Para Marx a luta de classes é o motor da história.
“A história da Sociedade se confunde até hoje com a história das lutas de classe. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, em outros termos, opressores e oprimidos em permanente conflito entre si, não cessam de se guerrearem em luta aberta ou camuflada, luta que, historicamente, sempre terminou ou numa reestruturação revolucionária da Sociedade inteira ou no aniquilamento das classes em choque”. (O Manifesto Comunista. Marx e Engels, 1848)
“O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência”. (Prefácio à "Contribuição à Crítica da Economia Política". Karl Marx)
“Em qualquer época histórica, a produção econômica e a estrutura social, que dela necessariamente decorre, constituem a chave da história política e intelectual dessa época”. (Prefácio à edição alemã de 1883 do Manifesto Comunista. Friedrich Engels)
As pessoas pensam a partir daquilo que fazem. Por isso a maioria dos cristãos é capitalista porque pensam a partir de sua prática econômica. A sua prática econômica determina a sua teologia/ideologia invalidando assim o Evangelho de Jesus Cristo que propõe o Reino de Deus como objetivo primeiro e último. A maioria dos cristãos não organiza a sua vida conforme o Evangelho de Jesus Cristo, mas conforme a dinâmica do capitalismo, vivendo como se não houvesse outra proposta a não ser o capitalismo. A partir disso dá para entender que a maioria dos cristãos segue a Ditadura do Pensamento Único que legitima o capital que diz que não há outra forma de organizar a sociedade além do capitalismo. No entanto, há outra proposta de organizar a vida além do capitalismo que é o Reino de Deus anunciado e vivido por Jesus Cristo, o Deus encarnado em Jesus de Nazaré da classe camponesa palestina. Em vez da maioria dos cristãos defenderem o projeto do Reino de Deus defendem com unhas e dentes o capitalismo, negando o seu batismo.
Vamos ver como acontece a luta de classes na Bíblia e como ela determina a ação de Javé:
Dt 6.20-23: “Quando teu filho, no futuro, te perguntar, dizendo: Que significam os testemunhos, e estatutos, e juízos que o Senhor, nosso Deus, vos ordenou? Então, dirás a teu filho: Éramos servos de Faraó, no Egito; porém o Senhor de lá nos tirou com poderosa mão. Aos nossos olhos fez o Senhor sinais e maravilhas, grandes e terríveis, contra o Egito e contra Faraó e toda a sua casa; e dali nos tirou, para nos levar e nos dar a terra que sob juramento prometeu a nossos pais”.
Aqui vemos como a luta de classes é o motor da história do povo de Deus. Javé é reconhecido na luta de classes ao optar pela classe oprimida: a classe camponesa sem terra escrava no Egito. “Eu sou o que sou”, diz Javé para Moisés em Ex 3.14. Significa: eu sou o que faço. O que Javé faz? Ele se coloca na luta de classes ao lado dos oprimidos, junto à classe oprimida e contra a classe opressora. A teologia de Javé é determinada pela sua prática a partir da luta de classes que há na sociedade. E sua prática é lutar contra os opressores e seu projeto de dominação propondo com isso uma nova proposta de sociedade construída a partir dos oprimidos libertos: uma sociedade sem classes sociais (Dt 15.4: para que entre ti não haja pobre), sem estado, sem templo (templo é coisa do estado para legitimar a opressão da classe que controla o estado; por isso foi o Templo de Jerusalém que prendeu Jesus e o condenou à morte em aliança ao estado romano. “Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos”, diz o Credo Apostólico. O templo e o estado mataram Jesus. No período do deserto havia o tabernáculo, a tenda da congregação, que era móvel, onde se realizava o culto a Deus e a Assembléia Popular da qual todos podiam participar e propor, também as mulheres, conforme Nm 27), onde não há propriedade privada dos meios de produção, pois a terra é posse da tribo e do clã (a terra é de Deus; Lv 25.23: “Também a terra não se venderá em perpetuidade, porque a terra é minha; pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos”; terra não é propriedade privada é para uso; vende-se o seu uso por determinado tempo: vende-se o número de colheitas e não a terra. Lv 25.14-16: “Quando venderes alguma coisa ao teu próximo ou a comprares da mão do teu próximo, não oprimas teu irmão. Segundo o número dos anos desde o Jubileu, comprarás de teu próximo; e, segundo o número dos anos das messes, ele venderá a ti. Sendo muitos os anos, aumentarás o preço e, sendo poucos, abaixarás o preço; porque ele te vende o número das messes”.), todos tem acesso aos meios de produção: a terra (até as