"Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará." (Jo 8.32)
20 de agosto de 2011
Gn 11.1-9: a cidade e a torre.
Este texto nos ensina a olhar para todas as palavras para podermos compreendê-lo, pois estamos acostumados a ouvir este texto segundo uma outra compreensão que fala somente da torre e do egoísmo humano. Este é um texto profético que denuncia a monarquia israelita e o sistema econômico tributário. O texto fala da cidade e da torre que ficava dentro da cidade. Deus é contra a construção da cidade. Por quê? Pois na cidade mora o rei com seu exército que oprimia e explorava os camponeses que viviam nas aldeias dentro do perímetro de influência da cidade. O rei morava na torre. Torre é uma fortificação militar. Quem morava na torre era o rei que se dizia deus ou queria ser adorado como deus, como era a tradição no passado. O texto fala: “uma torre cujo tope chegue aos céus”.
A cidade aqui representa o Estado, a monarquia com todo o seu aparato de governo: cobrança de impostos que era feito pelo exército que morava na torre, que é o quartel militar. Porque o povo, os camponeses, ajudaram a construir a cidade e a torre se isto serviria para sua exploração? Porque todos tinham a mesma linguagem. Linguagem não é apenas língua, mas é o jeito de pensar, é ideologia. Os camponeses pensavam que nem o rei por isso eles ajudaram a construir a cidade e a torre. Cidade significa o estado monárquico cuja base era o sistema econômico tributário. Eles ajudaram a construir uma sociedade que iria oprimi-los. Hoje a classe trabalhadora também pensa conforme a cabeça da classe capitalista e por isso ela se deixa explorar sem resistência, tem a mesma linguagem capitalista. O capitalismo hoje se mantém porque a classe trabalhadora adotou a mesma linguagem da classe capitalista. A dinâmica é a mesma que é denunciada no texto bíblico.
Quando pararam de construir a cidade? Quando Deus confundiu a linguagem, quer dizer o jeito de pensar, a ideologia. Quem faz a subversão da sociedade? Deus começa a subversão. Quando a Bíblia foi composta, os redatores colocaram este texto bem no início para mostrar que desde o início Deus é contra o Estado. Por que Deus era contra o Estado? Porque o Estado é o resultado da luta de classes que há na sociedade. O Estado serve para proteger apenas os interesses da classe economicamente dominante que controla o aparato do Estado em seu próprio benefício. Deus quer que todas as pessoas sejam iguais. Deus é contra a existência de classes sociais na sociedade onde uma classe oprime a outra através do controle do aparato do Estado que tem a função de legitimar a exploração e garantir que ela continue indefinidamente.
O texto denuncia que a sociedade israelita deixou surgir, a partir do acúmulo de riquezas, uma classe social que necessita do Estado para legitimar e defender a sua riqueza. Faz isto pelo poder da força do exército que mora no quartel, a torre, juntamente com o rei. Este é um texto que denuncia a monarquia e propõe uma nova sociedade pluricultural com várias maneiras de pensar e de viver. O texto é contra o pensamento único, a cultura única.
Hoje nós também estamos numa época onde se quer incutir uma cultura única e um pensamento único que é a cultura e o pensamento do imperialismo estadunidense. O capitalismo neoliberal também diz que não existe outra forma de pensar e organizar a sociedade além do sistema capitalista. Este texto nos motiva, a partir da vontade de Deus, a procurar outra forma de pensar, outra linguagem para garantir outras formas de organizar a nossa sociedade. Para construir a nova sociedade que Jesus Cristo chama de Reino de Deus é necessário uma nova linguagem, um novo jeito de pensar, de se organizar e de entender o mundo. O Evangelho do Reino de Deus é este novo jeito de pensar que propõe uma nova sociedade não capitalista. O texto nos mostra que a iniciativa de lutar contra o Estado opressor é de Deus. A iniciativa de propor uma nova sociedade pluricultural é de Deus. Deus é contra a Ditadura do Pensamento Único que legitima a Ditadura do Capital que diz que não há outra possibilidade de organizar a vida e a sociedade além do capitalismo. A proposta desta nova sociedade é o Reino de Deus que se contrapõe ao capitalismo. Deus foi subversivo segundo o relato de Gn 11, foi subversivo ao se tornar pessoa na classe camponesa palestina em Jesus de Nazaré e foi tão subversivo que foi condenado a morrer na cruz, que era a condenação dada aos subversivos no Império Romano. Mas a sua subversão não parou por aí: ele continuou subversivo ao ressuscitar o Jesus da morte eliminando uma decisão do Estado aliado à religião do Templo de Jerusalém. Continua sendo subversivo hoje pelo poder do Espírito Santo que anima na luta contra o capitalismo neste projeto da construção do Reino de Deus.
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