5 de outubro de 2012

Está na hora de radicalizar.



Ih! Que título feio. Isso aí ninguém vai ler. Você tem a mania de assustar a pessoas com esta tua linguagem agressiva. Ninguém gosta de pessoas radicais ou de atitudes radicais. As pessoas se ofendem, se assustam e se incomodam facilmente com esta tua linguagem. Mas estas mesmas pessoas que se ofendem com o tom de minha linguagem não se ofendem e nem se incomodam com o fato dos camponeses serem expulsos de suas terras pelas barragens e as famílias serem removidas de suas casas e serem mal indenizadas por causa da construção dos estádios para a Olimpíada e para a Copa, muito menos se escandalizam com o assassinato de lideranças dos povos indígenas, nem se escandalizam com a devastação do Cerrado para dar lugar à soja transgênica do agronegócio, que é um dos grandes responsáveis pelo uso de 1 bilhão de quilos de veneno ao ano no Brasil, nem se escandalizam com a aposentadoria antecipada da peonada por causa da LER adquirida nos frigoríficos do agronegócio da carne, nem se escandalizam com a absurda concentração de terra e renda deste país e muito menos se escandalizam com os 50 mil assassinatos (a maioria de jovens de 15 a 34 anos) e os 45 mil mortos em acidentes de carro anuais (matamos 100 mil pessoas ao ano no Brasil e ninguém se escandaliza). Estou começando a achar que o problema não é a minha linguagem, mas a postura destas pessoas frente à exploração e opressão capitalista, eles a apóiam e simpatizam com ela. Como alguém pode apoiar a exploração e a opressão contra as quais Deus luta desde o AT? Porque também quer ser um capitalista de sucesso, como promete a teologia da prosperidade e a teologia da glória, e para tal precisa explorar outras pessoas, pois não há outro caminho para a riqueza a não ser a exploração e a opressão econômica, política, cultural e ideológica sobre outras pessoas. Hoje não se fala mais em ser um capitalista de sucesso, isto soa meio feio, por isso diz-se: um empreendedor de sucesso. Isto escamoteia e esconde melhor a luta de classes que há entre capitalistas e trabalhadores. O SENAI e SEBRAE fazem cursos para empreendedores que são os novos nomes pelos quais os capitalistas são denominados, assim como as novas denominações para os trabalhadores são: colaboradores e associados. Linda jogada ideológica!

Pois é, o problema é que Deus é radical, ele radicalizou em Jesus Cristo se tornando um camponês sem terra e sem teto na periferia do Império Romano, na Palestina, especificamente na Galiléia, que não tinha lá grande fama (Jo 7.40-52). A Galiléia era a periferia (do Império Romano) da periferia (Templo de Jerusalém) e Jesus de Nazaré era um 'João Ninguém' no meio desta periferia até quando começou o seu ministério aos 30 anos e mesmo nos relatos históricos do opressores ele não é mencionado, afora algumas citações suspeitas de revisão cristã. Somente nos relatos do povo oprimido e explorado é que ele é citado, que é a Bíblia. A Bíblia é a memória do povo camponês explorado e oprimido ao longo de mais de um milênio que sonha com esta nova sociedade igualitária que Jesus acabou por chamar de Reino de Deus. Deus radicalizou em comparação à sua ação no AT onde fez uma opção de classe na luta de classes no Egito em favor da classe camponesa escrava hebréia. Ali ele se pôs do lado dos camponeses sem terra escravos, para, a partir deles, construir uma nova sociedade sem classes, sem templo e sem Estado nas montanhas da Palestina onde a terra estava sob o controle do coletivo. Agora no NT ele mesmo se torna classe camponesa em Jesus de Nazaré entre a estrebaria/manjedoura e a cruz/ressurreição. Deus em Jesus Cristo tem os pés fincados no lugar histórico da manjedoura e da cruz (a partir dali Ele anuncia o Evangelho do Reino de Deus aos empobrecidos e vítimas do sistema opressivo), que é o lugar vivencial dos explorados e massacrados pelos modos de produção classistas em todos os tempos. No processo de construção de seu Reino Deus começa sempre com os massacrados e pelas vítimas, este é o seu lugar social. Ele não perde muito tempo com os opressores (apenas os avisa de seu projeto - Êx 3.10: "Vem, agora, e eu te enviarei a Faraó, para que tires o meu povo, os filhos de Israel, do Egito". -, não se ilude com eles, como muitos cristãos - Êx 3.19: "Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte".), pois eles seguem outro projeto e a sua postura e comprometimento econômica não lhes possibilita e nem lhes permite mudar.

