18 de julho de 2012

Uma olhada ao nosso redor


Continuando a conversa com um colega do norte e outro do sul.

O que Marx e Engels nos ensinam em nosso processo eclesial? (além de outras coisas)


No 'Prefácio de Friedrich Engels à terceira edição alemã' do livro editado em 1885 de Karl Marx: 'O 18 Brumário de Luís Bonaparte' diz:

"Fora precisamente Marx quem primeiro descobriu a grande lei da marcha da história, a lei segundo a qual todas as lutas históricas, quer se processem no domínio político, religioso, filosófico ou qualquer outro campo ideológico, são na realidade apenas a expressão mais ou menos clara de lutas entre classes sociais, e que a existência e, portanto, também os conflitos entre essas classes são, por seu turno, condicionados pelo grau de desenvolvimento de sua situação econômica, pelo seu modo de produção e pelo seu modo de troca, este determinado pelo precedente. Essa lei - que tem para a história a mesma importância que a lei da transformação da energia tem para as ciências naturais - forneceu-lhe, aqui também, a chave para a compreensão da história da Segunda República Francesa. Marx aplicou sua lei a esta história, e mesmo depois de decorridos trinta e três anos temos ainda que admitir que ela resistiu brilhantemente à prova."

Esta é uma definição de Engels da descoberta de Marx da 'lei da marcha da história': Toda luta histórica é expressão da luta de classes condicionada pelo grau de desenvolvimento de sua situação econômica e como esta se insere na sociedade.

Assim foi com o processo da Reestruturação pela qual a IECLB passou condicionada pelo neoliberalismo que define que deve haver menos interferência do Estado na sociedade, especialmente, na economia, por isso houve o esvaziamento da estrutura administrativa da Sr. dos Passos dentro da idéia neoliberal do Estado mínimo o que forçou a peonada de lá trabalhar o dobro. Fazem ainda parte deste processo neoliberal a eliminação do CEM; eliminação da Secretaria de Missão (imagina, uma Igreja sem planejamento missionário! Isto, e não só isso, levou à quase extinção da EST por falta de estudantes e vai desencadear uma série crise no futuro de falta de pastores/as), agora há novamente um Secretário de Missão que tem a tarefa de ajudar a pensar coletivamente um Projeto de Igreja para a IECLB a nível nacional, esperamos que faça isso; Departamento de Projetos vira FLD - Fundação Luterana de Diaconia (espécie de privatização); 18 Sínodos em vez de 8 Regiões Eclesiásticas para descentralizar e atomizar as ações que haviam nos DEs; privatização da formação pela separação da EST da Igreja e criação de mais dois centros de formação conservadores e menos dinheiro para formação de obreiros/as; o estudantado tem que pagar seus estudos e manutenção (isto foi um processo, pois desde os anos 80 já vigora isto e vai se agudizando), somente agora quando se viu que o resultado foi desastroso se tenta reverter a situação. Mais poder para a pequena burguesia onde para o Concílio da Igreja agora são 3 leigos por um/a obreiro/a e o mesmo vale para o Conselho da Igreja. Uma Assembléia Sinodal tem mais que o dobro de participantes que um Concílio da Igreja. As Assembléias Sinodais estão totalmente esvaziadas e chegou ao cúmulo de numa Assembléia Sinodal em Passo Fundo, do Sínodo Planalto Riograndense, se gastar o dia todo com relatórios, o que mostra que não há projeto de igreja em andamento além da Associação Cultural e Recreativa com fins Religiosos. Diminuição dos 'impostos': o Dízimo em substituição das 'cotas' reduziu drasticamente o orçamento da Igreja, pois a parte da contribuição do membro que vai para a Igreja e Sínodo que antes era na base de 20% a 30% caiu para 10%. Pela aprovação do EMO agora se tem um mecanismo de controle sobre pastorada pelo TAM e pela Avaliação: falou e fez o que a direita não permite o TAM não é renovado. Combateu a corrupção do Dízimo o TAM não será renovado. Está tudo dentro do espírito neoliberal que perpassa toda a sociedade, foi uma desastrosa adaptação ao processo de reestruturação econômica pelo qual o capitalismo está passando. Eu chamo o processo da Reestruturação de: o Golpe de 64 na Igreja, pois foi uma articulação da direita (leigos/as e pastores/as) com medo da Teologia da Libertação. Se fez na Igreja o que o capitalismo fez nos países pelo mundo afora: solidificou a sua hegemonia, já que o "comunismo" (que na verdade era uma sociedade pós-capitalista ou um capitalismo de Estado e não comunismo) caiu de podre.

