29 de setembro de 2012

Qual a idéia (teologia) dominante na Igreja (qualquer Igreja cristã)?




As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios da produção material dispõe também dos meios da produção espiritual, de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo os pensamentos daqueles aos quais faltam os meios da produção espiritual. As ideias dominantes não são nada mais do que a expressão ideal das relações materiais dominantes, são as relações materiais dominantes apreendidas como ideias; portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe a classe dominante, são as ideias de sua dominação. Os indivíduos que compõem a classe dominante possuem, entre outras coisas, também consciência e, por isso, pensam; na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época histórica, é evidente que eles o fazem em toda a sua extensão, portanto, entre outras coisas, que eles dominam também como pensadores, como produtores de ideias, que regulam a produção e a distribuição das ideias de seu tempo; e, por conseguinte, que suas ideias são as ideias dominantes da época. Por exemplo, numa época e num país em que o poder monárquico, a aristocracia e a burguesia lutam entre si pela dominação, onde portanto a dominação está dividida, aparece como ideia dominante a doutrina da separação dos poderes, enunciada então como uma "lei eterna". Karl Marx. A Ideologia Alemã.

A questão de saber se cabe ao pensar humano uma verdade objetiva - não é uma questão da teoria, mas sim uma questão prática. É na práxis que o ser humano tem de provar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensar. A controvérsia acerca da realidade ou não realidade do pensar - que está isolada da práxis - é uma questão puramente escolástica. 2ª Tese - Teses sobre Feuerbach. Karl Marx.

"Quando o povo está encurralado pelo Estado colonial, a Igreja Católica não aparece. Mas quando o povo encurrala o Estado colonial, o padre aparece, rezando pelos dirigentes. Eu vivi isso como dirigente sindical". Evo Morales

Diz no noticiário sobre os últimos acontecimentos no Paraguai: Até mesmo a Igreja Católica – ao menos a Igreja hierárquica – lugar do qual saiu Lugo, o abandonou. Um dia após a sua deposição, a Igreja Católica paraguaia já considerava Lugo uma página virada. O Vaticano foi o primeiro Estado a reconhecer o novo governo. No dia seguinte após a sua posse o novo presidente, Federico Franco, foi a uma missa campal na Praça das Armas, na capital Assunção, e recebeu a comunhão. O núncio apostólico foi o primeiro embaixador estrangeiro a se encontrar com Franco no dia 23 de junho, dia seguinte à destituição de Lugo, e a foto do encontro foi amplamente divulgada mundo afora, enquanto os países sul-americanos condenavam o golpe parlamentar.

"Aborreceis na porta ao que vos repreende e abominais o que fala sinceramente. Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis tributo de trigo, não habitareis nas casas de pedras lavradas que tendes edificado; nem bebereis do vinho das vides desejáveis que tendes plantado. Porque sei serem muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o justo, tomais suborno e rejeitais os necessitados na porta. Portanto, o que for prudente guardará, então, silêncio, porque é tempo mau." Amós 5.10-13

Parafraseando Amós eu diria: Aborreceis na reunião do presbitério o/a pastor/a que vos repreende porque sonegais parte do Dízimo e abominais o que vos chama justamente de corruptos porque roubais a Igreja de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, visto que explorais os trabalhadores a tal forma de terem LER e ficarem impossibilitados para qualquer trabalho por causa do ritmo de trabalho à eles impostos nos frigoríficos, indústrias e escritórios, não habitareis nas mansões que tendes edificado; nem bebereis o champanha importado da França nas festas do Ano Novo porque o povo trabalhador explorado, a partir da fé em Jesus Cristo, vai se levantar contra vós e construir uma nova sociedade de iguais e solidária: o Reino de Deus. Então o tempo mau terá passado. Aleluia!

