"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (Jo 8.32)
28 de maio de 2012
Por uma IECLB melhor!
Estamos lutando por uma IECLB melhor a partir de nossas fraquezas e de nossas limitações. Por isso lutamos contra o TAM e a Avaliação e as injustiças que por meio destas leis repressivas acontecem.
Conto aqui dois casos relacionados a estas leis repressivas que eu ouvi na última CO do Sínodo Uruguai. Contos estes casos por serem totalmente escandalosos, desumanos e de arrepiar o cabelo:
1. É normal que a gente tenha pessoas na paróquia que não vão com a nossa cara. No caso relatado, algumas pessoas foram falar com o pastor sinodal pedindo para mandar este pastor embora. Na próxima CO o tal pastor sinodal disse: Nós vamos continuar fazendo as Avaliações e, apontando para este pastor, disse: você vai ser o próximo. Como isto é lei então vamos lá. Só que ele não sabia que isto foi Avaliação encomendada para ferrar. Na comissão da paróquia o pastor sinodal excluiu uma mulher que era amiga do pastor e com isto só tinha gente ali disposta a ferrar. Resultado: o pastor recebeu do pastor sinodal uma carta após o processo de Avaliação comunicando que no dia 4 de julho ele tinha que entregar a casa e o carro, ponto. Estava na rua via Avaliação encomendada com a conivência e apoio do pastor sinodal.
Conseqüência: o pastor ganhou uma úlcera causada pelo stress, desgosto e raiva que necessitou de uma cirurgia, senão ele iria morrer de hemorragia interna.
2. No mesmo sínodo tem um colégio e uma faculdade e ali havia um pastor trabalhando na Pastoral Escolar. No dia 31 de outubro, não sei certo se foi a diretora ou a coordenadora pedagógica, fez um Dia do Halloween e o pastor reclamou que no dia 31 de outubro em colégio luterano a gente celebra o Dia da Reforma. Resultado: a tal coordenadora ofendida foi falar com o pastor sinodal e o campo de trabalho foi fechado e o pastor mandado embora. Viva o Dia do Halloween, como instrumento do diabo, defendido pela hierarquia eclesiástica.
E agora um exemplo como funciona a luta de classes na igreja. Eu sei que tem gente inocente que diz que isto não existe e que não existe direita e esquerda nem na igreja e nem na sociedade. Eles que fiquem na sua inocência!
Temos aqui no Sínodo Uruguai a Pastoral da Cidadania que fez uma moção à Assembléia Sinodal de 2012 para ser levada ao Concílio da Igreja para viabilizar a Pastoral da Cidadania em toda IECLB.
Na moção diz assim:
"Moção para o XXVIII Concílio da Igreja de 2012 em Chapecó
- Considerando que o Concílio Geral da IECLB de 1982 em sua Mensagem às Comunidades pede para:
“assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra, bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas”.
- Considerando que o Concílio Geral da IECLB de 1984 em suas Conclusões diz:
“... Temos um compromisso. Eis algumas propostas de como atendê-los:
5.2.3 - no Brasil - Torna-se esperança uma Igreja que não passa de largo aos múltiplos sofrimentos dos injustiçados, famintos, explorados. Está marcada a nossa sociedade por corrupção, injustiça, violência. Lembramos em especial a injusta distribuição da terra, o genocídio no Nordeste, o descaso para com o meio ambiente, a marginalização do povo no processo político. Comunidade cristã, pelas misericórdias de Deus, deve aí levantar protesto e solidarizar-se com a causa justa de movimentos populares... Ninguém está, por Deus, isento de, dentro de suas possibilidades, engajar-se em favor do bem comum - uma forma de atender o mandamento do amor.”
- Considerando que o Concílio Geral da IECLB de 1986 em sua Mensagem às Comunidades diz:
“Estamos convencidos de que os frutos de uma tal atitude, motivada pela fé no Senhor Jesus Cristo, contribuirão para a transformação de nossa sociedade e mostrar-se-ão concretamente num apoio mais comprometido aos sem terra e casa, aos índios, aos negros, às mulheres, aos operários e aos pequenos agricultores, mostrar-se-ão em sinais concretos de justiça e de promoção de vida plena entre nós e no mundo que nos cerca.”
