As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias
dominantes, isto é, a classe que é a força material dominante da sociedade é,
ao mesmo tempo, sua força espiritual dominante. A classe que tem à sua
disposição os meios da produção material dispõe também dos meios da produção
espiritual, de modo que a ela estão submetidos aproximadamente ao mesmo tempo
os pensamentos daqueles aos quais faltam os meios da produção espiritual. As
ideias dominantes não são nada mais do que a expressão ideal das relações
materiais dominantes, são as relações materiais dominantes apreendidas como
ideias; portanto, são a expressão das relações que fazem de uma classe a classe
dominante, são as ideias de sua dominação. Os indivíduos que compõem a classe
dominante possuem, entre outras coisas, também consciência e, por isso, pensam;
na medida em que dominam como classe e determinam todo o âmbito de uma época
histórica, é evidente que eles o fazem em toda a sua extensão, portanto, entre
outras coisas, que eles dominam também como pensadores, como produtores de
ideias, que regulam a produção e a distribuição das ideias de seu tempo; e, por
conseguinte, que suas ideias são as ideias dominantes da época. Por exemplo,
numa época e num país em que o poder monárquico, a aristocracia e a burguesia
lutam entre si pela dominação, onde portanto a dominação está dividida, aparece
como ideia dominante a doutrina da separação dos poderes, enunciada então como
uma "lei eterna". Karl Marx. A Ideologia Alemã.
A questão de saber se cabe ao pensar humano uma verdade
objetiva - não é uma questão da teoria, mas sim uma questão prática. É na
práxis que o ser humano tem de provar a verdade, isto é, a realidade e o poder,
o caráter terreno de seu pensar. A controvérsia acerca da realidade ou não
realidade do pensar - que está isolada da práxis - é uma questão puramente escolástica.
2ª Tese - Teses
sobre Feuerbach. Karl Marx.
"Quando o povo está encurralado pelo Estado colonial, a
Igreja Católica não aparece. Mas quando o povo encurrala o Estado colonial, o
padre aparece, rezando pelos dirigentes. Eu vivi isso como dirigente
sindical". Evo Morales
Diz no noticiário sobre os últimos acontecimentos no
Paraguai: Até mesmo a Igreja Católica – ao menos a Igreja hierárquica – lugar
do qual saiu Lugo, o abandonou. Um dia após a sua deposição, a Igreja Católica
paraguaia já considerava Lugo uma página virada. O Vaticano foi o primeiro
Estado a reconhecer o novo governo. No dia seguinte após a sua posse o novo
presidente, Federico Franco, foi a uma missa campal na Praça das Armas, na
capital Assunção, e recebeu a comunhão. O núncio apostólico foi o primeiro
embaixador estrangeiro a se encontrar com Franco no dia 23 de junho, dia
seguinte à destituição de Lugo, e a foto do encontro foi amplamente divulgada
mundo afora, enquanto os países sul-americanos condenavam o golpe parlamentar.
"Aborreceis na porta ao que vos repreende e abominais o
que fala sinceramente. Portanto, visto que pisais o pobre e dele exigis
tributo de trigo, não habitareis nas casas de pedras lavradas que tendes
edificado; nem bebereis do vinho das vides desejáveis que tendes
plantado. Porque sei serem muitas as vossas transgressões e graves os
vossos pecados; afligis o justo, tomais suborno e rejeitais os necessitados na
porta. Portanto, o que for prudente guardará, então, silêncio, porque é
tempo mau." Amós 5.10-13
Parafraseando Amós eu diria: Aborreceis na reunião do
presbitério o/a pastor/a que vos repreende porque sonegais parte do Dízimo e
abominais o que vos chama justamente de corruptos porque roubais a Igreja de
nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, visto que explorais os trabalhadores a tal
forma de terem LER e ficarem impossibilitados para qualquer trabalho por causa
do ritmo de trabalho à eles impostos nos frigoríficos, indústrias e escritórios,
não habitareis nas mansões que tendes edificado; nem bebereis o champanha
importado da França nas festas do Ano Novo porque o povo trabalhador explorado,
a partir da fé em Jesus Cristo, vai se levantar contra vós e construir uma nova
sociedade de iguais e solidária: o Reino de Deus. Então o tempo mau terá
passado. Aleluia!