mulheres Nm 27) e a luta contra os deuses cananeus que legitimavam o modo de produção tributário. Cada deus tem a sua teologia e a sua prática. Os deuses cananeus eram os deuses da fertilidade que defendiam uma sociedade de classes: camponeses e o estado. Os camponeses adoravam os deuses da fertilidade na esperança de boas colheitas para que pudessem pagar os tributos ao estado e não passar fome. O Deus Javé tem a sua teologia baseada no desmonte desta sociedade amparada pela religião que legitima a sociedade de classes para garantir o tributo ao estado. O que para a teologia dos deuses cananeus é legítimo para Javé é opressão. A teologia dos deuses cananeus é cimentar a sociedade de classes e a teologia de Javé é desmontar a sociedade de classes. Como nos relata o livro de Juízes: cada vez que o povo de Israel seguia os deuses cananeus vira refém desta sociedade classista e era saqueado e oprimido, pois os deuses cananeus permitem e se constroem em cima da sociedade de classes baseada no saque, na escravidão e na opressão. Por isso os Dez Mandamentos começam dizendo: “Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”. Esta é a teologia e a prática de Javé. Como a luta de classes é o motor da história Javé muda a direção da história a partir desta luta de classes. Javé muda a história em favor dos oprimidos: esta é a sua teologia e a sua prática. A teologia dos falsos deuses cananeus é manter a sociedade como está.
A teologia do falso deus capital de hoje também é tentar manter a sociedade classista eternamente como está, por isso os seus teólogos pregam o fim da história, pois não existe outra proposta de sociedade além do capitalismo. O interessante do deus capital é que ele é um deus leigo, que não se diz sagrado, não requer ritos prescritos oficialmente, nem tem teologia oficialmente defendida e definida, nem requer culto com liturgia determinada de seus adoradores, não precisa de templos, mas de fato tem sua teologia, tem seus templos (não tidos como tais: os shoppings centers, onde nos fins de semana seus adoradores vão adorar um dos elementos da trindade: a mercadoria) e seus ritos religiosos, como o consumo e a adoração da mercadoria como algo sagrado, pois é no processo da produção da mercadoria que se dá o processo de exploração do mais valor, do lucro. Adorando a mercadoria se adora o lucro, o capital. A mercadoria produzida pelo trabalhador vale mais que aquele que a produziu, apesar de que somente o trabalhador (que no processo também vira mercadoria que se compra e se vende no mercado de trabalho) tem a capacidade de gerar lucro. O lucro surge a partir do roubo do tempo de trabalho feito, mas em parte não pago à classe trabalhadora. O deus capital se compõe da trindade: dinheiro, mercadoria, capital. O deus capital é muito dinâmico e maleável e se insere na religião cristã assumindo o lugar de Javé. As pessoas adoram Jesus Cristo na forma de adorar o deus capital achando que estão adorando Jesus Cristo. Transformam a teologia do deus capital na teologia de Jesus Cristo. Para muitos cristãos questionar o deus capital é questionar o próprio Jesus Cristo. É a metamorfose do deus capital que se transforma em Jesus Cristo, mas tem a sua teologia e prática mantida como da do deus capital. É o diabo assumindo a forma de Jesus Cristo e sendo adorado como Jesus Cristo. As pessoas adoram este Jesus Cristo que na verdade é o diabo metamorfoseado de Jesus Cristo. Assim, Jesus Cristo se transforma no legitimador do deus capital, sendo escravo do deus capital e executor da vontade do deus capital, vira satélite do deus capital, sem vontade própria. Isto se chama de idolatria: adorar a Jesus Cristo de forma falsa. Isto explica todo o processo da Conquista das Américas onde a religião cristã (falo em religião cristã e não em Evangelho de Jesus Cristo, que é outra coisa) era usada como instrumento de dominação, matança e escravidão. A missão cristã que os portugueses e espanhóis vinham fazer nas Américas era na verdade missão do deus capital metamorfoseado de Jesus Cristo. Falava-se de Jesus Cristo, mas a prática sócio-econômico-política-cultural era do deus capital. Era tudo Religião e nada de Evangelho. A teologia era de Jesus Cristo adaptada à prática do deus capital e desta forma também a teologia se tornava a teologia do deus capital metamorfoseada de Evangelho de Jesus Cristo. Por ser tão complicado as pessoas não conseguem ver o que é de fato o verdadeiro culto a Deus. O culto que normalmente as pessoas praticam é na verdade o culto ao deus capital achando que é dirigido a Jesus Cristo.
