14 de agosto de 2011

Análise de Conjuntura – 13 agosto 2011

Temos vivido nos últimos anos em crises econômicas quase permanentes que são inerentes ao sistema capitalista como a luta de classes e não são uma doença ocasional ou uma desvirtuação do sistema. Temos visto o real papel do Estado que é defender os interesses da classe capitalista. Temos visto o Estado fazer o seu real papel que é garantir a acumulação do capital nas mãos da classe capitalista.
Temos visto também que os cristãos continuam sendo ingênuos, como sempre, ao menos 97% deles, pois não sabem ler a realidade porque foram ensinados a não ver e nem ler a realidade como ela é. Os cristãos são educados para serem ingênuos porque a direita controla a estrutura da igreja e assim controla a teologia da igreja. Não é a Bíblia que diz como deve ser a nossa teologia e a nossa prática, mas é a direita (os capitalistas) que diz como devemos ler a Bíblia, como deve ser a nossa teologia, a nossa prática de fé e nossa compreensão de Deus. Deus é apenas um mero acaso, um tropeço, um adereço neste processo. Não tão mero assim porque Ele é fundamental para legitimar a opressão capitalista a partir do ponto de vista da direita. Os cristãos não são ingênuos porque o querem ou porque optaram por isso, mas foram educados teologicamente na igreja, na escola e na família para legitimarem o sistema capitalista. O capital determina majoritariamente a compreensão de Deus na igreja e não o Evangelho do Reino de Deus vivido e pregado por Jesus Cristo como consta nas Sagradas Escrituras. A prática dos cristãos comprova a sua ingenuidade, são inocentes úteis ao capital achando que isto é uma expressão de sua fé quando legitimam o capital. Se deixaram enrolar pela Ditadura do Pensamento Único a serviço da Ditadura do Capital que diz que não há outra forma de organizar a vida além do capitalismo, esquecendo que o Evangelho do Reino de Deus diz exatamente o contrário, que há uma outra forma de hoje, como sempre houve, de organizar a vida (economia, política, artes, ideologia, ciência, cultura e a religião – aqui entendida como fé cristã: Evangelho) além do capitalismo que é o Reino de Deus cujo anúncio e vivência Jesus pagou na cruz. A formação na igreja é ingênua (mas não deixa de ser classista porque é feita do ponto de vista da direita que apóia o capitalismo) para favorecer a compreensão de mundo da direita que controla a estrutura das igrejas e assim a sua teologia. O poder em nossa estrutura de igreja – a IECLB – está com o Conselho da Igreja, o pastor presidente é apenas um convidado sem direita a voto, portanto, é peão, de fato não manda nada, é um adereço. Esta foi a genialidade da reestruturação de nossa igreja em 1997 por parte dos capitalistas anticlericais que enfiaram-na goela abaixo no Concílio de Ivoti: tirar todo o poder das mãos do pastor presidente. Também o poder teológico, pois quem controla o poder das decisões econômicas-administrativas controla a teologia. Foi uma sacada de mestre que a esquerda ingênua (para não dizer burra) não percebeu na época porque não faz análise de conjuntura e também não sabe ler a realidade direito. É bom lembrar que a direita não tem nada de burra, senão não estaria no poder neste país por 500 anos. Portanto a teologia na igreja é dada pelo Conselho da Igreja. O pastor presidente até pode dar seus palpites, mas quem bate o martelo é o Conselho da Igreja, normalmente, predominantemente de direita. A formação na igreja parte do pressuposto de que a sociedade é harmônica e não parte da realidade da luta de classes que há na sociedade, pois tenho mais de uma vez escutado dizer por