4 de maio de 2012

Discurso Diante do Tumulo de Karl Marx



Friedrich Engels
17 de Março de 1883

A 14 de Março, um quarto para as três da tarde, o maior pensador vivo deixou de pensar. Deixado só dois minutos apenas, ao chegar, encontrámo-lo tranquilamente adormecido na sua poltrona — mas para sempre.

O que o proletariado combativo europeu e americano, o que a ciência histórica perderam com [a morte de] este homem não se pode de modo nenhum medir. Muito em breve se fará sentir a lacuna que a morte deste [homem] prodigioso deixou.

Assim como Darwin descobriu a lei do desenvolvimento da Natureza orgânica, descobriu Marx a lei do desenvolvimento da história humana: o simples facto, até aqui encoberto sob pululâncias ideológicas, de que os homens, antes do mais, têm primeiro que comer, beber, abrigar-se e vestir-se, antes de se poderem entregar à política, à ciência, à arte, à religião, etc; de que, portanto, produção dos meios de vida materiais imediatos (e, com ela, o estádio de desenvolvimento económico de um povo ou de um período de tempo) forma a base, a partir da qual as instituições do Estado, as visões do Direito, a arte e mesmo as representações religiosas dos homens em questão, se desenvolveram e a partir da qual, portanto, das têm também que ser explicadas — e não, como até agora tem acontecido, inversamente.

Mas isto não chega. Marx descobriu também a lei específica do movimento do modo de produção capitalista hodierno e da sociedade burguesa por ele criada. Com a descoberta da mais-valia fez-se aqui de repente luz, enquanto todas as investigações anteriores, tanto de economistas burgueses como de críticos socialistas, se tinham perdido na treva.

Duas descobertas destas deviam ser suficientes para uma vida. Já é feliz aquele a quem é dado fazer apenas uma de tais [descobertas]. Mas, em todos os domínios singulares em que Marx empreendeu uma investigação — e estes domínios foram muitos e de nenhum deles ele se ocupou de um modo meramente superficial —, em todos, mesmo no da matemática, ele fez descobertas autónomas.

Era, assim, o homem de ciência. Mas isto não era sequer metade do homem. A ciência era para Marx uma força historicamente motora, uma força revolucionária. Por mais pura alegria que ele pudesse ter com uma nova descoberta, em qualquer ciência teórica, cuja aplicação prática talvez ainda não se pudesse encarar — sentia uma alegria totalmente diferente quando se tratava de uma descoberta que de pronto intervinha revolucionariamente na indústria, no desenvolvimento histórico em geral. Seguia, assim, em pormenor o desenvolvimento das descobertas no domínio da electricidade e, por último, ainda as de Mare Deprez.
Pois, Marx era, antes do mais, revolucionário. Cooperar, desta ou daquela maneira, no derrubamento da sociedade capitalista e das instituições de Estado por ela criadas, cooperar na libertação do proletariado moderno, a quem ele, pela primeira vez, tinha dado a consciência da sua própria situação e das suas necessidades, a consciência das condições da sua emancipação — esta era a sua real vocação de vida. A luta era o seu elemento. E lutou com uma paixão, uma tenacidade, um êxito, como poucos. A primeira Rheinische Zeitung em 1842, o Vorwärts! de Paris em 1844, a Brüsseler Deutsche Zeitung em 1847, a Neue Rheinische Zeitung em 1848-1849, o New-York Tribune em 1852-1861 — além disto, um conjunto de brochuras de combate, o trabalho em associações em Paris, Bruxelas e Londres, até que finalmente a grande Associação Internacional dos Trabalhadores surgiu como coroamento de tudo — verdadeiramente, isto era um resultado de que o seu autor podia estar orgulhoso, mesmo que não tivesse realizado mais nada.

E, por isso, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado do seu tempo. Governos, tanto absolutos como republicanos, expulsaram-no; burgueses, tanto conservadores como democratas extremos, inventaram ao desafio difamações acerca dele. Ele punha tudo isso de lado, como teias de aranha, sem lhes prestar atenção, e só respondia se houvesse extrema necessidade. E morreu honrado, amado, chorado, por milhões de companheiros operários revolucionários, que vivem desde as minas da Sibéria, ao longo de toda a Europa e América, até à Califórnia; e posso atrever-me a dizê-lo: muitos adversários ainda poderia ter, mas não tinha um só inimigo pessoal.

O seu nome continuará a viver pelos séculos, e a sua obra também!

http://www.marxists.org/portugues/marx/1883/03/22.htm


Karl Marx

Friedrich Engels
Junho de 1877

O homem que primeiro deu ao socialismo — e, com ele, a todo o movimento operário dos nossos dias — uma base científica, Karl Marx, nasceu em Trier em 1818. Ele estudou em Bonn e em Berlim, em primeiro lugar, ciências jurídicas, mas, em breve, se dedicou exclusivamente ao estudo da história e da filosofia e, em 1842, estava a ponto de concorrer para professor [Dozent] de filosofia [na Universidade], quando o movimento político surgido após a morte de Frederico III o atirou para outra carreira. Com a colaboração dele, os cabecilhas da burguesia liberal renana — os Camphausen, Hansemann, etc. — fundaram, em Colónia, a Rheinische Zeitung[N47], e Marx, cuja crítica dos debates do Landtag provincial renano tinha causado grande sensação, foi, no Outono de 1842, posto à frente da folha. A Rheinische Zeitung publicava-se, naturalmente, sob censura, mas a censura não conseguia fazer nada dela. A Rheinische Zeitung quase sempre fazia passar os artigos que convinha; atira-va-se primeiro ao censor palha da mais insignificante para cortar, até que ele desistia por si próprio ou era forçado à desistência pela ameaça de que a gazeta se não publicaria no dia seguinte. Houvesse dez gazetas que tivessem a mesma coragem do que a Rheinische e cujos editores tivessem deixado gastar uns centos de táleres mais em custos de composição — e a censura na Alemanha teria sido tornada impossível já em 1843. Mas, os donos dos jornais alemães eram pequeno-burgueses [Spiessbürger] mesquinhos, timoratos, e a Rheinische Zeitung travava a luta sozinha. Ela consumia censor atrás de censor; finalmente, foi censurada duplamente, de modo tal que, depois da primeira censura, o Regierungspräsident tinha, mais uma vez e definitivamente, de a censurar. Isto também não serviu. Nos começos de 1843, o governo declarou que não conseguia fazer nada deste jornal e suprimiu-o sem mais.

