"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (Jo 8.32)
9 de agosto de 2012
A Revolução na Igreja e a Igreja na Revolução.
Esta questão surgiu durante o Curso sobre Marxismo que está sendo realizado em Palmitos com dirigentes do MAB, MPA, MMC, MST, Sindicato, Cooperágua, CPT, PJR. Ali caiu a pergunta: A Igreja também precisa mudar quando a classe trabalhadora organizada vai mudar num processo revolucionário a sociedade capitalista em socialista/comunista? Neste processo revolucionário a Igreja Cristã vai tomar que partido? A Igreja Cristã vai ficar do lado de quem: dos/as capitalistas ou dos/as trabalhadores/as. Estudando os movimentos revolucionários do século XX teremos a resposta. No futuro não vai ser diferente.
Quando falo em Revolução falo da Revolução do Reino de Deus que pode ter muitas expressões em nossa sociedade: a classe trabalhadora a chama de: Comunismo, o povo Guarani o chama de Terra sem Males, os povos andinos a chamam de Sumak Kawsay: Bem viver, alguns povos africanos a chamam de ubuntu. Estas utopias não têm conceitos exatamente iguais, pois surgiram em épocas diferentes e em culturas diferentes, mas tem em comum o sonho da construção de uma nova sociedade igualitária; é isto que as une numa única Revolução. As expressões e compreensões sobre esta Revolução variam, mas permanece a sua urgente necessidade. Nós cristãos chamamos esta Revolução, iniciada por Jesus Cristo, na continuidade do Projeto de Deus do AT, de Reino de Deus. Jesus diz em Lc 4.43 que ele foi enviado para anunciar o Evangelho do Reino de Deus e com isso anunciar o início do processo revolucionário e foi assassinado por isso como nos conta Lc 23.2,5: "Pegamos este homem tentando fazer o nosso povo se revoltar, dizendo a eles que não pagassem impostos ao Imperador e afirmando que ele é o Messias, um rei. Ele está causando desordem entre o povo em toda a Judéia". Jesus foi crucificado como rebelde no dizer da palavra: "lestes", em grego, conforme Mc 15.27, e não como fala em um outro texto de Mc 6.19 se referindo a ladrões: "kleptes", que roubam e assaltam casas, pois as traduções para o português normalmente falam que Jesus foi crucificado junto com ladrões: ali o termo é 'lestes' e não 'kleptes'.
Foi assassinado não apenas pelo Estado, mas a pedido da Religião, que na sua essência tem a tarefa de defender o status quo. O Evangelho, no entanto, é essencialmente revolucionário e insurgente, como nos mostra o Programa do Reino de Deus em Lc 4.18-19, como continuidade do Projeto do AT. Precisamos diferenciar a Religião do Evangelho. A Religião é conservadora, dá sustentação e apóia a exploração e a opressão de classe; o Evangelho é revolucionário e insurgente porque propõe no lugar desta sociedade de classes, defendida pela Religião, uma nova sociedade não classista e igualitária. Javé em Jesus Cristo inicia a Revolução do Reino de Deus se tornando classe camponesa; esta é a sua opção de classe, pois a classe economicamente dominante nunca vai querer fazer revolução, pois esta se dirige contra ela. O Evangelho de Jesus Cristo não é neutro, mas é classista, pois parte da classe explorada para acabar com a sociedade de classes e construir uma sociedade de irmãos e de irmãs, portanto igualitária. A Igreja de Jesus Cristo é a protagonista da construção desta nova sociedade de irmãos e de irmãs. Foi isto que ela fez em seus primórdios ameaçando o status quo do Império Romano em se negar a adorar os deuses romanos e com isto estava solapando a base desta sociedade que estava construída ideologicamente sobre a Religião. A Religião legitimava o modo de produção escravista e por isso João no Ap 18.4 diz: "Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos". A ordem para os/as cristãos/ãs é não fortalecer e nem reproduzir o sistema opressor.