Qual a idéia (teologia) dominante na Igreja (qualquer Igreja
cristã)?
É a idéia da classe economicamente dominante que impõe a sua
ideologia, sua teologia, e sua prática de Igreja na Comunidade. Quando o
Evangelho se opõe à isto aquele que o prega é expulso da comunidade, se for
leigo é marginalizado (porque leigo não dá para expulsar assim no mais), se for
pastor/a é expulso no período da Avaliação ou da renovação do TAM, com outros
argumentos é claro, às vezes até claramente pelos argumentos das idéias da
classe economicamente dominante na sociedade porque o sujeito não se sujeitou
às determinações teológicas/ideológicas e práticas da classe economicamente
dominante, pois ameaçou o capital e a sua reprodução material e imaterial pela
pregação do Evangelho de Jesus Cristo.
A idéia dominante na comunidade
normalmente não vem do Evangelho de Jesus Cristo, cuja mensagem central é o
Reino de Deus (que propõe a construção de uma nova sociedade de irmãos e de
irmãs, sem classes sociais, portanto, uma sociedade não capitalista), mas vem
da dinâmica do capital, que produz o seu jeito de pensar e o impõe, normalmente
de forma velada, à toda a sociedade como sendo a idéia produzida por toda a
sociedade e como sendo a única explicação da realidade. Isto se chama de
Ditadura do Pensamento Único que é usada para legitimar a reprodução da
Ditadura do Capital. Politicamente vivemos numa democracia burguesa à serviço
da Ditadura do Capital, portanto, vivemos numa democracia de fachada, que
obviamente é melhor que a Ditadura civil-militar de 64. Vivemos no Estado de
Direito do Capital que vai abocanhar em 2013 o total de 42% do orçamento da
União, que são os juros e encargos da dívida interna e externa (mais 52,2
bilhões de reais do PAC e Minha Casa Minha Vida, para a educação sobram 38
bilhões de reais e 29,9 bilhões para o Brasil sem Miséria), melhorou porque
neste ano foram 47%.
Nós cristãos e cristãs batizados/as
em nome da Trindade temos outra explicação da realidade vivida neste mundo a
partir do Evangelho de Jesus Cristo. Este Evangelho diz que há outra proposta
de organização da vida e da sociedade, além da vigente, que Jesus Cristo chama
de Reino de Deus. O Reino de Deus é de Deus e não do mundo. O Reino de Deus vem
para fazer oposição ao reino do mundo e não só isto, mas para acabar com o
jeito de organizar a vida e a sociedade que o mundo propõe, no entanto a
maioria das pessoas da comunidade cristã defende primeiro o reino do mundo em
detrimento do Reino de Deus. Não conseguem entender que o reino do mundo, hoje
o capitalismo, é inimigo do Reino de Deus que Jesus Cristo veio para instaurar
em nome de Deus, como diz em Lc 4.43. Na verdade em Jesus Cristo, um camponês palestino
marginalizado sem terra e sem teto, o próprio Deus fez uma opção de classe para
instaurar o Reino de Deus. Deus em Jesus de Nazaré optou pela classe camponesa
oprimida e explorada pelo sistema econômico vigente para mudar radicalmente
esta organização social naquilo que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. Deus não
se fez pessoa na classe camponesa em Jesus de Nazaré para legitimar e reproduzir
o modo de produção vigente no Império Romano, mas para construir uma nova forma
de organização social onde as pessoas são irmãs e iguais. Por isso as pessoas
na igreja se chamam de irmãs porque querem construir uma nova sociedade de
irmãos e irmãs (esta é a nova criatura da qual fala Paulo 2 Co 5.17: "E,
assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já
passaram; eis que se fizeram novas".), portanto iguais o que requer que os
meios de produção esteja sob o controle de toda a sociedade o que obviamente
requer uma sociedade sem classes sociais e evidentemente sem Estado. "As
coisas antigas" das quais Paulo fala é o velho Modo de Produção Escravista
predominante no Império Romano. "Estar em Cristo" é começar na
prática a viver nesta nova sociedade que é o Reino de Deus que para ser
instaurado luta contra "as coisas antigas", o modo de produção
baseado em classes sociais antagônicas e em permanente luta, que no tempo de
Paulo era o Modo de Produção Escravista e hoje é o Modo de Produção Capitalista,
que igualmente está baseado me classes sociais antagônicas em luta permanente. O
Reino de Deus pressupõe uma sociedade sem classes sociais, por isso os que
lutam contra esta sociedade de classes já de forma antecipada se chamam de
irmãos para mostrar onde querem chegar: numa sociedade igualitária. Ao menos na
igreja já experimentamos com antecedência o que o Reino de Deus quer ser em sua
plenitude e o ponto alto disto é a Ceia do Senhor onde partilhamos comida e
bebida com todos os que crêem para mostrar como vai ser esta nova sociedade com
as novas criaturas em Cristo. Aí que a Teologia do Reino de Deus entra em
choque com a Ideologia capitalista que permeia as idéias e as teologias da
comunidade. Por isso é fundamental para a burguesia controlar a máquina eclesiástica,
vai que algum/a pastor/a se mete à besta e começa a falar que o capitalismo é
um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de
Deus! Aí como é que fica! O capitalismo fica deslegitimado e desmoralizado! Pau
na pastorada que se metem à besta!
