1 de setembro de 2012

Como Jesus Cristo quer a vida em sua Igreja?



Uma tentativa e uma sugestão de a partir do Evangelho de Jesus Cristo, da confessionalidade luterana e da realidade brasileira na qual vivemos na IECLB construir coletivamente um Projeto de Igreja para o Sínodo Uruguai.

I - Nossa Teologia
1. O que Jesus Cristo quer?
Lc 4.43 Ele, porém, lhes disse: É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado.
At 1.3 A estes também, depois de ter padecido, se apresentou vivo, com muitas provas incontestáveis, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando das coisas concernentes ao reino de Deus.
Mt 1.21 Ela dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles.
Jesus Cristo foi enviado para anunciar o Evangelho do Reino de Deus. Anunciar o Evangelho do Reino de Deus é construir o Reino de Deus, uma nova sociedade igualitária, sem classes sociais, de irmãos e irmãs, sem Estado e onde os meios de produção estão sob o controle da coletividade. O Reino de Deus como processo de salvação individual e coletiva; não há salvação individual sem engajamento coletivo em favor da construção do Reino de Deus como resposta à salvação já dada por Deus de graça pela fé. Construir o Reino de Deus é não construir e reproduzir o reino do mundo, o capitalismo.
"Entre os luteranos existe a idéia de uma preservação da graça e de um crescimento em graça e fé. Vêem as boas obras da pessoa cristã como "frutos" e "sinais" da justificação, não como "méritos" próprios, não deixam, no entanto, de entender a vida eterna, conforme o Novo Testamento, como "galardão" imerecido no sentido do cumprimento da promessa divina aos crentes". (Doutrina da Justificação por Graça e Fé – Declaração conjunta).
Se a tarefa de Jesus Cristo é construir o Reino de Deus então esta é também a tarefa primeira de sua Igreja, pois o Reino de Deus já está no meio de nós e dentro de nós (Lc 17.21), pela fé, pelo batismo e pela prática da Ceia do Senhor.
Helmut Gollwitzer em 'Luta de Classes por causa do Reino de Deus?' diz:
"1) O Reino de Deus significa um acontecimento que parte de Deus, ele é uma ação de Deus e não um estado de coisas que pode ser desvinculado de Deus, uma espécie de “Schlaraffenland” em que desemboca a história da humanidade, uma sorte para aqueles que vivem até lá e um azar para os que morrem antes.
2) O Reino de Deus consiste em nosso comportamento, não em condições objetivas que Deus e (como se costuma enfatizar) apenas cria para nós através de uma transformação miraculosa o mundo. O Reino de Deus é idêntico à nossa atuação, ao nosso novo estilo de vida. Para o Reino de Deus vale (porque eles são basicamente idênticos) o que nós afirmamos teologicamente da fé, do amor e da liberdade: são realizações doadas e efetivadas pela graça de Deus, mas elas não deixam de ser nossas realizações. Graça é mexer-se e não ficar simplesmente acomodado. Podemos comparar este fenômeno com o processo de ser acordado: ser-acordado passivo é simultaneamente, se bem que em uma seqüência temporal irreversível, o acordar ativo. A ação de Deus consiste em minha ação; a atividade de Deus - inacessível a minha atividade, por isso passiva - consiste em minha atividade, ou seja, ela se concretiza em minha atividade. Onde quer que "creiamos e vivamos divinamente, ali ocorre o Reino de Deus”."
Somos comunidade de Jesus Cristo neste mundo e não deste mundo. Como pastores/as fomos ordenados/as sacerdotes/isas pelo batismo e pela Igreja para pregar o Evangelho para o mundo (Igreja e mundo) e por isso e para isso não pedimos licença para ninguém nem na Igreja como fora dela (1 Co 9.16: Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o evangelho!). Não pedimos licença para o presbitério para pregar o Evangelho na OASE e nem para pregar o Evangelho no MST ou numa assembléia do sindicato em greve ou numa reunião do partido político. Se não podemos ou não temos mais nada para dizer para o mundo então temos que fechar as portas.
2. Como Jesus Cristo pretende fazer isto?
Lc 4.17 Então, lhe deram o livro do profeta Isaías, e, abrindo o livro, achou o lugar onde estava escrito:
 18 O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, 19 e apregoar o ano aceitável do Senhor.
 20 Tendo fechado o livro, devolveu-o ao assistente e sentou-se; e todos na sinagoga tinham os olhos fitos nele. 21 Então, passou Jesus a dizer-lhes: Hoje, se cumpriu a Escritura que acabais de ouvir.
Jesus Cristo propõe o seu Programa do Reino de Deus em Lc 4 e o realiza em Lc 7:
Lc 7.18 Todas estas coisas foram referidas a João pelos seus discípulos. E João, chamando dois deles, 19 enviou-os ao Senhor para perguntar: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? 20 Quando os homens chegaram junto dele, disseram: João Batista enviou-nos para te perguntar: És tu aquele que estava para vir ou esperaremos outro? 21 Naquela mesma hora, curou Jesus muitos de moléstias, e de flagelos, e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos. 22 Então, Jesus lhes respondeu: Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho. 23 E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço.
Insurgência revolucionária contra o sistema vigente (o mundo = capitalismo) como proposta do Reino de Deus. Ah, não podemos usar este ou aquele termo porque a direita vai se assustar e não vai gostar. A única coisa que a direita quer é que o Evangelho vire Religião para legitimar o capitalismo. O Faraó também não queria ouvir falar da libertação dos camponeses hebreus sem terra escravos, no entanto, Javé enviou Moisés para lhe falar disto, pois Javé sabia que somente com mão forte o Faraó cederia (Êx 3.19: Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte.). Nossa missão não é falar o que o povo quer ouvir, mas falar o que o Evangelho manda falar.
Concílio Geral de 1982. Mensagem às Comunidades:
...Para que todos possam usufruir das dádivas do Criador, agindo responsavelmente diante delas, propomos o seguinte:
- realizar campanha de ampla informação e conscientização dos problemas agrários e urbanos:
- apoiar o agricultor na sua luta pela permanência no campo:
- assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra, bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas.
Conclusões do Concílio de 1982
Apoio engajado e consciente ao pequeno agricultor e à pequena indústria, dentro da perspectiva de um modelo simples de vida, decorrente do próprio Evangelho. Por isso apoiar:
a)        Movimentos Populares, associações de bairro, órgãos de classe, sindicatos dos trabalhadores rurais, cooperativismo sadio.
b)       Projeto de CAPA (Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor), LACHARES, grupos em defesa da ecologia e ambiente natural
c)        Movimentos no espírito de não violência
d)       As prioridades de ação da IECLB e confessionalidade luterana
O 13° Concílio Regional da RE III aprovou como proposta missionária na Terceira Região Eclesiástica:
1. Celebração Comunitária na ótica da Comunidade solidária;
2. Integração do Movimento Popular na concepção do trabalho missionário;
3. Formação bíblica na ótica da leitura popular.
Concílio de 1984. Mensagem às Comunidades:
... Como Igreja de Jesus Cristo no Brasil, comprometida com o Evangelho, devemos nos colocar ao lado de todas aquelas forças da sociedade que possibilitam vida para todos, entre outras, os sindicatos, as cooperativas, os movimentos de bairros, grupos de base.
Concílio de 1986. Mensagem às Comunidades:
Estamos convencidos de que os frutos de uma tal atitude, motivada pela fé no Senhor Jesus Cristo, contribuirão para a transformação de nossa sociedade e mostrar-se-ão concretamente num apoio mais comprometido aos sem terra e casa, aos índios, aos negros, às mulheres, aos operários e aos pequenos agricultores, mostrar-se-ão em sinais concretos de justiça e de promoção de vida plena entre nós e no mundo que nos cerca.
Lutero diz: “Toda a doutrina, ação e vida cristã resume-se breve e claramente nestas duas partes - crer e amar - pelas quais a pessoa é colocada entre Deus e o seu próximo, como meio que recebe de cima, e passa adiante abaixo, assemelhando-se a um vaso ou tubo através do qual deve fluir incessantemente o manancial dos bens divinos a outras pessoas”.
  “Fé e amor constituem todo o ser de um cristão. A fé recebe, o amor dá. A fé leva a pessoa a Deus, o amor o leva às pessoas. Através da fé, recebe os benefícios de Deus, através do amor, leva benefícios às pessoas”.
“Olha para tua vida. Se não te encontrares, como Cristo no Evangelho, em meio aos pobres e necessitados, então que saibas que a tua fé ainda não é verdadeira, e que certamente ainda não provaste a ti o favor e a obra de Cristo”.
Moção aprovada pela 8ª Assembléia Sinodal do Sínodo Uruguai
"Considerando que no Estado de Santa Catarina estão sendo planejadas a construção de 63 barragens dentre estas muitas serão construídas no rio Uruguai, rio Chapecó e afluentes, rio das Antas, etc. ameaçando centenas de agricultores de perder suas terras e ameaçando os agricultores remanescentes a ficarem isolados e sem água por causa das explosões no canteiro de obras que criam rachaduras nas rochas e alteram o caminho dos lençóis de água.
Considerando que as barragens necessitarão de redes de transmissão de energia que cortarão as terras dos agricultores que normalmente não recebem indenizações pelas terras ocupadas pelas redes de transmissão e que também estarão constantemente à mercê das equipes de manutenção que danificam suas plantações.
Considerando que os pequenos agricultores necessitam de créditos subsidiados, seguro agrícola, créditos para construir moradia e reformas da mesma e que por isso se organizam em sindicatos e movimentos sociais que defendem seus interesses, como por exemplo o MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores e MSTR – Movimento Sindical dos Trabalhadores Rurais.
Considerando que as mulheres agricultoras necessitam constantemente defender seus direitos e conquistar novos direitos para preservar sua dignidade como pessoas e como profissionais, como por exemplo a ANMTR – Articulação Nacional das Mulheres Trabalhadoras Rurais, que em SC se chama MMA e no RS se chama MMTR.
Considerando que no âmbito do Sínodo Uruguai há em várias comunidades conflitos entre agricultores e índios por causa da posse da terra deixando centenas de famílias da IECLB indefesas e inseguras quanto ao seu futuro.
Considerando que os jovens, filhos e filhas de pequenos agricultores, por causa da má distribuição de terra no país tem que migrar para a cidade por falta de oportunidade em conseguir um pedaço de terra via crédito fundiário ou via reforma agrária.
Considerando que as famílias de pequenos agricultores estão integrados nas agroindústrias do fumo, frango, leite e suíno e nem sempre tem um instrumento de defesa de seus direitos frente estas grandes agroindústrias.
Considerando que muitos membros da IECLB moram nas periferias das cidades e participam de Associações de Bairro para reivindicar rede de água, rede elétrica, calçamento das ruas e saneamento básico.
Considerando que a população de idosos está em crescimento e que a maioria não conhece seus direitos assegurados pelo Estatuto do Idoso.
Considerando que os pais, filhos e filhas não conhecem seus direitos e deveres assegurados no novo Código Civil.
Considerando que é necessário construir um novo Modelo Agrícola no Brasil por causa dos malefícios do atual que está baseado no produto químico, na manipulação genética e no veneno e que está trazendo muitas doenças e mortes entre os agricultores e consumidores.
Considerando que a IECLB em seus Concílios já definiu propostas de atuação concretas relacionados aos itens acima, como por exemplo o Concílio Geral de 1982 que diz:
“...Para que todos possam usufruir das dádivas do Criador, agindo responsavelmente diante delas, propomos o seguinte:
- realizar campanha de ampla informação  e conscientização dos problemas agrários e urbanos:
- apoiar o agricultor na sua luta pela permanência no campo:
- assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra, bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas.”
