18 de outubro de 2012

A Família no Censo



Quinta, 18 de outubro de 2012


Número de mulheres que são chefes de família dobra em 10 anos, aponta IBGE

O número de mulheres chefes de família dobrou em uma década no Brasil. Levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a partir de dados apurados para o Censo Demográfico, mostra que o volume de mulheres responsáveis pelo domicílio saltou de 9,048 milhões para 18,617 milhões entre 2000 e 2010. Já o número de homens chefes de família permaneceu praticamente inalterado, em 31 milhões. No total, o Censo 2010 contabilizou 49,9 milhões de chefes de família em todo o país.

A reportagem é de Alessandra Saraiva e publicada pelo jornal Valor, 18-10-2012.

Para o IBGE, o maior volume de mulheres chefes de família representa um avanço, que reflete maior presença das mulheres no mercado de trabalho e melhor nível de escolaridade. Taxas menores de fecundidade também favoreceram o resultado. Mas, alguns especialistas alertam que o dado pode indicar maior quantidade de mulheres que precisam cuidar dos filhos após a partida dos maridos, com o término de uniões conjugais.

Ontem, o IBGE divulgou os resultados de nupcialidade, fecundidade e migração e famílias e domicílios do Censo 2010. Os responsáveis pelo domicílio não necessariamente são aqueles que ganham mais dentro da família, explicou o técnico da coordenação de população e indicadores sociais do IBGE, Gilson Gonçalves de Matos.

Nessa classificação se encaixam os que assumem a responsabilidade total pela família, de maneira mais ampla do que somente pagar as contas. "Por exemplo, o pai, ou a mãe, pode se declarar responsável, mas ainda morar com filhos que ganham mais do que ele", exemplificou.

Para o técnico do IBGE, o avanço das mulheres chefes de família representa uma verdadeira mudança, nos valores culturais, quanto ao papel da sociedade brasileira. As mulheres, diz Matos, assumem a chefia de suas casas como reflexo da participação cada vez maior no mercado de trabalho e da melhora no nível de escolaridade. "A tendência é que este cenário [de crescimento no número de mulheres chefes de família] continue nos próximos anos", afirmou.

O otimismo de Matos em relação aos números divulgados não é compartilhado pela professora da Faculdade de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Hildete Pereira de Melo. Para ela, o salto no número de chefes de família é um "atraso". Ela justificou sua posição ao se aprofundar sobre os termos "responsáveis pelo domicílio", ou "chefes de família".

"Isso delimita, na prática, a pessoa que fica no domicílio, que permanece com a responsabilidade maior, que é a criação dos filhos", disse Hildete. Para ela, a maior parcela de mulheres chefes de família indica que a responsabilidade de criação das crianças e adolescentes nas famílias fica concentrada na mãe.

"A conexão maior que o pai tem, dentro da família, é com sua mulher, e não com os filhos. Nas separações, os homens se mudam de casa, enquanto as mulheres permanecem nos domicílios", disse a professora.

Outro obstáculo enfrentado pela mulher chefe de família, de acordo com Hildete, é a renda do trabalho. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2011 mostrou que as mulheres receberam, no ano passado, em torno de 70,4% do rendimento de trabalho dos homens, diz a especialista.

Na faixa de menor poder aquisitivo, a situação das mulheres como chefes de família é pior, na análise da professora da Universidade Católica de Petrópolis, Ana Lúcia Paes de Barros. Em seu estudo "Mulheres Pobres e Chefes de Família", a pesquisadora ressaltou que, de maneira geral, as mulheres chefes de família têm menos anos de estudo, taxas de participação no mercado de trabalho inferiores e salários menores do que os dos homens que também são chefes de família.

O crescimento das mulheres como chefes de família já tinha sido notado pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri. Para ele, o resultado pode ser interpretado tanto por uma ótica negativa quanto positiva.