A Reestruturação foi uma vitória da pequena burguesia e dos/as trabalhadores/as alienados aliados ao capital no campo:

- econômico = redução da contribuição à igreja para apenas 10%, enquanto que antes para algumas paróquias ia até 30%, mas a corrupção continua nas comunidades como no tempo das cotas com a sonegação de parte do Dízimo que fica no caixa da comunidade. Está todo mundo de olho espantado em cima da corrupção do Dízimo, mas ninguém vê coisa alguma. Se enxergassem algo seria feito.

- político = aumento do poder da pequena burguesia (3 leigos/as x 1 pastor/a no Concílio e Conselho da Igreja). Repressão sobre a pastorada via TAM e Avaliação que consta no EMO - Estatuto do Ministério com Ordenação - para que se enquadrem na teologia do capital. Isto está lá escrito assim? Não, não está, mas na prática deu nisso e por isso o EMO tem que ser mudado e um 'ajeitamento' no EMO não vai mudar esta realidade.

- teológico = diminuição de obreiros/as que defendem a Teologia da Libertação e um conseqüente conservadorismo entre a pastorada. Vivemos num reducionismo teológico determinado pela classe capitalista que manda teológica, administrativa e ideologicamente na igreja. Estamos neste caminho violentando o Evangelho de Jesus Cristo. Optar pela classe trabalhadora explorada é universalizar a teologia porque está preocupada com toda a humanidade e uma nova humanidade que Jesus Cristo propõe a partir do Evangelho do Reino de Deus que propõe a construção com e para todos de uma nova sociedade igualitária e não só está preocupada com uma parte muito pequena da humanidade, que é a classe capitalista, que só pensa na e a partir dela mesmo para garantir seus privilégios no processo exploratório e transforma o Evangelho em Religião.

- eclesial = desarticulação da prática pastoral e teológica que havia nos DEs (Distritos Eclesiásticos) pelo desmantelamento do trabalho coletivo nos DEs que levou à individualização das ações; não há mais a procura de um Projeto de Igreja construído em cima e a partir da realidade de nosso povo explorado pelo capital que são a esmagadora maioria de nossos membros; temos hoje 18 'igrejinhas' que não sabem o que querem; desmotivação e desmoralização da pastorada. Acabou-se com os DEs e REs (Regiões Eclesiásticas) que foram substituídos pelos Sínodos, mas de fato se acabou com o DE que era política e teologicamente incontrolável, imprevisível e fazia experimentos de novas propostas de Igreja das quais o movimento sindical e popular faziam parte, apesar de ser a instância mais dinâmica que havia na igreja. Hoje os Sínodos estão fragmentados e subdivididos em setores e não há nenhum projeto unificado de igreja a nível sinodal ou nacional. O que ainda nos une teologicamente, segundo o povo da Sr. dos Passos, é o Tema do Ano (espero que não seja só isso), o que não é grande coisa se só for isto, pois o material do Ensino Confirmatório, do Culto Infantil e da OASE nem todos usam. O que nos une parece ser apenas uma idéia vaga e idealista de Igreja, pois o que visivelmente nos identifica já não mais nos identifica que são as vestes litúrgicas, a liturgia, os hinos. A hermenêutica bíblica, a confessionalidade já não mais nos identificam. O que nos une parece ser apenas a estrutura formal da Igreja. Haja pobreza!

O pior é que na Avaliação desta Reestruturação, dez anos após do seu início, se disse que a Reestruturação é um sucesso, o que não deixa de ser verdade. De fato a Reestruturação é e continua sendo um estrondoso sucesso para o projeto de igreja da pequena burguesia e trabalhadores/as alienados aliados do capital, mas foi uma derrota momentânea do Reino de Deus.

A esquerda que sobrou após a Reestruturação denuncia a corrupção em relação ao Dízimo, as leis repressivas contra os/as obreiros/as e a desarticulação da Igreja e a direita nem está aí e nem a Direção da Igreja.

O que sobreviveu à Reestruturação da IECLB?

- Os setores reacionários e que tem dinheiro: OASE, LELUT (com organização independente, menos os Casais), Casais Reencontristas.