Considerando que o 13º Concílio Regional aprovou uma proposta missionária na Terceira Região Eclesiástica, da qual as paróquias do nosso Sínodo faziam parte, propondo três prioridades:
1. Celebração Comunitária na ótica da Comunidade solidária;
2. Integração do Movimento Popular na concepção do trabalho missionário;
3. Formação bíblica na ótica da leitura popular
Considerando que a Bíblia diz em Miquéias 6.8: “Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o SENHOR pede de ti: que pratiques a justiça, e ames a misericórdia, e andes humildemente com o teu Deus.” E em Tiago 1.27 diz:  “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.” Não esquecendo as palavras de Jesus em Lucas 4.18 que dizem: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor.”
A 8ª Assembléia Sinodal propõe a criação da Pastoral da Cidadania que será integrada por membros, obreiras e obreiros da IECLB e se ocupará do estudo da Bíblia e da Realidade do povo, da defesa dos direitos do povo, da busca de assessoria teológica, econômica e jurídica, do trabalho direto com as famílias envolvidas que tem seus direitos feridos ou ameaçados e da organização destas famílias. A atuação da Pastoral da Cidadania acontecerá a nível de comunidade, paróquia e sínodo, devendo estender convênios e contatos com outros sínodos da IECLB e movimentos populares. Para o êxito da Pastoral da Cidadania o Sínodo, as Comunidades e as Paróquias da IECLB deverão constituir esta Pastoral em seu âmbito e colocar gratuitamente suas dependências físicas (pavilhões, salas, igrejas) à disposição para reuniões e do trabalho da Pastoral da Cidadania e dos movimentos sociais com os quais a Pastoral da Cidadania trabalha.
Chapecó, 29 de novembro de 2003."
Por que a OASE está organizada em todas as paróquias e após de estar já há 10 anos aprovada a Pastoral da Cidadania ainda não está ativa nas paróquias? Será por que tem um caráter evangélico insurgente que pressupõe a cruz?
"(...) [nas igrejas protestantes] energias são despendidas para dentro das igrejas, a fim de fortalecer sua coesão estrutural e encontrar uma razão própria de ser. O vínculo da união é a celebração da fé comum, e não a experiência e a prática históricas. Para a pastoral protestante, dá-se como conseqüência ineludível que se deve colocar ênfase na motivação de fé para uma prática histórica de solidariedade com os marginalizados e de inserção nos organismos populares de libertação. (p.134) (…) podemos de um lado registrar o quanto de revolucionário já houve na eclesiologia de Lutero: nele encontramos a ênfase comunitária, a libertação da tutela institucional, a compreensão da estrutura eclesiástica como reformável e de serviço, a preferência pelo fraco, a marca da cruz, a primazia da palavra de Deus. (p.133)" (ALTMANN, Walter. Lutero e Libertação. 1994.)
3. Discipulado como trabalho coletivo na construção do Reino de Deus.
Lc 8.1 Aconteceu, depois disto, que andava Jesus de cidade em cidade e de aldeia em aldeia, pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus, e os doze iam com ele, 2 e também algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual saíram sete demônios; 3 e Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes, Suzana e muitas outras, as quais lhe prestavam assistência com os seus bens.
Lc 10.1 Depois disto, o Senhor designou outros setenta; e os enviou de dois em dois, para que o precedessem em cada cidade e lugar aonde ele estava para ir. 2 E lhes fez a seguinte advertência: A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara. 3 Ide! Eis que eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. 4 Não leveis bolsa, nem alforje, nem sandálias; e a ninguém saudeis pelo caminho. 5 Ao entrardes numa casa, dizei antes de tudo: Paz seja nesta casa!
Lc 10.8 Quando entrardes numa cidade e ali vos receberem, comei do que vos for oferecido. 9 Curai os enfermos que nela houver e anunciai-lhes: A vós outros está próximo o reino de Deus. 10 Quando, porém, entrardes numa cidade e não vos receberem, saí pelas ruas e clamai: 11 Até o pó da vossa cidade, que se nos pegou aos pés, sacudimos contra vós outros. Não obstante, sabei que está próximo o reino de Deus.
É tarefa dos/as discípulos/as de anunciar o Evangelho do Reino de Deus continuamente para os que o aceitam e para os que não o aceitam. O Evangelho sempre cria duas reações: de aceitação ou de rejeição. Nós não nos pautamos pelos que rejeitam o Evangelho porque não gostaram de ouvir isto ou aquilo que mostra seus pecados individuais ou coletivos, pois estes querem nos dizer o que podemos ou não falar para garantir e não ferir os seus interesses político-econômico-sociais.
Os três círculos de discípulos: os doze, o grupo de mulheres e os setenta enviados na simplicidade a partir da fé para propagar o Evangelho do Reino de Deus num ambiente hostil, hoje o capitalismo predador da vida e de tudo que há na natureza. O Reino de Deus é uma construção coletiva por Deus e por nós, como seus convidados especiais, a partir do batismo. Portanto, a salvação é a participação coletiva no processo de construção do Reino de Deus e não apenas um acontecimento individual sem consequências coletivas e comunitárias que se insurgem contra o mundo, o capitalismo. 2 Co 5.17: "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas". A salvação acaba com o individualismo e nos insere no processo de vida comunitária eclesial, do movimento popular, sindical e político partidário. O fim do discipulado não é a Igreja, mas o Reino de Deus. A Igreja deve estar subordinada ao Reino de Deus, que é essencialmente insurgente e não acomodador ao sistema deste mundo, o capitalismo. A Igreja deve ser Evangelho, insurgente, e não Religião, legitimadora do status quo.
3.1. Discipulado e Diaconia:
Martim Lutero: “O cristão deve, de boas vontades, fazer-se servo para ajudar a seu semelhante e deve tratá-lo da mesma forma como Deus tratou a ele próprio em Cristo. Tudo isso deve ser feito desinteressadamente e nada há que se buscar a não ser o agrado de Deus. Pois Deus deu desinteressadamente a mim, pessoa indigna, sem qualquer mérito, plena riqueza de justiça e salvação, de modo que já não tenho necessidade de mais nada a não ser que isso é assim. Pois bem, por meu turno irei, livre e desinteressadamente, fazer a esse Pai que derramou sobre mim a superabundância de seus bens, aquilo que é de seu agrado. Quero tornar-me para o próximo um ‘Cristo’ tal qual se tornou para mim e fazer apenas o que considero necessário, útil e salvífico para ele”. “Vede, estes são verdadeiras pessoas à semelhança de Deus, os que de Deus recebem tudo aquilo que Deus tem a oferecer em Cristo, e, por sua vez, se comprovam em boas obras, como se fossem Deus para os outros”. “Cristo é um ser vivo, atuante e produtivo, que não descansa e que age sem cessar onde quer que se encontre. Onde não há obras de Cristo, aí também Cristo não está”. “Em qualquer parte do mundo encontramos o Cristo oculto; na própria casa, à frente da porta, em todas as ruas. Deus quer que lhe sirvamos nos pobres; esse é o culto verdadeiro, bem melhor e mais importante do que construir igrejas e celebrar liturgias”.
Aristides, cidadão romano (não cristão) de 125 d.C. escreve sobre os cristãos:
“Eles andam em humildade e bondade: não existe fal-sidade entre eles; amam uns aos outros, se ouvem que alguém dentre eles é preso ou oprimido por causa do nome do seu Messias, todos providenciam para suas necessidades, e quan-do possível de ser liberto eles o libertam e se há alguém entre eles pobre e necessitado, jejuam dois ou três dias para supri-rem-no com alimento de que precisa”. “Eles não desviam a sua atenção das viúvas, e os ór-fãos eles libertam de quem os violenta”.
Justino 67.6:
Os que possuem bens e quiserem, cada qual segundo sua livre determinação, dão o que lhes parecer, sendo colocado à disposição do que preside o que foi recolhido. Ele por sua vez socorre órfãos e viúvas, os que por enfermidades ou outro qualquer motivo se encontram abandonados, os que se encontram em prisões, os forasteiros de passagem; em uma palavra, ele se torna provedor de quantos padecem necessidade.
Sobre cristãos condenados ao trabalho nas minas Hipólito escreve: “O bispo de Roma Vitor possui uma lista de todos os cristãos condenados às minas na Sardenha e conseguiu de fato através das intercessões da concubina real Marcia libertá-los por Commodus”.
O imperador Juliano escreve para Arsacius; “Os incrédulos galileus, alimentam além dos seus pobres ainda os nossos: os nossos necessitam de nossa ajuda”. “A incredulidade (dos cristãos) foi mais promovida pela filantropia em relação aos estranhos e pela preocupação pelo enterro dos mortos”.
O cristianismo, mesmo como religião ilícita, cresceu pela propaganda dos beneficiados e não pelo trabalho dos bispos ou presbíteros; a propaganda de boca em boca pelos beneficiados é que propagou a fé cristã.
4. Como o mundo reage diante de Jesus Cristo, o Deus encarnado num camponês sem terra?
Mt 2.13 Tendo eles partido, eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar. 14 Dispondo-se ele, tomou de noite o menino e sua mãe e partiu para o Egito; 15 e lá ficou até à morte de Herodes, para que se cumprisse o que fora dito pelo Senhor, por intermédio do profeta: Do Egito chamei o meu Filho.
Lc 2.4 José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, 5 a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6 Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, 7 e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Mc 14.1 Dali a dois dias, era a Páscoa e a Festa dos Pães Asmos; e os principais sacerdotes e os escribas procuravam como o prenderiam, à traição, e o matariam. 2 Pois diziam: Não durante a festa, para que não haja tumulto entre o povo.
Este mundo não tem lugar para o Deus encarnado no camponês sem terra e sem teto Jesus de Nazaré. Javé optou em se tornar pessoa em Jesus Cristo que era da classe camponesa seguindo a sua prática do AT, conforme Dt 6.21-23, em que na luta de classes entre o Estado e a classe camponesa escrava no Egito Javé optou pela classe camponesa e a guiou pelo deserto para as montanhas da Palestina para ali tomar o poder político e depois mudar o sistema econômico (Js 6-8): de tributário para tribal: uma sociedade sem classes sociais, sem Estado, sem templo e onde todos têm acesso aos meios de produção, a terra; agora ele se trona classe camponesa em Jesus de Nazaré.
Helmut Gollwitzer em 'Luta de Classes por causa do Reino de Deus?' diz: "A luta por reformas no sistema existente pertence naturalmente à luta de classes. Esta luta se torna ‘Reformismo’ apenas quando o objetivo fundamental, ou seja, a sociedade sem classes, é suprimida pela meta objetivada a curto prazo. Para Marx a sociedade sem classes era a tarefa histórica da classe proletária. Contrariando lugares comuns muito difundidos, é preciso dizer o seguinte:
a) Uma sociedade sem classes não é o paraíso e não pressupõe pessoas sem pecado; ela é uma ordem terrena para homens pecadores que preenche melhor do que a sociedade capitalista, aquilo que Barmen V (no primeiro esboço de Barth) considera como tarefa de uma ordem social: “preocupar-se com a justiça, paz e a liberdade de um mundo ainda não redimido”.
b) Em seu tempo Marx considerava tal sociedade como possível e necessária. Esta convicção se revela hoje, cem anos depois, não uma fantasia, mas uma necessidade ainda mais premente do que naquela época: Se não conseguirmos substituir agora o sistema capitalista por um sistema mais humano, então será tarde demais; é superstição crer que o mesmo mal que destruiu o planeta, possa também salvá-lo."
5. Como o mundo reage diante da prática do Reino de Deus?
Jo 11.47 Então, os principais sacerdotes e os fariseus convocaram o Sinédrio; e disseram: Que estamos fazendo, uma vez que este homem opera muitos sinais? 48 Se o deixarmos assim, todos crerão nele; depois, virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação. 49 Caifás, porém, um dentre eles, sumo sacerdote naquele ano, advertiu-os, dizendo: Vós nada sabeis, 50 nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo e que não venha a perecer toda a nação.