Marx — que, entretanto, se casara com a irmã do posteriormente ministro da reacção von Westphalen — mudou-se para Paris e editou aí, com A. Ruge, os Deutsch-Französische Jahrbúcher, nos quais ele inaugurou a série dos seus escritos socialistas com uma Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie. Além disso, com F. Engels: Die heilige Familie. Gegen Bruno Bauer und Consorten, uma crítica satiríca de uma das últimas formas a que o idealismo filosófico alemão de então tinha ido dar.

O estudo da economia política e da história da grande Revolução Francesa ainda deixou sempre tempo a Marx para ataques ocasionais ao governo prussiano; este vingou-se, na Primavera de 1845, ao conseguir, junto do ministério Guizot — o senhor Alexander von Humboldt deve ter feito de intermediário —, a sua expulsão de França. Marx transferiu a sua residência para Bruxelas e publicou aí em língua francesa em 1848 um Discours sur le libre échange [Discurso sobre o Livre-Câmbio] e, em 1847: Misère de la philosophie [Miséria da Filosofia], uma crítica da Philosophie de la misère [Filosofia da Miséria] de Proudhon. Simultaneamente, encontrou oportunidade para fundar em Bruxelas uma Associação Operária Alemã e entrou, desse modo, na agitação prática. Esta tornou-se para ele ainda mais importante desde que ele e os seus amigos políticos entraram, em 1847, na Liga secreta dos Comunistas que existia já há longos anos. A organização [Einrichtung] toda foi, então, revolucionada; a união [Verbindung], até então mais ou menos conspiratória, transformou-se numa simples organização [Organisation] — secreta, apenas por necessidade —, a primeira organização do Partido Social-Democrata alemão. A Liga existia onde quer que existissem associações operárias alemãs; quase em todas estas associações de Inglaterra, da Bélgica, da França e da Suíça e em muitas associações da Alemanha, os membros dirigentes pertenciam à Liga e a quota-parte da Liga no movimento operário alemão que surgia foi muito significativa. Mas, além disso, a nossa Liga foi a primeira que pôs em evidência o carácter internacional do movimento operário todo e também o provou praticamente, tendo como membros: ingleses, belgas, húngaros, polacos, etc, e organizando, nomeadamente, em Londres, reuniões internacionais de operários.

A reorganização da Liga completou-se em dois congressos que se realizaram no ano de 1847, o segundo dos quais decidiu a elaboração e publicação das bases do Partido num manifesto a redigir por Marx e Engels. Nasceu assim o Manifesto do Partido Comunista, que se publicou, pela primeira vez, em 1848, pouco antes da revolução de Fevereiro e que, desde então, foi traduzido em quase todas as línguas europeias.

A Deutsche-Brüsseler Zeitung, em que Marx participava e onde a beatitude da policial pátria era impiedosamente posta a nu, levou de novo o governo prussiano a agir para a expulsão de Marx, mas em vão. Quando, porém, a revolução de Fevereiro teve por consequência, em Bruxelas também, movimentos populares e parecia iminente uma reviravolta [Umschwung] na Bélgica, o governo belga prendeu Marx sem cerimónias e expulsou-o. Entretanto, o governo provisório de França, através de Flocon, tinha-o convidado a voltar de novo a Paris e ele aceitou esse convite.

Em Paris, contrapôs-se, antes de tudo, à tontice que se propagava entre os alemães de lá e que pretendia, em França, formar os operários alemães em legiões armadas e, desse modo, introduzir na Alemanha revolução e república. Por um lado, a Alemanha tinha de fazer a sua própria revolução e, por outro lado, toda a legião revolucionária estrangeira que se formasse em França era de antemão denunciada pelos Lamartine do governo provisório ao governo a derrubar, como também acontecera na Bélgica e em Baden.

Após a revolução de Março 54, Marx foi para Colónia e fundou lá a Neue Rheinische Zeitung, que existiu de 1 de Junho de 1848 até 19 de Maio de 1849 — a única folha que, no interior do movimento democrático de então, representava o ponto de vista do proletariado e isto já através da sua tomada de partido sem reservas a favor dos insurrectos de Junho parisienses de 1848, que fez desertar da folha quase todos os seus accionistas. Em vão aludiu a Kreuz-Zeitung à «insolência de Chimborazo» com que a Neue Rheinische Zeitung atacava tudo o que era sagrado, desde o rei e do vigário do Império [Reichsverweser] até aos gendarmes, e isto numa fortaleza prussiana com uma guarnição de 8000 homens; em vão se inflamou o filistério [Philisterium] renano liberal, tornado de repente reaccionário; em vão o estado de sítio de Colónia suspendeu a folha, no Outono de 1848, durante muito tempo; em vão denunciou o ministério imperial da justiça, de Frankfurt, artigo sobre artigo ao procurador de justiça de Colónia, para instauração de processo judicial; a folha continuou calmamente a ser redigida e impressa, sob os olhos do posto principal da guarda [Hauptwache], a expansão e a reputação da gazeta cresceram com a veemência dos ataques ao governo e à burguesia. Quando o golpe de Estado prussiano ocorreu, em Novembro de 1848, a Rheinische Zeitung apelou, no cabeçalho de cada número, ao povo para que se recusasse [a pagar] impostos e para que ripostasse à força com a força. Na Primavera de 1849, por isto, assim como por causa de um outro artigo, foi levada perante os jurados, sendo absolvida de ambas as vezes. Finalmente, quando as insurreições de Maio de 1849, em Dresden e na Província Renana, foram reprimidas e a campanha prussiana contra a insurreição de Baden-Palatinado foi inaugurada pela concentração e mobilização de massas significativas de tropa, o governo achou-se suficientemente forte para suprimir pela força a Neue Rheinische Zeitung. O último número — impresso a vermelho — publicou-se a 19 de Maio.

