Ou uma Igreja com um falso deus?
Ou uma Igreja que adora um deus que não é deus, mas se faz
passar como tal?
Ou uma Igreja que diz adorar um Deus, mas na prática adora
outro?
Ou o deus que não é deus, mas é tornado deus pela prática de
vida dos crentes de outro Deus?
Ou continuamos a velha briga pelo monoteísmo como no AT?
Mas, que confusão é essa?
J. L. Hromádka - pastor e professor em Praga e falecido em
1969 disse num artigo de 1969: 'Situation im Licht des Evangeliums': "Die
christliche Kirche kann heute und in Zukunft nur überleben, wenn sie eine
Gemeinschaft von wirklich Gläubigen ist. Ich fürchte nicht so sehr den
Atheismus ausserhalb der Kirche wie eine gottlose Kirche, die alles kirchliche
Zubehör, alle historischen Hierarchien, alle liturgischen Formen und
sakramentalen Akte bewart hat, deren äussere Struktur aber völlig leer ist. Stellen sie sich das
schreckliche Bild des Allerheiligsten und seines Altars vor - ohne Gott. Dies
ist natürlich ein Schreckensbild, das aber in der gegenwärtigen Situation des
formalen Christentums seine Berechtigung hat."
Na Europa nos anos 60 se falava da morte de Deus. E Hromádka
fala aqui de uma Igreja sem Deus. Ele lembra que o problema maior não é o
ateísmo fora da Igreja, mas a Igreja sem Deus. Uma Igreja que carrega tudo o
que ela produziu durante séculos consigo, mas não tem mais Deus dentro dela.
Frei Betto dizia que o problema para a Igreja não são os ateus fora dela, mas
os fariseus que nela estão.
Este é um problema da Europa do passado e quem sabe do
presente, mas não é um problema brasileiro. Aqui a Igreja Cristã está cheia de
Deus e aqui Deus nunca morreu. Por aqui nunca se falaria de uma Igreja sem Deus
e da morte de Deus. Deus sempre esteve presente nas Igrejas Cristãs
brasileiras, pois 95% da população brasileira crêem em Deus. Como diz o povo: "Deus
é brasileiro'' e "Deus é o mesmo". Eu sempre ouvia isto (Deus é o
mesmo) quando uma família luterana saída de nossa Igreja para entrar na Igreja
Católica ou Congregacional, porque ali a contribuição era mais barata, eu
dizia: Não é bem assim. Hoje eu concordo: Deus é o mesmo, mesmo!
A questão é de que Deus estamos falando? Deus, em maiúsculo,
ou deus, em minúsculo? A Igreja Brasileira está cheia do deus, em minúsculo, e
é este o mesmo deus do povo, com suas devidas exceções. Deus é o mesmo, dos
católicos, dos crentes, dos luteranos, etc. Qual Deus? Javé/Jesus
Cristo/Espírito Santo? Não, o deus capital. É este o deus brasileiro. É este o
deus da esmagadora maioria dos cristãos. O povo sempre diz que deus é
brasileiro. É verdade, deus é brasileiro, mas é este deus, o capital, que é o
deus dos brasileiros: dos católicos, dos luteranos, dos pentecostais, etc. Apesar
de que sabemos que o deus capital é planetário (porque o capitalismo é inviável
num país só, como também o socialismo), não universal. Como posso dizer isto?
Porque é a teologia do deus capital que predomina nas pregações das igrejas
brasileiras. Só se fala, normalmente, o que os capitalistas que mandam na
igreja permitem. Até prova em contrária continuo afirmando isto. Normalmente, pregação
pura e reta do Evangelho de Jesus Cristo na Igreja é história para boi dormir. A
teologia da prosperidade no meio pentecostal (e de outras igrejas), que,
diga-se de passagem, o IBGE demonstrou e desmontou a sua eficácia mostrando no
último censo que os pentecostais continuam pobres. O Censo reitera o
crescimento do pentecostalismo na base da pirâmide social: 64% dos pentecostais
ganham até um salário mínimo (são miseráveis), 28% recebem entre um e três
salários - são pobres (somando temos 92% dos pentecostais que são pobres), 42%
têm ensino fundamental incompleto. Não preciso nem olhar as estatísticas do IBGE
para saber disto, pois o capitalismo explica isto: não dá para todos serem
ricos no capitalismo. Ninguém fica rico por ter sido abençoado por Deus, só se
fica rico roubando parte do trabalho feito e que não foi pago para a classe
trabalhadora (Tg 5). Todo rico é ladrão ou filho de ladrão, dizia João
Crisóstomo, bispo de Antioquia que morreu no exílio em 407 d.C. por não falar a
linguagem do imperador.