- Considerando que o XIII Concílio Regional da III RE aprovou como proposta missionária na Terceira Região Eclesiástica:
1. Celebração Comunitária na ótica da Comunidade solidária;
2. Integração do Movimento Popular na concepção do trabalho missionário;
3. Formação bíblica na ótica da leitura popular.
- Considerando que a Comissão do Direto à Terra foi criada, mas ainda não implementada.
- Considerando que estas decisões conciliares não tiveram um encaminhamento satisfatório.
- Considerando que na realidade do povo brasileiro continua existindo a necessidade dos empobrecidos, injustiçados e explorados se organizarem na luta por vida, dignidade e cidadania plena.
- Considerando que os membros de nossas comunidades se inserem nesta realidade de luta contra as injustiças políticas, sociais, culturais e econômicas: as famílias de pequenos agricultores não têm dinheiro para comprar terra para seus filhos e filhas e por isso migram para as cidades porque não se faz Reforma Agrária; a luta dos trabalhadores e das trabalhadoras por melhores salários e melhores condições de trabalho; os jovens no mundo todo estão se levantando em protesto como vítimas sem perspectivas que irão pagar os custos das crises econômicas geradas pela especulação financeira imoral e predatória; a luta dos agricultores e das agricultoras por preços justos pelos produtos agrícolas diante do aumento dos custos de produção dentro do atual modelo agrícola imposto à estes; as famílias de pequenos agricultores estão sendo expulsas de suas terras pelos projetos de construção de grandes barragens que também ameaçam o bioma destes rios; o movimento ecológico continua denunciando e tentando impedir a devastação do resto da Mata Atlântica, da Amazônia, do Pantanal, Caatinga e do Cerrado; as famílias de pequenos agricultores estão ameaçadas de perder suas terras devido às reivindicações de terra dos povos indígenas; os próprios povos indígenas lutam contra as injustiças seculares a que estão sujeitos; um grande número de membros da IECLB é sindicalizado, participa de movimentos populares, pequenas cooperativas e de ONGs na luta por justiça e dignidade; muitas mulheres agricultoras e muitas mulheres nas cidades estão organizadas em movimentos de mulheres e ONGs na luta por igualdade e justiça; um grande número de membros da IECLB começa a praticar a agricultura ecológica; muitos membros da IECLB vivem nas periferias das cidades e estão expostos à violência das drogas, ao desemprego e à exploração sexual; também em nossas famílias luteranas a violência doméstica se faz presente atingindo mulheres e crianças. O povo de nossa igreja está inserido neste mundo desumano e injusto e requer mecanismos diacônicos e missionários de acolhimento em seus sofrimentos e lutas por vida abundante, plena e digna.
Propomos que o XXVIII Concílio da Igreja crie e autorize o Conselho da Igreja a viabilizar e implementar concretamente através dos Sínodos uma Pastoral da Cidadania que, dentro da concepção do trabalho missionário e diaconal, possibilite e incentive as Paróquias e Comunidades da IECLB a se inserir e se engajar concretamente nas lutas e no trabalho de base dos movimentos populares, sindicais, pastoral da saúde, pequenas cooperativas e ONGs abrindo espaço dialogal e físico em nossas comunidades para as suas lutas por vida, amor e justiça em nosso país."
O pastor que faz parte da Pastoral da Cidadania do Sínodo levou a Moção à Assembléia Sinodal em abril para que o número estabelecido de assinaturas fossem colhidas. Entregou a folha para um delegado da Assembléia para que ele lesse e assinasse ou não e quando ele entregou a folha, a pessoa do lado disse, isto é algo muito perigoso. Mas o pastor deixou a folha para ser lida e assinada ou não e que ele a passasse adiante. Na hora de entregar as moções ele foi procurar onde ficara a folha com o texto da Moção e não a achou e só a achou quando não havia mais tempo para entregá-la à Comissão de Moções. A tal pessoa à qual ele havia entregue a moção simplesmente a enfiou na sua pasta, a escondeu e não a passou adiante, porque era coisa perigosa.