- Os setores sem dinheiro: Culto Infantil, Ensino Confirmatório e JE (Juventude Evangélica) tiveram mudança de material e estão desorientados. Isto ficou, porque agora como antes nunca foi central na Igreja, apesar do papo demagógico existente dizendo que esta é a base futura da igreja, blá, blá, blá. Como não é central? Onde se vê isto? No orçamento da comunidade: Culto Infantil, Ensino Confirmatória e JE normalmente, com raras exceções, não têm orçamento na comunidade; o que não tem orçamento não é importante. Importante é onde se investe dinheiro e tempo. Onde se investe? No Culto Infantil, na JE? Não. Investe-se dinheiro e tempo nas festas e construções, portanto isto é o central. Investe-se tempo no culto desvinculado de um processo histórico engajado de luta dos explorados, pois a comunidade não tem história de luta por justiça, mesmo falando de um Deus que age a partir da história de luta por uma nova sociedade não classista, tanto no AT como no NT. O culto continua sendo o fator unificador na Igreja, apesar da bagunça litúrgica existente onde muitos membros não mais se reconhecem como estando na IECLB. A pastorada do Encontrão não usa o talar argumentando ser uma imposição do rei da Prússia (só que esquecem de dizer que Lutero já usava talar) e então usam terno e gravata que é a vestimenta típica da burguesia; grande opção de troca: trocam 6 por meia dúzia, e se acham cheios de razão. E a Direção da Igreja que manda aplicar o TAM e a Avaliação (sem choro e sem ranger de dentes, a ferro e fogo) faz o que em relação à isto? Nada! É que algumas coisas valem e outra não. No que diz respeito à identidade luterana a gente fecha os dois olhos, mas o que diz respeito á repressão à pastorada se obedece à risca.

OASE, Legião e Casais Reencontristas são financeiramente autônomos, não dependem do orçamento da comunidade por isso ninguém os controla e estão em função das festas, chás, jantas - da convivência pela convivência - e não querem saber de nenhum novo modelo de igreja, pois são os representantes da pequena burguesia, apesar de que muitos pertencem à classe trabalhadora alienada, e esta nunca vai querer revolução, muito menos a Revolução do Reino de Deus. Mas a JE - Juventude Evangélica a comunidade controla porque sujam o pavilhão, fazem barulho e normalmente não ajudam trabalhar nas festas. Qual é mesmo o espaço que o Culto Infantil tem para se reunir? Ele tem um espaço próprio, já que as crianças são 'o futuro da Igreja'?

Nesta luta dos últimos 20 anos a Igreja estancou na prática pastoral e na teologia enquanto o Movimento Popular e Sindical, também atingidos pelo neoliberalismo, se reorganizou (ainda estão neste processo) e a Igreja como não participa deste processo de luta popular virou Templo de Jerusalém (que em linguagem teológica é um palavrão).

O Censo do IBGE de 2010 mostra o avanço do reacionarismo: a Igreja Católica Romana perdendo membros, a IURD também, perdeu 10%. Todas as igrejas cristãs estão dentro deste movimento reacionário neoliberal de uma ou outra forma. A Igreja Metodista optou pelo pentecostalismo, na ilusão de crescer o que não ocorreu, se vendeu por nada. Os católicos diminuindo (são agora apenas 64%) e reagindo, para se salvar de forma reacionária com o movimento carismático: Canção Nova, TV Aparecida e Pe Marcelo e outros. Os pentecostais ganhando espaço por falarem a língua do neoliberalismo: Poder consumir é bênção de Deus. Isto é música para o capital. A IECLB retrocedendo pela Reestruturação neoliberal e se fechando em si. As outras igrejas históricas sem expressão no cenário nacional. Os "evangélicos" no Congresso se aliando à Igreja Católica Romana nas propostas reacionárias: vide campanha das eleições presidenciais de 2009. Estes setores estão tentando ganhar espaço no governo e travar os avanços. Pentecostais e católicos (padres e pastores) se candidatam para deputados estadual e federal e nós, como tartaruga, encolhendo a cabeça de medo de enfrentar a direita na igreja que ainda é antipetista por burrice porque não entendeu que o PT já era.

Os Sinais: bons e ruins:

APPI e PPL se rearticulando o que em números não é lá essas coisas.

Os acampamentos 'RJ - Repartir Juntos' ainda acontecem, mas não sei se tem uma unidade teológica e um projeto unificado bem definidos.

