3 de agosto de 2011

E não vos conformeis com este século

Aqui vão alguns rabiscos sobre a discussão do tema do ano de 2005.

E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente. Rm 12.2ª

Estamos avançando a Igreja enviou para nós um material sobre o tema do ano, finalmente!
O material enviado pela igreja sobre o tema do ano enfocou a ‘transformação’ como palavra chave.

Gostaria de olhar o tema a partir da primeira parte do versículo onde se discute a não conformação com este século (este mundo). Talvez ainda venha algo neste sentido.
Esta parte do versículo é mais ‘cabeluda’ e tenho a forte impressão que por isso é mais difícil de ser abordado. Coloco algumas idéias para contribuir nesta reflexão. Penso que aqui nos confrontaremos diretamente com a organização deste mundo que no tempo de Paulo era o Império Romano organizado no Modo de Produção Escravista e hoje somos organizados pelo Modo de Produção Capitalista.
Esta não é uma discussão qualquer, pois o sistema capitalista permeou de tal forma a nossa teologia e nossa organização eclesial que é como café com leite, difícil de separar um do outro. Será que é tão profundo assim o entrelaçamento, para não dizer o casamento? Criticar profundamente o Modo de Produção Capitalista é uma tarefa que ainda está para ser feito pela igreja e pela teologia. Por causa deste casamento Marx disse que a religião é ópio para o povo. Só que fé em Jesus Cristo não é ópio e sim libertação total já a partir de agora. A fé em Jesus Cristo nos liberta das amarras a qualquer sistema econômico, muito mais de um sistema injusto por princípio como é o capitalismo. Além disto, temos 50 anos de Guerra Fria atrás de nós que atrapalharam esta crítica ao capitalismo e aprofundaram este casamento. Está na hora de encaminhar o divórcio e começarmos a discutir que modo de produção o Evangelho de Jesus Cristo propõe. Porque afinal enquanto que o reino não estiver de forma plena entre nós precisamos de um sistema econômico para nos orientar. Qual o modo de produção que nós cristãos podemos participar sem trair o Evangelho de Jesus Cristo?
Eis o desafio!

Sugiro olhar alguns textos bíblicos que falam da negação ao sistema implantado neste mundo:
Rm 1-2: Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.
Tg 1. 27: A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo.
Ap 18.4 -5: Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos; porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou.
1 Coríntios 2.6: Entretanto, expomos sabedoria entre os experimentados; não, porém, a sabedoria deste século, nem a dos poderosos desta época, que se reduzem a nada;
2 Coríntios 4.3-4: Mas, se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus.
1 Coríntios 2.12: Ora, nós não temos recebido o espírito do mundo, e sim o Espírito que vem de Deus, para que conheçamos o que por Deus nos foi dado gratuitamente.
1 Coríntios 6.2: Ou não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? Ora, se o mundo deverá ser julgado por vós, sois, acaso, indignos de julgar as coisas mínimas?
Colossenses 3.1-3: Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus.
Tiago 4.4: Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus.
2 Pedro 2.20: Portanto, se, depois de terem escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o seu último estado pior que o primeiro.
1 João 2.15: Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele;

Seguindo a dinâmica proposta pelo material da IECLB:
1. Por que não nos conformamos com este século em nossas vidas?
O Gn mostra um Deus pessoal que acompanha a família camponesa (Abraão e Sara, Isaque e Rebeca, Jacó e Raquel/Lia). O Ex já mostra um Deus que acompanha uma classe social: os camponeses escravos no Egito. São as duas formas de Deus atuar: na esfera individual e na esfera coletiva.
Como “este século” (sistema capitalista neoliberal na sua fase imperialista comandada pelos EUA) atua sobre as nossas vidas na nossa família e na nossa classe social? Pois, todos têm (tinham) uma família e pertencem à uma classe social.
Qual a nossa ideologia? A da classe dominante ou da classe dominada? Disto vai depender como educamos nossos/as filhos/as e como nos portamos na sociedade. E não venha me dizer que você não tem uma ideologia!