parte de colegas ingênuos e inocentes úteis que não existe esta coisa de direita e esquerda na igreja e de que não existe a luta de classes na igreja. O que tenho ouvido dizer é que não dá para fazer esta leitura com o povo, pois ele se assusta. É claro que ele se assusta no princípio porque a vida inteira ele ouviu outra coisa. Mas este mesmo povo quando participa da formação do Movimento Popular ou Sindical não foge quando se faz esta leitura. Onde está o problema? Não está na decisão política de quem decida o conteúdo da formação na igreja? Os fariseus e sacerdotes do Templo de Jerusalém também se assustaram com a prática e a pregação de Jesus sobre o Evangelho do Reino de Deus a tal ponto que queriam matá-lo (Mc 3.6; Mt 26.3-4) e por fim o conseguiram. O povo empobrecido se orienta pela ideologia da classe dominante e com isso apóia e vive segundo a compreensão de mundo dos capitalistas achando que não há outra opção. Quando os empobrecidos descobrem como a sociedade funciona, como o capitalismo funciona, nada mais os segura em sua luta para construir uma nova sociedade igualitária como propõe o Evangelho do Reino de Deus anunciado pelo Deus que se fez pessoa na classe camponesa palestina e foi crucificado por causa desta opção. Deus, no camponês palestino sem terra empobrecido Jesus de Nazaré, foi castigado pela Religião do Templo com a morte por não ter cumprido o seu papel de legitimar a sociedade vigente e ter traído os interesses da elite israelita aliada ao Império Romano. Deus, segundo os interesses da classe que controla o aparato do Estado, tem a função de legitimar os interesses desta classe e não optar em se tornar alguém da classe oprimida e explorada, no caso a classe camponesa. Esta classe que controla a economia e tem no Estado o seu perpetuador da opressão e tem na religião o seu aparato legitimador da opressão política-econômica-cultural-religiosa não vacila em matar para manter a sua opressão. A cruz de Cristo é um exemplo disto. As ditaduras militares impostas à América Latina nos anos 60 a 80 o mostram claramente e mostram também de que lado as igrejas cristãs se colocaram.
Que mania que Javé tem em não se adaptar aos interesses dos opressores! Cruz nele! Por isso é funda-mental controlar a estrutura (do Estado e das igrejas) para que os empobrecidos não descubram que são e nem como são explorados e espoliados e não descubram que Deus opta pela classe que trabalha e não pela classe que explora o trabalho de outrem. A igreja fala muito em formação, mas ela não deslancha porque esta é peri-gosa: pode denunciar o capital e a sagrada aliança que as igrejas fizeram com este. O próprio Deus tornado pessoa na classe camponesa palestina foi crucificado por ensinar (Lc 23.5) o que a classe economicamente dominante não queria que ensinasse e que há, inevitavelmente, a proposta de Deus em construir uma nova sociedade em oposição à atual que Jesus chama de Reino de Deus. Hoje a igreja fala pouco neste Reino de Deus e fala apenas num Cristo desencarnado que propõe uma salvação individual fora do processo coletivo de salvação que a Bíblia apresenta e procura falar pouco no Jesus de Nazaré camponês sem terra sem teto palestino migrante, pois esta postura de Deus é prá lá de subversiva em optar em se inserir na classe oprimida, se tornando um oprimido, e não se deixar usar como instrumento do aparelho ideológico do Estado. Quando Javé opta em ser da classe camponesa oprimida ele automaticamente se opõe aos instrumentos da classe opressora de ontem e de hoje. Esta opção de classe por parte de Javé é uma pedra no sapato da burguesia que controla as igrejas.