Assim como o IBGE, Neri lembrou que a melhora na participação das mulheres no mercado de trabalho e nos níveis de escolaridade e renda também teriam contribuído para o resultado. "Acho que é uma "mudança sociológica", mas não acho intrinsecamente ruim", disse o presidente do Ipea.

Com taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição, Brasil fez a transição demográfica

"O Brasil já completou a fase final da transição demográfica, com a fecundidade caindo de cerca de 6 filhos por mulher nos anos 1960 para níveis abaixo da reposição em 2010, com 1,9 filho", constata Eduardo L. G. Rios-Neto, professor no Departamento de Demografia da UFMG, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 18-10-2012.

Segundo ele, "a população brasileira deixará de crescer em algum ponto a partir de 2030".

Eis o artigo.

Os dados possibilitam a difusão de uma realidade não totalmente conhecida por pessoas não especializadas, além de permitir uma reflexão sobre suas implicações.

Este é o caso da taxa de fecundidade total abaixo do nível de reposição. Uma população com a taxa de fecundidade de 2,1 filhos por mulher no período reprodutivo (15 e 49 anos) terá crescimento populacional nulo, caso esta persista por longo período.

O Brasil já completou a fase final da transição demográfica, com a fecundidade caindo de cerca de 6 filhos por mulher nos anos 1960 para níveis abaixo da reposição em 2010, com 1,9 filho.

Dados de outras pesquisas sugerem que a fecundidade já pode estar em 1,7. De qualquer forma, a população brasileira deixará de crescer em algum ponto a partir de 2030.

Há várias explicações. Os fatores clássicos são: aumento na escolaridade feminina, maior participação delas na força de trabalho, aumento na escolaridade dos filhos, queda da mortalidade infantil e maior urbanização.

Há explicações mais complexas associadas às relações de gênero, ao papel de fatores culturais mais específicos como a religião ou até o papel da TV e do consumo de bens duráveis e de luxo. Embora seja instigante saber o que causou a queda da fecundidade, dificilmente haverá um consenso.

Um debate mais recente e mais importante trata da fecundidade abaixo do nível de reposição, se esta taxa cairá mais ainda e até que ponto.

Não há dúvidas de que a escolaridade materna está correlacionada com a queda.

Os dados do IBGE mostram que a fecundidade das mulheres com ensino superior completo é de 1,14 filho, enquanto as sem instrução e com ensino fundamental completo têm fecundidade de 3 filhos.

Exercícios com os dados dos Censos de 2000 e 2010 revelam que quase metade da queda na fecundidade se deveu ao aumento na escolaridade das mães, enquanto a outra metade se deveu a mudanças de comportamento das mulheres.

Nessa perspectiva, a fecundidade poderia continuar caindo caso a escolaridade materna continuasse aumentando.

Cabe lembrar que fecundidade abaixo do nível de reposição não é necessariamente nefasta. Do lado positivo podemos citar o fato de que a redução no número de crianças em idade escolar possibilita uma verdadeira revolução na qualidade da educação.

Censo retrata um novo perfil da família brasileira

Os dados do Censo 2010 divulgados ontem também revelam novas características das famílias brasileiras. Cresceram as uniões informais, os casamentos inter-raciais, as separações e os divórcios.

Pouco mais de um terço dos brasileiros que vivem algum tipo de união conjugal não formalizou o casamento no civil nem no religioso. A chamada união consensual foi a única que teve crescimento na década, passando de 28,6% para 36,4%. A proporção de pessoas casadas no civil e no religioso, no mesmo período, caiu de 49,4% para 42,9% na década.

– O casamento informal era mais concentrado na região Norte, e entre casais de baixa renda. Agora, está mais disseminado. É comum a decisão de passar por uma experiência antes de contrair matrimônio. Existe também uma questão econômica, já que a união consensual requer menos gastos, não só com a festa, mas com todas as formalidades – afirma Ana Lúcia Saboia, do IBGE.

A reportagem é publicada pelo jornal Zero Hora, 18-10-2012.