2. Por que não nos conformamos com este século em nossa igreja?
Como será a Igreja nesta nova sociedade? Na nova sociedade a Igreja também tem que ser nova, caso contrário ela será contra a organização desta nova sociedade. Mudar a Igreja é tão difícil como mudar o sistema econômico, pois ela sempre se diz neutra (uma neutralidade engajada do lado do capitalismo). Assim como a igreja também sempre diz que não faz política; só que quando se monta um presbitério numa comunidade primeiro se avalia que todos os partidos políticos têm que estar representados. Isto para garantir a governabilidade deste presbitério. Nunca se pensa nos critérios de At 6.3 “escolhei dentre vós (...) homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria”. O critério é a representatividade político-partidária, o resto é conversa fiada. Ou então se fica na versão antiga onde somente os partidos da direita estão representados no presbitério, esquerda não entra porque estes fazem política e são radicais, segundo aqueles. “Eu não faço política, sou do PFL”. A direita sempre diz que não faz política, assim como os latifundiários dizem que não são contra a reforma agrária. Acredite, se quiser!
O que nós como igreja fazemos a respeito da exploração capitalista? Nos omitimos! Desculpe, não nos omitimos, mas tomamos uma posição muito clara, pois apoiamos aberta e intransigentemente o sistema capitalista desde o Conselho da Igreja até o presbitério da menor e mais pobre comunidade da curva do rio Palmeira; não só os membros mas os/as pastores/as também. Se o povo vaga na escuridão a culpa é nossa, da igreja, por comodismo e covardia(?). Como igreja fazemos o contrário do Apocalipse, não revelar o que Deus fala para os dias de hoje e nem mostrar onde estamos e como podemos sair deste buraco. Falamos de Jesus Cristo, mas adoramos o deus capital, de fato e de verdade! Os sacrifícios ofertados no altar do deus capital vemos todos os dias via TV, vemos o sangue de suas vítimas dos holocaustos correr pelas ruas nos assaltos, seqüestros, assassinatos movidos pela pobreza que é o resultados da superexploração à que a classe trabalhadora está exposta. É uma revolução às avessas.
Como posso dizer isto? Pela prática da direção da igreja, desde a comunidade até o Conselho da Igreja, em não viabilizar e em impedir as pastorais e um processo de formação massivo que ameaçam o sistema capitalista pela sua prática de luta e reflexão. Onde a igreja fala abertamente contra o capitalismo? No documento: Manifesto de Chapada dos Guimarães até se aponta de forma muito clara o capitalismo como o problema, colocando como ele se estrutura e se desenvolve, mas não o cita nominalmente; não encontramos neste belo documento a palavra capitalismo. Citar e dizer a palavra ‘capitalismo’ é tabu na igreja! Falar mal, na igreja, do capitalismo é como falar mal de Jesus Cristo, é um sacrilégio! Com isto estamos reforçando a idéia de que capitalismo e Evangelho do Reino de Deus são a mesma coisa, o que não confere! Capitalismo é uma coisa e Reino de Deus é outra coisa totalmente diferente; também socialismo/comunismo não é o mesmo que Reino de Deus, pois também é produção humana. Apesar de que o comunismo, em sua teoria, tem características parecidas com o reino de Deus: sociedade sem classes sociais, igualdade, solidariedade, não existe a exploração de uma pessoa sobre a outra, não existe o Estado. A pergunta é: como deve ser o sistema econômico enquanto o reino de Deus ainda não está totalmente presente entre nós (no período do ‘já agora’) e como nós cristãos vamos participar desta construção (no período do ‘ainda não’)? Quem são nossos aliados nesta busca e construção? Por enquanto os cristãos estão participando da construção do capitalismo e não sonham com outro sistema econômico (Ap 13.4: “e adoraram o dragão porque deu a sua autoridade à besta; também adoraram a besta, dizendo: Quem é semelhante à besta? Quem pode pelejar contra ela?” e Ap 18.4: “Ouvi outra voz do céu, dizendo: Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos”). Temos que ler mais vezes o livro do Apocalipse para aprendermos como se denuncia o sistema deste século, como se faz análise de conjuntura, eclesial e político-econômica, e, principalmente, como se resiste a partir da esperança do Evangelho do Reino de Deus. Deus não é capitalista, ele é Deus! Por outro lado, o capitalismo não é deus para que não possa ser questionado e eliminado. É produção humana. Diria, até, que não lutar contra o capitalismo é falta de fé em Jesus Cristo; é sacralizar o que não é sagrado; é divinizar o que não é divino; é divinizar o que é diabólico, é eternizar o que é passageiro. O capitalismo não é eterno, ele teve começo e terá fim. Ele consegue se recompor e se redimensionar a partir de suas crises cíclicas, mas ele vai desaparecer assim como o tributarismo, o escravismo e o feudalismo desapareceram. O capitalismo passa, a Palavra de Deus permanece.
O que estou dizendo aqui apenas é o óbvio, mas na igreja o óbvio não é óbvio. Deveria ter sido óbvio os cristãos serem contra o escravismo, o nazismo, a ditadura de Pinochet que até dividiu a igreja luterana no Chile como Hitler a dividiu na Alemanha. Portanto, não é óbvio o cristão ser contra o capitalismo mesmo que suas características se mostrem contrárias ao Evangelho de Jesus Cristo. As igrejas cristãs incorporaram o sistema capitalista em suas dinâmicas e estruturas. O estudo da ideologia explica isto.
Abaixo um pequeno esquema das características do Projeto de Deus:
AT – O Primeiro Testamento
Econômico
Ex 16.11-21; Dt 15.4; Lv 25.1-38 Nm 27.1-11
Político
Ex 18.13-27; Js 6-8; Dt 17.14-20; Is 10.1-2; 9.1-7; Dt 1.9-18; Sl 146
Sócio-Religioso
Ex 20.1-17; Dt 6.20-23; Dt 5.6; juízes: Jz 10.1-5; leis: Ex 20.2-17; fé: Js 24.1-15
Ideológico
Ex 32.1-10; Jz 2.16-20; Mq 6.8; Mq 3.1-12; Jz 3.7-11; Gn 11.1-9
Cultural
Is 42.5-7; Am 9.7-10; Is 58.1-10; Gn 11.1-9
Gênero
Gn 1.27; 2.24; Jz 4.1-9; Rt 4.18-22