Qual a idéia (teologia) dominante na Igreja (qualquer Igreja cristã)?
É a idéia da classe economicamente dominante que impõe a sua ideologia, sua teologia, e sua prática de Igreja na Comunidade. Quando o Evangelho se opõe à isto aquele que o prega é expulso da comunidade, se for leigo é marginalizado (porque leigo não dá para expulsar assim no mais), se for pastor/a é expulso no período da Avaliação ou da renovação do TAM, com outros argumentos é claro, às vezes até claramente pelos argumentos das idéias da classe economicamente dominante na sociedade porque o sujeito não se sujeitou às determinações teológicas/ideológicas e práticas da classe economicamente dominante, pois ameaçou o capital e a sua reprodução material e imaterial pela pregação do Evangelho de Jesus Cristo.

A idéia dominante na comunidade normalmente não vem do Evangelho de Jesus Cristo, cuja mensagem central é o Reino de Deus (que propõe a construção de uma nova sociedade de irmãos e de irmãs, sem classes sociais, portanto, uma sociedade não capitalista), mas vem da dinâmica do capital, que produz o seu jeito de pensar e o impõe, normalmente de forma velada, à toda a sociedade como sendo a idéia produzida por toda a sociedade e como sendo a única explicação da realidade. Isto se chama de Ditadura do Pensamento Único que é usada para legitimar a reprodução da Ditadura do Capital. Politicamente vivemos numa democracia burguesa à serviço da Ditadura do Capital, portanto, vivemos numa democracia de fachada, que obviamente é melhor que a Ditadura civil-militar de 64. Vivemos no Estado de Direito do Capital que vai abocanhar em 2013 o total de 42% do orçamento da União, que são os juros e encargos da dívida interna e externa (mais 52,2 bilhões de reais do PAC e Minha Casa Minha Vida, para a educação sobram 38 bilhões de reais e 29,9 bilhões para o Brasil sem Miséria), melhorou porque neste ano foram 47%.

Nós cristãos e cristãs batizados/as em nome da Trindade temos outra explicação da realidade vivida neste mundo a partir do Evangelho de Jesus Cristo. Este Evangelho diz que há outra proposta de organização da vida e da sociedade, além da vigente, que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. O Reino de Deus é de Deus e não do mundo. O Reino de Deus vem para fazer oposição ao reino do mundo e não só isto, mas para acabar com o jeito de organizar a vida e a sociedade que o mundo propõe, no entanto a maioria das pessoas da comunidade cristã defende primeiro o reino do mundo em detrimento do Reino de Deus. Não conseguem entender que o reino do mundo, hoje o capitalismo, é inimigo do Reino de Deus que Jesus Cristo veio para instaurar em nome de Deus, como diz em Lc 4.43. Na verdade em Jesus Cristo, um camponês palestino marginalizado sem terra e sem teto, o próprio Deus fez uma opção de classe para instaurar o Reino de Deus. Deus em Jesus de Nazaré optou pela classe camponesa oprimida e explorada pelo sistema econômico vigente para mudar radicalmente esta organização social naquilo que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. Deus não se fez pessoa na classe camponesa em Jesus de Nazaré para legitimar e reproduzir o modo de produção vigente no Império Romano, mas para construir uma nova forma de organização social onde as pessoas são irmãs e iguais. Por isso as pessoas na igreja se chamam de irmãs porque querem construir uma nova sociedade de irmãos e irmãs (esta é a nova criatura da qual fala Paulo 2 Co 5.17: "E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas".), portanto iguais o que requer que os meios de produção esteja sob o controle de toda a sociedade o que obviamente requer uma sociedade sem classes sociais e evidentemente sem Estado. "As coisas antigas" das quais Paulo fala é o velho Modo de Produção Escravista predominante no Império Romano. "Estar em Cristo" é começar na prática a viver nesta nova sociedade que é o Reino de Deus que para ser instaurado luta contra "as coisas antigas", o modo de produção baseado em classes sociais antagônicas e em permanente luta, que no tempo de Paulo era o Modo de Produção Escravista e hoje é o Modo de Produção Capitalista, que igualmente está baseado me classes sociais antagônicas em luta permanente. O Reino de Deus pressupõe uma sociedade sem classes sociais, por isso os que lutam contra esta sociedade de classes já de forma antecipada se chamam de irmãos para mostrar onde querem chegar: numa sociedade igualitária. Ao menos na igreja já experimentamos com antecedência o que o Reino de Deus quer ser em sua plenitude e o ponto alto disto é a Ceia do Senhor onde partilhamos comida e bebida com todos os que crêem para mostrar como vai ser esta nova sociedade com as novas criaturas em Cristo. Aí que a Teologia do Reino de Deus entra em choque com a Ideologia capitalista que permeia as idéias e as teologias da comunidade. Por isso é fundamental para a burguesia controlar a máquina eclesiástica, vai que algum/a pastor/a se mete à besta e começa a falar que o capitalismo é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus! Aí como é que fica! O capitalismo fica deslegitimado e desmoralizado! Pau na pastorada que se metem à besta!

