3 de agosto de 2011

Curso Bíblico do Novo Testamento

5. O Mundo da época do Novo Testamento
Textos de Flávio Josefo
Para entender o Império Romano
Repressão e Movimentos Populares na Época do Novo Testamento
A Palestina na Época de Jesus
Grupos Religiosos em Israel
O Ambiente das Primeiras Comunidades Cristãs
A Condição Social dos Cristãos e a Atuação das Mulheres.
O contexto dos anos 70 a 135 d. C
6. A Prática de Jesus
Projeto a) Quem é Jesus Cristo?
A Prática de Jesus
Jesus Cristo propõe o Novo
Projeto b) O Projeto de Jesus Cristo
Análise de Conjuntura
Programa de Ação Pastoral
A Pastoral Camponesa de Jesus Cristo
A prática libertadora de Jesus
Projeto c) O Perfil de Jesus Cristo
Quem é Jesus?
O Perfil de Jesus Cristo
7. A Primeira Comunidade Cristã
O Movimento Cristão
Atos dos Apóstolos
O Apóstolo Paulo
A Proposta da Comunidade Cristã
8. O Apocalipse de João
Como nasceu e cresceu o Apocalipse
O Confronto de Duas Propostas
Uma visão da estrutura do livro do Apocalipse de João
Símbolos e Imagens no Apocalipse
Esquema de Interpretação Bíblica


 5o Dia

1. O Mundo da época do Novo Testamento #

Textos de Flávio Josefo #
A seguir textos do escritor judeu Flávio Josefo que participou da Guerra Judaica de 64-70 d.C. e após perder uma batalha foi capturado e se aliou aos romanos.
 Ler o texto dos relatos dos vários profetas e discutir em grupos as questões abaixo:
1. Qual é a realidade que os relatos espelham?
2. O que podemos ler por trás das palavras de Flávio Josefo (que faz o relato a partir do ponto de vista do opressor romano) das intenções destes movimentos e da realidade do povo?
3. O que pretendiam os profetas?
4. De onde tiravam a sua legitimidade?
5. Quem eram seus adeptos e como os seguiam?
6. Qual a reação das autoridades?
7. O que estes movimentos revelam da situação do povo e do poder romano?
8. Estes movimentos têm algo parecido com os movimentos sociais no Brasil no passado e presente?

O Profeta Samaritano (36 d.C.):
Um homem que não tinha o menor escrúpulo de enganar as pessoas e bajulava a multidão para atingir os seus objetivos, arregimentou-os [os samaritanos] para acompanhá-lo ao monte Garizim, que segundo a crença da região é a mais sagrada de todas as montanhas. Garantiu que ao chegar lá lhes mostraria os vasos sagrados que estavam enterrados naquele lugar, onde Moisés os tinha deixado. Aqueles que o ouviram, acreditando que a história era plausível, apareceram armados. Eles se instalaram numa aldeia chamada Tirana e, como pretendiam escalar o monte em grande número, recebiam em suas fileiras todos os que chegavam. No entanto, antes que tivessem a chance de subir, Pilatos bloqueou o caminho que pretendiam tomar com um destacamento de cavalaria e outro de infantaria fortemente armado. Assim que viram os primeiros membros da multidão se aproximarem, os soldados os atacaram, matando alguns e desbaratando o resto. Muitos foram feitos prisioneiros e Pilatos condenou à morte os principais líderes, juntamente com aqueles que eram mais influentes entre os fugitivos. (AJ, 18.85-87)

Teúdas (44-46 d.C):
Um certo impostor chamado Teúdas convenceu um grande número de pessoas a juntar todas as suas posses e segui-lo até o rio Jordão. Afirmou que era um profeta e que o rio se abriria ao seu contado, permitindo que atravessassem sem dificuldades. Conseguiu enganar a muitos com esse discurso. Fato, no entanto, não permitiu que colhessem o fruto de sua loucura, enviando um esquadrão de cavalaria para bloquear a multidão. Os soldados os atacaram de repente, mataram várias pessoas e fizeram muitos prisioneiros. O próprio Teúdas foi capturado, decapitado e sua cabeça foi levada a Jerusalém. (AJ 20.97-98)

Profetas Anônimos (52-60 d.C.):
Além destes [os sicários], surgiu um outro grupo de vilões, de mãos mais limpas, cujas intenções eram ainda mais ímpias. Assim como os assassinos, conseguiram destruir a paz da cidade. Estes embusteiros fingindo uma inspiração divina que traria mudanças revolucionárias, conseguiram convencer as multidões a agirem como loucos e a seguirem-nos até o deserto, onde Deus lhes enviaria sinais de sua libertação. Félix, vendo nisso o ensaio de uma revolta, enviou contra eles um destacamento de cavalaria e infantaria fortemente armado, que fez com que muitos passassem pelo fio da espada. (GJ 2.258-260)

Profeta Egípcio (52-60 d.C):
O falso profeta egípcio trouxe desgraças ainda maiores para os judeus. Tratava-se de um charlatão que tinha ganho fama de profeta. Ele apareceu no país um dia, conseguiu reunir cerca de 30 mil seguidores incautos e conduziu-os até o monte das Oliveiras através de um cantinho tortuoso pelo deserto. A sua intenção era entrar em Jerusalém à força, subjugar a guarnição romana e declarar-se tirano do povo, empregando aqueles que o acompanhavam como sua guarda pessoal. Félix antecipou seu ataque e enviou um grande contingente da infantaria romana contra ele. A população inteira participou da defesa da cidade. O resultado da batalha que se seguiu foi a fuga do egípcio com alguns dos seus seguidores, enquanto a maioria das suas forças foi morta ou aprisionada. O restante se dispersou e voltou escondido para casa. (GJ 2.261-263)

Profeta Anônimo (60-62 d.C.):
Festo também mandou um destacamento de cavalaria e infantaria contra os simplórios seguidores de um impostor, que lhes tinha prometido a salvação e o fim de todos os seus sofrimentos se o acompanhassem até o deserto. A tropa enviada por Festo destruiu o embusteiro e todos os seus seguidores. (AJ 20.188)

Profeta Anônimo (70 d.C.):
[Os romanos] se dirigiram ao único pórtico do pátio externo que ainda estava de pé. As mulheres e as crianças pobres da cidade tinham se refugiado lá, junto com uma mistura de gente que totalizava uma multidão de seis mil indivíduos ( ... ). Os soldados, tomados pela fúria, incendiaram a parte de baixo do pórtico. Algumas pessoas morreram ao mergulhar para longe das chamas e outras pereceram dentro do incêndio. Daquela multidão, ninguém sobreviveu. A culpa deste desastre foi de um falso profeta, que anunciou na cidade que Deus ordenara a todos que fossem para o pátio do Templo, onde lhes mostraria sinais de sua libertação. (GJ 6.283-285).

 Ler o texto abaixo em grupos:
1. Fazer uma síntese para a reunião plenária
2. Comparar a dominação romana com a dominação da classe capitalista sobre a classe trabalhadora de hoje.
3. Quais as diferenças e semelhanças entre o imperialismo romano dos tempos bíblicos com o imperialismo norte americano de hoje?

Para Entender o Império Romano #
Naquele tempo, não havia países ou nações como hoje. O Império Romano era um grande mosaico de reinos, povos, cidades e tribos. Cada pedrinha do mosaico mantinha sua própria religião, suas próprias leis e, até certo ponto, sua própria autonomia de governo. Mas todos juntos deviam estar integrados dentro dos interesses comuns do Império: pagar o tributo, os impostos, as taxas, não fazer guerra entre si, fornecer soldados para o exército romano, reconhecer a autoridade divina do imperador e cultuar as divindades.
Quando falamos em conflito com o Império Romano, não entendemos só os grandes conflitos com o governo central de Roma. Estes até que não foram muitos. Mas sim todo tipo de conflito que os cristãos tiveram com o sistema mantido pelo Império no mundo inteiro. Isto é, conflitos com a polícia, com a justiça, com a opinião pública, com a ideologia e a religião oficiais, com as autoridades locais, com os grupos de interesse ou de pressão. Ao longo dos anos, todo este conjunto de instituições chegava a ser mobilizado, com uma freqüência e uma facilidade cada vez maiores, contra os cristãos, tanto pelos judeus como pelos pagãos.
A Pax Romana: Instrumento de Dominação
Durante o período de 30 a 70 d.C., o Império romano continuava os seus esforços para concentrar o poder e a riqueza em Roma. Esse processo já vinha desde o século anterior, desde os tempos de Augusto, quando houve a turbulenta mudança de República para Império. As guerras civis tinham destruído a economia e o comércio. Era necessário um período de paz para poder reconstruir a economia, visando a ulteriores conquistas. Então, foi proclamada a Pax Romana, celebrada pelos poetas da época como um dom dos deuses. A Paz que reinava entre os deuses da terra, graças ao imperador! Assim os poetas cantavam. O imperador era venerado como o instrumento privilegiado dos deuses para estabelecer a paz e a harmonia no mundo. Na realidade, o objetivo real da Pax Romana era legitimar e expandir o domínio romano no mundo, favorecer o comércio internacional, garantir a cobrança tranqüila dos impostos e tributos e, por conseguinte, intensificar a concentração da riqueza e do poder em Roma.
Resultado: escravização crescente nas periferias e excesso de luxo no centro em Roma (Ap 18,9-20). De um lado, sofrimento e revoltas. Do outro, insensibilidade, alienação e afrouxamento dos costumes (Rm 1,18-32). Paulo define bem a situação quando diz: "Eles mantêm a verdade prisioneira da injustiça" (Rm 1,18).
Como sobreviver num sistema que ameaça de morte?
O Império Romano detinha o poder absoluto e utilizava a polis grega para alcançar os seus objetivos de expansão e dominação. A cultura era helenista, o governo era romano. Enquanto as comunidades cristãs não interferiam nos interesses do Estado, elas podiam viver e crescer. Na hora em que passavam a representar qualquer ameaça para o poder, começavam a ser perseguidas sem piedade.
Como entre os judeus, também entre os cristãos as opiniões eram divididas a respeito da posição a tomar diante do Império. Havia os que procuravam evitar os conflitos e eram a favor da obediência às autoridades. Achavam que toda a autoridade vinha de Deus. Esta opinião transparece na carta aos Romanos (Rm 13,1-7). Havia outros, sobretudo depois da perseguição de Nero, que viam no Império a encarnação do mal. Recusavam qualquer possibilidade de entendimento. Esta posição perpassa o livro do Apocalipse (Ap 13,18; 17,9).
O Apocalipse conserva a lembrança das perseguições que não deixavam liberdade aos cristãos (Ap 13,16-17). Por isso, para poder sobreviver e não ser aniquiladas, as comunidades cristãs procuravam adaptar a sua organização dentro das possibilidades que as leis do império lhes ofereciam. São sobretudo duas instituições romanas que tiveram grande influência na organização da vida das comunidades neste período, a saber, a domus, Casa, e o collegium, Associação.
A casa como o lugar onde a comunidade se reúne
A palavra oikos (casa, domus) aparece com certa freqüência na organização das primeiras comunidades. Diversas vezes se fala da Igreja que se reúne na casa de fulano ou fulana (Rm 16,5.15; l Co 16,19; Fm 2; At 16,15; Cl 4,15). Ou se diz que uma pessoa se converte, “ela e toda a sua casa" (At 16,15.31; 18,8; l Co I,16).
A casa indicava a unidade básica da sociedade. Produzia tudo de que se precisava para viver e sobreviver. Para pertencer à "casa" de alguém não era necessário ter laços de sangue. Todos os que nela viviam eram considerados "da casa": mulher, filhos, parentes, amigos, trabalhadores, escravos. Havia certa semelhança entre casa e clã. O clã era a unidade básica do povo de Israel. Ficar sem casa (paroikos), como diz a carta de Pedro (l Pd 1,1), em certo sentido, era pior do que ser escravo, pois o escravo tinha "casa", tinha raiz, tinha identidade. O migrante não tinha nada disso.
A casa representava o sistema patriarcal. O Pai ou Patriarca era como um rei com poder absoluto dentro da casa. Este poder tinha três dimensões:
1. Potestas: o domínio sobre os filhos;
2. Dominium: o domínio sobre os animais, os escravos e as coisas;
3. Manus: o domínio sobre a mulher.
Havia, porém, casamentos sine manu, em que a mulher permanecia independente. A mulher é que organizava e administrava a casa. Era a "matrona". A casa tinha uma dimensão religiosa. O universo inteiro era visto como cópia da casa. Era a Casa de Deus. Leis estáveis regem o universo e produzem a ordem da natureza que garante a todos a vida: a sucessão dos dias e das noites, dos meses e dos anos, o ciclo do sol e da lua, a seqüência das quatro estações etc. Da mesma maneira, leis estáveis devem reger a Casa na terra, tanto a casa do pai que é a família, como a casa do imperador, que é o Império. Quem não aceita a lei da casa é contra a ordem que Deus criou. Assim, a autoridade do pai de família e do imperador era legitimada pela religião.
Entre os cristãos, porém, a Casa adquire um novo sentido. O fato de eles se reunirem na Casa de fulano ou de fulana não quer dizer que a comunidade reproduz a estrutura autoritária da Casa romana, do Império. Quer dizer que Deus é visto como Pai de família e que só a ele cabe a potestas, o Dominium e a manus. Deste modo, esvazia-se o poder absoluto tanto do pai de família como do imperador. Além disso, considerando a comunidade como a sua Casa, os cristãos encontravam nela sua raiz, sua identidade. Era o novo lugar de inserção dentro da convivência humana. Quanto à maneira de a comunidade se organizar dentro da casa, isto explica-se melhor a partir da instituição do collegium
O "collegium" e sua influência
A palavra collegium indicava a associação de pessoas de uma mesma categoria. Tais associações eram reconhecidas juridicamente e serviam para ajudar as pessoas desta ou daquela categoria a defender os seus direitos dentro da cidade (polis). Por exemplo, pessoas da mesma profissão: padeiros, ferreiros, rendeiros etc. Havia também o collegium dos pobres para garantir um bom enterro, e o collegium que se criava para fazer festas e comer bem. E havia ainda a organização dos estrangeiros que se reuniam em collegium ao redor da sua fé e do seu Deus.
A instituição da casa sustentava o regime patriarcal. A do collegium representa uma tendência mais democrática de organização. Ela podia ser de escravos e livres, de homens e mulheres, de negros e brancos, de ricos e pobres. Tinha uma tendência mais igualitária.
A instituição do collegium tinha uma dimensão religiosa. Os que se reuniam em collegium sempre tinham um deus como fator de união. Uma espécie de confraria com seu padroeiro! Foi assim que, durante muitos anos, as sinagogas dos judeus da diáspora se organizavam como collegium ou politeuma para defender os seus direitos e garantir a observância da Lei de Moisés.
Esta experiência secular dos judeus foi de muito proveito para os cristãos e ajudou-os a criar um jeito legal que lhes permitia viver sua fé. Como os judeus, os cristãos utilizavam a instituição do collegium para organizar, com certa autonomia, as várias igrejas domésticas, onde conviviam "judeus e gregos, escravos e livres, homens e mulheres" (Gl 3,28). As comunidades ou igrejas domésticas ofereciam uma casa, um lar, para os sem-casa, os migrantes e excluídos da sociedade da época.
A CULTURA GREGA
Por cultura grega, entendemos tudo aquilo que, de uma ou de outra maneira, era portador dos valores e contra-valores do modo de viver grego ou helenista: sua economia, sua organização social, sua política, sua visão do mundo, do ser humano e de Deus.
A cultura grega: sua difusão, ambivalência, força
A sociedade grega estava baseada na exploração do trabalho escravo. Por isso pôde produzir e alimentar uma cultura, cujo sonho era este: vida tranqüila, só de estudo e de meditação, sem trabalho manual. Essa maneira de viver entrou em choque com o judaísmo e com o Evangelho. "Trabalhar com as próprias mãos" (1 Co 4,12; 1Ts 4,11), como pretendia Paulo, era desprezado como inferior e impróprio pelo cidadão grego.
A cultura helenista era uma cultura urbana. O foco da sua irradiação pelo mundo era a polis, a cidade. A vida na polis grega tinha mentalidade, organização e ideais bem diferentes da vida rural na Palestina. Assim como hoje a maneira de viver do sistema capitalista se difunde por mil canais, naquele tempo, a maneira grega de viver se difundia de muitas maneiras. Por meio do estilo de vida e da organização característicos das cidades gregas com a sua democracia. Por meio do comércio, dos produtos e das moedas. Por meio da administração eficiente, do desenvolvimento da agricultura no tempo dos Ptolomeus. Por meio da cobrança de tributos, taxas e impostos. Por meio de viajantes, soldados mercenários licenciados que voltavam para casa, e de filósofos itinerantes: estóicos, gnósticos, e epicureus, cínicos. Por meio da língua chamada koiné, que era a língua internacional do comércio, como o inglês de hoje. Por meio da religião, com seu pan-theon e sua mitologia. Por meio das artes e diversões, pois em cada cidade havia escolas, ginásios, teatros. Havia hipódromos e circos com jogos a cada quatro anos. Por meio das armas, da estratégia militar e da truculência na repressão aos revoltosos. Por meio da construção de cidades com a sua arquitetura característica, havia mais de trinta cidades helenistas ao redor da Palestina). Por meio da mentalidade: "O que é da Grécia é melhor", que levava os governantes dos outros países a convidar gente da Grécia para vir exercer cargos de confiança. Por meio do próprio império romano, pois a cultura helenista supunha uma estratificação social muito rígida com basicamente três camadas imutáveis: os livres, os libertos e os escravos (e estrangeiros). Só os livres faziam parte do demos (povo). Os escravos, mesmo libertos, os estrangeiros, as mulheres, crianças, doentes, isto é, a grande maioria do povo, não tinha vez. Por meio de tudo isto se propagava um estilo de vida, uma ideologia que sustentava o sistema do império por dentro.
A influência grega ou helenista entre os judeus já vinha de longe, deste antes de Alexandre Magno (323 a.C.). Na cultura grega, havia alguns elementos distantes e outros bem próximos da tradição dos judeus. Por isso, uns eram contra e outros a favor. Os judeus de Alexandria no Egito, por exemplo, sempre tiveram uma abertura muito grande com relação à cultura grega. Iniciaram até um processo de inculturação, cujo principal autor foi o célebre Fílon de Alexandria. Como fruto desta inculturação, a Bíblia conserva o livro da Sabedoria, escrito em grego lá no Egito.
Entre os judeus da Palestina, porém, o helenismo chegou a provocar gravíssimas divisões internas. A classe dirigente dos sacerdotes e saduceus era favorável à abertura. Em parte, porque viam nele alguns valores condizentes com a Tradição dos Antigos. Em parte, porque, para eles, o helenismo era uma fonte de riqueza. Eles não hesitaram em introduzi-lo à força, sem respeitar as tradições do povo (2Mc 4,7-17). Por isso, o povo do mundo rural palestino reagiu com força e lutou, durante mais de cem anos, para defender sua identidade contra a força desintegradora da cultura helenista. Esta defesa da identidade e da missão como povo de Deus está na origem da luta dos Macabeus (l Mc 1,15-28).
Origem judaica, cultura grega e interesses do Império romano! Vimos como estas três forças interagiam na vida das primeiras comunidades cristãs. Interagiam a ponto de atingir as coisas mais íntimas e os relacionamentos mais profundos tanto da vida como da fé. Causam admiração e santa inveja o equilíbrio e a coragem com que aqueles primeiros irmãos e irmãs nossos souberam enfrentar o problema. Muito provavelmente, eles não eram melhores nem mais santos do que nós. Mas sem dúvida, souberam ser mais criativos. Eles nos desafiam e nos provocam. Ter hoje, aqui na América Latina, a mesma criatividade, a mesma liberdade, a mesma coragem, a mesma fé na presença viva de Jesus Cristo nas nossas comunidades, onde atuam e interagem as mesmas forças!

 Ler o texto abaixo em grupos
1. Tirar suas características básicas que serão apresentadas em plenário.
2. Fazer um relato sobre a repressão que acontece hoje sobre os movimentos populares do campo e da cidade.

Repressão e Movimentos Populares na Época do Novo Testamento #
Embora estivesse de volta do exílio, um duplo cativeiro marcava a situação do povo na época de Jesus. Desde Neemias (445) e sobretudo desde Esdras (398), o cerco da Lei e da raça tornava-se cada vez mais forte (Ed 7,25-26; 9,2; 10,3; Ne 9,2; 10,2930). Por isso, grande parte do povo, incapaz de observar a Lei e as muitas normas da Tradição (Mc 7,4-13; Mt 23,23), ficou marginalizada como ignorante e maldita (Jo 7,49; 9,34). Este cativeiro, mantido tanto pelo doutores da Lei como pelos funcionários do Templo, era o que mais atormentava o povo no dia-a-dia da sua vida e o fazia sofrer. Basta lembrar a marginalização da mulher pela assim chamada lei da pureza. Como veremos, a luta contra este cativeiro foi o que mais marcou a prática de Jesus.
Além deste cativeiro da Lei e ligado a ele, havia o cativeiro do Império Romano. Desde 63 a.C., o tributo de Roma pesava sobre o povo. Por isso, a época em que Jesus nasceu era fome, pobreza e doença, com muito desemprego (Mt 20,3.6) e endividamento (Mt 6,12; 18,24.28). Havia classes altas e poderosos ricos, como os saduceus e sacerdotes, comprometidos com os romanos (Jo 11, 47-48), que não se importavam com a pobreza dos pequenos (Lc 15,16; 16,20-21; 22,25): e havia grupos de oposição aos romanos, como os fariseus e essênios, que se identificavam com as aspirações do povo (At 5,36-37). Havia muitos conflitos e tensões sociais (Mc 15,7; Mt 24,23-24), com repressão sangrenta que matava sem piedade (Lc 13,1). A dureza desta situação influía na maneira de se viver a fé: havia a religião oficial, ambígua (Lc 20,46-47) e, por vezes, opressora (Mt 23,4.23-32), organizada em torno da Sinagoga e do Templo (Mt 21,13): e havia a piedade popular, igualmente ambígua, mas resistente, com suas devoções e práticas (Mt 21,8-9; Lc 2,41; 21,2; Jo 6,4).
Numa palavra, o duplo cativeiro criou uma situação confusa, sem solução. Havia conflitos nos vários níveis da vida: econômico, social, político, ideológico, cultural e religioso. O povo estava dividido, sem condições de reencontrar a unidade.
É por causa desta situação sem saída que o movimento popular da época estava num processo de radicalização, isto é, buscava raízes e motivações mais profundas. Não querendo ser a vítima perpétua das repressões romanas e não encontrando ressonância nem resposta nos líderes oficiais, o movimento popular procurava seus próprios caminhos. Pouco a pouco, transformava-se num movimento profético mais amplo que chamava o povo de volta para a sua origem, para a Aliança. Jesus se insere neste processo de radicalização do movimento popular. É o que vamos ver agora, analisando suas várias etapas.

1. De 63 a 37 a.C.: Revolta Popular sem Rumo.
É o início do controle romano, época de muita anarquia por causa da incerteza política. O pesado tributo reintroduzido por Roma e as guerras contínuas que marcaram a passagem da República para o Império Romano, foram desastrosas para o povo da Palestina. De 57 até 37, em apenas vinte anos, estouraram seis revoltas!
Flávio Josefo diz a respeito destes revoltosos: “Roubar é a prática comum deste povo, pois não há outro jeito para eles viverem: eles não têm cidade que seja deles, nem possuem terras, mas só uns buracos, onde vivem junto com seus animais”. Tratava-se do povo empobrecido no interior da Galiléia, a quem não sobrava mais nada. Tudo lhe tinha sido roubado! As revoltas contínuas eram fruto do desespero!
Neste período, o movimento popular não tem rumo. É como o cangaço! O povo vai atrás de qualquer um que promete libertar do tributo: seja atrás de Alexandre e Aristóbulo, membros da família real deposta por Roma em 63 a.C., que queriam reconquistar o poder; seja atrás de Pitolau e Ezequias, líderes populares de origem camponesa.
Para reprimir as revoltas, os romanos contavam com a ajuda do jovem Herodes, um indumeu, estrangeiro, que, antes de ser Rei da Palestina inteira, foi comandante militar da Galiléia (47-41 a.C.). ele enfrentou e matou Ezequias, o famoso chefe dos revoltosos, que atuava na Galiléia.

2. De 37 a 4 a.C.: Repressão e Desarticulação.
Reinado de Herodes. Período de relativa calma. A repressão brutal da polícia de Herodes impedia qualquer manifestação popular. É o período da assim chamada Pax Romana. Período de reorganização da administração do Império em vista de futuras conquistas. A Pax Romana trouxe certa estabilidade econômica para o Império. Para os outros povos, porém, não era paz, mas sim pacificação violenta. O imperador Otaviano Augusto (31 a.C. - 14 a.C.) tinha todo interesse em promover uma política de estabilidade e de paz após tantos anos de guerra civil.
Só pouco antes da morte de Herodes, dois fariseu, Matias e Judas, ambos doutores da lei, conseguiram fazer um protesto. Levaram seus alunos a derrubar a águia, símbolo do poder romano, que Herodes colocara na porta do Templo. Herodes reagiu com violência. Mandou que fossem queimados vivos os dois professores e mais quarenta de seus alunos.
Jesus nasce no final do governo de Herodes. É a época da sua infância da qual Lucas diz: “Ele crescia, tornava-se robusto e enchia-se de sabedoria”(Lc 2,40).

3. De 4 a.C. a 6 d.C.: Revoluções Messiânicas.
É o período do governo de Arquelau na Judéia. Foram dez anos de muita violência! No dia de sua posse, festa de Páscoa, Arquelau massacrou três mil pessoas na praça do Templo. Os romeiros que escaparam deram o alarme, e a revolta explodiu em todo o país. Mas já não era uma revolta sem rumo. Os líderes deste período apelavam para as antigas promessas feitas a Davi e se apresentavam como Rei e Messias: Judas, filho de Ezequias, na Galiléia: Simão, um ex-escravo de Herodes, na Peréia; Atroges, um simples pastor, na Judéia. O povo os seguia em massa. Sinal de que o movimento popular buscava uma motivação mais profunda que tinha a ver com a fé em Deus e com as tradições e promessas antigas.
A repressão romana foi lenta, mas violenta. Séforis, capital da Galiléia, foi arrasada, sua população escravizada. Jerusalém se rendeu e escapou da destruição, mas dois mil revoltosos foram presos e crucificados ao redor da cidade.
Neste mesmo período, em Nazaré, o menino Jesus, saindo da infância e entrando na adolescência, “cresce em sabedoria, tamanho e graça diante de Deus e dos homens”(Lc 2,52). É bom lembrar que Nazaré ficava a apenas 8 Km de Séforis, a capital que foi destruída.

4. De 6 a 27 d.C.:Zelo pela Lei, Tempo de Revisão.
No ano 6, Roma interveio expressamente e assumiu o controle. Depôs Arquelau e transformou a Judéia numa Província Romana governada por Procuradores. O governo interno continuava nas mãos do Sumo Sacerdote, nomeado por Roma. A aristocracia dos saduceus, donos de terras e ligados ao comércio internacional, apoiava a política romana. O censo, decretado para reorganizar a administração e garantir o pagamento do tributo, provocou forte reação popular, inspirada no Zelo pela Lei. No passado, o Zelo já tinha tomado conta de Finéias (Nm 25,11), do profeta Elias (I Rs 19,10; 18,40) e de Matias (I Mc 2,24-26). Agora, este mesmo Zelo, liderado por Sadoc e Judas de Gamala, levava o povo a não dar o nome no censo e a não pagar o tributo. Este modo de pensar tomou conta de muita gente. Era uma nova forma de resistir, uma espécie de desobediência civil, um passo a mais neste processo de radicalização da luta do povo, após o malogro da revolta popular e do messianismo. Porém , o Zelo estreitava a visão. Os “zelosos” corriam o perigo de reduzir a observância da Lei à oposição aos romanos. O que de fato aconteceu, mais tarde, no movimento dos “zelotas”.
A mudança de regime por ocasião da deposição de Arquelau trouxe uma relativa calma. Mas a ameaça continuava a existir. As revoltas esporádicas, como as de Barrabás (Mc 15,7) e dos galileus (Lc 13,1), assim como a imediata repressão romana, lembravam a extrema gravidade da situação. O Zelo ardia como um fogo reprimido debaixo das cinzas, sem possibilidade de saída. Bastava alguém soprar, e Roma viria e acabaria com o Templo e a Nação (Jo 11,48). Como de fato aconteceu no ano 70 d.C. (Lc 13,34-35; 19,41-44). A calma era apenas uma trégua, uma ocasião oferecida pela história - por Deus - para fazer uma revisão do rumo da caminhada e da luta do povo (Lc 13,3.5). Neste mesmo período, o jovem Jesus, chegando à idade de doze anos, passa a participar plenamente da vida da comunidade. Vive e trabalha na roça de Nazaré e ajuda o povo prestando serviço como carpinteiro. Isto, durante vinte anos, dos 12 aos 30 anos de idade!