São pessoas como estas, que acham a Pastoral da Cidadania perigosa, que fazem parte das Comissões de Avaliação. Elas avaliam nosso trabalho, nossa teologia e dizem que a Pastoral da Cidadania não pode existir porque é perigosa. Perigosa para quem? Para o capitalismo, mas uma bênção para o Reino de Deus.
O que quer a Pastoral da Cidadania? Lutar por justiça e melhorar a vida do povo brasileiro a partir da prática e do anúncio do Evangelho do Reino de Deus anunciado e vivido por Jesus Cristo.
Temos dois lados na IECLB:
Um é este lado que falei até agora e o outro é o lado que é uma história onde um pastor tirou o crucifixo da igreja por conta própria e a comunidade na assembléia votou pela reposição do crucifixo na igreja. E o crucifixo voltou para igreja. É o exemplo em que a comunidade tinha clareza teológica e o pastor não. Quero dizer com isto que a pastorada não está sempre certa, ela faz muita cagada.
Precisamos de um mecanismo humano e teologicamente claro para acompanhar a pastorada. A pastorada não é perfeita, mas ficam piores se a instituição a ferra pelas leis repressivas e não a valoriza em seu ministério. O que a pastorada precisa é de alguém que se senta com ela para conversar, para ser ouvida para ajudar a construir um Projeto de Igreja para a IECLB. Este mecanismo não existe. A pastorada vive na solidão de Jó e nem pode sempre confiar nas pessoas dos presbitérios (e às vezes nem no pastor sinodal) porque eles às vezes são corruptos no que diz respeito ao Dízimo e não permitem um trabalho com os empobrecidos e injustiçados em direção à se organizarem para lutar por justiça no Sindicato ou Movimento Popular.
Os/as psicólogos/as fazem terapia um com o outro. Nós não temos com quem fazer terapia. O pastor sinodal não consegue ser o nosso terapeuta, pois é pastor da diretoria da paróquia e nosso pastor ao mesmo tempo. E na hora do pau, sobra para nós, pois ninguém nos consegue defender. Temos aqui um esquema esquizofrênico. O pastor Baeske sugere, a partir do Catecismo Menor, que façamos a Confissão Particular, que seria um bom mecanismo para ir ao encontro de nossos problemas terapêuticos. Mas como a maioria tem medo e raiva do Baeske porque ele sabe o que diz e tem posição clara, então o que ele diz não vale. Nesta igreja as pessoas têm medo e raiva de quem tem posição clara. Por que? Porque a maioria não tem uma posição e uma teologia clara. Bom pastor para as comunidades é aquele que fica em cima do muro, não tem clareza teológica e não se posiciona na luta de classes que acontece na sociedade, porque assim ele está do lado da classe que oprime. Apoiar o agronegócio assassino e escravocrata pode, apoiar a luta pela reforma agrária não pode, mesmo que a grande maioria de nossos jovens no campo sejam sem terra, pois os pais que são pequenos agricultores não tem dinheiro para comprar uma terra para eles.
Sugiro que a Secretaria com Ordenação juntamente com a Secretaria Geral façam uma moção para eliminar o TAM e a Avaliação do EMO e a encaminhem ao Conselho da Igreja para ele a enviar ao Concílio para mostrar que a Direção da Igreja se preocupa com a pastorada, de ir ao encontro dela. Além disso, falta-nos uma política de pessoal clara, que a Igreja disse que faria a dois anos atrás e não se viu nada ainda.