Estou defendendo a pastorada à qualquer custo? Não, estou denunciando apenas as dinâmicas que o capitalismo usa para se reproduzir e que nós por causa de nossa ignorância (no sentido de ignorar, não saber) não percebemos porque nunca fomos desafiados (ou temos medo) a estudar o capitalismo. Estudamos teologia, mas não estudamos o mundo no qual esta teologia vai ser vivida e pregada. Se lêssemos Lucas corretamente veríamos que ele faz no início dos capítulos 2 e 3 uma breve análise de conjuntura para mostrar em que realidade Javé se fez sua opção de classe num camponês sem terra. Além do mais Jesus de Nazaré, o Deus encarnado na classe camponesa, convive por trinta anos com estes camponeses até começar a pregar o Evangelho do Reino de Deus. Por que? Para entender bem a realidade na qual e para a qual vai evangelizar. Como acontece isto na IECLB? A pastorada é enviada para uma paróquia sem explicação nenhuma e se vire, pressupondo-se que conheça a realidade desta paróquia e do país Brasil. Parece-me que somente a simples leitura do Evangelho não nos ajuda a entender as coisas porque nem este aprendemos a ler direito, porque aprendemos a não ver as coisas concretas que nele se diz. Precisamos de outros instrumentos para nos ensinar como se deve ler a realidade. Por isso precisamos aprender o método de leitura da realidade que Marx desenvolveu que revela como o capitalismo funciona para podermos entendê-lo e combatê-lo. A igreja normalmente não quer nem saber do método de leitura da realidade que Marx desenvolveu porque esta leitura vai mostrar que a igreja normalmente está do lado errado no processo histórico da construção do Reino de Deus, está normalmente do lado do diabo, que defende a reprodução do capitalismo, o reino do mundo, e não do lado de Deus, que defende a construção do Reino de Deus, uma nova sociedade não classista e igualitária. Nós vamos entender melhor o Evangelho e a realidade na medida em que fizermos, como Deus fez em Jesus de Nazaré, uma opção de classe. Pois vemos o mundo a partir de onde temos os pés fincados, por isso Jesus nasceu na estrebaria (local de trabalho, de vida e reprodução de vida do camponês) e não no palácio do rei Herodes, como os magos achavam. Por que? Porque desde pequenos somos ensinados a não ver as coisas como elas são. Achamos que conhecemos a realidade. Normalmente não conhecemos nenhuma das duas realidades, nem da comunidade nem do país. E para dentro desta realidade que não conhecemos queremos pregar o Evangelho achando que as pessoas vivem nas nuvens fora da realidade de luta de classes que há na sociedade. Para começar nem reconhecemos que há luta de classes na sociedade e muito menos na igreja. Um membro uma vez disse ao pastor: 'Vocês pastores não tem a mínima idéia de como nós membros pensamos'. Não fazemos análise da realidade e com isso erramos em nossa prática, pois não conhecemos a realidade na qual somos enviados para pregar o Evangelho do Reino de Deus. Análise errada, prática errada. Aí o que acontece? Os presbíteros que são raposas velhas e que controlam a paróquia há mais de 20 anos dão a linha de nossa prática e com isso determinam nossa teologia, que por, às vezes, ser parca não percebe o engodo em que fomos metidos. E porque somos medrosos ficamos quietos e fazemos de conta que não está acontecendo nada quando descobrimos que somos paus mandados a serviço do capital. Parece como na guerra: matar e deixar matar para sobreviver.
Isto me lembra que no final dos anos 80 no ex-DE Uruguai conseguiu-se articular as eleições dos presbitérios que não tinham tendência de direita e quase havíamos alijado as raposas velhas da ARENA do poder, mas aí vieram os anos 90 e o endireitamento teológico e quando voltei em 2002 ao que sobrou do DE Uruguai, agora Sínodo Uruguai, vi com espanto que as velhas raposas da ARENA dos anos 80 que haviam sido afastadas via articulação nas paróquias, estavam todas de volta e continuam hoje firmes nas paróquias e no Sínodo. Falta de clareza teológica dá nisso. Lênin diria: 'Sem teoria revolucionária, não há movimento revolucionário'. Ou melhoramos e clareamos a nossa teologia ou não avançaremos como Igreja. Em outras palavras estou dizendo: quem dá a linha teológica nas paróquias é a ex-ARENA (em alguns lugares o PMDB ou PT arenizado), agora travestida de muitas outras cores. Estes que no tempo da ditadura denunciavam seus pastores para o Dops ou os expulsavam da paróquia por não apoiarem a ditadura. Como canta o Cazuza: 'Meus inimigos estão no poder'. Isto nos mostra que temos muita formação teológica, não neutra, pela frente para fazer para que a teologia do Evangelho do Reino de Deus dê a linha ao trabalho paroquial.
Em se falando de ingenuidade (teológica), ou nem tanto, lembro de um membro que veio da igreja católica, e foi um luterano de berço, que deu o seu testemunho no Dia Sinodal da Igreja no ano passado; é de chorar. A colegada precisa se informar melhor sobre a história dos membros que são chamados para darem seu testemunho. É bom perguntar por aí para as pessoas quem é quem que a gente descobre muita coisa torta que parece estar reta. Pessoas de Palmitos que conheciam esta pessoa tiraram sarro do fato. Nós somos facilmente enrolados, por sermos ingênuos e por não fazermos uma leitura correta da realidade erramos na prática. Teoria fraca, prática fraca. Teoria errada, prática errada. Análise errada, prática errada. Quem erra na análise, erra na prática.
Quem defende as idéias da classe economicamente dominante na comunidade? Normalmente são os próprios trabalhadores empobrecidos e embrutecidos pela dinâmica da reprodução do capital que formam o presbitério da comunidade juntamente com a pequena burguesia. Os grandes capitalistas nem se dignam a fazer parte do presbitério, eles tem mais o que fazer para reproduzir o capital. São a pequena burguesia local e pessoas da classe trabalhadora explorada (camponeses e operários) que representam as idéias e concepções de mundo dos capitalistas no presbitério da comunidade e defendem estas idéias como sendo as únicas possíveis e como se fossem suas se esquecendo que o Evangelho de Jesus Cristo propõe idéias e práticas teológicas opostas aos do capitalismo.
Como fazer com que o Evangelho de Jesus Cristo seja a idéia/teologia dominante na comunidade? Chegamos ao cúmulo de ter que fazer esta pergunta.