Lc 23.1 Levantando-se toda a assembléia, levaram Jesus a Pilatos. 2 E ali passaram a acusá-lo, dizendo: Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele o Cristo, o Rei. 3 Então, lhe perguntou Pilatos: És tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: Tu o dizes. 4 Disse Pilatos aos principais sacerdotes e às multidões: Não vejo neste homem crime algum. 5 Insistiam, porém, cada vez mais, dizendo: Ele alvoroça o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui.
At 24.5 Porque, tendo nós verificado que este homem é uma peste e promove sedições entre os judeus esparsos por todo o mundo, sendo também o principal agitador da seita dos nazarenos,
Helmut Gollwitzer lembra em seu texto: Luta de Classes por causa do Reino de Deus?:
"Quando falamos desta adaptação da Igreja à sociedade vigente, devemos considerar dois aspectos:
a) Devemos evitar uma consideração moralizante que censura a “Igreja” como se: fosse uma pessoa. A Igreja jamais foi uma hipóstase autônoma, mas é constituída de homens e mulheres com relações históricas. Somos nós que formamos a Igreja e que fazemos Igreja, ou seja: fazemos sempre da Igreja aquilo que satisfaz às nossas necessidades. Com o início da era constantiniana, chegaram ao poder eclesiástico as camadas aristocráticas e elas fizeram da Igreja o que satisfazia em termos de necessidades religiosas como políticas. E isto permaneceu assim até hoje. Não foi a Igreja que se ajustou, mas as pessoas ajustaram a Igreja às suas necessidades.
b) Existe na Igreja um momento de resistência a esta tendência de adaptação e ajustamento. Sem este momento a história eclesiástica não seria nada mais do que uma ratificação peculiarmente clara do materialismo histórico. Este, um momento, é o Evangelho. A História Eclesiástica não apenas revela a entrega do Evangelho à depreciação ideológica por parte de nós e de nossos interesses sociais, mas também revela felizmente a sua singularidade em resistir e atacar, pelo menos tentativamente, aquilo que existe. Os valdenses, Wiclif, Huss, a Reforma, os anabatistas, Herrenhut, etc. construíram tais manifestações do Evangelho através do cativeiro babilônico da Igreja nas suas conexões classistas, e não sobrestimamos os grupos cristãos da esquerda de hoje, quando os colocamos ao lado dos acima mencionados."
Martim Lutero diz: “Presta atenção, homem miserável: se queres servir a Deus, tu o tens em tua casa, em tua criadagem, em teus filhos... não demitas logo de tua casa os empregados e as empregadas quando estiverem doentes; com eles pões Cristo na rua. Não escutas Cristo dizer que aquilo que fizeste a um dos pequeninos, ele quer aceitá-lo como feito a ele próprio?”
Ata do martírio de Cipriano de Cartago em 258:
Galério Máximo, depois de deliberar com seu conselho, a duras penas e de má vontade, pronunciou a sentença com estes considerandos: - “Durante muito tempo você viveu sacrilegamente e você se uniu em conspiração criminosa com muitas pessoas, constituindo-te inimigo dos deuses romanos e dos seus sagrados ritos, sem que os piedosos e sacratíssimos príncipes Valeriano e Galieno, Augusto e Valeriano, nobilíssimo César, pudessem-lhe fazer voltar para a sua religião. Então, convicto de ter sido cabeça e líder de homens réus dos mais abomináveis crimes, você servirá como escárnio a quem você uniu pela sua maldade e com seu sangue será sancionada a lei.” E dito isto, leu em voz alta a sentença da folha: - “Mandamos que Tascio Cipriano seja passado ao fio da espada”.
6. O que é necessário para participar do Reino de Deus?
Mc 1.14 Depois de João ter sido preso, foi Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho de Deus, 15 dizendo: O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho.
Arrependimento e fé no evangelho de Jesus Cristo. Arrependimento pressupõe mudança (revolução) e fé no evangelho de Jesus Cristo é insurgência contra o evangelho do mundo. A Ditadura do Pensamento Único para reproduzir e legitimar a Ditadura do Capital diz não haver outra possibilidade de se organizar a vida e toda a sociedade além do capitalismo, portanto, não há futuro, o futuro é o nosso presente eternamente, diz o evangelho do mundo. Diante desta mentira a pessoa batizada diz: Isto é mentira, pois existe outra proposta de organizar a vida e toda a sociedade que Jesus Cristo chama de Reino de Deus que é uma sociedade de irmãos e de irmãs, sem classes sociais, igualitária, sem Estado, onde os meios de produção pertencem à toda sociedade.
Manifesto Chapada dos Guimarães:
"Conforme o testemunho bíblico e o Reformador Martim Lutero, a fé jamais ficará ociosa. Por conseguinte, os cristãos de confissão luterana são chamados a:
Renegar a ideologia que dá suporte à acumulação e concentração de riqueza em benefício de minorias e em detrimento do atendimento das necessidades básicas do ser humano e da manutenção da boa criação de Deus.
Renegar a adoração do capital e da religião do consumo como definidora do sentido da vida.
Renegar modelos econômicos que desconsideram a necessidade e urgência de um desenvolvimento auto-sustentável que preserva a vida no planeta.
Renegar todas as formas de individualismo voltado tão-somente para a auto-satisfação, des-considerando a importância das relações coletivas e comunitárias, bem como o serviço mútuo e a solidariedade.
Renegar toda e qualquer forma de competição proselitista entre as igrejas, mas afirmar a ne-cessidade e as possibilidades da cooperação ecumênica.
Renegar todo tipo de intolerância e desrespeito para com pessoas de orientação religiosa distinta e diferente da cristã, mas valorizar todos os empreendimentos em favor da paz e da vida."
7. O que a luta pelo Reino de Deus propõe?
1 Co 15.24 E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. 25 Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. 26 O último inimigo a ser destruído é a morte.
Ap 18.4 Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos;
A fé em Jesus Cristo pressupõe a luta contra o poder deste mundo, o capitalismo e seu Estado.
Helmut Gollwitzer lembra em seu texto: Luta de Classes por causa do Reino de Deus?: "O Reino de Deus não nos liberta “aqui temporariamente” da luta de classes, mas nos confere nela lugar, objetivo e métodos. De uma forma mais geral podemos dizer: O Reino de Deus não nos liberta das lutas terrenas, mas ele nos indica no meio delas as nossas tarefas como cristãos. Pois, se bem que mandados como cordeiros para o meio de lobos, os discípulos de Jesus, como seres sociais, estão inseridos, de uma forma ou outra, nas lutas terrenas. Seria ilusório pensar que eles se podem colocar acima delas, que possam permanecer imparciais e que não participam da vitória ou da derrota de um ou outro grupo."
Martim Lutero na Introdução 'Da Autoridade Secular':
"Escrevi antes um livrinho à nobreza alemã e mostrei qual é seu ministério e função cristã. No entanto, é suficientemente conhecida o quanto se importaram com o que escrevi. Por isso tenho que concentrar meus esforços em outro sentido e escrever agora o que eles devem deixar. Espero que eles o acatem assim como o fizeram com aquele escrito, para que continuem sendo príncipes e jamais se tornem cristãos. Pois Deus, o onipotente, enlouqueceu os nossos príncipes, de sorte que pensem poderem fazer e ordenar a seus súditos tudo o que quiserem; e também os súditos se enganam, quando crêem estarem obrigados a cumprir tudo isso plenamente. Os príncipes principiaram agora a ordenar às pessoas que entreguem livros, creiam e cumpram o que eles ordenam. Com isso atrevem-se inclusive a sentar no trono de Deus e a  dominar sobre as consciências e a fé e, em seu cérebro louco, a tratar o Espírito Santo como um aluno. Mesmo assim exigem que não se lhes diga isso e que ainda se os denomine de magnânimos senhores.
Escrevem e promulgam instruções impressas, dizendo que o Imperador o ordenou e que pretendem ser príncipes cristãos e obedientes, como se levassem a coisa a sério e como se não pudéssemos notar a maganice atrás de suas orelhas. Se, porém, o Imperador lhes tirasse um castelo ou uma cidade, ou lhes ordenasse alguma outra injustiça, encontrariam belos motivos para resistir ao Imperador e não lhe obedecer. Quando, todavia, se trata de explorar a pessoa pobre e de desafogar sua petulância na Palavra de Deus, chama-se isso de obediência ao mandamento imperial. Antigamente estas pessoas eram chamadas de patifes; agora tem que se chamá-los de príncipes cristãos obedientes, mas não admitem alguém para interrogatório ou chamá-los à responsabilidade, por mais que se insista. Isso lhes seria totalmente insuportável caso o Imperador ou alguém outro agisse com eles dessa maneira! Esses são, em nossos dias, os príncipes que representam o Imperador, em terras alemãs, na qualidade de soberano. É por isso que as coisas vão em todos os territórios como podemos ver.
Como, pois, a sanha desses palhaços contribui para o extermínio da fé cristã, para a negação da Palavra de Deus e a blasfêmia da majestade divina, não posso mais silenciar diante de meus não-magnânimos senhores e encolerizados morgados. Tenho que resistir-lhes pelo menos com palavras. Não temi seus ídolos, o Papa, que me ameaçava tomar a alma e o céu. Por isso também tenho que demonstrar que não temo suas escamas e suas bolhas d’água que me ameaçam tirar o corpo e a terra. Queira Deus que permaneçam zangados para sempre e que nos ajude para que não morramos por causa de suas ameaças. Amém."
8. Quais os critérios para a salvação?
Lc 8.48 Então, lhe disse: Filha, a tua fé te salvou; vai-te em paz.
Ef 2.8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus;
Mt 25.34 então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo. 35 Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes; 36 estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me. 37 Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? 38 E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? 39 E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? 40 O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.
Crer em Jesus Cristo é acolher as vítimas do sistema deste mundo. Acolher as vítimas é confrontar o sistema para mudá-lo. Só Jesus Cristo salva, o capitalismo não salva.
Martim Lutero diz: “Deus não tem necessidade de nosso serviço, mas coloca a nosso lado os próximos para que a estes sirvamos em seu lugar”. “Amaldiçoada e condenada é toda a vida que vive e se preocupa em proveito próprio e em seu favor”.
9. Coerência da fé na ressurreição do corpo e na vida eterna.
1 Co 15.3 Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, 4 e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.
1 Co 15.19 Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens. 20 Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem. 21 Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos.
Lc 24.9 Vede as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; apalpai-me e verificai, porque um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho. 40 Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés.
1 Jo 5.1 Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que o gerou também ama ao que dele é nascido. 2 Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos. 3 Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos, 4 porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. 5 Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?
Tg 2.14 Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? 15 Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, 16 e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? 17 Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta.
1 Co 3.16 Não sabeis que sois santuário de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? 17 Se alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é sagrado.