Se a Secretaria com Ordenação ou a Secretaria Geral não o fizerem sugiro que os/as pastores/as que fazem parte do Conselho da Igreja o façam. Tem uma moção da APPI, podem usar esta para levá-la à reunião do Conselho da Igreja ou então sugerir que o próprio Conselho da Igreja faça uma moção para eliminar os itens relacionados ao TAM e à Avaliação do EMO, o que seria melhor.
Aqui vai a moção da APPI:
"Moção ao Concílio da Igreja
Considerando que a maneira como a avaliação é realizada não condiz com a dignidade ministerial.
Considerando que o Termo de Atividade Ministerial (TAM) para um período mínimo de três anos cerceia a dignidade ministerial e transforma o ministro em funcionário.
Considerando que ministros/as cientes e conscientes de sua função não precisam ser avaliados, mas visitados por pessoas capacitadas para escutá-los, consolá-los, aconselhá-los e quando necessário também admoestá-los e mesmo repreende-los.
Considerando que ministros/as da IECLB precisam ser mais valorizados a partir da função para a qual foram ordenados e não podem ser tratados/as como meros empregados/as, funcionários/as ou colaboradores/as, cujo trabalho é medido pela produção.
Considerando que é necessário valorizar ministros/as que se sentem desvalorizados, acuados e com medo das leis como o TAM e a Avaliação.
Considerando que no processo de valorização de ministros/as é necessário possibilitar a formação permanente de todos/as os/as ministros/as.
Considerando que no processo de valorização precisamos ouvir – sem rancor e desarmado – o clamor de ministros/as, que acusam nossa IECLB de estar se transformando numa Empresa e que nela reina “um espírito empresarial”.
Considerando que as famílias de ministros/as, de todos os ministérios ordenados, precisam saber e sentir que elas são importantes para a nossa IECLB, que elas podem contar com sua Igreja em momentos dor, doença e crise.
Considerando que em avaliações houve fraudes nos questionários respondidos em que havia 3 a 4 folhas exatamente iguais em conteúdo e letra avaliando negativamente ministro/a que mostra que mais pessoas responderam várias folhas com o intuito de prejudicar o/a ministro/a e mandá-lo/a embora da paróquia.
Considerando que o TAM prevê um tempo determinado para ser renovado cria a insegurança e o medo que fazem com que ministros/as corram o risco de só falar o que acham seguro, para se garantir na paróquia, e não falem o que o Evangelho de Jesus Cristo exige.
Propomos que o Concílio da Igreja revogue os artigos dos capítulos V § 22; VII art. 23 I; VII Art. 26 § 1º até o § 8º do EMO para eliminar o TAM e a Avaliação que não condizem com a dignidade ministerial."
Isto não quer dizer que não é necessário fazer periodicamente uma avaliação do nosso trabalho e do trabalho da paróquia a partir de um Projeto de Igreja que está sendo viabilizado na paróquia ou outro campo de trabalho. O problema é que não temos um Projeto de Igreja nem a nível de IECLB e nem a nível de paróquia, além, é claro, da Associação Cultural e Recreativa com fins Religiosos, que é a prática geral na IECLB. Mas esta Avaliação que está no EMO está para ferrar a pastorada, juntamente com o TAM. Além do mais cada Sínodo faz esta Avaliação conforme o seu gosto. Por causa deste Projeto de Igreja, a Associação Cultural e Recreativa com fins Religiosos, a Pastoral da Cidadania não tem lugar porque mostra que existe a luta de classes na sociedade e na igreja e que esta sociedade, construída em cima de classes sociais em permanente luta, precisa ser eliminada como uma exigência do Evangelho de Jesus Cristo.
Como funciona a luta de classes na sociedade? Aqui vai um exemplo que me contou um pastor que andou pelo Mato Grosso afora e que trabalhava na CPT:
Um dia chega uma mulher e pede ajuda ao pastor, que trabalhava na CPT, para que ele a ajude a encontrar o seu marido que fora trabalhar numa fazenda e estava desaparecido já há 6 meses. O pastor liga para o promotor do ministério público, que por acaso era da IECLB, que foi investigar o caso. Resultado: o pastor como o promotor receberam um telefonema anônimo de ameaça de morte. O promotor foi transferido, por ordens superiores, para que não se investigasse o caso e o próximo promotor que o substituiu disse que não se meteria nisso por ser perigoso. Isto mostra o conluio do Poder Judiciário e o Estado com o latifúndio assassino e escravista. Caso encerrado.