As uniões entre casais de raças diferentes estagnou no país. Em 1960, 88% dos casais eram formados por pessoas da mesma raça, percentual que caiu para 80% em 1980. Em 2000, chegou a 70,9%. Em 2010, o índice ficou praticamente o mesmo: 69,3%. Os dados mostram, também, que homens e mulheres tendem cada vez mais a se unir a pessoas do mesmo nível educacional. Em 2010, 68,2% dos casais tinham o mesmo nível de instrução. Em 2000, eram 65%.

– Os ganhos em escolaridade tornam a população um pouco mais homogênea – diz o técnico do IBGE Leonardo Athias.

Mudanças demográficas, como queda da taxa de fecundidade, econômicas, como ingresso crescente da mulher no mercado de trabalho, e legais, como a diminuição na burocracia para o divórcio, também contribuíram para mudanças no perfil das famílias brasileiras. A proporção de divorciados quase dobrou em 10 anos, passando de 1,7% da população para 3,1%. Os casados caíram de 37% para 34,8%. Com as mulheres tendo menos filhos e mais tarde, houve um aumento das famílias formadas por casais sem filhos, que passaram de 15% para 20,2%. Mas o arranjo familiar mais comum continua a ser o de casais com filhos: 55%. Em 2000, eram 63,6% das famílias.

Do total de 27,4 milhões de casais com filhos, um sexto (16,3%) vive com enteados, além de filhos, ou só com enteados. Esses casais formam o que o IBGE chama de “famílias reconstituídas”. Outro dado inédito mostrou que a maior parte dos 60 mil casais gays (53,8%) são formados por mulheres. Do total de pessoas que declararam ter cônjuges do mesmo sexo, 47,4% se disseram católicas e 20,4% sem religião. Pouco mais de um quarto (25,8%) tinha curso superior completo, índice bem superior à média nacional, de apenas 8,3%. Por causa da maior inserção da mulher no mercado de trabalho, cresce a proporção de casais em que os dois cônjuges têm renda. Em 2010, 62,7% dos casais tinham renda do marido e da mulher. Eram 41,9% em 2000.



Dados do país revelados pelo IBGE

UNIÕES

Confira algumas curiosidades do mais recente censo:

- Mais de um terço das uniões no Brasil são consensuais. Este tipo de relacionamento aumentou de 28,6%, em 2000, para 36,4% do total, no último levantamento.

- O número de casados caiu de 37% para 34,8% entre 2000 e 2010. O percentual de divorciados quase dobrou no mesmo período, passando de 1,7% para 3,1%.

- 69,3% dos brasileiros escolhem parceiros da mesma cor ou raça. Esse comportamento é mais forte dentre os grupos de brancos (74,5%), pardos (68,5%) e indígenas (65,0%)

CHEFIA DO LAR

- O percentual de famílias chefiadas por mulheres (reconhecidas como responsáveis pela casa) no país passou de 22,2% para 37,3%, entre 2000 e 2010.

CONDIÇÕES DE VIDA

- 52,5% dos domicílios são considerados adequados (contra 43,9% em 2000), ou seja, contam com abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica, coleta de lixo direta e indireta e até dois moradores por dormitório.

- Entre 2000 e 2010 houve um crescimento na proporção de domicílios onde vive um só morador, passando de 9,2% para 12,1% das casas.

- O percentual de domicílios com até dois moradores por dormitório (padrão considerado adequado) cresceu de 62,9% em 1991 para 81,9%.

FECUNDIDADE

- A taxa de fecundidade (média de filhos por mulher) caiu de 2,38 em 2000 para 1,90 – abaixo da taxa de reposição da população (que é 2,1), o que acelera o envelhecimento médio dos brasileiros.

- A proporção de casais sem filhos aumentou entre 2000 e 2010, passando de 14,9% para 20,2% do total.