O pior é que tem pastores/as da IECLB namorando a teologia
pentecostal, alguns até já se casaram com ela. Quem deveria enxergar isto não
vê nada. Por que? Porque tem medo do deus capital e de seus fiéis seguidores
que mandam na Igreja e que se assentam nos primeiros bancos da igreja. Na
Igreja se adora Jesus Cristo na forma teológica do deus capital. Fala-se de
Jesus Cristo a partir da teologia do deus capital para legitimá-lo e
reproduzi-lo. Transformou-se a teologia em ideologia. Isto que nós da teologia
da libertação sempre fomos acusados pela direita de fazermos isto porque
denunciamos a idolatria do capital. É a inversão da realidade que a teologia do
deus capital faz para enganar o povo. O termo diabo vem do grego que significa:
aquele que inverte as coisas, aquele que embaralha as coisas. O deus capital
faz isto, porque é este o papel do diabo. Disto tiramos a conclusão que na
igreja se prega a teologia do diabo e se adora o diabo como se fosse Deus, pois
não se permite questionar o capitalismo e nem dizer que ele não é um
instrumento de Deus, mas do diabo. Pois o papel do diabo é impedir pelo
capitalismo que o Reino de Deus seja construído. O capitalismo é um
instrumento, entre outros, que o diabo usa para tentar impedir a construção do
Reino de Deus, que é a tarefa e a mensagem central de Jesus Cristo. Através da
Igreja o diabo procura redirecionar a fé do cristão para a teologia do capital
para que não participe da construção do Reino de Deus que é a desconstrução do
capitalismo. A essência da fé em Jesus Cristo é insurgente e revolucionária e o
diabo usa a Igreja para tornar a fé em Jesus Cristo acomodadora à realidade e à
dinâmica do capital, tornando a fé reacionária.
Falando em dados estatísticos de 2010 (de pessoas de 10 anos
a mais), eles nos mostram que temos redondos 270.451 ricos no Brasil, que
recebem acima de 30 salários mínimos mensais, temos 159 milhões de pobres, que
recebem até três salários mínimos e 2,4 milhões de classe média que recebem de
10 a 30 salários mínimos. De 3 a 30 SM são 16,6 milhões. 51% da população
economicamente ativa recebem até 1 salário mínimo que somam 44,4 milhões, são
os miseráveis. Os homens recebem mensalmente em média R$ 963,65 e as mulheres
recebem em média apenas R$ 559,85. O Patriarcado é um grande aliado do
capitalismo. Menos de 1 SM é indigente, 1 SM é miserável e até 3 SM é pobre;
temos ainda 14 milhões de remediados que ficam entre os 3 SM e os 10 SM, que
são a classe C de consumo (que nada tem a ver com Classe Média). Temos estes
belos números apesar do ganho real do SM de 65% no governo Lula, que ao assumir
o governo tínhamos o salário mínimo valendo 30,7% do valor de 1940 e em 2010
ele já valia 48%. Isto significa que ele ainda tem condições de recuperar os
outros 52% que faltam para empatarmos com 1940 e depois disto tornar o Salário
Mínimo num salário digno. Vemos, assim, que temos muito caminho pela frente.
Houve um aumento do valor do SM e isto não gerou inflação, o
que sempre se dizia nos anos 80/90. Não dá para valorizar o SM, pois isto gera
inflação. Lula mostrou que isto é uma mentira. O Brasil continua com o menor SM
da América Latina. Perdemos até para o Paraguai. Isto que o SM hoje vale quase
300 dólares, quando no tempo do FHC valia 75 dólares e a grande propaganda de
campanha era chegar aos 100 dólares, coisa que parecia impossível, ouvindo os
empresários.
Em se falando da terra, a realidade é a mesma. As propriedades
de grande porte que somam 1,9% detêm 51,7% da terra. A Reforma Agrária? O
capitalismo já a sepultou (e o PT também), o que não significa que devemos
parar de lutar por ela porque existem 228 milhões de hectares de terra
improdutiva (40% do total) segundo o Censo de 2006, que usa os dados de
produtividade de 1975. Se usasse dados atualizados haveria mais terra ainda
disponível para Reforma Agrária. Precisamos desapropriar apenas 69 mil
fazendeiros de um universo de 5 milhões de propriedades. O agronegócio que fica
guspindo alto quando fala de sua produção para exportação esquece-se de dizer
que por hectare de terra a agricultura camponesa produz o dobro: 677 reais
contra 358 reais da agricultura patronal por hectare. Agora esse pessoal do
agronegócio, falando de sua 'grande capacidade produtiva' (que é a metade da
agricultura camponesa, tanto nos valores produzidos por hectare como pela manutenção
de mão de obra que é de 1,7 para 15,3 a cada 100 hectares de terra da
agricultura camponesa) quer se adonar das terras indígenas e reservas naturais
e impedir que surjam novas áreas colocando o Congresso Nacional na jogada pela
PEC 215 e a Portaria 303 da AGU.