Javé além de radicalizar em se tornar classe camponesa em oposição aos opressores desta classe (Lc 2.11: "é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor".) Ele radicaliza morrendo na cruz por alguém que não o merece, nós.

Está bem, isto tudo nós já sabemos. Por que este texto?
Este texto é para lembrar também que Jesus Cristo não era sacerdote, mas leigo e da classe camponesa. Isto já nos aponta a saída. A saída da Igreja são as pessoas leigas e da classe subalterna. Novidade? Não, nenhuma, pois a tradição luterana vive falando do sacerdócio geral de todos os santos. Falando, só falando, viabilizar é outra conversa. Uma vez porque a pastorada não é fã desta idéia e nem as pessoas leigas da IECLB são fãs desta idéia.

Na verdade após a Reestruturação neoliberal de 1997 (que foi o 'Golpe de 64' na igreja) a IECLB está sob o controle administrativo e teológico de pessoas leigas em sua esmagadora maioria: 3 por 1 no Conselho da Igreja, no Concílio da Igreja e nos Conselhos Sinodais. Isto deveria ser um movimento de renovação da Igreja, infelizmente não o é, mas é sua afundação.

O Baeske diz que "a segunda prioridade da igreja é a explicação e o estudo do significado do sacerdócio geral de todos os crentes com a comunidade, conseqüentemente também o ensaio e a execução, na própria comunidade, do sacerdócio das pessoas que crêem (I Pe 2.5 e 9) e foram batizadas, e, por isso, exercitam o sacerdócio comum (de todos os batizados crentes), mútuo (um é sacerdote para com o outro) e em conjunto (toda comunidade tem o ministério sacerdotal via batismo: o ministério da reconciliação - II Co 5.18-19)". A explicação e o estudo, o ensaio e a execução do sacerdócio geral é que são o nosso problema.

Primeiro as pessoas leigas normalmente não querem saber do estudo da teologia e muito menos saber do ensaio e execução do sacerdócio geral de todos os crentes porque estão pagando para o/a pastor/a fazer o que ele/a, leigo/a, deveria e poderia fazer. Em segundo lugar as pessoas cristãs não querem saber deste Reino de Deus, anunciado pelo Deus tornado pessoa num camponês sem terra e sem teto, porque ele propõe a construção de uma nova sociedade não classista e igualitária. As pessoas cristãs, com suas devidas e honrosas exceções, não querem saber de uma nova sociedade não classista, por mais que reclamem da opressão capitalista, elas querem é subir na vida, ser capitalistas, e a Igreja tem que legitimar este seu sonho (impossível para a esmagadora e imensa maioria, como nos explica Marx).

Aí está o grande desafio da Igreja: "explicação e o estudo do significado do sacerdócio geral de todos os crentes com a comunidade, conseqüentemente também o ensaio e a execução, na própria comunidade, do sacerdócio das pessoas que crêem (I Pe 2.5 e 9) e foram batizadas". Estudo e prática em direção à uma nova Igreja não determinada pela teologia do deus capital, este é o desafio que também nos é lembrado pelo Manifesto Chapada dos Guimarães (devidamente ignorado e escondido numa pasta no fundo de uma gaveta). O estudo, evidentemente, vai ser um estudo teológico classista, não 'neutro' como costuma ser (que na verdade é e sempre foi uma formação com uma opção claramente classista, pela classe capitalista); caso contrário não muda nada. Este papo de que não se poder fazer opção de classe é papo furado, pois a Igreja já fez a sua opção de classe, pela classe capitalista, só não tem coragem de dizer isto, mas a prática a denuncia. Se queremos construir uma nova Igreja em permanente reforma, como diz Lutero, é fundamental a formação teológica classista conforme a opção classista do próprio Deus em Jesus Cristo. Mas aí o que vai sobrar? Alguém vai querer fazer parte de uma Igreja destas, que faz opção de classe, pela classe explorada pelo capital? Como é que fica a nossa Associação Cultural Germânica e Recreativa com fins Religiosos, que se costuma chamar de IECLB?