Falar de Deus de uma forma oposta a que consta na Bíblia, como única e verdadeira, é a arte que a bur-guesia encontrou para forçar a opção de Deus pela classe dominadora, ao menos a partir deste discurso. Assim, hoje Deus fez uma opção pelo capitalismo e pelos ricos, segundo a teologia oficial. Tudo, é claro, não é dito desta forma, mas anda segundo esta forma. Entrega o teu coração a Jesus e serás rico! É a teologia a serviço da ideologia do capital. A teologia virou ideologia e a ideologia virou teologia. A ideologia é, na verdade, a arte da enganação; e funciona, e como funciona! Conseguir transformar a teologia da libertação em ideologia de opressão é uma arte que a direita sabe manejar muito bem. Conseguir transformar o Deus tornado camponês empobrecido e crucificado por alguém que legitima a sua própria cruz e o processo do empobrecimento opressivo da sociedade e que abençoa este processo com a riqueza individual advinda deste processo é o milagre cotidiano que a ideologia do capital realiza e produz. Este processo ideológico consegue transformar o diabo em deus e anular a cruz de Cristo. Pior, consegue fazer adorar a Deus enquanto adora o diabo, achando e dizendo que está adorando a Deus; se adora Deus na forma do diabo. Ex 32 explica isto e Jz 11.30-31 também. A primeira comunidade cristã que se negou a fazer isto foi massacrada por isto. A comunidade cristã de hoje não é mais massacrada (apenas o são algumas lideranças engajadas no Movimento Popular no exercício de seu ministério profético sem serem reconhecidos oficialmente como profetas e santos como o casal ambientalista José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo e o líder do Movimento Camponês Corumbiara, Adelino Ramos, conhecido com Dinho, que não eram sacerdotes ordenados para o ministério especial por igreja nenhuma, assim como Amós, que diz: “Eu não sou profeta, nem discípulo de profeta, mas boieiro e colhedor de sicômoros”) porque faz exatamente isto: pratica a idolatria – adora Deus de uma forma falsa e adora um falso deus: o capital, que é o instrumento que o diabo usa para combater o Reino de Deus. Adora e presta culto à Javé enquanto vive segundo a prática e a teologia proposta pelo diabo na medida em que organiza a sua vida segundo os ditames do capital dizendo que esta é a única forma de organizar a vida do povo, ignorando o anúncio central feito por Jesus Cristo (Lc 4.43) que é o Reino de Deus, que sempre aponta para a construção de uma nova sociedade igualitária e não capitalista. Contar uma mentira como sendo a única verdade é a arte da ideologia. Por isso: abaixo a ideologia e viva a teologia que anuncia a opção classista de Javé que se tornou um camponês palestino sem terra e que por isso foi crucificado a mando do Templo de Jerusalém a serviço do Estado que tem a tarefa de transformar o Evangelho em Religião pela ideologia.
Por não saberem ler a realidade os cristãos, em sua maioria, também não sabem ler as Escrituras Sagradas, pois procuram nelas um Deus desencarnado que tem que realizar o sonho pessoal de riqueza gananciosa das pessoas. Mas sabemos que somente há uma forma de ficar rico que é explorar os outros e isto decididamente não é abençoado por Deus. Assim, segundo este desejo egoísta, a leitura da Bíblia tem que ser segundo os interesses das pessoas impregnadas pelo capitalismo e Deus tem que se adaptar segundo estes interesses. Deus é servo dos cristãos. Conseqüentemente a igreja também tem que defender estes interesses egoístas dos capitalistas e para que assim seja estes controlam a estrutura das igrejas e moldam a interpretação do Evangelho do Reino de Deus que sempre aponta para a construção de uma nova sociedade não capitalista para uma adaptação deste Evangelho aos interesses dos capitalistas que querem eternizar o sistema econômico capitalista contradizendo a essência do Evangelho de Jesus Cristo; algo impossível, pois o Reino de Deus vai ser construído por Deus de qualquer jeito com ou sem a nossa ajuda. Assim o Evangelho da Cruz de Cristo virou Religião e o papel da Religião é legitimar a opressão. Obviamente a culpa desta ignorância coletiva recai sobre aquela parte dos cristãos ordenados para o ministério especial e que são conhecidos como sacerdotes (os “curas d’alma”, como o querem os capitalistas: a alma fica