5. De 27 a 69 d.C: Reaparecem os Profetas.
Depois de uns vinte anos, a revisão do rumo da caminhada apareceu na pregação dos profetas. O primeiro foi João Batista (Mt 11,9; 14,5; Lc 1,76). Em torno a ele cresceu um enorme movimento popular (Mt 3,5-7). Logo em seguida, veio Jesus (Mt 16,14; 21,11.46; Lc 7,16). Simultaneamente, a revolta, o messianismo e o Zelo continuavam a arder. É por isso que, no tempo de Jesus, havia tantas tendências e divisões no meio do povo.
Depois, vieram outros profetas: em 36, um samaritano anônimo convocava o povo para o Monte Garizim e prometia revelar onde Moisés teria escondido os utensílios do Templo. Em 45, um certo Teudas convocava o povo para o Jordão e prometia dividir as águas para abrir uma passagem. Em 56, um judeu anônimo vindo do Egito, chamado simplesmente Egípcio, reunia trinta mil no deserto e prometia fazer cair os muros de Jerusalém. Em 60, um outro anônimo prometia “libertação das misérias” aos que o seguiam no deserto. Como sempre, a história oficial narrada por Flávio Josefo não guardou os nomes dos profetas populares. A maioria deles é anônima.
O que esses profetas queriam e o que representavam para o povo? Eles representavam um passo a mais no processo de radicalização do movimento popular. Eles fazem uma nova leitura dos fatos. Querem refazer a história. Convocam o povo para o novo êxodo, anunciado por Isaías (Is 43,16-21).Chamam o povo para o deserto (Os 2,16; 12,10). Como no fim da travessia do deserto, prometem separar as águas do Jordão e abrir uma passagem (Js 3,16-17: II Rs 2,8.14). como a queda das muralhas de Jericó no fim dos 40 anos no deserto (Js 6,20), eles anunciam a queda das muralhas de Jerusalém (Lc 19,44; Mt 24,2). Como os profetas de antigamente, eles anunciam o início de um novo ano jubilar (Lc 4,19) e a libertação (Lc 4,18), e pedem mudança no modo de viver (Mc 1,15; Mt 3,2). Como no tempo de Moisés, querem reviver a Aliança!
Tanto os romanos, sacerdotes e saduceus, como os escribas e os fariseus, todos eles viviam preocupados com a observância da lei de acordo com a tradição dos antigos (Mc 7,3-4.13). Apesar de serem contra os romanos, não queriam o conflito aberto com eles. Queriam calma para poder observar a lei. Não levavam a sério o movimento popular em torno de João Batista e Jesus (Lc 7,29-30.33-35; Mt 21,32; Jo 7,48). Não percebiam a gravidade do momento nem a necessidade de uma mudança radical de rumo da caminhada. Por isso, sem se darem conta, conduziam o povo para o desastre (Lc 13,3.30-35; 19,41-44). Fechados na sua própria sabedoria (Lc 7,35), tornaram-se incapazes de reconhecer a chegada do Reino no meio dos pobres (Mt 11,25).
Os sumo sacerdotes, os anciãos e os saduceus tinham aplaudido a mudança do regime que veio com a deposição de Arquelau. A política romana favorecia os interesses desta elite e encontrava nela um apoio no controle e na repressão do povo (Jo 11,45-49). Diziam-se benfeitores do povo, mas na realidade eram seus exploradores (Jo 22,25).
Todos esses líderes, preocupados apenas com a segurança do Templo e da Nação (Jo 11,48) ou com a observância estrita da Lei (Mt 23,1-23), nada sabiam do que se passava na alma do povo. Nem percebiam a diferença que havia entre os profetas e os outros líderes populares. Por exemplo, o capitão que prendeu Paulo acha que Paulo é o “egípcio” e que este profeta é líder de sicários e bandidos (At 21,38). Pilatos acha que Jesus é um revoltoso como Barrabás (Mc 15,7) e o confunde com os reis messiânicos (Mc15,9). Os judeus que acusam Jesus fazem a mesma confusão entre Jesus e os reis messiânicos (Lc 23,2.5). Gamaliel, doutor da lei, coloca, o profeta Teudas na mesma linha de Judas, o chefe dos revoltosos, e não acredita em nenhum dos dois (At 5,35-37). O próprio Flávio Josefo, no seu livro Antiguidades Judaicas, confunde os profetas com “ladrões” e “impostores”. É como hoje!
Realmente, o povo era como um rebanho sem pastor (Mt 9,36). Seus líderes não entravam pela porta, mas por outros caminhos (Jo 10,1). Sem líderes para orientá-lo, sem rumo e sem horizonte, naquela situação confusa e conflitava de tantos movimentos, tendências e lideranças, e cansado de tanta opressão e exploração (Mt 11,28), o povo vivia à espera da chegada do reino. Ora, é nesse contexto bem preciso, que Jesus recebe e assume sua missão. Ele tem dó deste povo (Mc 6,34; 8,2) e quer congregá-lo (Lc 13,34). Situando-se dentro do processo mais amplo do movimento popular, ajuda-o a dar mais um passo, o passo que faltava. Ele traz a luz de Deus para aquele momento crítico da história do seu povo. Atento aos sinais dos tempos (Mt 16,1-3), descobre o apelo de Deus e anuncia a chegada do Reino (Mt 4,17). Jesus dirige a sua mensagem para o povo do seu tempo. E é exatamente por isso que a mensagem do reino é tão universal, válida para todos os tempos, até hoje.
(Seguir Jesus: os Evangelhos. Coleção: Tua palavra é vida, nº 5. Publicações CRB/Loyola, 1994)

 Ler em grupos:
1. Apresentar as características principais que marcaram a época de Jesus.
2. Quais as características que marcam o Brasil e a América Latina de hoje no período neoliberal sob a hegemonia do imperialismo norte americano?
3. Como acontece a dominação hoje: dentro do país e a nível de América Latina?

A Palestina na Época de Jesus #
Porque a Palestina é tão importante que está ligada com a história das grandes potências? Porque forma uma faixa de terra que liga o Egito à Mesopotâmia que é importante para o comércio internacional.
Do ano de 612 a 539 a.C. a Palestina está subordinada aos babilônios
No ano de 597 a.C. - Jerusalém cai, sob os babilônios, e é o fim da monarquia. A elite e os profissionais especializados em armas de guerra vão para o exílio. Após o exílio os sacerdotes assumem o poder.
A esperança messiânica continuou como seqüência da monarquia. Esperavam o Filho de Davi - o Messias que nasceria em Belém. Jesus não assume este projeto e por isso eles não o entenderam.
No ano de 587 a.C. o Templo foi destruído e é uma catástrofe nacional. Como praticar agora a fé sem o templo e longe na Babilônia. No exílio surgiu uma forma alternativa de culto não centrada no templo: a Sinagoga.
Diferenças no culto no templo e na sinagoga são:
Templo: O culto é dirigido pelos sacerdotes, este cargo é hereditário. O culto é de sacrifício de animais.
Sinagoga: Na sinagoga os escribas comandam o culto. São os entendidos na Lei e na sua interpretação. É um culto sem sacrifícios. Baseado na leitura e interpretação da Lei (Torá). Com a volta do exílio a sinagoga se instala na Palestina e se torna algo normal.
O Exílio valorizou:
• observância do sábado como identidade do povo. Sábado passou a ser símbolo da lei (Mc 2,28)
• circuncisão - Jesus não contesta isto  só Paulo contesta isto.
• diáspora - judeus ficam na Babilônia e outros começam a morar fora da Palestina. Havia 1 milhão de judeus na Palestina e 3 milhões fora, no Império Romano.
Nos anos de 538 -332 a.C. - Os Persas dominam e acontece uma reorganização na Palestina.
Neste período (por volta de 440 a.C.) aparece Neemias que foi encarregado da reconstrução da cidade de Jerusalém; faz uma reorganização política em Israel; abole as dívidas e combate os matrimônios mistos.
Junto com Neemias está Esdras que reorganiza a vida religiosa e faz o povo se comprometer com a Lei (civil e religiosa). O Pentateuco é a constituição de Israel. Quando Jesus discute a lei ele discute a constituição do país. A partir daí os sacerdotes passam a comandar o país - tem função religiosa e política. Neste período a Samaria deixa de ser parte do povo de Israel.
Entre os anos de 332 - 142 a.C. dominam os Gregos.
O rei macedônio Alexandre, o Grande, era discípulo do filósofo grego Aristóteles. Ele impõe seu Projeto via - exército e cultura (ideologia) que vai dar no helenismo. A língua grega passa a ser falada em todas as regiões, isto sobreviveu aos romanos.
O rei Antíoco IV Epífanes tentou implantar a cultura grega à força em Israel e isto provocou a Revolta dos Macabeus em 167 a.C., que dura até 142 a.C.
De 142 - 63 governa a Dinastia dos Asmoneus. Israel é novamente politicamente independente. Os macabeus comandam a vida religiosa e política. Reis são sumo sacerdotes e reis. Não eram da linha de Sadoc - eram ilegítimos no sacerdócio e não eram descendentes de Davi.
Desde 63 a.C. comandam os Romanos (a última revolta judaica foi de 132 a 135 d.C. quando todos os judeus foram exilados e proibidos de voltar para Israel).
Os romanos se interessavam pelo tributo e havia certa autonomia política entre os povos dominados.
De 37 a.C. - 4 d.C. governa Herodes, Magno, na Palestina sob as ordens de Roma. Fez grandes construções - reconstruiu e aumentou o templo de Jerusalém. No final - 20 d.C. até 64 d.C. foi o período de reconstrução do Templo. Quando terminou 20 mil operários ficaram desempregados. Herodes também construiu o porto de Cesaréia e a fortaleza de Massada - eram cidades-fortalezas. Após sua morte há revoltas que os romanos pacificaram, melhor dito massacraram. O reino foi dividido entre os seus filhos.
1. Felipe - 4 a.C. - 34 d.C. região nordeste do lago de Genesaré
2. Herodes Antipas -4 a.C. - 39 d.C. região da Galiléia e Peréia. É este que quer matar Jesus (Lc 13,31-33)
3. Arquelau - 4 a.C. - 6 d.C. região da Judéia e Samaria. Foi deposto pelos romanos depois que uma delegação foi a Roma para reclamar. No seu lugar Roma põe um Procurador (Mt 2,22) com sede em Cesaréia e não em Jerusalém para evitar atritos
O governador Pôncio Pilatos governou de 26 a 36 d.C. na Judéia e Samaria.
Três grandes festas aconteciam anualmente: Páscoa - Pentecostes - Tendas nestes períodos se reforçava as forças de repressão em Jerusalém. A expectativa era de que o Messias viria na festa da Páscoa por isso Jesus foi recebido em festa no Domingo de Ramos.
O julgamento de Jesus foi 1º no Sinédrio - tribunal que julga questões internas, principalmente religiosas; 2º pelo Procurador romano - executa a pena de morte.
Nos anos de 66 - 70 d.C acontece a 1ª Guerra Judaica
Nos anos de 132 - 135 d.C. acontece a 2ª Guerra Judaica
Em 41 a 44 d.C. o rei Agripa (neto de Herodes, Magno), foi rei por toda a Palestina (At 12,1) e a partir de 44 d.C. Procuradores Romanos governam toda a Palestina. O procurador ficava apenas 3 ou 4 anos para não se fortalecer e isto levava à exploração extrema pois queriam enriquecer neste período.

Raiz da Pobreza - Impostos
Os impostos que o povo pagava no tempo de Jesus:
• Imposto Direto: incidia sobre as propriedades e as pessoas:
1.Tributum soli. Era o imposto sobre a propriedade. Dependia do tamanho da propriedade, da produção e do número de escravos. Os fiscais verificavam e fixavam a quantia a ser paga. Periodicamente, havia nova fiscalização através dos censos.
2.Tributum capitis. Era o imposto sobre as pessoas. Era para as classes pobres sem terra. Incluía homens e mulheres entre 12 e 65 anos. Era sobre a força do trabalho: 20% da renda de uma pessoa era para o imposto.
• Imposto Indireto: incidia sobre transações variadas:
3.Coroa de ouro. Originalmente, era um presente ao imperador, mas tornou-se um imposto obrigatório. Era cobrado em ocasiões especiais como festas e visitas do imperador.
4.Imposto sobre o sal. O sal era monopólio do imperador. Só era tributado o sal para uso comercial. Por exemplo o sal usado pelos pescadores para comercializar o peixe.
5.Imposto na compra e venda. Em cada transação comercial pagava-se 1%. A cobrança era feita pelos fiscais na feira. Na compra de um escravo exigiam-se 4%.
6.Imposto de registro. Em cada contrato comercial registrado, exigiam-se 2%.
7.Imposto para exercer a profissão. Para tudo se precisava de licença. Um sapateiro em Palmira pagava 1 denário por mês. Até as prostitutas tinham que pagar.
8.Imposto sobre uso de coisas de utilidade pública. Desde Vespasiano, Pagava-se, Por exemplo, para poder usar as privadas públicas em Roma. Diziam "Dinheiro não fede!"
• Outras Taxas e Obrigações:
9.Pedágio ou alfândega. Era um imposto sobre circulação de mercadoria, cobrado pelos publicanos. Havia soldados nos postos fiscais para obrigar os que não queriam pagar.
10.Trabalho forçado. Toda pessoa podia ser obrigada a prestar algum serviço ao Estado durante cinco dias. Assim, Simão foi obrigado a carregar a cruz de Jesus.
11.Despesa especial para o exército. O povo era obrigado a dar hospedagem aos soldados; os camponeses deviam pagar uma certa quantia em comida para o sustento das tropas.
• Imposto para o Templo e o Culto
12.Shekalim: Imposto para o Templo propriamente dito, a manutenção do prédio.
13.Dízimo: Imposto para a manutenção do clero.
14.Primicías: Imposto para a manutenção do culto.
No total dava 60% da produção que era pago em impostos.
O dízimo se pagava porque os sacerdotes não receberam terra na época da tomada da terra por Josué e então as outras tribos se comprometeram a sustentá-los

As Classes Sociais

Ricos e Poderosos
Imperador
Sumo Sacerdote
Chefe de Sacerdotes
Rei e Família
Grandes Fazendeiros
Grandes Comerciantes - Anciãos
Chefes dos Publicanos

Ricos
Pequenos Comerciantes
Pequenos Proprietários
Funcionários da corte e do templo
Levitas, cantores
Publicanos, artesãos, proprietários de oficinas

Pobres e Trabalhadores
Trabalhadores na corte e no templo, levitas, guardas
Sacerdotes pobres, pescadores, pastores, diaristas
Trabalhadores no comércio, pequenos artesãos, cobradores de impostos

Excluídos
Mulheres, crianças, samaritanos, mendigos, escravos, leprosos, possessos, cegos, doentes

Dominação Estrangeira
O regime romano era de uma Ditadura Militar. Dominavam bem a tecnologia do ferro para fazer armas e carros de guerra. A guerra era um meio de vida pois através dela conseguiam os escravos para o trabalho produtivo. Os prisioneiros capturados nas guerras viravam escravos que eram a base da economia. 50% da população de Roma eram escravos. A base da economia era a agricultura. Os pequenos agricultores perdiam as terras via dívida e viravam escravos (por isso no Pai Nosso diz: perdoa-nos as nossas dívidas).

A Palestina era dividida em 2 regiões:
Galiléia - governada por Herodes Antipas
Judéia e Samaria - governada pelo Procurador Romano - Pôncio Pilatos.
O controle se dava via quartéis localizados em locais estratégicos. Nas festas o Procurador ia à Jerusalém para controlar a situação e ficava na fortaleza Antônia que ficava ao lado do templo, mas ele vivia na capital, Cesaréia Marítima.
Roma controlava via 3 Direitos:
1º Direito - Sumo sacerdote era escolhido pelo Procurador. Pilatos segurava na Fortaleza Antonia as vestes ascerdotais e paramentos para controlar o sumo sacerdote. Sem as vestes o sumo sacerdote não tinha poder par entrar no Santo dos Santos no dia da Expiação dos Pecados uma vez ao ano. Era, pois, nomeado e destituído por Roma.
2º Direito - Direito às terras que deviam pertencer ao Estado Judaico. Roma dava ou retirava as terras às elites judaicas para controlá-las.
3º Direito - Roma tinha direito de condenar à morte os rebeldes por crimes políticos.
Cesaréia Marítima alojava 3 mil soldados para a repressão, quando estes não bastavam apelava-se às legiões na Síria onde havia 5 mil legionários. A intervenção de Roma acontecia só em caso de revolta. Após a morte de Herodes houve revolta e 2 mil pessoas foram crucificados. Um grupo de revoltosos permanentes eram os Zelotes que matavam os romanos nas festas como forma de combatê-los. O Imperador romano se impunha como deus e os sacerdotes do templo tinham que oferecer cada dia 2 sacrifícios: um pelo imperador e um pelo Império. Os judeus estavam dispensados da adoração ao imperador. O objetivo do culto ao imperador era dar unidade política ao Império.
Jesus Cristo diz: Daí a César o que é de César - Mc 12,13-17 por isso:
1º César não é deus
2º Devolver à Deus as pessoas - povo de Deus serve à Deus não à César é o não culto ao Imperador e devolver a terra que é de Deus, pois os romanos se haviam adonado da terra. Assim deveria devolver a terra à Deus que a havia emprestado aos judeus.
Pela lei judaica não é lícito pagar tributo à Roma e por isso Jesus pergunta de quem é a efígie e a inscrição da moeda. Na moeda dizia: Tibério César: filho adorável do adorável deus. Com isto desmascara os fariseus.
Além disto a família de Herodes era proprietária das melhores terras da Galiléia o que gerava revoltas.
A Função do Procurador Romano
1.Chefe do exército
2.Coordenar a arrecadação dos tributos - a Palestina era dividida em regiões fiscais
3.Função de juiz - aplicar a lei romana
4.Instituir e demitir o Sumo Sacerdote
Mc 15,1-11 - Pilatos exerce função de juiz - aplica a lei romana. Nos vv. 10 - 11 Pilatos percebeu a armadilha dos sacerdotes mas cedeu por causa as pressão popular e porque Jesus negava o pagamento do tributo. No v. 7 fala do levante zelota e onde houve morte - o que era típico na semana da Páscoa. Provavelmente os dois crucificados ao lado de Jesus Cristo eram alguns destes que participaram deste levante.
O Evangelho de Marcos foi escrito em Roma no ano 70 e tenta amaciar a culpa romana na morte de Jesus dizendo que Pilatos foi pressionado, pois era época da Guerra Judaica, para amaciar o fato de Jesus ter sido crucificado pelos romanos. Para os judeus quem era crucificado era maldito para a eternidade. Os cristãos dizem que Jesus Cristo é Senhor - os romanos diziam César é Senhor e por isso não era fácil esta confissão de que o Messias fora morto na cruz. Paulo diz: não esvaziar a cruz de Cristo; não esconder o conflito expresso na realidade da cruz.

Dominação Interna
Os Latifundiários eram membros do Sinédrio - Senado
Função do Sinédrio
Executiva - administradora
Legislativa
Judiciária
Religiosa
Não havia separação entre Estado e Religião; a Lei portanto era civil e religiosa ao mesmo tempo. O Sinédrio era composto por 71 membros.
1. Sumo sacerdote
2. Chefe dos sacerdotes
3. Anciãos - chefes das famílias ricas - fazendeiros e comerciantes
4. Escribas - intelectuais
Elite Religiosa - Sumo sacerdotes e Chefes dos sacerdotes
Elite Econômica - Anciãos
Elite Intelectual - Escribas
Para o povo não havia nada mais importante que o Templo - o sumo sacerdote era escolhido entre 2 famílias - Anás e Caifás
Depois do sumo sacerdote vinha o Comandante do Templo cuja função era manter a ordem interna e externa - este substituída o sumo sacerdote
Abaixo vinham os chefes dos sacerdotes que controlavam o culto, finanças e vigilância as áreas estratégias do templo. Eram um colégio autônomo definido. Sacerdotes e anciãos pertenciam ao grupo dos saduceus que eram latifundiários e grandes comerciantes. Os saduceus só reconheciam a Torá como sagrada escritura eles não aceitavam os livros proféticos. Havia muitos sacerdotes pobres do campo. Ex.: pai de João Batista - Zacarias era um deles.
Anciãos - eram leigos e ricos latifundiários e comerciantes
Escribas - eram intelectuais - sua influência se dava pelo saber e conhecimento da Lei. Especialistas na interpretação da Escritura. Advogados, juízes e políticos ao mesmo tempo
No tempo de Jesus havia duas Escolas Rabínicas -
A escola de Shamai que era mais conservadora
A escola de Hillel que era mais liberal
Ali se formavam os escribas e rabinos. Aos 40 anos o escriba poderia ser ordenado e pode a partir daí emitir juízo e decidir por conta própria.
Templo hoje são os crentes I Co 6,9 isto fala contra o Templo que era o edifício do poder e que legitimava a opressão. Por isso os cristãos lutam contra a opressão pois são templo santo de Deus.. cristãos são o templo vivo e verdadeiro de Deus que lutam contra a ideologia religiosa opressora. Nosso corpo - templo - não pode ser usado para exploração ideológica na política ou na economia.
•O Sinédrio tinha autoridade sobre os judeus na Palestina e aos da Diáspora Sinédrio funcionava no Templo e concentrava o poder religioso, político, econômico e judiciário - é o centro de toda a forma de poder.
•O Sinédrio tinha a seu serviço os soldados do templo - os levitas. Estes soldados com a guarda pessoal do sumo sacerdote prenderam Jesus MC 14,53-65 + At 4,5-6 + Mc 13, 1-2
Havia uma divisão muito clara no esquema de dominação:
1.Reis - Filhos de Herodes
2.Procurador - Pilatos
3.Sinédrio
Escribas Leigos que aplicavam e interpretavam a Lei. Estudavam nas escolas rabínicas. Há escribas sacerdotes, fariseus e saduceus
Fariseus: Leigos que eram em torno de 6 mil no tempo de Jesus liderados por escribas. Estes não são intérpretes da lei. Apenas levavam e aplicavam a Lei em sua vida particular. Levavam a Lei a sério

Religião Raiz de Discriminação
Importante era ter a descendência pura e não ter outra raça na origem. O Templo controlava a genealogia. Havia um conceito errado de eleição de Deus. Gn 12 - diz que ele era para ser uma bênção para os demais e não excluir ninguém. João Batista diz: Se Deus quer ele faz das pedras filhos de Abraão. Jesus diz: se sois filhos de Abraão deveis fazer as obras de Abraão.
Quando o judeu casava com estrangeiro corria o perigo de adorar os deuses destes estrangeiros. Impuros eram os outros povos. Quem se misturavam com eles também se tornava impuro. Por isso os essênios se separaram para não ter contato com os impuros. Não mantinham contato com samaritanos, considerados impuros, eles só aceitavam a Torá. A questão do puro e impuro se tornou rígido ao ponto de não tocar em objetos estrangeiros. O judeu não atravessava a Samaria. Jesus passava pela Samaria e pede água a uma mulher; assim fez duas coisas proibidas: beber de objeto estrangeiro e falar com mulher (samaritana) em público. A Galiléia por fazer divisa com a sírio fenícia era considerada meio impura. Publicanos eram impuros por estar a serviço dos romanos. A pureza dependia do tipo de trabalho, contato com estrangeiro ou trabalho de mulher. Comer carne de alguns animais tornava impuro; animais usados nos cultos de outros povos eram impuros
No início a lei pretendia defender a saúde pública, a vida. Na época de Jesus não se via a opressão como impureza. Assim doentes físicos e mentais (possessos) eram impuros. Jesus se solidariza com doentes e marginalizados Lc 7,22.
A mulher era marginalizada, era posse do pai ou marido. Não participava da vida pública, nem dos negócios. Sua função era trabalhar e produzir. Menstruação era impureza, também após o nascimento ela era impura. Mulher não recebia herança só dote. Só o homem se podia divorciar e Jesus nega o divórcio aos dois. Jesus é ungido por uma mulher. Rei era ungido pelo sacerdote ou profeta e aqui foi uma mulher que fez isto. As mulheres anunciaram a ressurreição.

A Lei: Instrumento de Dominação
Sábado - à serviço da vida não da morte e opressão Jo 5,17; Mc 3,1-6; Jo 9,1-12; Ex 20,8-11; Mc 2, 27-28. Só se podia ajudar se a vida corria risco. Jesus diz que o sábado foi feito para a pessoa servir ao ser humano e não o contrário. Lei:
1º significado - Decálogo
2º significado - Torá
3º significado - Tradição dos Anciãos - Lei Oral feita pelos escribas e fariseus. Os escribas diziam que esta tem tanta autoridade quanto a Torá; Jesus contesta isto
A Lei é para conservar a liberdade - Ex 20,2
O ensino da lei era na base da decoração; os textos escritos só os rabinos possuíam. Começava-se a ir desde os 14 anos nas escolas dos rabinos. Com este estudo os escribas se tornaram os únicos que tinham a verdade da lei. O povo dependia dos escritos para a interpretação da lei.
A Sinagoga era dividida em 2 partes:
1 - onde se celebrava o culto
2 - o estudo das escrituras, só para os homens
Mulheres só podiam ouvir mas não podiam estudar. Os Fariseus criaram a sinagoga se opondo aos sacerdotes. Fariseus significa os separados.
Há 613 leis no Pentateuco que eram observadas pelos fariseus. Há 395 proibições (negativo) e 218 mandamentos (positivo).
Os pobres viam os fariseus como modelos de vida, mas não conseguiam cumprir tudo isto. Por isso eram considerados ignorantes e impuros. Fariseus jejuavam 2 vezes por semana que era mais que o necessário. Eles se consideravam os únicos salvos e não escutavam o clamor do povo. Matavam assim o espírito da lei. O Messias não veio na forma esperada pelos fariseus, mas veio libertador.
Assuntos em que havia discordância entre Jesus e os fariseus e os escribas:
sábado- Mc 2,23-27
estrangeiros - Lc 4,22-30
Deus - Lc 15, 1-32 pureza- Mc 7, 1-23
jejum - Mc 2,18-22
Sua presença junto aos os pobres - Mc 2,15-17 próximo - Lc 10, 29-37
oração - Mt 7, 5-15
Nos discursos Jesus condena os fariseus - Mt 23

O Templo - Centro de Poder e Exploração
Havia 3 categorias de judeus:
1. Puros - cidadãos legítimos - sacerdotes, levitas, famílias ricas, anciãos
2. ± Puros - mancha leve - Pastor, escravo judeu, filhos ilegítimos de sacerdotes, prosélitos, profissão desprezível.
3. Impuros - Não podiam entrar no Templo - estrangeiros, filhos de casamento com estrangeiros, filhos de mãe solteira, mulheres e homens estéreis, leprosos
Duas Pirâmides
Puros
±Puros
Impuros Ricos (excluídos os estrangeiros)
± Ricos
Pobres e excluídos

O Templo determinava a classificação da sociedade. Quanto mais perto dele mais puro; quanto mais longe dele mais impuro. No Templo se reunia o Sinédrio e estava ali o Tesouro.
No deserto e época dos juízes não havia Templo - só a Arca da Aliança que ficava na Tenda e era sinal da presença de Deus no meio do povo. A Arca da Aliança foi levada para a Babilônia. Havia muita ostentação e ouro, prata e havia muitos trabalhadores - 10 mil trabalhadores e mil sacerdotes trabalhavam na construção. Havia 18 mil sacerdotes em função do templo.
No Santo dos Santos só entra o sumo sacerdote vestindo a veste sacerdotal que lhe dava esta autoridade. Esta veste era guardada na Fortaleza Antônia durante o resto do ano como forma de pressão à obediência. Se houvesse revolta a veste não era cedida e não ocorreria a celebração para pedir o perdão dos pecados do povo. Desta forma o povo morreria no seu pecado sem perdão de Deus.

Principais Festas
Páscoa
Pentecostes - 50 dias após a Páscoa - ali se celebrava a entrega da Lei à Moisés no Sinai e lembra o sinal da Aliança - para os cristãos é a entrega do Espírito Santo
Tendas - lembra a caminhada e vida no deserto - a festa durava 7 dias nas quais se vivia em tendas
Nas festas se devia gastar 10% de sua renda. Havia grande comércio de animais para o sacrifício.

Havia 4 tipos de Sacrifícios
1. Holocausto - tudo é queimado - para ação de graças ou obter um favor de Deus
2. Sacrifício de Oblação - oferenda dos produtos da terra - parte é queimada e parte vai para os sacerdotes
3. Sacrifício de Comunhão - animal é dividido entre os ofertantes e Deus - sacerdotes ficavam com a coxa
4. Sacrifício pelo pecado e de reparação - sacerdotes queimavam a gordura e miudezas o resto ficava com o templo e o ofertante não ganhava nada. Este era o mais praticado e o que dava mais lucro. O sangue era recolhido e derramado sobre o altar porque o sangue é vida.