O que Jesus propõe em Jo 12.24? "Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto". Esta Igreja que fez a sua opção, na prática pela classe capitalista, tem que morrer para ressurgir uma nova Igreja construída a partir dos setores explorados e oprimidos pelo capital: classe trabalhadora, povos indígenas, quilombolas e afro descendentes, capitalistas falidos pela crise, os que são o lixo e a escória da sociedade capitalista (1 Co 4.13): desempregados, subempregados, prostitutas, homossexuais, lésbicas, travestis, moradores de rua, favelados, sem terra, o lumpenproletariado. Isto só é possível pelo sacerdócio geral de todos os crentes junto com um estudo classista das Escrituras, da teologia, da confessionalidade, da realidade o que vai automaticamente inserir estes membros nas lutas revolucionárias no processo de construção desta nova sociedade não classista que Jesus Cristo chama de Reino de Deus e neste processo podemos nos unir aos comunistas que também querem construir uma nova sociedade não classista que eles chamam de comunismo, nos unir aos povos andinos que sonham com a sociedade do Sumak Kawsay, com os povos africanos com o ubuntu, com o povo guarani que busca a Terra sem Males, etc. A IECLB só sobreviverá se morrer, o que obviamente ela não vai querer e nem fazer. Nenhuma instituição se suicida para renascer nova. A tendência de toda instituição é se reproduzir e se perpetuar. Mas Jesus lembra em Mc 8.35: "Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á". Isto vale também para a Igreja.
Lutero já nos disse:

"A terceira forma deveria ser uma ordem verdadeiramente evangélica, e não deveria ser realizada em lugar tão público para todo tipo de povo. Mas os que querem ser cristãos com seriedade e que confessam o evangelho com mãos e boca deveriam assinar o seu nome e reunir-se entre si, em alguma casa, para orar, ler, batizar, receber o sacramento e fazer outras obras cristãs. De acordo com essa ordem se poderia conhecer, repreender, corrigir, afastar ou excomungar de acordo com a regra de Cristo em Mateus 18.15-17 os que não vivessem uma vida cristã. Aí também se poderia solicitar aos cristãos contribuições gerais que então fossem dadas e distribuídas de boa vontade aos pobres segundo o exemplo de S. Paulo em 2 Coríntios 9. Não haveria necessidade de muito canto elaborado. Poderia estabelecer-se uma forma simples e boa para o batismo e o sacramento e centralizar tudo na palavra, na oração e no amor. Aí se precisaria de um bom e breve catecismo sobre o credo, os dez mandamentos e o pai-nosso. Em resumo, se se tivesse o tipo de gente e pessoas que desejassem seriamente ser cristãos, as regras e as formas estariam prontas sem demora. Mas ainda não posso nem desejo atualmente organizar ou formar uma tal congregação ou reunião. Pois ainda não tenho gente e pessoas para isso, nem vejo muitos que estão inclinados para isso. Mas se eu tiver de fazê-lo e for solicitado e não puder de sã consciência deixar de fazê-lo, de bom grado contribuirei com a minha parte e ajudarei com o melhor que puder."

Após 500 anos ainda não temos gente para esta tal nova Igreja de Jesus Cristo e "nem vejo muitos que estão inclinados para isso", como diria Lutero. Ou temos?
Que tal a gente começar a procurar pessoas batizadas ou não (elas vão querer o batismo após a formação teológica e prática de luta revolucionária acompanhada por outra pessoa já batizada) para construir a tal Igreja simples, a partir da fé em nosso Senhor Jesus Cristo, o Kyrios, a partir dos simples com formação teológica classista e prática de luta revolucionária classista contra o capitalismo (o mundo, pois a nossa luta é contra o mundo) em direção à construção do Reino de Deus?