Este é o desafio, também na construção de um Projeto de Igreja para a IECLB.
Se o/a pastor/a disser claramente que o Evangelho de Jesus Cristo se opõe ao capitalismo, pois propõe outra forma de organizar a vida e a sociedade: o Reino de Deus, ele/a resistirá por quanto tempo nesta comunidade e quem o/a defenderá? As leis da estrutura da IECLB e ela própria defenderão este/a pastor/a que prega pura e retamente o Evangelho e como o/a defenderá?
É a paróquia que escolhe o/a pastor/a e é a paróquia que o demite. A Igreja já elaborou algumas leis para regularizar isto, pois normalmente os/as pastores/as eram (e continuam sendo volta e meia) demitidos/as de forma irregular. Hoje a paróquia já tem que levar o pedido de exoneração ao Conselho Sinodal e esperar o parecer deste, mas normalmente a situação fica tão tensa que a sugestão ao pastor/a é: não tem mais clima, cai fora. A forma mais moderna agora, com a Reestruturação neoliberal, é esperar a renovação do TAM e aí não se precisa justificar nada, apenas se diz que terminou o Termo de Atividade Ministerial - TAM, muito obrigado e tchau. Soube que as últimas vítimas da dupla dinâmica: TAM e Avaliação, foram os nossos colegas de Portão, RS, certamente salvaram muito poucas almas, não foram santos o suficiente e não se encaixaram nas normas de produtividade exigidas pela pequena burguesia que controla ao aparato eclesiástico.