com a igreja e o corpo fica com o capitalista para ser explorado), especialmente os da estrutura, pois como diz em Lc 12.48: “àquele a quem muito foi dado, muito lhe será exigido; e àquele a quem muito se confia, muito mais lhe pedirão”. Lutero fala desta ignorância coletiva provocada pela própria igreja: “Se me fosse possível começar, hoje, a pregar o evangelho, eu o faria de modo bem diferente. Deixaria toda essa grande e rude massa de gente debaixo do regime do papa. Eles não se emendam mesmo, pelo Evangelho, mas só abusam de sua liberdade. Em vez disso pregaria o Evangelho e o consolo especialmente para as consciências temerosas, humilhadas, desesperadas e simples. Por isso o pregador deve conhecer o mundo muito bem e reconhecer que ele é desesperadamente mau, propriedade do diabo, na melhor das hipóteses. Eu é que fui estupidamente ingênuo, não sabendo quando comecei, como eram as coisas, pensando que o mundo seria muito piedoso e, tão logo ouvisse o evangelho, viria correndo para aceitá-lo com alegria. Mas agora descubro, com grande dor, que fui vergonhosamente enganado”. Na hora do Juízo Final os/as sacerdotes/isas ordenados para o ministério especial terão que prestar contas desta ignorância na qual mantêm o povo. Mas, dirão: eu também não sabia que o mundo, o capitalismo, era assim, propriedade do diabo, como diz Lutero. Para nós sacerdotes/isas não tem desculpa, pois nos foram dados os instrumentos para entendermos o mundo; não nos apropriamos destes instrumentos para entender o mundo porque é mais cômodo assim, caso contrário teremos que nos confrontar com a cruz, mas preferimos a teologia da glória. Martin Luther fala sobre isto na Tese 21 da Demonstração das Teses Debatidas no Capítulo de Heidelberg: “O teólogo da glória afirma ser bom o que é mau, e mau o que é bom; o teólogo da cruz diz as coisas como elas são. Isto é evidente, pois enquanto ignora Cristo, ele ignora o Deus oculto nos sofrimentos. Por isso, prefere as obras aos sofrimentos, a glória à cruz, o poder à debilidade, a sabedoria à tolice e, de um modo geral, o bem ao mal. Esses são os que o apósto-lo chama de inimigos da cruz de Cristo, certamente porque odeiam a cruz e os sofrimentos, ao passo que amam as obras e a sua glória. Assim, eles chamam o bem da cruz de um mal, e o mal da obra de um bem. Já dissemos, no entanto, que Deus não é encontrado senão nos sofrimentos e na cruz. Os amigos da cruz afirmam que a cruz é boa e que as obras são más, porque, pela cruz, são destruídas as obras e é crucificado Adão; pelas obras, este é, antes, edificado. Portanto, é impossível que não se envaideça com suas obras a pessoa que não for primeiramente examinada e destruída pelos sofrimentos e males, até que saiba que ela nada é e que as obras não são suas, mas de Deus”. Preferimos ignorar o Evangelho do Reino de Deus que sempre aponta para a construção de uma nova sociedade não capitalista para, pela igreja, legitimar o capital e desta forma legitimar a ação do diabo, que usa o capitalismo para combater o Reino de Deus. O capitalismo é obra do diabo e quem o apóia e o legitima apóia e adora o diabo como seu deus. Esta é a verdade, gostemos ou não.
A nós sacerdotes a partir do batismo, com ministério especial ou não, cabe mostrar ao povo oprimido quem são os opressores e como o sistema capitalista funciona para que este povo possa compreender que o capitalismo não é da vontade de Deus por ser algo criado pelos seres humanos egoístas e, portanto, passageiro. Só Deus é eterno, o capitalismo não é eterno; ele nasceu, se desenvolveu e vai morrer como tudo o que é humano. O capitalismo não salva, somente Jesus salva. Então não adianta se agarrar no e ao capitalismo. A Bíblia já fez análises de conjuntura de sua época, como vemos em Lc 2.1-5; Lc 3.1-2; Js 24; Dt 6.21-23; Gn 47.13-26; Ap 18 (o livro do Apocalipse é em si uma grande análise de conjuntura como um todo, pois mostra como Deus agiu no passado, como ele age no presente e como agirá no futuro), nós apenas temos que aprender a fazer isto também. Para nós sacerdotes/isas ordenados para o ministério especial cabe a palavra de Estêvão em At 7.51-53: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós agora vos tornastes traidores e assassinos, vós que recebestes a lei por ministério de anjos e não a guardastes”.