Que tal a gente organizar e oferecer ao povo luterano um curso de teologia não determinado pela opção da teologia do capital (como é o normal na Igreja, o que ela nega veementemente, mas a prática a trai, como no exemplo que ouvi que um pastor mudou o destino da coleta destinada ao trabalho com os povos indígenas para ser aplicada no trabalho com casais da paróquia; isto mostra a teologia da opção pela classe capitalista na Igreja, mesmo a Igreja a nível nacional fazendo um trabalho com povos indígenas com dinheiro majoritariamente de fora, do estrangeiro, o que reafirma o que estou dizendo), mas determinado pela opção teológica classista de Deus em Jesus Cristo que parte da teologia da cruz (o que já é uma opção teológica classista muito clara: partir da teologia da cruz)? Partir da cruz é partir do chão do crucificado, Jesus Cristo, e dos crucificados de hoje pelos quais Ele morreu. Ele morreu pelos capitalistas também, mas para estes vale o que vale para todos o que fala em Mc 1.15: arrependei-vos e crede no evangelho.

Que tal a gente começar a organizar a partir de alguém, como Paulo, que se considera ou é considerado e tem as características de uma "peste", que "promove sedições" e é um "agitador da seita dos nazarenos" se dispõe a começar este processo de construção de uma nova Igreja a partir da classe trabalhadora e demais explorados pelo capital? (At 24.5 "Porque, tendo nós verificado que este homem é uma peste e promove sedições entre os judeus esparsos por todo o mundo, sendo também o principal agitador da seita dos nazarenos".) Podemos começar com um processo de formação e luta com o povo empobrecido a partir da teologia da cruz de Cristo e seus desdobramentos e conseqüências para os dias de hoje.

Podemos inserir esta conversa sobre formação/estudo e prática revolucionária do Reino de Deus na discussão de um Projeto de Igreja para o nosso Sínodo ou vamos fugir desta conversa com medo dos capitalistas que mandam na Igreja, desde a comunidade, que tem sua teologia determinada pelo deus capital, dizendo serem discípulos de Jesus Cristo e que tem Jesus no coração, mas que não admitem que se lute pela Reforma Agrária e pelos direitos dos povos indígenas e quilombolas a partir da Igreja?

Para construir o novo temos que quebrar o velho ou usar o velho a nosso favor. O que temos que quebrar? Temos que quebrar com a germanidade e sua cultura excludente, temos que quebrar com esta Igreja que se tornou uma Associação Cultural Germânica e Recreativa com fins Religiosos, temos que quebrar com a mentalidade e prática de clube que a Igreja virou (clube dos alemães), temos que desmitificar este Jesus Cristo romantizado, bem vestido, loiro e de olhos azuis (Jesus era chineludo, mal vestido e palestino com pele escura, morto de fome - Mt 12.1-8 - sustentado, nos 3 anos de seu ministério, por um grupo de mulheres - Lc 8.1-3 - que tinham como proposta seguir Jesus até a cruz e servir (Mc 15.40-41). Jesus era uma ameaça às instituições - Templo e Império Romano - por causa da insurgência evangélica, como nos lembra Lc 23.1-5).