Martim Lutero diz: Consequentemente “é impossível separar da fé as obras; é tão impossível como separar do fogo a chama e a luz”. “Nós, no entanto, erramos em ambos os sentidos: pregando exclusivamente a fé, queremos omitir os frutos ou as obras - pregando das obras, corremos o risco de nos fiarmos nelas”. “Queira Deus que depois das folhas surjam frutos. Temo, porém, que fique só nas folhas, pois falamos muito na verdadeira fé, mas ação não há”. “Dediquemo-nos primeiramente ao fazer, e depois, ao falar. Uma pessoa crente, antes de mais nada, vai e realiza algo”.
“Minha opinião é que se deve deixar os rapazes irem diariamente, durante uma ou duas horas, à escola, fazendo-os trabalhar o resto do dia em casa ou aprender um ofício ou profissão que os pais queiram, de modo que as duas coisas se combinem”.
Na luta contra o mundo se unem a fé e a prática desta fé. O objetivo da fé em Jesus Cristo é lutar contra o mundo, pois queremos construir o Reino de Deus e não o reino do mundo, o capitalismo. A fé na ressurreição do corpo no impele para a luta contra a exploração do corpo das pessoas porque o corpo é o santuário do Espírito Santo (1 Co 6.19). Explorar e oprimir uma pessoa é explorar e oprimir a Deus. No capitalismo "o santuário de Deus" é mercadoria, é coisa, é objeto à venda no mercado de trabalho para gerar na produção de mercadorias o mais-valor pela parte do trabalho feito e não pago. A origem do capital está no roubo.
Usaremos o exemplo do mecânico para demonstrar como acontece a exploração e o que é o trabalho excedente: numa oficina, de uma agência de carros, em maio de 2008 uma hora de serviço custava R$ 50,00 e o mecânico trabalha 220 horas ao mês, produzindo, portanto, um valor de R$ 11.000,00. O seu salário são 4 Salários Mínimos (R$ 415,00 o SM da época) que perfazem R$ 1.660,00; levando em conta os encargos sociais que dizem perfazer tanto quanto o salário, teremos então o custo do mecânico em R$ 3.320,00 ao mês. Ele produz R$ 11.000,00 e “custa” para a agência de carros R$ 3.320,00, sobra como lucro de seu trabalho o total de R$ 7.680,00; valor com o qual ele não fica. Na verdade não é o patrão que paga o salário ao peão, mas ele com o seu trabalha paga o seu salário e os encargos sociais. Para o mecânico produzir o valor de seu salário com os encargos sociais ele precisou trabalhar 8,3 dias, trabalhando os restantes 19,2 dias do mês de graça (este é o trabalho excedente que produz o lucro, o mais-valor).
Como se dá a produção do mais-valor na agricultura?
Uma vez pelos baixos preços oferecidos pelos produtos agrícolas, outra pelo pagamento de juros ao sistema financeiro para garantir o plantio (combustível, sementes, adubos, venenos) e a colheita da safra e a compra das máquinas, e, finalmente, para quem está subordinado às agroindústrias da carne, do fumo ou do leite precisa comprar tecnologia cara, que se materializa em maquinários para os aviários ou para a ordenha e resfriamento do leite. Quanto mais tecnologia mais mercadorias são produzidas e por outro lado mais baixam os preços dos produtos produzidos. A propaganda que lhes é passada é que os agricultores têm que compensar a queda dos preços de seus produtos pelo aumento da quantidade e da qualidade das mercadorias produzidas. Isto requer mais investimentos (endividamento bancário para comprar novas máquinas com novas tecnologias e as velhas máquinas são jogadas fora) e mais horas trabalhadas. No pátio dos agricultores encontramos um monte de ferro velho, maquinário com tecnologia ultrapassada, jogado ao tempo e ao vento. Tudo isto tem seu papel na geração do mais-valor para os capitalistas. "O capitalista apropria-se do trabalho excedente, isto é, da mais-valia gerada pelo processo produtivo, seja pelo lucro industrial, seja pelo lucro comercial ou pelo juro financeiro especulativo", diz Breno José Loebens em seu livro 'Economia Agrícola Familiar e a Centralização do Capital'.
José Renato Soethe escreve na apresentação do livro 'Economia Agrícola Familiar e a Centralização do Capital' de Breno José Loebens: "a globalização da economia ocorre através de um fenômeno que se pode denominar antropofagia cultural. Antropofagia cultural refere-se a tudo aquilo que uma pessoa, ou um povo, ou grupos econômicos toma do outro e "apossa para si", em condições desumanas e desiguais; ou mediante coação e, de uma forma que ocorra a despoja de algo material, espiritual ou até da própria vida. Este despojamento pode referir-se tanto à moral, à dignidade, à vida, às ideias, valores e crenças, como também pode referir-se aos aspectos materiais, do trabalho e da cultura, como por exemplo, aos objetos, às técnicas e tecnologias, às ciências e conhecimentos, à biodiversidade e assim por diante."
Martim Lutero: "Reis e príncipes deveriam ocupar-se com o assunto (roubo) e reprimi-lo com leis severas. Mas, ouço que eles estão em conluio com os ladrões. ‘Enquanto executam os ladrões que furtaram um ou menos de meio florim, negociam com os que roubam todo o mundo. Eles furtam mais do que todos os demais ladrões. Comprova-se assim que ‘os grandes ladrões executam os pequenos’. E, como disse o senador romano Catão: ‘Ladrões simples estão presos nas prisões subterrâneas e cadeias, mas ladrões públicos andam em ouro e seda’."
10. Deus começa a construção de seu Reino a partir de quem?
Lc 2.1 Naqueles dias, foi publicado um decreto de César Augusto, convocando toda a população do império para recensear-se. 2 Este, o primeiro recenseamento, foi feito quando Quirino era governador da Síria. 3 Todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. 4 José também subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, à cidade de Davi, chamada Belém, por ser ele da casa e família de Davi, 5 a fim de alistar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. 6 Estando eles ali, aconteceu completarem-se-lhe os dias, 7 e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Lucas analisa a conjuntura e a estrutura do Império Romano (também em Lc 3.1-2) na qual Javé se faz pessoa no trabalhador camponês marginalizado sem terra e sem teto Jesus de Nazaré. Javé faz uma opção de classe. A construção do Reino de Deus se dará a partir da classe camponesa. Javé começa a construir o seu Reino a partir de Jesus Cristo num contexto muito concreto e real, a partir da margem do Império e do Templo de Jerusalém. É o mundo real e concreto que o Reino de Deus enfrenta para desmontá-lo. É a concretude da espiritualidade do Evangelho do Reino de Deus. Hoje o mundo real e concreto é o capitalismo que o Evangelho do Reino de Deus quer eliminar.
1 Co 1.26 Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; 27 pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; 28 e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; 29 a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus.
2 Co 12.9 Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. 10 Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte.
1 Co 4.9 Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. 10 Nós somos loucos por causa de Cristo, e vós, sábios em Cristo; nós, fracos, e vós, fortes; vós, nobres, e nós, desprezíveis. 11 Até à presente hora, sofremos fome, e sede, e nudez; e somos esbofeteados, e não temos morada certa, 12 e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos. Quando somos injuriados, bendizemos; quando perseguidos, suportamos; 13 quando caluniados, procuramos conciliação; até agora, temos chegado a ser considerados lixo do mundo, escória de todos.
Mt 11.25 Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos.
1 Co 1.18 Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus.
É loucura começar a construção do Reino de Deus a partir do lixo do mundo, da escória da sociedade e dos que nada são. É loucura para o mundo começar a construção do Reino de Deus a partir dos que trabalham com as suas próprias mãos quando na sociedade romana trabalho era algo indigno e apenas coisa de escravo e de camponês. É loucura o Deus encarnado num camponês sem terra Jesus de Nazaré morrer pelos que não o merecem. É loucura salvar os pecadores de graça apenas pela fé no Cristo que ressuscitou com o corpo.
"Quando se come o Sacramento [do Altar], Cristo é incorporado em nós e nós nele. Eu o usofruo. Sou pecador e venho e o deixo comer o que há de mal em mim; dele, porém, recebo fé, prazer na castidade, etc., e disso me alimento [vivo], pois esse é meu tesouro. Assim, inversamente, eu me deixo comer e beber, para que no comer e beber se revele o sentido [deste Sacramento]. Por isso Paulo diz em Gl 6[.2]: 'Um carregue a carga do outro, assim cumprireis a lei de Cristo'. Esta é a lei dos cristãos - estás ouvindo? - que um carregue a carga do outro. Se somos renovados na fé, é isso que devemos fazer. No mundo reina outra lei: aí cada um se deixa carregar. Se, porém, quiseres ban­car o astuto, então vale esse conselho, para que sejas castigado. Essa bonda­de [de Jesus Cristo, auferida e apreendida no Sacramento do Altar] se deve praticar para com aqueles que conhecemos: não lhes deve faltar Evangelho, nem o que é necessário para o corpo, nem bens e consolo. Desse modo co­memos o Sacramento [do Alar] corretamente tanto corporal quanto espiritual­mente, fortalecemos nossa fé com ele e cumprimos seu sentido. Por causa desse sentido ele é chamado de communio. Pois de todo o Sacramento de Cristo, surge comunhão ... Eu entrego a Cristo pecado, morte, etc., ele dá jus­tiça e vida eterna. Do mesmo modo digo ao próximo: És pobre? Então passa para cá. Aqui tens pão e roupa. A mesma coisa devo fazer se alguém é igno­rante na fé." Martim Lutero, D. MartinLuthers Werke - Kritische Gesamtausgabe. 301I [1910/1964 L 27.6-2l
Martim Lutero: “Faze ao próximo o que Cristo fez a ti, e deixa que todas as tuas obras, com toda a vida, sejam dirigidas a teu semelhante. Procura onde há pobres, doentes e necessitados de toda sorte; socorre-os e nisso consista a tua vida: que seja útil a quem precisa de ti tanto quanto podes, com corpo, bens e honra”. “Cuida para não me deixares de lado. Quero ficar bem perto de ti, em cada pessoa pobre que necessita de tua ajuda e de teu ensino; eu estou bem dentro dele”. “Muitos são aqueles que se deixam tocar por devoções sonhadoras quando ouvem da pobreza de Cristo, se enfurecem com os cidadãos de Belém, vociferam contra a sua cegueira e ingratidão, pensando que, se eles tivessem estado lá, teriam prestado excelente serviço ao senhor e à sua mãe, e não permitindo uma mesquinhez dessas. Mas não percebem quantos dos seus semelhantes ao seu lado precisariam de sua ajuda. Por que não comprovam aqui o seu amor? É mentiroso e errado se achas que querias ter feito o bem a Cristo, se não o fazes a esses. Se estivesses em Belém, terias te preocupado tão pouco com ele como os demais”. “Maldita e condenada ao inferno seja a vida que vive exclusivamente para si mesma, pois isso é próprio do gentio, e não do cristão”.
O escândalo do Evangelho é que Jesus começa a construção do Reino de Deus com as vítimas do sistema: os pequenos e fracos que trabalham com suas próprias mãos, assim como no AT começa com os camponeses sem terra escravos. Na IECLB 95% dos membros são vítimas do sistema, mas não sabem disto e o defendem com unhas e dentes. Evangelizar os pobres é lhes revelar em primeiro lugar que eles são vítimas do sistema capitalista, que é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus, e em segundo lugar revelar que há outra possibilidade de se organizar a vida e a sociedade além do capitalismo que é o que Jesus Cristo chama de Reino de Deus, uma sociedade igualitária de irmãos e de irmãs na qual não há necessitados e os meios de produção estão sob o controle de toda a sociedade.
10.1. A Teologia da Cruz
Lc 9.23 Dizia a todos: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, dia a dia tome a sua cruz e siga-me. 24 Pois quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; quem perder a vida por minha causa, esse a salvará.
2 Co 11.23 São ministros de Cristo? (Falo como fora de mim.) Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. 24 Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; 25 fui três vezes fustigado com varas; uma vez, apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; 26 em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; 27 em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, em jejuns, muitas vezes; em frio e nudez. 28 Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente a preocupação com todas as igrejas.