"É na práxis que o ser humano tem de provar a verdade", diz Marx. E a práxis na Igreja tem sido pressionar o/a pastor/a para que não pregue contra o capitalismo; simplesmente não deve abordar o tema. Não abordar o tema é legitimá-lo, pois o capitalismo é o oposto do Reino de Deus, por ser o reino do mundo, portanto instrumento do diabo. O que o capitalismo produz de injustiça e exploração sobre a classe trabalhadora mostra que ele não pode ser igual ao Reino de Deus e nem ser da vontade de Deus. Por exemplo: tudo o que se produziu de riquezas nos anos de 2009 e 2010 nos USA o 1% mais rico da população ficou com 93% do total de riquezas produzidas e os outros 99% da população ficaram com os 7% restante, diz a Revista Veja de 15 de agosto de 2012. 58% dos estadunidenses concordam como sendo justo que os ricos acumulem esta riqueza; no Brasil são 48% os que concordam que é justo os ricos terem a riqueza que tem. Segundo dados de 2004, no Brasil, os 10% mais ricos concentram em bens e riquezas, do total, 75% e os 25% restantes ficam com os 90% da população. Há algo mais escandaloso que isto? Tanto no que diz respeito à acumulação da riqueza como no jeito de pensar da população à respeito do processo de enriquecimento. Este é o papel da ideologia da classe economicamente dominante: legitimar a realidade do capital e esconder esta realidade que faz parte da luta de classes. A Igreja sempre tem uma postura como se estivesse acima da luta de classes que há na sociedade, pior, nela se diz que não existe a luta de classes nem na sociedade e muito menos dentro dela mesma. Diabólica ilusão! Não podemos mexer nos interesses da classe capitalista e de seus aliados, e a classe trabalhadora, como é que fica? Bem, esta que se vire! A gente faz de conta que não existem classes sociais em nossa sociedade e muito menos na igreja, pois todos somos irmãos e iguais na igreja. Se pessoas da classe trabalhadora são expulsas de suas casas para poderem ser construídos os estádios para a Copa ou para as Olimpíadas, paciência; se camponeses, mesmo de nossas comunidades, são expulsos pelas barragens, paciência; se os/as operários/as da Sadia, Marfrig, Aurora, etc. em cinco anos de trabalho tem LER, paciência; se trabalhadores são escravizados nas fazendas do agronegócio mesmo no oeste catarinense, paciência. Como Igreja a gente não fala disto e por isso isto não existe; nem na TV aparece, então não existe. Se uma comunidade nossa é atingida por alguma barragem então a única preocupação tem que ser se a igreja e o pavilhão vão ser indenizados o resto não é conosco, pensa-se, mesmo não o dizendo. A gente até defende os atingidos teoricamente porque a sua expulsão vai atingir também o orçamento da nossa paróquia e com isto a Contribuição vai aumentar para todos.