Isto e o fato de dois membros na Assembléia Sinodal tentar inviabilizar a Pastoral da Cidadania é legitimar a ação do Estado em conluio com o latifúndio para esconder o assassinato e a escravidão do agronegócio. É tudo a mesma coisa. Os dois casos: o assassinato e a escravidão nas fazendas no Mato Grosso e demais estados pelo país afora e o fato de se esconder a Moção da Pastoral da Cidadania para que não seja votada tem a mesma origem: legitimar e viabilizar o capitalismo que se sente ameaçado pelo Evangelho do Reino de Deus que sempre aponta para a construção de uma nova sociedade não classista, mas, igualitária. Esconder a Moção da Pastoral da Cidadania é também legitimar o assassinato e a escravidão do latifúndio, pois legitima o sistema capitalista que está construído em cima da opressão e da exploração capitalistas. É a igreja fazendo o trabalho do diabo.
No entanto, a Igreja é presença de Deus no meio do mundo. Ela é um corpo estranho no meio do mundo, por isso é uma ameaça a ser eliminada ou cooptada. Por que? Porque a Igreja vai defender a vida plena de Deus o que o capital não vai poder tolerar porque vive da opressão, da exploração e da morte. Os cristãos capitalistas por isso fazem o trabalho para o diabo tentando impedir que a Igreja seja presença de Deus no mundo para transformá-lo pelo arrependimento e pela fé no Evangelho, como diz Jesus Cristo em Mc 1.15. O mundo está se defendendo de Jesus Cristo com o apoio dos cristãos.
Isto nos lembra de Jo 15.18-19: "Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia".
Jesus diz que o/a cristão/ã batizado/a não é do mundo porque está marcado pelo batismo pela Cruz de Cristo. Portanto, o/a cristão/ã não defende nunca o mundo, o capitalismo, mas sempre o Evangelho do Reino de Deus que se propõe a construir uma nova sociedade não classista, de irmãos e irmãs, portanto, igualitária. O/a cristão/ã que defende o capitalismo não sabe que ele defende algo que o odeia e está defendo seu inimigo e não só o seu inimigo, mas o inimigo de Deus. Tiago 4:4 lembra: "Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus". O/a cristão/ã a partir do batismo é propriedade de Deus e por isso não é do mundo, não é do capitalismo. Nós não somos do diabo, que se diz o senhor do mundo, somos propriedade de Deus. Se defendermos o mundo, o capitalismo, estaremos defendendo o projeto do diabo. Por mais que o diabo se diz senhor do mundo ele não o é, pois Deus é o Senhor do Universo e o Senhor da História, como nos lembra o livro do Apocalipse.
A falta de clareza teológica ou então a opção clara em favor do capitalismo, o projeto do diabo, faz com que cristãos (leigos e pastores/as) defendam o capitalismo contra o Evangelho do Reino de Deus. A falta de clareza teológica é tanto culpa da igreja como dos próprios membros. Da igreja porque não tem um projeto claro de formação de base e dos membros porque não querem participar de um processo de formação porque para eles Igreja é: Associação Cultural e Recreativa com fins Religiosos. É o que Lutero já diz:
“Se me fosse possível começar, hoje, a pregar o evangelho, eu o faria de modo bem diferente. Deixaria toda essa grande e rude massa de gente debaixo do regime do papa. Eles não se emendam mesmo, pelo Evangelho, mas só abusam de sua liberdade. Em vez disso pregaria o Evangelho e o consolo especialmente para as consciências temerosas, humilhadas, desesperadas e simples. Por isso o pregador deve conhecer o mundo muito bem e reconhecer que ele é desesperadamente mau, propriedade do diabo, na melhor das hipóteses. Eu é que fui estupidamente ingênuo, não sabendo quando comecei, como eram as coisas, pensando que o mundo seria muito piedoso e, tão logo ouvisse o evangelho, viria correndo para aceitá-lo com alegria. Mas agora descubro, com grande dor, que fui vergonhosamente enganado” (Reflexões em torno de Lutero’ vol. I uma Edição especial da Revista “Estudos Teológicos” de 1981).