Martim Lutero diz na Tese 21 da Demonstração das Teses Debatidas no Capítulo de Heidelberg: “O teólogo da glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que é bom; o teólogo da cruz diz as coisas como elas são. Isto é evidente, pois enquanto ignora Cristo, ele ignora o Deus oculto nos sofrimentos. Por isso, prefere as obras aos sofrimentos, a glória à cruz, o poder à debilidade, a sabedoria à tolice e, de um modo geral, o bem ao mal. Esses são os que o apóstolo chama de inimigos da cruz de Cristo, certamente porque odeiam a cruz e os sofrimentos, ao passo que amam as obras e a sua glória. Assim, eles chamam o bem da cruz de um mal, e o mal da obra de um bem. Já dissemos, no entanto, que Deus não é encontrado senão nos sofrimentos e na cruz. Os amigos da cruz afirmam que a cruz é boa e que as obras são más, porque, pela cruz, são destruídas as obras e é crucificado Adão; pelas obras, este é, antes, edificado. Portanto, é impossível que não se envaideça com suas obras a pessoa que não for primeiramente examinada e destruída pelos sofrimentos e males, até que saiba que ela nada é e que as obras não são suas, mas de Deus”.
Da Ata do martírio de Justino e seus companheiros:
"O prefeito Rústico declarou: “Basta, deixemos isso e vamos à questão que importa, da qual não podemos fugir e é urgente. Aproximai-vos e todos juntos sacrificai aos deuses”.
Justino respondeu: “Ninguém de bom senso abandona a piedade para cair na impiedade”.
O prefeito Rústico insistiu: “Se não fizerdes o que vos foi ordenado, sereis torturados sem compaixão”. Justino disse: “Desejamos e esperamos chegar à salvação através dos tormentos que sofrermos por amor de nosso Senhor Jesus Cristo. O sofrimento nos garante a salvação e nos dá confiança perante o tribunal de nosso Senhor e Salvador, que é universal e mais terrível que o teu”.
O mesmo também disseram os outros mártires: “Faze o que quiseres; nós somos cristãos e não sacrificaremos aos ídolos”.
O prefeito Rústico pronunciou então a sentença:
“Os que não quiseram sacrificar aos deuses e obedecer à ordem do imperador, depois de flagelados, sejam conduzidos para sofrer a pena capital, segundo a norma das leis”."
Albrecht Baeske lembra no texto: A "cruz de nosso Senhor Jesus Cristo".
"A cruz integra a existência de Jesus. Sem a cruz, ninguém o entende. Ela caracteriza sua história. Sem a cruz, Jesus torna-se vago e inventado. Ela condensa sua vida e obra. Pela cruz, Jesus entra na vida: nasce num cocho; vive quando criança como refugiado, quando adulto, como andarilho; e, na cruz, expira sua vida, lutando com Deus pouco antes e no próprio suplício." (...) "A cruz continua caracterizando a atuação de nosso Senhor Jesus Cristo, o crucificado ressuscitado. Seu ressuscitamento é a validação da cruz; em absoluto é a abolição da cruz. O ressurreto explica sua morte de cruz e mostra as chagas recebidas no decorrer da crucificação. Ele designa e distingue os seus com a cruz."
Tirando o crucifixo da igreja (do templo) estamos tirando a essência do próprio Cristo da igreja, o que me parece quase normal na IECLB. Quantos templos da IECLB você conhece que não tem um crucifixo nela e só a cruz vazia? Somos adeptos da teologia da glória, tão condenada por Lutero.
11. Deus exige o que, como prática da fé?
Rm 12.1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. 2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Tg 1.27 A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.
Ap 18.2 Então, exclamou com potente voz, dizendo: Caiu! Caiu a grande Babilônia e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável, 3 pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria. 4 Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos;
1 João 2.15 Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele;
Lc 25 E eis que certo homem, intérprete da Lei, se levantou com o intuito de pôr Jesus à prova e disse-lhe: Mestre, qu10.e farei para herdar a vida eterna? 26 Então, Jesus lhe perguntou: Que está escrito na Lei? Como interpretas? 27 A isto ele respondeu:
 Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
 28 Então, Jesus lhe disse: Respondeste corretamente; faze isto e viverás.
"Esse é o primeiro... proveito que te advém do uso do Sacramento [do Altar]: que sejas lembrado desse benefício e graça [Jesus Cristo fez tudo o que fez por ti e nós], e tua fé e teu amor sejam estimulados, renovados e fortalecidos, para que não acabes esquecendo ou desprezando teu querido Salvador e seu amargo sofrimento, bem como a tua grande, múltipla, eterna aflição e morte, de onde ele te ajudou a sair... Pois semelhante fé nos é altamente necessária, para que fiquemos em Cristo, não havendo maneira de permanecer nele sem essa fé. Em contrapartida, a descrença é um diabo perigoso, diário, ininter­rupto, que nos quer arrancar de nosso querido Salvador e de seu sofrimento, tanto à força como com astúcia. Se já custa esforço e trabalho alimentar, esti­mular e praticar a fé diariamente, para que não esqueçamos o sofrimento e beneficio de Cristo [a nosso favor], que há de ser se nos abstivermos disso, se o fizermos apenas raramente e desprezarmos ou negligenciarmos sua me­mória e Sacramento [do Altar].
O outro proveito é o seguinte: onde quer que a fé seja assim revigorada e re­novada, também o coração sempre de novo é adicionalmente revigorado para o amor ao próximo, fortalecido para todas as boas obras e preparado para re­sistir aos pecados e a todas as tentações do diabo; porque a fé não pode ficar ociosa, ela tem que praticar frutos de amor, fazendo o bem e evitando o mal. O Espírito Santo está presente e não nos deixa descansar. Ele nos dá disposi­ção e inclinação para todo o bem, como, ainda, seriedade e diligência para a­gir contra todo o mal. De sorte que, através desse bom uso do Sacramento [do Altar], um cristão se renova e cresce em Cristo sempre mais e mais, dia após dia, como também nos ensina Paulo, que devemos renovar-nos e crescer sempre [Ef 4.15,23]. Em contrapartida, onde alguém se abstém do Sacramen­to [do Altar]..., o prejuízo vem com certeza, e não se poderá impedir que a fé enfraqueça e esfrie mais e mais...; daí resulta ainda inevitavelmente que ela fica preguiçosa... no amor ao próximo, inerte e indisposto a boas obras, des­preparada e aversa a resistir ao mal. A vontade para receber o Sacramento [do Altar] se torna cada vez menor, até ficar enfastiada por completo de pen­sar em seu querido Salvador, desprezando-o e estragando-se em si mesma dia após dia, com crescente propensão e disposição para todo mal." Martim Lutero, Obras Selecionadas, v. 7. p. 245.10-14.18 - 246.5.
A prática da fé e do amor como insurgência contra o mundo, hoje o capitalismo. Nós temos compromisso, a partir do batismo e da fé em Jesus Cristo, com o Projeto do Reino de Deus e não com o projeto do mundo, o capitalismo; por isso a nossa fé é essencialmente insurgente.
12. Igreja como Evangelho e não como Religião.
Jo 2.13 Estando próxima a Páscoa dos judeus, subiu Jesus para Jerusalém. 14 E encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas e também os cambistas assentados; 15 tendo feito um azorrague de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, derramou pelo chão o dinheiro dos cambistas, virou as mesas 16 e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio.
Mc 15.33 Chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona. 34 À hora nona, clamou Jesus em alta voz: Eloí, Eloí, lamá sabactâni? Que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? 35 Alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Vede, chama por Elias! 36 E um deles correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta de um caniço, deu-lhe de beber, dizendo: Deixai, vejamos se Elias vem tirá-lo! 37 Mas Jesus, dando um grande brado, expirou. 38 E o véu do santuário rasgou-se em duas partes, de alto a baixo. 39 O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara, disse: Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus. 40 Estavam também ali algumas mulheres, observando de longe; entre elas, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé; 41 as quais, quando Jesus estava na Galiléia, o acompanhavam e serviam; e, além destas, muitas outras que haviam subido com ele para Jerusalém.
O Templo como instrumento sócio-político-econômico-religioso à serviço do sistema deste mundo. A Religião acomoda e o Evangelho incomoda, pois é insurgente. Aos pés da Cruz de Cristo surgem três propostas: 1) Deus não está no Templo de Jerusalém - é a deslegitimação da Religião, 2) A universalidade da salvação pela fala do centurião, 3) Um grupo dos mais oprimidos entre os oprimidos: as mulheres, surge com a proposta de seguir Jesus até a cruz e servir (Lc 8.1-3).
Art. 5o da Constituição da IECLB - "A IECLB tem como fundamento o Evangelho de Jesus Cristo, pelo qual, na forma das Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, confessa sua fé no Senhor da una, santa, universal e apostólica Igreja.
§ 1o - Os credos da Igreja Antiga, a Confissão de Augsburgo (“Confessio Augustana”) inalterada e o Catecismo Menor de Martim Lutero constituem expressão da fé confessada pela IECLB.
§ 2o - A natureza ecumênica da IECLB se expressa pelo vínculo de fé com as igrejas no mundo que confessam Jesus Cristo como único Senhor e Salvador."
Regimento Interno da IECLB Art.2° - "A Comunidade, que é a congregação local dos membros da Igreja de Jesus Cristo, em torno de um centro comum de culto, tem as seguintes características:
I - na Comunidade a Palavra de Deus é anunciada puramente e os sacramentos são administrados retamente;
II - a Comunidade é a base de trabalho da IECLB, e ela exercita a vida cristã e a missão da Igreja através do anúncio da Palavra, da exortação ao arrependimento, da mensagem do perdão e do chamado à prática do amor, da justiça, da solidariedade e do serviço ao próximo e à sociedade;
III - a Comunidade participa do corpo universal do povo de Deus, em comunhão com as comunidades congregadas na IECLB, e busca o convívio ecumênico com outras comunidades e Igrejas que confessam Jesus Cristo como Senhor e Salvador.
Parágrafo único - Onde isto acontece, realizar-se-á a promessa de que o próprio Senhor está junto à Comunidade, operando a fé pelo Espírito Santo e chamando pessoas ao seu serviço, quando lhe aprouver."
Martim Lutero. Prefácio ao Novo Testamento:
"Assim vemos agora que não há mais do que um evangelho, bem como apenas um Cristo. Isso porque "evangelho" não é nem pode ser outra coisa senão uma pregação de Cristo, filho de Deus e de Davi, verdadeiro Deus e homem, que por nós, com sua morte e ressurreição, superou o pecado, a morte e o inferno de todos os que nele crêem. De sorte que o evangelho pode constar de uma fala curta ou longa, poden­do um dizê-lo em palavras breves e outro, de forma longa. Em pormeno­res o descreve aquele que descreve muitas obras e palavras de Cristo, como o fazem os quatro evangelistas. De forma breve, porém, o descre­ve aquele que não fala das obras de Cristo, mas indica com poucas pala­vras como ele, através do morrer e ressurgir, superou pecado, morte e inferno para aqueles que nele crêem. Assim o fazem Pedro e Paulo.
Por isso cuide que não faça de Cristo um Moisés, nem do evangelho uma lei ou um livro de doutrina, como aconteceu até agora e como dão a entender diversos prefácios da versão Vulgata, de São Jerô­nimo. Pois o evangelho, no fundo, não exige nossa obra, com a qual nos pudéssemos formar retos e salvos. Antes ele condena semelhantes obras e exige apenas fé em Cristo, que venceu para nós o pecado, a morte e o inferno, tornando-nos retos, vivificados e bem-aventurados. E não por nossas obras, mas por suas próprias obras: morte e sofrimento, para que aceitemos sua morte e vitória como se nós mesmos o tivéssemos rea­lizado. (...)
