"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (Jo 8.32)
28 de junho de 2012
Qual a finalidade da vida? Viver!
Que heresia anticapitalista é essa? A finalidade da vida é viver? Não é produzir mercadorias? Não é trabalhar? A finalidade da vida não é trabalhar? Não? Não é trabalhar e trabalhar e trabalhar mais uma vez para poder comprar um carro zero com abatimento do IPI? Não? Para que serve a vida afinal? Só para viver?
Peraí, que papo de subversivo é esse? Isso aí não é conversa de comunista? Tem certeza? Tenho. De onde vem esta conversa subversiva que a finalidade da vida é apenas viver?
De onde vem? Da Bíblia.
1 Tm 6.8 diz: "Tendo sustento e com que nos vestir estejamos contentes".
O contexto diz:
6 De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. 7 Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. 8 Tendo sustento e com que nos vestir estejamos contentes. 9 Ora, os que querem ficar ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. 10 Porque o amor do dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores.
Tem certeza de quem escreveu isto não era um comunista roxo?
A fonte de lucro é se contentar com feijão e arroz e um chinelo de dedo? Que heresia é essa? Parece coisa de índio preguiçoso!
Nós descendentes de alemães e italianos temos que trabalhar para construir o progresso e o desenvolvimento! Por isso a gauchada é vista pelo Brasil afora como um bando de gafanhotos. Onde passam não sobra nada de verde, derrubam tudo. Para que? Para plantar soja. Desmataram o Rio Grande, depois Santa Catarina, depois o Paraná, depois o Mato Grosso, hoje estão acabando com o Cerrado. Para que? Para viver é que não foi. Eles nem sabem mais o que é vida. Só vivem para trabalhar, para ficar rico. Quem ficou rico com o trabalho deles? A Monsanto, a Beyer, a Syngenta, a Valtra, a John Deer (que em bom português significa: João Veado). A gauchada destruiu três biomas para enriquecer meia dúzia de multinacionais. Isso é viver? Quando se interioriza o capitalismo como única forma de vida dá nisso: não tem tempo para viver, tem que trabalhar.
O ex-presidente do Sindicato e Trabalhadores Rurais de Palmitos me contou que um vizinho dele de 60 anos queria fazem um financiamento de R$ 300 mil para construir um chiqueiro. Estão na roça apenas ele e sua esposa. O ex-presidente do Sindicato perguntou-lhe: Quantos anos você vai ter que trabalhar para pagar este financiamento e vai trabalhar para quem? Os filhos já estão na cidade e nunca mais voltarão para a roça. Este investimento vai ficar para quem? Você e sua esposa vão se matar trabalhando em seus últimos anos de vida para que? Para dar lucro para a Sadia e para o banco?
Este camponês pensou dois dias e decidiu não fazer este financiamento bancário para construir este chiqueiro. Decidiu viver.
Este ex-presidente de Sindicato é um estraga prazeres, um subversivo. Está atrapalhando o progresso e o desenvolvimento do município. Imagine quanto ICMS que o município perdeu com esta conversa e quanto lucro a Sadia perdeu com esta conversa.
E esse camponês vai fazer o que em sua aposentadoria? Apenas viver?
Sem produzir com o seu trabalho lucro para o banco, nem lucro para a Sadia e para a fábrica de ração e de remédios? Apenas viver? Dá para, apenas, viver?
O objetivo da vida é apenas viver? Viver para garantir que todos possam, apenas, viver?
Não há capitalismo que resista diante de uma subversão destas e ainda fundamentada na Bíblia!
Estar contente com o que se tem, que heresia! E o consumo como é que fica? E este último lançamento com nova embalagem e nova fórmula, como é que fica? Viver para apenas viver! Isto é uma subversão insuportável! Prendam quem escreveu isto!
O pior é que esta subversão do viver apenas por viver denuncia a nossa realidade que não deixa as pessoas viverem apenas por viver. As pessoas têm que trabalhar para viver e de tanto trabalhar nem sabem mais o que é viver.
Na modernidade de hoje, por exemplo, na Foxconn a peonada chinesa trabalha 16 horas por dia, como em 1850 se trabalhava nas fábricas insalubres na Europa, para nós aqui no Brasil podermos comprar o nosso Tablet bem baratinho. Esses ali têm que viver para trabalhar.