Paulo diz em 1 Co 1.18: “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus”. Deus se revela na cruz de Cristo na luta de classes entre o Templo de Jerusalém aliado ao império romano e os camponeses. Isto é loucura como Religião, mas como Evangelho isto é poder de Deus. A opção de Javé em Jesus Cristo na cruz é pura loucura, pois mostra de que lado Deus está: do lado e com os camponeses crucificados pelo sistema econômico escravista mantido pelo estado romano opressor. Em Jesus de Nazaré Deus se fez classe camponesa e conseqüentemente luta contra o estado romano conforme dizem as acusações feita a ele em Lc 23.2,5: “Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele o Cristo, o Rei. Ele alvoroça o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui”. O Deus encarnado no camponês Jesus de Nazaré, periferia de Israel, luta contra o Estado (padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos) como em Dt 26.20-23 luta contra o Faraó, representante da classe do Estado egípcio. A teologia da cruz de Paulo aponta para esta opção de Deus na luta de classes, pois os seus seguidores sempre serão perseguidos pelo Estado, como o foram os primeiros cristãos por não adorarem o Estado como sendo divino. Hoje muitos cristãos colocam o capitalismo como sendo divino por não aceitarem qualquer possibilidade de eliminá-lo dentro da proposta de Jesus do Reino de Deus. Dentro da teologia da cruz está a opção revolucionária de Deus como diz em 1 Co 1. 28-29: “Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus”. Na luta contra o Estado divinizado (Gn 11.4) que legitima o sistema econômico opressor construído a partir da sociedade de classes o crente é crucificado. Enquanto estivermos vivendo numa sociedade de classes Deus estará com a classe oprimida para organizá-la para acabar com esta sociedade de classes onde o estado é o aparelho legitimador e de direito da classe opressora. Enquanto estivermos vivendo numa sociedade de classes o cristão será crucificado na luta contra esta sociedade de classes.
Martim Lutero fala da teologia da cruz quando fala da Ceia do Senhor:
"A primeira pergunta: 'Por que tu tomas o Sacramento?'
Resposta: 'Por que sou um co-herdeiro e tenho comunhão com Cristo, com todos os queridos santos e com todos os cristãos pie¬dosos, para junto com ele sofrer e morrer'".
O cristão vai ser crucificado e morrerá por causa da luta pelo Reino de Deus que é o Projeto de Deus de uma sociedade igualitária em oposição à sociedade de classes vigente. A instituição da Ceia do Senhor por Jesus Cristo coloca as bases de uma nova sociedade igualitária onde todos são irmãos e irmãs a partir do batismo e da fé em Jesus Cristo e concidadãos do reino, portanto uma sociedade sem classes sociais. Numa sociedade de irmãos (1 Ts 5.25-26; 2 Ts 1.3) não há classes sociais e nem mecanismos de opressão de classe, como é o estado.
Paulo fala em 1 Co 1. 28-29 “para reduzir a nada as que são”, isto significa mudar a sociedade que está construída sobre o modo de produção opressor. No tempo de Paulo ‘as coisas que são’ é o Império Romano aliado ao Templo de Jerusalém que será destruído pelo que nada é; como de fato aconteceu em 476, pelos que eram considerados nada, os chamados: bárbaros. É o que ele diz em Rm 12.2: não se conformar com este século, não se deixar moldar pela sociedade de classes. Quando a comunidade cristã se deixa moldar pela sociedade de classes ela fica igual a esta sociedade, reproduz esta divisão dentro dela e vive desta divisão. Não se deixando moldar a fé cristã é essencialmente subversiva. A cruz de Cristo mostra isto. O símbolo cristão: a cruz, é um símbolo que mostra a subversão inerente a fé cristã. Deus encarnado num camponês sem terra e sem teto foi morto por subversão. A subversão é a sua mensagem central: o Reino de Deus (Lc 4.43), pois se Deus se fez pessoa na classe camponesa foi para construir uma nova sociedade não classista e isto é subversão pura, por isso ele foi para a cruz.