Portanto também enxergamos que ele não fica insistindo, mas convida amavelmente e fala: "Bem-aventurados são os pobres" etc. E os apóstolos utilizam a palavra: "eu exorto", "eu suplico", "eu peço". As­sim se vê em toda parte que o evangelho não é um livro de leis, e sim apenas uma pregação dos benefícios de Cristo, a nós apresentados e concedidos, assim o cremos. Moisés, porém, em seus livros instiga, insis­te, ameaça, bate e castiga cruelmente; porque ele é um escritor e instiga­dor da lei. Daí vem que ao crente não é dada lei alguma, como o diz Paulo em 1 Timóteo 1.9; isso porque ele é justo, vivificado e salvo atra­vés da fé. E ele não tem mais necessidade de comprovar semelhante fé.
Sim, onde estiver a fé, ela não consegue se refrear, ela se com­prova, irrompe e confessa e ensina esse evangelho diante das pessoas e por ele arrisca sua vida. E tudo que ela vive e faz, destina-o ao proveito do próximo, para lhe ajudar, não só que ele alcance semelhante graça, mas também no que tange o corpo, propriedade e honra, [da mesma forma] como ela vê que Cristo lhe fez, seguindo, portanto, ao exemplo de Cristo. Isso também é o que Cristo quer dizer, uma vez que em últi­ma análise ele não deu nenhum outro mandamento senão o amor. Nele se deveria reconhecer quem seriam seus discípulos e crentes verdadeiros; pois onde não irrompem as obras e o amor, a fé não está bem, o evange­lho ainda não pegou, e Cristo ainda não foi bem reconhecido. Volte-se, portanto, para os livros do Novo Testamento e veja que os consiga ler dessa maneira."
Uma Congregação dos que desejam seria­mente ser cristãos.
"A terceira forma deveria ser uma ordem verdadeiramente evangélica, e não deveria ser realizada em lugar tão público para todo tipo de povo. Mas os que querem ser cristãos com seriedade e que confessam o evangelho com mãos e boca deveriam assinar o seu nome e reunir-se entre si, em alguma casa, para orar, ler, batizar, receber o sacramento e fazer outras obras cristãs. De acordo com essa ordem se poderia conhecer, repreender, corrigir, afastar ou excomungar de acordo com a regra de Cristo em Mateus 18.15-17 os que não vivessem uma vida cristã. Aí também se poderia solicitar aos cristãos contribuições gerais que então fossem dadas e distribuídas de boa vontade aos pobres segundo o exemplo de S. Paulo em 2 Coríntios 9. Não haveria necessidade de muito canto elaborado. Poderia estabelecer-se uma forma simples e boa para o batismo e o sacramento e centralizar tudo na palavra, na oração e no amor. Aí se precisaria de um bom e breve catecismo sobre o credo, os dez mandamentos e o pai-nosso. Em resumo, se se tivesse o tipo de gente e pessoas que desejassem seriamente ser cristãos, as regras e as formas estariam prontas sem demora. Mas ainda não posso nem desejo atualmente organizar ou formar uma tal congregação ou reunião. Pois ainda não tenho gente e pessoas para isso, nem vejo muitos que estão inclinados para isso. Mas se eu tiver de fazê-lo e for solicitado e não puder de sã consciência deixar de fazê-lo, de bom grado contribuirei com a minha parte e ajudarei com o melhor que puder." (Martim Lutero)
13. Cidadania do Reino de Deus.
Ef 4.5 há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6 um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos.
A Confissão de Augsburgo (escrita em 1530 por Felipe Melanchton, para ser apresentado ao imperador Carlos V contém em 28 artigos as bases da fé luterana) diz no Artigo IX: “Do batismo se ensina que é necessário e que por ele se oferece graça; que também se devem batizar as crianças, as quais, pelo batismo, são entregues a Deus e a ele se tornam agradáveis”.
... "Pelo Batismo primeiramente nascemos de novo. Todavia... permanece no ser humano... a velha pele, em forma de carne e sangue. São tantas as obsta­culizações e tentações do diabo e do mundo, que muita vez ficamos cansa­dos e débeis, e vez que outra claudicamos.
Por isso [o Sacramento do Altar] nos é dado para diária pastagem e alimentação, para que a fé se restaure e fortaleça, a fim de que nessa peleja não sofra revés, porém se faça incessan­temente mais vigorosa. Pois a vida nova será de constituição tal, que cresça e progrida sem solução de continuidade. Terá de sofrer, entretanto, muita opo­sição. Pois o diabo é inimigo assim furioso: quando vê que lhe resistimos e a­tacamos o velho ser humano, e que ele não nos pode surpreender à força, en­tão por todos os lados anda à solapa e rodeia, experimenta todas as artima­nhas, e não desiste até cansar-nos afinal, de modo que ou renunciamos à fé ou desanimamos e nos tornamos apáticos ou impacientes.
É para isso que é dado o consolo [no Sacramento do Altar], a fim de que o coração busque a­qui nova força e refrigério, quando sente que a coisa se lhe vai tornando de­masiadamente pesada." Martim Lutero, Obras Selecionadas, v. 7. p. 433.26 - 434.13 (= Igreja Evangélica Luterana, Livro de Concórdia. p. 488.22 ­489.27).
Mt 26.26 Enquanto comiam, tomou Jesus um pão, e, abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo. 27 A seguir, tomou um cálice e, tendo dado graças, o deu aos discípulos, dizendo: Bebei dele todos; 28 porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados.
Martim Lutero: “Este sacramento é um sacramento do amor ... como tu recebes amor ... deves, por tua vez, demonstrar amor ... a Cristo na pessoa de seus necessitados. Pois deve magoar-te toda desonra infligida a Cristo ..., toda miséria da cristandade, toda injustiça sofrida pelos inocentes; todas estas coisas existem em abundância em todas as partes do mundo. Em relação a elas, precisas opor resistência, agir, interceder ... O fruto deste sacramento é comunhão ... em dois sentidos: por um lado, desfrutamos de Cristo ... por outro, deixamos que todos os cristãos também desfrutem de nós ... Assim, o amor de si mesmo que busca seu próprio proveito, tendo sido extirpado por este sacramento, permite a entrada do amor que busca o proveito da comunidade e está voltado para todas as pessoas. Desta forma, constitui-se, através da transformação do amor, um único pão, uma única bebida, um só corpo, uma comunidade.”
"Os antigos [pais da Igreja] disseram muito bem: ele [Jesus Cristo] não quis instituir o Sacramento [do Altar], a fim de que [somente] o coração o rece­besse espiritualmente, e, sim, para que também [fosse recebido] corporal­mente pela boca. Por isso, corpo e sangue de Cristo não deverão apenas redi­mir a esta [a alma] dos pecados, e, sim, também o corpo, no qual ainda exis­te muita imundície, a saber, pecado, morte. ... Desse modo ele [Jesus Cristo] dá alimento, para que [a pessoa inteira] seja alimentada pelo [via] corpo, para que não [fosse alimentada] apenas a alma, e, sim, o corpo, porque aqui nosso corpo participa do corpo de Cristo ... . No dia derradeiro, o que o verbo der­radeiro operou e o que o corpo e o sangue [de Jesus Cristo] operaram será o­perado também em meu corpo: força e vida, pureza, vida, e bem-aventurança, e o ser humano então se alegrará muito em Deus. Isso sucede em virtude do corpo e sangue de Cristo, quando o coração está alegre no Senhor ... então o corpo sente a alegria do coração - e transborda. Se isso ocorre a partir do corpo e do sangue de Cristo, o corpo [da pessoa que crê e comunga] já é meio espiritual, está renovado e livre da morte. Aí [a renovação, a libertação da morte] toma seu começo... Por isso se deve gostar de falar disso como de uma outra medicina contra a morte e o pecado, contra a [morte] da alma e do corpo." Martim Lutero, D. Martin Luthers Werke - kritische Gesamtausgabe. 45 [1911/1964], 202.5-19.
... [quando a igreja] só é capaz de receber o sacramento, em vez de celebrá-lo, talvez de se consolar, mas dificilmente se mover (...) Aí os sacramentos são túmulo da comunidade cristã. Há, portanto, uma “crise de coerência comunitária” e é preciso chegar a uma “correspondência entre o que o sacramento significa e a realidade da comunidade cristã no mundo”. (ALTMANN, Walter. Lutero e Libertação. 1994. p.153)
Ef 2.19 Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus,
Gl 3.28 Dessarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.
At 2.42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. 43 Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por intermédio dos apóstolos. 44 Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em comum.
At 4.32 Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nem uma das coisas que possuía; tudo, porém, lhes era comum. 33 Com grande poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. 34 Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes 35 e depositavam aos pés dos apóstolos; então, se distribuía a qualquer um à medida que alguém tinha necessidade.
Batismo como sinal de pertença ao Projeto do Reino de Deus e a Ceia do Senhor como prática concreta de vida comunitária das pessoas batizadas de uma sociedade de iguais, irmãs, sem classes sociais e sem Estado, onde os meios de produção estão sob o controle de toda a sociedade.
14. Sacerdócio geral de todos os crentes.
1 Pe 2.4 Chegando-vos para ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa, 5 também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.
 9 Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; 10 vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.
Jesus de Nazaré era leigo, não sacerdote. Deus se fez pessoa numa família trabalhadora camponesa leiga, não numa família sacerdotal. Somos sacerdotes e sacerdotisas a partir do batismo isto rompe com a tradição da teologia do Templo de Jerusalém. O sagrado é profano e o profano é sagrado porque toda a criação de Deus é sagrada. O NT acaba com a Religião para manter o Evangelho. Foi a Religião que matou Deus em Jesus Cristo na cruz e é o Evangelho que traz a ressurreição do corpo como a ressurreição da verdadeira fé em Deus. Na ressurreição de Jesus Cristo o Evangelho vence e suplanta a Religião. O perigo de hoje que a Igreja corre é ser novamente Religião em vez de ser Evangelho.
Regimento Interno da IECLB Art.3° - "A Comunidade realiza a missão, o culto a Deus, a assistência espiritual, os ofícios, o ensino e a instrução da doutrina cristã sob a orientação teológica de um pastor da IECLB, eleito pelo Conselho Paroquial, o qual atua de forma compartilhada com os demais obreiros, os presbíteros e os membros, com base no sacerdócio geral de todos os crentes."
Quem dá a linha teológica na paróquia é o/a pastor/a (segundo a teologia da IECLB a partir das Sagradas Escrituras do Antigo e do Novo Testamentos, os credos da Igreja Antiga, a Confissão de Augsburgo (“Confessio Augustana”) inalterada e o Catecismo Menor de Martim Lutero, das decisões conciliares da IECLB e das assembléias sinodais, documentos normativos e declarações oficiais da IECLB) e não alguns do presbitério atrelados à ideologia dominante que reagem toda vez que o capitalismo está sendo ameaçado pelo Evangelho do Reino de Deus.
Martim Lutero diz em 'Da liberdade Cristã': “Inventou-se que o papa, os bispos, os sacerdotes e o pessoal dos conventos sejam chamados de estado clerical; príncipes, senhores, artesãos e agricultores, de estado secular. Isso é uma invenção e fraude muito refinadas. Mas que ninguém se intimide por causa disso, e pela seguinte razão: todos os cristãos são verdadeiramente de estado “clerical”, isto é, espiritual, e não há qualquer diferença entre eles, a não ser, exclusivamente, por força do seu ofício. Tudo isso faz com que tenhamos um batismo, um evangelho, uma fé e sejamos cristãos iguais, porque batismo, evangelho e fé é que exclusivamente tornam as pessoas espirituais e cristãs. (...) Assim, pois, todos nós somos ordenados sacerdotes através do batismo (...). Como, pois, o poder secular é batizado como nós, tem a mesma fé e evangelho, temos que deixá-lo ser sacerdote e bispo, e considerar seu ofício como ofício que pertence à comunidade cristã e lhe é útil”. “Além de tudo, somos também sacerdotes. Isto é muito mais que ser rei, porque o sacerdote nos capacita para nos podermos apresentar diante de Deus, rogando pelas demais pessoas; pois somente aos sacerdotes compete, por direito próprio, estar perante Deus e rogar”.