Mas, existe outra proposta além desta de viver para trabalhar? E que tal trabalhar o suficiente apenas para viver?
Essa história de Gn 1 e 2 é pura sacanagem anticapitalista. Não sei porque a Igreja ainda não arrancou estas páginas da Bíblia. Gn 1 termina com o objetivo do trabalho é gerar o descanso, a vida boa, o viver para viver. Gn 1 diz que o trabalho dá prazer e realização pessoal quando se olha para o que se produziu. E produzir também é por puro prazer, nada de produzir por obrigação. Deus produziu o mundo por puro prazer de produzir, não foi obrigado para isso, foi pura realização pessoal, foi pura criatividade posta em ação. Como será que é a realização pessoal da peonada da Foxconn ou da peonada que trabalha nos frigoríficos, da Sadia, da Seara, da Aurora, da Perdigão, que tem que fazer de 90 a 120 cortes por minuto e ficarão permanentemente inválidos para qualquer trabalho após 5 a 10 anos de serviço? O que eles vão fazer com o resto de toda a sua vida de inválidos para o trabalho e para a vida? Porque com tanto remédio e tanta dor não conseguem apenas viver sem gemer.
Quem trabalha tem, dizem os capitalistas. Quem trabalha fica rico, dizem os capitalistas. Que o diga a peonada da Sadia e suas famílias integradas. Hoje não se fala mais em integrado, mas em parceiro. Por que? Porque a alemoada que não sabe falar bem o português dizia: Sou entregado da Sadia. Agora ele não é mais integrado, agora ele é parceiro. Uma parceria entre raposa e galinha. Assim como o peão de fábrica não é mais peão, é colaborador. Ele colabora para aumentar o lucro do patrão.
Gn 2.15 diz: "Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar". Apenas cultivar e guardar? Não para produzir mercadorias para vender e nem produzir mercadorias para no processo de produção gerar o lucro pela parte do tempo não pago ao trabalhador? Que é isso? Onde nós estamos? Isso é coisa da Igreja ensinar? Onde ficam o progresso e o desenvolvimento? Na bandeira brasileira diz: Ordem e Progresso. Ordem capitalista (pau na peonada descontente) e Progresso capitalista (devastação dos ecossistemas, extinção da biodiversidade e superexploração da peonada). Nada de viver apenas para viver e ainda por cima se contentar com o básico! Onde ficam a exploração da natureza, a poluição, a geração do CO2 e o efeito estufa que são o símbolo do progresso e do desenvolvimento?
Qual é, querem voltar ao tempo dos trogloditas, dos homens e mulheres da caverna?
João 10.10 lembra a palavra de Jesus: "O ladrão vem somente para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância".
Aqui temos dois projetos:
- O projeto do ladrão.
O projeto do ladrão tem como objetivo roubar, matar e destruir o que nos lembra da dinâmica capitalista, esta é a sua essência: roubar, matar e destruir. Todo capitalista é um ladrão porque rouba pelo não pagamento de parte do trabalho feito pelo trabalhador para formar o mais-valor, o lucro. A origem do lucro está no roubo e o lucro é a essência do capitalismo, portanto o capitalismo está construído em cima do roubo. Além do roubo o capitalismo precisa da guerra para destruir parte dos meios de produção que lhe fazem concorrência para reconstruí-los depois que se apropriou deles. E numa guerra o que se faz? Se mata. E a destruição do meio ambiente é o que a empresa capitalista mais faz, além de destruir a vida do trabalhador pela superexploração de seu trabalho.
- O Projeto de Jesus.
O Projeto de Jesus é o oposto da prática do sistema capitalista. Por isso a função daquele que faz parte do Projeto de Jesus é fazer a subversão e se insurgir contra o projeto do capitalismo. Jesus diz que ele veio para que todos "tenham vida e a tenham em abundância". Dentro do capitalismo não é possível que haja vida em abundância para todos porque o sistema está construído em cima da luta de classes. E a luta de classes funciona da forma em que uma classe, a capitalista, rouba uma parte do resultado do trabalho da classe trabalhadora, que é o mais-valor, o lucro. Esta é a base do capitalismo, portanto impossível de coaduná-lo com o Projeto de Jesus.