A partir desta realidade estamos falando de Deus na Igreja. Na
verdade na IECLB não se fala mais a partir destes dados da realidade, pois se
prega a partir das nuvens ou a partir do mero individualismo (salvação
individual sem compromisso coletivo que parte da fé para acolher as vítimas do
sistema opressor no qual vivemos), como se a pessoa vivesse no espaço sideral,
e não no Planeta Terra, especificamente num país chamado Brasil. Por que?
Porque isto está proibido pela classe capitalista que manda na Igreja. Onde
esta proibição está escrita e onde isto foi decidido? Não está escrito em lugar
nenhum, mas todos/as pastores/as que são minimamente espertos sabem que esta
decisão é real. Se infringir esta decisão o facão do TAM e da Avaliação come
solto, sem, no entanto, se referir à esta decisão; acha-se qualquer outro
motivo banal como: o pastor estava estendendo roupa no varal e isto não é
trabalho doméstico que um pastor pode fazer. Olha que isto aconteceu de fato em
Ijuí, RS, na Paróquia chamada 'da Paz'. Imagina se esta paróquia se chamasse
'da Discórdia'? Isto é de chorar em alemão, como fala o povo daqui. E como
dizia o profeta Amós: "Am 5.13: Portanto, o que for prudente guardará,
então, silêncio, porque é tempo mau." Por isso a teologia da prosperidade,
que é a teologia do engodo, como mostram os dados do IBGE, pois os pentecostais
não saíram da pobreza, é tão atrativa. Quem o povo brasileiro vai adorar nas
igrejas? Jesus Cristo? Não, o deus capital, jurando de pés juntos que estão
indo adorar a Jesus Cristo. O deus capital promete, mas nunca cumpre suas
promessas, no entanto, é muito bom e eficiente na sua propaganda e no seu
mecanismo de persuasão: não falou o que agrada ao deus capital vai para a rua, senhor/a
pastor/a e senhor padre. A CPT não fala o que o deus capital exige, então o
bispo, à serviço do deus capital, a proíbe, do alto de seu poder hierárquico feudal,
em sua diocese.
Numa reunião de uma comunidade
da IECLB o presidente da comunidade distribuiu os 'santinhos' de seu filho
candidato a vereador pelo PSD (partido originário da ARENA, via PP e DEM.
Aquele partido que legitimou e apoiou a Ditadura civil-militar de 64 que matou
457 pessoas que lutavam pela democracia, mais 370 camponeses, mais 5 mil
indígenas e torturou outras 30 mil pessoas, tudo como sendo política de estado.
É bom sempre de novo lembrarmos disto; apoiar esta turma é apoiar assassinos e
torturadores e é legitimar o passado opressor.), mas em reunião ou encontro do
movimento popular ou sindical o/a pastor/a não pode participar porque isto é
fazer política, pois fazer política de esquerda é proibido na Igreja. Fazer
política de direita sempre foi permitido na Igreja, pois para eles isto não é
fazer política, é normal (afinal a Igreja não está aí para defender e
reproduzir o capital?), é isto que se tem que fazer. Hipocrisia e cara de pau,
sempre foram o forte na Igreja onde manda o deus capital dizendo ser Jesus
Cristo.
O pastor Baeske uma vez contou
esta história:
"Certa vez, o diabo quis oferecer auxílio a
Martim (cristão do século 4, caridoso e militante na fé; após a morte virou um
dos santos mais populares). Daí o diabo lhe apareceu na figura de um rei
majestoso e falou: “Martim, eu te agradeço por tua fidelidade. Experimenta
agora como eu sou fiel a ti. Por isso, agarra firme em mim”.
Martim perguntou: “Mas quem és tu afinal?”
“Eu sou Jesus, o Cristo”, respondeu o diabo.
Martim retrucou: “Onde estão os teus ferimentos?”
O diabo: “Eu venho da glória do céu e lá não tem
ferimento nenhum”.
Ao que Martim concluiu: “Não quero ver o Cristo sem
ferimentos. Pois não posso me agarrar no Cristo que não carrega os sinais da
cruz”."