O trabalho do sacerdote era matar animais, cortá-los e derramar o sangue no altar. O sacerdócio era hereditário - 7.200 faziam escala de 2 semanas ao ano e nas grandes festas. Os sacerdotes aprendiam com os seus pais. Havia grandes diferenças sociais entre os sacerdotes: entre os chefes e os pobres do interior. Os chefes dos sacerdotes eram saduceus e ficavam com o grosso dos sacrifícios.
Os levitas faziam o resto do serviço. 9600 pessoas trabalhavam por turnos. Havia os levitas músicos e cantores que eram os mais importantes. Outros levitas eram guardas e faziam o serviços de limpeza e preparavam as vestes dos sacerdotes - estes cargos eram hereditários.
(Slides: Como funciona a sociedade no tempo de Jesus e a sua proposta. Benedito Ferraro e outros)

 Ler em grupos
1. Apresentar as influências de cada grupo junto ao povo.
2. Sob que influências o povo está hoje e que grupos se destacam no cenário brasileiro e o que eles querem?

Grupos Religiosos em Israel #
A origem dos quatro primeiros grupos prende-se, mais ou menos, à epopéia dos Macabeus. É necessário relembrar alguns detalhes.
De 333 a 198, os judeus vivem numa paz controlada sob o domínio dos Lágidas do Egito. Em 198, o rei selêucida de Antioquia, Antíoco III faz Israel entrar para seu império e tenta helenizá-lo. Esse universo grego é visto por certos judeus como uma iluminação: é um convite para sair do gueto no qual estavam confinados (I Mc 1,11), para viver de outro modo, para fazer comércio com esse império grego. Mas o povo, receando que a fé desaparecesse junto com seus costumes, não acompanha esses novos profetas. O autoritarismo de Antíoco IV, que quer impor a religião grega proibindo a circuncisão e as práticas judaicas provoca a revolta de Matatias em 167. Em 166, um dos seus filhos, Judas apelidado Macabeu lhe sucede, reconquista o Templo que é purificado em 164 (festa da Dedicação). Mas a guerra, militar e diplomática, vai durar por muito tempo ainda. Em 160 Jônatas sucede a seu irmão Judas e, em 143, um outro irmão, Simão, substitui Jônatas. Em 142, Simão consegue a independência de Israel. Assassinado em 134, quem toma o poder é seu filho João Hircano e é fundada a dinastia dos Asmoneus. Em 104 seu filho Aristóbulo lhe sucede por um ano, seguido por outro de seus filhos, Alexandre Janeu (103 - 76), que toma o título de rei. Sua esposa Alexandra reina (76-67) enquanto seu filho Aristóbulo II (67-63) não se torna maior. A disputa entre Aristóbulo e seu irmão Hircano II será a causa da intromissão dos romanos na Palestina.
Mas precisamos voltar e mencionar um fato de grandes conseqüências. Em 152 já fazia sete anos que não havia sumo sacerdote. Desde a época de Davi-Salomão, o sumo sacerdote era escolhido na descendência de Sadoc (II Sm 8,17; I Rs 2,35). A legitimidade estava ligada à pertença a esta dinastia sadoquita. Ora, em 175, o sumo sacerdote Onias III fora afastado por Antíoco IV e morria assassinado no exílio. Seu irmão, Jasão, obteve o cargo mediante dinheiro e logo foi superado por Menelau, um sacerdote obscuro; Alcimo, descendente de Aarão, foi eleito depois. Ao morrer, em 159, não foi substituído. Foi então que Jônatas, que já era chefe da resistência armada, conseguiu, em 152, fazer-se nomear sumo sacerdote por Alexandre Balas, pretendente ao trono de Antioquia. Jônatas era da classe sacerdotal, mas não sadoquita, e seu sacerdócio foi considerado como ilegítimo pelos fiéis da tradição. Foi sem dúvida nesta ocasião que certos judeus piedosos começaram a se separar dos Macabeus. Depois de Jônatas, seus sucessores continuarão a acumular os dois poderes, o civil e o religioso.
É, portanto, num ambiente conturbado que vão nascer as quatro grandes seitas. De início, todos os judeus piedosos estão unidos em torno da família dos Macabeus por um motivo religioso: rejeitam com vigor a apostasia que Antíoco IV lhes quer impor e que alguns aceitam, a ponto de abandonar todos os costumes judaicos. Para o fiel, tal abandono da Aliança e do seu sinal tangível só podia acarretar a rejeição do povo por Deus, quer dizer, toda uma escalada de desgraças, indo até à perda da terra santa, como o haviam anunciado os profetas e como o Exílio havia fornecido a prova. Como exprime bem II Mc 6,12-17, enviando as perseguições desde as primeiras faltas, Deus evitou que todo o povo apostatasse e que a Aliança fosse mais uma vez calcada aos pés. Mas o que é claro ao nível dos princípios para aqueles que, com Matatias, “têm o zelo pela Lei e sustentam a Aliança” (I Mc 2,27), é menos claro na prática: a fidelidade à Lei exige o fixismo absoluto? E se se admite uma evolução possível, até onde se pode chegar? Aí é que os grupos vão divergir.

Os Saduceus.
Seu nome, ao que parece, relaciona-os com Sadoc: “os saduceus se consideram como os detentores do sacerdócio legítimo, na linha de Ez 40,46, o que também reivindicam os ‘filhos de Sadoc’ de Qumrã. Pode-se considerá-los como os descendentes do sacerdócio e da aristocracia da épocados Macabeus, abertos para o helenismo e mantendo fidelidade à dinastia dos Asmoneus. Aparecem como um grupo organizado no tempo de João Hircano (135-104) e intervêm constantemente na vida política do país, sobretudo por intermédio do sumo sacerdote e do Sinédrio”.
De início, são eles portanto os chefes da resistência aos ímpios, mas, para garantir a vitória da sua causa, devem procurar apoio no exterior e sobretudo junto aos romanos, negociando com seus adversários diretos, para não botar todo o povo ao extermínio. Esses contatos os introduzem na civilização grega na qual nem tudo é mau e que é a dos senhores. A história dos Asmoneus e do grupo saduceu que os sustenta mostra um progresso cada vez maior do luxo e dos gostos helenísticos; isso aparece sobretudo no comércio entre a Grécia e a Palestina, comércio importante: sem ele, Hircano II não teria recebido como sinal de reconhecimento a coroa de ouro de Atenas e sua estátua não teria sido erigida nesta cidade. E Jônatas não resistirá à coroa de ouro que lhe oferece Alexandre Balas, nomeando-o sumo sacerdote, certo de que assim conquistará um amigo cujos sentimentos poderá dominar (I Mc 10,15-20).
No plano religioso, eles têm o poder sobre o Templo e portanto sobre o culto, e sobre o Sinédrio, até 76 a.C., data da morte de Alexandre Janeu. No fim da vida, este compreendeu que é perigoso governar apoiando-se num só partido e pede a rainha Alexandra que dê um lugar ao partido dos fariseus. Esta faz entrar no Sinédrio alguns escribas que, bem depressa, monopolizarão todo o poder religioso. Os saduceus perdem a chance de reagir porque seu chefe, o sumo sacerdote, depende totalmente do poder civil. São, por isso, totalmente sem prestígio no meio do povo simples.
A fé saducéia, pelo que dela sabemos, se explica bem nesse contexto; eles são muito apegados ao Pentateuco, mas só a ele; desconfiados em relação aos profetas, desprezam os Escritos; consideram como heresia inovadora todas as tradições novas, influenciadas pelas civilizações vizinhas e enaltecidas pelos fariseus. Assim, fazem questão de mostrar sua fidelidade ao Deus dos Pais e da Aliança, fidelidade que é um trunfo considerável para justificar seu modo de vida. Negam, com efeito, a ressurreição, apoiando-se na concepção tradicional duma retribuição imediata e material: já que possuem a riqueza e o poder, quer dizer que Deus os abençoa e que são justos! Aceitar um juízo e uma retribuição após a morte seria perder a segurança: é angustiante viver num mundo em que “os primeiros serão os últimos”.
O escritor Fávio Josefo (que é fariseu e não os estima) declara que “disputar contra os mestres da sabedoria que eles seguem é considerado por eles uma virtude”: quanto mais a lei é precisa e limitada, maior é o campo em que ela não se aplica e em que se goza duma total liberdade. Encontra-se uma aplicação concreta desse princípio nas regras de pureza: os saduceus julgam que elas só valem no recinto do Templo. Isso tem duas conseqüências: a pessoa é livre fora do Templo e livre de ter contatos com os pagãos (ao contrário dos fariseus Mc 7,3-4); a pureza, e portanto a santidade, é reservada aos que estão freqüentemente no templo, a saber, aos chefes dos sacerdotes: essas regras praticamente não se aplicam ao povo e pode-se exigir dele qualquer coisa, inclusive os trabalhos forçados.
No século 1 da nossa era, os saduceus estão em má situação: Roma lhes tirou, desde Pompeu, o poder político e parte do poder religioso (o sumo sacerdote já não é escolhido por Deus, segundo a descendência, mas pelo imperador mediante seu legado); os fariseus os despojaram do que lhes resta de autoridade: mesmo no seu domínio próprio, o culto, têm de seguir as proposições dos fariseus por causa da pressão do povo.
No entanto, investidos da sua dignidade de nobres, parece que tiveram até o fim atenção para o povo tanto quanto para com seus próprios negócios: Josefo no-los mostra muitas vezes intervindo em favor do povo junto dos procuradores ou contra os procuradores junto do imperador. É verdade que têm consciência de que sua prosperidade está ligada à tranqüilidade do povo: são portanto os primeiros a querer refrear qualquer movimento popular que ameace acarretar represálias. São os primeiros responsáveis pela morte de Jesus (Jo 11,49-50). Foi no entanto um deles que desencadeou a catástrofe de 70, interrompendo, em 66, o sacrifício pelo imperador. Já que a única razão de ser que lhes restava, o Templo, terminou em 70, eles também desapareceram juntamente com o Templo.

Os Fariseus.
Os fariseus (significa: piedosos) fazem de modo sensacional sua entrada na história no tempo de Alexandre Janeu (103-76): ousam opor-se a este rei sumo sacerdote que lhes censura a influência sobre o povo; isto provocou o começo duma guerra civil de seis anos, durante a qual milhares de judeus foram crucificados pelo rei. Mas os fariseus saíram da guerra vitoriosos e exerceram grande influência no reinado de Alexandra.
As origens deles são de fato mais longínquas: são relacionados com o grupo dos hassidim e com Esdras, o sacerdote. Os hassidim são os judeus piedosos que, no tempo da restauração nacional animada por Esdras, entendem que não basta reconstruir o Templo, as muralhas e a cidade de Jerusalém, que é preciso também reconstruir uma vida espiritual capaz de animar essas pedras, uma vida espiritual fundada sobre o estudo da Lei para conhecer a vontade de Deus e sobre a oração. Esses hassidim são os transmissores, se não os criadores, de numerosos salmos.
Durante a crise macabéia, esses piedosos não parecem unânimes: no começo, estão do lado de Matatias, mas desde o tempo de Judas Macabeu, alguns deixam o movimento, pois, a seu ver, a luta de Judas já tem um caráter mais político que religioso.
Assim se vê esboçarem-se as diferenças entre três grandes correntes judaicas. Os saduceus exercem uma atividade política de compromisso com o poder, para recuperar tudo que podem; os zelotas recusam todo compromisso e lutam ativamente para expulsar o ocupante; os fariseus, próximos ideologicamente deste últimos, recusam o engajamento político ativo e pensam obter a salvação do povo e do país por sua piedade, favorecida por um estudo sério da Lei. É por isso que, por exemplo, aceitam o sumo sacerdote Alcimo, mesmo que ele já esteja imbuído do helenismo, porque com ele os sacrifícios rituais podem recomeçar no Templo e Deus é, portanto, de novo honrado.
Esta atitude de respeito para com o sumo sacerdote seja ele quem for, ligada a uma desconfiança do poder político, vai continuar entre os fariseus. Quando Pompeu vem ao Oriente e se lhe pede, em 63 a.C., para servir de juiz entre Hircano II e Aristóbulo II, o povo “pediu para não ter rei: pois a tradição é que se obedeça aos sacerdotes do Deus que eles honravam e esses homens (Hircano e Aristóbulo), descendentes dos sacerdotes, quiseram levar o povo a mudar de governo para reduzi-lo à escravidão”. Esta delegação do povo é, de fato, a dos fariseus. Mais tarde, Herodes Magno não conseguirá fazê-los prestar a ele o juramento de fidelidade.
Esses fariseus, homens piedosos, conhecem bem a Lei, esforçam-se primeiro por vivê-la eles próprios e consideram como seu dever difundi-la ao seu redor, o que fazem, sobretudo na sinagoga. Desconfiança do poder e zelo pela educação das massas vão dar aos fariseu uma audiência enorme junto ao povo simples, a tal ponto que os chefes deverão sempre levar em conta a sua opinião: o sumo sacerdote deve submeter-se à decisão deles, mesmo num ato tão estritamente reservado como o acesso ao Santo dos Santos no dia do Kipur. Herodes Magno parece ter mais consideração para com eles do que para com os saduceus: ao subir ao trono elimina diversos opositores, mas se contenta com impor uma multa aos fariseus que recusam o juramento. No século I da nossa era, se os procuradores parecem pender mais para o lado dos saduceus, os fariseus encontram forte apoio nos reis Agripa I e II; dado o seu lugar no Sinédrio, são eles verdadeiramente os defensores do povo e se apresentam como o primeiro partido que é ao mesmo tempo político e religioso.
Oriundos do povo, constituindo um partido do povo, os fariseus procuram ser separados do povo; eles o consideram por demais ignorante da Lei e sobretudo impuro, por não respeitar suficientemente a Lei de santidade, expressão da própria vontade de Deus. Desta Lei de Moisés, só uma parte foi posta por escrito, sendo o resto transmitido oralmente de Moisés aos profetas e depois aos sábios ou escribas, graças a um ensino esotérico que, no século I, torna-se cada vez mais importante. Essa Lei oral tem o mesmo valor ou até mais que a Lei escrita. E é na medida em que se respeita toda essa Lei, escrita e oral, que se adquirem os méritos necessários à salvação e ao envio do Messias que estabelecerá enfim o Reino de Deus, expulsando ao mesmo tempo os romanos e todos os outros ocupantes.
O farisaísmo era o único movimento religioso que tinha profundidade bastante para resistir à catástrofe do ano 70; é dele que em Jâmnia, na costa mediterrânea, renascerá o judaísmo.

Os Essênios.
Os essênios estão ligados, em grande parte, às descobertas dos “manuscritos do mar Morto” a partir de 1947. Mas antes que eles nos abrissem assim sua biblioteca, eram conhecidos por Josefo.
Sua história e sobretudo sua origem não estão ainda perfeitamente esclarecidas. Parece certo, que por ocasião da perseguição no tempo dos Macabeus, alguns descendentes da família de Sadoc, os “filhos de Sadoc” refugiaram-se no deserto; após uma crise no seio do grupo, os mornos voltam para casa, ao passo que os corajosos vão para Qumrã onde encontram os primeiros exilados da perseguição. Esta fusão de leigos exilados e de sacerdotes sadoquitas explicaria bem sua organização, muito hierarquisada, que dá em todos os escalões um lugar insubstituível aos sacerdotes: filhos de Sadoc.
O que é certo em todo o caso é seu apego, ainda mais escrupuloso que o dos fariseus, às regras de pureza e seu tradicionalismo absoluto em certos pontos: assim é que recusam o calendário selêucida para voltar ao antigo. Para serem puros, tomam diversos banhos por dia e, sobretudo, renunciam a ir ao templo, por demais manchado na sua opinião, depois que se alterou o calendário e que os sumo sacerdotes não são mais sadoquitas. Preferem substituir os holocaustos pela santidade da sua vida, aguardando que Deus queira restabelecer o culto e o Templo na sua pureza original.
Consideram-se como o exército santo de Deus, que deverá combater na terra e aniquilar todos os ímpios no momento em que Deus lhes der o sinal; nesse momento, os anjos do céu também combaterão contra os demônios, num combate que garantirá a vitória final de Deus, o aniquilamento de todos os ímpios e o triunfo dos santos. Querem estar sempre ritualmente prontos para essa guerra santa, mas, ao contrário dos zelotas, recusam-se a iniciá-la enquanto Deus não lhes der o sinal.
Esses essênios são, como Josefo nos descreve, um grupo muito fechado, mas fascinante para os judeus que querem se dedicar totalmente a Deus. Desapareceram com a guerra judaica de 66.

Os Samaritanos.
Embora não pertençam propriamente falando ao judaísmo e não constituam uma seita judaica, os samaritanos devem ser considerados como uma comunidade característica do ambiente palestinense. Poder-se-ia caracterizá-los ao mesmo tempo por sua proximidade e por sua oposição ao judaísmo. Tanto quanto os judeus e mais que eles ainda, os samaritanos são os homens da Lei, representada pelos cinco livros do Pentateuco; seguem suas prescrições com rigor no que se refere, por exemplo, à circuncisão, ao sábado, ou às festas. Sua liturgia e sua literatura religiosa celebram o Deus único, Moisés, seu intérprete, a libertação do Egito e a revelação do Sinai. Mas uma divergência fundamental se manifesta pela rejeição dos outros livros do AT e sobretudo pela recusa de reconhecer Jerusalém como metrópole religiosa e o Templo de Salomão como santuário central.
Para eles, o verdadeiro santuário da terra santa e o único lugar de culto legítimo é o monte Garizim, que domina a antiga localidade de Siquém. É no alto desta montanha que celebram as grandes festas, sobretudo a páscoa segundo o ritual de Ex 12. O Garizim, lugar da bênção segundo Dt 11,29 e 27,12, é aliás mencionado num décimo mandamento que aparece na versão samaritana do Decálogo.
Há um messianismo entre os samaritanos que esperam o Taheb, aquele que vem de novo. Não é um descendente de Davi, como o Messias judeu, mas uma espécie de novo Moisés, o profeta de Dt 18,15, que virá para colocar tudo em ordem no final dos tempo.
É difícil reconstruir com certeza a história das origens desta comunidade. De acordo com a narrativa de II Rs17, depois da queda do reino do norte e da tomada de Samaria em 722, os assírios deportaram parte dos habitantes e estabeleceram no país colonos mesopotâmicos. Estes teriam fundado, com o auxílio de um sacerdote do lugar, um culto sincretista. Embora a tradição samaritana coloque a ruptura em época ainda mais remota, quando se abandonou Siquém por Silo, hoje em dia prefere-se considerar como mais tardia a constituição da “seita” samaritana. Pode-se pensar no retorno do Exílio, na época de Zorobabel e de Neemias, oi no momento da conquista de Alexandre (332): foi então, segundo Josefo, que os samaritanos teriam constituído um Templo sobre o monte Garizim.
As relações foram com freqüência muito tensas entre Jerusalém e a Samaria, mas sempre de uma estreita comunidade de destino. Alguns laços se mantiveram, influências recíprocas se exerceram entre judeus e samaritanos; estes, aliás, estão mais próximos, sob certo aspecto, dos saduceus que dos fariseus. Consideram-se como os herdeiros das tribos do norte que ficaram fiéis à fé de Moisés. Sua oposição ao Templo de Jerusalém pode tê-los aproximado dos essênios como de certas correntes do cristianismo primitivo.

Os zelotas
Os zelotas eram um grupo político-religioso. Eram guerreiros que desejavam expulsar os romanos via luta armada e com isto apressar a vinda do reino de Deus. Havia um discípulo de Jesus que era zelota. Qual era o seu nome? (Mateus 10.4) Todavia, Jesus não concordava com o uso da violência para implantar o seu reino.


 Ler em 3 grupos. Cada grupo lê tudo mas faz um resumo segundo o esquema a seguir e procura fazer uma análise da conjuntura brasileira atual e uma análise das posturas das diversas igrejas cristãs.
Grupo 1 – 1ª Etapa: dos anos 30 a 40 até 2ª Etapa: dos anos 40 a 70
Grupo 2 – A Condição Social dos Cristãos e a Atuação das Mulheres.
Grupo 3 – O contexto dos anos 70 a 135 d. C

1. O Ambiente das Primeiras Comunidades Cristãs #
1ª Etapa: dos anos 30 a 40 - O anúncio da Boa Nova do Reino entre os Judeus.
É a etapa do assim chamado “Movimento de Jesus”. Estas primeiras comunidades, antes e depois da morte de Jesus, eram sustentadas e animadas por missionários e missionárias ambulantes. Estes e estas, diferentemente dos missionários judeus, não levavam nada no caminho, nem sacola, nem dinheiro, mas confiavam na solidariedade do povo. Na primeira casa em que eram recebidos, ali permaneciam, vivendo a vida do povo, partilhando comida, trabalho e salário e dedicando uma atenção especial às pessoas excluídas (Mt 10,8; Lc 10,9).
Nesta fase inicial, os que aceitavam o anúncio do Reino eram vistos como um dos muitos movimentos de renovação e de contestação no interior do judaísmo. Eles formavam pequenas comunidades ao redor das sinagogas, à margem do judaísmo oficial. O crescimento, tanto geográfico como numérico, obrigou-os a criar novas formas de organização, como por exemplo, a escolha de novos animadores e missionários, chamados diáconos (At 6,2-6). Muitas passagens dos evangelhos se referem a estes primeiros missionários (Lc 9,1-6; 10,1-9.17-24; Mt 10,5; Mc 6,7-13). Depois da morte de Jesus, a Boa Nova se concentrava mais no anúncio do Reino, manifestado na Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus (At 2,23-36; 3,14-15; 4,10-12). A Bíblia deles era a Escritura Sagrada dos judeus. Onde as palavras da Escritura dos judeus não eram suficientes, os cristãos começavam a lembrar palavras e gestos do próprio Jesus, para que servissem de orientação e de animação na caminhada (At 10,38; 11,16). Aqui está o começo dos nossos evangelhos.
Havia uma variedade de grupos e tendências o que revela a riqueza da vivência da Boa Nova do Reino. Revela também a fonte das muitas tensões e conflitos que havia.

A Mudança da Conjuntura.
A conjuntura política na Palestina mudou profundamente quando o Imperador Calígula decidiu impor o culto ao Imperador como fator de unificação do Império. Ele obrigava os povos a colocar a estátua do Imperador nos templos das respectivas divindades. No ano 39, deu ordem expressa de introduzi-la no Templo de Jerusalém. A imagem de um imperador pagão no Santo dos Santos da casa de Javé! Duzentos anos antes, um decreto semelhante de Antíoco Epífanes desencadeou a revolta dos Macabeus. Também agora, o protesto popular foi imediato e radical. Flávio Josefo relata alguns incidentes que ocorreram, sobretudo na Galiléia. Quando Petrônio, o Legado Romano na província da Síria, veio com um exército para executar a ordem do Imperador, dez mil camponeses se reuniram diante do palácio em Ptolemaida para protestar. O mesmo protesto se repetiu em Tiberíades. Petrônio perguntou: “Vocês querem guerra?” Resposta: “Não queremos guerra! Preferimos morrer a ver transgredida a nossa Lei!” E Flávio Josefo comenta: “Eles se jogaram no chão, esticaram o pescoço e disseram estar prontos para serem mortos. E fizeram isto durante quarenta dias, juntos, e neste tempo não trabalhavam no campo, enquanto a época do ano exigia deles que fossem semear”.
Graças à intervenção do próprio Petrônio e de Herodes Agripa, neto de Herodes Magno, a execução do decreto foi sendo adiada. No fim, o assassinato de Calígula em 41 suspendeu a ameaça. Após o assassinato de Calígula, o mesmo Agripa contribuiu para que Cláudio fosse proclamado o novo imperador. Em troca Cláudio o nomeou Rei de toda a Palestina. Depois da morte de Herodes Agripa em 44 (At 12,23), Roma interveio, mudou o regime, e toda a Palestina passou a ser uma Província romana, governada diretamente por um procurador com residência em Cesaréia Marítima.
Às vezes se confundem os quatro Herodes que aparecem no Novo Testamento:
1. Herodes, chamado: o Grande, governou sobre toda a Palestina de 37 a 4 antes de Cristo. Ele aparece no nascimento de Jesus (Lc 2,1). Matou as crianças de Belém (Mt 2,16).
2. Herodes, chamado Antipas, governou sobre a Galiléia de 4 antes a 39 depois de Cristo. Ele aparece na morte de Jesus (Lc 23,7). Matou João Batista (Mc 6,14-29)
3. Herodes, chamado Agripa I , governou sobre toda Palestina de 41 a 44 depois de Cristo. Aparece nos Atos dos Apóstolos (At 12,1.20). Matou o apóstolo Tiago (At 12,2).
4. Herodes, chamado Agripa II, filho de Agripa I, governou Cálcis e outros territórios ao norte da Galiléia de 48 a 95. Aparece nos Atos no julgamento de Paulo (At 25,13-26.32).
A Influência da Conjuntura sobre a Vida das Comunidades Cristãs.
A nova conjuntura repercutiu nas Comunidades Cristãs, cujos membros eram todos judeus, e dificultava a convivência entre eles. De um lado, fortaleceu-se a tendência dos que insistiam na observância da Lei de Moisés e das tradições judaicas. Este grupo, mais ligado a Tiago e aos “irmãos de Jesus”, segue a tendência geral do povo judeu e começa a evitar o contato com os estrangeiros (Gl 2,11-13). São eles que agora sofrem a perseguição por parte de Herodes Agripa (At 12,1-3). De outro lado, pessoas como Barnabé e Paulo, seguidores do rumo de Estêvão, já não se sentem à vontade na comunidade de Jerusalém. Eles saem e procuram um outro lugar para viver e trabalhar, e lá eles passam a anunciar a Boa Nova (At 9,29-30). Eles souberam ler os sinais dos tempos. Iniciou-se uma nova etapa. Com outras palavras, a crise provocada pela mudança da conjuntura favoreceu a missão para fora da Palestina.
2ª Etapa: dos anos 40 a 70 - A Expansão Missionária no Mundo Grego
O levante dos judeus e a brutal destruição de Jerusalém pelos romanos (70) criaram uma nova situação que marcou o fim desta segunda etapa.

A Passagem.
É o período da lenta e difícil passagem do Oriente para o Ocidente, da Palestina para a Ásia Menor, Grécia e Itália, do mundo cultural judeu para o mundo cosmopolita da cultura grega, de uma realidade de mundo rural para uma realidade de mundo urbano, de comunidades mais organizadas que surgiram ao redor da casa (oikos) nas periferias das grandes cidades da Ásia e da Europa.
Foi o povo de Antioquia que começou a perceber a diferença entre os judeus e os que acreditavam em Cristo. Para distinguí-los deu a estes o nome de Cristãos (At 11,26).
Assim, Tiago e a comunidade de Jerusalém tornaram-se símbolos daqueles que exigiam dos pagãos convertidos a observância da Lei de Moisés (At 15,5.20-21; Gl 2,12). Barnabé, Paulo e a comunidade de Antioquia tornaram-se símbolo da abertura para os não judeus. Eles não exigiam a observância da Lei nem a circuncisão para os pagãos que queriam converter-se (Gl 2,6; At 15,1-2.12). a comunidade de Antioquia chegou a competir em autoridade e influência com a de Jerusalém.
Se Lucas, na segunda parte dos Atos (16 até 28), fala unicamente de Paulo, não é porque Paulo fosse o único missionário, mas sim porque Paulo, de certo modo, é apresentado como símbolo de todos os missionários que, neste período, souberam levar a Boa Nova pelo mundo afora. De fato, Paulo nunca teria feito o que fez, sem a ajuda dos companheiros de viagem, sem as pessoas amigas, mulheres e homens, que acolhiam em suas casas (At 16,15.34; 18,3.7) e contribuíam com alguma ajuda para as suas necessidades (Fl 4, 15-16; II Co 11,9).
Havia ainda os apóstolos como Pedro de cuja atividade missionária sabemos pouco (At 9,32-12,17). Pouco sabemos das atividades de Mateus, Bartolomeu, André, Tiago, Tomé, Tadeu, Simão o zelota e outros. Havia ainda sete diáconos (At 6,5). Só sabemos um pouco da atividade de Filipe (At 8,5-8.26-40) e de Estêvão (At 6,8-8,2). Dos outros só o nome (At 6,5). Havia ainda os coordenadores e as coordenadoras das muitas comunidades em todas estas regiões (At 14,23; 16,15).

2. A Condição Social dos Cristãos e a Atuação das Mulheres. #
Na 1ª carta de Pedro se percebe que grande parte da comunidade era de migrantes e estrangeiros (I Pe 1,1-2,11).
Dentro da cultura da época, a mulher não podia participar da vida pública. A sua função era na vida da família; a sua influência, na organização interna da casa (oikos). Ela só poderia ter um papel ativo na Igreja, se esta funcionasse no interior das casas. Ora, as comunidades fundadas neste segundo período se reuniam não em lugares públicos, mas sim nas casas do povo: na casa de Priscila e Áquila, tanto em Roma (Rm 16,5), como em Éfeso (I Co 16,19); na casa de Filêmon e Ápia em Colossos (Fm 2); na casa de Lídia em Filipos (At 16,15); na casa de Ninfa em Laodicéia ( Cl 4,15); nas casas de Filólogo e Júlia, Nereu e sua irmã e de Olímpas (Rm 16,15). A criação de “Igrejas Domésticas” possibilitou maior influência e participação da mulher.
Nas recomendações finais da carta aos Romanos, transparece algo do lugar que as mulheres ocupavam na vida das comunidades. Paulo recomenda “Febe, nossa irmã, diaconisa da comunidade de Cencréia. Ela tem ajudado a muita gente e a mim também” (Rm 16,1-2).