Marx foi de novo para Paris, mas, logo poucas semanas após a manifestação do 13 de Junho de 1849, foi posto pelo governo francês perante a opção de estabelecer a sua residência na Bretanha ou de abandonar a França. Ele preferiu a última e instalou-se em Londres, onde, desde então, tem residido ininterruptamente.

Uma tentativa para continuar a fazer publicar (em 1850) a Neue Rheinische Zeitung sob a forma de uma revista (em Hamburgo) teve de ser abandonada, depois de algum tempo, em virtude da reacção se conduzir de um modo cada vez mais violento. Logo após o golpe de Estado em França, em Dezembro de 1851, Marx publicou: O 18 de Brumário de Louis Bonaparte (New York, 1852; segunda edição em Hamburgo, em 1869, pouco antes da guerra). Em 1853, ele escreveu: Revelações sobre o Processo dos Comunistas de Colônia (impresso primeiro em Basileia, mais tarde em Boston, recentemente de novo em Leipzig).

Depois da condenação dos membros da Liga dos Comunistas em Colônia, Marx retirou-se da agitação política e dedicou-se, por um lado, durante dez anos, à exploração dos ricos tesouros que a biblioteca do Museu Britânico oferece no domínio da economia política, e, por outro lado, à colaboração no New-York Tribune, que até à deflagração da guerra civil americana trouxe não apenas correspondências assinadas por ele, mas também inúmeros artigos de fundo sobre as condições na Europa e na Ásia saídos da sua pena. Os seus ataques contra Lord Palmerston, fundados num estudo exaustivo de documentos oficiais ingleses, foram reimpressos em Londres como panfleto.

Como primeiro fruto dos seus estudos económicos de longos anos, apareceu, em 1859: Para a Crítica da Economia Política, primeiro fascículo (Berlin, Duncker). Este escrito contém a primeira exposição seguida da teoria do valor de Marx, incluindo a doutrina do dinheiro. Durante a guerra italiana, Marx combateu, no jornal alemão Das Volk, que se publicava em Londres, o bonapartismo, que nessa altura se coloria de liberal e brincava aos libertadores de nacionalidades oprimidas, assim como a política prussiana da altura que, sob o manto da neutralidade, procurava pescar em águas turvas. Nesta oportunidade, o senhor Karl Vogt tinha também que ser atacado, ele que, nessa altura, por ordem do príncipe Napoléon (Plon-Plon) e a soldo de Louis-Napoléon fazia agitação a favor da neutralidade e mesmo da simpatia da Alemanha. Coberto por Vogt com as calúnias mais infames e cientemente mentirosas, Marx respondeu em: Herr Vogt [O Senhor Vogt], London, 1860, onde Vogt e os restantes senhores do bando imperialista de falsos democratas foram desmascarados e Vogt acusado, a partir de fundamentos externos e internos, de suborno [pago] pelo Império de Dezembro [Dezemberkaisertum]. Exactamente dez anos mais tarde veio a confirmação: na lista dos mercenários bonapartistas, encontrada nas Tulherias em 1870 e publicada pelo governo de Setembro, encontra-se na letra V: «Vogt — em Agosto de 1859 foram-lhe entregues... 40 000 francos».

Finalmente, em 1867, apareceu em Hamburgo: Das Kapital. Kritik der politischen Oekonomie. Erster Band [O Capital. Crítica da Economia Política. Primeiro Volume] — a obra principal de Marx, que expõe as bases das suas perspectivas [Anschauungen] económico-socialistas e as linhas principais da sua crítica da sociedade existente, do modo de produção capitalista e das suas consequências. A segunda edição desta obra que faz época apareceu em 1872; o autor ocupa-se [presentemente] com a elaboração do segundo volume.

Entretanto, nos diversos países da Europa, o movimento operário tinha-se fortalecido de novo tanto que Marx pôde pensar em levar a cabo um desejo de há muito alimentado: a fundação de uma associação operária abarcando os países mais progressistas da Europa e América, que devia demonstrar, por assim dizer, corporalmente, o carácter internacional do movimento socialista tanto aos próprios operários como aos burgueses e aos governos — para encorajamento e fortalecimento do proletariado e para terror dos seus inimigos. Uma reunião popular a favor da Polónia — precisamente então oprimida de novo pela Rússia — realizada em 28 de Setembro de 1864 em St. Martins Hall em Londres, forneceu a ocasião de avançar com a coisa, que foi tomada com entusiasmo. Foi fundada a Associação Internacional dos Trabalhadores; foi eleito na reunião um Conselho Geral provisório com sede em Londres, e a alma desse [conselho], bem como de todos os conselhos gerais seguintes até ao Congresso da Haia, foi Marx. Foram redigidas por ele quase todas as peças escritas publicadas pelo Conselho Geral da Internacional, desde a Mensagem Inaugural de 1864 até à mensagem sobre a guerra civil em França, de 1871. Descrever a actividade de Marx na Internacional significaria escrever a história dessa mesma associação que, de resto, vive ainda na memória dos operários europeus.

A queda da Comuna de Paris levou a Internacional a uma situação impossível. Ela era empurrada para o primeiro plano da história europeia, num momento em que, por toda a parte, lhe era cortada a possibilidade de qualquer acção prática bem sucedida. Os acontecimentos que a elevaram a sétima grande potência impediram-na, ao mesmo tempo, de mobilizar as suas forças de combate e de as empregar activamente, sob pena de derrota inevitável e de retrocesso do movimento operário por decénios. Além disso, de diversos lados, empurraram-se para a frente elementos que procuravam explorar a reputação tão subitamente acrescida da Associação para fins de vaidade pessoal ou de ambição pessoal, sem compreensão da situação real da Internacional ou sem atender a ela. Tinha que ser tomada uma decisão heróica, e foi de novo Marx que a tomou e a levou a cabo no Congresso da Haia. A Internacional, numa resolução solene, declarou-se livre de qualquer responsabilidade pelas manobras dos bakuninistas, que formavam o centro daqueles elementos desra-zoáveis e sujos; então, em presença da impossibilidade de corresponder, face à reacção geral, às exigências crescentes que também lhe eram postas e de manter a sua plena eficácia de outro modo que não fosse por uma série de sacrifícios em que o movimento operário teria tido de morrer de hemorragia — em presença desta situação, a Internacional retirou-se provisoriamente da cena, ao transferir o Conselho Geral para a América. O que se seguiu demonstrou como esta resolução — na altura e desde então frequentemente reprovada — era correcta. Por um lado, embotaram-se — e continuaram embotadas — todas as tentativas para fazer golpes [Putsche] inúteis em nome da Internacional; por outro lado, porém, o íntimo intercâmbio contínuo entre os partidos operários socialistas dos diversos países provou que a consciência da igualdade de interesses e da solidariedade do proletariado de todos os países, desperta pela Internacional, sabe manter a sua validade, mesmo sem o vínculo — tornado, de momento, uma peia — de uma associação internacional em forma.