Em Ap 13.1-2 (“Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. A besta que vi era semelhante a leopardo, com pés como de urso e boca como de leão. E deu-lhe o dragão o seu poder, o seu trono e grande autoridade”.) diz que o poder, o trono e a autoridade do imperador romano vieram do diabo (do dragão). O estado e o poder opressor não são coisa de Deus, são coisa do diabo. O estado opressor é instrumento do diabo. O estado só não é opressor quando é diakonos (que cuida dos pobres e doentes) e leitourgos (que serve o povo e a Deus) – daí vem a palavra liturgia, que é serviço a Deus e serviço de Deus; seria um estado, ou melhor uma sociedade, construída a partir do poder popular. Na tradução do Almeida as palavras gregas diakonos e leitourgos são traduzidos por ‘ministros’.
O problema do Estado permanece, pois surge da existência de uma sociedade de classes. Por isso em Js 6-8 a classe camponesa sob a direção e orientação de Javé acaba com a cidade de Ai (a cidade é o estado, como também em Gn 11 Deus confunde a linguagem, a ideologia, para acabar com a construção da cidade, do estado) para mudar o modo de produção de Tributário para Tribal. Tem que acabar com o Estado que é instrumento da classe economicamente dominante para construir um novo modo de produção para uma sociedade igualitária. O Apocalipse 21 e 22 não falam da existência do Estado e dizem claramente que não haverá templo, pois o templo é instrumento do estado para dominar ideologicamente e religiosamente o povo. Fala que a cidade santa, a nova Jerusalém, desce do céu. Esta é uma cidade que não se iguala à concepção de estado opressor, pois vem de Deus que quer uma sociedade igualitária e justa. O texto fala em tabernáculo – Ap 21.3 – (tenda móvel do tempo do deserto onde ficava a Arca da Aliança, símbolo da presença de Javé no meio do povo na luta contra o Estado e pela terra em direção à uma nova sociedade), lembrando o período do deserto onde Deus estava no meio do povo na caminhada em direção da Terra Prometida, a nova sociedade, e diz que na nova cidade não haverá santuário (Ap 22.22, aqui se refere a templo fixo e não ao tabernáculo, que é móvel) porque Deus é o santuário. Por enquanto Deus mora no corpo dos cristãos (1 Co 6.19-20: “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo”.) e por isso o corpo é santo, sagrado e portanto não pode ser oprimido, escravizado e explorado, pois este corpo vai ressuscitar.
Na luta de classes na história, Deus sempre está na classe oprimida para acabar com a opressão exercida pela sociedade de classes e com a própria sociedade de classes. No capitalismo Deus está na e com a classe trabalhadora na luta pelo Reino de Deus que aponta para a construção de uma nova sociedade não capitalista.
Contra o capitalismo Jesus Cristo propõe o Reino de Deus onde não há classes sociais, simbolizado em At 2.42-47 e 4.32-37 e Paulo fala em ‘concidadãos dos santos’ em Ef 2.19: “Assim, já não sois estrangeiros e peregrinos, mas concidadãos dos santos, e sois da família de Deus”. Paulo diz em 1 Ts 2.17: “Ora, nós, irmãos, orfanados, por breve tempo, de vossa presença, não, porém, do coração, com tanto mais empenho diligenciamos, com grande desejo, ir ver-vos pessoalmente”. A partir da fé em Jesus Cristo somos irmãos e irmãs da mesma família de Deus. A partir da fé em Jesus Cristo acaba a sociedade de classes, pois somos uma família e uma família abriga seres iguais. Diferentes no ser, na cor e no gênero, mas iguais como seres humanos. Somos uma família que acolhe as vítimas da sociedade de classes, os estrangeiros e peregrinos (Ef 2.19 - os paroikoi – daí vem a palavra “paróquia” que acolhe e organiza contra a opressão os oprimidos da sociedade de classes), mas que a partir do batismo são nova criatura (2 Co 5.17: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas”.) para uma nova sociedade.
O Evangelho desmonta a sociedade de classes pela comunhão na Ceia do Senhor, pelo serviço ao próximo pelo amor. Por isso João 13.5 fala do lava-pés durante a ceia pascal que culmina com a Ceia do Senhor. A fé em Jesus Cristo cria uma relação de serviço ao próximo como ensaio da Ceia do Senhor no dia a dia em direção desta nova sociedade que é o Reino de Deus.