Início do Novo Testamento.
Neste período de 40 a 70 começa a surgir o que nós chamamos o Novo Testamento. A experiência da vida nova em Cristo era tão grande e os problemas vividos eram tão diferentes, que as palavras da escritura dos judeus já não bastavam para orientar os cristãos. O Novo Testamento surge do esforço feito para verbalizar a nova experiência e para encontrar uma solução para os novos problemas. Nestes anos Paulo e seus companheiros escrevem para animar as comunidades por eles fundadas. Estes novos escritos eram conservados pelas comunidades e acrescentados à lista dos Livros Sagrados. Aos poucos, começavam a ser vistos como uma nova expressão da Palavra de Deus, ao lado da Escritura Sagrada dos judeus.
Ao mesmo tempo, continua e se aprofunda o esforço para recolher, reler e transmitir as palavras e gestos de Jesus. Em torno do ano 45, surgem coleções das palavras de Jesus que foram utilizadas mais tarde pelos evangelistas para compor os seus evangelhos. No fim da 2ª etapa, em torno do ano 70, se conclui a redação final do Evangelho de Marcos.

Mudanças de Conjuntura e a sua Influência na Vida das Comunidades.
Em 68, em conseqüência da política centralizadora de Nero, o Império é dilacerado por guerras civis. Em toda a parte, tanto nas províncias como no próprio centro do Império, estouram revoltas. Vários pretendentes se autoproclamam Imperador. Dentro de um único ano, Roma teve cinco imperadores! A confusão era grande. No fim, vence Vespasiano, apoiado pelas províncias orientais.
Neste contexto conturbado de revoltas e golpes militares, três acontecimentos causam uma crise muito grande na vida das comunidades cristãs: a perseguição de Nero em Roma (64); o levante e o massacre dos judeus em várias partes do Império, sobretudo no Egito (66) e a revolução judaica na Palestina (66) que levou à brutal destruição de Jerusalém pelos romanos (70). Um quarto acontecimento mais interno às comunidades, a saber, a morte dos apóstolos e das testemunhas da primeira geração, fez aumentar esta crise e contribuiu para que a vida das comunidades entrasse numa nova fase.
Devido a todos estes fatores da conjuntura internacional, judeus e cristãos perdem os privilégios conquistados pelos judeus ao longo dos anos, desde os tempos de Júlio César. Por exemplo, a isenção do culto ao imperador. As instituições do Império são mobilizadas contra os cristãos com uma facilidade cada vez maior por pessoas que se sentem prejudicadas nos seus interesses pela mensagem cristã (At 13,50; 14,5; 16,19-24; 17,5-8; 18,12; 19,23-40). Além disso, separados dos judeus, os cristãos tornam-se alvo de perseguições cada vez mais fortes por parte do Império Romano. No fim do primeiro século, sob o governo de Dominiciano, junto com outros cultos mistéricos, eles são declarados “Religio Ilícita”.

A Diversidade de Grupos e tendências.
O que mais chama a atenção nestes primeiros quarenta anos da história das comunidades cristãs é a diversidade de grupos, movimentos, tendências e doutrinas. Parte desta diversidade é herança do judaísmo: Fariseus (At 15,5), Jonaitas (At 19,1-7), Prosélitos (At 13,43), Tementes a Deus (At 10,1; 18,7; 22,12), Samaritanos (At 8,5-6; Jo 4,39-40), movimentos messiânicos (Mt 24,4-5.23-24), os falsos irmãos (Gl 2,4; II Co 11,26), os chamados Balaamitas (Ap 2,14). Parte vem da origem diversificada de pessoas e lugares: comunidades fundadas por Jesus na Galiléia, outras fundadas por Paulo, Apolo, Pedro (I Co 1,12), outras ligadas a João, a Tiago (At 12,9; 21,18; Gl 1,19; 2,9) e aos irmãos de Jesus (Mc 3,31-35). Outra parte é fruto da inserção no mundo helenista e da assimilação da sua cultura na vida das comunidades: Nicolaítas (Ap 2,6), Gnósticos (Cl 2,16-19). Alguns grupos são aceitos com naturalidade, outros são condenados como heréticos.
(Cristianismos Originários. In: Ribla nº 22. Vozes, 1995)

3. O contexto dos anos 70 a 135 d. Cristo #
1. A revolta dos judeus e a destruição de Jerusalém
Desde os tempos dos Macabeus (167 a.C.), a situação sócio-política da Palestina tornava-se cada vez mais confusa e pesada, sobretudo depois do governo desastrado de Arquelau (4 a.C. a 6 d.C.). Essa difícil situação transparece nas parábolas de Jesus. Por exemplo, o dono de terra que exige mais do que pode (Mt 25,26). Operários desempregados à espera de um trabalho (Mt 20,1-7). O patrão que mora longe e deixa tudo entregue ao caseiro (Mt 21,33). O povo que vive cheio de dívida, ameaçado de ser escravizado (Mt 18,2326). O desespero e a exploração que corrompem e levam o pobre a assaltar (Mt 21,34-39) e a explorar o próprio companheiro (Mt 18,27-30; Mt 24,48-50). A insegurança das estradas por causa dos assaltos (Lc 10,30). Funcionários corruptos que se enriquecem com os bens dos outros (Lc 16,1-7). Riqueza que ofende os pobres (Lc 16,19-21).
Ainda durante a vida de Jesus, e sobretudo depois, as explosões populares foram crescendo (Lc 13,1; 23,19; At 5,37; 21,38), novos partidos iam surgindo ou se organizavam: zelotes, sicários. A situação se radicalizava. A incapacidade e a brutalidade dos governadores romanos, juntamente com a corrupção e a luta pelo poder da classe dirigente da Judéia, deixou o povo sem proteção e sem alternativa. O Zelo tomou conta de tudo e no ano 66 explodiu numa revolta generalizada. Roma perdeu o controle da situação. Estimulados talvez pelas idéias do movimento apocalíptico, muitos viam no levante contra Roma a chegada do Dia de Javé!
Sacerdotes, saduceus e anciãos, forçados a entrar na revolta contra Roma, faziam o possível para manter o controle da situação. Mas pouco adiantou. As legiões romanas foram reconquistando a Galiléia e a Judéia, à espera do momento oportuno para o assalto final contra Jerusalém. Enquanto isso, na cidade de Jerusalém, grupos rivais lutavam entre si pela hegemonia. Dois grupos de judeus, porém, não quiseram participar da rebelião: fariseus e cristãos. Eusébio de Cesaréia, historiador cristão, informa que os judeus cristãos se retiraram para Pela, cidade que ficava ao Norte no outro lado do Jordão. Seja como for, o certo é que os judeus rebeldes nacionalistas confiavam menos nos irmãos judeus que tinham aderido à fé em Jesus. É possível que esta retirada esteja relacionada com a palavra de Jesus: "Quando vos perseguirem numa cidade, fugi para a outra!" (Mt 10,23). Quanto aos judeus fariseus, Flávio José, historiador judeu, conta que, durante o cerco de Jerusalém pelos romanos, o venerando Iohanan ben-Zakai, o líder dos fariseus, se fez carregar ostensivamente para fora da cidade em sinal de desacordo com o andamento dos fatos. Tanto para os cristãos como para os fariseus, a revolta contra Roma não era expressão da chegada do Dia de Javé.
Pouco depois da Páscoa do ano 70, com a cidade de Jerusalém ainda cheia de peregrinos, Tito atacou com quatro legiões. O cerco durou vários meses, de maio a agosto. Foi um assédio cruel de muita fome e muitas mortes. Finalmente, Jerusalém foi tomada e totalmente destruída. O templo foi arrasado e, onde antes se ofereciam os sacrifícios a Javé, Tito mandou oferecer sacrifícios em honra de Júpiter, o deus dos romanos. Dois anos e meio depois, o último resto da resistência terminou com o suicídio coletivo dos revoltosos na fortaleza de Massada. Preferiram morrer pelas próprias mãos a cair nas mãos dos infiéis. A destruição de Jerusalém foi um abalo para iodos, fariseus e cristãos. A extrema crueldade e violência da repressão romana, sem nenhuma piedade, acentuou no povo o sentimento de total impotência diante do poder do império.
Ao mesmo tempo, nos anos 68 a 70, em Roma - centro do poder depois da morte de Nero, revoltas e golpes militares se sucediam em ritmo acelerado. A confusão era tanta que parecia o fim do império. O quadro seguinte mostra a seqüência dos fatos:
29 a.C. - 14 d.C. Augusto, primeiro Imperador, decreta a Pax Romana
14-37 Tibério nomeia e destitui Pilatos (26-36)
37-41 Calígula quer sua estátua no Templo de Jerusalém
41-54 Cláudio expulsa os judeus de Roma "por causa de um certo Chrestos"
54-68 Nero persegue os cristãos em Roma (64)
68 Vindex lidera uma rebelião na Gália
Galba lidera a revolta das legiões na Espanha
69 Otônio lidera o golpe militar da guarda pretoriana em Roma
Vitélio lidera a rebelião das legiões na Germânia
69-79 Vespasiano lidera a rebelião das legiões na Palestina e no Egito
Vespasiano Imperador. Seu filho Tito destrói Jerusalém em 70
Todos estes acontecimentos - rebeliões, golpes militares, desintegração do império, rebelião dos judeus, destruição de Jerusalém eram como adubo a alimentar o movimento apocalíptico que já vinha avançando entre as camadas populares da Palestina desde os tempos dos macabeus. Assim, a profanação do Templo por Tito, vista à luz da profecia de Daniel (Dn 9,27), tornou-se imagem e símbolo apocalíptico de destruição e de condenação (1Mc 1,54; Mc 13,14; Lc 21,20-24). Nos sobreviventes do desastre, tanto judeus como cristãos, a destruição de Jerusalém marcou o fim de um período e o começo de outro.

2. A progressiva separação entre judeus e cristãos
O levante dos judeus da Palestina contra Roma, em vez de ser a tão esperada chegada do Dia de lavé, foi a causa da destruição dos grupos que dele tinham participado. Só sobreviveram os que não participaram: os judeus da linha farisaica e os judeus que tinham aderido à fé em Jesus. Terminado o confronto com Roma, ambos se consideravam os legítimos herdeiros e começavam a lutar entre si pela posse da herança. Assim, a partir do ano 70, cresce a separação entre judeus e cristãos, e o relacionamento entre os dois caminha lentamente para uma ruptura definitiva que acabou acontecendo nos anos 90. Essa lenta e definitiva separação entre judeus e cristãos talvez seja um dos acontecimentos mais trágico , s e mais lamentáveis da história do Ocidente. Mistério incompreensível! (Rm 9-11).
Depois da destruição de Jerusalém, os fariseus se reagrupam na Galiléia e começam a reorganização do judaísmo. O rabino Iohanan ben-Zakaí funda a assembléia de Jâmnia, onde se estabelecem as normas para definir quem é judeu e quem não é, quem pode ser rabino e quem não pode. Em Jâmnia se estabelece a lista dos livros reconhecidos como inspirados, patrimônio da fé judaica. Nesta lista não figuram os livros escritos ou traduzidos no ambiente da diáspora, nem os do ambiente dos apocalípticos que tinham resistido à elite de Jerusalém. Devido à rápida divulgação da fé em Jesus entre os próprios judeus, a reorganização do judaísmo teve um cunho de defesa contra os judeus cristãos que pretendiam ser os herdeiros.
Os cristãos também se reorganizam nesse mesmo período. E também entre eles a reorganização se faz, em parte, em oposição aos irmãos judeus que os acusavam de infidelidade à Lei de Deus e os excluíam da sinagoga. Os cristãos aceitam como inspirados vários livros escritos ou traduzidos no ambiente da diáspora: os dois livros dos Macabeus, as novelas populares de Judite, Tobias, alguns fragmentos de Ester, os livros de Sabedoria, do Eclesiástico e de Baruc e alguns trechos de Daniel - a história de Suzana (Dn 13) e a lenda de Bel e o Dragão (Dn 14). Mas a maior parte da literatura apocalíptica também não entrou no cânon dos cristãos.
Quando, sob o imperador Trajano (98-117), a perseguição se fez tanto contra judeus como contra cristãos, o perigo comum não levou a uma defesa comum. A perseguição não fez com que eles se reencontrassem como irmãos, membros do mesmo povo de Deus. Pelo contrário! Acusações e perseguições mútuas levaram-nos a separarse mais ainda. Esse ambiente polêmico se percebe no Apocalipse (Ap 2,9; 3,9). O conflito entre judeus e cristãos repercutiu no conflito entre os cristãos e o império, seja pela influência dos judeus junto às autoridades romanas, seja pela confusão que identificava cristãos e judeus como sendo da mesma religião, seja pelo desprezo maior por parte dos romanos pelo fato de os cristãos nem merecerem ser judeus e serem expulsos da sinagoga.

3. As muitas religiões e o avanço da pax romana
Na segunda metade do século I, o forte renascimento das nacionalidades e das religiões dos povos subjugados representava uma ameaça de desintegração para o império. Eram religiões ou doutrinas de dois tipos, muitas vezes misturadas entre si. Umas de linha gnóstica. Daí vem o nome gnosticismo. Gnose é uma palavra grega que quer dizer conhecimento. Para uma pessoa poder entrar em contato com a divindade, essas religiões ofereciam aos seus iniciados conhecimentos superiores. Havia vários graus de iniciação e de aprofundamento. O gnosticismo era uma religião ou tendência religiosa muito divulgada. Criava nos seus membros certa consciência de elite. Outras religiões eram de linha mistérica. Mysteríon é uma palavra grega que significa segredo ou algo escondido que se revela. Para uma pessoa poder entrar em contato com a divindade, essas religiões ofereciam aos seus iniciados uma participação em ritos e cultos secretos.
O avanço das religiões com seus cultos e mistérios revela o vazio que existia. Para fazer frente a esse perigo, a propaganda do império ensinava que a Paz dos Deuses tinha irrompido no mundo por meio da Pax Romana, cujo promotor divino era o próprio Imperador, chamado Deus et Dominus, Deus e Senhor. Era a religião a serviço dos interesses da ideologia dominante (Ap 13,4.14)! Montaram um sistema que controlava a vida do povo (Ap 13,16-17) e explorava os pobres para aumentar o luxo dos grandes (Ap 18,3.9.11-19).
Como uma espécie de Nova Era, a religião da Pax Romana juntamente com as outras tendências religiosas invadiam também as comunidades cristãs produzindo uma grande variedade de tendências e formulações, tanto na doutrina como na liturgia e na organização. Os nicolaítas, por exemplo, e outros grupos de que falam o Apocalipse de João e algumas das cartas pastorais, pertenciam provavelmente a essas tendências mistéricas (Ap 2,6.14-15, CI 2,8; I Tm 1,37; 4,1-2; 2Tm 2,16-18). 0 grupo que, na comunidade de Tiatira, investigava "as profundezas de satanás" (Ap 2,24) era provavelmente uma mistura de gnose com religião mistérica.
As fronteiras não eram nítidas. Nesse processo de discernimento e inculturação, vários elementos, tanto dos gnósticos e mistéricos como da religião do Império, foram assimilados pelos cristãos para expressar sua fé em Jesus Cristo. Outras comunidades, porém, assumiram uma atitude de defesa contra a invasão das doutrinas estranhas, como transparece na Carta aos Colossenses e nas cartas Pastorais.
A tensão entre o conhecimento crítico (gnose) como fruto de estudo ou de revelação e a participação no culto e no mistério de Deus (mysterion) que se revela no sacramento continua até hoje. Há grupos carismáticos que se recusam a um estudo crítico da Bíblia e da
Tradição e pedem apenas a participação exaltada em cultos e celebrações. Há outros grupos que se consideram superiores por causa do conhecimento crítico que possuem da realidade e da Palavra de Deus. O equilíbrio só se alcança quando se tem a coragem de assumir essa tensão como condição de vida, sem procurar a condenação dos que pensam de maneira diferente, mas sim, numa atitude de diálogo, corrigir-se e enriquecer-se mutuamente.

4. Perseguição crescente por parte do império
Os judeus tinham obtido um privilégio que os isentava de praticar certos gestos de culto ao imperador. Os cristãos, em vias de separação dos judeus, já não têm esse privilégio. Por isso, a sua recusa de cultuar o imperador, sem a cobertura da lei, torna-se motivo de perseguição. Vários escritos, sobretudo o Apocalipse, procuram animar as comunidades a não ceder nesse ponto, pois o único Senhor é Jesus Cristo!
É nesse mundo da Pax Romana e do culto ao Imperador "Deus e Senhor", mundo cheio de conflitos, que os cristãos avançam com sua mensagem: Jesus é o "Rei dos reis, Senhor dos senhores" (Ap 19,16). Para eles, Deus é um só. E se Deus é um só, Pai de todos, então todos somos irmãos. Por isso, em nome da sua fé, procuram viver a fraternidade. Compartilham seus bens (At 2,42-45; 4,32-35). Ensinam que todos são iguais (Gl 3,28; Cl 3,11). Pedem para romper ("sair") com o sistema injusto do império romano (Ap 18,4). Condenam os ricos que exploram os trabalhadores (Tg 5,1-6). E não é briga só de palavras, nem uma discussão sobre deuses no céu. Trata-se da organização da vida aqui na terra. A nova organização iniciada pelos cristãos, querendo ou não, ameaça o sistema do império! Um conflito aberto não podia demorar. Uma tempestade se armava.
De fato, uns trinta anos depois da morte de Jesus, em 64, o imperador Nero (54-68) decretou a primeira grande perseguição. Depois de Nero, os conflitos internos do império deixaram os cristãos em paz por algum tempo. Mas não era paz, Era apenas uma trégua. As comunidades eram como cupim: subvertiam o sistema do império por baixo. Por isso, por volta do ano 90, o imperador Domiciano decreta uma nova perseguição, desta vez mais violenta e mais organizada. Domiciano torturava os cristãos para que abandonassem sua fé. "Quando falamos em conflito com o império romano, não entendemos só os grandes conflitos com o governo central de Roma. Estes até que não foram muitos. Mas sim todo tipo de conflito que os cristãos tiveram com o sistema mantido pelo Império no mundo inteiro. Isto é, conflitos com a polícia, com a justiça, com a opinião pública, com a ideologia e a religião oficiais, com as autoridades locais, com os grupos de interesse ou de pressão".
Com o fim do século I, parecia ter chegado também o fim da caminhada das comunidades cristãs. Todas as portas estavam fechadas. O poder do mundo se voltava contra elas. Muitos abandonavam o Evangelho e passavam para o lado do Império. Na comunidade se dizia: "Jesus é o Senhor!", mas lá fora quem mandava mesmo como senhor todo-poderoso era o imperador de Roma.

5. Variedade de tendências nas comunidades
Uma coisa que chama a atenção e deve ser mencionada é a variedade de tendências que se reflete não só nos escritos, mas também na organização e nas práticas e crenças das primeiras comunidades. Ela já aparecia no período anterior, entre os anos 40 e 70, mas cresceu sobretudo depois do ano 70. São muitas as causas que alimentavam e enriqueciam esta variedade: as culturas diferenciadas dos povos, a variedade dos problemas que pediam respostas diferentes, as diferenças de classe, as diferentes tomadas de posição diante da política do Império Romano, a enorme variedade de doutrinas e religiões que invadiam o império, o conflito doloroso entre judeus e cristãos etc.
Ao longo dos primeiros dois séculos, todas essas tendências e grupos produziram escritos que refletiam tal variedade. Além dos Evangelhos, Atos, Cartas e Apocalipse, conservados no Novo Testamento, havia outros evangelhos, outras histórias, cartas e apocalipses, por exemplo, Evangelho dos Hebreus, Evangelho dos Doze ou dos Ebionítas, Evangelho dos Egípcios, Evangelho de Matias, Evangelho de Tomé, Evangelho de Filipe, Evangelho de Pedro, Evangelho de Judas, Evangelho de Eva, Evangelho de Bartolomeu, e outros. Viagens de Paulo, Viagens de Pedro, Viagens de João, Viagens de Tomé,
História de Tiago, Atos de Paulo, Viagens e ensinamentos dos apóstolos. Carta de Barnabé, Cartas de Clemente, Cartas de Inácio, Cartas de Policarpo, Didaqué, etc. Apocalipse de Pedro, Apocalipse de Paulo, e outros.
Como se pode perceber, havia muitos escritos. Nem todos foram reconhecidos como expressão da fé das comunidades. Havia muitas tendências. Nem todas foram aceitas. Várias delas foram abafadas pela tendência majoritária e acabaram num desvio da história. Por exemplo, os grupos de judeu-cristãos que, isolados e marginalizados, acabaram fora da Grande Igreja. Recentemente, os arqueólogos descobriram os vestígios da presença deste grupo nos arredores de Jerusalém no início do século II.
O trauma da destruição de Jerusalém provocou em judeus e cristãos uma revisão e uma reorganização generalizada, cujo reflexo perpassa tanto os livros cristãos do Novo Testamento como os da tradição judaica, escritos depois de 70 d.C. O medo de novas divergências e rebeliões levou ambos a um controle mais rígido para impedir ou podar os grupos e as pessoas que não seguiam a orientação da maioria. De um lado, crescia a divergência, de outro, começava, por isso mesmo, a insistência na disciplina.
Assim, entre os judeus crescia a influência da Grande Assembléia que funcionava como um órgão de controle. Da mesma maneira, neste período, surge entre os cristãos a Grande Igreja, chamada Oikoumene, Universal, Católica, todo mundo habitado, que procura representar a opinião das várias igrejas locais. As Cartas Pastorais, por exemplo, insistem na tradição e no magistério das lideranças para poder fazer frente aos problemas provocados pela crescente variedade. Nas cartas de Inácio de Antioquia e de Policarpo, do começo do século II, já transparece claramente a tríplice hierarquia de epíscopos, presbíteros e diáconos, que perdura até hoje. Termina a fase da revelação. Começa a fase da transmissão, da tradição, da institucionalização e centralização. O mesmo fenômeno se constata entre os judeus da linha farisaica que, no mesmo período, começam a elaboração da Mishna (Tradição).
A causa última desta variedade era a tensão fecunda entre gratuidade e observância. A gratuidade, nascendo do carisma, quer expressar--se em muitas e variadas formas. A observância, querendo controlar demais o comportamento, corre o perigo, como diz Paulo, de “extinguir o Espírito” (I Ts 5,19) e de assim matar a experiência da gratuidade.
(O sonho do povo de Deus. Coleção: Tua Palavra é vida, nº 7. Publicações CRB, Edições Loyola, 1997)




 6o Dia

2. A Prática de Jesus #

 Propomos três formas de abordar e viabilizar o estudo do tema: A Prática de Jesus. Pode-se escolher uma ou então usar as três (se houver tempo):
Projeto a) Quem é Jesus Cristo?
Projeto b) O Projeto de Jesus Cristo
Projeto c) O Perfil de Jesus Cristo


Projeto a) Quem é Jesus Cristo? #

 Cada um fala na plenária sobre o que sabe sobre Jesus Cristo e sua proposta.

 Ler na plenária o texto a seguir lendo todos os textos bíblicos indicados e conversar sobre os pontos principais da vida e prática de Jesus.
Quem é Jesus Cristo? #
Esta pergunta tentaremos responder olhando para a sua prática de vida.
Jesus assume os condicionamentos de seu tempo e os assume onde pesam mais, isto é, no meio dos pobres. "Sendo de condição divina, esvaziou-se a si mesmo e assumiu a condição de servo, um no meio de muitos" (Fp 2,6-7). "Sendo rico, se fez pobre" (2 Cor 8,9), "filho do carpinteiro" (Mt 13,55).
1. Nascido em Belém da Judéia (Mt 2,1), foi criado em Nazaré da Galiléia (Lc 4,16). Falava o aramaico com sotaque de judeu da Galiléia. Era vis¬to como judeu pela samaritana (Jo 4,9) e como galileu pelos judeus da Judéia (Mt 26,69).
2. A família de Jesus não é sacerdotal. Nasce leigo, pobre, sem a proteção de uma classe. Como todo judeu do interior, Jesus trabalhava como agricultor. Além disso, aprendeu a profissão de seu pai (Mt 13,55) e servia ao povo como carpinteiro (Mc 6,3).
3. Antes de nascer, Jesus já era vítima do sistema. O Imperador de Roma mandou fazer um recen-seamento em vista da cobrança dos impostos (Lc 2,1-3). Por isso, Jesus nasceu fora de casa (Lc 2,4-7). Logo depois de nascido foi perseguido pela tirania do rei Herodes (Mt 2,13).
4. Dos seus trinta e três anos de vida Jesus passou trinta no anonimato, em Nazaré, cidade sem importância (Jo 1,46), onde viveu aprendendo em casa, com a família, e na comunidade, com o povo. Foi a escola de Jesus. Veio salvar a humanidade inteira, e não saiu da Palestina! Veio salvar a história toda, e viveu só trinta e três anos.
"Ele foi provado como nós, em todas as coisas, menos no pecado... Durante a sua vida aqui na terra, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor e lágrimas, ao Deus que podia salvá-lo da morte. E Deus o escutou, porque ele foi submisso. Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos" (Hb 4,15; 5,7-8).
Nesta reflexão da carta aos Hebreus, transparece a convicção dos primeiros cristãos de que Jesus não se sub¬meteu passivamente aos condicionamentos e limitações da vida. Pelo contrário. Ele sentiu a fraqueza, foi provado e testado, mas resistiu. Era no contexto em que ele procurava ler o que o Pai queria (Jo 5,19; 4,34). As limitações que tiram a liberdade de muitos, para Jesus eram a fonte da sua liberdade "Ninguém me tira a vida. Eu a dou livremente!" (Jo 10,18). Foi muito duro para Jesus seguir por este caminho. Teve de aprendê-lo, através de muito sofri¬mento, discernimento e oração. Pois é difícil sentir na carne a fraqueza a que é condenado o povo empobrecido. Ele sofreu a tentação de seguir por outros caminhos (Lc 4,1-13). Mas conseguiu resistir (Mt 16,22-23). Foi obediente ao Pai, continuando ao lado dos pobres até a morte, e morte de cruz (Fp 2,8). Sua vida se resume nesta frase: "Eis- me aqui para fazer a tua vontade!" (Hb 10,7).

 Ler o texto abaixo lendo todos os textos bíblicos e entender
1. Por que e como Jesus acolhe os marginalizados e o que ele propõe para nós hoje através dos textos bíblicos?
2. Como deve ser a prática da comunidade cristã segundo a prática de Jesus?
3. Como a comunidade está viabilizando isto?
4. Há conflitos e posturas semelhantes hoje na comunidade cristã?

