam-se a aprovar. Assustados com os protestos, aprovaram rapidinho, mas destinaram 75% para a educação e 25% para a saúde. Acho que assim ficou ótimo. Os recursos que ganharmos com  o petróleo têm um destino certo, não vão se perder nos labirintos administrativos dos futuros governos. Foi uma vitória do povo e da Presidenta. Infelizmente, as manifestações pararam antes de se alcançar aquela que seria a maior vitória de todas: o plebiscito para a reforma política. Tem muita coisa errada na política, que deve ser consertada através de uma reforma geral do sistema. As mudanças só podem ser feitas por meio de leis. Quem faz leis são deputados e senadores, que nunca vão mudar um sistema no qual eles mesmos são grandes privilegiados. A Presidenta queria fazer um plebiscito, no qual nós, os eleitores, iríamos reorganizar toda a política. Poderíamos, então, diminuir o número de deputados, mudar as regras para a eleição dos suplentes de senador, decidir a respeito dos salários dos políticos, diminuir ou acabar com mordomias, mudar as regras para a criação de partidos, para coligações, decidir a respeito das formas de financiamento das campanhas, etc. Porém, as manifestações pararam, os parlamentares desconversaram e empurraram com a barriga e a reforma política, de novo, não aconteceu. Poucos meses depois das manifestações, o governo recuperou o apoio da população e as pesquisas mostram que, hoje, Dilma seria reeleita com certa facilidade, talvez até no primeiro turno.

As manifestações do ano passado foram espontâneas, não foram organizadas por partidos, sindicatos, centrais sindicais ou outras entidades. Candidatos e líderes da oposição manifestam na imprensa, frequentemente, o desejo de que as manifestações se repitam em 2014. Há quem diga que farão de tudo para que elas aconteçam. Mas não acredito que partidos que apoiam o governo nem partidos de oposição se arrisquem a promover protestos abertamente. O tiro pode sair pela culatra, porque o povo não está mais afim de ser manipulado. Veja o que aconteceu com a Globo no ano passado. Quando os protestos iniciaram em São Paulo, por causa do aumento das passagens de ônibus, a Globo foi contra. Assim que percebeu que as manifestações estavam aumentando e se alastrando, e que poderiam desgastar o governo, passou a ser a favor. Existe na internet um vídeo mostrado pela TV argentina no qual Arnaldo Jabor, comentarista da Globo, desce a lenha nos manifestantes de São Paulo que queriam a redução do preço das passagens. Dois ou três dias depois o mesmo comentarista diz exatamente o contrário. Você precisa ver o vídeo! É de morrer de rir ver como os peões da Globo mudam de opinião rapidinho, conforme o interesse político do momento. Quando as pessoas sérias, que não querem ser usadas nem por um lado nem pelo outro, que simplesmente queriam melhorar o país, perceberam a manipulação, os protestos acabaram. Sobraram os baderneiros mascarados, que causaram muitos prejuízos porque continuaram tendo divulgação pela TV. Pesquisas mostraram que em torno de 90% da população desaprova os mascarados. O cidadão honesto mostra o seu rosto quando protesta. Quem se esconde atrás de uma máscara para quebrar tudo o que aparecer pela frente é bandido. Ter dado corda para os baderneiros mascarados ajudou a comprometer a credibilidade da Globo, e agora também do SBT. Prova disso é que foram anunciadas manifestações enormes contra o governo, de milhões de pessoas, por todo o país em 7 de setembro de 2013. Na maioria dos lugares nem houve protestos, alguns juntaram 10 pessoas e as maiores chegaram a uns 150 manifestantes. O povo não obedece mais a Globo, e isso é ótimo para o país. Mas a associação da Globo com os mascarados é um problema. Esses baderneiros já teriam se recolhido se não contassem com a promoção e a ampla cobertura que a Globo lhes dá.

Por serem imprevisíveis, melhor eu dar um ponto pra cada lado nesta questão dos protestos.

Situação: 20      -      Oposição: 16





19. CORRUPÇÃO

Uma pesquisa de opinião realizada pelo Ibope e publicada na revista Carta Capital de 25.12.13 mostrou que saúde, segurança pública, educação, e combate às drogas são os problemas considerados mais importantes, a corrupção só aparece em quinto lugar. Os marqueteiros vão orientar os candidatos a respeito disso. Quem gastar seu tempo falando só em corrupção vai perder a oportunidade de mostrar as soluções que propõe para os problemas que realmente afligem o povo. Por isso, talvez a corrupção nem seja um assunto central na campanha.

Não acredito que exista algum governo municipal, estadual ou o federal em que não ocorra algum tipo de desonestidade. Mesmo que o chefe do governo não cometa nenhuma irregularidade, sempre há algum subalterno metido em alguma falcatrua. Só aqueles candidatos que nunca ocuparam um cargo no executivo estão livres desse problema e podem atirar pedras no telhado dos outros. A mesma pesquisa que citei acima perguntava se os entrevistados achavam que a corrupção era ligada diretamente ao governo federal. O percentual das respostas afirmativas surpreendeu os pesquisadores: zero por cento. Isso não quer dizer que zero por cento das pessoas acham que existe corrupção no governo federal, quer dizer que 100 por cento das pessoas sabem que existe corrupção em todos os níveis de governo, inclusive no federal.

Por um lado, Dilma leva desvantagem no quesito corrupção porque comanda uma máquina enorme. A chance de aparecer algum caso de corrupção é maior. E, se não aparecer, a Globo está aí pra dar uma mãozinha e fabricar um escândalo, nem que seja daqueles que depois das eleições se descobre que era falso.