O Encontrão fortalecendo a teologia pentecostal e continua dividido, mas tem expressão, não pela articulação, mais pelo grito, pois não tem mais proposta. A Missão Zero não emplacou, que era seu projeto e as paróquias do Encontrão não crescem, como também as demais na igreja. O Encontrão não tem mais projeto, está esvaziado, apenas luta por espaços de poder nos sínodos e na igreja, não é mais alternativa a nada. As paróquias do Encontrão se sustentam por causa da tática dos/as pastores/as de montar um núcleo duro de poder e além deste grupo não tem muito mais adeptos, é uma tática de sobrevivência da pastorada, nada mais, que, no entanto, fortalece a direita na Igreja. Como exemplo: se diz que na paróquia de Panambi apenas 5% dos membros são Encontrão, o resto são membros tradicionais. Em Passo Fundo, do tempo do Encontrão, havia apenas 50 famílias dizimistas que mantinham a paróquia e o resto era considerado resto. O Encontrão é igreja tradicional com toques pentecostais que estão aumentando e vão ser um problema no futuro, como foi com o MC - Movimento Carismático, que nasceu no Encontrão, foi protegido por ele e depois traiu se progenitor. A Igreja que é cega não vê isto ou se finge de cega porque não quer enfrentar o Encontrão e nem quer discutir seriamente a própria realidade por medo de ter que mudar a teologia e a burocracia. A Igreja consegue ser Evangelho e deixar de ser Religião? Eis o desafio! A opção na luta de classes vai mostrar isto. A opção de Javé em Jesus Cristo foi qual mesmo na luta de classes? Optou pela classe camponesa ou pela classe escravista que controlava o Templo e o Estado? A Igreja consegue fazer esta opção?

Os chamados 'Centros de Formação' que de fato dão a linha teológica da e na igreja têm linhas diferentes: FATEV é o centro do Encontrão que forma missionários e sempre quer também formar pastores/as é conservador junto com a FLT que é da MEUC que está enredando para uma linha teológica luterana tradicional (os dois tem sua origem no pietismo, mas não se bicam), e, finalmente, as Faculdades EST, antiga Faculdade de Teologia, que antigamente tinha um perfil mais acentuado de Teologia de Libertação, ao menos em parte, está ficando tradicional, apesar de heróicos esforços de alguns docentes para que isto não aconteça. Este projeto de formação a Igreja entregou ao Deus dará no processo de Reestruturação e não foi por acaso. O objetivo era quebrar com a espinha dorsal da EST que era considerada muito à esquerda e isto em parte funcionou. Isto a atual Direção da Igreja descobriu e está tentando reverter a situação e retomar as rédeas da formação teológica. Uma Igreja que deixa a formação teológica de seus quadros ao Deus dará está cometendo suicídio. No processo da Reestruturação no apagar das luzes da antiga estrutura criou-se os dois centros de formação, FLT e Fatev, para se oporem à EST e a Teologia da Libertação, devido aos conchavos eleitoreiros do Kirchheim com a direita. A formação teológica de obreiros/as é uma questão chave numa Igreja, pois ela dá a linha teológica desta Igreja. Isto se deixou nas mãos do "Mercado". Esta era a idéia da direita neoliberal anticlerical que puxou todo o processo da Reestruturação. A atual estrutura da Igreja é o projeto desta direita neoliberal e anticlerical; por isso, e não só por isso, precisamos desmontar esta estrutura a partir de um processo de discussão ampla de um Projeto de Igreja embasado numa análise clara da realidade em que o nosso povo luterano vive no Brasil e na IECLB, a partir de uma leitura popular da Bíblia e a partir de uma confessionalidade luterana insurgente. Tudo isto a chamada esquerda não viu quando houve o processo de Reestruturação e muitos ingenuamente colaboraram com este processo. Por que? Porque não temos o costume de fazer análise de conjuntura eclesial e nem do país, coisa de inocente útil e de ingênuo. O pior é que a esquerda atomizada continua não fazendo análise de conjuntura eclesial porque não está organicamente organizada. Aí a direita leva todas, deita e rola. Temos alguns pastores de esquerda (uns 4 a 5) que estão em cargos de pastor sinodal, mas estes não puxam uma conversa para uma articulação mais ampla, ficam enclausurados em seu sínodo achando que ali vão salvar a pátria, pois lhe foi e continua sendo dito: cada Sínodo se vira. Que droga de unidade é esta? É uma bela tática de desmobilização que funciona. Acabam sendo os capatazes da estrutura em algumas coisas e nem conseguem por ordem no galinheiro porque a pastorada do Encontrão continua não usando as vestes litúrgicas e nem a liturgia oficial que nos identificam visualmente como luteranos. Por que? Porque também não estão à procura de um Projeto de Igreja e acabam isolados como os/as demais obreiros/as.