E daí? Daí, temos que fazer formação a partir da Metodologia que a própria Bíblia usa: Prática-Teoria-Prática. Temos que parar de fazer formação ingênua, não política e neutra que não é nada ingênua nem apolítica e muito menos neutra porque tem uma postura claramente classista, pois é realizada dentro e sob os parâmetros do capital para perpetuá-lo. Só que a direita nunca diz isto porque isto faz parte da ideologia do sistema capitalista: esconder que existe a luta de classes na sociedade e na igreja e esconder que há exploração sobre a classe trabalhadora. Quanto mais ela conseguir fazer isto mais eficaz é este processo da ideologia.

O que temos visto ultimamente pelo mundo afora?
Comecemos, pelo exemplo da Grécia, pela crise capitalista internacional que é algo inerente ao próprio sistema, e não um desvio ou uma doença, para aprofundar a acumulação de capital, para mostrar como o sistema capitalista funciona em seu processo de exploração sobre a classe trabalhadora usando o aparato do Estado para isto:
O plano de ajuste econômico da Grécia prevê reforma fiscal, aumento de impostos e diminuição de sa-lários. Congelamento do recrutamento e redução dos salários dos funcionários; alta do IVA - imposto de valor agregado - de 19% para 21%, quando se trata de um imposto injusto que atinge mais os mais empobrecidos; alta dos impostos sobre o álcool e o tabaco; redução drástica dos orçamentos sociais, como o da Segurança Social. Vai demitir funcionários públicos em massa, aumentar os impostos, a contribuição social, congelar aposentadorias e privatizar empresas públicas. 2,4 bilhões de euros deverão ser economizados com cortes de 30% nos abonos de Natal e de férias dos funcionários públicos, o congelamento das aposentadorias e cortes nos programas de bolsas acadêmicas.
Em outras palavras o povo da classe trabalhadora vai pagar a conta de um gasto que ele não fez e de uma crise que ele não gerou.
Olhemos para o Brasil em notícias do mesmo dia com um ano de diferença:
02/09/2011 - O governo vai deixar de arrecadar R$ 24,5 bilhões até julho de 2013. Indústrias de con-fecção, calçados, móveis e softwares não pagarão mais a contribuição de 20% para a Previdência Social. Somente o subsídio que o Tesouro Nacional deverá aportar à Previdência Social, em função da desoneração da folha de pagamentos do projeto piloto anunciado pelo governo, custará cerca de R$ 1,3 bilhão anuais. Terão a alíquota previdenciária de 20% zerada sobre a folha de pagamento os setores de confecções, calçados, móveis, e tecnologia da informação. "Isso significa que esses setores terão um ganho. Essa desoneração é importante para regularizar o emprego e combater a informalidade. Essa medida tem um impacto neutro na Previdência Social", afirmou o ministro Guido Mantega (Fazenda). Exportadores de bens industrializados receberão de volta até 3% do ganho com a exportação. É uma compensação pelos impostos pagos ao longo da produção. O governo vai reduzir impostos sobre a compra de máquinas, equipamentos para a indústria, materiais de construção, caminhões e veículos. As medidas são para fortalecer a indústria nacional e tornar as empresas mais competitivas no mercado internacional.
02/09/2010 - O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, afirmou nesta quinta-feira (2) que o Brasil deixou aproximadamente R$ 21 bilhões de arrecadar durante a crise finan-ceira internacional, que atingiu o auge em setembro de 2008 e prejudicou o desempenho das principais eco-nomias do mundo em 2009. Para superar a crise, o governo isentou de impostos ou reduziu a carga de alguns segmentos do setor produtivo, como veículos, eletrodomésticos, materiais de construção, móveis, entre outras.