Mas, o governo, o PT e Dilma, também têm pontos positivos a seu favor. Lembra que no início do seu governo Dilma fez uma limpeza no seu ministério, demitindo vários ministros acusados de corrupção? Na época, ela foi chamada de faxineira. Isso foi o resultado desse absurdo que existe na política mas que, infelizmente, vai continuar sendo assim: cargos em troca de apoio político dos partidos aliados. O prefeito, o governador ou o Presidente da República acabam nomeando secretários e ministros que nem conhecem direito. Mas Dilma fez a limpeza, ao contrário do que acontecia no tempo do PSDB. As propinas das privatizações e a compra dos 150 deputados a 200 mil reais por cabeça para que aprovassem a emenda constitucional que deu a FHC o direito à reeleição foram coordenadas de dentro do palácio, e ninguém foi demitido por isso. Como ninguém foi demitido quando Serra foi governador de São Paulo, sendo que os primeiros cálculos dos desvios de dinheiro público nas licitações do metrô de São Paulo, de apenas 6 das dezenas de contratos que vão de Covas a Alckmin, apontam que teria havido um desfalque que meio bilhão de reais, o que equivale a 6 vezes o "mensalão do PT". O eleitor sabe enxergar essas diferenças. Já que a corrupção é inevitável, o que interessa é como se lida com o problema.

Ainda falando em comparações, o senador Roberto Requião, do PMDB do Paraná, que é independente porque às vezes elogia e às vezes faz críticas pesadas ao governo, disse uma frase que consta na capa do livro O PRÍNCIPE DA PRIVATARIA: "A gente não precisa nem de um roubômetro, FHC com a privataria roubou 10 mil vezes mais que qualquer possibilidade de desvio do governo Lula". Falar o tempo todo do 1 real e esconder do povo os 10 mil reais é mais do que falsidade, é tentativa de golpe. Cabe bem aqui a passagem de Mateus 7, que fala da hipocrisia dos que querem enxergar um cisco no olho do outro e não enxergam uma viga no seu próprio olho.

Outros fatos que vão favorecer o governo foram a criação do Portal da Transparência, a Lei da Transparência e a Lei de Acesso à Informação, que tornaram as contas do governo públicas. Você já experimentou acessar na internet o Portal da Transparência? Dê uma olhada! É muito interessante. Há ainda a Lei Anticorrupção, de Dilma, que entrou em vigor no início de 2014 e que prevê punição também para as empresas, não só para as pessoas físicas, envolvidas em corrupção, como superfaturamento de obras, por exemplo. Isso mostra boas intenções, porque quem quer roubar esconde as contas, não as abre.

Quem tem telhado de vidro não joga pedras no telhado do vizinho. O PT e os partidos aliados, por serem governo, com certeza têm telhado de vidro. Em 2010, as suspeitas de corrupção do PSDB (FHC, Serra e familiares, Aécio, Eduardo Azeredo, e outros) era conhecida mas não suficientemente publicada. Na época, notei que Dilma tinha muito cuidado e evitava acusações. Em 2014, existem centenas, talvez milhares de reportagens, e inclusive livros bem documentados, além de inquéritos e processos sobre essa corrupção. Quer dizer que dessa vez Dilma vai ter muita munição pra devolver, se for atacada. Acho que Marina não tem telhado de vidro, não sei se Eduardo Campos tem. Mas os dois estão tão emaranhados com o pessoal do PSDB que vão pensar duas vezes antes de acusar o governo de alguma coisa. Talvez o assunto corrupção fique mais por conta da Globo (contra o governo) e dos pequenos partidos independentes (contra os dois lados).

No tema corrupção vou dar um ponto para cada lado.

Situação: 21      -      Oposição: 17





20. O "MENSALÃO"

O "mensalão" vai trazer votos pra situação, pro PT, pra Dilma. Se você já entendeu a verdade em relação a esse processo, com certeza concorda comigo, nem seria necessário explicar mais nada. Se você ainda está na fase de acreditar no que a grande imprensa diz, vai achar que estou louco e vai querer parar a leitura por aqui. Mas não pare! Continue, porque talvez você passe a enxergar o "mensalão" de um modo diferente.

Em primeiro lugar, o "mensalão" nunca prejudicou o PT, eleitoralmente. Faça você mesmo uma pesquisa nas estatísticas do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Vai descobrir que desde as primeiras denúncias do mensalão, em 2005, o PT foi o partido que mais cresceu. Tem uma infinidade de vereadores e prefeitos por todo o país e 5 governadores. Nas últimas eleições legislativas foi o partido mais votado para deputado estadual no país, o mais votado para o senado e, pela terceira vez seguida, o mais votado para deputado federal. E elegeu a Presidente da República. A primeira fase do julgamento do mensalão, em 2012, foi programada para coincidir com a campanha eleitoral para as prefeituras. Há quem diga que a intenção era prejudicar Fernando Haddad, candidato do PT à prefeitura de São Paulo e ajudar Serra. Os réus do PT foram condenados, Haddad foi eleito e Serra quase passou pelo fiasco de nem ir para o segundo turno.

Não sei se existem pesquisas mais recentes sobre qual é o partido preferido dos brasileiros. As que encontrei são de 2013. A do IBOPE dá 24% para o PT como o partido preferido da população, em segundo vem o PMDB com 6% e em terceiro o PSDB com 5%. A pesquisa do DATAFOLHA dá 29% pro PT, 7,5% pro PMDB e 4,5% pro PSDB.

Então, as evidências nos forçam a concluir que, mesmo que a imprensa tenha martelado o assunto na cabeça do povo durante 8 ou 9 anos, o PT continuou crescendo e tendo cada vez mais votos.