Lembro, como exemplo, a divisão da África feita em 1885 em Berlim onde o rei Leopoldo II da Bélgica tornou o Congo sua propriedade particular e dizimou a metade da população pelo assassinato e superexploração do trabalho, principalmente, na colheita da borracha. Os missionários cristãos durante a maior parte deste tempo não diziam nada e não denunciavam este genocídio (morreram 10 milhões de pessoas, o massacre foi maior que o Holocausto nazista) porque estavam apenas interessados em batizar os nativos e assim salvar a sua alma. Como disse uma irmã missionária: "As crianças mortas pelos soldados agora estão salvas no céu e são anjinhos que vão rezar pelo rei". Se dissessem algo sobre este genocídio seriam expulsos do Congo e não teriam a oportunidade de salvar as almas deste povo "pagão". Só que ninguém se lembrou de que quem deveria ser evangelizado era o rei Leopoldo II e seus funcionários belgas que tinham práticas assassinas pagãs. O que de qualquer forma não teria adiantado, pois Deus também enviou Moisés ao Faraó e este não se converteu porque a sua prática econômica não o permitira. Os capitalistas, por mais que ouçam o Evangelho, não se converterão porque a sua prática econômica não o permite. O máximo que farão (e é o que estão fazendo há séculos) é redimensionar o Evangelho para que este se adapte às demandas do capital, por isso precisam controlar a Igreja através da pequena burguesia e trabalhadores alienados. A Igreja estava interessada em salvar as almas enquanto isso o capitalismo estava matando literalmente os corpos do povo congolês. A Igreja simplesmente calou e com isto legitimou a dinâmica do capital. Assim é hoje. O Reino de Deus quer mudar a sociedade e a Igreja. Se a Igreja não mudar ela será contra esta nova sociedade que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. Historicamente sabemos que a Igreja sempre foi contra qualquer movimento que queria mudar a sociedade em bases igualitárias. A luta da Igreja e do Estado contra os chamados Movimentos Heréticos mostra isto. O Movimento Luterano (que era herético segundo o ponto de vista da Igreja Oficial) escapou do extermínio por causa da conjuntura da época. Recomendo ler o livro da editora Expressão Popular: A História do Socialismo e das Lutas Sociais de Max Beer, que começa com Moisés, passa pelos primeiros cristãos, pelas experiências igualitárias gregas, romanas e pelos movimentos cristãos igualitários (chamados de heréticos) da Idade Média até o início do século 20.
Aí é que entra a Igreja, como legitimadora desta realidade de superexploração do povo trabalhador, não falando desta realidade. A melhor forma de legitimar o capital é não falar da desumanidade e da diabolicidade dele.