A Prática de Jesus. #
João pregava no deserto. Jesus aderiu à mensagem de João. No momento de comprometer-se com ele, na hora do batismo, ouviu a voz do Pai indicando-lhe a missão do Servo: "Tu és meu Filho ama¬do; em ti encontro o meu agrado" (Mc 1,10; Is 42,1; 49,3). Quando Jesus soube que João tinha sido preso, voltou para a Galiléia (Mt 4,12), as¬sumiu sua missão e começou a percorrer o país com esta mesma mensagem: "Completou-se o tempo, o Reino de Deus chegou. Mudem de vida e acreditem nesta Boa Notícia" (Mc 1,15)
Jesus dizia que independentemente do esforço feito, o Reino estava chegando! "O Reino de Deus já está no meio de vocês!" (Lc 17,21). A sua chega¬da era pura graça, dom de Deus: "Mudem de vida e acreditem nesta Boa Notícia" (Mc 1,15). A pessoa que mudasse de vida por causa dele e da sua prática mudaria também os olhos e se torna¬ria capaz de perceber a chegada do Reino (Mt 11,25; 13,11).
Vamos ver alguns aspectos desta prática de Jesus, em que o Reino se fazia presente e que era motivo de escândalo para muitos (Mt 11, 6). Até hoje!
• Jesus convive com os marginalizados e os acolhe
Jesus oferece um lugar aos que não têm lugar na convivência humana. Acolhe os que não são acolhidos:
os imorais: prostitutas e pecadores (Mt 21,31-32; Lc 7,37-50; Jo 8,2-11);
os hereges: pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10; 17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42);
os impuros: leprosos e possessos (Mt 8,2-4; Lc 17,12-14; 11,14-22; Mc 1,25-26 e 41-44);
os marginalizados: mulheres, crianças, doentes de todo tipo (Mc 1,32-34; Mt 8,17; 19,13-15; Lc 8,1-3);
os colaboradores do Império: publicanos e sol¬dados (Lc 18,9-14; 19,1-10);
os pobres: o povo e os pobres sem poder (Mt 5,3; Lc 6,20 e 24; Mt 11,25-26).
Jesus anuncia o Reino para todos! Não exclui ninguém. Anuncia o Reino de Deus por parábolas (Mc 4, 33-34), nas discussões e conflitos com seus opositores (Mc 12,13-17), nas curas (Mc 5, 1-14), nos milagres (Mc 6, 45-52), nos gestos e posturas (Lc 15, 1-2), nas releituras das Escrituras (Mt 5, 17-48), nas denúncias e posturas frente a realidade de dominação (Mt 21, 12-17; Mt 25, 14-46), nos ditos (Mt 23, 13-36), nas conversas (Mc 12, 41-44) e nos sermões (Mt 5-7). Mas o anuncia a partir dos empobrecidos e excluídos. A opção de Jesus é clara, o apelo também: não é possível ser amigo dele e continuar apoiando o sistema que marginaliza e oprime tanta gente. E a quem quer segui-lo ele manda escolher: "Ou Deus, ou o dinheiro! Servir aos dois não dá!" (Mt 6,24) "Vai, vende tudo que tens, dá aos pobres. Depois, vem e segue-me" (Mt 19,21).
• Jesus acolhe e não discrimina a mulher
A mulher vivia marginalizada pelo simples fato de ser mulher (Mt 15,21-28; 12,1-5). Injustiça maior não podia haver! Jesus toma posição, acolhendo e não discriminando a mulher como a sociedade daquela época fazia. Ele cura a sogra de Pedro (Mc 1,29-31). Uma estrangeira de Tiro e Sidônia consegue mudar a compreensão de Jesus sobre o reino e é atendida por ele (Mc 7,24-30). Ressuscitado, ele aparece para Maria Madalena, enviando-a como apóstola da Boa Nova da Ressurreição (Jo 20,16-18). Jesus retoma o projeto do Pai, em que homem e mulher, nas suas diferenças, são iguais em dignidade e valor (Mt 19,4-12). E, ao discípulo que quer segui-lo, ele não permite que mantenha o domínio do homem sobre a mulher (Mt 19,9-12).
 Como Jesus vive o Reino de Deus e como isto afeta a realidade de dominação do Templo e do Império Romano e a que compromissos isto nos leva hoje como pessoa e como comunidade cristã. Como isto afeta a nossa relação como igreja com os marginalizados de hoje e com a classe dominante no país.
• Jesus combate as divisões injustas
Havia divisões, legitimadas pela religião oficial, que marginalizavam muita gente. Jesus, com pa-lavras e gestos bem concretos, denuncia ou ignora estas divisões.
Próximo e não- próximo: faça como o Samaritano: próximo é todo aquele de quem você se aproxima (Lc 10,29-37).
Judeu e estrangeiro: Jesus atende ao pedido do centurião (Lc 7,6-10) e da mulher cananéia (Mt 15,21-28).
Santo e pecador: ele acolhe Zaqueu e rebate as críticas dos fariseus (Mc 2,15-17).
Puro e impuro: Jesus questiona, critica e até ridiculariza a lei da pureza legal (Mt 23,23-24; Mc 7,13-23). Obras santas e pro¬fanas: esmola (Mt 6,1-4), oração (Mt 6,5-8) e jejum (Mt 6,16-18) são redimensiona¬das.
Tempo sagrado e profano: Jesus coloca o sábado a serviço do ser humano (Mc 2,27; Jo 7,23).
Lugar sagrado e profano: Jesus relativiza o Templo: Deus pode ser adorado em qualquer lugar (Jo 4,21-24; 2,19; Mc 13,2; Jo 2,19).
Rico e pobre: denuncia o escândalo do abismo que separa rico e pobre (Lc 16,19-31).
Denunciando as divisões injustas, Jesus convida as pessoas a se definir diante dos novos valores do amor e da justiça. Alguns o aceitam, outros o rejeitam. Ele é sinal de contradição (Lc 2,34). Cria novas divisões (Mt 10,34-37). Aos que querem seguí-lo, ele adverte que se preparem. Irão sofrer a mesma contradição (Mt 10,25).
• Jesus combate os males que estragam a vida
Através da sua ação e pregação, Jesus combate:
a fome (Mc 6,35-44),
a doença (Mc 1,32-34),
a tristeza (Lc 7,13),
a ignorância (Mc 1,22; 6,2),
o abandono (Mt 9,36),
a solidão (Mt 11,28; Mc 1,40-41),
a letra que mata (Mc 2,23-28; 3,4),
a discriminação (Mc 9,38-40; Jo 4,9-10),
as leis opressoras (Mt 23,13-15; Mc 7,8-13),
a injustiça (Mt 5,20; Lc 22,25-26),
a opressão (Mt 25, 14-46; Mc 10, 42-44),
o medo (Mc 6,50; Mt 28,10),
os males da natureza (Mt 8,26),
o sofrimento (Mt 8,17),
o pecado (Mc 2,5),
o demônio (Mc 1,25 e 34; Lc 4,13).
a morte (Mc 5,41-42; Lc 7,11-17),
Jesus veio "para que todos tenham vida, e vida em abundância" (Jo 10,10). Ele luta para recuperar a bênção da vida (Gn 1,27;12,3), perdida por causa do pecado (Gn 3,15-19). A quem quer segui-lo, ele dá o poder de curar as doenças e de expulsar os maus espíritos (Mc 3,15; 6,7). O discípulo deve assumir o mesmo combate pela vida.
• Jesus desmascara a falsidade dos grandes
Entre os males combatidos por Jesus estão as falsas lideranças. Ele não teve medo de denunciar a hipocrisia dos líderes religiosos da época: sacerdotes escribas e fariseus (Mt 23,1-36; Lc 11,37-52; 12,1; Mc 11,15-18). Condenou a pretensão dos ricos e não acreditava muito na sua conversão (Lc 16,31; 6,24; 12,13-21; Mt 6,24; Mc 10,25). Diante das ameaças dos representantes do poder político, seja dos judeus seja dos romanos, Jesus não se intimidava e mantinha uma atitude de grande liberdade (Lc 13,31-35; 23,9; Jo 19,11; 18,23). O Evangelho denuncia a existência de classes sociais que originam o Estado e sua opressão mas ao mesmo tempo anuncia o seu projeto (Lc 2, 1-20; 3, 1-9; Mt 2, 1-23; Mc 1,1). Jesus percebe a mentalidade opressora dos líderes civis (Lc 22,25) e religiosos (Mt 23,2-4). Aos que querem seguí-lo, ele adverte: "Entre vocês não seja assim!" (Lc 22,26). E pede que rezem ao Pai, para que mande operários em sua messe, isto é, que ajude o povo a ter boas lide¬ranças (Mt 9,38).
(Seguir Jesus: os Evangelhos. Coleção: Tua palavra é vida, nº 5. Publicações CRB/Loyola, 1994)


 Dividir os textos a vários grupos e responder:
1. Como este novo que Jesus propõe pode mudar a minha vida, a vida da igreja e a vida da sociedade brasileira?

JESUS CRISTO PROPÕE O NOVO. #
Jesus propõe:
O Reino de Deus como convite para todos (Mt 22, 1-14; Lc 14, 15-24; Lc 4, 42-43); a libertação dos oprimidos (Lc 4, 18-19); o reino está no meio de vós (Lc 17, 20-21) revelar o reino aos pequeninos (Lc 10, 21-24; Mt 5, 3-12; 10, 42); somente Jesus Cristo é o caminho da salvação (Jo 14, 6; Mt 10, 37- 39; Mt 6,24); uma nova família, agora todos somos irmãos e irmãs (Mc 3, 31-35); que todos sejam um (Jo 17, 21); buscar e aceitar o perdido (Lc 15, 3-32); amor como critério de vida (Mt 5, 43-48); perdão como prática diária (Lc 17, 3-4); os pobres, excluídos e oprimidos dizem o que se deve fazer (Mt 25, 34-40); lutar por saúde para todos (Mc 1, 29-34; Mt 10, 8); consolar os que choram (Lc 7, 13-14); conviver com os excluídos e reintegrá-los na sociedade (Lc 15, 1-2); acabar com toda religião opressora (Jo 2, 13-22); lei deve estar a serviço da vida (Mc 2,23-28); cada um deve carregar a sua cruz (Mt 10,38-39); a conversão e tornar-se como criança (Mt 18, 1-5); não vos provereis de ouro (Mt 10, 9-10); a humildade (Jo 13, 12-17; Mt 10, 16); a partilha (Mc 6, 30-44; Mt 19, 16-22); a abundância de vida p/ todos (Jo 10, 10); deixar tudo por Cristo (Mt 19, 27-30); a paz (Lc 10, 3-6; Jo 14, 27; Mt 10, 13); a verdade (Jo 8, 31-32); distribuir o acumulado (Lc 19, 2-10); crer em Jesus e no Pai (Jo 3, 39; 5, 24); o arrependimento e fé no Evangelho de Jesus Cristo (Mc 1, 15); pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7, 15-23; Mt 5, 13-16); vós não sois assim; aquele que dirige seja como o que serve (Lc 22, 24-27); assumir os riscos do Reino (Mt 16, 24-26); não olhar para trás (Lc 9, 57-62); o anúncio do Evangelho se faz pelo testemunho de vida simples (Mc 6, 7-13); o compromisso missionário de espalhar o Evangelho do Reino de Deus por todo o mundo (Mt 28, 19-20) que ninguém se perca e que todos participem da ressurreição do corpo e da vida eterna (Jo 6, 39-40; Jo 17, 1-3);
Com esta prática em favor da vida ele atrai os pobres e marginalizados. É todo um movimento popular que se forma ao redor da sua pessoa e mensagem (Mc 1,33 e 45). Muitos começam a "seguir Jesus". Quais as pessoas que não concordavam com Jesus Cristo e o perseguiram? Foram as pessoas que representavam e defendiam o pensamento das instituições oficiais da época: Templo e Império Roma¬no. Eram os fariseus, os saduceus, os escribas, os sacerdotes, os herodianos, os componentes do Siné¬drio. Quem defende e está comprometido com as instituições oficiais opressoras sempre entra em choque com o Evangelho de Jesus Cristo, também hoje.


Projeto b) O Projeto de Jesus Cristo #

 Dividir em grupos e cada grupo lê os três itens e responde às seguintes questões:
1. Como o texto descreve a conjuntura política e religiosa da época?
2. O que os textos denunciam e propõem?
3. Como os textos descrevem a luta de classes da época?
4. De que lado, na luta de classes da época, Jesus se coloca? E hoje?

Análise de Conjuntura
1. Denúncia - Conjuntura Política - Lc 2,1-2 + 3,1-2
2. Proposta - Javé arma tenda (não templo) no meio de nós - Jo 1,14
3. Ruptura - Jesus luta contra o legitimador do Estado, o Templo - Jo 2,13-22

 Discutir em plenária: Como se estrutura o programa e a ação pastoral de Jesus a partir destes textos?
Programa de Ação Pastoral
Lc 4,18-21 - O Programa de Jesus Cristo
Mc 1,9-11 - Batismo fora do Templo - A Graça de Deus
Mc 16,13-22 - Ressurreição e vida eterna


 Dividir em 4 grupos, ler os textos e descobrir a prática pastoral de Jesus e que conseqüências isto traz para nós hoje.
A Pastoral Camponesa de Jesus Cristo
1. Lc 4,42-44 - Objetivo: anúncio do Reino de Deus
Lc 5,17-26 - A cura do corpo e do espírito
Lc 15,1-3 + Mt 5,1-12 - Convivência com os marginalizados
Mt 22,1-14 - Parábolas do Reino

2. Mc 6,30-44 - O milagre da prática do Reino
Mt 5,17-48 - Combate à lei que mata
Mc 7,1-20 - Combate à teologia do templo
Lc 12,49-53 - O Projeto do Reino divide

3. Mt 19,16-30 - Combate ao acúmulo
Lc 22,19-30 + 14,12-14 - Projeto da partilha e do serviço
Mt 25,31-46 + Lc 10,21-24 - Pastoral do oprimido
Lc 10,38-42 + Mt 15,21-28 - A prática das mulheres

4. Lc 9,59-62 - O Reino não é retorno ao velho sistema
Mc 6,14-29 + Mt 10,16-23 - A luta pelo Reino traz a cruz
Lc 10,1-12 + 10,17-20 - A militância do Reino
Lc 24,13-35 - A Metodologia  Prática-Teoria-Prática

 Ler em grupos os textos sublinhados abaixo e responder:
1. Qual o conflito central?
2. Como o Reino se evidencia?
3. Onde está o novo da proposta de Jesus?
4. O que Jesus combate?
5. Qual a proposta de Jesus?
6. Que outras propostas há no texto?
7. O que e a quem a proposta de Jesus ameaça e a quem beneficia?
8. O que e a quem esta proposta ameaça hoje?
9. Que classe social Jesus defende?
10. Como a fé se expressa no texto?
11. Como viver esta proposta de Jesus na realidade brasileira?

Grupo 1 – item 1 a 7
Grupo 2 – item 8 a 13
Grupo 3 – item 14
Grupo 4 – item 15

A PRÁTICA LIBERTADORA DE JESUS #
1. OBJETIVO - REINO DE DEUS - Lc 4,42-44
PROGRAMA DO REINO - Lc 4,16-21
2. Jesus e os marginalizados
Lc 7,37-50 + 19,1-10 + Jo 20,1-18+ 10,30-37 + 11,14-20
3. Jesus e os Poderosos e o Poder Religioso
Lc 18,24-27 + 11,45-54 +23,17 + Mt 21,12-17 + 11,7-19
4. Uma Nova Ordem
Mt 20,24-28 + 5,43-48 + 12,1-8 + Lc 10,21-24
5. Deus Encarnado
Jo 1,14 + Mc 6,3 + Mt 8,18-22 + Lc 4,16+23+31+ 40
6. Jesus Ora
Lc 5,12-16 + Jo 11,41-42 + Mt 6,9-15 + Mt 7,7-12
7. Combate à Teologia da Pureza e Impureza
Lc 7,1-10 + 10,25-37 + 15,1-7 + Mc 7,1-23 + 7,24-30 + Jo 4,1-30

8. A Militância
Mt 28,16-20 + 10,1-15 + Lc 10,1-12
9. Jesus não discrimina a mulher
Mt 15,21-28 + Jo 12,1-8 + Mc 7,24-38 + Mt 19,10-12
10. Jesus desmascara a falsidade dos grandes
Mt 23,1-36 + Lc 11,37-52 + 12,1 + Mc 11,15-18 + Lc 16,31 + 12,13-21+
Lc 22,25 + Mt 23,2-4
11. Deixar tudo por causa do Reino
Mt 10,37-39 + 16,24-26 + 19,27-29 + 8,18-22 + Lc 14,25-27 + 14,33
Mc 10,17-31 + Lc 9,57-62
12. Parábolas do Reino
Lc 14,15-24 + 18,9-14 + 10,29-37 + Mt 20,1-16 + 24,32ss
13. O Reino de Deus
Mt 5,1-12 + 20,20-28 + 25,31-46 + Mc 14,22-26 + 3,1-6 + 6,14-29 + 6,30-44
Lc 9,59-62 + Jo 11,1-46 + I Co 15,19-28

14. A Metodologia de Jesus - Lc 24,13-35 [ prática (pergunta pela realidade) - teoria (Bíblia) – prática (partilha)]
1. Observar a realidade: Mc 8,27-29 + Jo 4,35 + Mt 16,1-3 + Jo 6,5 + Lc13,1-5
2. Envolver-se na missão: Mc 6,7 + Lc 9,1-2 + 10,1 + 10,17-20
3. Corrigir quando há erro: Lc 9,46-48 + Mc 10,14-15 +Mc 9,28-29 + 8,14-21
4. Defender-se dos adversários: Mc 2,19 + 7,5-13 + Jo 16,33 + Mt 10,17-25
5. Ensino: Mc 9,30-31 + 4,34 + 7,17 + Mt 11,1 + 24,3 + Lc 11,1-13 + Mt6,5-15
6. Liberdade para transgredir normas caducas: Mt 12,1 + Mc 7,5-13 + Mc 2,15-17
Mc 2,18 + 2,27 + Mt 12,7+12
7. Descanso e alimentação: Mc 6,31 + Jo 21,9

15. A Comunidade modelo
1. Todos são irmãos: Mt 23,8-10 + Mc 3,31-35
2. Partilha dos bens: Mt 19,27-30 + 8,20 + Jo 13,29
3. Intimidade amiga: Jo 13,15 + At 4,32
4. Poder é serviço: Lc 22,25-26 + Mc 10,43 + J0 13,13-15 + Mt 20,28
5. Poder para ligar e desligar: Mt 16,19 + Jo 20,23 + Mt18,18
6. Alegria: Lc 10,20-24 + 6,20 + Mt 5,11 + Jo 16,20-22
7. Radicalidade da lei: Mt 5,17 + 22,37-40 + 7,12



Projeto c) O Perfil de Jesus Cristo #

 Num primeiro momento conversar sobre:
a) O que você sabe sobre Jesus?
b) Como você imagina como ele era?
c) O que Jesus fazia e queria?
d) Como as pessoas de sua época o viam e reagiam diante dele?
e) Qual era a sua proposta central?

 Ler em grupos e trazer para a plenária as descobertas, as perguntas que surgiram e questões para discussão

Quem foi Jesus? #
Ele não nasceu em Belém, teve vários irmãos e sua morte passou quase despercebida no Império Romano. A história e a arqueologia desencavam o Jesus histórico – um homem bem diferente daquele descrito nos Evangelhos.
O Jesus real era parecido com os judeus da época que tinham a pele escura, com traços que lembrariam hoje os de um árabe. Trabalhou no campo e provavelmente nasceu em Nazaré, um vilarejo pobre que, na época, tinha no máximo 400 habitantes.
Foi um dia de trabalho como outro qualquer. Depois da festa da Páscoa do ano 3790 do calendário hebraico, a maioria dos camponeses seguia sua rotina normalmente, assim como os coletores de impostos, os pescadores, os soldados romanos, os carpinteiros, os sacerdotes e as prostitutas. Em Jerusalém, contudo, algumas pessoas deviam estar comentando o tumulto do dia anterior, que resultou na morte de um judeu. Nada que não estivessem acostumados a ouvir. Naquele tempo, a cidade já era palco de conflitos políticos-religiosos sangrentos e quase sempre algum agitador morria por incitar a rebelião contra os romanos, que governavam a região com o apoio da elite judaica do templo de Jerusalém. Dessa vez, o fuzuê foi causado por um judeu camponês chamado Yeshua, que foi aprisionado e condenado à morte por ter desafiado o poder romano e o templo de Jerusalém em plena Páscoa. “Se você quisesse chamar a atenção de multidões para as suas idéias, essa era a data ideal”, afirma Richard Horsley, professor de Ciências da Religião na Universidade e Massachusetts e autor do livro Bandidos, Profetas e Messias - Movimentos Populares no Tempo de Jesus. “A festa tinha um forte conteúdo político, já que comemorava a libertação dos hebreus do Egito, que agora estavam sob o domínio dos romanos”. No meio da multidão (imagine a cidade paulista de Aparecida do Norte em dia de peregrinação), pouca gente deve ter se comovido com a prisão e morte de mais um judeu agitador - a não ser um punhado de parentes e amigos pobres. Mas nem eles poderiam imaginar que a cruz em que Jesus pagou sua sentença (sim, Yeshua é Jesus em hebraico) seria, no futuro, o símbolo mais venerado do mundo. Da suntuosa Basílica de São Pedro, no Vaticano, à pequena igrejinha da Assembléia de Deus, encravada no interior da Floresta Amazônica, a cruz se tornou o símbolo de fé para mais de 2 bilhões de pessoas. Sua morte dividiu, literalmente, a história em antes e depois dele. Mas, afinal, quem foi Jesus?
Pode parecer estranho, mas para os estudiosos há pelo menos dois Jesus. O primeiro, que dispensa apresentações, é o Cristo (o ungido, em grego), cuja história contada pelos quatro evangelistas deixa claro que ele é o enviado de Deus para salvar os homens com a sua morte. Os judeus costumavam sacrificar animais como cordeiros no templo para se purificarem. Ao morrer na cruz, Cristo torna-se o símbolo do cordeiro enviado por Deus para tirar o pecado do mundo.
O outro Jesus, já citado no início da matéria, é Yeshua, o homem que morreu sem chamar muita atenção dos cidadãos do Império Romano. Além dos evangelhos que não podem ser considerados fontes imparciais de sua vida, já que foram escritos por seus seguidores - há apenas uma menção direta a ele citada pelo historiador judeu Flávio Josefo, que escreve sobre sua morte no livro Antiguidades Judaicas, feito provavelmente no fim do século I. Para os pesquisadores, essa falta de citações seria um indício da pouca repercussão que Jesus teria tido para os cronistas da época. "Se existisse um grande jornal em Israel no tempo de Jesus, sua morte provavelmente seria noticiada no caderno de polícia, e não na primeira página diz John Dominic Crossan, professor de Estudos Religiosos da Universidade De Paulo, em Chicago, Estados Unidos. Autor dos livros O Jesus Histórico - A Vida de um Camponês Judeu no Mediterrâneo e Excavating Jesus Beneath The Stones, Behind The Texts ("Escavando Jesus - Por Baixo das Pedras, Por Trás dos Textos", inédito no Brasil), ele diz que a escassez de fontes diretas sobre Jesus não significa que seja impossível recompor a vida do homem de carne e osso que morreu em Jerusalém. "A interpretação correta dos textos históricos e a arqueologia estão trazendo surpreendentes revelações sobre o Jesus histórico."
Uma dessas revelações pode estar contida numa pequena caixa de pedra cor de areia encontrada em Jerusalém com uma inscrição feita em língua e caligrafia de 2 mil anos atrás. Ao lê-la em aramaico, da direita para esquerda, como a maioria das línguas semitas, está escrito inicialmente “Yàákov, bar Yosef”, ou seja: Tiago, filho de José. E continua, mais desgastada, "akhui di...'' irmão de "Yeshua", Jesus. Isso mesmo. Segundo André Lemaire, especialista em inscrições do período bíblico da Universidade de Sorbonne, em Paris, há uma alta probabilidade de que a caixa tenha sido usada como ossário de Tiago (São Tiago, para os católicos), o mesmo do Novo Testamento, já que a possibilidade que a associação entre esses três nomes seja uma referência a outras pessoas é estatisticamente baixa.
Apesar de não ter sido encontrada num sítio arqueológico (como foi comprada por um colecionador num antiquário, as chances de fraude seriam maiores), ela poderá se tornar a primeira evidência material associada a Jesus. "Caso fique provado que a inscrição é verdadeira, a descoberta levantará uma série de novas questões", diz Crossan. "Vamos ter que nos perguntar, por exemplo, se termos como irmão e pai significam exatamente o mesmo que hoje: pai e irmão de sangue.
Apesar de o Evangelho de São Mateus, no capítulo 13, versículos 55-56, citar: "Porventura não é este o filho do carpinteiro? Não se chamava sua mãe Maria, e seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas: e suas irmãs não vivem elas todas entre nós?", a Igreja sempre pregou aos fiéis que irmão e irmã, nesse caso, significavam apenas primos ou um forte vínculo de amizade e companheirismo entre os que faziam parte de um grupo.
"Como esse é um campo cheio de fé e paixões, a busca do Jesus histórico sempre foi um desafio", diz André Chevitarese, professor de História Antiga da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos maiores especialistas sobre o tema no país. "Enquanto um religioso conservador ressalta a dimensão espiritual de Jesus, um teólogo da libertação vai buscar nele sua atuação como revolucionário político."
“Em tempos turbulentos como os de hoje, ele provavelmente teria dificuldades de passar pela alfândega de um aeroporto europeu ou americano” diz Chevitarese.
Um presépio diferente
Segundo os pesquisadores, a história de que Herodes mandou assassinar todos os recém-nascidos na época do nascimento de Jesus não passa de lenda. Presépio desfalcado: os três reis magos nunca existiram. Seriam criações do Evangelho de Mateus para simbolizar que Jesus foi reconhecido como messias por todos os povos
Mesmo que a diversidade de visões de Jesus seja proporcional ao número de igrejas, correntes e seitas que existem em seu nome, historiadores e arqueólogos estão conseguindo reconstituir como era o mundo em que ele vivia: um retrato fascinante da política, da religião, da economia, da arquitetura e dos hábitos cotidianos que devem ter moldado a vida de um homem bem diferente daquele retratado pelas imagens renascentistas que povoam a imaginação da maioria dos cristãos. A começar pela aparência.
Baseados no estudo de crânios de judeus que viviam na região na época, os pesquisadores dizem que a fisionomia de Jesus deveria ser mais próxima da de um árabe moderno, como na imagem que abre essa reportagem.
Imagine que nesse Natal você pudesse entrar numa máquina do tempo para visitar Jesus recém-nascido (quem conhece o argumento da série Operação Cavalo de Tróia, do escritor J. J. Benítez, sabe que a idéia não é original). Se isso fosse possível, os arqueólogos garantem que você teria algumas surpresas. A primeira delas teria relação com a data da viagem. Ao programar a engenhoca para o ano zero, provavelmente você iria se deparar com um menino de quatro anos. É que Jesus deve ter nascido no ano 4 a.C. - o calendário romano-cristão teria um erro de cerca de quatro anos. Tampouco adiantaria chegar em Belém. no dia 25 de dezembro. Em primeiro lugar, porque ninguém sabe o dia e a data em que Jesus nasceu. O mês de dezembro foi fixado pela Igreja no ano 525 porque era a mesma época das festas pagãs de Roma. E o segundo problema, ainda mais grave, é que provavelmente Jesus não nasceu em Belém. "Há quase um consenso entre os historiadores de que Jesus nasceu em Nazaré", diz o padre Jaldemir Vitório, do Centro de Estudos Superiores da Companhia de Jesus, em Belo Horizonte. Então por que o evangelho de Mateus diz que o nascimento foi em Belém? Vitório explica que o texto segue o gênero literário conhecido por midrash. Basicamente, o midrash é uma forma de contar a história da vida de alguém usando como pano de fundo a biografia de outras personalidades históricas. No caso de Jesus, ele explica, a referência a Belém é feita para associá-lo ao rei Davi do Antigo Testamento - que, segundo a tradição, teria nascido lá. Mas as associações não parariam por aí. Assim como o nascimento em Belém, a terrível execução de recém-nascidos ordenada por Herodes e a fuga de Maria e José para o Egito também teriam sido uma "licença poética do texto", dessa vez para simbolizar que Jesus é o novo Moisés, já que essa narrativa é bem semelhante ao que se contava da vida do patriarca bíblico. "Isso não foi uma criação maquiavélica para glorificar Jesus, era apenas o estilo literário da época", diz Vitório. Até os simpáticos três magos (que não eram reis) estariam ali para representar que Jesus foi reconhecido como messias por povos do Oriente - e quase nenhum historiador defende que, de fato, eles tenham existido. (Apesar dos muitos fiéis que visitam todos os anos a Catedral de Colônia, na Alemanha, que acreditam que os restos mortais dos três estão lá.)
Mas se essas passagens são representações e não fatos históricos, o que um viajante no tempo encontraria de semelhante às imagens estampadas nos cartões de Natal? "Jesus deve ter nascido numa casa de camponeses extremamente pobres, cercada de animais", diz Gabriele Comelli, professor de Teologia e Filosofia da Universidade Metodista de São Paulo. "Cresceu numa das regiões mais pobres e turbulentas da época".