Quando as primeiras denúncias do "mensalão" surgiram, em 2005, eu já estava afastado do PT há 10 anos. Nem dei muita importância ao assunto. Pensei: "Confio na justiça. Os acusados terão amplo direito a defesa e, se forem inocentes, serão absolvidos, mas se forem culpados serão, merecidamente, punidos." E voltei pra minha vidinha de cidadão alienado. Somente em 2013, resolvi estudar o assunto. Fiquei estarrecido com o que descobri. É lógico que, num caso desses, não se deve formar opinião apenas baseado no que os acusados dizem. Um réu culpado pode dizer que é inocente apenas para não ser condenado. Também não dá pra acreditar em quem tem interesses políticos ou comerciais envolvidos no processo, como Globo, Veja, Folha de São Paulo e outros. Baseei-me em artigos de juristas e professores famosos, com reconhecimento internacional, politicamente independentes como Dalmo Dallari e Celso Bandeira de Mello ou até declaradamente antipetista, como Ives Gandra Martins. E também nos documentos do processo que já vieram a público. A revista Retrato do Brasil de dezembro de 2013 traz a história completa do "mensalão". Leia estas fontes, e tire suas próprias conclusões. Eu resumi as minhas no caderno O MENTIRÃO NA TERRA DOS PAPAGAIOS.

Já falei porque acho que o mensalão não vai prejudicar o governo. Falta dizer porque acho que vai favorecer. Primeiro porque, tirando os jornalistas da grande imprensa, que são pagos pra falar mal do governo, as pessoas mais informadas, que estudaram o assunto, sabem que o "mensalão" não existiu, tanto é que ele é cada vez mais conhecido como "mentirão". Essas pessoas aos poucos estão mostrando a verdade para todos os brasileiros.

Segundo, porque os ditos corruptos do PT estão presos. E os corruptos dos outros partidos? A corrupção da oposição, principalmente do PSDB e DEM, é tão grande e tão bem documentada, que não dá mais pra esconder. O eleitor não é trouxa. Se até a eleição de outubro FHC, Serra, Azeredo, Aécio Neves, Arruda, Demóstenes Torres, Geraldo Alckmin e toda a turma dos tucanos de São Paulo envolvidos no "trensalão" (um esquema de corrupção que começou ainda no governo de Mário Covas) não forem julgados e os que forem culpados não estiverem na cadeia, o eleitor vai saber que a intenção do judiciário não é acabar com a corrupção, mas ajudar a derrubar o governo.

Terceiro, porque se o "mensalão" for verdade, compromete outros partidos, além do PT. Veja o caso de Itaiópolis. Na última eleição municipal, os partidos existentes no município organizaram-se em três coligações, uma encabeçada pelo PMDB, a outra pelo PP e a outra pelo PSC. Conforme o relatório final da CPMI dos Correios, que deu origem ao processo do "mensalão", o dinheiro do "valerioduto", que segundo a acusação era dinheiro público desviado do Banco do Brasil, foi distribuído entre vários partidos, entre eles o PMDB (dois milhões e cem mil) e PP (sete milhões e oitocentos mil). Os dois partidos fazem parte do governo Dilma, inclusive ocupam ministérios. Analise o caso do PP, Partido Progressista, que recebeu um valor maior: além de ter que carregar nas costas o mestre Maluf (esse sim, tem bacharelado, pós-graduação e mestrado em corrupção e, lógico, não está preso), o PP tem que conviver com o fato de que embolsou dinheiro e tem alguns dos seus filiados condenados. O PSC, que eu saiba, não tem nenhum envolvimento com o "mensalão", mas encabeça justamente a coligação da qual faz parte o PT, que seria o corruptor da história. O PSC chegou ao poder no município com votos do PT. Conclusão, amigo leitor: nenhum partido de Itaiópolis que participou de uma dessas coligações de 2012 pode querer ganhar votos às custas do "mensalão" em 2014, porque todos estão, direta ou indiretamente, com o "rabo preso". Isso deve acontecer também em outros municípios. A coisa mais inteligente a fazer, então, é sentar e estudar o "mensalão". Quem fizer isso vai descobrir que ninguém tem nada do que se envergonhar. Não houve nem a tal "mesada" aos deputados, nem desvio de dinheiro público. O que houve foi caixa 2 de campanha, coisa que todos os grandes partidos fazem, alguns provavelmente com dinheiro público, como o "mensalão" do PSDB e Lista de Furnas, outros com dinheiro privado, proveniente de empréstimos, como o caso do PT. Caixa 2 é crime menor, que só será resolvido quando adotarmos o financiamento público exclusivo das campanhas eleitorais.