Estou defendendo a pastorada à
qualquer custo? Não, estou denunciando apenas as dinâmicas que o capitalismo
usa para se reproduzir e que nós por causa de nossa ignorância (no sentido de
ignorar, não saber) não percebemos porque nunca fomos desafiados (ou temos
medo) a estudar o capitalismo. Estudamos teologia, mas não estudamos o mundo no
qual esta teologia vai ser vivida e pregada. Se lêssemos Lucas corretamente
veríamos que ele faz no início dos capítulos 2 e 3 uma breve análise de
conjuntura para mostrar em que realidade Javé se fez sua opção de classe num
camponês sem terra. Além do mais Jesus de Nazaré, o Deus encarnado na classe
camponesa, convive por trinta anos com estes camponeses até começar a pregar o
Evangelho do Reino de Deus. Por que? Para entender bem a realidade na qual e
para a qual vai evangelizar. Como acontece isto na IECLB? A pastorada é enviada
para uma paróquia sem explicação nenhuma e se vire, pressupondo-se que conheça
a realidade desta paróquia e do país Brasil. Parece-me que somente a simples
leitura do Evangelho não nos ajuda a entender as coisas porque nem este
aprendemos a ler direito, porque aprendemos a não ver as coisas concretas que
nele se diz. Precisamos de outros instrumentos para nos ensinar como se deve
ler a realidade. Por isso precisamos aprender o método de leitura da realidade que
Marx desenvolveu que revela como o capitalismo funciona para podermos
entendê-lo e combatê-lo. A igreja normalmente não quer nem saber do método de
leitura da realidade que Marx desenvolveu porque esta leitura vai mostrar que a
igreja normalmente está do lado errado no processo histórico da construção do
Reino de Deus, está normalmente do lado do diabo, que defende a reprodução do
capitalismo, o reino do mundo, e não do lado de Deus, que defende a construção
do Reino de Deus, uma nova sociedade não classista e igualitária. Nós vamos
entender melhor o Evangelho e a realidade na medida em que fizermos, como Deus
fez em Jesus de Nazaré, uma opção de classe. Pois vemos o mundo a partir de
onde temos os pés fincados, por isso Jesus nasceu na estrebaria (local de
trabalho, de vida e reprodução de vida do camponês) e não no palácio do rei
Herodes, como os magos achavam. Por que? Porque desde pequenos somos ensinados
a não ver as coisas como elas são. Achamos que conhecemos a realidade.