Na IECLB a maioria das
comunidades prefere o Cristo sem a Cruz, pois na maioria de suas igrejas não
encontramos um crucifixo, apenas uma cruz vazia. É a teologia da glória em
detrimento da teologia da cruz, defendida por Lutero, que aprendeu esta
teologia de Paulo. Na igreja em Carazinho temos um crucifixo enorme atrás do altar,
o que é correto, bom é termos uma cruz vazia e um crucifixo, porque não dá para
separar a Sexta Feira Santa da Páscoa. O Cristo ressurreto quando aparece aos
discípulos é sempre o Cristo crucificado que mostra as marcas dos pregos (Lc
24.36-43) e come algo para mostrar a ressurreição do corpo e não da alma
somente. Pastor que tira do altar o crucifixo, a cruz vazia, as velas tem que
ingressar numa igreja pentecostal, ali é o seu lugar. Uma Igreja que não
consegue ter uma teologia litúrgica clara e viabilizá-la deixa de ser Igreja de
Jesus Cristo, pois é pela liturgia, vestes litúrgicas e símbolos que a Igreja
se apresenta visivelmente, juntamente com o seu trabalho diaconal de andar
junto com o povo explorado pelo capital em suas lutas concretas por melhores
salários, moradia digna, por Reforma Agrária, melhores preços para os produtos
dos camponeses, na organização no todo da classe trabalhadora, etc. Uma destas
igrejas que não tem sensibilidade para com a miséria do povo, das quais fala
Hromádka, é uma Igreja sem Deus, ou melhor, uma igreja do deus capital, onde
'Deus é o mesmo' da igreja e do shopping center. Não estou falando da IECLB,
pois ali temos clareza na prática teológica e litúrgica! Na IECLB os membros do
Rio Grande do Sul que eventualmente freqüentarem um culto no Nordeste ou no
Sínodo Centro-Sul Catarinense se reconhecerão nela pela liturgia, pelas vestes
litúrgicas, pelos hinos, pela pregação, tudo pura tradição evangélica luterana!
Tudo impecável! Pois temos uma direção da igreja que zela pela pureza litúrgica
e teológica evangélica luterana na igreja, a começar pelos pastores sinodais!
J. L. Hromádka lembra ao falar de Jesus Cristo: "Die
Priester und Rabiner in der Synagoge schlossen ihn aus ihrem Kreise aus. Er lebte mit den Sündern dieser
Welt, mit Trinkern um Zöllnern. Er kam nicht, einen Kreuzug gegen Sündern,
Skeptiker und Atheiste zu organizieren. Er verabscheute nicht die säkulare,
sündige Welt, sondern vielmehr die Tempel und Synagogen, Pharisäer und
öffentlichen Vertreter de Religion. Nur wenn wir ihn auf gewöhnlichen Strassen
und Wegen, in Gesellschaft gewöhnlicher, schwacher und irrender Männer und
Frauen sehen, können wir sein Kampf für den Menschen verstehen.
… Es
besteht keine Hoffnung für unsere Kirche, wenn sie ihr Ansehen und ihre
Privilegien, ihre Routinen und Traditionen aufrechtzuerhalten versuchen, wenn
sie das tiefste Elend und die menschliche Sünde nicht verstehen und wenn sie
heute keine Verantwortung für die unglücklichen Menschen übernehmen, ohne
Rücksicht darauf, ob sie gläubig sind oder nicht, ob sie formal Mitglieder
unserer Gemeinden sind oder nicht. Für Jesus hatte sein Dienst keine Grenzen.
Für die Kirche hat ihr Dienst keine Grenzes."
Por isso o Concílio Geral de 1982 a IECLB decidiu fazer um
trabalho de base com formação teológica com o povo explorado pelo capital: "-
assumir e defender com responsabilidade evangélica as reivindicações dos
movimentos sociais, fazendo um trabalho de base com associações de bairros,
atingidos por barragens, colonos sem terra, bóias-frias, sindicatos, proteção
ambiental, além de inúmeras outras formas de atuação onde o amor de Deus quer
se tornar vivo e real entre as pessoas."
Decidir fazer e fazer são duas coisas
totalmente diferentes, como sabemos, pois a correlação de forças em benefício
do capital dentro da Igreja impediu que este serviço evangélico diaconal se
realizasse. E o diabo dá risada! Feliz da vida. Ganhou mais essa batalha com o
auxílio dos assim chamados cristãos convertidos da IECLB favorecendo o seu
projeto, o projeto do capital. Cristãos mais fiéis do que os da IECLB o diabo
não precisa.
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