O quarto fator que pode beneficiar o governo é a militância do PT. Desse assunto posso falar porque fui militante por vários anos. O petista normalmente faz campanha porque acredita que está ajudando a classe trabalhadora e o país a melhorar. Não faz (pelo menos antigamente não fazia) campanha por dinheiro. Não acompanhei a vida do partido nos últimos 9 ou 10 anos, mas acho que a militância se encolheu com vergonha do "mensalão". O PT continuou crescendo mais por força das melhorias introduzidas por Lula e Dilma no país do que pelo trabalho dos filiados. Ao descobrirem, no final do julgamento, que foram enganados durante anos, que o tal processo era só uma tentativa de golpe para recolocar a elite no poder, a militância deve ter ficado muito indignada. (Falo dos filiados, não necessariamente da direção do partido). Realmente, no dia da prisão dos primeiros condenados, pelo que eu vi na internet, houve muitas filiações no PT. Gente que nunca foi filiada a partido algum, filiou-se. Rui Barbosa disse que a sociedade sofre mais ao ver um inocente preso do que ao ver um culpado livre. A prisão injusta e ainda mais da forma espalhafatosa como foi feita, mexeu com os brios dos petistas. Veja o que aconteceu com a multa de 667 mil imposta pelo STF a José Genoíno. Como todos sabem (só não sabe quem não quer), Genoíno nunca roubou e por isso é pobre, não tem como pagar uma multa dessas. A honestidade dele foi reconhecida publicamente durante o julgamento até pelo ministro Barroso, juiz do STF, que, mesmo assim, o condenou. Pois em uma semana os militantes e simpatizantes juntaram o dinheiro da multa e sobraram quase cem mil reais. Calcula-se que em torno de 20 mil pessoas doaram, de 10 reais pra cima. O dinheiro era juntado em vaquinhas e depois depositado. Houve mais de dois mil depósitos. Há casos até de senhoras que se reuniram para fazer bordados que venderam para ajudar. Quem não acompanhou a história do Brasil nas últimas décadas, as lutas pela democracia e pelos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, não sabe que, para milhões, Genoíno é um dos poucos heróis vivos que esse país tem.

No caso de Delúbio Soares, condenado a pagar uma multa de quase 467 mil reais, foram arrecadados um pouco mais de um milhão de reais em 8 dias, ou seja, bem mais do que o dobro do necessário. Chamou a atenção que aproximadamente 140 dos doadores são advogados. Se tantos advogados, que entendem o processo melhor que nós, ajudaram a pagar a multa é porque o condenado é inocente mesmo. O que sobrou dos valores arrecadados, descontados os impostos, quitou a multa de outro condenado, João Paulo Cunha, e ainda sobrou para ajudar José Dirceu, que também arrecadou mais de um milhão de reais.

O povo ter assumido o pagamento das multas dos condenados, mesmo considerando que elas eram injustas, foi um ato político da maior importância, que a imprensa, como não poderia deixar de ser, tentou desqualificar. Porém, as doações não foram anônimas, todos os doadores precisaram dar RG e CPF. Sei disso porque pedi pro meu filho fazer doações por mim, e ele teve que se identificar, senão as doações não seriam aceitas.

Mais que tudo, o Mentirão mostrou como é sujo o jogo da imprensa e da oposição, e isso gerou indignação nos militantes do PT. O PT tem diretório organizado e filiados em praticamente todo o país. Se essa indignação se alastrar e se essa turma pegar junto, como fazia antigamente, ninguém tira essa eleição deles. Desconfio que a Globo e o STF, ao patrocinarem um julgamento tão cheio de irregularidades, deram uma pedrada em uma caixa de abelhas.

Situação: 23      -      Oposição: 17

21. O JUDICIÁRIO

O Poder Judiciário não deveria pesar no resultado eleitoral. Sua função é garantir as liberdades individuais, o respeito à Constituição e a outras leis e intermediar conflitos. No entanto, já há algum tempo o judiciário, principalmente o STF, perdeu o equilíbrio e a neutralidade e está agindo como partido político de oposição. Isso ficou muito claro na ferocidade do julgamento dos réus do "mensalão" ligados ao governo, enquanto denúncias contra políticos da oposição ficam mofando nas prateleiras durante anos. Na verdade, neste momento a verdadeira oposição ao governo é a Globo e o STF.

Pelo fato de o STF estar agindo como partido político contrário ao governo, acho que tenho que dar dois pontos para a oposição. Mas, pode acontecer um movimento inverso dos eleitores: se os corruptos da oposição não forem julgados e presos antes da eleição (com certeza não serão), fica claro para o povo que o STF não está interessado em combater a corrupção, que o julgamento do "mensalão" do PT foi político, tinha a intenção de prejudicar o governo. Se Joaquim Barbosa for candidato, a senador pelo Rio de Janeiro, por exemplo, pior ainda. E se for candidato a Presidente, a máscara cai de vez. Pelos comentários que vejo na internet, sei que muitos petistas estão torcendo para que Joaquim Barbosa seja candidato. Hoje, do alto do seu cargo de presidente do Supremo, ele age com autoritarismo e agressividade, não aceita críticas. Muitos querem vê-lo aqui no mundo dos mortais, sendo um candidato como todos os outros, pra lhe pedir explicações, por exemplo, sobre a compra do apartamento em Miami, nos Estados Unidos, ou sobre a reforma do banheiro do seu apartamento funcional, que custou 90 mil reais de dinheiro público. Pessoalmente, também gostaria de ver como sua excelência reagiria se, durante um comício, algum gaiato o chamasse de corrupto.

Para os brasileiros menos informados Joaquim Barbosa é um herói. Mas no meio jurídico, advogados, juízes, desembargadores, juristas e professores de direito e a própria OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, estão cada dia mais indignados com as ilegalidades cometidas pelo "herói" no julgamento e na prisão dos réus do "mentirão". Já houve sugestão de impeachment, isto é cassação de Barbosa, porque muitos acham que ele está comprometendo a credibilidade do judiciário. Há quem avalie que é exatamente isso que ele está tentando provocar: ser expulso do STF para entrar na política como o herói, a vítima que tentou acabar com a corrupção no Brasil mas foi impedido. Joaquim Barbosa pode ser o candidato que falta pra levar a eleição presidencial ao segundo turno.

Fora do meio jurídico, chamou-me a atenção a reação do teólogo Leonardo Boff. Referindo-se a Barbosa, citou o versículo 18 de Romanos 1: "Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra toda impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça." Boff acha a primeira parte do versículo muito forte, mas o fato de tê-lo citado mostra toda a sua indignação.