Normalmente não conhecemos nenhuma das duas realidades, nem da comunidade nem
do país. E para dentro desta realidade que não conhecemos queremos pregar o
Evangelho achando que as pessoas vivem nas nuvens fora da realidade de luta de
classes que há na sociedade. Para começar nem reconhecemos que há luta de
classes na sociedade e muito menos na igreja. Um membro uma vez disse ao
pastor: 'Vocês pastores não tem a mínima idéia de como nós membros pensamos'. Não
fazemos análise da realidade e com isso erramos em nossa prática, pois não
conhecemos a realidade na qual somos enviados para pregar o Evangelho do Reino
de Deus. Análise errada, prática errada. Aí o que acontece? Os presbíteros que
são raposas velhas e que controlam a paróquia há mais de 20 anos dão a linha de
nossa prática e com isso determinam nossa teologia, que por, às vezes, ser
parca não percebe o engodo em que fomos metidos. E porque somos medrosos
ficamos quietos e fazemos de conta que não está acontecendo nada quando
descobrimos que somos paus mandados a serviço do capital. Parece como na
guerra: matar e deixar matar para sobreviver.
Isto me lembra que no final dos
anos 80 no ex-DE Uruguai conseguiu-se articular as eleições dos presbitérios
que não tinham tendência de direita e quase havíamos alijado as raposas velhas da
ARENA do poder, mas aí vieram os anos 90 e o endireitamento teológico e quando
voltei em 2002 ao que sobrou do DE Uruguai, agora Sínodo Uruguai, vi com
espanto que as velhas raposas da ARENA dos anos 80 que haviam sido afastadas
via articulação nas paróquias, estavam todas de volta e continuam hoje firmes
nas paróquias e no Sínodo. Falta de clareza teológica dá nisso. Lênin diria: 'Sem teoria
revolucionária, não há movimento revolucionário'. Ou melhoramos e clareamos a nossa teologia ou
não avançaremos como Igreja. Em outras palavras estou dizendo: quem dá a linha
teológica nas paróquias é a ex-ARENA (em alguns lugares o PMDB ou PT arenizado),
agora travestida de muitas outras cores. Estes que no tempo da ditadura
denunciavam seus pastores para o Dops ou os expulsavam da paróquia por não apoiarem
a ditadura. Como canta o Cazuza: 'Meus inimigos estão no poder'. Isto nos
mostra que temos muita formação teológica, não neutra, pela frente para fazer
para que a teologia do Evangelho do Reino de Deus dê a linha ao trabalho
paroquial.
Em
se falando de ingenuidade (teológica), ou nem tanto, lembro de um membro que
veio da igreja católica, e foi um luterano de berço, que deu o seu testemunho
no Dia Sinodal da Igreja no ano passado; é de chorar. A colegada precisa se
informar melhor sobre a história dos membros que são chamados para darem seu
testemunho. É bom perguntar por aí para as pessoas quem é quem que a gente
descobre muita coisa torta que parece estar reta. Pessoas de Palmitos que
conheciam esta pessoa tiraram sarro do fato. Nós somos facilmente enrolados,
por sermos ingênuos e por não fazermos uma leitura correta da realidade erramos
na prática. Teoria fraca, prática fraca. Teoria errada, prática errada. Análise
errada, prática errada. Quem erra na análise, erra na prática.
Quem defende as idéias da classe
economicamente dominante na comunidade? Normalmente são os próprios
trabalhadores empobrecidos e embrutecidos pela dinâmica da reprodução do
capital que formam o presbitério da comunidade juntamente com a pequena burguesia.
Os grandes capitalistas nem se dignam a fazer parte do presbitério, eles tem
mais o que fazer para reproduzir o capital. São a pequena burguesia local e pessoas
da classe trabalhadora explorada (camponeses e operários) que representam as
idéias e concepções de mundo dos capitalistas no presbitério da comunidade e
defendem estas idéias como sendo as únicas possíveis e como se fossem suas se
esquecendo que o Evangelho de Jesus Cristo propõe idéias e práticas teológicas
opostas aos do capitalismo.
Como fazer com que o Evangelho de Jesus Cristo seja a idéia/teologia
dominante na comunidade? Chegamos ao cúmulo de ter que fazer esta pergunta.
Este é o desafio, também na construção de um Projeto de
Igreja para a IECLB.
Se o/a pastor/a disser
claramente que o Evangelho de Jesus Cristo se opõe ao capitalismo, pois propõe
outra forma de organizar a vida e a sociedade: o Reino de Deus, ele/a resistirá
por quanto tempo nesta comunidade e quem o/a defenderá? As leis da estrutura da
IECLB e ela própria defenderão este/a pastor/a que prega pura e retamente o
Evangelho e como o/a defenderá?