Como a germanidade e sua cultura podem ajudar a construir um novo Projeto de Igreja? Marx, Engels, Rosa Luxemburg (era polonesa e viveu na Alemanha) e Karl Liebknecht também eram alemães. A SPD era o primeiro grande partido de esquerda do mundo com milhões de filiados bem organizados na Alemanha com jornais, revistas, editora e escolas. Germanidade não é só trajes típicos e chopp. Como ir além de sermos historicamente a igreja dos alemães que vai para onde eles vão (Novas Áreas de Colonização e agora na região do Cerrado - sem criticar a sua prática destruidora dos ecossistemas para fortalecer a prática demolidora do agronegócio que viabiliza o capitalismo internacional no campo) para atendê-los meramente em suas necessidades religiosas e passarmos a ser a Igreja de Jesus Cristo no Brasil? Que tal o Jorev Luterano fazer uma série de artigos de como o processo de colonização e de migração ajudou a impedir a Reforma Agrária e a viabilizar o projeto capitalista no campo e como os luteranos ajudaram neste processo, mesmo sendo vítimas deste processo, não o sabendo? Ah! desculpe, esqueci que o jornal oficial da IECLB não aborda tais assuntos mundanos porque isto desagrada aos capitalistas que mandam na igreja desde a comunidade.
Agora estamos no processo de construção do material do Ensino Confirmatório que certamente está sendo construído a partir da realidade da luta de classes nas quais vivem a Igreja e as famílias trabalhadoras luteranas no campo e na cidade no processo da insurgência evangélica da construção coletiva desta nova sociedade não classista e igualitária que é o Reino de Deus em oposição ao reino do mundo, o capitalismo. Estou ansioso para ver este material. Ah, desculpe, eu tinha esquecido que a gente não pode contar a verdade para o povo! Ele se assusta facilmente. Quem se assusta? O povo, os/as pastores/as, os capitalistas? Então, vamos continuar mentindo para o povo e deixá-lo na santa ignorância só porque os capitalistas não querem que o povo saiba de como é a verdade sob o capital? 

O que mesmo foi que Jesus Cristo disse? Jo 8.31b-32: "Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verdadeiramente meus discípulos; e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará". 'Se permanecerdes na minha palavra', diz Jesus, e não na palavra do capital, sereis livres. A verdade está na Palavra de Jesus Cristo e não na palavra mentirosa do capital, que sempre esconde a realidade de exploração e de opressão para perpetuá-la. A palavra de quem nós vamos anunciar na Igreja? De Jesus Cristo ou do capital? Se é a Palavra de Jesus Cristo então porque não podemos dizer como as coisas são, mesmo no material de catequese? Javé diz em Êx 3.7-8 como as coisas são e quem é quem no processo opressivo: "Certamente, vi a aflição do meu povo, que está no Egito, e ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento; por isso, desci a fim de livrá-lo da mão dos egípcios e para fazê-lo subir daquela terra a uma terra boa e ampla, terra que mana leite e mel" e v. 9 "e também vejo a opressão com que os egípcios os estão oprimindo". Javé mostra a realidade como ela é e diz quem é quem no processo de exploração e opressão. Por que a Igreja não pode fazer o mesmo? Vamos continuar mentindo para ao povo (fazendo formação teológica "neutra", que de neutra não tem nada) só porque os capitalistas não querem que se revele a verdade da sua opressão? Vamos continuar permitindo que o nosso povo continue servindo de bucha de canhão pela migração para o capital no campo e desbrave e destrua ecossistemas inteiros para limpá-los para o capital internacional que está vindo agora para plantar commodities para exportação e expecular com os alimentos? Vamos continuar permitindo que o nosso povo continue servindo de bucha de canhão na cidade onde nossos jovens que ainda moram com os pais no campo viajam diariamente de ônibus de 2 a 4 horas para serem triturados pelo trabalho exaustivo e repetitivo nos frigoríficos do oeste catarinense e serão bagaço humano descartável em 5 a 10 anos e estarão permanentemente fora do mercado de trabalho com 30 anos de idade por causa da LER e terão dores horríveis até o resto de seus dias? Vamos continuar mentindo para o nosso povo apesar destes massacres?

Mas, calma aí, não estamos mentindo, apenas não falamos sobre isto, porque isto não é assunto de se falar na prédica na Igreja ou nos estudos bíblicos dos grupos porque a igreja deve falar das coisas espirituais e os capitalistas também não permitem que se fale sobre isto na igreja! Grande saída! De que coisas espirituais Jesus Cristo fala no Pai Nosso, que é a oração do Reino? Começa dizendo que o nome de Deus seja santificado no meio de nós e não o nome do capital e que venha o Reino de Deus e não o reino do capital que já está aí. Fala do pão nosso de cada dia que os empobrecidos não tem porque não tem terra, que está concentrada nas mãos de alguns latifundiários, fala das dívidas não perdoadas dos empobrecidos pelo sistema deste mundo (que na época os levava ou para a prisão ou para a escravidão), fala do mal do sistema capitalista vigente hoje do qual Deus nos quer afastar e proteger, porque o poder é de Deus e não do capital e o Reino também é de Deus e não do capital. Em nome deste Poder de Deus e deste Reino de Deus nós nos insurgimos evangelicamente contra o capitalismo que é o instrumento que o diabo está usando para tentar impedir a construção do Reino de Deus. Esta é a materialidade da espiritualidade evangélica insurgente.