Hoje o grosso da Igreja Cristã cala frente a escandalosa concentração da renda e da terra (onde 1,9% dos proprietários controlam 51% de todas as terras agriculturáveis do país - 228 milhões de hectares estão improdutivos, subutilizados e abaixo dos critérios de produtividade de 1975), a Igreja cala frente o massacre que acontece nos frigoríficos da carne, onde um trabalhador após 5 a 10 anos fica permanentemente inválido para o trabalho por causa da LER e com dores horríveis até o fim de sua vida (isto é realidade em nosso Sínodo Uruguai onde a Sadia recolheu aos cofres do INSS de 2003 a 2007 o total de 30 milhões de reais e em contrapartida o INSS gastou com a Sadia 170 milhões de reais devido ao custeio de aposentadorias precoces e auxílio doença de seus operários. O povo brasileiro, via INSS, gastou 140 milhões de reais para Sadia continuar matando seus trabalhadores de tanto trabalhar). "Cortar tarifa (da energia elétrica) é bom, mas é preciso ver como fazer isso para manter a integridade do lucro das empresas", diz Luiz Pinguelli Rosa, ex-presidente da Eletrobrás, ao comentar sobre a ação do governo Dilma em baixar a tarifa da energia elétrica. O fundamental no capitalismo é a "integridade do lucro das empresas" e não a integridade da vida humana dos atingidos pelas barragens que dão este lucro às empresas de energia elétrica. Sobre a violência que representa a expulsão dos camponeses ribeirinhos por causa dos empreendimentos das barragens nenhuma palavra, mas somente um repúdio ao fato destas empresas de energia elétrica terem o seu sagrado lucro reduzido um pouquinho e por isso já se fala em despedir milhares de empregados para poderem garantir a mesma margem de lucro, fazendo com que a peonada que sobrou trabalhe mais. Só para se ter uma idéia do lucro destas empresas lembro da CPFL que em 2009 teve um lucro de 1,3 bilhão de reais e em 2010 a Tractebel Energia lucrou 1,2 bilhões de reais e a Eletrobrás no mesmo ano lucrou 2,2 bilhões de reais. Isto não é coisa de Deus, é coisa do diabo. Por isso temos que dizer em alto e bom tom: O capitalismo é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus. Assim, a nossa tarefa é lutar contra o capitalismo, pois assim estaremos lutando contra o diabo e seus aliados na comunidade. A Igreja cristã que deveria organizar estes trabalhadores em conjunto com os sindicatos não o faz e assim age como os missionários no passado no Congo: 'não enxergamos nenhum massacre'. Enquanto isso, como Igreja, estamos apenas preocupados em "construir e animar comunidade", enquanto que a "matéria prima" desta comunidade é massacrada pelo capital industrial e do agronegócio com suas sementes transgências aliadas aos venenos que geram a cada ano mais 75 mil novos casos de câncer. A Igreja para não causar "confusão na comunidade" não clareia a luta de classes da sociedade e faz de conta que vivemos numa harmonia social. Não dá para mostrar o "câncer social", pois a pequena burguesia que controla a comunidade fica alarmada, pois isto ameaça e revela a imoralidade do lucro dos capitalistas e assim produz e reproduz este "câncer social" em aliança à dinâmica do grande capital, que todos chamam pelo nome pomposo de "Progresso e Desenvolvimento".

Outro espaço que nós obreiros/as deixamos para os outros, principalmente aos pentecostais fisiologistas, é a luta político partidária. São poucos os/as pastores/as que se candidatam para cargos eletivos, vereador, prefeito, deputado, senador. Por que? Porque as comunidades que tem uma formação teológica reduzida, por culpa da própria Igreja que não tem coragem de falar o que deveria falar, não permitem isto, com raras exceções. É bom lembrar que o ex-pastor presidente Kunert foi vereador e por isso, não só por isso, foi um bom pastor presidente em sua época, comparado com os outros. Quando a Igreja faz formação procura fazer formação "neutra", que de neutra não tem nada. Diz-se: Não podemos dizer como o mundo funciona porque o povo se assusta e nós espantamos o povo com a verdade. Aí preferimos contar estorinhas e fábulas e colhemos o que temos aí: a Reestruturação neolibral que é o projeto de igreja da pequena burguesia que acima de tudo quer defender o projeto do capital e adaptar o Evangelho às necessidades da reprodução do capital. Políticos da IECLB há muitos e em todos os partidos, a esmagadora maioria faz parte dos partidos que defendem o capitalismo. Políticos da IECLB de posturas de esquerda há poucos por causa de nossa formação teológica de direita que temos na Igreja. Não que seja de orientação de direita consciente e programada, mas é a tal formação "neutra" que acaba conduzindo para a direita porque não é claramente posicionada em favor da classe trabalhadora explorada pelo capital. Por que? Porque quem dá a linha teológica na comunidade é a direita (os capitalistas e seus representantes advindos da classe trabalhadora alienada) e não são os/as obreiros/as como diz no Regimento Interno da IECLB; obviamente há exceções. Se voltasse a ditadura hoje você veria com muita clareza quem a apoiaria. Mas a ditadura (civil-militar) está, no momento, em "stand by" porque o capitalismo vai bem obrigado, só se sentiu ameaçado em Honduras e no Paraguai. Quando a Ditadura do Capital se sentir ameaçada ela vem com tudo, sempre foi assim. Não se iludam. Ela produz dez Iraques e Afeganistãos se for necessário. Já fez isto no passado, porque não o faria novamente. Quem nos pendurará no pau de arara serão nossos atuais 'companheiros aliados' no governo e seus aliados e porta vozes na comunidade. Está na hora de termos um projeto claro de formação teológica para o nosso povo, sem meias verdades e subterfúgios ideológicos mal ditos e não expressos, que só favorecem a exploração e a opressão de nosso povo. Fazemos de conta que a nossa formação teológica, nos cursos que a Igreja oferece, não está perpassada por ideologia alguma, o que é demagogia pura e escamoteada. Fazemos de conta que estamos contentando gregos e troianos, mas na verdade estamos contentando o diabo. A Teologia da Cruz não escamoteia e esconde coisa alguma ela mostra como funciona a luta de classes e como é a realidade do mundo onde manda o 'príncipe do mundo' (Jo 12.31; 14.30; 16.11). Martin Luther diz na Tese 21 da Demonstração das Teses Debatidas no Capítulo de Heidelberg: "O teólogo da glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que é bom; o teólogo da cruz diz as coisas como elas são". Mas, ao que parece Teologia da Cruz é coisa lá do Lutero, não coisa da IECLB. Aqui vale o jeitinho brasileiro de sobreviver e este nada tem a ver com a Teologia da Cruz, tem a ver com a teologia da glória e da prosperidade. Uma Igreja que não consegue nem garantir a sua visibilidade externa via vestes litúrgicas e liturgia (que são normas básicas da Igreja, estou aqui novamente defendendo a estrutura) para ser reconhecida externamente como IECLB, como vai querer garantir uma Teologia da Cruz que enfrenta o 'príncipe deste mundo' de frente que usa o capital como seu mais forte instrumento de dominação real e ideológica?