É a paróquia que escolhe o/a pastor/a e é a paróquia que o
demite. A Igreja já elaborou algumas leis para regularizar isto, pois
normalmente os/as pastores/as eram (e continuam sendo volta e meia) demitidos/as
de forma irregular. Hoje a paróquia já tem que levar o pedido de exoneração ao
Conselho Sinodal e esperar o parecer deste, mas normalmente a situação fica tão
tensa que a sugestão ao pastor/a é: não tem mais clima, cai fora. A forma mais
moderna agora, com a Reestruturação neoliberal, é esperar a renovação do TAM e
aí não se precisa justificar nada, apenas se diz que terminou o Termo de
Atividade Ministerial - TAM, muito obrigado e tchau. Soube que as últimas
vítimas da dupla dinâmica: TAM e Avaliação, foram os nossos colegas de Portão,
RS, certamente salvaram muito poucas almas, não foram santos o suficiente e não
se encaixaram nas normas de produtividade exigidas pela pequena burguesia que
controla ao aparato eclesiástico.
"É na práxis que o ser humano tem de provar a
verdade", diz Marx. E a práxis na Igreja tem sido pressionar o/a pastor/a
para que não pregue contra o capitalismo; simplesmente não deve abordar o tema.
Não abordar o tema é legitimá-lo, pois o capitalismo é o oposto do Reino de
Deus, por ser o reino do mundo, portanto instrumento do diabo. O que o
capitalismo produz de injustiça e exploração sobre a classe trabalhadora mostra
que ele não pode ser igual ao Reino de Deus e nem ser da vontade de Deus. Por
exemplo: tudo o que se produziu de riquezas nos anos de 2009 e 2010 nos USA o
1% mais rico da população ficou com 93% do total de riquezas produzidas e os
outros 99% da população ficaram com os 7% restante, diz a Revista Veja de 15 de
agosto de 2012. 58% dos estadunidenses concordam como sendo justo que os ricos
acumulem esta riqueza; no Brasil são 48% os que concordam que é justo os ricos
terem a riqueza que tem. Segundo dados de 2004, no Brasil, os 10% mais ricos
concentram em bens e riquezas, do total, 75% e os 25% restantes ficam com os
90% da população. Há algo mais escandaloso que isto? Tanto no que diz respeito
à acumulação da riqueza como no jeito de pensar da população à respeito do
processo de enriquecimento. Este é o papel da ideologia da classe
economicamente dominante: legitimar a realidade do capital e esconder esta
realidade que faz parte da luta de classes. A Igreja sempre tem uma postura
como se estivesse acima da luta de classes que há na sociedade, pior, nela se
diz que não existe a luta de classes nem na sociedade e muito menos dentro dela
mesma. Diabólica ilusão! Não podemos mexer nos interesses da classe capitalista
e de seus aliados, e a classe trabalhadora, como é que fica? Bem, esta que se
vire! A gente faz de conta que não existem classes sociais em nossa sociedade e
muito menos na igreja, pois todos somos irmãos e iguais na igreja. Se pessoas
da classe trabalhadora são expulsas de suas casas para poderem ser construídos os
estádios para a Copa ou para as Olimpíadas, paciência; se camponeses, mesmo de
nossas comunidades, são expulsos pelas barragens, paciência; se os/as
operários/as da Sadia, Marfrig, Aurora, etc. em cinco anos de trabalho tem LER,
paciência; se trabalhadores são escravizados nas fazendas do agronegócio mesmo
no oeste catarinense, paciência. Como Igreja a gente não fala disto e por isso
isto não existe; nem na TV aparece, então não existe. Se uma comunidade nossa é
atingida por alguma barragem então a única preocupação tem que ser se a igreja
e o pavilhão vão ser indenizados o resto não é conosco, pensa-se, mesmo não o
dizendo. A gente até defende os atingidos teoricamente porque a sua expulsão
vai atingir também o orçamento da nossa paróquia e com isto a Contribuição vai
aumentar para todos.