Por isso Jesus em sua primeira fala pública em Nazaré citando o profeta Isaías disse ser este o seu programa:
Lc 4.18-19: "O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor".
Este programa é pura subversão da ordem estabelecida, pois quer libertar os escravos num modo de produção escravista e por em liberdade os oprimidos, que são todos os povos oprimidos pelo Império Romano dos quais ele cobra tributos. Jesus propõe acabar com a base do sistema econômico escravista romano, por isso ele foi condenado à morte de cruz como subversivo, como diz em Lc 23.1-5. Vida abundante não pode haver dentro de um sistema econômico opressor e quem quer isto é subversivo e lugar de subversivo é na cadeia, no pau de arara e na cruz.
Imagina: vida abundante para todos. Agora a ralé quer vida abundante, onde já se viu! Polícia neles!
O pior do Programa de Jesus não é o seu programa, mas o fato de ele executar o programa, cumprir o seu programa, como diz em Lc 7.18 "Todas estas coisas foram referidas a João pelos seus discípulos. E João, chamando dois deles, 19 enviou-os ao Senhor para perguntar: És tu aquele que estava para vir ou havemos de esperar outro? 20 Quando os homens chegaram junto dele, disseram: João Batista enviou-nos para te perguntar: És tu aquele que estava para vir ou esperaremos outro? 21 Naquela mesma hora, curou Jesus muitos de moléstias, e de flagelos, e de espíritos malignos; e deu vista a muitos cegos. 22 Então, Jesus lhes respondeu: Ide e anunciai a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados, e aos pobres, anuncia-se-lhes o evangelho. 23 E bem-aventurado é aquele que não achar em mim motivo de tropeço".
Neste texto Lucas mostra como Jesus cumpria o seu programa subversivo de perpetuar a vida. Jesus não apenas falava, mas fazia o que dizia. Isto é algo completamente intolerável para qualquer político do projeto do ladrão. Porque há moléstias, coxos e pobres? Porque o projeto do ladrão os produz. Subversão é acabar com aquilo que os produz, que é o sistema econômico opressor, por isso todo cristão batizado é um subversivo e um insurgente.
Ter um programa até o PP, o PSD e o DEM tem um programa. É apenas um programa para ter um programa para ter o que dizer em época de eleição, mas todos sabem que isto é só para enganar os trouxas, pois o seu projeto real é o projeto do ladrão, o capitalismo, que não permite que haja vida abundante para todos, apenas para a elite que é dona dos meios de produção. O seu programa é fazer com que o Estado seja privatizado pela classe capitalista para servi-la em seus intentos de roubar, matar e destruir.
Quem olha para a realidade a partir deste ponto de vista? Por isso urge a Igreja ter um programa de formação para o povo de Deus que seja realista a partir da realidade da luta de classes em que vivemos. Uma formação que prepare os/as cristãos/ãs para o enfrentamento de classe. Precisamos de um projeto de formação que parta da realidade da luta de classes que há na sociedade e na qual a Igreja está inserida. A formação tem que clarear a luta de classes na qual como Igreja vivemos para superá-la para que possa haver vida abundante para todos, que só o Projeto do Reino de Deus propõe.
Temos que parar com esta frescura de fazer de conta que vivemos numa sociedade harmônica quando fazemos formação na Igreja. Esta atitude é porque temos medo da direita que manda na Igreja. Jesus também enfrentou o Templo de Jerusalém. Nós também temos que enfrentar o Templo de Jerusalém que hoje é controlado pela direita. A melhor maneira de enfrentar o Templo de Jerusalém é fazer formação classista na Igreja, para que o povo trabalhador saiba o que é o que e quem é quem na luta de classes que há na sociedade e na Igreja. O povo trabalhador consciente tem que tomar o poder na Igreja e na sociedade, pois, tanto na Igreja como na sociedade que detém o poder é a direita. Para se tomar o poder na Igreja tem que se começar com um projeto de formação classista, para mostrar qual a postura de Deus na luta de classes na Bíblia e hoje e como se dá a luta de classes hoje na sociedade e na Igreja. Porque não se fez isto até hoje? Por medo da direita e porque somos uns cagões. Esquecemos que a direita tem mais medo de nós do que nós deles. Para este enfrentamento temos que reunir e organizar a pastorada e os membros que querem um novo projeto de sociedade e uma nova Igreja. E, nunca esquecer, a fé cristã é insurgente por princípio porque propõe a construção do Reino de Deus que propõe a construção de uma nova sociedade não classista, uma sociedade de irmãos e irmãs onde a sociedade toda controla os meios de produção.