MIGRAÇÃO

- 35,4% da população não residia no município onde nasceu, sendo que 14,5% (26,3 milhões de pessoas) moravam em outro Estado.

Quinta, 18 de outubro de 2012

Mais trabalho, menos crianças

Novos dados do Censo 2010, revelados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), demonstram que os gaúchos lideram uma tendência nacional de substituir filhos por trabalho e maior rendimento. O Estado apresenta o maior percentual do país de casais sem filhos, somando 23,6% famílias sem descendência, e o segundo mais elevado índice nacional de domicílios em que os dois cônjuges trabalham. Como resultado, os lares rio-grandenses estão mais abastados, mas com presença cada vez mais rara de crianças.

A reportagem é de Marcelo Gonzatto e publicada pelo jornal Zero Hora, 18-10-2012.

Até os anos 1980, a maior parte das famílias gaúchas contava com apenas uma fonte de renda. Conforme o supervisor de Documentação e Disseminação de Informações do IBGE-RS, Ademir Koucher, hoje há pelo menos dois ingressos de rendimento na maioria dos domicílios devido ao fato de tanto o homem como a mulher trabalharem.

– Há 30 anos, havia uma pessoa com renda e três dependentes, principalmente crianças. Hoje, a maioria das casas tem duas fontes de renda de casais que trabalham. Como resultado, há menos dependência, maior riqueza e possibilidade de poupança – analisa Koucher.

Essa revolução na vida doméstica gaúcha é completada por uma segunda frente: a diminuição na fecundidade, que vem sendo freada pela devoção crescente das mulheres ao mercado de trabalho, e cada vez menor à vocação maternal. A redução na natalidade gaúcha, tradicionalmente uma das menores no país, levou à queda da média de filhos por mulher de 2,1 para 1,7 em uma década. Como resultado, o número médio de ocupantes dos domicílios diminuiu de quatro, há 30 anos, para apenas três pessoas atualmente.

– Muitos gaúchos vêm trocando a possibilidade de ter filhos pela busca de uma maior riqueza e melhor condição de vida. É um fenômeno que, segundo os dados revelam, vem sendo mais intenso no Rio Grande do Sul do que em outras partes do Brasil – observa Koucher.

O recuo na fecundidade ocorre, principalmente, entre casais com maior escolaridade e faixa de rendimento. Essa tendência vem contribuindo ainda para a criação de ilhas de isolamento no Estado – quando a casa não é ocupada nem mesmo por um casal, mas por uma única pessoa sem a companhia de um cônjuge ou filho. Herval, localizado no sul gaúcho, é o município brasileiro com maior proporção de domicílios onde vive apenas uma pessoa. Da mesma forma, Porto Alegre lidera as capitais nesse quesito.

Mais de 1 milhão de gaúchos foram viver em outra região

Além de enfrentar o progressivo encolhimento das famílias, o Estado registra um alto número de emigrantes. Mais de 1 milhão de gaúchos escolheram deixar o Rio Grande do Sul para viver em outra região do país, segundo apurou o Censo. Dos mais de 11 milhões de pessoas que nasceram em solo rio-grandense, perto de 10% buscaram outras paragens. O destino preferencial dos desgarrados é Santa Catarina, onde vivem nada menos do que 422 mil gaúchos – população que, reunida, formaria o terceiro maior município do Estado, atrás apenas de Porto Alegre e Caxias do Sul.

Em compensação, o Rio Grande do Sul tem 347 mil habitantes vindos de outras áreas do país, nascidos principalmente em Santa Catarina (157 mil) e no Paraná (73 mil) – e é a quarta região brasileira com maior presença de estrangeiros.

Os dados divulgados ontem pelo IBGE detalham informações sobre nupcialidade, fecundidade, migração e características das famílias e dos domicílios. Parte já havia sido divulgada, mas agora inclui maior riqueza de detalhes e cruzamento de informações.