A parcialidade de Javé vem desde o AT conforme o credo histórico de Israel em Dt 6.21-23 onde relata que Deus parte da luta de classes que acontece na história e se insere nesta luta de classes, que é o motor da história, ao lado da classe explorada e oprimida: a classe camponesa escrava no Egito. O Deus Javé é tão parcial como os deuses egípcios. Os deuses egípcios são parciais porque legitimam o modo de produção Tributário e o Estado que lhe dá sustentação. Javé é parcial porque opta em ficar do lado dos explorados e não do lado dos exploradores num processo de construção de uma nova sociedade não classista nas montanhas da Palestina. Nas montanhas da Palestina, conforme Js 6-8, Javé comanda a tomada do poder político pela destruição das cidades, que é o mesmo que falar da destruição do Estado, para mudar o modo de produção de tributário para tribal. Javé acaba com a sociedade de classes para construir uma sociedade sem classes sociais, sem templo, sem Estado e onde os meios de produção pertencem a toda sociedade. Javé é o Deus da classe camponesa. O Faraó não queria nada com este Deus de camponeses que no período da Monarquia israelita mandava os profetas e profetisas lutarem contra o Estado e o Templo (Mq 3) e sua teologia que legitimava a exploração do modo de produção tributário.
Javé retoma isto em Jesus Cristo radicalizando, pois agora não apenas apóia e luta do lado dos camponeses, mas se torna classe camponesa em Jesus de Nazaré, um sem terra e um sem teto explorado e marginalizado que começa a sua luta revolucionária pelo Reino de Deus na periferia (Galiléia, longe do centro do poder religioso israelita que ficava em Jerusalém), montando um grupo de base com 12 homens e mais um grupo variável de mulheres que dão sustentação logística ao Movimento de Jesus (Lc 8.1-3). A Revolução é a essência de Javé/Jesus Cristo/Espírito Santo - Mc 1.15: arrependei-vos (revolucionar-se, mudar sua prática) e crede no Evangelho, quem faz isto participa do Reino de Deus. Jesus inicia a sua pregação pelo Programa do Reino de Deus dizendo, a partir do profetismo, segundo Lc 4.18-19, que ele foi ungido para evangelizar os pobres: anunciar aos pobres que eles deixarão de ser pobres e isto só ocorrerá na construção coletiva de uma sociedade sem classes sociais onde não há mais a propriedade privada dos meios de produção que produz a pobreza pela exploração da classe subalterna, por isso os cristãos se chamam de irmãos e de irmãs; foi ungido para proclamar libertação aos cativos, que são os presos e os escravos, isto significa mexer na base da sociedade classista escravista romana que se desmantela sem a escravidão; foi ungido para fazer restauração da vista aos cegos: os cegos fisicamente falando (aí entram as raízes das doenças que estão alicerçadas na opressão político-econômica-religiosa que geram o empobrecimento) e os cegos pela ideologia dominante que não enxergavam a opressão de classe na sociedade e por isso a defendiam; foi ungido para pôr em liberdade os oprimidos, que existem porque existe a exploração econômica, política, cultural e religiosa (libertar os oprimidos só se consegue com uma revolução contra a classe opressora que é a economicamente dominante que controla os meios de produção e o Estado); foi ungido para apregoar o ano aceitável do Senhor, que é o Ano Jubilar (Lv 25) onde as dívidas são perdoadas, os escravos libertos e a terra volta para a família que a perdeu, que é uma espécie de Reforma Agrária permanente.
Isto tudo Jesus Cristo diz em sua primeira pregação em Nazaré, segundo Lucas, que ainda inclui a universalidade da salvação, na continuidade do texto, quando fala dos estrangeiros que Deus escolheu e acolheu para mostrar o seu poder e seu projeto. A Revolução de Jesus Cristo parte da questão da fé que concede a salvação de graça, do Evangelho, que se contrapões à Religião do Templo de Jerusalém. Jesus Cristo fala de fé vinculando ela à libertação dos escravos, da exploração, dos oprimidos, dos doentes e dos pobres (Lc 7.22). Fé desvinculada da luta pela emancipação humana não é fé em Jesus Cristo. Em Mt 25.31-46 Jesus Cristo diz que a salvação é para os que acolhem as vítimas do sistema opressivo. Quem não os acolhe ou os produz não participa da salvação.
Assim Jesus Cristo quando fala em salvação está falando em Revolução, pois acolher as vítimas não é apenas recebê-los em casa e lhes dar comida, bebida e agasalho, mas é acabar com o sistema que produz estas vítimas via processo revolucionário que Jesus chama de Reino de Deus. Esta é a Revolução do Reino de Deus contra o reino do mundo, que hoje se chama capitalismo.