II - A Realidade em que vivemos como Igreja
Renda
As despesas de juros e amortizações (serviço da dívida) totalizaram R$ 2 trilhões durante os mandatos de FHC (1995-2002) e R$ 4,7 trilhões, durante os de Lula (2003-2010). A dívida interna federal, que atingiu, no final de 2011,  R$ 2.536.065.586.017,68 (mais de dois trilhões e meio de reais), e a dívida externa, US$ 402.385.102.828,23 (mais de quatrocentos bilhões de dólares). Esta, em parte privada, acaba virando toda pública em situações como a de 1982. O serviço da dívida, correspondendo atualmente a 45% do total das despesas federais, equivale a 17% do PIB.
Os brasileiros mais ricos têm uma fortuna estimada em US$ 520 bilhões (mais de R$ 1 trilhão) depositados em paraísos fiscais, o quarto maior volume de recursos no mundo, atrás apenas de China (US$ 1,18 trilhões), Rússia (US$ 798 bilhões) e Coréia do Sul (779 bilhões). “Vinte e um trilhões - com “t” - de dólares, embora a quantidade real possa ser maior, chegando aos 32 trilhões. Eis o que as pessoas mais ricas do mundo escondem em paraísos fiscais internacionais. Um terço de toda a riqueza financeira privada, e quase a metade de toda a riqueza offshore, é agora propriedade das 91.000 pessoas mais ricas do mundo: só 0,001% da população mundial”. Esses 91.000 que formam o vértice da pirâmide têm cerca de 9,8 trilhões de dólares do total. Viva o capitalismo!