Quinta, 18 de outubro de 2012

Mulheres são maioria entre casais homossexuais

Um número maior de mulheres declarou estar numa união homossexual no Brasil do que o de homens que viviam com companheiros do mesmo sexo, segundo dados do Censo 2010.

Dentre os casais homossexuais, 53,8% eram constituídos por duas mulheres e 46,2% por dois homens. Foi a primeira vez que o IBGE pesquisou casais do mesmo sexo, ao indagar no questionário do Censo o sexo do cônjuge do chefe da família.

A informação é publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 18-10-2012.

Até então, o instituto assumia que todos os casados viviam com pessoas do sexo oposto. A população brasileira tem 51% de mulheres e 49% de homens.

Para Júlio Moreira, presidente da ONG Grupo Arco-Íris, questões culturais explicam o fato das mulheres se "assumirem mais" quando estão numa relação estável.

Segundo ele, mesmo entre as lésbicas prevalecem os valores de buscar um relacionamento duradouro. Já os homens, diz, são criados com uma "cabeça mais libertária", que os permite "transitar mais entre várias relações".

Ao todo, o IBGE constatou que em cerca de 60 mil domicílios brasileiros moravam casais do mesmo sexo. O total correspondia a apenas 0,1% dos domicílios do país.

Moreira afirma que esse número "certamente embute uma elevada subnotificação", fruto do preconceito. "Muitas pessoas ainda ficam no armário. Têm medo de se assumirem."

Não existem, porém, dados oficiais da população homossexual no Brasil nem do total de uniões registradas em cartório ou aprovadas na Justiça.

Entre os lares com casais homossexuais contabilizados pelo IBGE, a grande maioria (52,6%) estava na região Sudeste, principalmente nas metrópoles de São Paulo e Rio.

Depois, os contingentes mais expressivos estavam nas regiões Nordeste (20,1% do total) e Sul (13%). Do total, o Centro-Oeste tinha só 8,4% dos casais, e o Norte ficava com 5,9%.

Segundo o IBGE, 25,8% dos casais formados por pessoas do mesmo sexo diziam ter ensino superior completo. Já 47,4% deles se declararam católicos - maior grupo religiosos entre casais do mesmo sexo, seguido pelo de pessoas sem religião (20,4%).

Uma curiosidade revelada pelos dados do IBGE é que 13% das pessoas que compunham casais homossexuais eram casadas ou tinham registro de união estável.

Quinta, 18 de outubro de 2012

No Brasil, 8,3 milhões de famílias dividem suas moradias

Os dados do Censo 2010 divulgados ontem mostram que 8,3 milhões de famílias no País (15,4% do total) dividem moradias, fugindo do modelo de apenas um núcleo familiar. A proporção cresceu nessa década: em 2000, 6,5 milhões de famílias (13,9%) viviam sob o mesmo teto.

O número de famílias que dividem uma moradia é um dos critérios para o cálculo do déficit habitacional e se soma a informações como má qualidade dos domicílios e excesso de pessoas no mesmo quarto. Embora o Censo não indique as razões para as famílias se agruparem, fatores financeiros são decisivos: um quinto (21,8%) das chamadas famílias secundárias (que vivem como "agregadas" de uma família "principal") não têm renda.

A informação é publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 18-10-2012.

Estimativas recentes de déficit habitacional variam de 7,9 milhões a 9,2 milhões de moradias. O Ministério das Cidades informou que trabalha com déficit de 5,5 milhões, com base em informações de 2008, e atualizará o índice com base no Censo 2010.

As regiões com maior proporção de famílias que dividem a mesma casa são as mais pobres: Norte (23,1%) e Nordeste (17,6%). O tipo de família secundária mais comum é formada por mulheres sozinhas com um ou mais filhos. Segundo técnicos, em geral são mães solteiras que nunca deixaram a casa dos pais ou mulheres que voltam à antiga moradia após se separarem.