Aí vem a pergunta: a Igreja vai participar desta Revolução do Reino de Deus que quer acabar com toda e qualquer sociedade de classes que gera vítimas pela opressão de classe? A Igreja vai deixar de ser Religião, que legitima o status quo, para ser Evangelho, que quer destruir o status quo? A Igreja que sempre apoiou e se espelhou no capitalismo vai agora lutar contra ele? Lembro-me de um membro de comunidade, peão de uma cooperativa de eletrificação rural, que se chocou quando eu disse que o capitalismo é passageiro e vai acabar por ser criação humana, pois tudo o que é humano é passageiro. Nunca tinha passado por sua cabeça que o capitalismo vai acabar um dia, porque ele se instalou na nossa cabeça como um deus imortal e eterno.
Primeiro é necessário uma Revolução na Igreja, ou melhor: a Revolução do Reino de Deus acontece simultaneamente na Igreja e na sociedade. Parece-me que sempre só falamos da Revolução na sociedade e nos esquecemos da Revolução na Igreja. A classe trabalhadora no processo revolucionário tem que tomar o poder na Igreja e na sociedade. A classe trabalhadora tem que mudar a Igreja e a sociedade ao mesmo tempo, pois se não mudar também a Igreja vai ter em seu calcanhar um poderoso elemento contra revolucionário. A Igreja tem que deixar de ser Religião para ser Igreja de Jesus Cristo no processo de construção desta nova sociedade não classista que é o Reino de Deus. Isto só acontece, como Javé diz no Êx 3.19 (Eu sei, porém, que o rei do Egito não vos deixará ir se não for obrigado por mão forte.), se houver uma mão forte nesta luta. A "mão forte" é a organização popular motivada pela fé em Deus neste processo da luta de classes com o objetivo de construir uma nova Sociedade e uma nova Igreja. Sem um confronto de classes na Igreja não haverá uma nova Igreja que participa da construção desta nova sociedade não classista que é o Reino de Deus. Isto inclui também todas as outras 'Religiões': islã, budismo, espiritismo, religiões afro, etc. Neste processo revolucionário é que a Igreja vai morrer (Jo 12.24) para ressurgir uma nova Igreja. Penso que a Igreja vai resistir mais em morrer do que a velha sociedade capitalista, pois a Igreja se acha acima da sociedade, como se não fosse influenciada por ela.
Mudar a Igreja é tão difícil como mudar a sociedade. A Igreja fala muito em democracia e justiça, etc, mas não consegue ter dentro dela uma democracia plena; no máximo reproduz a democracia burguesa que há na sociedade. Na Igreja Católica Romana nem esta democracia burguesa não há, ali ainda vale a velha e carcomida hierarquia feudal e autoritária. Por exemplo: o bispo da Diocese de Lages, SC, decidiu a partir de sua cabeça acabar com a CPT na diocese e ponto final. Poderá haver uma nova sociedade não classista e igualitária com uma igreja na qual existe uma dominação hierárquica ou burguesa? A Igreja até admite falar em revolução na sociedade, mas deixará ela se revolucionar a partir do Evangelho do Reino de Deus que sempre aponta para a construção coletiva de uma nova sociedade não classista e igualitária? Isto inclui uma Igreja construída em cima de bases democráticas e não dominada pelo capital. Esta Igreja que só fala o que a direita (a classe capitalista) permite permitirá que haja a Revolução do Reino de Deus? Esta Igreja que é administrada pelos capitalistas, desde as comunidades, vai permitir que seus membros participem da Revolução do Reino de Deus que começa com a luta contra as bases injustas de nossa sociedade capitalista? Esta Igreja vai optar, como Deus, pela classe explorada, para a partir e junto com ela construir uma nova sociedade não classista onde os meios de produção são controlados por toda a sociedade?
Em João 12.24 diz: "Em verdade, em verdade vos digo: se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito fruto". Esta Igreja atual terá de morrer para ressurgir uma nova Igreja. A Igreja vai se matar ou se deixar matar para depois ressurgir como nova totalmente a serviço da Revolução do Reino de Deus? Que entidade fará tal coisa? Se matar para ressurgir nova?
É ilusão falar da Revolução do Reino de Deus sem começá-la de dentro da própria Igreja e se expandindo automaticamente para dentro da sociedade. Ou a Revolução do Reino de Deus começa na sociedade e se expande dentro da Igreja. Se não houver uma revolução na própria Igreja ela será contra a Revolução que a sociedade fizer, a não ser que seja uma revolução burguesa para que o capitalismo se reproduza.