Depois do Congresso da Haia, Marx encontrou finalmente de novo tempo e vagar para retomar os seus trabalhos teóricos e espera-se que dentro de não muito mais tempo possa entregar para impressão o segundo volume do Capital.

Das muitas descobertas importantes com que Marx inscreveu o seu nome na história da ciência, podemos aqui pôr em evidência apenas duas.

A primeira é o revolucionamento, por ele completado, em toda a concepção da história mundial. Toda a visão da história até aqui repousava sobre a representação de que era de procurar os fundamentos últimos de todas as mudanças históricas nas ideias, que mudam, dos homens, e que, de todas as mudanças históricas, de novo, as políticas seriam as mais importantes, dominando toda a história. De onde vêm, porém, aos homens as ideias e quais são as causas motoras das mudanças políticas, por isso nunca se tinha perguntado. Só à escola mais moderna de historiógrafos franceses e, em parte, também à dos ingleses se impôs a convicção de que, pelo menos, desde a Idade Média, na história europeia, a força motora foi a luta da burguesia, que se desenvolvia, contra a nobreza feudal pela dominação social e política. Ora, Marx demonstrou que toda a história até aqui é uma história de lutas de classes, que em todas as múltiplas e complexas lutas políticas se trata apenas da dominação social e política de classes da sociedade, da manutenção da dominação pelo lado das classes mais antigas, da conquista da dominação pelo lado das classes recentemente ascendentes. Mas, por que nascem e continuam a existir estas classes? Pelas condições materiais, grosseiramente sensíveis, de cada altura, em que a sociedade, num dado tempo, produz e troca o sustento da sua vida. A dominação feudal da Idade Média repousava sobre a economia auto-suficiente de pequenas comunidades de camponeses, produzindo elas próprias quase tudo o que lhes era necessário, quase sem troca, às quais a nobreza belicosa concedia protecção contra o exterior e coesão nacional ou, pelo menos, política; quando vieram as cidades e, com elas, uma indústria oficinal separada e um intercâmbio comercial — primeiro, no espaço do país, mais tarde: internacional —, a burguesia citadina desenvolveu-se e conquistou para si, em luta com a nobreza, ainda na Idade Média, a sua inserção como estado [Stand] igualmente privilegiado na ordem feudal. Mas, com a descoberta da Terra extra-europeia, a partir de meados do século quinze, esta burguesia adquiriu um campo de comércio muito mais abrangente e, com isso, um novo acicate para a sua indústria; nos ramos mais importantes, a oficina artesanal [Handwerk] foi suplantada pela manufactura já fabril e esta foi-o de novo pela grande indústria, tornada possível pelas invenções do século anterior, nomeadamente, a máquina a vapor, [grande indústria essa] que, de novo, retroagiu sobre o comércio, ao suplantar, nos países que tinham ficado para trás, o antigo trabalho manual e ao criar, nos mais desenvolvidos, os presentes novos meios de comunicação: máquinas a vapor, caminhos-de-ferro, telégrafos eléctricos. A burguesia reuniu, assim, cada vez mais, as riquezas sociais e o poder social nas suas mãos, enquanto, durante longo tempo ainda, permaneceu excluída do poder político que se encontrava nas mãos da nobreza e da realeza apoiada pela nobreza. Mas, num certo estádio — em França, desde a grande revolução —, ela conquistou também este [poder político] e, pelo seu lado, tornou-se, então, classe dominante face ao proletariado e aos pequenos camponeses. A partir deste ponto de vista — com conhecimento suficiente da situação económica da sociedade de cada altura, o qual falta, sem dúvida, totalmente aos nossos historiógrafos de profissão — explicam-se todos os fenómenos históricos da maneira mais simples e explicam-se, do mesmo modo, de maneira sumamente simples as representações e ideias de cada período da história, a partir das condições económicas de vida e das relações sociais e políticas desse período, por aquelas por sua vez condicionadas. A história foi pela primeira vez colocada sobre as suas bases reais; o facto palpável, mas sobre o qual até aqui se passou totalmente por cima, de que os homens, antes de tudo, têm de comer, beber, abrigar-se e vestir-se, portanto, têm que trabalhar, antes de poderem lutar pela dominação, fazer política, religião, filosofia, etc. — este facto palpável acedeu agora finalmente ao seu direito histórico.

Para a visão socialista, porém, esta nova concepção da história teve o maior significado. Ela demonstrou que toda a história até aqui se move em oposições de classes e lutas de classes, que sempre houve classes dominantes e dominadas, exploradoras e exploradas e que a grande maioria dos homens sempre esteve condenada a trabalho duro e pouca fruição. Porquê isto? Simplesmente porque, em todos os estádios anteriores do desenvolvimento da humanidade, a produção estava ainda tão pouco desenvolvida que o desenvolvimento histórico só podia ocorrer nesta forma oposicional, que o progresso histórico, grosso modo, estava remetido à actividade de uma pequena minoria privilegiada, enquanto a grande massa permanecia condenada a conseguir pelo seu trabalho o magro sustento da vida para si e, além disso ainda, para os privilegiados que se tornavam sempre mais ricos. Mas, a mesma investigação da história que, desta maneira, explica natural e racionalmente a dominação das classes até aqui — de outro modo só explicável a partir da maldade dos homens — leva também à compreensão [Einsicht] de que, em consequência das forças de produção [Produktionskräfte], tão colossalmente aumentadas, do presente, se desvaneceu também o último pretexto para uma separação dos homens em dominantes e dominados, exploradores e explorados, pelo menos, nos países que mais progrediram; de que a grande burguesia dominante [já] cumpriu a sua vocação histórica, de que não está mais à altura da direcção [Leitung] da sociedade e se tornou mesmo um obstáculo para o desenvolvimento da produção, como as crises comerciais e, nomeadamente, o último grande craque[N46], e a situação deprimida da indústria em todos os países demonstram; de que a direcção histórica passou para o proletariado, uma classe que, por toda a sua situação na sociedade, só se pode libertar se, em geral, eliminar toda a dominação de classe, toda a servidão e toda a exploração; e de que as forças produtivas [Produktivkräfte] sociais que extravasam das mãos da burguesia apenas anseiam pela tomada de posse [delas] pelo proletariado associado para estabelecerem um estado [de coisas] que possibilite a cada membro da sociedade a participação, não apenas na produção, mas também na repartição e administração das riquezas sociais e que aumente de tal modo as forças produtivas sociais e os seus rendimentos [Erträge], pela exploração planificada de toda a produção, que a satisfação de todas as necessidades racionais de cada um permaneça assegurada numa medida sempre crescente.