NT – O Segundo Testamento
Econômico
At 2.42-47; 4.32-37; Ap 18.1-24; Tg 5.1-6; Lc 12.32-34
Político
Mc 10.42-47; Mc 6.30-44; Ef 2.11-22 (19); At 6.1-7; Ap 13.1-18
Sócio-Religioso
Lc 6.20-36; Lc 10.25-37; Mt 22.34-40
Ideológico
Tg 1.27; Rm 12.1-2; Mt 28.16-20; I Co 1.18-31; Lc 4.16-30; Mt 25.1-46; Ap 18.1-8
Cultural
Mt 15.21-28; Gl 3.26-28
Gênero
Gl 3.26-28; Rm 16.1-16; Mc 10.2-9
Comparando as características do Projeto de Deus com o capitalismo veremos claramente as diferenças.

3. Por que não nos conformamos com este século em nossa sociedade?
Como é que o povo vai sonhar com um outro mundo possível se ele não sabe nem explicar este no qual vive. O povo sabe que está sendo explorado, mas não sabe explicar a sua opressão e nem dizer como esta funciona e muito menos sonha com uma nova sociedade e nem sabe que isto é possível. Os agricultores de Condor dizem que quando, no início do ano de 2004, o saco de soja foi para R$ 52,00 os adubos químicos e venenos subiram com a justificativa de que a soja estava lá em cima. Depois a soja caiu, mas os preços dos produtos químicos usados na agricultura não baixaram, apesar do dólar estar em baixa. Assim os produtos agrícolas caíram para sua base normal, mas os produtos que o agricultor, que baseia sua produção no pacote da “Revolução Verde”, não voltaram para o preço anterior à alta, mas ficaram no dobro do preço do ano anterior. Todos reclamam disto, mas todos plantam soja transgênica, apóiam o pacotaço da “Revolução Verde” e seguem as orientações dos grandes grupos multinacionais das sementes e pesticidas e das Cooperativas. Por quê? Porque nunca alguém explicou como as coisas funcionam: nem os partidos chamados de esquerda, nem os sindicatos, nem as igrejas e muito menos as cooperativas. São explorados pelas grandes cooperativas (comandadas pelos latifundiários – a Cootripal tem na presidência e vice-presidência os dois maiores latifundiários da região de Panambi e Condor) e pelas multinacionais das sementes e dos venenos e defendem seus exploradores. Como diz um camponês de Condor: Não conseguimos sobreviver como cooperativa sem os grandes produtores. Esta é a função da ideologia: esconder que há classes sociais antagônicas em luta, esconder que existe exploração e como ela funciona e fazer todos pensarem como a classe dominante pensa.

4. Por que não nos conformamos com este século em nossa Terra?
O capitalismo é predador por princípio, pois visa o lucro acima de tudo e à custa de tudo e de todos. Assim o nosso planeta Terra não tem chance alguma e nem a vida que há nele (vida das pessoas, animais e plantas); vai se extinguir se continuarmos mantendo o sistema capitalista como nosso sistema econômico.
O capitalismo vai exaurir todas as formas de recursos que existem procurando maximizar o lucro. E quem são estes capitalistas “maus”? Eu e você! na medida que apoiamos este sistema; os responsáveis pelo capitalismo não são apenas os George Soros da vida.