Terra

Movimento Sindical

Movimentos Populares e Pastorais
MST, MPA, MMC, MAB, Levante Popular da Juventude, CAPA, CPT, Comin, Pastoral da Cidadania, Pastoral da Saúde

Povos Indígenas
O Censo 2010 revelou que há 305 etnias e 274 línguas. O número de indígenas chegou a 896.917, equivalente a 0,47% da população. De acordo com dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), a população indígena está distribuída em 688 terras indígenas demarcadas e em algumas localidades urbanas. Quase 379.534 índios (42,3% do total) vivem fora de terras próprias e 517,3 mil (57,7%) ocupam as 505 terras demarcadas, equivalentes a 12,5% do território nacional e localizadas majoritariamente na área rural.  Há, segundo a Funai, 82 referências a grupos que ainda não foram contatados. Teme-se pela morte de pelo menos 13 grupos indígenas isolados, conforme dados da Funai, e de outros 8 grupos dos quais tem informação. Há o temor que esses povos sejam extintos, sem que venhamos a conhecê-los e com isto também se extingue a sua cultura e o seu conhecimento acumulado durante séculos.
São 60 casos de assassinatos (33 indígenas foram assassinados no MS = 54%), 19 casos de suicídio, 16 casos de tentativa de assassinato, e a lista não pára. Estes são apenas alguns dos críticos dados que serão apresentados pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi) através do Relatório de Violência Contra Povos Indígenas no Brasil - 2009. Em 2010 este número foi de 60 assassinatos. Foram registrados 51 assassinatos de indígenas em 2011. 500 indígenas foram assassinados em 9 anos.
Áreas indígenas em nosso Sínodo:
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Política Partidária - Governos: estadual e municipal
O Novo Congresso Nacional de 567 pessoas tem 220 senadores e deputados com patrimônio superior a R$ 1 milhão; todos eleitos pelos pobres.
Partidos que controlam as prefeituras na área do sínodo:
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Partidos que controlam o governo estadual de SC:
Partidos que controlam a Assembléia Legislativa em SC:

Os políticos brasileiros possuem milhões de hectares sob controle direto. Sem falar de outras dezenas de milhões que orbitam em torno desse poder. Os dados mostram que os prefeitos brasileiros do PSDB são os que têm mais hectares. Mais que os coronéis do PMDB e do DEM. Entre os parlamentares não há surpresa: o PMDB lidera. Mas há latifundiários no PT, no PDT, no PPS, no PSB, no PV. Por curiosidade, os “filhos do MDB” possuem mais terras que os “filhos da Arena”. Que país se desenha a partir desses dados? Alguns desses senhores chegam a declarar à Justiça Eleitoral “terras do Incra”, assentamentos, “terras da União”. Há quem possua uma ilha. Outros possuem terras do tamanho de países. As cabeças de gado aparecem às dezenas de milhares.  E há as empresas: usinas, mineradoras, frigoríficos, madeireiras, serrarias.


Dados das paróquias:
Número de Membros - crescimento ou diminuição - estatísticas dos últimos 50 anos dos batismos, casamentos, confirmações, enterros

Situação econômica das paróquias

Trabalhos eclesiais que se inserem na insurgência evangélica e os que não se inserem

Projetos das paróquias e do Sínodo

Análise de Conjuntura do Sínodo
1. Fatos e Acontecimentos 
Para analisar o momento em que estamos vivendo, a nossa conjuntura, o primeiro passo é coletarmos as notícias que aparecem nos jornais, no rádio, na televisão e nos demais meios de comunicação.

2. Atores    
As notícias nos trazem a presença dos autores.

3. Cenários  
Os acontecimentos do dia-a-dia se desenvolvem em determinados espaços que podem ser considerados como cenários. Paróquias, grupos, sínodo, movimento popular e sindical.

4. Correlação de Forças
Ao agirem no quotidiano da história, os atores vão tecendo determinadas relações. Às vezes, se trata de algo estável, duradouro. Às vezes, isso não passa de uma conveniência que, apesar de aplaudida naquele momento, pode ser rechaçada logo em seguida. Mas há também os casos em que encontramos as forças que agem na sociedade numa situação de co-existência pacífica, de dominação ou até mesmo de subserviência. Conhecer a cada momento a postura e as ações de cada um dos atores perante os demais é algo decisivo para poder desenhar os desdobramentos que os acontecimentos estão preparando.
A correlação de forças no Sínodo:
•    Que grupos há no Sínodo e quais seus projetos?
•    Que grupo mantém o poder no Sínodo e qual o seu projeto de Igreja?
•    Como a burguesia produz e reproduz o seu modelo de Igreja e de sociedade?
•    Como os trabalhadores (camponeses, operários e funcionários públicos) produzem e reproduzem o seu modelo de Igreja? (os pobres têm algum projeto de Igreja ou reproduzem o projeto da burguesia?)
•    A Diretoria Sinodal representa que classe social e qual projeto?
•    O Pastor Sinodal e vice representam e defendem que projeto?
•    Os/as pastores/as do sínodo representam e defendem que projeto?
•    Os conselheiros sinodais e diretorias paroquiais defendem qual projeto?
•    Quem controla que setores no trabalho Sinodal? OASE, JE, Casais, etc. e que projeto tem?
•    O trabalho do Sínodo reforça que projeto: da burguesia ou dos trabalhadores?
•    Qual a teologia (TdL, pietismo, pentecostalismo, tradicionais) hegemônica no Sínodo em relação à pastorada e em relação aos membros?
•    Como a linha pentecostal na IECLB no Sínodo age e se reproduz? Que peso tem e a que isto pode levar?
•    Que paróquias têm a hegemonia econômica e se impõem politicamente no Sínodo?
•    A que sindicatos, movimentos sociais, cooperativas e entidades os nossos membros pertencem?
•    Que forças sociais agem no espaço geopolítico do Sínodo?
•    Qual o espaço geopolítico do Sínodo no Estado da Federação?
•    Que lutas se travam neste espaço? (índios x camponeses; granjeiros x camponeses; donos de indústrias x operários; barragens x camponeses; luta pela terra). Como as paróquias em seu trabalho respondem às demandas destas lutas populares e sindicais ou as ignoram e por que?
•    Que classes sociais há nas Paróquias e em quais proporções, em %?
•    Qual a classe detém o poder nas paróquias/comunidades - e que interesses essa classe defende e o que ela é capaz de fazer para defender estes interesses?
•    Qual o espaço que a classe trabalhadora tem nas comunidades para viabilizar o seu projeto e suas lutas pelos seus direitos e pela justiça?
•    Quais os partidos políticos que mandam (direta ou indiretamente) nas paróquias e quais seus projetos?
•    Que grupos ou famílias que estão no poder nas paróquias e o que querem?
•    O Projeto Estratégico que as paróquias fizeram deu em que ou vai dar em que? Que Projeto de Igreja estes Projetos Estratégicos das paróquias propõem?
•    O Sínodo tem um Projeto de Igreja elaborado e o põe em prática? Qual e como.
•    Quais os Movimentos (PPL, Encontrão, Comunhão Martim Lutero, etc.) que há nos Sínodos e o que fazem e o que e quem influenciam?
•    Quais as tendências dentro do Sínodo?
•    Conflitos nas paróquias e no Sínodo?
•    Como se dá a sonegação do Dízimo e que conflitos isto traz?
•    Como no Sínodo se avalia a atual Estrutura da Igreja construída a partir do processo de reestruturação? Avanços e retrocessos.
•    Posicionamentos frente ao TAM e Avaliação.
•    Posicionamento frente a questão salarial da pastorada.
•    Que tipo de pressões os/as pastores/as recebem nas paróquias e como isto se reflete na pregação e no trabalho como um todo?
•    Os/as Pastores/as seguem as normas da Igreja na questão litúrgica que nos identifica externamente: vestes litúrgicas e liturgia?
 

Um comentário:

  1. Mas eai o capitalismo manipula e já era, irmão só Deus mesmo pra vencer essa maquina diabólica.
    O irmão em CRISTO JESUS já estão todos manipulados e iludidos com a ilusão oferecida por esse sistema podre. Eu não sei o que pode ser feito, a unica saída e orar e esperar JESUS CRISTO voltar.
    O povo é covarde a igreja e covarde, ninguém ta nem ai com o próximo. Mas gostei de saber que tem pessoas como você que tem essa revelação de DEUS PAI. edgar mc

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