9 de maio de 2012

Somos pobres!



A APPI - Associação de Pastoras e Pastores da IECLB - está desencadeando uma luta pela reposição da Subsistência Ministerial defasada desde 1997 entre 70% a 80%. Em 1997 a Subsistência Ministerial com o Adicional Previdenciário estava em 9,1 salários mínimos e hoje está em 4,8 salários mínimos, deste valor já estão comprometidos de 40% a 50% para o INSS, Imposto de Renda, AMA, Reserva Ministerial, Previdência Privada e devolução, para os novos, para o Fundo de Bolsas da igreja. Sobram para viver com a família de 50% a 60% do valor recebido. A APPI está pedindo uma reposição salarial de 20% para 2013 e mais 20% em 2015. Posso muito bem imaginar as reações nos Conselhos Paroquiais onde as pessoas dirão: "Não podemos repor estas perdas salariais porque isto vai onerar demais os nossos membros, pois somos uma paróquia pobre e os nossos membros são pobres!"

Se os membros da IECLB são em sua maioria pobres, o que é de fato verdade, então a sua paróquia está fazendo um trabalho de base com estes pobres para acabar com a sua pobreza e a pobreza em geral, atacando as raízes da pobreza?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MST - Movimento dos Sem Terra - na luta pela Reforma Agrária para que os/as filhos/as dos pequenos agricultores, que não tem condições de comprar terra para seus filhos/as, possam ser assentados no programa de reforma agrária do governo federal? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores - na luta pelas sementes crioulas para baixar o custo de produção no plantio e contra as sementes transgênicas que nos subordinam aos interesses das multinacionais das sementes e dos venenos? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MMC - Movimento de Mulheres Camponesas - para lutar pela igualdade de gênero, salarial e iguais condições de vida para todos e todas e pela preservação das sementes crioulas para ficarmos independentes dos interesses das multinacionais, do veneno e das sementes transgênicas, que nos exploram e ameaçam a biodiversidade? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MAB - Movimento de Atingidos por Barragens - para lutar contra a expropriação das terras dos pequenos agricultores à beira dos grandes e médios rios onde o grande capital quer construir barragens para lucrar com a venda da energia e para as grandes empresas capitalistas poderem produzir mercadorias baratas para poderem competir no mercado internacional à custa da expulsão dos pequenos agricultores de sua terra? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o Movimento Sindical, tanto da cidade como no campo, para que haja preços justos para os produtos agrícolas, para que haja produtos que não ameacem a saúde dos consumidores e para que haja um salário digno para os/as operários/as e condições dignas, saudáveis e humanas de trabalho? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com as pessoas e organizações populares que estão organizando a economia solidária, como alternativa ao sistema capitalista? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com os movimentos ecológicos na luta contra o agronegócio escravocrata que quer destruir o ecossistema Amazônico, o Cerrado, o Pantanal, a Caatinga e o que resta da Mata Atlântica? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com a CPT - Comissão Pastoral da Terra - na luta contra o trabalho escravo, promovido pelo agronegócio, e pela reforma agrária? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MTD - Movimento dos Trabalhadores Desempregados - para que haja emprego digno e dignamente remunerado para todas as pessoas? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto - para que haja moradia digna para todas as famílias neste país? Não?

A sua paróquia está fazendo um trabalho de base com o movimento agroecológico pela reforma agrária, pela produção de alimentos saudáveis e contra os agrotóxicos? Não?

A sua comunidade coloca o espaço de seu pavilhão ou de sua igreja gratuitamente à disposição do MST, MPA, MMC, CPT, MTST, MTD, etc. para que possam se reunir, estudar, se organizar e lutar pelos direitos básicos de dignidade e vida plena reservados à todas as pessoas? Não?