Somando estas duas contas chegaremos facilmente nos 50 bilhões de reais que o povo vai pagar para beneficiar a burguesia para que ela não baixe o seu lucro, mas que foi feita pra proteger o emprego dos traba-lhadores, segundo dizem. A ajuda aos trabalhadores foi parar na conta bancária da burguesia. Metem a mão no dinheiro da Previdência, que é dos trabalhadores, dão 3% dos valores dos impostos que o povo pagou aos ex-portadores, pois os únicos que pagam impostos é o povo, pois os comerciantes e industriais apenas recolhem os imposto, não pagam impostos, que o povo pagou e que estava embutido no preço dos produtos comprados.
Além, do papel do Estado ser o de fazer o povo pagar a conta das crises que os capitalistas fazem para poderem acumular mais capitais ele também é o repassador de dinheiro arrecadado pelo Estado para a burgue-sia em tempos normais, pois os capitalistas acumulam capital pela exploração da classe trabalhadora e pelos repasses de dinheiro feitas pelo Estado que é o aparelho que a classe capitalista usa para perpetuar a sua opressão sobre a classe subalterna, a classe trabalhadora. Olhemos para esta beleza de notícia:
O consórcio Norte Energia que construirá a UHE de Belo Monte contará com 80% de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), desconto de 75% no Imposto de Renda e controle operacional de uma subsidiária da Eletrobrás, apesar de oito das nove empresas integrantes do consórcio serem da iniciativa privada. O Programa de Sustentação de Investimento (PSI) do governo federal é um dos mais vantajosos do país atualmente, por ter juros anuais de 4,5% - na prática, juros negativos, portanto, são subsídios, pois a inflação de 2010 foi de 5,9%. Governo e as grandes construtoras discordam sobre o custo de Belo Monte. Brasília calculou R$ 19 bilhões. As empresas estimam R$ 30 bilhões, incluíram certamente aí o superfaturamento da obra.
Dinheiro do povo usado para acumular capital e ainda por cima expulsá-lo das margens do rio e depre-dando a natureza para perpetuar a acumulação de capital. O capital, para acumular, usa a exploração sobre a classe trabalhadora e usa os recursos naturais existentes na natureza; tudo legitimado pelo Estado que é o aparato da classe dominante para legalizar a sua opressão e perpetuar a sua exploração.
Vamos ver a forma como a classe capitalista se apropria da mais valia gerada pela classe trabalhadora:
“Para se tornarem competitivas internacionalmente, e exportarem quatro milhões de toneladas, as em-presas estão provocando enfermidades em larga escala devido à altíssima repetitividade e freqüência dos movimentos ao longo da jornada. Assim é que após 1995 começou a aparecer o adoecimento em larga escala de punhos, braços, cotovelos e ombros. Sem descanso, pelo ritmo intenso a que estão sendo submetidas, as articulações são danificadas”. Paulo Serro, auditor fiscal de Santa Catarina.
Técnica coordenadora de Saúde do Trabalho da Fundacentro em São Paulo, Thais Helena Carvalho Barreira lembra que o trabalho nos frigoríficos avícolas contém praticamente tudo o que os compêndios médicos colocam como caldo de cultura para o aparecimento das LER/DORT: “repetitividade, força, postura inadequada, frio, umidade, pressão, atrito, problemas no mobiliário”. Thaís lembra que, além do imenso custo humano e social que representa a continuidade da atual situação, há também um enorme custo econômico para a sociedade e para o Estado, que acaba pagando, através da Previdência, por males causados pelas práticas daninhas destas empresas.
“Para a Seara, os trabalhadores são peças de reposição. Não se importam com a qualidade de vida das pessoas, estão sempre sugando, sugando. Assim, antes de emitirem o Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), que poderia garantir a estabilidade, eles já demitem”, denuncia a advogada Valdira Ricardo Galo Zeni. Acompanhando há dez anos as práticas da empresa na cidade, Valdira alerta que o grande problema das doenças ocupacionais é que não são visíveis: “eles estragam, dispensam e põem outro no lugar. As mulheres, por exemplo, acabam perdendo o movimento dos membros superiores e sequer conseguem pegar o filho no colo ou mesmo fazer um simples trabalho doméstico”.