Lembro, como exemplo, a divisão da África feita em 1885 em
Berlim onde o rei Leopoldo II da Bélgica tornou o Congo sua propriedade
particular e dizimou a metade da população pelo assassinato e superexploração
do trabalho, principalmente, na colheita da borracha. Os missionários cristãos durante
a maior parte deste tempo não diziam nada e não denunciavam este genocídio
(morreram 10 milhões de pessoas, o massacre foi maior que o Holocausto nazista)
porque estavam apenas interessados em batizar os nativos e assim salvar a sua
alma. Como disse uma irmã missionária: "As crianças mortas pelos soldados
agora estão salvas no céu e são anjinhos que vão rezar pelo rei". Se
dissessem algo sobre este genocídio seriam expulsos do Congo e não teriam a
oportunidade de salvar as almas deste povo "pagão". Só que ninguém se
lembrou de que quem deveria ser evangelizado era o rei Leopoldo II e seus
funcionários belgas que tinham práticas assassinas pagãs. O que de qualquer
forma não teria adiantado, pois Deus também enviou Moisés ao Faraó e este não
se converteu porque a sua prática econômica não o permitira. Os capitalistas,
por mais que ouçam o Evangelho, não se converterão porque a sua prática
econômica não o permite. O máximo que farão (e é o que estão fazendo há
séculos) é redimensionar o Evangelho para que este se adapte às demandas do
capital, por isso precisam controlar a Igreja através da pequena burguesia e
trabalhadores alienados. A Igreja estava interessada em salvar as almas
enquanto isso o capitalismo estava matando literalmente os corpos do povo
congolês. A Igreja simplesmente calou e com isto legitimou a dinâmica do
capital. Assim é hoje. O Reino de Deus quer mudar a sociedade e a Igreja. Se a
Igreja não mudar ela será contra esta nova sociedade que Jesus Cristo chama de
Reino de Deus. Historicamente sabemos que a Igreja sempre foi contra qualquer
movimento que queria mudar a sociedade em bases igualitárias. A luta da Igreja
e do Estado contra os chamados Movimentos Heréticos mostra isto. O Movimento
Luterano (que era herético segundo o ponto de vista da Igreja Oficial) escapou
do extermínio por causa da conjuntura da época. Recomendo ler o livro da
editora Expressão Popular: A História do Socialismo e das Lutas Sociais de Max
Beer, que começa com Moisés, passa pelos primeiros cristãos, pelas experiências
igualitárias gregas, romanas e pelos movimentos cristãos igualitários (chamados
de heréticos) da Idade Média até o início do século 20.
Aí é que entra a Igreja, como legitimadora desta realidade
de superexploração do povo trabalhador, não falando desta realidade. A melhor
forma de legitimar o capital é não falar da desumanidade e da diabolicidade dele.
Hoje o grosso da Igreja Cristã cala frente a escandalosa
concentração da renda e da terra (onde 1,9% dos proprietários controlam 51% de
todas as terras agriculturáveis do país - 228 milhões de hectares estão
improdutivos, subutilizados e abaixo dos critérios de produtividade de 1975), a
Igreja cala frente o massacre que acontece nos frigoríficos da carne, onde um
trabalhador após 5 a 10 anos fica permanentemente inválido para o trabalho por
causa da LER e com dores horríveis até o fim de sua vida (isto é realidade em
nosso Sínodo Uruguai onde a Sadia recolheu aos cofres do INSS de 2003 a 2007 o
total de 30 milhões de reais e em contrapartida o INSS gastou com a Sadia 170
milhões de reais devido ao custeio de aposentadorias precoces e auxílio doença
de seus operários. O povo brasileiro, via INSS, gastou 140 milhões de reais
para Sadia continuar matando seus trabalhadores de tanto trabalhar). "Cortar
tarifa (da energia elétrica) é bom, mas é preciso ver como fazer isso para
manter a integridade do lucro das empresas", diz Luiz Pinguelli Rosa,