A segunda descoberta importante de Marx é o esclarecimento [Aufklärung] definitivo da relação de capital e trabalho, por outras palavras, a demonstração de como, na sociedade actual, no modo de produção capitalista existente, se completa a exploração [Ausbeutung] do operário pelo capitalista. Desde que a economia política estabeleceu o princípio de que o trabalho é a fonte de toda a riqueza e de todo o valor, tornara-se inevitável a pergunta: como é, então, conciliável com isso que o operário assalariado não receba toda a soma de valor criada pelo seu trabalho, mas tenha de entregar uma parte dela ao capitalista? Tanto os economistas burgueses como os socialistas se esforçaram por dar uma resposta cientificamente sólida à pergunta, mas em vão, até que finalmente Marx avançou com a solução. Esta solução é a seguinte: o modo de produção capitalista hodierno tem por pressuposto a existência de duas classes da sociedade; de um lado, os capitalistas, que se encontram na posse dos meios de produção e dos meios de vida e, do outro lado, os proletários que, excluídos dessa posse, apenas têm para vender uma única mercadoria: a sua força de trabalho; e que, portanto, têm que vender esta sua força de trabalho para ficarem de posse de meios de vida. O valor de uma mercadoria é, porém, determinado pela quantidade de trabalho socialmente necessário incorporado na sua produção, portanto, também na sua reprodução; o valor da força de trabalho de um homem médio durante um dia, mês, ano, [é determinado], portanto, pela quantidade de trabalho que está incorporada na quantidade de meios de vida necessária para a manutenção desta força de trabalho durante um dia, mês, ano. Se admitirmos que os meios de vida do operário, para um dia, requerem seis horas de trabalho para a sua produção ou, o que é o mesmo, que o trabalho neles contido representa uma quantidade de trabalho de seis horas — então o valor da força de trabalho por um dia exprime-se numa soma de dinheiro que igualmente incorpora em si seis horas de trabalho. Se admitirmos, além disso, que o capitalista que emprega o nosso operário lhe paga essa soma, [paga-lhe], portanto, o valor completo da sua força de trabalho. Se, agora, o operário trabalha seis horas do dia para o capitalista, ele reembolsou de novo completamente esse seu desembolso — seis horas de trabalho por seis horas de trabalho. Com isto, não ficava por certo nada para o capitalista e este concebe por isso a coisa de uma maneira totalmente diferente: Eu comprei, diz ele, a força de trabalho deste operário, não por seis horas, mas por um dia todo e, em conformidade, faz o operário trabalhar, segundo as circunstâncias, 8, 10, 12, 14 e mais horas, de tal modo que o produto da sétima, oitava e seguintes horas seja um produto de trabalho não-pago e, que antes do mais, entra para o bolso do capitalista. Deste modo, o operário ao serviço do capitalista reproduz, não apenas o valor da sua força de trabalho, pelo qual ele é pago, mas produz também, além e acima disso, uma mais-valia que, apropriada antes do mais pelo capitalista, no curso ulterior, se reparte pela classe toda dos capitalistas, segundo leis económicas determinadas, e forma o fundo básico [Grundstock] de onde saem renda fundiária, lucro, acumulação de capital, em suma, todas as riquezas consumidas ou acumuladas pelas classes não-trabalhadoras. Com isto era também demonstrado que a aquisição de riqueza pelos capitalistas de hoje consiste tanto na apropriação de trabalho alheio não-pago como a do dono de escravos ou a do senhor feudal que explorava o trabalho servo e que todas estas formas da exploração só se diferenciam pela maneira diversa em que o trabalho não-pago é apropriado. Com isto, porém, retirava-se também de debaixo dos pés a todos os ditos hipócritas das classes possidentes a última base, segundo a qual na ordem social actual reinam direito e justiça, igualdade de direitos e de deveres e harmonia geral de interesses; e desvendava-se a sociedade burguesa de hoje, não menos do que as suas predecessoras, como uma grandiosa instituição para exploração da imensa maioria do povo por uma minoria mínima e que se torna cada vez mais pequena.

O socialismo científico, moderno, fundamenta-se nestes dois factos importantes. No segundo volume do Capital, estas e outras não muito menos importantes descobertas científicas [referentes] ao sistema capitalista de sociedade serão mais desenvolvidas e, com elas, também os aspectos da economia política ainda não aflorados no primeiro volume serão submetidos a um revolucionamento. Assim possa Marx em breve poder entregá-los para impressão.
http://www.marxists.org/portugues/marx/1877/06/marx.htm



