15 de outubro de 2012

De como o Capitalismo dá a linha para algumas práticas na Igreja.




A essência do capitalismo é a apropriação indevida do mais valor gerado pela classe trabalhadora no processo de produção da mercadoria que também está ancorado na propriedade privada dos meios de produção. É o valor gerado e não pago ao trabalhador/a que produz e reproduz o capitalismo. Este valor gerado e não pago ao trabalhador/a é a gênese do capital. O capitalismo está ancorado em cima deste roubo. Este roubo tem que ser legalizado e o é pelo Estado e pela ideologia da classe economicamente dominante, a que é proprietária privada dos meios de produção e que controla o próprio Estado para que este legitime o seu roubo.

Ao trabalhador sobra apenas a obrigação de vender a sua força de trabalho para gerar o mais valor, para o comprador de sua força de trabalho, no processo de produção da mercadoria que vira fetiche e manda no próprio produtor. É fundamental que no capitalismo se esconda a todo o custo o roubo do tempo de trabalho não pago ao trabalhador no processo de produção da mercadoria. O salário é um destes mecanismos que consegue esconder este roubo legal do mais valor produzido pelo trabalhador no processo produtivo. O salário parece algo legal e justo, pois ele representa o combinado entre o vendedor de sua força de trabalho e o comprador da força de trabalho. Esta ilusão do salário ser o justo faz com que o/a trabalhador/a não se dê conta de que ele/a produziu muito mais valor do que compreende o salário que recebe. O salário esconde o mais valor produzido pelo/a trabalhador/a e que foi apropriado pelo capitalista.

Assim, o capitalismo se compõe de um mecanismo de esconde-esconde que deixa como natural o fato de se ser obrigado sempre a esconder de onde vem o mais valor produzido e não pago. O capitalista diz que a sua riqueza vem do seu trabalho, mas o trabalhador também trabalha e por que ele não fica rico, mas somente o capitalista que compra a sua força de trabalho, seu tempo de trabalho? Aí vem muitas lorotas para explicar isto. Uma é a competência. Também os candidatos que compram muitos votos e ganham a eleição dizem que a sua vitória se deve à sua competência na campanha e que eles conseguiram expressar a realidade do povo em suas propostas. Tudo mentira deslavada.

Esta dinâmica da mentira em se esconder constantemente a origem da riqueza, que está no roubo do mais valor produzido pelo/a trabalhador/a, também se transfere para o âmbito da Igreja, que obviamente também vive no capitalismo e é infectado por este vírus envolvente da mentira, da safadeza e do roubo.

Qual é a safadeza que se desenvolve na Igreja? É o mesmo processo de ter que esconder o roubo de parte do Dízimo que a comunidade deixa no caixa da comunidade com a desculpa que tem que manter a estrutura da comunidade e o salário do/a pastor/a. Pessoas mui honradas que fazem parte da direção da comunidade legitimam este roubo com a desculpa que este dinheiro é necessário à manutenção da própria Igreja. Rouba-se a Igreja para salvar a Igreja. Assim como o capitalista também mui honradamente diz que é uma pessoa justa porque paga o salário combinado, mas deixa de dizer que se apropria do mais valor gerado durante o mês que não está embutido no salário, que é o seu sacro santo lucro, que origina o capital. Este sagrado roubo do mais valor gerado pelo trabalhador tem que ser permanentemente escondido e não pode ser revelado.

Como a comunidade cristã vive dentro do capitalismo e o apóia em sua essência e o assume como a única possibilidade de organizar a vida e a sociedade ela então reproduz esta dinâmica do roubo capitalista e o reproduz na sonegação de parte do Dízimo a ser repassado ao Sínodo, onde 46% ficam com o Sínodo e 56% vão para a administração geral da IECLB.

Como faz parte da dinâmica do capitalismo a mentira e o roubo então, se no capitalismo se pode fazer isto, então porque na Igreja a gente não pode reproduzir esta prática já que nos baseamos na teologia do deus capital, dizendo ser Jesus Cristo? Temos uma prática do deus capital na Igreja do Deus Jesus Cristo. Esta é a contradição, além de jurarmos de pés juntos que somente adoramos a Jesus Cristo e não somos idólatras. Adoramos a Jesus Cristo e juramos de pés juntos que temos e adoramos somente um Deus, mas temos a prática do deus capital. Onde está a verdade? A verdade está na prática, não no que falamos. 

Como diz na 2ª Tese das Teses sobre Feuerbach de Karl Marx. "A questão de saber se cabe ao pensar humano uma verdade objetiva - não é uma questão da teoria, mas sim uma questão prática. É na práxis que o ser humano tem de provar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensar. A controvérsia acerca da realidade ou não realidade do pensar - que está isolada da práxis - é uma questão puramente escolástica". A práxis mostra a verdade. A verdade é que usamos a ética do capitalismo, que é não ter ética, e por isso podemos sonegar parte do Dízimo. É a dinâmica do capitalismo que determina a ação destas comunidades e não o Evangelho de Jesus Cristo; esta é a verdade.