Um grupo formado por cientistas de diversos países acaba de divulgar resultados desanimadores de um amplo estudo feito com animais e plantas em risco de extinção. A conclusão não poderia ser pior. Segundo a pesquisa, publicada na edição de 10 de setembro da revista Science, outras 6,3 mil espécies estão ameaçadas de desaparecer se os organismos da qual dependem forem extintos. A equipe, liderada por Lian Pin Koh, da Universidade Nacional de Cingapura, e por Robert Dunn, da Universidade do Tennessee, nos Estados Unidos, partiu de estudos anteriores, segundo os quais metade de todas as espécies do planeta podem desaparecer nos próximos 50 anos, para avaliar algo pouco lembrado: a coexistência das espécies.
Segundo os pesquisadores, os estudos sobre extinção global ignoram milhares de espécies afiliadas que também correm risco de desaparecer. Ou seja, a lista de espécies em extinção é muito maior do que se imaginava até então. “Estimativas atuais precisam ser recalibradas para levar em conta a coexistência da espécie”, escreveram os autores do estudo. Os cientistas utilizaram um modelo baseado em dados reais para examinar as relações entre espécies “afiliadas” e “hospedeiras”, das quais as primeiras são dependentes. Após a compilação de uma lista com 12,2 mil plantas e animais consideradas ameaçadas, foram estudados diversas seleções de insetos, aracnídeos, fungos e outros organismos especialmente adaptados ao hóspede ameaçado. Os pesquisadores descobriram que outras 6,3 mil espécies deveriam ser classificadas como “também ameaçadas”. “A conclusão é que com a extinção de um pássaro, por exemplo, não está sumindo apenas uma única espécie. Outras, completamente ignoradas, também estão sendo varridas do planeta”, disse uma das autoras do estudo, Heather Proctor, da Universidade de Alberta, no Canadá.
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=16011
Nos últimos 600 milhões de anos, a Terra já sofreu cinco extinções massivas e pode estar prestes a enfrentar a sexta, advertiu Sugden.
Nos casos anteriores, a recuperação da biodiversidade levou de 5 a 10 milhões de anos. Alguns dos processos de extinção foram tão dramáticos que acabaram com mais de 90% de todas as formas de vida. A última teria acontecido, segundo estimam os cientistas, há cerca de 63 milhões de anos, causando o desaparecimento dos dinossauros. Uma das hipóteses mais conhecidas sobre o fenômeno diz que a extinção foi provocada pela queda de um asteróide na Terra. As causas das outras extinções ainda são desconhecidas pela Ciência. Segundo o que se sabe até agora, a maior delas ocorreu há cerca de 250 milhões de anos, aniquilando 96% das espécies existentes no planeta.
http://agenciacartamaior.uol.com.br//agencia.asp?coluna=reportagens&id=1518
Nível de contaminação das águas brasileiras é cinco vezes maior que há dez anos, diz relatório
De acordo com o secretário-geral da Defensoria da Água, Leonardo Moreli, 70% da água são consumidos pela agricultura industrializada, 20% pelas indústrias de transformação, que devolvem a água poluída, restando apenas 10% para o consumo humano. “Isso tem um reflexo sobre a saúde pública, deixando as populações mais vulneráveis a doenças e riscos para as próximas gerações, como infertilidade e alterações genéticas”, disse. Ele também afirmou que o relatório aponta para o aumento do risco de escassez de água. “Nos próximos 10 anos, as regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo serão as mais vulneráveis a essa escassez”, acentuou. O relatório pode ser obtido no site www.defensoriadaagua.org.br.