Como fazer uma Revolução na Igreja se ela é administrada pelos capitalistas ou seus testas de ferro vindos da classe trabalhadora alienada? Como fazer uma Revolução na Igreja se são os capitalista e seus testas de ferro da classe trabalhadora alienada que dão a linha teológica desta Igreja? Os/as pastores/as da IECLB acham que dão a linha teológica na paróquia como reza nas leis da Igreja. Mas se eles/as tem medo de participar das lutas dos movimentos populares e sindicais é porque eles não dão linha teológica nenhuma; quem a dá são os representantes do capital que administram a paróquia. Como fazer uma Revolução na Igreja se a teologia desta Igreja é a teologia do deus capital? Como os membros desta Igreja, cuja teologia é a do deus capital, vão participar da Revolução do Reino de Deus que acontece na sociedade sem o apoio da Igreja? Como mudar a teologia dos membros da Igreja, incluídos aqui seus pastores/as, se eles/as não participarem do processo revolucionário da sociedade?
Quem mantinha os templos, a Religião, desde as sociedades classistas antigas era o Estado, que é a expressão do poder da classe economicamente dominante. Assim a Religião sempre esteve a serviço da classe economicamente dominante, que hoje é a classe capitalista. Hoje as Igrejas Cristãs nas democracias burguesas são independentes do Estado, foi uma conquista da Revolução Francesa, que é a revolução feita pela burguesia com auxílio dos camponeses e operários para defender os interesses da burguesia. Na época isto foi um avanço, como também os conceitos de democracia, da liberdade individual e de imprensa conquistados são um avanço e uma conquista a não serem perdidos na nova sociedade a ser construída a partir das vítimas do sistema. Mas apesar de independentes do Estado as Igreja se pautam pelos interesses do Estado que são os interesses da classe capitalista, que controla o Estado. Às vezes as Igrejas são mais reacionárias que o próprio Estado, foi o que vimos na última eleição presidencial onde os conservadores tanto católicos como pentecostais se uniram em torno de temas comuns retrógrados.
Como estas Igrejas vão participar da Revolução do Reino de Deus que ataca a sociedade de classes na sua essência, como Jesus diz em Lc 4.18-19? Como as teologias das Igrejas vão enfrentar a Ditadura do Pensamento Único que legitima e reproduz a Ditadura do Capital que diz não haver outra saída para a humanidade além do capitalismo, quando o Evangelho de Jesus Cristo diz de forma bem clara que o Reino de Deus é a outra alternativa para a organização da vida da sociedade toda e não só isso, mas é a salvação da humanidade, diante do colapso previsível que o capitalismo trará para a humanidade extinguindo-a? Ou as teologias das Igrejas já capitularam diante da Ditadura do Capital? Será que as teologias das Igrejas continuam afirmando a sua neutralidade diante do capital ou elas afirmam que o capitalismo é um instrumento que o diabo usa para tentar impedir a construção do Reino de Deus? A postura destes 20 últimos anos das Igrejas em ignorar e não participar das lutas sindicais e do movimento popular é sinal de sua sujeição às dinâmicas teológicas do capital? Enquanto até Estados Nacionais laicos tem tido posturas claras em relação ao aborto e ao homossexualismo as Igrejas pressionam o governo federal para não acontecerem avanços nestas áreas. A IECLB numa postura retrógrada mudou recentemente os termos "pessoas" para "homem e mulher" no Guia da Vida Comunitária: Nossa Fé Nossa Vida no que se refere ao casamento como parte de sua caminhada conservadora. No que se refere ao aborto as Igrejas dizem: "Nós defendemos intransigentemente a vida!", mas apóiam o capitalismo, que essencialmente é um destruidor de toda a vida, não só da humanidade. Além disto, as Igrejas, no passado, apoiaram a escravidão e a "guerra justa" contra os povos indígenas, o que não me parece ser uma defesa intransigente da vida, com um saldo de 70 milhões de cadáveres acumulados desde o período da Conquista das Américas; a questão do seu apoio à escravidão no passado é um tema que as Igrejas evitam e na África do Sul até o Apartheid foi apoiado pelas Igrejas; nem estou falando das dezenas de revoltas camponesas (algumas chegaram a ser guerra civil) que ocorreram no Brasil as quais as Igrejas não apoiaram por estarem mancomunadas com o latifúndio