Quando Jesus diz em Jo 10.10 que ele veio para trazer vida abundante então esta espiritualidade se materializa em pão, terra, trabalho e outras cositas más que necessitamos para ter vida abundante. A vida abundante não se determina pelo valor do salário mínimo, que  vale a metade do que valia em 1940, e que é a renda per capita de 50% das famílias brasileiras. Vida abundante não é ser rico (para ser rico você tem que ser ladrão: roubar o valor do tempo de trabalho do peão no processo de produção da mercadoria, que é o que se chama de lucro) como supõe a teologia da prosperidade que não funciona porque os dados do IBGE dizem que 93% dos pentecostais são pobres, pois recebem até 2 salários mínimos. E se o povo não tem vida abundante então a partir da fé em Jesus Cristo a comunidade tem a obrigação de lutar por isto que falta organizando o povo e participando das organizações que o povo já tem (Movimentos Populares, Sindicatos, Partidos Políticos e ONGs) e se for o caso (como o é) mudar o sistema econômico, que não permite que todos tenham acesso a todos os meios de vida. Isto se chama diaconia, que não é só distribuir roupa velha e sopões para os pobres. Trabalho diaconal significa também participar do processo revolucionário de construir uma nova sociedade não classista e igualitária. Mas isto não vai quebrar a igreja como ela é agora como Associação Cultural Germânica e Recretiva com fins Religiosos? Vai, é este o processo do grão de trigo que tem que morrer para poder viver. A Igreja Primitiva cresceu mais pelo trabalho diaconal do que pela pregação da Palavra apenas.

Agora já é demais, vocês está insinuando que nós mentimos na igreja? Eu não estou insinuando que nós mentimos na igreja. Eu estou afirmando que nós mentimos na igreja. Por exemplo: aquele pastor que anunciou que a coleta do domingo está destinado para o trabalho com casais na paróquia está mentindo, pois sabia que a coleta está destinada ao trabalho com os povos idígenas. Por que ele mudou o destino? Porque a comunidade é contra os povos indígenas e quem sabe ele também. Quem sabe até foi imposição da diretoria da comunidade e ele se sujeitou para não comprar briga, se acovardou e vendeu o Evangelho de Jesus Cristo. Em todo caso isto foi uma mentira advinda da ideologia da classe economicamente dominante que diz que os povos indígenas são um atraso para o capitalismo porque não consomem mercadorias que a indústria capitalista produz e ainda por cima estão em terras cobiçadas pelo agronegócio escravocrata (a cada ano em trorno de 5 mil escravos são libertos das fazendas do agronegócio pelos fiscais do MTE - Ministério do Trabalho e Emprego), assassino (de camponeses e ambientalistas) e depredador da natureza (a metade do Cerrado já foi depredado para plantar soja que usa a metade dos 1 bilhão de quilos de veneno usados no Brasil anualmente) e pelas mineradoras, pois tem minerais preciosos úteis ao lucro capitalista e por isso estes povos tem que desaparecer. Estão atrapalhando o progresso e o desenvolvimento, capitalista, é claro.