Assim como os capitalistas ficam furiosos quando o movimento sindical e popular explicam ao povo como funciona a sociedade e o roubo do mais valor, que gera o capital, também na Igreja estes mesmos defensores do capitalismo que administram a comunidade ficam furiosos quando alguém desvenda e desnuda as suas mentiras e práticas sonegadoras e indecentes com o dinheiro que não lhes pertence.

Assim como sabemos da história do capitalismo que perseguiu, prendeu e assassinou os trabalhadores que lutavam através dos sindicatos e movimentos populares pelo direito de receber a parte apropriada pelo capitalista que eles haviam produzido, assim na Igreja os que gerenciam as comunidades perseguem quem os denuncia como sonegadores e desonestos no que diz respeito ao Dízimo retido ilegalmente segundo as normas eclesiásticas.

Assim como o capitalista se entende como o mais honesto e ético possível estas mesmas pessoas que gerenciam as comunidades e sonegam parte do Dízimo também se consideram as mais honestas, preocupadas e bem intencionadas para com a sobrevivência da Igreja. Pois ao sonegar parte do Dízimo estão salvando a Igreja, a nível de comunidade e paróquia, da bancarrota, dizem. De repente, mais do que de repente, a desonestidade e a mentira viram virtudes fundamentais para a salvação da Igreja.

Não conseguem se dar conta de que estão reproduzindo os mesmos mecanismos falsos, desonestos e sujos que o capitalismo usa para se reproduzir ancorado na subtração de parte que não lhe é devido, que é o mais valor produzido e não repassado ao trabalhador/a, para não usar os tão temidos e odiados termos roubo e corrupção. Assim como a nível de administração pública se usa os termos "malversação de dinheiro público" ou "apropriação indébita", que são palavras mais bonitas para roubo, corrupção e ladroagem. Coisa que todos detestam, mas se reproduz esta mesma dinâmica em algumas comunidades da IECLB (que segundo consta não são poucas) no que concerne ao repasse de parte do Dízimo (principalmente das festas, bailes e aluguéis) que acaba ficando no caixa da comunidade, com estas honrosas desculpas esfarrapadas de que este dinheiro é necessário para manter a comunidade.

Esquece-se que no período anterior à Reestruturação Capitalista Neoliberal da Igreja de 1997 as paróquias repassavam para a IECLB entre 20% a 30% do total do seu orçamento e hoje precisam repassar apenas 10% do total, segundo as novas regras da Igreja. Aposto que estas mesmas comunidades sonegadoras de parte do Dízimo se oporiam a uma discussão de se acabar com esta atual estrutura da Igreja (que elas agora criticam para justificar a sua malandragem) para torná-la mais dinâmica, livre e democrática, porque esta atual estrutura abriu uma séria de possibilidades de práticas repressivas que as comunidades adoram (porque ajuda na manutenção do capitalismo) para se poder controlar e impedir a pregação pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo, que ameaça o capitalismo pela pregação e construção prática do Reino de Deus, que é uma nova possibilidade de se organizar a vida e a sociedade toda de forma igualitária e não classista onde os meios de produção estão sob o controle de toda a sociedade e onde não existe mais a exploração de um ser humano sobre o outro, que hoje é a essência do sistema capitalista que viabiliza a produção do mais valor, que o/a trabalhador/a não recebe e cujo fato o salário consegue esconder.

Desta forma estas comunidades sonegadoras antiéticas (porque o capitalismo também não tem ética) usam das mesmas manhas do sistema capitalista envolvente para se reproduzirem e justificam sua falta de ética como sendo necessária para a salvação da Igreja da bancarrota, mas que na verdade esconde a falta de clareza teológica, criatividade e de empenho, em muitos dos casos. Prefere-se a mentira à verdade e quem fala a verdade é mal visto, ameaçado, perseguido e odiado; e se, no caso, for pastor/a vai levar sutilmente um ponta pé na bunda no próximo período da renovação do TAM. Como todo ladrão age de forma violenta quando é descoberto (reage com tiros contra a polícia e contra os que assalta) também as pessoas destas diretorias que sonegam parte do Dízimo reagem com violência contra quem os denuncia e procura convencê-los que estão errado, ameaçando sutilmente e se isto não surtir efeito partem para ameaças mais concretas de não renovar o TAM da pastorada ou prometem a pura e simples agressão física em quem os denuncia. É a dinâmica da ladroagem, no pequeno crime organizado cristão, pois na ladroagem grande a gente vê como os USA o faz: fazendo guerra, matando, torturando e perseguindo para garantir a continuidade da ladroagem das riquezas das nações saqueadas. O ladrão pequeno, como o grande, age sempre da mesma forma, com violência. Como o capitalismo não tem ética isto tudo é possível na comunidade e fora dela.
Temos na verdade um problema teológico de fundo que é a compreensão de Igreja e do Evangelho de Jesus Cristo. As comunidades pensam que a Igreja é delas, que elas são donas da Igreja, quando a Igreja é de Jesus Cristo. A Igreja não é minha nem nossa, mas de Jesus Cristo. Roubando a Igreja estou roubando a Jesus Cristo.