ex-presidente da Eletrobrás, ao comentar sobre a ação do governo Dilma em
baixar a tarifa da energia elétrica. O fundamental no capitalismo é a
"integridade do lucro das empresas" e não a integridade da vida
humana dos atingidos pelas barragens que dão este lucro às empresas de energia
elétrica. Sobre a violência que representa a expulsão dos camponeses
ribeirinhos por causa dos empreendimentos das barragens nenhuma palavra, mas
somente um repúdio ao fato destas empresas de energia elétrica terem o seu
sagrado lucro reduzido um pouquinho e por isso já se fala em despedir milhares
de empregados para poderem garantir a mesma margem de lucro, fazendo com que a
peonada que sobrou trabalhe mais. Só para se ter uma idéia do lucro destas empresas
lembro da CPFL que em 2009 teve um lucro de 1,3 bilhão de reais e em 2010 a Tractebel Energia lucrou 1,2 bilhões
de reais e a Eletrobrás no mesmo ano lucrou 2,2 bilhões de reais. Isto não é
coisa de Deus, é coisa do diabo. Por isso temos que dizer em alto e bom tom: O
capitalismo é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção
do Reino de Deus. Assim, a nossa tarefa é lutar contra o capitalismo, pois
assim estaremos lutando contra o diabo e seus aliados na comunidade. A Igreja
cristã que deveria organizar estes trabalhadores em conjunto com os sindicatos
não o faz e assim age como os missionários no passado no Congo: 'não enxergamos
nenhum massacre'. Enquanto isso, como Igreja, estamos apenas preocupados em
"construir e animar comunidade", enquanto que a "matéria
prima" desta comunidade é massacrada pelo capital industrial e do
agronegócio com suas sementes transgências aliadas aos venenos que geram a cada
ano mais 75 mil novos casos de câncer. A Igreja para não causar "confusão
na comunidade" não clareia a luta de classes da sociedade e faz de conta
que vivemos numa harmonia social. Não dá para mostrar o "câncer
social", pois a pequena burguesia que controla a comunidade fica alarmada,
pois isto ameaça e revela a imoralidade do lucro dos capitalistas e assim produz
e reproduz este "câncer social" em aliança à dinâmica do grande
capital, que todos chamam pelo nome pomposo de "Progresso e
Desenvolvimento".
Outro espaço que nós obreiros/as deixamos para os outros,
principalmente aos pentecostais fisiologistas, é a luta político partidária.
São poucos os/as pastores/as que se candidatam para cargos eletivos, vereador,
prefeito, deputado, senador. Por que? Porque as comunidades que tem uma
formação teológica reduzida, por culpa da própria Igreja que não tem coragem de
falar o que deveria falar, não permitem isto, com raras exceções. É bom lembrar
que o ex-pastor presidente Kunert foi vereador e por isso, não só por isso, foi
um bom pastor presidente em sua época, comparado com os outros. Quando a Igreja
faz formação procura fazer formação "neutra", que de neutra não tem
nada. Diz-se: Não podemos dizer como o mundo funciona porque o povo se assusta
e nós espantamos o povo com a verdade. Aí preferimos contar estorinhas e
fábulas e colhemos o que temos aí: a Reestruturação neolibral que é o projeto
de igreja da pequena burguesia que acima de tudo quer defender o projeto do
capital e adaptar o Evangelho às necessidades da reprodução do capital. Políticos
da IECLB há muitos e em todos os partidos, a esmagadora maioria faz parte dos
partidos que defendem o capitalismo. Políticos da IECLB de posturas de esquerda
há poucos por causa de nossa formação teológica de direita que temos na Igreja.
Não que seja de orientação de direita consciente e programada, mas é a tal
formação "neutra" que acaba conduzindo para a direita porque não é
claramente posicionada em favor da classe trabalhadora explorada pelo capital.