Quando nós sabemos de injustiças e agressões que ocorrem contra a classe trabalhadora explorada pelo capital e não falamos estamos mentindo, por omitir a verdade e os fatos. Fazer de conta que as coisas não estão acontecendo é mentira também. Com esta mentira aparentemente inocente (que de inocente não tem nada) este pastor e esta comunidade estão justificando o assassinato e o genocídio dos povos indígenas no Brasil, do passado e do presente, quebando vários mandamentos: o segundo (por usar o nome de Deus em vão para justificar em seu nome o roubo e o assassinato), o quinto (por legitimar o massacre indígena), o sétimo (por legitimar o roubo das terras indígenas), o oitavo (por mentir que a coleta está destinada ao trabalho com casais), o nono e o décimo (por cobiçar as terras indígenas nas quais tem riquezas que os capitalistas cobiçam e por isso querem exterminar - matar - estes povos), e com isto, o pastor e a comunidade, estão com sangue nas mãos como também o dinheiro desviado para o trabalho com casais se tronou um dinheiro sujo e ensanguentado.
Então, mudar o destino da coleta não é simplesmente mudar o destino da coleta que é definida pelo Conselho da Igreja, mas isto pode ajudar no assassinato e no genocídio, significa ser coautor de assassinato, pois o dinheiro da coleta gasto no trabalho com os povos indígenas ajuda em sua organização e seu fortalecimento ao direito à vida e ao direito ao acesso à terra e à manutenção de sua cultura, como lhes garante a Constituição do país. Então, não apenas somos mentirosos na Igreja, mas também somos assassinos e genocidas. O Hitler, o Stalin e o Mao iriam se orgulhar de nós e de nossa eficiência na execução do Holocausto Americano, que já soma 70 milhões de vítimas desde a época da Conquista. Botamos os três no chinelo! E ainda continuamos a nos chamar de Igreja de Jesus Cristo no Brasil. Não é lindo! Enquanto crucificamos adoramos o Crucificado. E o diabo dá risada e fica contente com a nossa eficiência! Igreja melhor que esta ele não precisa.

Viu eu não te disse? De novo com esta linguagem agressiva e ofensiva. Na IECLB a gente tem que amenizar, passar a mão, pois senão o povo se assusta e principalmente a pastorada. A gente não pode dizer a verdade assim no seco. Tem que passar mel, passar melado e nunca dizer o nome do pecado. Pode até falar de pecado no geral, mas nunca dizer o nome do pecado e nem suas consequencias, isso não pega bem. Sabe como é! A Igreja tem que agradar as pessoas e falar o que elas querem ouvir senão elas não voltam mais. Essa coisa de pregação pura e reta do Evangelho é coisa só do papel, coisa pró forma porque fica bonita a gente dizer isto, impressiona, mas não é para ser levado tão a sério.

Sou um grande defensor da teologia oficial da IECLB e creio que a IECLB é a melhor Igreja de Jesus Cristo no Brasil, comparado com as outras. Mas por que então você vive baixando o cacete na igreja? Na verdade não baixo o cacete na Igreja, apenas faço uma leitura da realidade da Igreja e de sua prática que normalmente não combina com a teologia oficial da Igreja. A teologia oficial da Igreja é apenas papel, pois não é posta em prática no grosso do que deveria ser posto em prática e, pior, não dá respaldo para quem o tenta e o faz. As coisas decididas em Concílio que agridem e questionam o sistema capitalista e sua ideologia não são postos em prática e não são encaminhados planejadamente para execução nas comunidades pela direção da Igreja. É a teologia do papel. Algumas normas são executadas outras não. O TAM que abre brecha para a venda do Evangelho no varejo é mantido e executados à risca, por outro lado o que dá visibilidade confessional à Igreja como a Liturgia e as Vestes Litúrgicas observa quem quer, como também observa quem quer as propostas missionárias aprovadas em Concílio. Somente as questões financeiras aprovadas em Concílio são executadas e encaminhas à risca. Até hoje nenhuma direção da Igreja conseguiu explicar porque não executa as normas que falam da liturgia e das vestes litúrgicas. A gente sabe porque, mas seria interessante uma vez ouvir uma explicação oficial. Não basta me dizer que os novos que são ordenados só o são com vestes litúrgicas se depois ninguém ficaliza se as continuam usando. A gente também conhece o papo furado sem fundamento teológico, confessional e histórico dos que não usam as vestes litúrgicas e a liturgia aprovada em Concílio. Sou de opinião que somente quem tem muita fé e muita coragem deveria se candidatar para o cargo de pastor/a sinodal e pastor/a presidente. A fé não dá para medir, mas a coragem sim. Falo da coragem de executar quem não usa vestes litúrgicas e nem a liturgia oficial aprovada em concílio e encaminhar com acompanhamento fiscalizatório todas as decisões conciliares e não só as que não põe o capitalismo em perigo. A Igreja pode ser uma ameaça ao capitalismo? Pode, não só pode, mas deve, assim como a Igreja Primitiva foi uma ameaça ao Império Romano e seu modo de produção escravista. Quando a Igreja não põe o sistema deste mundo em risco ela deixa de ser Igreja de Jesus Cristo. Tiago 4.4 lembra: "Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus".