Um judeu pobre da Galiléia
Um vilarejo de trabalhadores rurais numa encosta de serra com, no máximo, 400 habitantes. Segundo os arqueólogos, essa é a cidade de Nazaré no tempo em que Jesus nasceu. De tão pequena, a vila praticamente não é citada nos documentos da época. "As escavações arqueológicas na cidade não encontraram nenhuma sinagoga, fortificação, basílica, banho público, ruas pavimentadas, enfim, nenhuma construção importante que datasse do tempo de Jesus", diz o historiador John Dominic Crossan. "Em compensação, foram encontradas pequenas prensas de azeitonas para a fabricação de azeite, prensas de uvas para vinho, cisternas de água, porões para armazenar grãos e outros indícios de uma vida agrária de subsistência."
A casa em que Jesus cresceu devia ser como a de todo camponês pobre da época: chão de terra batida, teto de estrados de madeiras cobertos com palha e muros de pedras empilhadas com barro, lama ou até uma mistura de esterco e palha para fazer o isolamento. Ao entrar na casa, talvez alguém lhe oferecesse água tirada de uma cisterna servida num dos muitos vasilhames de pedra e barro achados pelos arqueólogos na região - a água era preciosa, já que a chuva era escassa. Para comer, a cesta básica era formada por pão, azeitona, azeite e vinho e um pouco de lentilhas refogadas com alguns outros vegetais sazonais, servido às vezes no pão (que você deve conhecer como pão árabe). Com sorte, nozes, frutas, queijo e iogurte eram complementos bem-vindos, além de um peixe salgado vez ou outra. Segundo os arqueólogos, a carne era rara, reservada apenas para celebrações especiais. A maioria dos esqueletos encontrados na região mostra deficiência de ferro e proteínas e sinais de artrite grave. "A mortalidade infantil era alta e a expectativa de vida girava em torno dos 30 anos", diz Crossan. "Só raros privilegiados alcançavam 50 ou 60 anos de idade."
Para garantir o sustento, as famílias precisavam ter um número razoável de filhos que ajudassem no duro trabalho no campo. "É pouco provável que Jesus tenha sido filho único", diz o historiador Gabriele Comelli. "Assim como um menino de roça que vive em comunidades pobres no interior, ele deve ter crescido cercado de irmãos." Mesmo pesquisadores católicos como o padre John R Meier, autor dos quatro volumes da série Um Judeu Marginal, sobre o Jesus histórico, dizem que é praticamente insustentável o argumento de que, no Novo Testamento, "irmão" poderia significar "primo". "A palavra grega adelphos, usada para designar irmão, deve ter sido usada no sentido literal", diz Meier. Sua conclusão reforça ainda mais as chances; de que o ossário atribuído a São Tiago, irmão de Jesus, possa ser verdadeiro.
E quanto à profissão de Jesus? O historiador Gabriele Comelli diz que, baseado nas parábolas atribuídas a ele, é muito provável que Jesus tenha sido um camponês. "Sua pregação está repleta de imagens detalhadas da vida agrícola", diz Comelli. "É quase impossível que esse grau de detalhamento possa ter surgido de alguém que não lidava dia a dia no campo." Mas José não era carpinteiro e seu filho não o teria seguido na profissão?
O professor de Ciências da Religião Pedro Lima Vasconcellos, da PUC de São Paulo, diz que a palavra carpinteiro (tekton) usada no Novo Testamento pode significar também "biscateiro", no sentido de uma classe inferior que faz serviços manuais. "É o que chamamos atualmente do trabalhador pau-pra-toda-obra." Uma das hipóteses levantadas pelos arqueólogos é de que Jesus pode ter trabalhado no campo e, eventualmente, atuado em algumas obras de construção civil. Os arqueólogos descobriram que, a apenas 6 quilômetros de Nazaré, uma série de novos edifícios em estilo greco-romano, estava sendo construída na cidade de Séforis. “É possível que Jesus tenha trabalhado lá”, diz Vasconcellos. A construção era apenas uma das várias obras que estavam sendo erguidas por Herodes Antipas, governante da Galiléia no tempo de Jesus. Além das intervenções em Séforis, os edifícios construídos nas cidades de Tiberíades; e Cesaréia Marítima (nome dado em homenagem ao imperador Júlio César) tornavam a região cada vez mais parecida com as cidades romanas. "O problema é que todas essas obras representavam um fardo a mais aos camponeses pobres, que já pagavam muitos impostos", diz o historiador Richard Horsley. "Não é à toa que surgiram nesse período vários movimentos populares de contestação ao poder romano, do qual Jesus era mais um representante."
Messias de um novo reino
Se o rei Herodes Antipas precisasse se candidatar para se manter no poder na Galiléia no tempo de Jesus, seus assessores de marketing o venderiam como o "realizador de grandes obras" e seu slogan provavelmente seria "Herodes faz". No seu governo (4 a.C. a 39 d.C.), enormes palácios foram construídos na Galiléia, muitos deles para abrigar a elite judaica que dominava a imensa massa de judeus pobres na região. O esquema de poder na Galiléia, assim como em outras regiões de Israel, funcionava num sistema de clientela: para reinar, Herodes contava com o apoio dos romanos. Estes, por sua vez, exigiam em troca que ele recolhesse impostos para Roma e se responsabilizasse pela repressão de qualquer movimento de contestação ao poder imperial. Sob essas condições, Roma permitia que os judeus cultuassem o seu Deus único, Javé, em vez de celebrarem as várias divindades do panteão romano. Estando bom para ambas; as partes, o equilíbrio de poder era mantido. "O problema é que apenas os romanos e uma elite sacerdotal judaica eram beneficiados", diz o professor André Chevitarese. "A maioria dos judeus tinha que trabalhar cada vez mais para sustentar essas duas classes."
Ninguém sabe ao certo até que ponto Jesus começou a sua pregação motivado por esse sentimento de injustiça social. Até mesmo porque a tentativa de retrata-lo como um revolucionário político (e não um líder espiritual) parece fazer pouco sentido considerando-se a época em que ele viveu. "Essa distinção de uma consciência política separada da espiritualidade é uma invenção dos pensadores ocidentais modernos, como Maquiavel", diz Chevitarese. "Para os movimentos apocalípticos de então, o modelo de sociedade perfeita é o Reino de Deus, algo que para essas pessoas estava prestes a se concretizar."
Os estudiosos dizem que há uma dificuldade natural de quem vive nas sociedades modernas de entender a verdadeira dimensão da palavra apocalipse na época de Jesus.
"Algumas pessoas hoje entendem o apocalipse como um futuro distante, o fim dos tempos que chegará somente quando todos estiverem mortos", diz Paulo Nogueira, professor de Literatura do Cristianismo Primitivo da Universidade Metodista de São Paulo. "Na época de Jesus, os movimentos apocalípticos viam esse futuro como algo para daqui a alguns dias, quando o Reino dos Céus fosse se sobrepor ao Reino da Terra." Enfim, era preciso se preparar logo.
Para os judeus pobres, estava claro que o tal reino terrestre prestes a ruir era aquele formado por Roma, pelos governantes locais e pela elite judaica representada pelo suntuoso Templo de Jerusalém. E o que as pessoas deveriam fazer para se preparar para o advento do novo reino? Um bom começo era ouvir as profecias de um dos mais conhecidos pregadores da época: João Batista. "Naquele tempo, a figura de João Batista era mais importante do que a de Jesus, que somente se tornou uma ameaça a Roma depois da crucificação", diz o historiador John Dominic Crossan. Depois de ouvir suas profecias, as pessoas podiam se preparar para a chegada da nova era submetendo-se a um ritual de imersão na água: o famoso batismo de João Batista. "Ao entrar e sair da água, as pessoas sentiam-se como se estivessem deixando para trás os pecados e renascendo purificadas para o novo reino de Deus", diz Nogueira. (Não é à toa que algumas igrejas até hoje só batizam o fiel quando ele já é adulto - e tem consciência da força do ato como marca da conversão.)
A maioria dos historiadores acredita que João Batista, de fato, deve ter batizado Jesus adulto. "Afinal, não deve ter sido fácil para os evangelistas explicar por que o messias foi batizado, já que, como enviado de Deus, ele é que devia batizar os outros", diz o historiador André Chevitarese. Mas ele explica que o evangelho logo "resolve" a polêmica ao narrar que, na hora do batismo, a pomba do Espírito Santo aparece sobre Jesus e João Batista diz que ele é que deveria ser batizado.
"As fontes que estão nos ajudando a compreender esses movimentos apocalípticos são os manuscritos do mar Morto", diz Paulo Nogueira. Descobertos em 1947, os manuscritos foram encontrados no convento de Qumran, uma espécie de condomínio de cavernas habitado pelos essênios, grupos de judeus que viviam como monges seguindo uma rígida disciplina de orações e uma dieta rigorosa (leia a reportagem “A doutrina do deserto”, na Super Interessante de agosto de 2000). "Apesar de os manuscritos não revelarem nada diretamente sobre Jesus, eles mostram como os cultos apocalípticos já estavam disseminados nessa época", diz Nogueira. Há até quem defenda a hipótese de que Jesus tenha tido uma ligação direta com os essênios.
Do que os crentes e céticos parecem não ter dúvida é que o batismo de João Batista foi um divisor de águas na vida de Jesus. A partir dali, ele teria se retirado para o deserto para depois dar início à trajetória de sermões e milagres que o levaria à condenação na cruz.

Milagres subversivos
Se os historiadores e arqueólogos estão conseguindo reconstituir o ambiente físico, em que Jesus viveu e até têm bons palpites sobre a veracidade de certas passagens da sua vida, tudo muda da água para o vinho quando o assunto são os milagres. Afinal, como um pesquisador pode estudar objetivamente feitos considerados sobrenaturais?
Uma moda no passado (que até hoje tem muitos adeptos nos Estados Unidos) foi a tentativa de explicar a origem de alguns desses fenômenos como tendo causas naturais. Você provavelmente conhece algumas dessas teses: a estrela de Davi no nascimento de Jesus era na verdade o cometa Halley, Lázaro foi ressuscitado por Cristo porque estava em coma, não havia morrido biologicamente...
"Explicações desse tipo conseguem às vezes ser mais absurdas do que o próprio milagre", diz André Chevitarese. Para ele, em vez de querer esclarecer racionalmente esses fenômenos, o historiador deve manter a mente aberta para entender como as comunidades da época encaravam esses feitos, estudando, por exemplo, qual a noção que se tinha então da doença e da cura. Os pesquisadores sabem que no tempo de Jesus a doença estava associada à impureza. "A grande preocupação da lei judaica, já prevista em textos como o Levítico, era demarcar o que é puro e o que não é puro", diz o professor Manuel Fernando Queiroz dos Santos Júnior, da Faculdade de Saúde Pública da USP. "E as doenças de pele, as mais visíveis, logo eram associadas à impureza espiritual." Especialista em hanseníase, o professor diz que o que a Bíblia chama de lepra servia para nomear, na verdade, todas as doenças de pele na época, de eczemas a micoses. "Traduzir a palavra sara`at na Bíblia para o termo lepra ou hanseníase é errado", diz o professor. "Quem lê a Bíblia sem atentar para esse detalhe tem a impressão errônea de que existia uma verdadeira epidemia da doença na época de Jesus." O pior é que, graças a esse erro, os leprosos foram segregados por centenas de anos como portadores de uma doença impura.
Segundo os historiadores, essa associação perversa entre doença e impureza (ou pecado) terminava favorecendo a elite judaica do Templo de Jerusalém. "Afinal, para se curar, o doente tinha que pagar mais taxas e oferecer mais sacrifícios no templo", diz Crossan. "Isso gerava para o doente um ciclo interminável de sofrimento e dívidas." O templo era comandado por uma casta sacerdotal que detinha o monopólio de conduzir os fiéis aos rituais de purificação que, na época, incluíam o sacrifício de animais como cordeiros (quem não tinha posses para tanto, podia sacrificar uma pomba branca comprada no mercado do templo).
Imagine agora o mal-estar que os sacerdotes deviam sentir ao ouvir relatos de que, com um simples toque, um judeu pobre da Galiléia andava curando doentes, declarando, com esse gesto, que a pessoa estava livre dos pecados. "Hoje é difícil de entender como um ato desses era radicalmente subversivo", diz Richard Horsley. Ele diz que Jesus não estava só. "Uma série de outros curandeiros também usavam esse ritual para desafiar o poder do templo naquela época", diz o historiador.
Como Jesus conseguia curar as pessoas? Poucos pesquisadores se arriscam a dar palpites. O certo é que, ao se misturar com doentes, mendigos, gentis, prostitutas, enfim, toda classe de pessoas consideradas impuras, Jesus conseguiu incomodar a maioria dos grupos judaicos da época. Entre esses incomodados, se incluíam os fariseus, membros de uma escola religiosa que insistia na completa separação entre os judeus e os gentios (fariseu quer dizer "o que está separado"). Eram provavelmente hostis a Jesus e não deviam entender por que ele comia na mesma mesa dos "impuros" - se você leu os evangelhos, deve ter notado como os primeiros cristãos retratam os fariseus de forma pouco lisonjeira. Jesus provavelmente também não agradou saduceus, pequeno grupo judeu que não acreditava na imortalidade da alma, nem nos anjos, muito menos nos milagres de Jesus. "Seu estilo de ensinar e de viver desagradou muitos judeus, que o colocaram à margem do judaísmo palestino", diz o padre e historiador John R Meier, no seu livro Um Judeu Marginal. "Mesmo sendo um galileu rústico que nunca freqüentou uma escola de escribas, ele ousou desafiar as doutrinas da época", diz Meier.
A escolaridade é outro ponto polêmico sobre a vida de Jesus, já que, para muitos historiadores, ele provavelmente era analfabeto. "Somente uma ínfima parcela da população que trabalhava para os governantes sabia ler e escrever", diz Richard Horsley. "Não acredito que ele fizesse parte dessa parcela." Então, como explicar o trecho do evangelho que o retrata lendo numa sinagoga? “A palavra ler no evangelho pode significar recitar”, diz Horsley. "O fato de Jesus não saber ler nem escrever não significa que ele não conhecesse os textos e as tradições judaicas." Juan Arias, correspondente do jornal El País no Brasil e autor do livro Jesus, Esse Grande Desconhecido, discorda. "Apesar de ter vindo de uma família muito pobre, é difícil imaginar que as discussões polêmicas que ele teve com seus contemporâneos relatadas nos evangelhos possam ter sido feitas por um homem que não sabia ler", diz Arias.
Mesmo que não tenha sido analfabeto, o judeu pobre da Galiléia não deve ter chamado a atenção da elite intelectual da época. A não ser, talvez, pelos tumultos que deve ter causado quando resolveu pregar diretamente em Jerusalém, chegando a derrubar barracas dos mercadores que comerciavam no templo. O resto da história você conhece: para os romanos, apenas mais um agitador crucificado, nada anormal em meio a centenas de outras crucificações. Para um punhado de seguidores, o símbolo de uma nova fé que mudaria o rumo da humanidade.

Jesus era essênio?
Quando os manuscritos do mar Morto foram encontrados nas cavernas da região de Qumran, no sul de Israel, em 1947, os pesquisadores descobriram como viviam os essênios - grupo de judeus que moravam em comunidades isoladas, tinham hábitos simples, admitiam a reencarnação, adotavam normas morais rígidas e eram vegetarianos. A seita desapareceu por ocasião da diáspora judaica, a partir do ano 70. E como eles, assim como Jesus, também se opunham a outros grupos como os fariseus e os saduceus, a pergunta óbvia que se seguiu foi: Jesus era essênio? Apesar de não existirem provas definitivas de que Jesus professasse a seita essênia, haveria ainda outras coincidências entre a doutrina e as práticas cristãs e os ensinamentos e costumes daquele grupo. "Os essênios foram os primeiros discípulos de Jesus e o aceitaram como o grande e último intérprete da lei, muito acima de Moisés", diz Fernando Travi, um dos líderes da Igreja Essênia brasileira. Segundo ele, o próprio Cristo teria sido educado entre eles no monte Carmelo, no norte de Israel. Esse grupo, então conhecido como nazarenos, teria se diferenciado dos eremitas da região de Qumran - em cujas cavernas foram encontrados os polêmicos manuscritos do mar Morto -, por sua postura menos radical em relação a uma série de preceitos dos essênios do sul. Nos manuscritos de Qumran não há nenhuma menção a Jesus, mas o que impressiona, segundo o arqueólogo inglês Lankester Harding, é a coincidência de práticas e terminologia antes julgadas exclusivas do cristianismo.
Os essênios praticavam o batismo no estilo de João Batista e se reuniam para uma ceia litúrgica, de pão e vinho, como a que foi promovida por Jesus na véspera de sua prisão. Suas comunidades eram dirigidas por 12 "homens de santidade", à semelhança dos 12 apóstolos cristãos, e todos os bens individuais eram compartilhados, como foi hábito no cristianismo primitivo. A identidade se repete em ensinamentos como o da não-violência e no costume de curar doentes, uma das principais práticas cristãs. Chama também a atenção o fato de não existir, nos evangelhos, qualquer crítica aos essênios, ao contrário dos ataques de Jesus aos fariseus e saduceus. Para alguns estudiosos, nada disso prova o vínculo essênio do Cristo. "Não existe nenhum fato ou indício convincente", afirma o doutor em teologia e especialista em Novo Testamento, Archibald Mulford Woodruff, da Universidade Metodista de São Paulo. "Há apenas paralelos entre os manuscritos do mar Morto e o evangelho, o que não chega a configurar uma influência essênia sobre Jesus." O mais provável, segundo Woodruff, é que muitos essênios tenham aderido ao cristianismo depois que a Décima Legião romana arrasou a comunidade de Qumran.

De Jesus a Cristo
Imagine Nova York como o centro espiritual do mundo muçulmano. Ou mesmo a Basílica de São Pedro, no Vaticano, transformada numa mesquita dedicada ao profeta Maomé. Improvável, não? "Foi algo dessas proporções que aconteceu com a expansão do cristianismo", diz André Chevitarese. "Em cerca de três séculos, a crença de uns poucos seguidores se tornou a religião oficial do Império Romano, o mesmo império que havia ordenado a sua morte."
Como isso ocorreu?
Para os cristãos, a resposta é simples: Jesus ressuscitou. Essa seria a evidência de que o homem crucificado não era, afinal, apenas um homem e sim Cristo, o messias esperado pelo povo judeu. Mas como entender o evento da ressurreição? "Nenhum outro tipo de milagre se choca mais com a mentalidade cética da moderna cultura ocidental", diz o padre John R Meier. Para ele, ficar especulando sobre o que aconteceu com o corpo de Jesus é, do ponto de vista da história, uma tarefa inútil. “A essência da crença na ressurreição é que, ao morrer; Jesus ascendeu em sua humanidade à presença de Deus” diz Meier. "Descobrir qual a ligação dessa humanidade com o seu corpo físico não é matéria dos historiadores."
Mas se a ressurreição é uma questão de fé e não de história, os estudiosos estão pelo menos conseguindo esclarecer detalhes sobre o terrível momento que a teria antecedido: a crucificação. Tudo começou em 1968, quando foi descoberto na região de Giv'at há-Mivtar, no nordeste de Jerusalém, o único esqueleto de um crucificado conhecido pela ciência. Depois que os ossos foram analisados pelos pesquisadores do Departamento de Antiguidades de Israel e da Escola de Medicina Hadassah, da Universidade Hebraica de Jerusalém, conclui-se que os braços não foram pregados, mas amarrados na travessa da cruz. Já as pernas do condenado foram colocadas em ambos os lados da base vertical de madeira, com pregos segurando o calcanhar em cada lado. Não havia evidências de que suas pernas haviam sido quebradas depois da crucificação para apressar a sua morte. "O curioso é que uma revelação surpreendente sobre a morte na cruz não surgiu da descoberta de esqueletos, mas da falta deles", diz Pedro Lima Vasconcellos, da PUC de São Paulo. "Afinal, se centenas e até milhares de pessoas foram crucificadas na época, por que apenas um esqueleto foi encontrado?"
O historiador John Dominic Crossan diz que há uma razão terrível para isso: "As três penas romanas supremas eram morrer na cruz, no fogo e entregue às feras", diz Crossan. "O que as tornava supremas não era a sua crueldade desumana ou sua desonra pública, mas o fato de que não podia restar nada para ser enterrado no final." Apesar de ser fácil de entender por que não sobraria nada de um cadáver consumido pelo fogo ou devorado por leões, ele diz que a maioria das pessoas esquece que, no caso da crucificação, o corpo era exposto aos abutres e aos cães comedores de carniça. Como um ato de terrorismo de Estado, a extinção do cadáver também tinha como vantagem para as autoridades evitar que o túmulo do condenado se tomasse local de culto e resistência.
Mesmo que ninguém saiba o que ocorreu após a morte de Jesus (alguns historiadores acham razoável que a família e os amigos pudessem ter reivindicado o seu corpo), o fato é que seus seguidores passaram a relatar suas aparições. "Não se deve subestimar o poder dessas experiências em nome do racionalismo", diz Paulo Nogueira, professor da Universidade Metodista de São Paulo. "Afinal, as pessoas tinham visões, entravam em transe. É uma simplificação, por exemplo, ficar tentando encontrar razões sociológicas para explicar a experiência mística responsável pela conversão de Paulo."
Nascido na cidade de Tarso, na atual Turquia, Paulo (São Paulo, para os católicos) talvez seja o homem que, sozinho, fez mais pela expansão do cristianismo que qualquer outro dos seguidores de Jesus. O curioso é que, antes de se converter, ele era uma espécie de agente policial encarregado de perseguir os cristãos. "Sua conversão foi tão surpreendente na época como seria hoje ver um embaixador israelense se converter à causa palestina", diz Monica Selvatici, doutoranda em História da Unicamp e especialista em Paulo. "Suas idéias terminaram afastando o cristianismo do judaísmo da época".
Ela explica que, depois da morte de Jesus, não havia uma distinção clara entre judeus e cristãos. "Os seguidores de Jesus eram apenas judeus que defendiam a tese de que ele era o messias, ao contrário daqueles que não o reconheciam como tal", diz Mônica. "Eram uma ala do judaísmo, assim como o PT tem alas que não representam as idéias predominantes do partido!" Como falava grego muito bem e foi um dos cristãos que mais viajaram, ele discordava dos judeus cristãos que defendiam a tese de que os gentios convertidos precisavam seguir rigorosamente a lei judaica, incluindo aí a necessidade da circuncisão - não vista com bons olhos pelos estrangeiros. Em suas cartas (epístolas), são famosas as polêmicas travadas com Tiago (São Tiago, para os católicos), suposto irmão de Jesus, que teria sido um defensor de um cristianismo mais fiel ao judaísmo.
Mas a idéia central de Paulo, resumida na frase de que "o verdadeiro cristão se justifica pela fé e não pelos trabalhos da lei", prevaleceu. Os gentios podiam agora se converter sem tantos empecilhos e o cristianismo ganhou novas fronteiras. "Paulo ajudou a tirar de Jesus a imagem de um messias para o povo hebreu, transformando-o num salvador de todos os povos", diz Mônica. "Jesus deixou de ser um fenômeno regional para ganhar um caráter universal."
A influência de Paulo é tão grande, que há historiadores que chegam a dizer que o cristianismo como o conhecemos é, na verdade, um "paulismo". "Isso é um exagero", diz Paula Fredriksen, professora de estudos religiosos da Universidade de Boston e autora do livro From Jesus To Christ ("De Jesus a Cristo", inédito no Brasil). "Com ou sem Paulo,já havia um movimento forte entre os judeus cristãos de que os gentios não precisavam seguir estritamente as leis para serem salvos", diz Paula.
Mas o que levaria um cidadão romano a trocar os seus deuses para cultuar um judeu da Galiléia? (Lembrando que, na época da morte de Jesus, um cidadão romano sabia tão pouco sobre as várias correntes do judaísmo como um ocidental hoje sabe sobre as linhas do Islã.) "O cristianismo trouxe uma idéia de salvação (ressurreição do corpo) que não existia na religião romana", diz Pedro Paulo Funari, professor de história e arqueologia da Unicamp. "A religião romana tinha um aspecto formal, público, pouco ligado às inquietações da vida depois da morte". Mas Funari explica que, apesar do formalismo das crenças romanas, a idéia de salvação da alma já estava difundida na população pela influência de algumas religiões orientais, como o culto a Ísis e Osíris, do Egito e da filosofia grega. “Isso deve ter facilitado ainda mais a expansão do cristianismo em Roma”, diz Funari.
O ápice dessa expansão se deu quando o imperador romano Constantino converteu-se ao cristianismo, no século 4. Ninguém sabe ao certo se ele foi motivado mais por dilemas espirituais do que razões políticas (afinal, ao se converter, ele pôde contar com o apoio dos cristãos e com a estrutura de uma Igreja já bem organizada.)
O certo é que alguns séculos depois, a cruz, imagem brutal da sua crucificação, foi usada para invocar a guerra e a paz entre os povos. E Yeshua, o judeu pobre que morreu praticamente despercebido durante a Páscoa em Jerusalém, já era conhecido por boa parte do mundo como o Cristo. O mesmo Cristo cujo nascimento passou a ser celebrado todos os anos, no mês de dezembro, no dia de Natal.
Na Livraria:
O Jesus Histórico. John Dominic Crossan, Imago, 1994
Excavating Jesus. John Dominic Crossan & Jonathan L. Reed, Harper San Francisco, 2001
Jesus, Uma Biografia Revolucionária. John Dominic Crossan, Imago, 1995
Jesus as a Figure in History. Mark Allan Powell. Westminster John Knox Press, 1998
Um Judeu Marginal. John P. Meier, Imago, 1993 (série em quatro volumes)
Bandidos, Profetas e Messias Movimentos Populares no Tempo de Jesus. Richar A. Horsley, John S. Hanson. Paulus, 1995
Jesus - Esse Grande Desconhecido. Juan Arias, Objetiva, 2001
Cristo - Uma Crise na Vida de Deus. Jack Miles, Companhia das Letras, 2002
Os Homens da Bíblia. André Chouraqui, Companhia das Letras. 1990
História da Vida Privada - Do Império Romano ao Ano Mil. Philippe Ariès e Georges Duby (org.). Companhia das letras, 1992
Super Interessante. Nº 183, dezembro de 2002. Editora Abril


 a)Pode-se dividir as questões abaixo em vários momentos durante o dia de estudo.
b)Dá para dividir em grupos e responder as perguntas a partir dos textos bíblicos sugeridos e outros que o grupo conhece.
c)Pode-se ficar na plenária ler as questões e responder coletivamente
d)Pode-se ler em plenária as primeiras, em grupo outras e fazer encenações sobre os textos mais significativos.

O Perfil de Jesus Cristo #
1. Nome (Lc 1, 37)
2. Sobrenome (Jo 1, 45; Mc 6, 3)
3. Apelido (Jo 1, 47)
4. Títulos (Jo 1,29; 1,49; 3,2; 3,36; 20,22. 31; Mt 9,6; Lc 2,11; Lc 1,35)
5. Filiação (Lc 2, 16; Mt 1, 16)
6. Idade (Lc 2, 1-2; 3, 1-2; 23, 1-12)
7. Sexo (Lc 2, 7)
8. Parentes (Lc 1, 40; Lc 3, 23-38)
9. Classe social (Lc 2, 16; Mt 8, 20)
10. Nacionalidade (Lc 2, 4-7)
11. Residência principal e secundária (Lc 4, 16; 4,31.38; Mt 4, 12-13)
12. Local de nascimento (Lc 2, 1-7)
13. Data de nascimento
14. Local da morte (Lc 23, 33)
15. Causa da morte (Lc 23,33)
16. Motivo da prisão e condenação à morte (Lc 23,1-7. 14)
17. Quem o prendeu (Jo 18, 3. 12)
18. Quem o julgou (Mt 26, 59-66)
19. Quem o condenou à morte (Mc 14,53-65; Lc 23,23-25)
20. Quem ficou perto e aos pés da cruz de Jesus (Mc 15,40; Jo 19, 25-27)
21. País em que viveu (Mt 2, 20-23)
22. Regiões em que viveu e percorreu (Lc 4, 44; 17, 11)
23. Império em que viveu (Lc 2, 1)
24. Anos em que viveu e com que idade morreu (Lc 3,1-2; Lc 23)
25. Continente em que nasceu (Mt 2, 1)
26. Continentes em que viveu (Mt 2, 13-23)
27. Etnia (Lc 23, 37-38)
28. Religião (Jo 2, 13)
29. Língua que falou
30. Cor da pele, do cabelo, dos olhos
31. Fisionomia (Ap 1,13-18)
32. Altura e Peso (Lc 19, 3)
33. Grau de escolaridade (Jo 7, 14-17)
34. Profissão (Mc 6,3)
35. Início de seu ministério (Lc 3, 1-2; Jo 2, 1-12)
36. Renda anual (Mt 8,20)
37. Posses: (II Co 8,9) Terra Capital Gado Casa Outros bens (Mt 8,20)
38. Amizades e companhias (Lc 15,1-2; 10,38-42; Mc 1,32-34; 3,13-19; Jo 11,1-5; Mt 9,10-13)
39. Lazer e Sonhos (Mt 4, 17; Mt 4, 18-22)
40. Gostos: Comida (Mc 2, 16) Bebida Roupa Calçado (Mc 1, 7)
41. Como meditava e orava (Mc 1, 35-39)
42. Programa de Jesus (Lc 4, 18-19)
43. Projeto de vida (Lc 4, 42-43)
44. Sua missão (Jo 6, 39)
45. O que os outros falavam dele (Lc 15,1-2; Mc 3, 22; Mt 16, 13-16; Lc 4, 36-37; Mc 3, 6; Jo 11, 47-57)
46. Como as outras pessoas o viam (Jo 1,45; Jo 6,60.66; 7,1-5; Mt 8,27.34; 9,8. 34; 12,14)
47. Como ele se via e se entendia (Jo 17, 1; Mt 8, 20; 11,25-27)
48. Como os discípulos reagiam a ele (Jo 6, 60-71; 7,5)
49. Atitudes e gestos controvertidos (Mt 10, 16-18; 12, 9-14;17,24-27; Jo 2, 13-22; Mc 7, 1-13; Mc 2,15-17; Lc 7,36-50; 18,18-23; 20,19-26; 16,18)
50. Formas de transmitir o Evangelho (Lc 15,3-7; 11,37-44; Mt 8,28-34; 14,13-21; Mc 5,35-43; Lc 6,20-26)
51. Mensagem central (Mc 1, 15)
52. Classe social dos seus discípulos/as (Mt 4, 18-22; Mc 2, 13-14)
53. Quem tudo o seguia e por que (Lc 8,1-3;Mc 15,40-41)
54. Que pessoas mais o procuravam (Mc 10, 13-16; Mc 32-34; 6,30-34)
55. O que mais chama a atenção nele (Mc 3, 20-22; 4, 33-34;6, 1-6; 6, 53-56)
56. Que ordens deixou (Mt 28, 18-20; Lc 22,19-23)
57. Quem o batizou e como foi o batismo (Mt 3, 13-17)
58. Quem Jesus escandalizava e por que (Mc 3,20-22; 2,1-12; Jo 11,47-50; Lc 15, 1-2)
59. Inimigos e por que tinha inimigos (Jo 11,47-50; Lc 22,1-2; 10,25; 13,31-32; Mc 3,1-6; Mt 5,21-48)
60. O que seus inimigos queriam que ele fizesse (Mt 22, 15-22; 26, 63-66)
61. Que interesses Jesus ameaçou (Jo 11,47-50; Lc 23,1-7; Mt 24,1-2; Lc 13,31-32; Mc 12,38-40; Mt 23)
62. Críticas e ameaças que recebia (Lc 13,31-32; 4,28-30; 5,17-26; 5,29-32; 6, 1-11; 7, 36-50)
63. Agressões e perseguições que sofreu (Lc 13, 31-32; 4, 28-30; Mc 14,43-50)
64. Costumes e tradições (Mt 5, 33-37; 5, 17-18)
65. Assuntos preferidos (Mt 12,28)
66. Postura de Jesus frente às pessoas: pobres, ricos, doentes, impuros, marginalizados, fariseus, escribas, mulheres, crianças, estrangeiros, soldados, sacerdotes (Mt 22, 34-40; Mc 10,17-22; Lc 15,1-2; Lc 6, 24-26; Mt 8,5-13; Mt 23; Jo 4, 1-30; 8, 1-11; Mc 10, 13-16)
67. Postura de Jesus frente às autoridades religiosas e políticas (Mt 23; 3,7-10; Jo 8, 33-43; Lc 13, 31-32)
68. Postura das autoridades políticas e religiosas frente Jesus (Jo 11, 47-50; Mc 3,6)
69. Postura de Jesus frente à economia e qual sua proposta econômica para a sociedade (Mt 20, 1-16; 19, 16-22; Lc 14, 12-14; Lc 4, 18-19; 25,31-46; 26, 26-28; Lc 12, 16-21; Lc 6, 20-26; Lc 16, 19-31; Lc 19, 1-10; At 2,42-47; 4,32-35; Mc 6, 7-13)
70. Postura política de Jesus e qual sua proposta política ([Romanos 12, 1-2; Tiago 1, 27]; Lc 4,18-19; Lc 22, 24-27; Mt 22, 15-22; Mc 3, 31-35)
71. Postura de Jesus frente à Lei (Torá) (Mt 5, 17-20; 5, 21-48; 12, 1-8)
72. Onde, como e em que Jesus foi radical (Mc 2,23-28; 3, 1-6; 6, 35-44; 9, 42-48; 12, 28-34; Mt 8, 20; 10, 8-10; 20, 26-28; Lc 22, 47-51)
73. Como o Movimento de Jesus estava organizado politicamente e economicamente (Mc 4, 13-19; Lc 10,1; 8, 1-3)
74. Como, na ótica de Jesus, o Reino de Deus se realiza (Mt 12, 22-28; 11, 25-26; 15, 21-28; 18,1-5; 18, 10-14; Lc 4, 18-19; 7, 18-23)
75. O que para Jesus é fé e o que é ideologia da classe dominante, como isto aparece nos Evangelhos (Mc 3, 1-6; Mt 22, 1-14; 15, 1-14; 21, 12-13; 9,19-22)
76. Como Jesus entendia a fé em Deus (Jo 14, 1-15; 15, 1-8)
77. Como vivia sua fé e como fazia a relação entre fé e vida (Mt 23, 14-22; 6, 24-33; 9, 10-13; Lc 10, 30-37; Mt 25, 31-46)
78. Por que Jesus só entrou uma vez e ainda amarado e torturado no palácio de Herodes e de Pôncio Pilatos? Ele não era amigo dos poderosos, por que? (Lc 23, 1-25)
79. Como nós vivemos a fé nele – nossa relação fé e vida hoje
80. Nossa postura frente ele e sua proposta do reino de Deus
81. O que não entendemos de e em Jesus?
82. Quem hoje o persegue e o trai, por que?
83. Com quem Jesus hoje anda e por que?
84. Quem hoje se escandaliza com a proposta e a postura de Jesus e por que?
85. O que Jesus mudaria hoje na sua Comunidade/Igreja e na sociedade brasileira?
86. A sua comunidade/paróquia convidaria Jesus, com este perfil, para ser seu pastor, por que? Quem da sua comunidade o convidaria e quem não o convidaria?