Qual é a ordem do dia hoje?

A ordem do dia hoje é o trabalho de base com formação teológica classista. Trabalho de base não é reunião com a OASE, Legião ou Casais, pois este é o núcleo duro do poder conservador na igreja.

O Concílio de 1982 diz que tipo de trabalho de base precisa ser feita, falo disto sempre de novo e mesmo assim alguns dizem: você tem que apresentar propostas e não só criticar. Esta é e foi nos últimos tempos a minha proposta (que não é minha, mas da IECLB, a não ser que algum Concílio diga o contrário): trabalho de base na Igreja e com o Movimento Popular e formação teológica classista, pois Deus fez em Jesus Cristo uma opção de classe: ele se tornou classe camponesa com proposta de libertação dos escravos, que eram a base da economia romana, e por em liberdade os oprimidos e evangelizar os pobres, conforme Lc 4.18, e não se tornou escravocrata. Isto é subversão pura, mas não é por isso que o povo da vila de Nazaré o quis apedrejar, mas por se dizer Messias.

Trabalho de base na igreja com grupos de estudo bíblico com leitura popular da Bíblia que conduz para o engajamento destes participantes na luta sindical, na luta do movimento popular e na luta político partidária de esquerda e engajamento na comunidade.

Trabalho de base com luteranos/as que já estão nas organizações de esquerda: sindicatos, partidos e movimento popular e pastorais ecumênicas como a CPT, PJR, Cebi, etc. Ou você opta pela classe trabalhadora explorada ou não opta e se opta você vai se inserir nas lutas da classe trabalhadora organizada. Se não se insere você não optou e se optou vai ter cruz. Não foi a teologia da cruz o centro da pregação de Lutero? Quem vai crucificar? Primeiro a Igreja depois os capitalistas. Tudo como com Jesus. Primeiro o Templo prende e condena Jesus à morte depois o entrega ao Estado que executa a condenação já decidida no Templo. Assim também é hoje. Nada de novo no front. Não se iludam!

Trabalho de base com formação teológica para iniciantes e para dirigentes das comunidades. Formação teológica significa estudar: Bíblia, Realidade, Confessionalidade e se engajar nas lutas do Movimento Popular, Sindical e política partidária de esquerda. Pois a formação se dá a nível teórico e no nível da prática de luta comunitária e das lutas da sociedade organizada.

A Igreja precisa ter um conhecimento profundo da sociedade civil a partir de uma crítica da economia política atual. Aí poderá fazer permanentemente análise da conjuntura e estrutura da atual sociedade, pois é para dentro dela que ela faz missão. Não se precisa ser comunista para isto, basta ser cristão. Hoje a igreja faz missão (se é que faz?) para dentro de uma sociedade que ela não conhece e nem compreende. Por que Jesus só começou o seu ministério aos 30 anos de idade? Para ter tempo para compreender e conviver com a realidade espoliativa e opressora na qual vivia o povo para a partir dela pregar o Evangelho do Reino de Deus que é uma nova sociedade não classista de irmãos e de irmãs. Nestes 30 anos Jesus aprendeu como está organizada a sociedade na Palestina e a partir disto ele começou o seu ministério. Começou o seu ministério após vencer a tentação de se vender para o projeto do diabo e subordinar o seu ministério às dinâmicas do diabo. À esta tentação a Igreja ainda hoje está subordinada. Ela tem que decidir à quem vai servir: à Deus ou ao diabo, encarnado no capital. Para muitos na Igreja esta questão já está resolvida, já fizeram a sua opção: servem ao diabo (que tem no capitalismo o seu instrumento) dizendo servir à Jesus Cristo. Jesus fez uma opção de classe: prega a partir da classe camponesa explorada e oprimida por ser camponês. Esta é a opção classista de Deus em Jesus Cristo. Isto não quer dizer que o pregador hoje tem que virar camponês ou da classe trabalhadora, mas precisa entender a dinâmica atual da sociedade capitalista. Pastor não é camponês, pode até ser considerado da classe trabalhadora porque não possui os meios de produção e vende a sua mão de obra para a paróquia e produz uma mercadoria imaterial. Seja o que for terá que fazer a opção: ou opta pela classe explorada ou pela exploradora. Neutralidade não existe.