Por que? Porque quem dá a linha teológica na comunidade é a direita (os
capitalistas e seus representantes advindos da classe trabalhadora alienada) e
não são os/as obreiros/as como diz no Regimento Interno da IECLB; obviamente há
exceções. Se voltasse a ditadura hoje você veria com muita clareza quem a
apoiaria. Mas a ditadura (civil-militar) está, no momento, em "stand
by" porque o capitalismo vai bem obrigado, só se sentiu ameaçado em
Honduras e no Paraguai. Quando a Ditadura do Capital se sentir ameaçada ela vem
com tudo, sempre foi assim. Não se iludam. Ela produz dez Iraques e
Afeganistãos se for necessário. Já fez isto no passado, porque não o faria
novamente. Quem nos pendurará no pau de arara serão nossos atuais 'companheiros
aliados' no governo e seus aliados e porta vozes na comunidade. Está na hora de
termos um projeto claro de formação teológica para o nosso povo, sem meias
verdades e subterfúgios ideológicos mal ditos e não expressos, que só favorecem
a exploração e a opressão de nosso povo. Fazemos de conta que a nossa formação
teológica, nos cursos que a Igreja oferece, não está perpassada por ideologia
alguma, o que é demagogia pura e escamoteada. Fazemos de conta que estamos
contentando gregos e troianos, mas na verdade estamos contentando o diabo. A
Teologia da Cruz não escamoteia e esconde coisa alguma ela mostra como funciona
a luta de classes e como é a realidade do mundo onde manda o 'príncipe do
mundo' (Jo 12.31; 14.30; 16.11). Martin Luther diz na Tese 21 da
Demonstração das Teses Debatidas no Capítulo de Heidelberg: "O teólogo da
glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que é bom; o teólogo da cruz diz as
coisas como elas são". Mas, ao que parece Teologia da
Cruz é coisa lá do Lutero, não coisa da IECLB. Aqui vale o jeitinho brasileiro
de sobreviver e este nada tem a ver com a Teologia da Cruz, tem a ver com a
teologia da glória e da prosperidade. Uma Igreja que não consegue nem garantir
a sua visibilidade externa via vestes litúrgicas e liturgia (que são normas
básicas da Igreja, estou aqui novamente defendendo a estrutura) para ser
reconhecida externamente como IECLB, como vai querer garantir uma Teologia da Cruz
que enfrenta o 'príncipe deste mundo' de frente que usa o capital como seu mais
forte instrumento de dominação real e ideológica?
O que a colegada diz? Ninguém lê os teus textos porque são
muito extensos. Faça um resumo. Parece colegial que em vez de ler o livro, para
aprender alguma coisa, procura seu resumo na internet para apresentá-lo na aula
e acha que é muito esperto porque conseguiu enganar a professora. Vai ser um
eterno alienado. Creio que a maioria da colegada não lê nada que vai além de
três parágrafos e por isso estamos onde estamos como Igreja.
O Projeto de Igreja que queremos elaborar para a IECLB no
Sínodo Uruguai vai fazer de conta que a luta de classes não existe ou vai
enfrentar ela? Vai fazer de conta que não há luta de classes na Igreja ou vai
clarear ela? Que ideologia/teologia tem este presbitério que sonega parte do
Dízimo que deveria ser enviado ao Sínodo e ainda ameaça o/a pastor/a que quer
por ordem na corrupção? Que teologia, a não ser a do deus capital, permite e
legitima a corrupção dentro da Igreja como algo normal, pois é assim a dinâmica
do capital? O Projeto de Igreja para o Sínodo Uruguai vai olhar toda a
realidade em que vive o nosso povo ou vai apenas se preocupar em salvar a
'alma' deste povo (como os missionários no Congo no século 19, enquanto 10
milhões de pessoas eram massacradas pelos soldados nativos do rei Leopoldo II);
se for isso: onde fica a vida abundante de Jo 10.10 que Jesus Cristo veio
trazer?
É na práxis que a Igreja vai mostrar se é ou não evangélica
(segundo o Evangelho do Reino de Deus anunciado e vivido por Jesus Cristo, o
Deus encarnado na classe camponesa palestina que foi assassinado na cruz, no
processo da luta de classes da época, pela Religião e pelo Estado à serviço do
sistema econômico escravista romano). A Cruz de Cristo mostra a luta de classes
dos tempos bíblicos (por isso na maioria das igrejas da IECLB não tem um
crucifixo para que se possa esconder a luta de classes e os crucificados de
hoje pelo capital) e nós hoje fazemos de conta que não há luta de classes nem
na sociedade e nem na Igreja, santa ingenuidade (!) ou apenas fazemos de conta
que não sabemos disto porque isto mostraria as feridas abertas pelo capital em
nossa própria comunidade eclesial?
Um dia teremos que estudar e falar mais aprofundadamente das
"Feridas abertas da nossa Igreja", como diria Eduardo Galeano.
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