5. Por que não nos conformamos com este século em nosso mundo?
O tema e lema da IECLB deste ano baseados em Rm 12.2 é a grande deixa para explicar como funciona este século. Temos que aproveitar para fazer grupos de estudo sobre este século (capitalismo neoliberal comandado pelo imperialismo dos USA). Por que só falo em sistema econômico? Porque ele determina quase todo o resto de nossa organização (política, cultural, relações de gênero e étnicas, social, ideológica, militar).
Abaixo o programa de rádio que fiz no dia 1º de janeiro de 2005 na Rádio Sul Brasileira de Panambi:
Ler Rm 12.1-2 - Estamos iniciando um novo ano. Também nossa igreja este ano tem um novo lema bíblico que é o texto de Rm 12.2. Tem também um novo tema que é: “Deus em tua graça, transforma o mundo”. Este tema e este lema bíblico reproduzem a essência do Evangelho do reino de Deus anunciado por Jesus Cristo. Se Deus tivesse achado que o jeito que as pessoas estão organizando o nosso mundo estivesse correto ele não teria se tornado carne em Jesus Cristo. Para que Deus viria a este mundo se ele estivesse organizado conforme a sua vontade? Este lema bíblico anuncia a necessidade de uma nova forma de se organizar este nosso mundo. Por isso a pessoa cristã não se conforma com o jeito que a nossa sociedade se organiza. Significa que a essência da fé cristã é o inconformismo frente à realidade deste mundo (século, como diz o apóstolo Paulo).
Por que o cristão não se conforma com este século (mundo)? Porque ele não está organizado conforme a vontade de Deus. Mas, como o nosso mundo está organizado? Ele está organizado no sistema econômico capitalista em sua forma neoliberal comandado pelos interesses imperialistas dos USA.
Como se organiza o capitalismo?
O capitalismo se organiza em cima da existência de classes sociais antagônicas: a classe capitalista contra a classe trabalhadora; estas duas classes têm interesses inconciliáveis. Como? A classe capitalista explora a classe trabalhadora e existe ainda a classe média, que conforme os interesses momentâneos pende para um ou outro lado. A classe capitalista se apropriou dos meios de produção: terra, fábricas, bancos, grande comércio, máquinas, conhecimento e tecnologia (isto se tornou propriedade privada, quer dizer: os outros estão privados de usufruir disto). Assim a sociedade está dividida entre os que possuem a propriedade privada dos meios de produção e os que não a possuem. A classe trabalhadora só possui a sua força de trabalho que ela tem que vender em condições desfavoráveis para não morrer de fome. A liberdade que ela tem é de poder escolher o patrão, às vezes nem isso! Assim as pessoas da classe trabalhadora acabam virando mercadoria no mercado de trabalho. Não são mais gente, mas coisa (mercadoria) que se compra e se vende conforme a lei do mercado da oferta e da procura.
Por isso a comunidade cristã não se conforma com este mundo e o seu jeito de se organizar porque ele transformou as pessoas em mercadoria, em coisa, que se compra e se vende. Deixaram de ser pessoas criadas à imagem e semelhança de Deus para se tornarem mercadoria, objeto. Não foi Deus que criou as classes sociais que perpetuam as desigualdades entre as pessoas, mas o sistema econômico injusto. E, não é Deus a base da sociedade, mas o sistema econômico construído em cima da existência de classes sociais onde uma oprime a outra.
O cristão a partir da fé em Jesus Cristo não se conforma com este jeito da sociedade se organizar, onde a classe capitalista ainda se apropria do aparelho do Estado e controla o jeito de pensar (a ideologia) para garantir que este sistema econômico continue existindo indefinidamente.
O lema bíblico deste ano deixa claro que capitalismo e reino de Deus são duas coisas opostas. Denuncia também as pessoas cristãs que se conformam com este nosso mundo e o seu jeito de se organizar, o reproduzem e o defendem. A fé cristã na sua essência requer a luta contra o sistema econômico capitalista. A fé cristã o rejeita porque sobrepõe o ter ao ser e porque se baseia na existência de classes sociais onde a lógica é a exploração e a dominação de uma classe sobre a outra. Este lema bíblico nos convoca a nos organizarmos a partir da comunidade de fé e propormos um novo sistema econômico que não se baseia na luta de classes e que acabe com as classes sociais em nossa sociedade (nosso século), como nos lembra At 2.42-47. A nossa luta a partir da fé em Jesus Cristo é por “novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”, conforme II Pe 3.13.