Friedrich Engels
Marx, Heinrich Karl,

wurde geboren in Trier am 5. V. 1818 als der Sohn des Advokatanwalts und späteren Justizrats Heinrich Marx, der, wie aus dem Taufschein des Sohnes ersichtlich, 1824 mit seiner Familie vom Judentum zum Protestantismus übertrat. Nach beendigter Vorbildung auf dem Trierer Gymnasium studierte Karl Marx seit 1835 in Bonn, sodann in Berlin erst Rechtswissenschaft, später Philosophie und promovierte m Berlin als Dr. phil. 1841 mit einer Dissertation über die Philosophie Epikurs. In demselben Jahre siedelte er nach Bonn über, um dort sich als Dozent zu habilitieren, aber die Schwierigkeiten, die die Regierung seinem ebendaselbst als Dozent der Theologie fungierenden Freunde Bruno Bauer in den Weg legte und die mit Bauers Entfernung von der Universität endigten, machten ihm bald klar, daß für ihn kein Platz sei an einer preußischen Hochschule. - Um dieselbe Zeit wurde von den junghegelisch angehauchten jüngeren Elementen der rheinischen radikalen Bourgeoisie, im Einverständnis mit den liberalen Führern Camphausen und Hansemann, die Gründung eines großen Oppositionsblattes in Köln angeregt; Marx und Bauer wurden als tüchtige Hauptmitarbeiter ebenfalls zu Rat gezogen. Eine - damals nötige - Konzession war in der Stille auf Umwegen besorgt, und so erschien die "Rheinische Zeitung" am 1. I. 1842. Marx schrieb von Bonn aus größere Artikel in das neue Blatt; die hauptsächlichsten waren: eine Kritik der Verhandlungen des rheinischen Provinziallandtags, eine Arbeit über die Lage der bäuerlichen Winzer an der Mosel und eine andere über den Holzdiebstahl und die ihn betreffende Gesetzgebung. Im Oktober 1842 übernahm er die Oberleitung des Blattes und siedelte nach Köln über. Von da an erhielt die Zeitung einen scharf oppositionellen Charakter. Allein die Leitung war eine so geschickte, daß trotz der über die Zeitung verhängten erst doppelten, dann dreifachen Zensur (erst der gewöhnliche Zensor, dann der Regierungs- präsident, endlich ein von Berlin ad hoc hergesandter Herr von Saint-Paul) die Regierung dieser Art Presse schwer beikommen konnte und sich daher entschloß, das Weitererscheinen der Zeitung vom 1. IV. 1843 an zu untersagen. Durch den an jenem Tage erfolgten Rücktritt Marx' von der Redaktion erkaufte man eine Galgenfrist von drei Monaten, aber dann erfolgte doch die schließliche Unterdrückung des Blattes.

Marx entschloß sich nun, nach Paris zu gehen, wohin auch Arnold Ruge nach der ungefähr gleichzeitig erfolgten Unterdrückung der "Deutschen Jahrbücher" sich wenden wollte. Zuvor aber heiratete er in Kreuznach Jenny von Westphalen, seine Jugendgenossin, mit der er schon seit Beginn seiner Universitätszeit verlobt gewesen war. Das junge Paar kam im Herbst 1843 nach Paris, wo Marx und Ruge die "Deutsch-Französischen Jahrbücher" herausgaben, eine Zeitschrift, von der indes bloß das erste Heft erschien; die Fortsetzung scheiterte teils an den übergroßen Schwierigkeiten der heimlichen Verbreitung in Deutschland, teils an den sehr bald zutage tretenden prinzipiellen Differenzen zwischen den beiden Redakteuren. Ruge blieb im Fahrwasser der Hegelschen Philosophie und des politischen Radikalismus, Marx warf sich aufs Studium der politischen Ökonomie, der französischen Sozialisten und der Geschichte Frankreichs. Das Resultat war sein Übergang zum Sozialismus. Im September 1844 kam Fr. Engels auf einige Tage nach Paris zu Marx; beide waren seit der gemeinsamen Arbeit an den "Deutsch-Französischen Jahrbüchern" in Briefwechsel getreten, und von hier an datiert das Zusammenwirken beider, das nur mit dem Tode von Marx ein Ende nahm. Seine erste Frucht war eine Streitschrift gegen Bruno Bauer, mit dem man, im Verlauf des Zersetzungsprozesses der Hegelschen Schule, ebenfalls prinzipiell auseinandergekommen war: "Die heilige Familie. Gegen B[runo] Bauer und Konsorten", Frankfurt a. M. 1845.

Marx half mit bei der Redaktion eines kleinen deutschen Wochenblattes, das in Paris unter dem Namen "Vorwärts!" erschien und das die Misere des damaligen deutschen Absolutismus und Scheinkonstitutionalismus mit beißendem Spotte überschüttete. Dies war für die preußische Regierung die Veranlassung, vom Ministerium Guizot die Ausweisung von Marx aus Frankreich zu verlangen. Sie wurde bewilligt; Anfang 1845 siedelte Marx nach Brüssel über, wohin bald darauf auch Engels kam. Hier veröffentlichte Marx "Misère de la philosophie. Réponse à la philosophie de la misère de M. Proudhon", Bruxelles et Paris 1847, ferner: "Discours sur la question du libre echange". Bruxelles 1848. Außerdem schrieb er dann und wann Artikel in die "Deutsche-Brüsseler-Zeitung". Im Januar 1848 arbeitete er mit Engels das "Manifest der Kommunistischen Partei" aus im Auftrag der Zentralbehörde des Bundes der Kommunisten, einer geheimen Propagandagesellschaft, der Marx und Engels im Frühjahr 1847 beigetreten waren. Das "Manifest" ist seitdem in unzähligen autorisierten und unautorisierten deutschen Ausgaben erschienen und in fast alle europäischen Sprachen übersetzt.

Als die Februarrevolution 1848 ausbrach und auch in Brüssel Volksbewegungen hervorrief, wurde Marx verhaftet und aus Belgien ausgewiesen; inzwischen hatte ihn die provisorische Regierung der französischen Republik eingeladen, wieder nach Paris zu kommen, und so kehrte er dorthin zurück.

In Paris trat er zunächst mit seinen Freunden der Legionsspielerei entgegen, die der Majorität der neuen Regierung ein bequemes Mittel bot, sich die "lästig fallenden" fremden Arbeiter vom Halse zu scharfen. Es war klar, daß die so bei hellem Tage organisierten belgischen, deutschen etc. Legionen die Grenze nur überschreiten konnten, um in eine wohlvorbereitete Falle zu gehen, wie dies denn auch tatsächlich der Fall war. Marx und die übrigen Leiter des Kommunistenbundes verschafften an vierhundert arbeitslosen Deutschen dieselbe Reiseunterstützung wie den Legionären, so daß sie ebenfalls nach Deutschland heimkehren konnten.