 7o Dia

3. A Primeira Comunidade Cristã #

 Em cinco grupos ler dois blocos de textos
1. Ver as características e a proposta da comunidade cristã
2. Comparar com a comunidade de hoje, vendo as semelhanças e diferenças.

O Movimento Cristão #
1. At 2, 1 - 41 - O Movimento Cristão - Pentecostes
At 2, 42 - 47 + 4, 32 - 37 - A Nova Prática

2. I Co 7, 33 - 34 - Igualdade entre homem e mulher
Gl 3, 23-29 - Um em Cristo

3. I Co 1, 18 - 29 + II Co 12, 7 - 10 - Teologia da Cruz
I Pe 2, 5 - 9 - Sacerdócio Geral de todos os Crentes

4. II Co 5, 18 - 19 - Deus deu o Ministério à Comunidade
Ap 18 - 19 - A Revelação da Resistência Cristã

5. Tg 1, 27 + Rm 12, 2 – Manter-se incontaminado do mundo
II Co 15, 19 – 28 – Reino vem com o fim do poder
At 17, 10 – 15 – As Escrituras são o critério

 Dividir em 4 grupos
1. Ler os textos e mostrar como seu conteúdo descreve a fé e a ação da comunidade
2. Ver como estes conteúdos aparecem nas comunidades de hoje.

Atos dos Apóstolos #
1. - Características
- Os do caminho - At 9,2 + 18,26 + 19,9.23 + 22,4 + 24,22
- Fé na ressurreição - At 1,1-5 + 4,1-3
- Perseverança no ensino dos Apóstolos - At 2,42-47 + 4,32-37
2. - Solidariedade - no sofrimento - At 14,19-23
- na perseguição - At 12,1-19
- nas necessidades - At 11,27-30
- Comunidades constituídas de pobres e fracos- At 2,44-45 + 11,27-30
- Serviços e ministérios - At 6,1-7 + 1,15-26 + 8,14-17 + 18,1-3
- Comunidades missionárias - At 8,1-8 + 11,19-26 + 13,1-12
- Eucaristia - At 2,42-47 + I Co 11,17-34
3. - Martírio - At 12,1-2 + 7,54-60 + 8,1-3
- Prisão - At 5,17-33 + 12,1-8 +5,40-41+4,1-3 +17-22
- Perseguição - At 16,16-40 + 8,1-3 + 5,17-42 + 6,8-15
- Espírito Santo - Animando a Comunidade - At 2,1-13 + 5,29-32
4. - A Palavra - Anúncio da salvação -At 1,8 + 4,31 + 13,26-27 + 16,36s
- Nome da graça - At 14,3 + 20,23-32
- Obra de Jesus - At 8,25 + 15,35
- Doação do Espírito Santo - At 10,44
- É luz - At 4,4 + 13,49
- É força - At 2,3-4
- É tarefa, serviço e ministério da comunidade -At 6,4+3,11-26 + 2,14-36
- É anunciada com coragem - At 4,29-31 + 5,2


 Dividir em 4 grupos e descrever o tema de cada bloco de textos e ver como aparecem a realidade e a fé de Paulo e das comunidades, comentando os conflitos semelhantes em nossas comunidades de hoje.

O APÓSTOLO PAULO #
Os conflitos na missão de Paulo
1. Conflitos Internos - Judeus Cristãos x Gentios Cristãos
At 15,6-29 + Gl 2,1-10

2. Conflitos Externos - Cristãos x Império Romano e Gregos
Religioso Popular - At 14,8-20
Ideológico - At 17,16-34
Econômico - At 19,23-32
Idolatria - Rm 1,18-32

3. Como Paulo superava os conflitos - Usando a Bíblia (História e Fé)
História de Abraão - Rm 4,1-25
História do povo no deserto - I Co 10,1-11
História de Agar e Sara - Gl 4,21-31

4. O Exemplo Pessoal - I Co 9,1-19 + II Co 11,7-15 + 12,13-18 + Fl 4,15-18
Quem foi o Apóstolo Paulo? - At 16,37; 18,3; 20,34-35; 21,39; 22,3; 22,28-29; 23,6; Fl 3,5-18
A conversão de Paulo contada por Lucas - At 9,1-30; 22,6-16; 26,13-18
A conversão de Paulo contada por ele mesmo - Gl 1,11-24


 Ler o texto abaixo para
1. Entender a dinâmica e a proposta da comunidade frente à proposta do Estado e colocar isto na plenária.
2. Discutir, após a leitura do texto, como hoje está estruturado a sociedade e como a Igreja atua frente esta estrutura ou dentro dela.
3. A Igreja cristã é uma ameaça ao sistema capitalista hoje e por que?
4. Onde e em que circunstâncias os cristãos hoje são uma ameaça e são perseguidos?
5. Por que a maioria dos cristãos hoje no Brasil não são mais perseguidos?

A Proposta da Comunidade Cristã #
O Império Romano se organiza sobre o antigo Império Grego que, a partir de 332 a.C. passou a dominar o mundo. Os romanos, embora tenham dominado politicamente o Império Grego, foram por ele dominados culturalmente. Assim, os romanos herdam a estrutura social grega, herdam o modelo da “polis” grega. A cidade grega (polis) reflete a organização de toda a sociedade. Entendendo a estrutura da sociedade grega, entende-se o funcionamento de toda a sociedade.
Como é essa estrutura? Quando se diz cidade grega, entende-se a cidade mais as vilas camponesas ao redor da cidade. Naquele tempo, quem produzia eram as vilas. As cidades não tinham produção como hoje; no entanto elas detinham todo o poder. Na cidade funcionava o SISTEMA ADMINISTRATIVO (burocracia) em três camadas:
1.O pessoal da administração do Império;
2.O pessoal da administração do Estado que estava sob o domínio do Império;
3.O pessoal da administração da cidade.
Na cidade funcionava o CONTROLE DA PRODUÇÃO, através de taxas, impostos e tributos. A cidade controlava também as terras. Os latifundiários moram na cidade.
Na cidade funcionava também o CONTROLE DO COMÉRCIO dos bens de consumo e o comércio dos escravos. Foram os gregos que introduziram o escravismo como modo de produção. O trabalho era para o escravo. O grego livre não trabalhava: dedicava-se ao saber, à arte, à guerra.
Na cidade funcionava, também, o CONTROLE DO EXÉRCITO. Foi a civilização grega que introduziu a “guerra programada”, para arrebanhar escravos para seus empreendimentos.
Na cidade funcionava também o CONTROLE DA RELIGIÃO. É uma religião politeísta, com um monte de deuses. Um desses deuses é o próprio Imperador Romano. A religião era uma pirâmide que retratava a pirâmide social. A função da religião era consolidar a situação reinante.
O complexo CIDADE/VILA/CAMPO era administrado através de uma assembléia, que eles chamavam de “eklesia” daí vem o termo Igreja. Na assembléia da cidade grega só participavam os “cidadãos”, isto é, os proprietários, os livres, os não-trabalhadores. Era na assembléia que se faziam as leis e se estabeleciam os critérios para a tributação. Não participavam da “eklesia” as mulheres, os escravos, os posseiros, os estrangeiros, os presos. Esses eram os não-cidadãos do Império. Havia a possibilidade de comprar o título de cidadão, mas era caríssimo, por isso mesmo não acessível ao povão. Essa era a “democracia” grega que os romanos herdaram.
Esses não-cidadãos não tinham direito à:
à propriedade da terra; ao casamento sem autorização da assembléia;
à participação da assembléia; ao sacerdócio;
à fundação de associações; de legar herança ou deixar testamento - se possuíam algo com sua morte isto passava ao Estado.
ao comércio direto com os romanos - para fazê-lo deviam pagar uma taxa;
Os estrangeiros estavam sujeitos a penas e castigos mais severos. Para qualquer coisa que o estrangeiro necessitava do Estado tinha que pagar. Eram explorados em tudo.
Economicamente os estrangeiros eram meeiros, diaristas recebendo apenas um salário de subsistência de um dia. Não podiam ser donos de terra. Social e politicamente eram marginalizados.
Eram sempre suspeitos de inveja e de competição para com os “cidadãos”. A palavra grega que os denominava era “paroikoi” que significava “estrangeiros residentes”, donde vem a palavra “paroquiano”. O direito que tinham era realmente apenas o direito de pagar impostos e de cumprir a lei do Estado.
Esses estrangeiros da Diáspora, gente pobre, também organizaram sua assembléia (eklesia). Era uma assembléia alternativa à da cidade, onde todos podiam entrar, sem discriminação. Em Efésios 2, 11-22 mostra como nessa assembléia cristã os marginalizados do mundo também podiam ser cidadãos. Era uma forma de resistência dos pobres contra a organização oficial. Eram as comunidades cristãs. Essas assembléias, pois, não eram só espirituais: tinham conotação política. Apresentavam uma alternativa de sociedade que dava “status” aos marginalizados do sistema romano.
É claro que os escravos tinham menos direitos ainda que os estrangeiros no Império. Todos estes não-cidadãos, para qualquer coisa que precisassem, como por ex.: ter direito de defesa em tribunal, deveriam pagar taxas ou cotas de produção de trabalho. Além disso estavam sujeitos a penas mais severas como por exemplo a morte na cruz. No livro de Lucas 15,11-17 a vida que o filho levava como estrangeiro.
Neste contexto, as comunidades cristãs assumem duas formas organizativas de negação e de resistência ao império: a casa (em grego = oikos) e a igreja. A palavra igreja é a tradução portuguesa da palavra grega - eklesia, que era o nome técnico da assembléia dos cidadãos. Porém a eklesia dos cristãos será a assembléia dos não-cidadãos, principalmente. Através destas duas organizações, que enfrentam o Império Romano, os cristãos querem ser fiéis ao seguimento de Jesus.
Na cultura greco-romana, a casa (oikos) era a unidade básica da produção; era o ponto de sobrevivência de um conjunto de parentes formando uma grande família. A palavra “Economia” (oikos = casa; nomos = leilei da casa) significa a lei que rege a casa ou o sistema. Nesta cultura, saber administrar a casa ou as coisas a ela ligadas, como a posse da terra, eram fundamentais para a liberdade e a autonomia dentro do sistema sócio-político e econômico. Nesta perspectiva o ponto de partida para a administração do Estado era a administração da casa. O Estado era considerado a casa do pai-imperador.
A partir de Augusto, os imperadores exploram esta estrutura para monopolizar o poder político. Buscava a lealdade pessoal através da obtenção do juramento dos pais da família. Como extensão do poder do pai da família (patria potestas), emerge uma pretensão mais universal do poder (potestas), o poder de um “pai da pátria”. Os súditos leais seriam doravante os favorecidos filhos e filhas do “pai da pátria”. Assim a ideologia básica que sustenta o estado é a do cidadão que vê no imperador a figura do pai de uma grande família. A estrutura básica do estado é a estrutura familiar, a estrutura da casa (oikos).
O cristianismo, na sua expressão, assumiu esta estrutura de casa greco-romana, mas com uma lógica baseada na tradição do Antigo Testamento. A casa supõe a terra, a luta pela terra, mesmo que fosse com a restruturação agrária feita por Vespasiano e sua dinastia, que estavam devolvendo o uso da terra aos camponeses empobrecidos, distribuindo algumas e arrendando outras.
Para os cristãos, a casa não era uma subordinação ao sistema paterno da casa no projeto imperial, mas está subordinada ao Pai, dentro da revelação de Jesus Cristo. “Aqueles que governam as nações delas se assenhoreiam, e os seus grandes as tiranizam. Entre vós não será assim...”(Mc 10,42-43). Assim o sistema de casa cristã nasceram muitos valores que contrariam os valores imperiais, como por exemplo a justiça baseada no perdão, a partilha, mas principalmente o auxílio aos necessitados e o acolhimento dos doentes e dos marginalizados, proporcionando-lhes acesso à fraternidade e à terra, portanto: a vida. Pela nova prática de casa, os cristãos quebraram o feitiço que sustentava a estrutura piramidal do Império: o pai como o imperador e o imperador como um pai, figurando até como um deus pela concentração do poder econômico e político.
Em Atos o espaço da casa aparece como um espaço independente para a comunidade cristã. É o lugar do batismo, da catequese e da participação (At 16,32-34). Aparece idealizado com o lugar da fraternidade e da comunhão (At 2,42-47 4,32s)
No confronto com o judaísmo, a origem e constituição familiar do movimento cristão, aparece não só como contraste mas também como crítica à hegemonia do templo e a ideologia sacerdotal. O lugar da salvação não é mais o templo e a pureza ritual, mas é a casa. Os inícios e a inspiração do movimento cristão e o derramamento do Espírito, sucedeu em uma casa e não no templo. A casa é doravante o lugar da presença e da bênção a Deus.
A outra estrutura de resistência e testemunho cristão é a eklesia = igreja. Ao contrário da eklesia da cidade, e que só participam os proprietários ou ricos artesãos e comerciantes (At 19) na assembléia cristã participam todos os cristãos no “caminho”, todos os que se juntaram à prática de Cristo. E estes eram principalmente os camponeses sem terra, arrendatários, assalariados, mulheres e escravos ou doentes, enfim os pobres (Tg 2,5; I Co 1,26-28; Lc 14, 16-24). Todos marginalizados, tanto pela lei do Puro-Impuro, do judaísmo oficial (Jo 7, 48ss), como pela assembléia (eklesia) da cidade grega. Através da casa (oikos) cristã e dentro da eklesia cristã todos estes marginalizados alcançavam os meios necessários para a vida e a dignidade de cidadãos plenos (Ef 2,29; Rm 8,17). Ali todos podiam participar.
Os pobres, os marginalizados, “a pedra rejeitada pelos construtores” da estrutura judaica e da estrutura greco-romana, tornaram-se a pedra principal da comunidade cristã (oikos) e através dela tem acesso à terra, principal meio de produção; assim são reintegrados na vida. Toma importância aquela parábola do “Filho Pródigo”( Lc 15,11-32), onde, no diálogo do pai com o filho mais velho, que questiona a reintegração do irmão, o pai o convence dizendo: “este teu irmão estava morto e torna a viver”, fora da casa não há vida. Viver significa voltar para casa (oikos).



 8o Dia

5. O Apocalipse de João #

Falar primeiro sobre o que os participantes sabem sobre o Apocalipse e suas impressões sobre este livro. Depois: Ler em plenária Ap 1, 12-20 (a descrição do Cristo) e falar sobre o que entenderam, compreenderam e quais as perguntas e dúvidas que surgem a respeito do Apocalipse.

 Ler o texto abaixo em grupos. Trazer para a plenária o que entenderam e trazer as dúvidas para serem debatidas na plenária.

COMO NASCEU E CRESCEU O APOCALIPSE #
O texto do Apocalipse é difícil não só por causa das imagens estranhas, mas também por causa das costuras e rupturas que nele existem. Não é um texto com uma unidade harmoniosa. Parece não ter um plano claro. Ele dá a impressão de ter sido escrito em várias etapas.
Um pedreiro experiente é capaz de descobrir as etapas da construção de uma casa. Ele examina o prédio e diz: "A varanda da frente foi feita depois. Veja só os sinais na janela e na porta, A cozinha foi alargada. Olhe o piso e aquela viga lá no teto. Para o quarto dos meninos, ele puxou o telhado e aproveitou aquele ângulo morto. No começo só havia mesmo dois quartinhos, uma cozinha apertada e um banheiro". O Apocalipse é como uma casa popular. Cresceu aos poucos, de acordo com as necessidades da família. Alguns exegetas examinaram os sinais nas paredes, no piso e no teto do Apocalipse. Analisaram as rupturas e costuras que existem no texto, e concluíram o seguinte:
1. A parte mais antiga são os capítulos 4 a 11. Foi escrita, provavelmente, durante a perseguição de Nero (64) ou, conforme outros, na época da destruição de Jerusalém (70). A caminhada das comunidades é vista como um Novo Êxodo. A Boa Nova é apresentada como um anúncio de libertação para o povo oprimido.
2. No fim do governo de Domiciano (81-96), a perseguição voltou. Os problemas cresceram. Era necessária uma reflexão mais aprofundada sobre a perseguição e sobre a política do império romano. Para responder a essa nova problemática dos anos 90 foram escritos os capítulos 12 a 22, concebidos como continuação e alargamento da sétima praga do fim da primeira parte (Ap 11,14-19). A história da humanidade é vista como revelação progressiva do julgamento de Deus. A Boa Nova é apresentada corno condenação progressiva dos opressores do povo.
3. Em seguida, foram acrescentados os capítulos 1-3, que dão ao livro o aspecto de uma carta carinhosa com endereço certo. São a varanda acolhedora da frente, onde João recebe o povo perseguido. A carta começa com um preâmbulo (Ap 1,4-20), que serve de introdução a todo o livro do Apocalipse. A Boa Nova é apresentada como exigência de fidelidade e de compromisso.
No fim, um editor juntou tudo, fez o portão de entrada (Ap 1,13), ajeitou o quintal dos fundos, que é a conclusão (Ap 22,6-21), e a casa ficou pronta! Esta é apenas uma entre as muitas teorias que existem em torno do Apocalipse. A melhor teoria será aquela que melhor explique as dificuldades literárias que o texto apresenta, e melhor revele a mensagem do Apocalipse para os pobres e perseguidos de hoje. Conhecer a história da construção da casa é útil e importante para a compreensão do Apocalipse. Muito mais importante, porém, é o povo poder morar na casa e sentir-se protegido pelo poder de Deus. Mora gente nela até hoje!

1. Dividir a história em etapas para poder situar o tempo presente
a. Voltar ao passado
Por meio de visões, o apocalíptico se transporta para o início do plano de Deus ou para o início de alguma etapa importante desse plano. Por exemplo, o autor do livro de Daniel, que vive no período dos macabeus (167 a.C.), volta para o tempo do exílio do imaginário Baltazar, rei da Babilônia (550 a.C.) (Dn 7,1; 8,1). Numa outra visão, ele volta para o tempo de Dario, o rei dos persas (521-486 a.C.) (Dn 9,1). João, que vive no fim do século I d.C., em uma das suas visões volta para o ano 33, para o momento em que Jesus acaba de ressuscitar e de receber o poder à direita do Pai (Ap 5,6-8). Em outra visão, volta para o início da criação, para o momento em que Deus fez o anúncio da luta vitoriosa da Mulher contra a serpente, o Dragão (Ap 12,14). Outros apocalípticos voltam para o tempo de Abraão, de Henoc, de Elias ou de outros. Não consta haver apocalipses atribuídos a Davi ou a algum rei de Judá ou de Israel.
O mesmo acontece hoje na interpretação da Bíblia. Uns voltam ao êxodo, outros ao cativeiro. Alguns dizem que a história bíblica começou com Davi e que o resto é pré-história. Outros dizem, e com razão, que ela começou com o êxodo e com a experiência igualitária do tempo dos Juízes. Na descrição da história das Américas, uns situam o início em 1492, outros voltam até milhares de anos antes de Cristo. Cada um conforme a sua visão. É importante saber onde você, na sua visão, situa o início da sua caminhada e da caminhada da sua congregação e do seu povo.
b. Olhar para o futuro e situar o tempo presente
Estando no passado, o apocalíptico olha para o futuro e descreve roteiro das várias etapas da história da salvação, desde o início até vitória final. É importante descobrir o critério que o apocalíptico usou para dividir a história em etapas, pois ele é a chave que abre o sentido do apocalipse. Por exemplo, o livro de Daniel, na visão dos animais (Dn 7,144), divide a história em cinco etapas que representam. os cinco reinos ou impérios. Quatro reinos são animalescos. O quinto tem a figura de um Filho do Homem. Na visão do carneiro e do bode (Dn 8,1-14), a divisão também é de cinco etapas. Os dois chifres do carneiro representam os dois reinos dos medos e dos persas.
O grande chifre do bode representa o governo de Alexandre Magno. O pequeno chifre que cresce representa a perseguição de Antioco. Depois vem a quinta e última etapa "em que será feita justiça ao santuário" (Dn 8,14). O evangelho de Marcos traz um pequeno roteiro no discurso apocalíptico (Mc 13,5-27). Paulo traz elementos de algum roteiro apocalíptico na carta aos tessalonicenses (2Ts 2,1-12). O Apocalipse de João tem dois desses roteiros. São as duas partes principais do livro. O primeiro (Ap 4 a 11) descreve a caminhada como um novo Êxodo e a divide em sete etapas conforme os sete selos do livro selado (Ap 5,1). O tempo presente das comunidades é o quinto selo (Ap 6,9-11). O segundo roteiro (Ap 12-22) descreve a caminhada como um julgamento de Deus.
Lendo esses roteiros, o povo de Deus olha como que a um espelho e descobre a que altura está a caminhada. Descobre a parte que já pertence ao passado, a parte que está acontecendo, e qual ainda deve acontecer. Desse modo, a comunidade se situa e descobre que a própria perseguição faz parte da caminhada como etapa necessária para se chegar ao fim. Em todos os roteiros, por mais diversos que sejam, o momento presente das comunidades situa-se sempre imediatamente antes do fim. Isso leva a concluir: "A caminhada está conforme o plano de Deus. É ele que nos conduz. Estamos na penúltima etapa! Falta pouco para chegar ao fim! Vamos continuar a resistir!" Assim, a escuridão da perseguição se ilumina por dentro, o véu vai caindo e a Boa Nova da face de Deus reaparece de novo na história do povo.
c. Defender-se contra os opressores do povo
Em época de perseguição, todo cuidado é pouco. Dizer abertamente que o império é o grande inimigo a ser combatido podia dar prisão. As visões dos apocalípticos com seus símbolos são um meio para defender o povo contra os opressores. Em linguagem cifrada revelam sua mensagem aos oprimidos e a escondem aos opressores. Falando do que aconteceu no passado no mundo lá de cima, estão pensando no que está acontecendo de fato no mundo cá de baixo. Assim driblam a censura. Para bom entendedor, meia palavra basta! Por exemplo, João diz que o número da besta é 666 (Ap 13,18). De acordo com o número de cada letra, o leitor calculava e descobria a mensagem: a besta é o imperador de Roma que perseguia os cristãos. Da mesma maneira, explica o mistério da grande prostituta, sentada sobre uma besta-fera com sete cabeças (Ap 17,3.9).
d. Fazer-se entender pelo povo das comunidades
Um cartaz com desenhos transmite muito mais. Uma dramatização é mais instrutiva do que um sermão. Uma imagem diz muito mais do que uma frase. Para se expressar, o povo prefere usar desenhos, teatro, imagens, cartazes, comparações. Um apocalipse não é uma sala de conferências onde o povo entra para escutar alguém falar. Parece muito mais um salão de exposições, cheio de imagens e retratos, pinturas e quadros. O povo pode entrar e andar à vontade pelas páginas do livro, observando, conversando, rezando. Pode escolher e andar onde quiser. Pois cada pintura, cada visão tem a sua própria mensagem. Seguindo, porém, a ordem em que o apocalíptico situou as visões, você aproveita mais, pois aos poucos, vai percebendo a mensagem do conjunto, um quadro esclarece o outro, a luz do conjunto cai sobre os detalhes e os clareia.
2. Usar uma linguagem radical, sem meio-termo
Na maioria das visões dos apocalípticos não há meio-termo. Só contraste! De um lado, os impérios animalescos e brutais (Dn 7,3-8); de outro, o reino humano perfeito do Filho do Homem (Dn 7,9-14). De um lado, o Dragão e a besta-fera (Ap 13,1-18); de outro, o Cordeiro e o seu exército (Ap 14,1-5); de um lado, Roma, a grande prostituta (Ap 17,1-18); de outro, Jerusalém, a noiva do Cordeiro (Ap 21,1-22,5). Os apocalípticos sabem muito bem que, na vida real, as coisas não são assim. João, por exemplo, sabe que o bem e o mal existem misturados até na vida das comunidades (Ap 2-3). Sabe que, no império romano, existe muita coisa boa, muita gente boa. Por que, então, nas suas visões, o apocalíptico faz como se, de um lado, só existisse coisa boa e, de outro, só coisa ruim? Sua linguagem extremista favorece a leitura fundamentalista e pode levar a uma má interpretação do Apocalipse. Como explicar essa atitude? Tomemos como exemplo o Apocalipse de João.
Concluindo
Um apocalipse é uma determinada maneira de ler a história a partir da fé. Os apocalipses surgem em épocas em que a visão de fé das comunidades é contestada e brutalmente desfeita pela violência dos fatos. A mentalidade da sociedade que envolve as comunidades e as permeia por dentro e por fora declara a existência baseada na fé como desprovida de valor, sem consistência e sem futuro. Muitas vezes, essa mentalidade produz perseguições contra as comunidades e, por isso mesmo, provoca reações variadas e até opostas entre os membros das comunidades.
Os que exerciam a liderança na comunidade, envolvidos pelo medo ou pela preocupação de salvar o próprio bolso e a pele ou pela preocupação de manter a comunidade unida, introjetaram na sua consciência a visão dos perseguidores e procuravam adaptar a vida da comunidade à mentalidade envolvente da sociedade. Eles tentavam reler a fé a partir da visão dos opressores do povo e a esvaziavam, assim, do seu conteúdo crítico e contestador.
Outros, menos preocupados com a defesa do poder ou da doutrina, desafiados pela mesma agressão da sociedade, retomam com vigor a fé antiga no que ela tem de crítico e de contestador, e tentam reler os fatos a partir desta fé. Eles assumem a sua situação de fraqueza e de impotência diante da sociedade e da história. Tendo como raiz e apoio o que hoje se chama a mística da fé, souberam conservar vivas no povo as forças da resistência contra a opressão e encontrar uma atitude política mais realista que os levou a sobreviver aos próprios opressores. É deles que surgiram os apocalipses conservados na Bíblia.
(O sonho do povo de Deus. Coleção: Tua Palavra é vida, nº 7. Publicações CRB, Edições Loyola, 1997)



 Ler em plenária os seguintes textos e falar sobre eles:
Objetivo: Revelar os fatos do presente à luz do passado e do futuro - Ap 1,1-4
Destinatários - A Igreja Cristã - Ap 1,4-8
Autor - João - Ap 1,9

 Ler em três grupos os textos abaixo
1. Detalhar a situação do império e das comunidades que eles apresentam e descobrir qual a resistência ou saída proposta pelo texto.
2. A partir da descrição do sistema que o texto faz ver, quais as semelhanças e diferenças com hoje.