Qual é a qualidade de vida que a pastorada tem na Igreja? Dá para qualificar como vida abundante? Dá para dizer que a pastorada vive para viver ou vive para trabalhar? Tem uma grande maioria que vive para trabalhar, porque afinal são pagos para isso. São pagos para trabalhar e não para viver. Como se consegue conjugar o viver com o trabalhar como pastor/a? Vivemos numa sociedade capitalista onde o objetivo é produzir e a produtividade tem que estar em alta. Diretorias de comunidades se perguntam como podemos avaliar a produtividade do trabalho do/a pastor/a? Afinal, a qualidade total é o conceito que determina a produtividade no capitalismo. A produtividade do/a pastor/a também tem que ser medida, afinal, ele/a é pago/a para isto. Tem que mostrar serviço. Não estou dizendo que não tenha um e outro pastor/a meio lento e que anda meio devagar e é atiradão. Tem estes também, mas o normal é que esta peonada trabalha de 10 a 14 horas por dia. Aí não tem tempo para viver, só tem tempo de trabalho. A peonada entra neste ritmo e nem se dá conta disto. Quando vêem estão com úlceras, gastrite e depressão por causa do stress. Normalmente a pastorada nem se arrisca a pensar em viver, pois são pagos para trabalhar e tem centenas de ‘patrões’ para os controlar. Para mostrar serviço tem a agenda sempre lotada e o dia de descanso, que é a segunda-feira, deixa de existir ou só se faz pela metade, além do mais as crianças tem que ir à escola e a esposa tem o seu trabalho em sua profissão. Aí o tal do Dia do Descanso não se torna viável. Se ficar em casa acaba trabalhando e sempre tem alguém que aproveita a segunda para fazer seus negócios na cidade e aproveita também para falar com o/ pastor/a. O pessoal já vem dizendo: ‘Eu sei a segunda feira é o dia de descanso do/a pastor/a, mas como estava na cidade aproveitei para passar para marcar o batismo’. Vai dizer o que? Vai receber e marcar o batismo e assim vai. Quando a paróquia tem secretário/a este problema se ameniza.
Mas a pergunta fica: pastor vive para viver ou vive para trabalhar? Afinal, pastor/a tem o direito de viver para viver? Ou tem apenas o direito de trabalhar sem cessar porque senão o TAM e a Avaliação vão classificá-lo como preguiçoso e, por conseguinte, vai levar um chute no traseiro e terá de procurar outra paróquia para trabalhar.
Para a peonada da Sr. dos Passos esta questão já foi resolvida e decidida com a reestruturação de 97. Ela reduziu o número de pessoas por causa da redução de entrada de recursos porque a forma de recolhimento da contribuição do Dízimo em vez das Cotas acabou com as contas da Igreja e, por conseguinte, a peonada que sobrou tem que trabalhar dobrado. Hoje, mais de dez anos depois, esta peonada tem que trabalhar mais ainda porque a Igreja não tem peito para peitar os corruptos nas comunidades, que roubam parte do Dízimo, o que reduziu mais ainda a entrada financeira. Com a Igreja não tem coragem de chamar os corruptos de ladrões a roubalheira continua. Todo mundo fala da tal sonegação do Dízimo e ninguém fica vermelho, pior, ameaçam os/as pastores/as que querem por ordem na bodega. Chamo de bodega, porque Igreja de Jesus Cristo é que isto já não é mais há muito tempo.
É a dinâmica do capital dando o ritmo na Igreja. No capitalismo a ordem é produtividade e lucro a qualquer custo: então pastor/a tem que trabalhar muito e viver pouco e não tem nada de reclamar contra a roubalheira do Dízimo, afinal, é pago para trabalhar e não para reclamar. E o diabo dando risada!
Jesus diz: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará.