Outro problema teológico vem da raiz da prática destas comunidades que sonegam parte do Dízimo. A sua teologia parte da teologia do deus capital e por isso essa prática de subtrair parte do Dízimo é algo normal porque no capitalismo subtrair o mais valor produzido pelo trabalhador é algo normal e legal, então nada mais normal do que fazer isto também na Igreja (que se baseia pela dinâmica do capitalismo e não pela do Evangelho de Jesus Cristo). Como para estas comunidades não existe outra possibilidade de organizar a sociedade além do capitalismo então são as normas do capitalismo que valem. Por falta de clareza teológica não sabem (e isto a Igreja também não deixa claro para não entrar em choque com os capitalistas e assim vende o Evangelho) que há outra possibilidade de organizar a vida e a sociedade que Jesus Cristo chama de Reino de Deus, que se opõe ao reino do mundo, o capitalismo. As dinâmicas provenientes do capitalismo permitem o desvio de parte do Dízimo, porque isto é da essência do sistema, mas quando se parte da essência do Evangelho do Reino de Deus esta prática é rechaçada por ser imoral e antiética. Como no capitalismo não existe ética então na comunidade, que segue o deus capital, também não tem ética, mas se a comunidade segue a Jesus Cristo então há uma ética que encontramos nos mandamentos e no amor a Deus acima de tudo e ao próximo como a si mesmo. Quem segue a ética do Evangelho não desvia dinheiro que não lhe pertence com desculpas esfarrapadas.

Na verdade a Igreja está colhendo o que semeou. Não prega o Evangelho de Jesus Cristo de forma clara como oposição ao deus capital, que tem como projeto de sociedade o capitalismo, quando o Evangelho de Jesus Cristo tem como projeto de sociedade o Reino de Deus, uma sociedade igualitária de irmãos e de irmãs. Estas contradições se sana, em parte, com uma prática eclesial ao lado e em conjunto com o movimento popular e sindical pela promoção do ser humano e de seus direitos fundamentais e formação teológica clara, não 'neutra' (que de neutra não tem nada, pois é uma clara teologia com opção pela classe capitalista), como sói acontecer e por isso estamos nesta roubada (em que esta maioria leiga que dirige a Igreja, desde a comunidade, é pró-capitalista e a maioria dos/as obreiros/as também o é, por falta de clareza teológica e auto-defesa de seu espaço no campo de trabalho como espaço de sobrevivência econômico).

As grandes questões nacionais que também atingem nosso povo luterano não têm espaço para discussão e luta em nossa Igreja. Somos cada vez mais uma Igreja em espaço urbano e não discutimos este espaço e nem o espaço do campo, onde cada vez mais temos comunidades menores, pois as maiores já estão na cidade há muito tempo.

Na cidade poderíamos e deveríamos discutir a partir do Evangelho do Reino de Deus que se opõe ao capitalismo: a violência urbana; tráfico de drogas que está fazendo o toque de recolher à noite nas cidades por causa dos assaltos e seqüestros relâmpago, também de dia; o problema do transporte coletivo e individual e como enfrentar isto; desemprego e subemprego e doenças advindas da super-exploração do trabalho; os baixos salários, pois 83% da população recebe até 3 salários mínimos, o que significa pobreza; o isolamento das pessoas no meio da massa; sem teto, moradia e a concentração da terra a nível urbano; movimentos populares urbanos e movimento de mulheres urbanas; cultura urbana de periferia; a questão da saúde pública e do SUS, que nas grandes cidades é complicada; o movimento sindical que luta contra a exploração capitalista em todas as suas formas.

No campo poderíamos e deveríamos discutir: a questão agrária e o modelo agrícola do agronegócio que se impôs também para as famílias camponesas; a migração dos jovens para a cidade, porque desde pequenos escutam dos pais que na agricultura não tem futuro; os jovens que ainda moram no campo com os pais, mas já são recolhidos na madrugada pelos ônibus das empresas para trabalhar nas indústrias da cidade; movimentos populares do campo, como a Via Campesina, movimento sindical e cooperativo (grandes e pequenas cooperativas); a agricultura baseado na química e na transgenia que pouco se questiona no campo.