Época - Situação Política - Ap 13,11-18 + Ap 17,1-18
Situação Econômica - Ap 18,1-24
Situação Religiosa - Ap 7,9-11 + 13,1-10

 Ler em grupos o texto a seguir e sintetizar a dinâmica da comunidade cristã e a dinâmica do império e colocar isto em plenária.
O Confronto de Duas Propostas #
O Sistema Escravista Romano tem que Desaparecer
A comunidade primitiva conseguia deixar claro que o sistema romano não é igual à proposta do Reino de Deus. Por isso não dava para concordar com o sistema escravista romano. E o sistema romano está alicerçado na economia que dá o poder ao chefe. Por isso deveria desaparecer para que pudesse surgir o novo sistema criado e legitimado por Deus.
As Comunidades no Império Romano sonhavam com o fim do sistema escravista romano. Pois este sistema usava a religião para explorar e oprimir o povo.
O Império com sua religião oficial criou confusão e não se sabia certo a quem adorar. A obrigação era adorar à César e aos deuses da cidade em que se residia. Quem não adorasse aos deuses do Império e das cidades era subversivo.

O Cristão era considerado ímpio.
Os cristãos eram considerados ateus pelas pessoas do Império. Pois, na Antigüidade a cidade - polis - se fundava sobre a religião.
Cada cidade tinha seu deus ou deusa. Ser contra este deus era ser contra a cidade, contra o Estado. Era, impossível separar a política da religião. O ato religioso era ao mesmo tempo um ato cívico e vice-versa. O culto aos deuses dava a união e harmonia a toda a sociedade. Os romanos entendiam que deviam a sua prosperidade e vitórias, contra outros povos, aos deuses.
Foi o Imperador Otávio que introduziu a divinização do Imperador e ao longo do tempo o Império teve bons resultados políticos com esta decisão.
O crescimento do cristianismo foi considerado uma ameaça à religião romana, o que era o mesmo que uma ameaça política. Considerados ateus os cristãos não adoravam deuses romanos. O cristianismo foi considerado uma espécie de crime contra o império. Ser cristão era o mesmo que ser criminoso. Lembre-mos das palavras de Paulo em Rm 12, 1-2: não vos conformeis com este século. Por isso de tempos em tempos havia perseguições oficiais contra os cristãos.

Anos de Perseguição.
A igreja primitiva entre os anos de 64 e 313 conheceu 129 anos de perseguição e gozou de 120 anos de relativa tranqüilidade. Calcula-se o número de mártires no período em torno de 100 mil a 200 mil pessoas. Fora as pessoas que tiveram os seus bens confiscados, foram presas, torturadas e exiladas e condena¬da ao trabalho nas minas.
O Império perseguiu o cristianismo por ver nele uma ameaça. Por isso queimavam os livros sagrados, destruíam igrejas, proibiam a atividade e difusão, interditavam as reuniões e mesmo a freqüência aos cemitérios (que eram locais de reuniões). Os primeiros visados em quase todas as perseguições eram os líderes, os chefes das comunidades.
As perseguições, desde Trajano, no ano 112 impuseram um teste para verificar se o cidadão era cristão: tratava-se de sacrificar aos deuses e ao imperador. Em várias delas, todos os cidadãos foram obrigados a passar por este teste.

Cemitérios: lugar de Reunião.
O uso de cemitérios subterrâneos não era próprio dos cristãos. Já eram usa¬dos pelo fenícios e egípcios, posteriormente imitados pelos judeus. Os cristãos tinham o costume de ir rezar junto aos mortos, de reunir-se e realizar cerimônias litúrgicas nos cemitérios. A insegurança, ao menos relativa e, em determinados momentos, dramática, levou-os a transformar as catacumbas em lugares de culto. A legislação romana dava proteção especial às propriedades funerárias. Reunir-se num cemitério era sempre mais seguro. Foram as perseguições que motivaram a ampliação das catacumbas em meados do Século 2 até o fim do Século 3. Em tempo normal, o culto era realizado em casas particulares ou, a partir do Século 3, em casas especial¬mente consagradas ao culto, as igrejas só surgiram na segunda metade do Século 3.

Ser Cristão é Crime.
O crime era ser cristão. Assim, confessada a fé, a pessoa podia ser imediata¬mente julgada e sentenciada. Não havia necessidade de instrução, nem testemunhas, nem prazos. Ser cristão era crime sem direito a defesa. Muitas vezes para conseguir a apostasia - a negação da fé e sacrifício aos deuses - os magistrados determinavam que o réu fosse torturado. Só depois que ele se demonstrasse convicto - o processo podia durar anos - é que era lavrada a sentença.
Várias eram as penas a que podiam ser condenados:
A pena de morte - crucificação, a queima na fogueira, a decapitação, os suplícios até a morte, as feras do circo. Outra pena era o exílio ou o trabalho forçado nas minas.
A tortura tinha por finalidade forçar os cristãos a negarem a fé. Visavam também fazê-los delatar outros cristãos, denunciar seus nomes e endereços. Era uma norma das comunidades primitivas: não largar em hipótese nenhuma os que fraquejavam nas torturas e negavam a fé, enquanto houvesse possibilidade de uma recuperação.

A Liberdade Cristã
Os cristãos presos eram um verdadeiro centro de irradiação em suas comunidades. De toda parte os irmãos em liberdade faziam questão de ir a eles para retemperar o ânimo, descobrir e aprofundar a fonte de sua alegria, de sua paz, de sua coragem. Havia uma consciência clara de que a adesão a Cristo era mais importante que tudo mais; de que manter-se firme era manter a liberdade; ao passo que ceder era tornar-se escravo da força, da tirania. Para ser livre, o cristão podia ser levado a perder a liberdade física ou mesmo a vida. Porque a verdadeira liberdade, a verdadeira vida se manifestava no mais alto grau na confissão e no martírio. A liberdade significava a coragem de ser aquilo que se era - discípulo de Cristo -, de proclamar a Verdade, de seguir sua fé independentemente das ameaças e da força. Por serem livres, os cristãos não temiam perder a liberdade exterior - de locomoção, de vida inclusive. Havia algo que impressionava de modo todo especial os pagãos: era o desprezo dos cristãos pela morte. Havia uma consciência muito profunda nos cristãos do futuro que está para vir: a esperança era a virtude vivida intensamente, não apenas individual, mas coletiva¬mente. Esperança no mundo futuro, no novo céu e na nova terra que já haviam iniciado com a ressurreição de Cristo. Os cristãos traziam em si esta certeza de vida nova inaugurada pelo Senhor ressuscitado. Apesar da obscuridade da fé, a esperança era neles a maior garantia de que no sofrimento e na morte o amor alcançava sua vitória definitiva sobre o ódio.

 Dividir em 7 grupos e ler as 7 cartas escritas para as 7 Comunidades - Ap 1,1-3,22 e descobrir a estrutura abaixo com suas mensagens específicas para cada comunidade e descobrir a realidade de cada comunidade e a conjuntura política, religiosa e econômica que a cerca.
A estrutura das cartas
1. Todas são dirigidas ao “anjo da comunidade”.
2. Todas se apresentam como palavra de Jesus: “assim diz...”
3. Em cada carta, Jesus recebe um título.
4. Em todas as cartas, Jesus começa dizendo: “conheço”- fala de uma qualidade positiva da comunidade .
5. Jesus descreve o que cada comunidade tem de negativo e dá advertências.
6. Todas elas têm um aviso final: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
7. Todas elas terminam com uma promessa ao vencedor.


Uma visão da estrutura do livro do Apocalipse de João: #
1. Introdução
Objetivo: Revelar os fatos do presente à luz do passado e do futuro - Ap 1,1-4
Destinatários - A Igreja Cristã - Ap 1,4-8
Autor - João - Ap 1,9
Origem do livro: a visão de Jesus – 1, 9-20
Época - Situação Política - Ap 13,11-18 + Ap 17,1-18
Situação Econômica - Ap 18,1-24
Situação Religiosa - Ap 7,9-11 + 13,1-10
2. A Boa Nova em três partes:
2.1. As 7 Cartas para as 7 Comunidades - Ap 2,1 - 3,22
A exigência de fidelidade e de compromisso para com Jesus Cristo
2.1.1. A estrutura das cartas - As 7 divisões de cada carta:
1. Todas são dirigidas ao “anjo da comunidade”.
2. Todas se apresentam como palavra de Jesus: “assim diz...”
3. Em cada carta, Jesus recebe um título.
4. Em todas as cartas, Jesus começa dizendo: “conheço”- fala de uma qualidade positiva da comunidade .
5. Jesus descreve o que cada comunidade tem de negativo e dá advertências.
6. Todas elas tem um aviso final: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”.
7. Todas elas terminam com uma promessa ao vencedor.
2.2. A Primeira leitura dos acontecimentos da perseguição- Ap 4,1 - 11-19
O anúncio de libertação para o povo oprimido - O Novo Êxodo.
4,1-11 - Visão do Trono de Deus
5,1-14 - Visão do Cordeiro com chaga de morte
6,1-7,17 - Abertura do livro fechado a 7 selos
6,1-8 - O Passado - primeiros 4 selos
6,9-11 - O Presente - quinto selo
6,12-7,17 - O Futuro - sexto selo
6,12-17 - derrota dos opressores do povo
7,1-17 - a missão do povo perseguido
8,1-10,7 - Abertura do sétimo selo: as 7 pragas finais da história
10,8-11,13 - Intervalo que prepara o segundo roteiro
10,8-11 - visão do livro doce e amargo
11,1-13 - visão das 2 testemunhas - Moisés e Elias
11,14-19 - Sétima praga que marca a chegada definitiva do Reino
2.3. A Segunda leitura dos acontecimentos da perseguição- Ap 12,1 - 22,21
O julgamento e condenação dos opressores do povo
12,1-17 - O Passado: a luta entre a mulher e o dragão
13,1-14,5 - O Presente: os dois campos em luta - besta e o cordeiro
13,1-18 - a besta = o Império Romano
14,1-5 - o cordeiro e seu exército = o povo cristão
14,4-20,15 - O Futuro: julgamento e condenação dos opressores
14,6-13 - três anjos anunciam o que vai acontecer
14,14-20,15- realiza-se o anúncio feito pelos anjos
14,14-20 - chegada do dia do julgamento
15,1-19,10 - a queda da Babilônia
19,11-20,15 - derrota final do poder do mal
21,1-22,5 - Festa final da caminhada do povo.


Símbolos e Imagens no Apocalipse #
1. 7 espíritos: Espírito Santo (l,4)
2. Alfa e Omega: princípio e fim (l,8)
3. Dia do Senhor: domingo (1,10)
4. Voz da trombeta: sinal para a luta (1,10)
5. 7 candelabros: 7 (= todas igrejas/comunidades (1,12)
6. Filho do Homem: Jesus, rei e sacerdote (1,13)
7. Túnica longa: sinal de sacerdócio (1,13)
8. Cinturão de ouro: sinal do rei (1,l3)
9. Cor branca: alegria, vitória, transcendência, eternidade (1,14)
10. Olhos de fogo: onisciência penetrante (1,14)
11. Pés de bronze incandescente e voz possante: majestade, força, poder e firmeza (1,15)
12. Estrelas: 7 (= todos os) coordenadores/bispos/anjos protetores das comunidades (1,16)
13. Espada de dois gumes: palavra julgadora de Deus (1,16)
14. Sol: majestade, luz de Deus (1,16)
15. Anjo: bispo coordenador da comunidade (2,1)
16. Árvore da vida: paraíso primitivo (2,7) símbolo do céu
17. 10 dias: tempo longo que terá fim (2,10)
18. Coroa: vida eterna, gloria (2,10) em 12,3)
19. Maná: alimento da vida (2,17)
20. Pedrinha branca: símbolo da glória eterna (2,17)
21. Chave de Davi: poder messiânico de Cristo (3,7)
22. Coluna: perseverança no reino (3,12)
23. Céu: região ideal da transcendência de Deus (2,12; 4,1.2; 3.13)
24. Trono: soberania absoluta e segurança imperturbável de Deus (4,2)
25. Pedras preciosas: santidade e glória (4,3)
26. Arco-íris: aliança e bondade misericordiosa de Deus (4,3)
27. 4 anciãos: representantes do povo de Deus do AT e NT, reis e sacerdotes com Deus (4,4)
28. relâmpagos e trovões: teofania, majestade divina (4,5)
29. 7 relâmpagos de fogo: Espírito Santo (4,5)
30. Mar de vidro: piso de grande resplendor (4,6); diante de Deus tudo é transparente
31. 4 seres vivos: representam todos os seres vivos (4,6); leão/nobreza, touro/força, homem/inteligência, águia/agilidade; asas/prontidão; olhos/vêem tudo.
32. Livro selado com 7 selos: etapas da história; decretos e desígnios divinos sobre a criação e a humanidade (5,1)
33. Cordeiro: Jesus (5,6)
34. 7 chifres: plenitude do poder (5,6)
35. 7 olhos: plenitude da ciência (5,6); 7 espíritos de Deus
36. Entrega do livro: tomada de posse do Cristo na glória (5,7)
37. 4 cavaleiros: pragas desencadeadas a serviço do cordeiro (6,2ss)
38. Cavalo vencedor: A: conquistador imperialista; B: Cristo ressuscitado (6,2)
39. Cavalo vermelho: A: guerra civil; B: guerra religiosa (dos Macabeus e 66-70 d.C.) (6,3s)
40. Vermelho: violência, crueldade (6,4; 1293)
41. Cavalo preto: A: carestia/fome; B: justiça e misericórdia divina (6,5s)
42. Preto: morte, negatividade (6,5s)
43. Cavalo baio/esverdeado. A: mortalidade entre os homens; B: destruição de Jerusalém(6,7s)
44. Arte: parte notável (6,8), parcialidade
45. Habitantes da terra: os homens contra o Reino (6,10)
46. 12 tribos: todo povo de Deus, a igreja militante (7,5ss)
47. 144.000: grandeza deste povo (7,4)
48. Silêncio: expectativa (8,1)
49. 7 trombetas: novo desenvolvimento dos selos (8,2) ; pragas finais da história
50. 7 anjos: 7 arcanjos de que fala Tobias 12,15 (8,2)
51. Perfumes do turíbulo: orações dos santos/cristãos (8,4)
52. 3ª parte: grande parte prejudicada (8,7), parcialidade
53. Estrela que cai do céu: satanás (9,1) (Em 22,16, a estrela é Cristo)
54. Fumaça, fogo e enxofre: elementos do inferno, forças demoníacas (9,17)
55. Anjo poderoso: anjo de Deus (10,1)
56. Comer o livro: assimilar o conteúdo para anunciá-lo (10,9)
57. 42 meses = 1260 dias - 3,5 anos: tempo limitado, imperfeito (11,2)
58. Vestes rudes: vestes de profeta (11,3)
59. Besta/fere: império/imperador romano, prepotência do poder de satanás (11,7; 13,1)
60. Mulher grávida: povo de Deus, nova Eva/humanidade, comunidades, Maria gerando o libertador (12,1)
61. 12 estrelas : todo povo de Deus (12,1)
62. Dragão: monstro: poder do mal, satanás (12,3; 20,2)
63. 10 chifres: sinal de muito poder, mas limitado (12,3)
64. 7 cabeças: 7 colinas ou 7 reis "astutos" de Roma (12,3; cf. 17,9)
65. Acusador dos irmãos: satanás (12,10)
66. Asas de águia: proteção de Deus (12,14)
67. Rio de água: império romano que persegue com seu exército (12,15)
68. Mar: símbolo do poder do mal, inferno (13,1)
69. Pantera, urso e leão: símbolos da voracidade/exploração (13,2)
70. Cabeça ferida mas curada: Nero morreu, mas revive em Domiciano (13,3)
71. 29 besta/fera: falsos profetas que legitimam o poder do império (13,11)
72. 666: Imperador Nero (13,18)
73. 144.000 virgens: nº completo de pessoas que não seguiram ídolos (14,1)
74. Babilônia: Roma, o império (14,8)
75. Vindima: Juízo sobre os ímpios (14,18)
76. 7 pragas: as que vão destruir aos poucos o império romano (15,1)
77. Vencedores: o povo de Deus (15,2)
78. Rãs: símbolo da impiedade (16,13)
79. Harmagedon: símbolo da derrota dos Ímpios (como na colina fortificada em Esdrelon (Jz 5,19) -(16,16)
80. Prostituta: Roma opressora, sede do império (17,1)
81. Esposa do cordeiro: comunidades (19,7)
82. Núpcias do cordeiro: vitória final e união de todo povo (19,9)
83. 1000 anos: tempo completo desde o fim a perseguição até o fim do mundo (20,2)
84. Tanque de fogo: inferno, símbolo do destino dos opositores de Deus (20,10)
85. Fogo do céu: Deus toma defesa de seu povo (20,9)
86. 2ª morte: condenação eterna no inferno (1ª morte: morte corporal) (20,14) (1ª ressurreição: batismo; 2ª ressurreição: vida eterna)
87. Nova Jerusalém: símbolo da união de Deus com seu povo ( 21,2)
88. nº 12: nova organização das doze tribos (21)
Simbolismo Aritmético
(os números não representam quantidade, mas qualidade)
3 - água/ar/fogo = totalidade - nº de Deus trino = totalidade do mundo incriado
4 - pontos cardeais = totalidade do mundo criado/mundo todo (4,6)
7 - (3+4) plenitude/totalidade/perfeição (mundo incriado + mundo criado) (1,4)
3,5 - (7+2) = 42 meses = 1260 dias: parcialidade/tempo limitado (11,2.3; 12,6)
6 - (7-1) = incompleto, imperfeito
666 - cúmulo da imperfeição (13,18)
12 - (3x4) = nº completo, totalidade do povo de Deus no AT/tribos de Israel
24 - (3x4x2) = nº completo, totalidade do povo de Deus do AT+NT (12 tribos + 12 apóstolos)
10 - muito, mas não infinito/tem fim (2,10; 9,5.10)
1000 - nº indefinido, totalidade (1000 anos = tempo completo desde o fim da perseguição até o fim dos tempos)
144.000 - (l2xl2xl000) = multidão incontável (7,4)
113 - 114 - parcialidade (6,8; 8,7-12) hipérboles numéricas: além do imaginável (5,11; 9,16)
Simbolismo dos Abalos Cósmicos = presença transformadora de Deus na história.
Alteração parcial - a ação de Deus na história com vistas à nova criação ainda à parcial (8,7-12; 15,2)
Alterações maiores - a ação de Deus se faz sentir com mais força. O grande dia chegará (16,1-16)
Alteração máxima - máximo da ação transformadora de Deus. O grande dia chegou (16,17) (16,1 – 21) Alteração violenta - transformação radical da história.



Para um estudo opcional:
O Esquema de Interpretação Bíblica abaixo quer ajudar as pessoas a descobrir que a Bíblia fala das coisas bem concretas e reais da vida das pessoas e da realidade. Quer ajudar a ver mais coisas que realmente vemos normalmente num texto bíblico. Este esquema pode ser usado para estudar qualquer texto bíblico, tanto do Antigo Testamento como do Novo Testamento.
É semelhante ao processo de conhecimento de uma pessoa estranha: se você faz uma pergunta a um estranho você fica sabendo somente uma resposta, mas se você faz vinte perguntas a ele, você terá vinte respostas. Quanto mais perguntas você fizer ao texto bíblico mais respostas você terá dele.
Sugere-se que se estude em grupo um texto bíblico a partir das questões abaixo. Sugiro começar com um texto bem conhecido que é o relato do Natal: Lucas 2, 1-20, como primeira experiência. Para estudar um texto leva-se de 2 a 4 horas. Primeiro deve-se ler e falar primeiro sobre as Questões para iniciar a conversa e depois ler todas as 84 questões para tentar entendê-las e somente depois ler o texto bíblico e aplicar o esquema de 84 questões.
Esquema de Interpretação Bíblica #
Questões para iniciar a conversa:
1. Como e por que você lê e interpreta um texto bíblico?
2. O que você procura no texto bíblico?
3. O que você pergunta ao texto bíblico?
Fazer estas perguntas ao texto:
1. O que diz o texto?
2. O que me diz o texto?
3. O que o texto nos faz dizer e fazer?
4. O que o texto não diz ou esconde, o que está dito indiretamente?
5. Qual o Conflito Central, quem envolve e o que envolve? (classificá-lo em: sócio-econômico-político-ideológico-cultural)
6. Quais os conflitos secundários, quem envolve e o que envolve?
7. Contexto do texto, no livro e do livro: o que diz o texto anterior e posterior e de que fala o capítulo no qual está inserido?
8. Textos semelhantes em outros livros, compare as diferenças e semelhanças; há mudanças de sentido: quais?
9. Tempo ou época do acontecimento relatado (no e do texto), do livro, do autor
10. O texto é um mito, lenda, oração, poesia, narração, canto, lei, novela, relato histórico, apocalíptico, parábola, carta, etc.?
11. Nomes (mulher ou homem), prática e jeito de cada um e posição social/econômica/política/cultural/religiosa?
12. Títulos que as pessoas recebem, por que os recebem, o que eles significam e influência que exercem por isso?
13. Pessoas sem nome, sua prática e posição social/econômica /política/cultural/religiosa
14. Lugares geográficos/cenários/espaços (tem um significado especial na história/economia/política/cultura/religião?)
15. Palavras ou expressões repetidas, o que significam e sua importância dentro do texto?
16. Posição da pessoa/comunidade e/ou grupo frente ao conflito central
17. Características da comunidade e/ou grupo, pessoa
18. Quais e como aparecem os cinco sentidos no texto? (tato, olfato, visão, gosto, audição)
19. Sentimentos que aparecem no texto – de amor, ódio, vingança, raiva, misericórdia, afeto, familiar, adoração, organização, luta, rivalidade, esperança, desesperança, etc. e sua importância dentro do texto
20. Relações sociais: entre quem e em que contexto; favorecem a quem e prejudicam a quem?
21. Relações afetivas: entre quem e em que contexto?
22. Relações com a ecologia: em que contexto, favorecem a quem e prejudicam a quem?
23. Relações culturais: entre quem, onde, em que contexto e o que significam?
24. Relações familiares: onde, entre quem e em que contexto acontecem
25. Relações étnicas entre quem e em que contexto acontecem?
26. Relações entre puros e impuros: entre quem e em que contexto; favorecem a quem e prejudicam a quem?
27. Relações comunitárias: entre quem e em que contexto e o que significam?
28. Qual a relação do texto com as estruturas de dominação ou de libertação, quais são, como são e a quem prejudicam ou favorecem?
29. Que injustiças acontecem, como acontecem, contra quem, quem as comete, a quem prejudicam e como, quem se beneficia com elas e de que forma?
30. Como a justiça é feita, onde, a favor de quem, quem a pratica, quem se beneficia dela e de que forma?
31. Espaço vivencial em que aparece a mulher e/ou outros marginalizados (casa, trabalho, cultura, política, economia, religião, família, comunidade)
32. Posição da mulher e/ou outros marginalizados: seu papel, se aparece diretamente ou não e por que?
33. Como o texto pode ser lido e recontado numa perspectiva feminista, negra, indígena?
34. Como escutar a voz dos grupos escondidos, oprimidos, calados no texto?
35. Esse texto motiva e fortalece ou não a luta das mulheres e de outros grupos oprimidos e excluídos? Como?
36. Relações de gênero: como e onde aparecem
37. Profissões que aparecem e sua importância no texto?
38. Relações de trabalho: quais e como acontecem; realizam ou oprimem as pessoas?
39. Relações econômicas: quais, entre quem, a quem beneficiam e a quem prejudicam?
40. Quais as pessoas empobrecidas ou ricas e importância que têm no texto?
41. Quais os problemas econômicos que aparecem; aponta-se soluções?
42. Quem explora o povo e/ou grupo e como acontece a exploração e conseqüências disto?
43. Sistema econômico: qual é, como se estrutura e como se articula
44. Grupos/pessoas, como se articulam, sua posição social/política/ econômica/religiosa/cultural e sua importância no texto?
45. Fatos/acontecimentos
46. Relações militares: entre quem e em que contexto; favorecem a quem e prejudicam a quem?
47. Relações políticas: entre quem e em que contexto; favorecem a quem e prejudicam a quem?
48. Relações internacionais entre quem e em que contexto; favorecem a quem e prejudicam a quem?
49. Relações jurídicas: entre quem e em que contexto; favorecem a quem e prejudicam a quem?
50. Relações históricas: entre quem e em que contextos são lembradas; favorecem a quem e prejudicam a quem?
51. Relações de poder: como acontecem, quem tem poder, quem o dá, a quem beneficiam e a quem prejudicam?
52. Há alguma postura ou denúncia profética: qual, de quem, contra quem, quais as reações que ocorrem, a quem beneficia e a quem prejudica?
53. Relações de organização dos oprimidos e opressores: quem são, seus objetivos e como se articulam?
54. Organização do Estado, seu objetivo, seu papel, for¬mas de repressão e controle social
55. Organização do povo: como é, seu papel e suas formas de luta
56. Elementos de libertação e de opressão
57. Como acontece a luta de classes no texto, que classes estão envolvidas, qual o motivo da luta e qual a posição de Deus/Jesus nesta luta de classes?
58. Mudanças que ocorrem: por que ocorrem, como ocorrem, com quem ocorrem e suas conseqüências?
59. Posição de Deus/Jesus frente ao conflito central
60. Relações cultuais: por quem, em que contexto e com que finalidade?
61. Relações ideológicas: que jeitos de pensar aparecem, de onde vem estes jeitos de pensar, a quem beneficiam e a quem prejudicam?
62. Relações éticas: entre quem e em que contexto; favorecem a quem e prejudicam a quem?
63. Relações educativas: entre quem e em que contexto; favorecem a quem e prejudicam a quem?
64. Símbolos e o que significam nos vários contextos
65. Relações de exclusão e de inclusão: como acontecem, em que contexto e por quem são ocasionadas?
66. Relações religiosas: de quem, em que contexto e com que finalidade?
67. Como e que espiritualidade aparece e quem a exprime: espiritualidade profética, contemplativa ou opressora?
68. Relações com outros deuses e quem são estes deuses?
69. Adoram Deus/Jesus de maneira falsa, onde, como, quem e para que? - idolatria
70. Fé como:
a) Acomodação - Reprodução da Ideologia Dominante
b) Resistência - Transformação/Esperança/Libertação
71. Relação entre fé e vida no texto e como se dá esta relação hoje a partir da compreensão do texto?
72. De que perspectiva o texto foi escrito, quem o transmite, quem o escreveu e para quem foi escrito?
73. Houve alguma interpretação ou adendo do escritor do texto sobre o relato oral do acontecimento original?
74. O texto ajuda na libertação das mulheres e dos homens ou ele justifica a estrutura vigente da época e de hoje, como?
75. No texto, o que é palavra de Deus/Jesus e o que são palavras de pessoas (homens ou mulheres)?
76. O que há de novo no texto em relação à história, à dominação e opressão, à tradição, à lei, aos costumes, à economia, à ideologia, à cultura, à fé, à Deus/Jesus?
77. O que o texto combate?
78. O que e a quem o texto ameaça e como o ameaçado reage?
79. Propostas do texto, da comunidade, das pessoas, dos diversos grupos, de Deus/Jesus
80. Avanços e limitações do Estado/Povo/Grupo/Comunidade/ Pessoa.
81. Que interpretação se tem dado a este texto e ela confere, por que e como?
82. Que nova prática de vida e mudança de estruturas este texto propõe para a época e para hoje: para mim, para a igreja e para o país?
83. Como podemos ler e descobrir a nossa realidade/situação de hoje a partir deste texto bíblico?
84. Se lermos a nossa realidade pessoal, da igreja e a realidade brasileira de hoje a partir destas 83 questões, a que resultados chegaremos?

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