O que a colegada diz? Ninguém lê os teus textos porque são muito extensos. Faça um resumo. Parece colegial que em vez de ler o livro, para aprender alguma coisa, procura seu resumo na internet para apresentá-lo na aula e acha que é muito esperto porque conseguiu enganar a professora. Vai ser um eterno alienado. Creio que a maioria da colegada não lê nada que vai além de três parágrafos e por isso estamos onde estamos como Igreja.

O Projeto de Igreja que queremos elaborar para a IECLB no Sínodo Uruguai vai fazer de conta que a luta de classes não existe ou vai enfrentar ela? Vai fazer de conta que não há luta de classes na Igreja ou vai clarear ela? Que ideologia/teologia tem este presbitério que sonega parte do Dízimo que deveria ser enviado ao Sínodo e ainda ameaça o/a pastor/a que quer por ordem na corrupção? Que teologia, a não ser a do deus capital, permite e legitima a corrupção dentro da Igreja como algo normal, pois é assim a dinâmica do capital? O Projeto de Igreja para o Sínodo Uruguai vai olhar toda a realidade em que vive o nosso povo ou vai apenas se preocupar em salvar a 'alma' deste povo (como os missionários no Congo no século 19, enquanto 10 milhões de pessoas eram massacradas pelos soldados nativos do rei Leopoldo II); se for isso: onde fica a vida abundante de Jo 10.10 que Jesus Cristo veio trazer?

É na práxis que a Igreja vai mostrar se é ou não evangélica (segundo o Evangelho do Reino de Deus anunciado e vivido por Jesus Cristo, o Deus encarnado na classe camponesa palestina que foi assassinado na cruz, no processo da luta de classes da época, pela Religião e pelo Estado à serviço do sistema econômico escravista romano). A Cruz de Cristo mostra a luta de classes dos tempos bíblicos (por isso na maioria das igrejas da IECLB não tem um crucifixo para que se possa esconder a luta de classes e os crucificados de hoje pelo capital) e nós hoje fazemos de conta que não há luta de classes nem na sociedade e nem na Igreja, santa ingenuidade (!) ou apenas fazemos de conta que não sabemos disto porque isto mostraria as feridas abertas pelo capital em nossa própria comunidade eclesial?
Um dia teremos que estudar e falar mais aprofundadamente das "Feridas abertas da nossa Igreja", como diria Eduardo Galeano.

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