Se você quiser saber o que grandes juristas pensam a respeito do "mentirão", do judiciário e de Joaquim Barbosa, pesquise na internet, entre outros,  pelos nomes de Dalmo Dallari, Celso Bandeira de Mello e Ives Gandra Martins.

 Assim como a verdade sobre o "mentirão" aos poucos está chegando a todos os brasileiros, com esse tanto de especialistas em direito, jornalistas independentes e intelectuais esclarecendo o povo, a máscara de Barbosa e do STF pode cair até a eleição. Apesar de existir a possibilidade de os pontos mudarem de lado, por enquanto, ainda vou marcá-los para a oposição.

Situação: 23      -      Oposição: 19





22. A COVARDIA DE ALGUNS DIRIGENTES DO PT

Quando o Partido dos Trabalhadores foi fundado, em 1979, somente os mais corajosos nele se filiavam. Enfrentar o 1% dos mais ricos que explorava a maioria, combater a poderosa força da economia, encarar a imprensa que pertencia a essa elite e as armas dos militares que protegiam aquele regime tão injusto, não era coisa pra qualquer um. Por isso, não entendo como parte da direção do PT, antigamente tão valente, em anos mais recentes pôde ser tão covarde diante de duas situações: o oligopólio da imprensa e o chamado "mensalão".

Imprensa livre é a base da democracia. Todas as correntes de pensamento e todas as informações devem ter o mesmo espaço de divulgação. E nós temos o direito de escolher em quem acreditar.

Estados Unidos, Inglaterra, França, Austrália, Argentina, Venezuela e muitos outros países já regulamentaram os meios de comunicação, alguns há décadas. Nós estamos atrasadíssimos. Aqui duas ou três famílias ainda decidem o que o povo deve pensar. E mentem à vontade. Não confundir a regulamentação do negócio da Comunicação com censura. Censura havia no tempo da ditadura, quando só era permitido falar bem do governo, o que a Globo fazia com o maior prazer, porque montou o seu império durante aquele regime. A liberdade de opinião é sagrada. O que a lei regulamenta é a distribuição da propriedade dos meios de comunicação, para que poucos não sejam donos de tudo. Imagine você se em sua cidade houvesse somente um supermercado, ou mais de um, mas todos pertencendo ao mesmo dono. Esse dono teria todo o povo da cidade nas mãos, poderia explorar à vontade. A livre concorrência que existe no comércio deve ser estendida também à imprensa. Foi o que aconteceu na Argentina. Com o fim do monopólio do El Clarín, a Globo de lá, surgiu um grande número de novos jornais, rádios e emissoras de televisão, particulares e comunitárias. Hoje, com certeza, o povo argentino está mais bem informado.

Acho que desde o primeiro dia de governo o PT deveria ter convocado associações, sindicatos, universidades, cientistas, partidos políticos, a sociedade toda, enfim, para debaterem o assunto e criarem uma Lei de Meios de Comunicação que fosse boa pra todos nós. Exatamente como aconteceu na Argentina, onde a Presidente Cristina Kirchner não impôs nada, mas teve a coragem de puxar a frente nessa questão tão importante. Se o assunto era delicado demais para Lula ou para Dilma, por que os dirigentes do PT não tomaram a frente? Será que é para não perder o apoio de políticos aliados, cujas famílias são donas de concessões públicas de rádio e TV, a maioria da Globo, o que é proibido por lei? Numa rápida pesquisa na internet descobri que 80 parlamentares (27 senadores e 53 deputados) são sócios ou parentes de proprietários de empresas de comunicação concessionárias do serviço público, o que é expressamente proibido pela Constituição, que prevê, inclusive, a perda do mandato. Suspeita-se que muitos outros políticos sejam donos de rádios e TV "por baixo dos panos". Isso quer dizer que os encarregados de fazer leis não respeitam nem a lei maior, que é a Constituição. Agora, me diz uma coisa, você que está lendo este texto. Você acha que a política no Brasil algum dia vai melhorar enquanto os que não querem que ela mude continuarem manipulando o pensamento e a consciência do povo através da desinformação promovida por seus meios de comunicação?

O segundo ato de covardia de dirigentes do PT refere-se ao "mentirão". Nós termos sido enganados e termos acreditado que houve desvio de dinheiro público para fins políticos, é compreensível, afinal, foi isso que a imprensa nos disse durante anos. Mas os dirigentes do partido sabiam desde o início que o "mentirão" tratava-se simplesmente de empréstimos, feitos em instituições privadas, para pagar compromissos de campanha não declarados à Justiça Eleitoral, usando os mesmos mecanismos, os mesmos canais e, inclusive as mesmas pessoas usadas pelo PSDB. Esse crime, o de caixa 2, é cometido por todos os grandes partidos e é o resultado de uma legislação eleitoral defeituosa. Por que os dirigentes do PT não assumiram esse crime, aceitando a punição dos envolvidos, e por que não fizeram todo o barulho possível para exigir que os políticos de todos os partidos fossem condenados? A passividade do PT deixou a imprensa à vontade para pressionar o judiciário a agravar cada vez mais a situação dos acusados, condenando-os por crimes que as provas mostram que não aconteceram. E olha o tamanho das penas! O sujeito que matar a própria mãe não recebe sentenças tão severas pela lei brasileira.

A grande imprensa, de tanto falar mal de tudo, perde credibilidade a cada dia. O Mentirão aos poucos vai sendo desmascarado. Mas a falta de combatividade de dirigentes do PT, imagino eu, deve estar gerando insegurança entre os filiados, e isso soma pontos para a oposição.

Situação:  23      -      Oposição: 21





23. O PAPA

Mas o que é que o papa tem a ver com a eleição do Brasil? Talvez nada, talvez muita coisa.