A comunidade é a essência da resistência contra a sociedade de classes que impede que todos sejam irmãos. No entanto, a teologia cristã incorporou a sociedade de classes na comunidade por uma falsa liberdade que há no capital, por uma falsa individualidade pela teologia da salvação meramente individual, enquanto que a Bíblia fala também da salvação do coletivo – de todo o povo (Mt 1.21; Zc 8.7; Dn 12.1; Sl 18.27; Sl 28.9; 2 Sm 22.28). Na Ceia do Senhor Jesus diz em Mt 26.28: “porque isto é o meu sangue, o sangue da [nova] aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados”. Não diz apenas para tua salvação, pois você faz parte de uma comunidade, de um coletivo, a partir do batismo. Você não vive mais sozinho, você vive em comunidade. Prática cristã é prática coletiva, é luta coletiva contra o sistema econômico encastelado no Estado para privilegiar a classe economicamente dominante que usa a ideologia/teologia para se perpetuar no poder político e econômico dizendo que não há outra possibilidade de organizar a vida e a sociedade além do capitalismo. O Evangelho de Jesus Cristo diz que há outra possibilidade de organizar a vida e a sociedade que é o Reino de Deus anunciado e vivido pelo camponês sem terra Jesus de Nazaré, o filho do Deus vivo (Lc 16.16).
A salvação nos é dada de graça pela fé em Jesus Cristo e por isso acolhemos as vítimas do sistema opressor (Mt 25.31-46), sem medo, pois já fomos salvos, que denota prática profética de denúncia das injustiças e anúncio de uma nova sociedade de concidadãos dos santos que não mais cria vítimas. Quem não acolhe as vítimas do sistema opressor para acabar com a opressão não tem a salvação, mesmo que diga que tem Jesus no coração e teve uma experiência de conversão.
Luta de classes há no Êxodo e na Cruz/Ressurreição onde Deus não está com a classe dominante, mas está na classe dominada para acabar com a sociedade onde há dominação de classe. No AT Deus propõe uma sociedade sem classes e, portanto sem Estado, igualitária, onde todos controlam os meios de produção: a terra. No NT em At 2 e 4; 1 Co 11.17-34 os cristãos retomam isto pela construção da sociedade sem necessitados (At 4.34) onde os meios de produção são colocados a serviço do coletivo.
Na Bíblia Deus lê a realidade em Dt 6.20-23: Há luta de classes e Javé se opõe à proposta e postura do Estado que é o representante da classe economicamente dominante. Em Gn 47 a Bíblia mostra que o Estado empobrece e escraviza os camponeses e domina ideologicamente: ‘a vida nos tens dado’ (Gn 47.25). Gn 1 mostra a luta de classes dos escravos na Babilônia e em Gn 2-3 a luta dos camponeses na monarquia israelita. Fica clara a divisão de classes em Gn 4.2: “Abel foi pastor de ovelhas, e Caim, lavrador”. É a luta entre os camponeses sem terra (que foram expropriados pela classe do estado: 1 Rs 21) – Abel – e o camponês com terra Caim, que construiu uma cidade (Gn 4.17), que representa o Estado que mata o camponês empobrecido e despojado. Deus só aceita o sacrifício do camponês sem terra e não do construtor da cidade (representante do Estado). O pastor não é pastor por opção, mas por ‘precisão’, por necessidade, porque foi despojado dos meios de produção: a terra, pela classe que controla o Estado. O tornado sem terra - Abel - é o preferido de Javé e somente quando o com terra – Caim – se torna um fugitivo e pária é que Deus o protege (Gn 4.14-15). Deus não está com Caim enquanto opressor, mas somente quando migrante e fugitivo.
Deus sempre se revela na história do lado do oprimido para propor uma nova sociedade sem Estado, pois o Estado é o instrumento de uma classe para se favorecer e manter privilégios numa sociedade de classes. Deus não quer a sociedade de classes, mas quer uma sociedade igualitária: de irmãos, como diz no NT. Uma sociedade a serviço dos oprimidos, doentes e empobrecidos como nos anuncia Mt 25 e denuncia Tg 5 e Mq 3.
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