assassino e escravista; nem estou falando do apoio das Igrejas à Ditadura civil e militar brasileira de 64 que assassinou sob tortura e execução extrajudicial 457 pessoas que lutavam pela democracia, 370 camponeses e 5 mil pessoas de diversos povos indígenas, dois mil só do povo Waimiri-Atroari quando da construção da BR 174, além de torturar 30 mil pessoas e processar 50 mil por defenderem a democracia. Hoje os filhotes dos partidos advindos do partido da ditadura demagogicamente enchem a boca quando falam em democracia. E serão estes mesmos (que hoje são aliados políticos do atual governo) que num outro momento em que voltar a ditadura nos pendurará novamente no pau de arara. Não tenhamos ilusões a respeito da burguesia! Com este seu apoio à Ditadura as Igrejas legitimaram este massacre e isto não me parece um apoio intransigente à vida, mas um apoio intransigente ao capital. A Ditadura de Pinochet matou 3.225 pessoas e é tida como extremamente cruel; o que dizer da Ditadura civil-militar brasileira que matou quase 6 mil pessoas? É esta a "Ditabranda", que matou mais que a Ditadura do Chile, como sugere o jornal Folha de São Paulo? É este o "jeitinho" brasileiro de esconder a opressão e a responsabilidade das Igrejas frente a seu apoio à ditadura, falando que a nossa ditadura foi menos dura que as outras? Pelo que entendo de matemática 6 mil são o dobro de 3 mil, portanto os crimes da ditadura brasileira são duplamente maiores que os crimes ditatoriais chilenos. A nossa ditadura foi mais violenta que a chilena porque conseguiu até hoje esconder esta violência e nós somos o último país a constituir a nossa Comissão da Verdade e não colocamos ainda, 50 anos após, nenhum torturador e assassino na cadeia. Coisa que os argentinos e chilenos já fizeram. Os argentinos colocaram até seus generais presidentes na cadeia, em prisão perpétua. O ditador general Videla foi condenado a duas prisões perpétuas. E a nossa sociedade "pacífica" atual que mata 50 mil (33 mil destes são jovens de 15 a 34 anos) e mais 40 mil em acidentes de trânsito por ano em pleno tempo de paz? Isto nos últimos 20 anos soma o total de mortes de duas guerras do Iraque. E estas Igrejas que defendem "intransigentemente a vida" fazem o que frente este estado caótico de matança? Nem estou ainda incluindo os camponeses, ambientalistas, sindicalistas e indígenas assassinados nos últimos 20 anos por causa da ganância desenfreada do agronegócio a serviço dos interesses do capital internacional que agora especula com terra e alimentos e quer privatizar os bens naturais que pertencem a toda humanidade com a tal 'economia verde'. Nem incluo os que morreram envenenados diretamente e por câncer pelo 1 milhão de toneladas de agrotóxicos anuais jogados nas terras brasileiras para abarrotar os caixas fortes da indústria química controlada por um punhado de multinacionais que também controlam as sementes. O que as Igrejas que defendem "intransigentemente a vida" fazem a respeito? Tem alguma pastoral que responda a esta realidade na IECLB ou a teologia do capital não permite que se entre nestas questões porque a Igreja é 'neutra' e não pode fazer uma opção contra o latifúndio assassino e escravista porque é comprada com alguns bois doados para as festas das comunidades? Em troca de alguns bois se fecha os olhos diante da realidade assassina do capital representado no agronegócio. É a modernização, reatualização e a reutilização do velho holocausto e sacrifício realizado no Templo de Jerusalém para conseguir o perdão dos pecados. O Evangelho de Jesus Cristo diz que não haverá perdão nem para os capitalistas exploradores, nem para trabalhadores cooptados pelo capital e nem para uma Igreja que não se arrepende!
Como os/as cristãos/ãs revolucionários da classe trabalhadora vão revolucionar as igrejas a partir da fé em Jesus Cristo para que estas participem da Revolução do Reino de Deus que também acontece na sociedade? Como mudar a teologia das Igrejas para que elas acolham as vítimas do sistema no sentido de acabar com as raízes das injustiças que produzem estas vítimas e para isto terão de participar do processo de mudar esta sociedade injusta que produz estas vítimas juntamente com a mudança das e nas próprias Igrejas?
Como diria Brecht: Tantas histórias. Tantas questões.
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