Desde que me conheço por gente, 4 papas já passaram pelo Vaticano (um faleceu poucos dias após assumir). O papa argentino é o quinto, e é diferente de todos os outros. Parece que a escolha do nome Francisco não foi por acaso. São Francisco de Assis é o modelo da simplicidade, de pessoa que não dava valor aos bens materiais. O papa Francisco já mostrou que é desse tipo, recusou o luxo dos aposentos do Vaticano, come com os funcionários, vive com simplicidade. Já começou a fazer uma limpeza na corrupção do Vaticano. E parece que é o primeiro papa que está enfrentando de verdade o problema da pedofilia de alguns padres. Mas, o que mais chama a atenção são as suas manifestações em relação à economia do mundo e, consequentemente à política. Suas manifestações verbais e documentos escritos, como a Exortação Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho) combatem a adoração ao dinheiro e o modelo econômico voltado para o acúmulo de riquezas. Não podia ser mais direto. Primeiro o papa reafirma o compromisso da igreja com os pobres: "Não devem subsistir dúvidas nem explicações que debilitem esta mensagem claríssima. 'Hoje e sempre os pobres são os destinatários privilegiados do Evangelho...' Há que afirmar sem rodeios que existe um vínculo indissolúvel entre a nossa fé e os pobres. Não os deixemos jamais sozinhos!" Depois diz que hoje o mundo vive uma crise, que tem como uma das causas a adoração ao dinheiro, o novo deus, o bezerro de ouro. Finalmente, ataca o capitalismo sem cerimônia. "Devemos dizer não a uma economia da exclusão e da desigualdade social; esta economia mata..." "Não podemos mais confiar nas forças cegas e na economia de mercado." "Enquanto os lucros de poucos crescem exponencialmente, os da maioria situam-se cada vez mais longe do bem-estar daquela minoria feliz. Tal desequilíbrio provém de ideologias que defendem a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira. Por isso, negam o direito de controle dos Estados encarregados de velar pela tutela do bem comum". Palavras do papa Francisco.

  Lembra quando falamos em modelos econômicos, no item 7? O modelo que defende a autonomia absoluta dos mercados e a especulação financeira e que não aceita que os Estados, isto é , os governos, interfiram na economia, é o neoliberalismo.

O papa Francisco, com seu exemplo de simplicidade e com a sua pregação, está cobrando que a igreja católica e seus fiéis sejam assim também. Não é uma pregação política, é evangélica (apesar de que, como eu entendo, as duas coisas são uma só). Se houvesse, no Brasil, uma opção partidária que nos levasse a uma sociedade como a que São Francisco de Assis criou em torno de si, ou como as primeiras comunidades cristãs, conforme descritas no livro dos Atos dos Apóstolos, no Novo Testamento, o papa praticamente nos estaria pedindo para votar nela. Entretanto, não temos essa opção. Na prática, vamos ter que escolher entre o modelo capitalista do PT e o modelo capitalista neoliberal da oposição. E o papa condena, com todas as letras, pingos nos is, pontos e vírgulas o modelo neoliberal, porque é gerador de desigualdade, pobreza,  exploração, fome, doença, sofrimento e morte. E esse papa não é europeu, é sul-americano, tem uma história de comprometimento com os mais sofridos e, portanto, conhece muito bem o mal que um império central, conforme existe no mundo neoliberal globalizado, pode causar ao povo.

Não é que eu pense que os católicos brasileiros vão entender que devem votar no PT, mas acho que milhões deles vão entender que não devem votar no neoliberalismo da oposição, o que no final das contas, vai beneficiar o governo. Sem medo de errar, dois pontos para a situação.

Situação: 25      -      Oposição: 21



















CONCLUSÃO



Acabou o jogo. Talvez o Júlio tenha razão mesmo. Na minha contagem de pontos a situação ganhou por 25 a 21. Quanto deu na tua?

É claro que foi só um exercício, um treinamento pra gente analisar os assuntos de um jeito mais sistemático. Não dá pra saber quem vai ganhar um jogo que, na verdade, ainda nem começou. Muita coisa pode acontecer até outubro. No boxe, um lutador pode estar ganhando uma luta tranquilamente por pontos e, de repente, ser derrubado por um soco bem dado e não conseguir mais levantar. É o nocaute. Também acontece em eleições. Às vezes, parece que um candidato vai ganhar com folga e então acontece alguma coisa que vira o jogo na última hora e ele perde.

Como já falei, passei anos alienado, acompanhando a política só muito de longe. No ambiente em que eu vivia, quase só ouvia falar mal de Lula, de Dilma, do governo e do PT. Não conseguia entender como, depois de ter governado uma vez, o PT, junto com seus aliados, ganharam mais duas eleições presidenciais com facilidade e, se não houver um nocaute de última hora, se encaminham pra ganhar mais uma. Também não entendia como Lula, que foi crucificado pela imprensa todos os dias dos seus dois governos, terminou o segundo mandato com mais de 80% de aprovação, coisa nunca vista no Brasil e, provavelmente, nem no resto do mundo. Agora entendi. Na minha pontuação, a diferença entre situação e oposição nem foi tão grande, só 4 pontos. Mas, dos itens analisados, dois podem decidir sozinhos uma eleição presidencial: os programas sociais e a economia, e ambos sempre foram muito favoráveis ao governo.