Estes temas todos parecem para nossa Igreja como coisa do Planeta Marte que não nos dizem o mínimo respeito.

ORDEM DO DIA DO CONCÍLIO DE CHAPECÓ
1 – Culto de Abertura
2 – Relatórios do Pastor Presidente e da Secretária Geral
3 – Documentos legais e normativos da IECLB
4 – Finanças
5 – Moções
6 – Missão e Planejamento
7 – Eleição suplentes Comissão Jurídico-Doutrinária
8 – Diversos
9 – Culto de Encerramento.
Alguma menção neste Concílio aos grandes problemas brasileiros que afetam também nosso povo luterano que é empobrecido em sua esmagadora maioria? Nem análise de conjuntura da Igreja muito menos da realidade brasileira. A não ser que entre no tema: Missão e Planejamento, o que duvido. Definitivamente vivemos como Igreja no Planeta Marte onde os problemas terráqueos não nos atingem e nem nos dizem respeito. Nos velhos tempos da antiga estrutura pré-97 ao menos havia a palestra de um tema que dava o norte ao Concílio; isto nem nas Assembléias Sinodais não acontece mais. A desculpa é: não há tempo para isto. Enquanto isso o navio chamado IECLB continua à deriva em mar aberto de baixo de forte tempestade.

Estas questões todas parecem fora de contexto em nossa Igreja e não conseguem ser inseridas nem nas comunidades nem no Conselho da Igreja onde participam pastores/as que não se consideram de direita e alguns são de fato de esquerda e no pessoal da Sr. dos Passos (onde ninguém das pessoas à frente de alguma secretaria se considera de direita e sim de esquerda; os Pastores Presidentes (os três) se consideram de esquerda e tem sensibilidade para estes temas e mesmo assim os temas que geram sofrimento ao nosso povo não conseguem furar a armadura religiosa da administração da Igreja). Que tipo de raio divino vai ter que bater no meio da Igreja para que se possa arrebentar esta armadura religiosa inexpugnável?

Vivemos como Igreja no meio deste turbilhão de problemas, que atingem nosso povo, mas fazemos de conta que tudo isto não é conosco porque vivemos numa torre mágica acima dos problemas mundanos, afinal o Evangelho é espiritual exclusivamente e nos aliena dos problemas terrenos. Os problemas terrenos sofremos todos os dias e no domingo ou no grupo de família que se reúne em outro dia não queremos refletir a partir de nossos problemas porque queremos um espaço para fugir deles (como se eles desaparecessem com esta atitude). Como se o Evangelho de Jesus Cristo falasse apenas do etéreo e espiritual, quando na verdade Jesus Cristo enfrentou os problemas reais das doenças que advinham da miséria e opressão econômico-político-religiosa; apontou para os problemas da opressão do trabalho e questão fundiária; apontou para a opressão política do Templo e do Império romano e nos Textos Sagrados encontramos análises de conjuntura da sua época para que o povo pudesse se situar em suas lutas contra a opressão (Lc 2; 3; Ap 13; 18, Mt 25).

Estes textos que tenho produzido nos últimos tempos são uma tentativa de conseguir entender a Igreja analisando-a a partir de vários ângulos e situações. Acontece que análise de conjuntura eclesial tem que ser feita com muitas mãos e mentes e ficaria contente se mais pessoas ajudassem nessa tarefa (nos últimos tempos o Oneide e o Lauri têm dado uma contribuição sobre a influência da germanidade e cultura). Acho que a germanidade tem muita influência cultural e histórica, mas a maior ainda é a prática econômica e ideológica capitalista que impõe o seu ritmo na dinâmica da Igreja transformando a teologia em ideologia. Cultura gemânica aliada ao capitalismo é o que impera, mas aos poucos a cultura germânica se esvai na cultura urbana e sobra somente o capitalismo como luz orientadora ou melhor como escuridão orientadora. Temos que aprofundar todos os ângulos.

A APPI poderia compor um grupo que teria esta tarefa de fazer periodicamente uma análise de conjuntura eclesiástica para que tenhamos uma idéia para onde estamos indo e onde estamos, já que a Direção da Igreja nunca fará isto e se o fizer será uma leitura viciada pela atual estrutura. Na reunião de abril a APPI propôs isto e o pessoal da Sr. dos Passos presente que rejeitou a idéia. Sem uma leitura clara e real de nossa realidade e da Igreja continuaremos a andar nas escuras e sem rumo, como estamos agora. A não ser o rumo que o sistema vigente impõe que leva à barbárie. Leitura errada prática errada, leitura nenhuma é a mesma coisa.
Poderíamos juntar um povo da EST e obreiros/as do país afora com a APPI. O problema é financeiro para nos reunir.

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