Então eu não entendo este argumento de que a sua paróquia é pobre e que os membros da IECLB são pobres se não estão fazendo nenhum trabalho de base para acabar com a pobreza e as suas raízes encravadas no sistema econômico capitalista predador. Por que não estão fazendo um trabalho de base, com os membros pobres e não membros pobres, para acabar com as raízes da pobreza se a maioria dos membros de sua paróquia são pobres? Não lhes parece contraditório? Ou será por medo, covardia, preguiça, acomodação ou por apoiar velada e abertamente as causas da pobreza? Isto seria uma agressão ao Evangelho de Jesus Cristo.

O Concílio Geral da IECLB em 1982 já ordenou para se fazer um trabalho de base na paróquia com os pobres para acabar com a pobreza e as injustiças neste país e a sua paróquia ainda hoje, 30 anos depois, não tem nenhum trabalho de base com o movimento popular e sindical que ataque as causas da pobreza. Para relembrar a ordem deste Concílio a cito e também o que diz parte da Mensagem deste Concílio:

"Para que todos possam usufruir das dádivas do Criador, agindo responsavelmente diante delas, propomos o seguinte:
- realizar campanha de ampla informação e conscientização dos problemas agrários e urbanos:
- apoiar o agricultor na sua luta pela permanência no campo:
- assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros, atingidos por barragens, colonos sem terra, bóias-frias, sindicatos, proteção ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer se tornar vivo e real entre as pessoas."

Cito também parte das decisões deste Concílio:
"Apoio engajado e consciente ao pequeno agricultor e à pequena indústria, dentro da perspectiva de um modelo simples de vida, decorrente do próprio Evangelho. Por isso apoiar:
a) Movimentos populares, associações de bairro, órgãos de classe, sindicatos dos trabalhadores rurais, cooperativismo sadio.
b) Projeto de CAPA (Centro de Aconselhamento ao Pequeno Agricultor), LACHARES, grupos em defesa da ecologia e ambiente natural
c) Movimentos no espírito de não violência
d) As prioridades de ação da IECLB e confessionalidade luterana".

Se depois de 30 anos a sua paróquia ainda não tem nenhum trabalho de base com os movimentos sociais e sindicais que ataque frontalmente as raízes da pobreza então os seus argumentos não passam de farisaísmo demagógico e sem vergonha. Por que? Porque na verdade na sua paróquia só tem pobres no exato momento, e tão somente, enquanto se discute o orçamento da paróquia para o ano seguinte. O argumento da pobreza só existe para conseguir baixar os custos da contribuição dos membros e não há nenhuma preocupação com os pobres e com um trabalho de se acabar com a pobreza e suas raízes históricas. Após esta discussão orçamentária do final de ano no Conselho Paroquial que dura somente uma hora os pobres e a preocupação com eles desaparecem. Isto é demagogia e farisaísmo.

Não só isso, mas isto é traição ao santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo que ordena acolhermos as vítimas do sistema deste mundo, como está escrito claramente em Mt 25.31-46.

Pior ainda: aposto que se o/a pastor/a quisesse ou estivesse fazendo um trabalho de base com o MST, MPA, MMC, CPT, MTST, MTD, etc. a paróquia não renovaria o seu TAM e na Avaliação este/a pastor/a receberia, como conseqüência de seu trabalho com o movimento popular e sindical, a resolução de ser afastado desta paróquia porque os membros não admitem que seu/sua pastor/a faça um trabalho de base com os pobres que vá além da distribuição de roupas velhas e de alguns alimentos, como mera descarga de consciência.

Então, não me venham com esta conversa demagógica e farisaica, somente na hora de fazer o orçamento, de que a Igreja tem que olhar para os pobres, se a sua paróquia nunca olhou para os pobres, nem os acolheu, nunca se interessou pelos seus problemas e com isto os desprezou e nunca fez e nem deixou fazer nenhum trabalho de base para ajudar nas organizações dos pobres através de suas entidades de classe para em conjunto com eles lutar contra as raízes da pobreza, para acabar com a pobreza, para que haja vida abundante para todos, como Jesus diz em Jo 10.10.

Palmitos, 1° de maio de 2012.
Pastor Günter Adolf Wolff.

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