Tem uma rude massa que segue a ideologia da classe dominante e não tem jeito, mas por outro lado, nós pastores/as, somos "estupidamente ingênuos", como diz Lutero, não sabemos fazer uma análise clara da realidade que nos cerca e não temos clareza teológica. Como ingênuos e cegos (não sabemos ver a realidade como ela é) nós pastores/as queremos pregar o Evangelho de Jesus Cristo para um mundo que não conhecemos e nos negamos a conhecer. Desta forma não somos muito diferentes dos membros que não querem participar de um processo de formação e de luta contra o capitalismo, que é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus.
"Proposta de Ação da Pastoral da Cidadania no Sínodo Uruguai.
I - Curso sobre a Realidade - 15 dias em 1 encontro ao mês
1. Modos de Produção (1 dia)
2. Capitalismo (2 dias)
3. Análise da Conjuntura Político-Econômica do Brasil (1 dia)
4. Metodologia da Bíblia (1 dia)
5. História das Lutas do Povo Brasileiro (2 dias)
6. A Luta pela Terra na Bíblia, na época da Reforma e no Brasil (2 dias)
7. História do Movimento Sindical no Brasil (2 dias)
8. Movimentos Populares no Campo (1 dia) – MST, MPA, MAB, MMC, Pequenas Cooperativas
9. Reino de Deus (2 dias)
10. Nova Sociedade proposta pela Classe Trabalhadora (1 dia)
Formas de realizar o curso
a) Núcleo (reunindo várias paróquias) ou Paróquia
b) Encontros mensais de 1 dia, das 9 horas até as 16,30 horas
Objetivo do Curso:
Capacitar teológica e teoricamente (Bíblia, Realidade, Confessionalidade) o nosso povo para que possa participar de forma mais eficaz na Igreja, no Movimento Popular, no Movimento Sindical, no Movimento Cooperativo e nas ONGs em seu município e região.
II - Encaminhar via deputados estaduais da situação do governo de Santa Catarina a Regulamentação da lei que prevê a indenização das terras para as famílias atingidas por áreas indígenas.
III - Fortalecer o trabalho do CAPA nas Paróquias do Sínodo.
IV - Manter contato com a Via Campesina e suas lutas na área do Sínodo e oferecer gratuitamente para suas reuniões, seus estudos e suas lutas os espaços físicos das comunidades.
V - Manter contato com pequenas cooperativas de agricultores e com o movimento sindical em nível da área do Sínodo e oferecer gratuitamente para suas reuniões, seus estudos e suas lutas os espaços físicos das comunidades.
VI - Manter contato com as organizações populares das cidades e oferecer gratuitamente para suas reuniões, seus estudos e suas lutas os espaços físicos das comunidades."
Queremos construir uma IECLB melhor! Essa é a nossa proposta.
Para entendermos melhor o nosso mundo sugiro ler o livro: "Memórias de uma guerra suja" de Claudio Guerra da editora TOPBOOKS que pode ser encomendado na Livraria Livros e Livros de Florianópolis, cujo email é: livraria@livroselivros.com.br, (ou pelo site http://www.estantevirtual.com.br/) custa R$ 38,00 mais porte do Correio. É um depoimento do tempo da repressão da ditadura militar de um integrante do sistema de repressão que tinha o papel de matar, hoje ele é pastor da Assembléia de Deus. Ele não torturava, apenas recolhia os torturados mortos ou os matava com um tiro de misericórdia e os enterrava em cemitérios clandestinos ou os incinerava no alto forno da usina de açúcar de propriedade do então vice governador do Rio de Janeiro Heli Ribeiro, além de outros atentados a bomba. Matava também, como queima de arquivo, sua própria gente dos aparelhos repressivos a mando dos militares como queima de arquivo, ele era da polícia civil do Espírito Santo. Ele conta como o Fleury foi assassinado pelos militares. É um livro de arrepiar o cabelo. Assim age o capitalismo para se autopreservar e se reproduzir. Apoiando o capitalismo apoiamos esta prática diabólica.