Para isso só se precisa de uma coisa: opção teológica de classe como Javé o fez em Jesus de Nazaré, passando da manjedoura para a cruz/ressurreição. Sem esta opção teológica nada acontece. A Igreja tem que procurar o Movimento Popular, Sindical e Partidário de esquerda, pois eles ficam contentes com este contato e pedem apoio e assessoria. Ou a nossa teologia é tão mixuruca que não temos nada para dizer à eles? Lutero tinha muito a dizer ao mundo de sua época e o dizia, errando e acertando, a tal ponto que o mundo depois de Lutero ficou outro em vários sentidos.

Para isso é necessário:

A pastorada fazer esta opção teológica de forma organizada que pressupõe estudar teologia (Bíblia, Realidade e Confessionalidade) em grupos de pastores/as que fizeram esta opção e entrar nas lutas de apoio e assessoria ao sindicato autêntico, movimento popular e partidos de esquerda. Isto requer sair do isolamento e do medo individual. Temos que juntar e organizar o medo que só assim vira coragem para enfrentar a direita na igreja. Uma abelha não é nada, um enxame de abelhas ninguém segura. Isto vale para a pastorada e para o movimento popular. A pastorada de esquerda organizada consegue romper as amarras da direita com o povo organizado, a partir do trabalho de base, com formação teológica e luta na igreja e na sociedade. Estas duas lutas são uma só.

Aos que perguntam: Cadê as propostas. Esta é boa? Você topa esta? Topa sair do isolamento encagaçado e em conjunto com outros pastores/as e demais obreiros/as se organizar para começar um trabalho de base na igreja e fortalecer o trabalho de base do sindicato, partido de esquerda e movimento popular? Realizar de tempos em tempos encontros de líderes e encontros massivos para fortalecer o trabalho comunitário de base a nível paroquial/sinodal ou intersinodal? Você topa ou vai amarelar? É somente uma questão de opção de classe. Só isto, o que não é pouco. Aí começa a mudança.

Regra n° 1: não espere nada da estrutura e da Direção da Igreja (Conselho da Igreja onde cada conselheiro/a representa apenas a sua própria cabeça porque não há uma articulação real, ida e vinda de diálogo, destes com o trabalho na base paroquial ou sinodal, mesmo que o/a conselheiro/a participe do Conselho Sinodal), por aí não haverá apoio e muito menos saída. Ali a prática já forçou a opção de classe em favor da classe capitalista, a não ser que a Direção da Igreja prove o contrário com propostas e ações para desmontar o aparato de direita que é a Reestruturação e suas leis repressivas contra a pastorada propondo construir coletivamente um Projeto de Igreja a partir da realidade concreta da classe trabalhadora, que é a esmagadora maioria de nossos membros, a partir de uma leitura libertadora da Bíblia e da confessionalidade luterana. Você acha que a Direção da Igreja fará isto? Só se for forçada pelo trabalho de base libertador das comunidades engajadas nas lutas populares por esta nova sociedade igualitária que Jesus Cristo chama de Reino de Deus. Isto só acontecerá se o povo empobrecido das comunidades tomar o poder na igreja, desde a comunidade, e isto só será possível com Trabalho de Base e com muita formação teológica classista para membros e obreiros/as que entendem isto como parte da luta de classes que acontece na sociedade. Nós temos a coragem de chamar nossa formação teológica de classista, a direita não tem esta coragem, mesmo fazendo também formação teológica de classe camuflada de neutralidade. Volta e meia ouço: A gente não pode falar para o povo como as coisas são de fato porque assim o povo se assusta e não o conseguimos reunir. Num primeiro momento acontece o que aconteceu com Jesus em Nazaré, mas depois o povo o seguiu em massa em muitos momentos. Por que não dá para explicar como acontece o processo de exploração pelo qual o povo passa e o que significa o Reino de Deus? Quem não quer isto? O povo ou os capitalistas que mandam na igreja? Quando o povo participa da luta sindical e na formação sindical e do Movimento Popular o que vocês acham que acontece? Ali se esconde a realidade e só se fala estorinhas prá boi dormir como muitos fazem na igreja? O povo não se assusta na luta do movimento popular e sindical. Quem se assusta com uma formação claramente classista é a pastorada conservadora e alienada que já fez a sua opção pela classe capitalista ou já foi cooptada ideologicamente pelo capital e defendem uma formação "neutra", que não a é, e assim reproduz a ideologia do capital.