Im April ging Marx nach Köln, und am 1. VI. erschien dort unter seiner Leitung die "Neue Rheinische Zeitung", die im folgenden Jahre am 19. V. zuletzt herauskam; die Redakteure wurden entweder gerichtlich mit Verhaftung oder als Nichtpreußen mit Ausweisung bedroht. Letzteres Schicksal traf Marx, der während seiner Brüsseler Zeit seine Entlassung aus dem preußischen Staatsverbande genommen hatte. Während des Bestandes der Zeitung hatte er zweimal vor den Geschworenen zu erscheinen, am 7. II. 1849 wegen Preßvergehens und am 8. wegen Aufforderung zum bewaffneten Widerstande gegen die Regierung (zur Zeit der Steuerverweigerung, November 1848); beide Male erfolgte Freisprechung.

Nach der Unterdrückung der Zeitung ging Marx wieder nach Paris, wurde aber nach der Demonstration vom 13. VI. vor die Wahl gestellt, entweder sich in die Bretagne internieren zu lassen oder Frankreich abermals den Rücken zu kehren. Natürlich zog er das letztere vor und ging nach London, wo er nun endgültig seinen Wohnsitz aufschlug.

In London gab er heraus: "Neue Rheinische Zeitung. Politisch-ökonomische Revue", Hamburg 1850, wovon 6 Hefte erschienen sind. Seine Hauptarbeit hierin ist "1848 bis 1849", eine Darstellung der Ursachen und des inneren Zusammenhangs der Ereignisse dieser Jahre, namentlich in Frankreich; ferner (mit Engels zusammen) Rezensionen und politische Übersichten. An die erstere Arbeit schloß sich bald darauf als Fortsetzung "Der 18. Brumaire des Louis Bonaparte", New York 1852, neu aufgelegt Hamburg 1869 und 1885. Der große Kommunistenprozeß in Köln veranlaßte eine weitere Broschüre, "Enthüllungen über den Kölner Kommunistenprozeß", Boston 1853, neueste Auflage Zürich 1885. Von 1852 an war Marx Londoner Korrespondent und jahrelang gewissermaßen Redakteur für Europa der "New-York Tribüne". Seine Artikel sind teils mit seinem Namen unterzeichnet, teils figurieren sie als Leitartikel; es sind nicht gewöhnliche Korrespondenzen, sondern auf gründlichen Studien beruhende, oft eine ganze Artikelreihe umfassende Darlegungen der politischen und ökonomischen Lage der einzelnen europäischen Länder. Die militärischen Aufsätze darunter, über den Krimkrieg, die indische Rebellion etc. sind von Engels. Einige der Marxschen Artikel über Lord Palmerston wurden in London als Broschüren abgedruckt. Diese Mitarbeit an der "Tribüne" nahm erst ein Ende mit dem Amerikanischen Bürgerkriege.

Das Jahr 1859 verwickelte Marx einerseits in eine aus dem italienischen Kriege entspringende Polemik mit Karl Vogt, die ihren Abschluß fand in "Herr Vogt" von Karl Marx, London 1860. Andererseits aber brachte es die erste Frucht seiner jahrelangen ökonomischen Studien im Britischen Museum in der Gestalt des ersten Heftes von "Zur Kritik der Politischen Oekonomie", Berlin 1859. Kaum aber war dies erste Heft erschienen, da entdeckte Marx auch, daß er mit der Detailausführung der Grundgedanken der folgenden Hefte noch nicht vollständig im reinen sei; das noch vorhandene Manuskript ist der beste Beweis dafür. Er fing also sofort wieder von vorn an, und so erschien, statt jener Fortsetzung, erst 1867 "Das Kapital. Erstes Buch: Der Produktionsprozeß des Kapitals", Hamburg 18675.

Während er die ganzen drei Bände des "Kapitals" - das zweite und dritte wenigstens im Entwurfe - ausarbeitete, fand Marx endlich auch wieder eine Gelegenheit zu praktischer Tätigkeit in der Arbeiterwelt. 1864 wurde die Internationale Arbeiterassoziation gegründet. Viele, namentlich Franzosen, haben sich den Ruhm angemaßt, als Gründer dieser Assoziation zu gelten. Es ist selbstredend, daß so etwas nicht von einem allein gegründet werden kann. Aber soviel ist sicher: Unter allen Beteiligten gab es nur einen, der sich klar war über das, was zu geschehen hatte und was zu gründen war, das war der Mann, der schon 1848 den Ruf in die Welt geschleudert: Proletarier aller Länder, vereinigt euch!

Bei der Gründung der Internationale versuchte auch Joseph Mazzini, die sich zusammenfindenden Elemente für seine mystische konspiratorische Demokratie des Dio e popolo |Gott und Volk| zu gewinnen und zu verwerten. Aber der in seinem Namen vorgelegte Entwurf zu Statuten und Inauguraladresse wurde verworfen zugunsten der von Marx redigierten, und von nun an war Marx die Leitung der Internationale gesichert. Von ihm sind sämtliche Erlasse des Generalrates geschrieben, namentlich auch der nach dem Fall der Pariser Kommune erschienene und in die meisten Sprachen Europas übersetzte "Bürgerkrieg in Frankreich".

Es ist hier nicht die Geschichte der Internationale zu erzählen. Es genüge, daß es Marx gelang, Statuten nebst prinzipieller Motivierung zu entwerfen, unter denen französische Proudhonisten, deutsche Kommunisten und englische Neugewerkschaftler einmütig zusammenwirken konnten, und daß die Harmonie der Vereinigung keine Störung erlitt, bis die Leute ans Licht traten, die seitdem jede Arbeiterbewegung zu stören gesucht, die Anarchisten unter Bakunin. Es versteht sich, daß die Macht der Assoziation lediglich in der bisher unerhörten Tatsache der versuchten Vereinigung des europäischen und amerikanischen Proletariats lag; andere als moralische Mittel hatte der Generalrat nicht, sogar nicht einmal Geldmittel, statt der vielberufenen "Millionen der Internationale" verfügte er meist nur über Schulden. Wohl nie ist mit so wenig Geld so viel geleistet worden.