Páginas 69 a 71 do livro, para terem um gosto do conteúdo:
O AGENTE DA CIA
Um dos agentes da CIA no Brasil à época virou meu parceiro, mas desconfio também que tentou me matar. Chamava-se Jone Romaguera Trotte e me foi apresentado pelo Augusto Pinto Moreira, um dos donos do Angu do Comes. Era das mãos de Jone que eu recebia muitas das armas que eu usava ou fornecia para várias operações. A principal função dele no Brasil era trazer armamento. Fazia isso para a Polícia Federal, para o SNI, para muitas das nossas operações clandestinas, e provavelmente para outras sobre as quais não tenho informações. Tudo com o conhecimento do comandante Vieira, do coronel Perdigão e do delegado da Polícia Federal, Cláudio Barrouin.
Trotte não participava de tortura nem das operações. A função dele era fornecer as armas, não só para o governo, mas também para particulares. Um de seus clientes era o usineiro Heli Ribeiro, que comandou um grande esquema de receptação ilegal de armas. Essas armas iam para os fazendeiros que queriam proteger suas terras, temendo a reforma agrária. Ribeiro, um direitista radical, me ajudou a desaparecer com vários corpos de adversários do regime, como já relatei.
Eu fornecia carteiras do DOPS para os clientes civis do Jone, permitindo o porte de arma, o que criou um vínculo entre mim, o usineiro e os fazendeiros. Ajudei muito o negócio de armas do Jone Romaguera. Ele fornecia também material de escuta, dispositivos que ainda não existiam no Brasil; trazia pessoal preparado para dar treinamento, além de substâncias ilegais. A que seria aplicada para provocar infarto mortal em Baumgarten e a que foi usada no Faffe, por exemplo, foi ele quem trouxe.
No SNI, me diziam que o material da injeção era proveniente da Inglaterra, do MIR, mas quem trazia era o Trotte. E quem ensinava os torturadores brasileiros a utilizá-la, assim como a técnica de campana, eram os ingleses, na maioria das vezes no seu idioma, o que exigia a presença de um tradutor. A maior parte dos treinamentos se dava no batalhão da PM, ao lado do Campo dos Afonsos, uma área enorme, com vários alojamentos.
A pasta com uma metralhadora que Jone Romaguera trouxe do exterior ficou comigo durante muito tempo. Eu a guardava lá no SNI; era uma pasta comum, estilo 007, só que dentro dela havia uma metralhadora Ingra 38046 9mm, com silenciador. Você apertava um botão da pasta e ela disparava rajadas de tiro.
O esquema de entrada das armas no país envolvia alguns pilotos da Varig, dos voos que vinham do exterior. Naquela época a tripulação não passava por revistas nos aeroportos. Um dos pilotos era irmão de um famoso ator da Rede Globo, de quem não consigo lembrar o nome.
Sugiro ler também o livro "A Refundação do Brasil" de Luiz Gonzaga de Souza Lima da editora RiMa que pode ser encomendado pelo site http://www.estantevirtual.com.br/. O livro conta como nós, o Brasil, começamos, via Empresa Brasil, com a modernidade. A modernidade começou na periferia e depois foi para o centro: Europa. O livro explica como o capitalismo foi construído no Brasil, via empresa privada em terra privada apoiado pelo Estado, para produzir, com mão de obra escrava, o que o mundo não tinha: açúcar e depois outros produtos.
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