Esta realidade os cristãos foram ensinados a não ver porque isto não faz parte da compreensão teológica da burguesia que controla as igrejas na qual foram ensinados. Por não verem esta realidade eles não conseguem reconhecer o próprio Jesus Cristo nas lutas por justiça da classe trabalhadora oprimida, como diz em Mt 25.44-45 “E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: Em verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer”. O Jesus empobrecido (2 Co 8.9; Fp 2.7-8) e não abençoado com riquezas (Mt 19.23-24), portanto, é um fracassado (e para a teologia da prosperidade ser pobre e economicamente fracassado é sinal de que Deus não está com ele; ser pobre é ser pagão) é uma aberração para a teologia do deus capital encarnado no diabo. Daria para dizer: E o diabo se fez capital e habitou no meio de nós cheio de sua própria glória e presunção. E o diabo se autoproclamou deus materializado na dinâmica do capital e foi adorado pelos cristãos como sendo o Deus encarnado numa família camponesa da Palestina. Vendo esta confusão o diabo se rola de tanto rir de nossa estupidez, ignorância e, principalmente, de nosso medo de enfrentar a burguesia que controla as igrejas para perpetuar esta idolatria.
E Deus se fez classe no Jesus Cristo da classe camponesa, por causa da luta de classes inventada pelas pessoas e não por Deus para perpetuar a exploração, para acabar com as classes sociais proclamando uma nova sociedade sem classes, igualitária e sem Estado que ele chama de Reino de Deus; que por sua vez a burguesia quer esconder para poder perpetuar a sua opressão sobre a classe trabalhadora dizendo que não há outra forma de organizar a vida além do capitalismo.
O jornal Brasil de Fato em sua edição 441 de 11 a 17 de agosto de 2011 diz em seu editorial:
A crise internacional do capitalismo e o Brasil
As informações que chegam todos os dias do hemisfério norte revelam que a crise do capitalismo que emergiu em 2008, não só não se debelou como continua se agravando cada vez mais. Ao contrário do que os jornalistas burgueses pregaram nos últimos dois anos, que o capital daria a volta por cima. Esses jornalistas são bem pagos para mentir e fazer análises sem nenhuma base com a realidade. Mas não têm o direito nem o mérito de fazer a economia de fato funcionar, mesmo como querem os capitalistas.
Os EUA enfrentam a pior crise desde 1930. Um déficit comercial de 500 bilhões de dólares por ano, um déficit de orçamento público federal de 700 bilhões de dólares. Todo esse buraco é bancado pela emissão de dólares, já que eles podem emitir a moeda como querem, sem nenhum controle internacional. A princípio, os governos dos Estados Unidos (Bush, Clinton e Obama), tentaram sair da crise com a fórmula clássica: produzir guerras contra outros povos e assim incentivar a indústria bélica e reativar a economia estadunidense. Estão ao há dez anos em guerra com o Afeganistão, Iraque, Irã... Criaram e mataram o Bin Laden. Transformaram os árabes e o islamismo em inimigos da humanidade. Mataram mais de 600 mil civis, perderam milhares de seus soldados. Mas politicamente já perderam a guerra, pois a invasão não se sustenta e terão que sair de cabeça baixa. Tiveram um custo, nesses dez anos, de 3 a 5 trilhões de dólares. Que todos os povos do mundo pagaram, ao usar dólares em seus intercâmbios comerciais. Mesmo assim, as contradições estão se agravando e a emissão irresponsável bateu no teto de 13 trilhões de dólares, sem equivalência em produção.