Para vencer a eleição de outubro de 2014, a oposição precisa torcer por um desastre na economia. Mas torcer contra o Brasil pode não ser bom negócio, isso pode incomodar o eleitor. E sempre há o risco de, se a oposição conseguir convencer o povo de que há crise, seja isso verdade ou não, o eleitor preferir ficar com Dilma, que tem as melhores estatísticas para apresentar em relação à economia nos últimos 5 mandatos, dois de FHC, 2 de Lula e um dela. O eleitor pode achar melhor não trocar o certo pelo duvidoso, isto é, se vai ter crise, melhor deixar o governo na mão de quem melhor soube lidar com a economia nos últimos 20 anos.

Os votos provenientes dos programas sociais já são de Dilma, dificilmente alguém tira dela. Todos os dias, quando o filho de um trabalhador vai pra aula no curso técnico ou na universidade, lembra de Lula, porque antes não tinha a oportunidade de estudar. Toda vez que um estudante pobre recebe a bolsa de estudo do PROUNI, lembra do governo. Toda vez que um pai ou uma mãe coloca seu filho em um dos 25.000 ônibus escolares do Programa Caminho da Escola, distribuídos em 4.700 municípios, lembra de onde vieram esses ônibus. Toda vez que uma daquelas 40 milhões de pessoas que estavam sem assistência for atendida em um posto de saúde por um médico do Programa Mais Médicos, vai lembrar da coragem da Dilma em enfrentar uma oposição poderosa para levar assistência a quem não tinha. Todos os meses, quando milhões de hipertensos, diabéticos e outros pacientes retiram, sem custos, seu medicamento de uso contínuo na Farmácia Popular, lembram que são programas de Lula e Dilma.  Toda vez que um dos milhões de cidadãos atendidos pelo Programa Brasil Sorridente morder o bife com sua dentadura nova, vai lembrar que antes do PT não tinha nem dentes nem bife. Toda vez que um dos milhares de Agentes Comunitários de Saúde espalhados pelo país for ao banco buscar o seu salário, vai se lembrar do governo. Toda vez que qualquer trabalhador receber seu salário, vai saber que ele compra muito mais do que comprava antes de o PT ser governo. Toda vez que o trabalhador receber um terço a mais no salário das férias, vai lembrar que foi o PT e Lula, como deputado constituinte, que colocaram esse artigo na Constituição. E quando a gestante trabalhadora rural receber seu auxílio maternidade, vai lembrar que esse é um direito conquistado através de projeto da deputada federal Luci Choinacki, uma agricultora do PT, e que agora outro deputado do PT, Pedro Uczai, tenta aumentar de 4 para 6 meses. Toda noite, quando o comerciante fecha o caixa da sua loja, lembra que antes de Lula e Dilma o dinheiro que está em suas mãos não circulava na comunidade, mas ia para o exterior para pagar juros de uma dívida externa infindável. Toda vez que o cidadão ligar o seu carro, vai lembrar que ele foi adquirido com juros baixos, imposto diminuído e crédito facilitado. Toda vez que alguém entrar em sua casa nova, adquirida com financiamento da Caixa, vai lembrar do governo. Toda vez que o beneficiário do Bolsa Família receber o seu benefício, vai lembrar de Lula e Dilma. Toda vez que um cidadão em algum rincão perdido do interior apertar o interruptor e iluminar a sua casa, antes escura, vai lembrar do Programa Luz Para Todos do Lula. Toda vez que um pequeno empreendedor inicia seu próprio negócio apoiado pelo Programa Crescer (de microcrédito), lembra do governo. E a lista continua, mas, até aqui, já falei pelo menos de umas 150 milhões de pessoas beneficiadas direta ou indiretamente por alguma ação do governo. São coisas que eu não conhecia, mas que explicam a popularidade de Lula e Dilma e a facilidade com que o PT cresce e ganha eleições, mesmo com a feroz oposição da imprensa.

Todos nós temos a obrigação de participar ativamente das campanhas eleitorais. Você também. É um direito e um dever do cidadão. Então, informe-se bem, escolha um lado e um candidato e entre no debate político. Com educação e com respeito aos que pensam diferente de você.

A seguir, algumas sugestões, primeiro aos que querem reeleger Dilma, depois aos que querem derrubar o PT e eleger um candidato da oposição.





Sugestões para campanha a favor de Dilma



1.        Não aceite provocações e nunca apele para baixarias. Alguns confundem campanha eleitoral com guerra. Quem discorda de você é adversário, mas não é inimigo.

2.        Não enrole nem desconverse. Respeite a inteligência da pessoa cujo voto você quer conquistar. Se ela apontar falhas na administração do governo, como falta de segurança pública ou problemas na assistência hospitalar, por exemplo, concorde, porque é verdade. Analise por que o problema não foi resolvido, peça sugestões. Isso é melhor do que simplesmente responder que os que hoje criticam já foram governo e também não resolveram essas questões, por mais verdadeiro que isso seja.

3.        Prepare-se para ter argumentos. Tenha sempre à mão uma lista das realizações dos governos petistas.

4.         Respeitosamente, faça comparações entre os anos de governo do PT e do governo neoliberal do PSDB. Tenha uma lista comparando a economia, educação, saúde, inflação, emprego, salários, etc.

5.        Saiba quem é o adversário. Existem partidos de esquerda que pegam pesado nas críticas ao governo. Deixe-os em paz! Eles não têm nenhuma chance de ganhar a eleição, mas a  sua presença na política é importante, porque são questionadores e fazem pensar, apesar de que de vez em quando se perdem, como quando apoiam baderneiros mascarados. O verdadeiro adversário é a elite brasileira, aquele 1% dos mais ricos, que, quando estavam no poder, não governavam a favor do povo, mas a favor do império norte-americano. Identifique-os. São os neoliberais, e estão em vários partidos.