A teologia e sua conseqüente prática são a nossa arma contra o capitalismo, que é o instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus.

Para viabilizar isto e outras coisas, você topa de participar de um encontro de dois dias de obreiros/as (pastores/as, catequistas, e diáconos/nisas) que se consideram de esquerda em 2013 para aprofundar as propostas do Trabalho de Base numa procura de construção coletiva de um Projeto de Igreja? Quem topa responda este email sugerindo datas e locais para o encontro.

Já sei a resposta de muitos: Não dá para se ausentar da paróquia por dois dias mais a viagem. Eu respondo: Não dá se a gente não quer, o resto é papo furado. É uma questão de a gente organizar a Agenda.

A pergunta: Quem paga as despesas? É um trabalho para a Igreja, portanto a paróquia paga, é só uma questão de saber encaminhar certo. Nós vamos nos reunir para discutir um Projeto de Igreja para a IECLB e como viabilizar o Trabalho de Base na Igreja, não estamos saindo de férias.

Nós pastores/as temos a tarefa de orientar teologicamente a paróquia, isto está nas leis maiores da Igreja, no entanto, muitos/as obreiros/as têm entregue este papel para a direita que manda na paróquia. A luta pela nova igreja requer que se reconquiste o que nos é de direito e de dever conforme as leis da Igreja: orientar teologicamente a paróquia. Se nós obreiros/as não dermos a direção teológica na paróquia a direita a dará sem vacilar. É uma questão de opção, aí começa a mudança como Jesus fez em Mc 1.15. Queremos nos reunir para construir em conjunto um Projeto de Igreja para a IECLB e para isto precisamos nos encontrar e discutir este Projeto. Para a direita isto é um perigo, para o Evangelho isto é uma exigência.

A direita pequeno burguesa que manda na igreja, desde a comunidade, é uma direita normalmente mal letrada, em sua maioria, ignorante, no sentido restrito da palavra, semi-analfabeta teologicamente e reacionária. A maioria, não porque quer ser assim, mas porque foi inserida na defesa do capitalismo pela ideologia da classe dominante. Esta direita determina a postura teológica da Igreja, esta é a nossa desgraça somada a mediocridade teológica de boa parte da pastorada e sua opção, por medo ou comodidade, pela classe capitalista.

Porque a Igreja não consegue expressar que já fez uma opção de classe? Porque já fez a opção de classe, diz não poder se fazer opção de classe, quando na verdade já optou pela classe capitalista. Por que? Porque a classe capitalista manda na igreja, pois a administra desde a comunidade. A classe capitalista manda normalmente na igreja através dos trabalhadores/as que pensam como capitalistas e querem ser como eles, porque a maioria dos membros é da classe trabalhadora que não tem consciência de classe. Sem a opção pela classe trabalhadora teremos muita dificuldade em entender o Evangelho porque estamos com os pés no lugar errado. Deus em Jesus pôs os pés na classe camponesa, que era a classe explorada juntamente com a classe dos escravos, e nós normalmente temos os pés na classe capitalista, que é hoje a classe exploradora. Os pés definem o que a cabeça pensa e o que as mãos fazem e irão fazer.

Proponho como data para o nosso encontro o 2° semestre de 2013, o lugar deve ser um que é de fácil acesso com ônibus, avião (que hoje é barato se a gente se previne com antecedência). Via email podemos nos colocar em contato uns com os outros. Vou enviar para os que topam se reunir o endereço de todos que responderam e assim um pode falar com o outro dando sugestões e idéias.

Walter Benjamin diz: "A revolução não é um trem fora de controle, mas sim a aplicação dos freios de emergência". O trem descontrolado, que se encaminha para o abismo, é o capitalismo.

2 comentários:

  1. Lobo,sou parceira. Estou fora do pastorado, mas quero participar.
    A discussão precisa continuar.

    Acho fantástica a tua energia.

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  2. Não seria melhor esquecer esta estrutura tão corrompida, então, e começar algo novo, sem esta estrutura corrompida e entregue aos burgueses capitalistas?

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