O que o novo Projeto de Igreja que queremos construir vai ser: Templo de Jerusalém ou Igreja de Jesus Cristo?
A função do Templo é ser Religião para acomodar e sujeitar ao sistema opressor vigente; historicamente todo templo de qualquer religião foi isto. Igreja de Jesus Cristo é a assembléia do povo de Deus insurgente contra o sistema deste mundo no caminho (At. 19.23: "Por esse tempo, houve grande alvoroço acerca do Caminho".) da construção desta nova sociedade não classista e igualitária que é o que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. Igreja de Jesus Cristo é aquela que constrói uma nova sociedade em oposição à atual incluindo a escória do mundo para acabar com o projeto do mundo, hoje o capitalismo. Por isso a Igreja Primitiva construiu a eklesia com escravos, mulheres, sem terra e estrangeiros em oposição à da cidade onde só os latifundiários escravocratas participavam; por isso a Igreja Primitiva construiu outro conceito de Deus Pai em oposição ao pai da pátria - o César - e do pai da casa que era dono da mulher, dos filhos, da propriedade privada da terra e dos escravos; por isso a Igreja Primitiva se reunia nas casas que as mulheres líderes colocavam à disposição (Rm 16) para dar outro sentido ao conceito de casa do Império Romano; por isso a Igreja Primitiva praticava a diaconia evangélica subversiva acolhendo as vítimas do sistema (Mt 25.31-46): viúvas, órfãos, doentes, estrangeiros e demais pessoas que eram considerados a escória da sociedade (1 Co 1.26-29); por isso o trabalho para os cristãos era algo digno (1 Co 4.12: "e nos afadigamos, trabalhando com as nossas próprias mãos" e Gn 1.) num mundo onde o trabalho para os escravocratas era algo indigno, coisa de gente inferior, de escravo e de estrangeiro. Assim a Igreja Primitiva construiu uma série de valores teológicos em oposição ao mundo escravocrata romano para mostrar que "entre nós não é assim" (Mc 10.43), nós temos outro projeto de sociedade e o estamos construindo em oposição ao vigente. Por que os cristãos de hoje não tem mais e nem ensaiam mais outro projeto além do capitalismo? Dá para justificar isto teologicamente? Por que a Igreja não deixa isto claro? Por que o Manifesto Chapada dos Guimarães não é um documento fundamental para a IECLB na prática? Ele só tem 12 anos e já virou mofo e poeira histórica.

Atualmente quem a IECLB acolhe? Os índios, sem terra, atingidos por barragens, sem teto, catadores, desempregados, movimentos populares e sindicais? As comunidades da IECLB abem gratuita e livremente as portas de seus pavilhões e igrejas para estes se reunirem e se organizarem junto com a comunidade na luta evangélica insurgente contra o capitalismo e em favor do Reino de Deus?
O que vamos fazer com estes textos, entre outros, se não conseguimos ser críticos frente ao mundo capitalista?

Tiago 4.4: "Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus".
1 João 2.15: "Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele".
1 João 5.19: "Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno".
1 João 5.5: "Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?"

Diga-me uma coisa: Você não está aposentado? Estou. Não mora numa chácara? Moro. Por que então não vai plantar batata e tirar leite da vaca e para de encher o saco com os teus textos? Faça que nem os outros aposentados: faça artesanato ou abra uma loja de tintas ou um hotel para cachorro! Assim ao menos ganharia alguns trocados.

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