É o caso de Priscila Castro, de 26 anos, que voltou para a casa dos pais, agora com o filho Guilherme, de 1 ano e 9 meses, após se divorciar. Quando conheceu o ex-marido, há cerca de três anos, no Recife, a paixão foi fulminante. Sete meses depois eles se casaram, no Rio, onde ele mora. Guilherme tinha 2 meses quando a separação, que já havia sido ensaiada, concretizou-se.

"Não era exatamente isso que eu queria", conta Priscila. Agora, pretende retomar a faculdade que abandonou. Para ela, a permanência na casa dos pais é temporária.

O IBGE registrou 4 milhões de famílias "principais" que dividem os domicílios com 4,3 milhões de famílias "secundárias". "Há casos em que as famílias vivem juntas por vontade própria. As famílias que entram no cálculo do déficit habitacional são as que dividem o domicílio porque não têm condições financeiras de viver separadas", diz o técnico Gilson Gonçalves de Matos.




Divórcio quase dobra em dez anos e impulsiona novas famílias, diz IBGE

O empresário Luiz Campriglia, 40, vive em casa com uma menina de um ano e um menino de oito. Ela é filha do seu relacionamento com a produtora Aline Prado, 29, com quem se casou há três anos; já o garoto é filho do primeiro casamento dela.

Segundo o Censo 2010, que investigou pela primeira vez o tema, quase um sexto (16,2%) dos lares habitados por casais com filhos contam com a presença de filhos de relacionamentos anteriores.

A reportagem é de Denise Menchen e Pedro Soares e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 18-10-2012.

Para a pesquisadora Ana Lúcia Saboia, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), isso se deve ao aumento do rompimento de relações conjugais no país.

Quando essas pessoas já têm filhos e se unem a novos parceiros, dão forma ao que os especialistas chamam de "famílias reconstituídas".

"É cada vez mais comum que os casamentos hoje venham com um pacote", diz Ceneide Cerveny, professora de psicologia da PUC-SP.

Para ela, isso originou a figura dos "coirmãos" - que, diferentemente dos meios-irmãos, não têm laços sanguíneos, mas são criados juntos.

"Primeiro tem que ter uma fase de adaptação, que chamo de fase de conquista, quando o Luiz conquistou o Liam", afirma Aline Prado, sobre o filho que levou para o relacionamento com Campriglia -depois, eles tiveram Mia, 1.

"Também ajuda a manter uma amizade com o ex, que é o meu caso. Ele hoje tem uma namorada que até busca o Liam na escola", diz.

A terapeuta familiar Cristiana Pereira diz que atende cada vez mais famílias nessa situação, que é complexa. "Mas, com afeto e muita conversa, é possível resolver."

A diretora de arte Ana Notte, 35, também passou pela experiência. Ela já morou com os dois filhos do casamento anterior do marido - Nicolau, 17, e Antonio, 13.

"Hoje, eles moram com a mãe, mas a convivência foi boa", diz a mãe de Julia, 5.

"O que mais complica é a diferença de idade. Mas com o tempo vira uma família só e hoje ficamos com eles semana sim, outra não", diz o marido, Michel Spitale, 51.

"Juntar os meus, os seus e os nossos não é fácil", diz a psicanalista e terapeuta familiar Flavia Stockler. Ela diz que um filho é para sempre. "Depois de ter um filho, nunca mais há separação total do casal. O que tem que acontecer é uma reorganização do novo sistema familiar."



TENDÊNCIA

Para Saboia, do IBGE, a tendência é que situações como essas sejam mais comuns. Em 2010, a parcela de divorciados chegou a 3,1%, quase o dobro dos 1,7% de 2000.

O aumento das separações tem diferentes explicações, como a maior aceitação social do divórcio e a simplificação dos trâmites legais.

Além disso, há a maior inserção da mulher no mercado de trabalho, que deu a ela autonomia financeira para se livrar de relacionamentos.

O retrato mostra ainda que cresce a parcela de casais sem filhos -um quinto do total.

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