Nach der Kommune war die Internationale in Europa unmöglich geworden. Den Kampf gegen die Regierungen und die in allen Ländern gleich erregte. Bourgeoisie in der bisherigen Form fortzuführen hätte kolossale Opfer gekostet. Dazu der Kampf im Innern der Assoziation selbst gegen die Anarchisten und die zu ihnen neigenden proudhonistischen Elemente. Le jeu ne valait pas la chandelle. |Die Sache war der Mühe nicht wert.| Nachdem also auf dem Haager Kongreß der formelle Sieg über die Anarchisten erkämpft war, schlug Marx vor, den Generalrat nach New York zu verlegen. Die Fortdauer der Assoziation war so sichergestellt für den Fall, daß veränderte Umstände die Wieder- aufnahme derselben in Europa nötig machen. Als aber solche Umstände eintraten, war die alte Form veraltet; die Bewegung war der alten Internationale weit über den Kopf gewachsen.

Von jetzt an blieb Marx der öffentlichen Agitation fremd, aber darum nicht minder tätig in der europäischen und amerikanischen Arbeiterbewegung. Er stand in Briefwechsel mit fast allen Führern in den verschiedenen Ländern, die ihn, wenn irgend möglich, bei wichtigen Anlässen persönlich zu Rate zogen; er wurde mehr und mehr der vielgesuchte und stets bereite Berater des streitbaren Proletariats. Bei alledem aber konnte sich Marx jetzt wieder seinem Studium zuwenden, dessen Feld sich inzwischen sehr erweitert hatte. Bei einem Manne, der jeden Gegenstand auf seine geschichtliche Entstehung und seine Vorbedingungen prüfte, entsprangen selbstredend aus jeder einzelnen Frage ganze Reihen neuer Fragen. Urgeschichte, Agronomie, russische und amerikanische Grundbesitzverhältnisse, Geologie etc. wurden durchgenommen, um namentlich den Abschnitt des III. Buches des "Kapitals" über Grundrente in einer bisher nie versuchten Vollständigkeit auszuarbeiten. Zu den sämtlichen germanischen und romanischen Sprachen, die er mit Leichtigkeit las, lernte er auch noch Altslawisch, Russisch und Serbisch. Leider aber verhinderte ihn zunehmende Kränklichkeit an der Verwertung des so gesammelten Stoffes. Am 2. XII. 1881 starb seine Frau, am 11. 1. 1883 seine älteste Tochter, am 14. III. desselben Jahres entschlief er sanft in seinem Lehnstuhl.

Die meisten im Druck erschienenen Biographien von Marx wimmeln von Irrtümern. Authentisch ist nur die im Brackeschen Volkskalender für 1878 in Braunschweig erschienene (von Engels).

Folgendes ist die möglichst vollständige Liste der im Druck erschienenen Schriften von Marx:

"Rheinische Zeitung", Köln 1842: Artikel über die rheinischen Provinziallandtagsverhandlungen, über die Lage der bäuerlichen Winzer an der Mosel, über Holzdiebstahl; Leitartikel Okt. bis Dezbr. 1842. - "Deutsch-Französische Jahrbücher" von A. Rüge und K. Marx, Paris 1844: "Einleitung zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie"; "Zur Judenfrage" - K. Marx und F. Engels, "Die heilige Familie, Gegen Bruno Bauer und Konsorten", Frankfurt a. M. 1845. - Kleinere Artikel (anonym) im Pariser "Vorwärts!", 1844. - Diverse Aufsätze, anonym und gezeichnet, in der "Deutschen-Brüsseler-Zeitung", Brüssel 1846/1847. - "Misère de la philosophie, réponse à la philosophie de la misère de M. Proudhon", Bruxelles et Paris 1847. Deutsch: Stuttgart, 2. Auflage 1892. Spanisch: Madrid 1891. - "Discours sur le libre échange", Bruxelles 1848. Englisch: Boston 1889. Deutsch in der deutschen Ausgabe von "Misère de la philosophie". - Mit F. Engels: "Manifest der Kommunistischen Partei", London 1848. Zuletzt deutsch: Lond. 1890; übers, in fast alle europäischen Sprachen. - Aufsätze in der "Neuen Rheinischen Zeitung", Leitartikel etc., Köln 1848/1849. Davon mehrfach separat abgedruckt: "Lohnarbeit und Kapital", zuletzt Berlin 1891; erschien russisch, polnisch, italienisch, französisch. - "Zwei politische Prozesse", Köln 1849 (zwei Verteidigungsreden von Marx). -"Neue Rheinische Zeitung. Revue", Hamburg 1850. 6 Hefte. Darin von Marx: "1848 bis 1849". - Mit Engels verfaßt: Rezensionen und Monatsrevue. - "Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte", New York 1852. Dritte Auflage Hamburg 1885. Erschien auch französisch. - "Enthüllungen über den Kölner Kommunistenprozeß", Basel 1852 (Auflage konfisziert); Boston 1853. Zuletzt Zürich 1885. - Artikel in der "New-York Tribüne" 1853-1860. Darin einige über Palmerston - vermehrt - in London 1856 als Pamphlete erschienen. - "Free Press", Sheffield Juni 1856 und London bis April 1857: "Revelations of the Diplomatie History of the 18. Century" (über die fortlaufende interessierte Abhängigkeit englischer Whigminister von Rußland). - "Das Volk", London 1859: Aufsätze zur diplomatischen Geschichte des italienischen Krieges 1859.- "Zur Kritik der Politischen Oekonomie", I. Heft, Berlin 1859. Polnisch 1890. - "Herr Vogt", London 1860. - "Inaugural Address der Internationalen Arbeiterassoziation", London 1864; ferner alle Veröffentlichungen des Generalrates, bis inklusive "The Civil War in France", London 1871. (Deutsch zuletzt Berlin 1891, auch französisch, italienisch, spanisch erschienen.) - "Das Kapital, Kritik der politischen Oekonomie", Erstes Buch, Hamburg 1867, letzte Auflage, 4., 1890. Erschienen russisch, französisch, englisch, polnisch, dänisch. - Dasselbe, Zweites Buch, Hamburg 1885, zweite Auflage in der Presse. Erschien russisch. Das dritte Buch wird 1893 erscheinen.

London

Friedrich Engels

http://www.mlwerke.de/me/me22/me22_337.htm

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