Como conhecer a verdade se na Igreja não dá para falar a verdade? O que não dá para falar? Não dá para falar a verdade de como funciona o reino do mundo, o capitalismo. Nem dá para falar que o Projeto do Reino de Deus se contrapõe ao capitalismo e por isso o capitalismo é a proposta que o diabo usa para derrotar a proposta do Reino de Deus. Pode até falar, mas vai para a rua na próxima Avaliação. E ainda se diz que na Igreja se prega o Evangelho de Jesus Cristo de forma pura e reta. De fato, normalmente, apenas se prega o que a direita permite e ela não permite questionar o capitalismo, o projeto do diabo; muito menos permite se organizar junto com o Movimento Sindical e Popular para acabar com o capitalismo na intenção de construir uma sociedade não classista que o Reino de Deus propõe.
Dizer que a mensagem central de Jesus Cristo é o Reino de Deus e por isso automaticamente se está dizendo que o/a cristão/ã batizado/a trabalha para construir o Reino de Deus e não trabalha para manter e reproduzir o capitalismo é para a direita na Igreja proibido. Esta proibição não está escrita em lugar nenhum, mas se alguém ousar dizer que quem apóia a construção e reprodução do capitalismo está fora do projeto de salvação que Jesus Cristo traz isto lhe trará a expulsão da paróquia, caso for um/a pastor/a. Se for algum membro ele até pode pregar pura e retamente o Evangelho do Reino de Deus, mas dificilmente participará da diretoria da alguma comunidade, pois este é o espaço normalmente dominado pela direita. De vez em quando alguém que não apóia o capitalismo consegue passar despercebido e consegue ser eleito para fazer parte da diretoria de alguma comunidade ou paróquia.
Lembro-me quando no final dos anos 90, quando o PT ainda era considerado um partido de esquerda, alguém do PT foi eleito como membro da diretoria da comunidade de Ibirubá e uma senhora, do grupo da direita que manda na comunidade há décadas, disse: ‘O que esta petezada quer na diretoria da comunidade?’ Com isto ela estava dizendo este é o espaço da direita, o que a esquerda quer aqui? Hoje o PT já é um partido do sistema, ainda abriga alguns da esquerda que não sabem para onde ir.
Por que estou colocando esta conversa toda? Para mostrar que no capitalismo não existe a possibilidade de viver para viver, isto somente é possível dentro da proposta que o Evangelho do Reino de Deus coloca em construir uma nova sociedade não classista de irmãos e de irmãs onde o objetivo não é o lucro, mas a vida abundante. Vida abundante e lucro não se cruzam; são dois opostos. Vida abundante é a proposta do Reino de Deus e lucro é a proposta do capitalismo. Que mal há no lucro? É que o lucro tem a sua origem no roubo. No roubo de parte do trabalho que não é pago no processo de produção da mercadoria. Assim, o lucro surge do roubo. Isto o salário consegue esconder. Portanto, todo rico é um ladrão. O bispo de Antioquia, João Crisóstomo, falecido em 407 d.C. dizia que todo rico é um ladrão ou é filho de um ladrão. O coitado do bispo não conseguiu terminar o seu bispado porque em 402 d. C. foi desterrado pelo Imperador para um vilarejo na Turquia por não falar a linguagem do Império. Não é de hoje que pregar pura e retamente o Evangelho cria problemas para o anunciador deste Evangelho.
Enquanto a Igreja (aqui me refiro a todas as denominações) tiver o papel de Religião o Evangelho não terá lugar nela, pois este é em sua essência insurgente e subversivo. A Religião acomoda e o Evangelho incomoda. Por isso é da estratégia do diabo ocupar todo o espaço possível na Igreja e em suas direções para que a Igreja seja Religião e não Evangelho. Tudo isto em nome de Jesus Cristo e em nome da pregação pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo que propõe como objetivo central a construção do Reino de Deus que quer a construção de uma nova sociedade não classista onde todos e todas sejam irmãos e irmãs. Isto requer que os meios de produção estejam sob o controle de toda a sociedade, já que não há mais classes sociais. Este perigo deve ser evitado a todo e qualquer custo! Também não se deve dizer que somente Jesus Cristo salva, pois assim se está dizendo que o capitalismo não salva. Na Igreja de Jesus Cristo se diz isto, mas na Religião Cristã não. Na Religião Cristã se diz apenas: Jesus salva! E isto se diz muito, mas não se acrescenta: o capitalismo não salva. Isto já é subversão evangélica.
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