De acordo com um estudo do Instituto Oakland, os Estados Unidos são responsáveis pela metade dos gastos militares do mundo. Este ano, o país deve gastar mais de um trilhão de dólares com o Departamento de Defesa. Segundo a economista Anuradha Mittal, de 1997 a 2003, os gastos militares estadunidenses passaram de 296 bilhões de dólares para 397 bilhões de dólares. Segundo documentos do governo, as forças militares dos Estados Unidos estão presentes em, pelo menos, 134 países dos 192 existentes no mundo. As atividades dos soldados variam de operações de combate e treinamentos de militares estrangeiros a apoio a diplomatas. Em 2004, os Estados Unidos têm 1,7 milhão de militares, um terço dos quais no exterior. Para o ano que vem, caso seja reeleito, Bush pretende gastar 1,1 milhão de dólares em armas por dia, algo como 11 mil dólares por segundo. Por conta da política militar, Anuradha acredita que governos e povos de diversos países estão preocupados com as eleições estadunidenses: "As pessoas perceberam que os Estados Unidos pretendem tornar-se um império mundial, ditando o modo como os países deveriam agir em relação a seus problemas econômicos e sociais, mas não têm autoridade moral para resolver seus problemas internos. O governo não atende às demandas dos pobres e desfavorecidos e não tem a capacidade de ter um papel de polícia global". Ao analisar o impacto da escolha do presidente estadunidense, a economista propõe: "O mundo deveria poder votar nessas eleições já que os Estados Unidos querem ter um papel de superpotência".
Março de 2005

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