Na Europa, o crescimento econômico está parado desde 2008; as taxas de desemprego atingem 20% na média. E vários países já têm suas economias tecnicamente falidas, como a Grécia, Polônia, Portugal... e agora é a vez da Itália e Espanha. E a juventude começa a mexer-se, ainda que tarde.
Portanto, a crise do capitalismo no centro da hegemonia do capital financeiro e oligopolizado tente a se agravar. E, naturalmente, vai despejar parte de seus custos também para as economias periféricas e dependentes como a brasileira.
O caso brasileiro
A economia brasileira está crescendo. Porém em níveis medíocres de 3 a 4% ao ano. Isso é apenas suficiente para manter a economia ativa e gerar parte dos empregos necessários para os 2,5 milhões de jovens que entram no mercado de trabalho a cada ano.
A estrutura econômica como um todo vem sendo afetada pela crise capitalista há muito tempo. E talvez sua natureza e efeitos perversos estejam sendo mascarados pela continuidade do crescimento. Os efeitos da crise aparecem agora, na pauta de exportações. Em 1990, cerca de 60% das exportações eram produtos manufaturados. Hoje, quase 80% das exportações são matérias primas agrícolas e minerais, sem nenhum valor agregado de mão-de-obra de nosso povo. Voltamos a ser uma economia primaria-exportadora. E nenhum país se desenvolveu, cresceu, resolveu os problemas econômicos de seu povo exportando matérias primas naturais. Nem mesmo os petroleiros.
Desindustrialização
Em 1980, a indústria pesava 33% do PIB nacional, no ano passado caiu para apenas 16%. Nossa mão-de-obra em sua maioria se dedica a atividades de serviços, trabalhos informais, que não geram riqueza, apenas se apropriam de parte da mais-valia gerada por um grupo cada vez menor de trabalhadores.
Taxa de câmbio
Em todas as grandes economias, os governos têm controle absoluto da taxa de câmbio. E não o mercado. Só no Brasil é apenas o mercado que decide. E todos os especialistas denunciam que o câmbio está defasado entre 30 a 100%. Ou seja, os preços médios dos bens da economia brasileira comparados com os preços da economia americana, deveriam ter uma paridade de um dólar valendo no mínimo 2,50 a 3 reais. Mas ele é pressionado para baixo artificialmente pela grande entrada de capitais financeiros que entram no Brasil para especular e para se proteger da crise.
Taxa de juros
O centro de acumulação capitalista agora é o capital financeiro, que acumula e se reproduz através das taxas de juros. E eles pressionam os governos, para lhes garantir altas taxas de juros. O Brasil é a economia que mais paga juros. O governo garante o mínimo de 14% por ano, de juros da taxa Selic, a qualquer capitalista, enquanto o governo estadunidense garante apenas 0,2% ao ano. E no comércio e indústria, os bancos chegam a cobrar, em média, 56% para empréstimos da produção e até 140% ao ano, nos empréstimos pessoais de cartão de credito. Isto não tem paralelo.
Plano Brasil Maior
O governo anunciou o Plano Brasil Maior. Ora, é apenas um plano político, para dar resposta para a o-posição parlamentar e para a burguesia brasileira, de que o governo está preocupado. Mas suas medidas são pífias. Porque apenas desoneraram os capitalistas de pagarem o INSS da folha, que representam ao redor de 8% dos custos. Ou seja, o Estado deixa de recolher para que os capitalistas aumentem suas taxas de lucros. E possam competir com os capitalistas da China. Mas isso não resolve o problema da estrutura de produção, de emprego e da indústria.
A única medida importante é o anúncio de que o governo fará esforços para que o BNDES aplique 500 bilhões de reais até 2014, em investimentos produtivos. Isso pode gerar mais emprego e crescimento econômico. O governo não vai proteger a economia brasileira da crise internacional, nem vai resolver os problemas da dependência e da estrutura de produção negativa, se não mexer na taxa de câmbio e na taxa de juros. Será que as autoridades entenderão isso, antes que os trabalhadores tenham que pagar mais caro, por sua falta de coragem?

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