6.             Os adversários do governo vão falar em corrupção. Lembre que na sala de aula o primeiro aluno a reclamar da catinga geralmente foi o que soltou o pum. Então, os maiores corruptos são os que acusam os outros. Admita que nos governos do PT, municipais, estaduais e federal, existe corrupção, porque existe mesmo. Mas compare como o PT lida com esse problema e como os outros lidam. Mostre os mecanismos de combate à corrupção que Lula e Dilma criaram. E tenha à mão, para usar se necessário, uma lista dos principais escândalos de corrupção da oposição, com nomes, valores roubados e fontes de pesquisa, onde as pessoas possam confirmar o que você está dizendo.

7.             Finalmente, não perca a oportunidade, sempre que possível, de esclarecer a respeito do Mentirão, que a Globo chama de "Mensalão". A Globo fez uma lavagem cerebral no povo durante 8 anos e milhões de brasileiros ainda acreditam que houve desvio de dinheiro público para uso político. A única maneira de combater a mentira é ter coragem para propalar a verdade.





Sugestões para quem quer fazer campanha para a oposição

1.    Conhecer o adversário é fundamental para derrotá-lo. Então, prepare-se, estude o PT, o governo, o que ele fez e deixou de fazer, o que deu certo e o que deu errado.

2.    A seguir, estude os candidatos de oposição e veja quais propostas boas se encaixam nos defeitos do governo.

3.    Analise o passado do seu candidato pra ver se ele é confiável ou se apenas promete pra ganhar votos.

4.        Faça uma campanha positiva, afirmativa. Isso é mais velho do que andar pra frente. Lula tentou ser Presidente não sei quantas vezes, sempre raivoso, falando mal do governo. Na primeira vez que fez uma campanha dizendo as coisas boas que pretendia fazer, em vez de só ficar martelando o governo, foi eleito. Desde então, as campanhas do PT têm se concentrado em falar bem do seu governo, gastando o mínimo do seu tempo criticando os adversários. Faça o mesmo! Mostre que o seu candidato é melhor, mas sem esculhambar com o adversário, porque o eleitor pode se ofender e você perde o seu voto definitivamente.

5.        Nunca fale mal de Lula, mesmo que você ache que ele é o pior sujeito do mundo. É uma questão de lógica matemática. O objetivo de uma campanha é conquistar votos. Lula é o ídolo de 80% dos brasileiros e um demônio para os outros 20%. Mas, com 20% dos eleitores não dá pra ganhar a presidência. Então, o jeito é garimpar votos entre os 80%. Se você falar mal do ídolo, as portas se fecham e você não arruma mais nada.

6.        Não repita o erro da campanha de 2010, quando os simpatizantes de Serra, talvez até sem o seu conhecimento, fizeram uma campanha de ódio irracional contra Dilma na internet. Serra perdeu a eleição e nunca mais se recuperou. Dois anos depois não se elegeu nem prefeito de São Paulo, perdendo para um estreante em eleições. Até hoje Serra é o político com os maiores índices de rejeição nas pesquisas. Talvez algum dia ainda seja o Presidente do Brasil, mas vai ter muitas dificuldades para se eleger e depois para governar, tamanha a mágoa que ficou nas pessoas por causa daquela campanha de 2010. Intrigas e fofoquinhas revoltam e afastam as pessoas sérias. Uma campanha respeitosa, com propostas, conquista principalmente aqueles eleitores mais esclarecidos, que são formadores de opinião e vão trazer mais outros pro teu lado.

Examine bem sua mente, seu coração, sua alma, seu espírito e outros recantos do seu ser para saber por que você está na oposição. Se encontrar motivos lógicos e racionais, vá em frente, e boa campanha! Se você só encontrar ódio, melhor parar. Você não vai ajudar, só vai atrapalhar. Existem pessoas que são um doce em todos os sentidos. Até ouvirem a palavra PT, Lula ou Dilma. Aí, parece que são tomadas pelo capeta: transformam-se em pessoas raivosas, rabugentas, desagradáveis, intolerantes e irracionais. Nunca entendi esse fenômeno. Esse ódio é tão doentio como a adoração sem crítica. Eu, pelo menos, consigo ser a favor ou contra alguém ou alguma coisa sem entrar em parafuso, sem ter chilique. A pessoa que faz política com ódio só é levada a sério pelos que também odeiam. Os demais vão pro outro lado. Se você sofre dessa doença e não conseguir resolvê-la sozinho, procure um psicólogo, porque ela está fazendo mal pra ti e pra causa de quem é oposição.

7. Não apoie golpes, eles nunca são bons pra nós, os 99% da população, só são bons para aquele 1% dos mais ricos. O golpe é o jeito de quem não tem votos chegar ao poder. Geralmente, o golpe é dado por militares, mas também existe golpe da imprensa e do judiciário. A imprensa é golpista quando esquece que a sua função é informar com isenção, não é assumir um lado. O judiciário é golpista quando deixa de julgar processos políticos com imparcialidade.

O único jeito de derrotar o PT e seus aliados sem fraudes e sem golpe é sendo melhor do que eles. Para a maioria dos brasileiros, inclusive pra mim, os três últimos governos foram os melhores da história do Brasil. Isso porque comparamos com os governos anteriores, que foram muito ruins para a maioria do povo. Mas, se compararmos o Brasil de hoje com o que ele poderia ser, vemos que as coisas não estão tão bem assim. A saída tem que ser "para o alto e avante", como diz o super-homem, nunca para trás. Tenha isso em mente quando for votar ou fazer campanha. Sim, porque podemos dividir a história recente do país em três degraus.... Bom, mas isso é papo pra outro dia.                                             Um abraço

                                                           Itaiópolis, fevereiro de 2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário