22 de agosto de 2011

Advento

Em At 9.1-2 diz: “Saulo, respirando ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse presos para Jerusalém”.
Em At 19.23 diz: “Por esse tempo, houve grande alvoroço acerca do Caminho”.
Os primeiros cristãos eram chamados de: “os do Caminho” e o Projeto de Deus era chamado de: “o Caminho”.

Falando em “caminho” nos lembramos da família camponesa sem terra Abraão e Sara que caminhou, sob a orientação de Deus, da Mesopotâmia em direção à Terra Prometida.

A família camponesa escrava de Moisés, Arão e Miriam, no Egito, caminhou com seu povo pelo deserto, guiados pela luz de Deus, em direção à conquista da Terra Prometida com a proposta de acabar com o Estado (Js 6-8) por ser instrumento da classe economicamente dominante para perpetuar a sua opressão e exploração sobre a classe que trabalha (na época a classe camponesa) e construir uma nova sociedade sem classes e sem Estado, onde não haveria escravos e nem senhores.

Os juízes palestinos Gideão e Débora caminharam por Canaã para organizar os camponeses israelitas a fim de manter a terra conquistada e a sociedade livre do Estado e manter o Projeto de Deus que queria uma sociedade sem classes sociais, sem Estado, sem Templo, livre, onde todos tem acesso à terra e uma sociedade, que propõe conforme Dt 15.4: “para que entre ti não haja pobre”.

Os profetas Isaías e Zacarias caminharam pela Palestina para advertir o povo de seus pecados (entre eles o maior: ter constituído um rei, um Estado para os oprimir e os desviar do caminho do Projeto de Deus, como fala em I Sm 12.29) e para falar da esperança do Messias, que vem como Servo Sofredor.

O profeta Ezequiel caminhou com o seu povo para a escravidão da Babilônia para lá aprender da História, dos Profetas, dos Salmos e da Lei que Deus sempre está do lado dos que sofrem e são oprimidos para fortalecê-los no sofrimento, a ajudá-los a superá-lo e manter vivo a esperança da nova sociedade.

O profeta Ageu caminhou entre o seu povo sofrido e oprimido pelos impostos incentivando a reconstrução do Templo como o único espaço possível de resistência dentro da repressão persa.

O governador Neemias andou em meio ao sofrimento de seu povo falido economicamente e denunciou a elite que escravizava o seu próprio povo que não tinha condições de pagar as suas dívidas devido à alta dos preços dos alimentos, dos altos impostos pagos em moeda e da penhora de suas terras, e, pelo poder de uma Assembléia Popular, conquistou com o povo organizado o perdão das dívidas e a libertação dos escravos.

Os irmãos Macabeus caminharam por todo o Israel para organizar o povo para a luta armada contra seus opressores gregos que queriam acabar com a sua fé no Deus que liberta para poder oprimi-los melhor e caminharam com o povo em armas durante mais de vinte anos até que pudessem festejar a vitória, viver em liberdade num país independente.

João Batista caminhou pelo deserto da Judéia para anunciar que o Messias irá chegar. Como preparo batizava no rio Jordão, longe do Templo e de graça, para a remissão de pecados, pois a salvação nos é dada de graça pela fé.

A família da classe camponesa, José e Maria, caminhou de Nazaré para Belém, por causa de uma ordem opressora imperialista romana, para se recensear; e neste processo nasce marginalizado um sem terra numa estrebaria que é aquele que libertará a todos de todas as opressões e morte e fará todas as pessoas livres, como lembra o apóstolo Paulo em Gl 5.1: “Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”.

Os magos, que eram estrangeiros e migrantes, caminharam por terras longe de sua pátria na procura do rei dos judeus que não foi encontrado no palácio do rei Herodes, mas numa estrebaria, numa família da classe camponesa e rodeado por camponeses pastores empobrecidos e marginalizados, deitado numa manjedoura fora da cidade de Belém.

Os 12 discípulos e o grupo de mulheres, que seguiam Jesus e serviam o Movimento de Jesus, caminharam com Ele pela Palestina para anunciar que o reino de Deus já “está entre vós” (Lc 17.21), dizendo ainda, conforme Lc 6.20: “Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus”.

Jesus caminhou para Jerusalém, acompanhado de seus discípulos e discípulas, para ser crucificado e ressurreto no terceiro dia e para nos mostrar a vitória de Deus sobre a morte e sobre todas as mortes em vida e para mostrar a sua vitória sobre o sistema deste mundo, quando pela ressurreição anulou e contrariou uma decisão do Estado.

Os Apóstolos, entre eles Pedro e Paulo entre muitos outros e outras, caminharam pelas estradas do Império Romano para proclamar o Evangelho do Reino de Deus como proposta de uma nova sociedade não opressora que constrói a sua Assembléia – eklesia - com a participação daqueles que não podiam participar da assembléia da cidade por serem mulheres, jovens, estrangeiros, sem terra, jornaleiros e escravos.

As muitas mulheres que eram lideranças e eram a sustentação das primeiras comunidades cristãs, como Priscila, Trifena, Trifosa e Júlia, caminhavam pelas cidade praticando a diaconia que fazia as comunidades crescer.

Nós hoje caminhamos como comunidade porque somos a luz do mundo, como nos falou o Cristo, enquanto camponês peregrino sem terra e sem teto Jesus de Nazaré, conforme Mt 5.14 dizendo: “Vós sois a luz do mundo”. Jesus lembra ainda em Mt 5.16: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus”. Pois: “Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte” (Mt 5.14).

Sejamos, pois, sempre luz do mundo que aponta para a construção desta nova sociedade não capitalista que Jesus chama de Reino de Deus.

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