O Projeto da Luta pela Terra
- Criação da Terra – Gn 1 (terra como espaço de luta política contra a escravidão via religião pela igualdade e bem estar - Gn 1.27); Gn 2 [Projeto do Jardim] (terra como espaço de felicidade - jardim) tudo provem da terra: as plantas, os animais, o homem e a água sai da terra; terra como base e origem da vida; trabalho como prazer e cuidado da terra; Gn 3 [Projeto da Serpente – deus cananeu, egípcio, grego; falso deus seduz, mas ao mesmo tempo possibilita a tomada do conhecimento] (terra tornada espaço maldito de opressão e maldição do camponês e da camponesa pela monarquia; explicação porque os camponeses detinham as piores terra que só davam espinhos, pois as melhores terras eram da classe dominante (I Sm 8.14); Gn 3-4 relatam a realidade camponesa do tempo da monarquia: expulsão da terra (do Jardim) (Is 5.8) e assassinato pela grilagem de terra (I Rs 21); outro castigo foi a expulsão da terra, do Jardim,); [o patriarcado aparece na afirmação da criação da mulher da costela do homem Gn 2.21-24 e não o contrário que é o natural, neste texto há ainda o conflito do homem deixar a sua família para se unir a sua mulher; normalmente na tradição era o contrário. Assim se tenta corrigir o conflito da dominação, há duas correntes aqui expostas e em conflito.] o trabalho aparece como castigo porque a mulher ousou se apoderar do conhecimento e o compartilhou com o homem (o oprimido é tornado culpado pela sua própria opressão; a opressão do Estado é dita como conseqüência de uma transgressão da mulher, o opressor se exime da culpa pela opressão que exerce), conhecimento era propriedade da classe do Estado, pois conhecimento é poder; a primeira a ousar resistir contra o sistema econômico tributário defendido pela monarquia foi a mulher em se apoderar do conhecimento e foi eternamente castigada por esta ousadia até os dias de hoje, continua sendo hoje declarada inferior e submissa;
- Conflito de classe: dono da terra (Caim agricultor – mata) X sem terra (Abel pastor - é morto) – Gn 4.2 [Deus rejeita a oferta do ‘com terra’ porque controlava o Estado e o Templo, manipulando a religião, era responsável pela divisão da sociedade em classes sociais. Deus não aceita a oferta dos opressores que controlam o aparato do Estado para legitimar pela religião - altar - o sistema econômico Tributário classista, injusto e desigual. Gn 4.17 diz que Caim construiu uma cidade cidade = estado. Deus não aceita a oferenda do estado, dos reis, da monarquia, só aceita do pastor camponês sem terra Abel, por ser vítima do estado]
- Promessa da terra motiva na busca dela – Gn 12
- Libertação da classe camponesa da escravidão da opressão do Estado Tributário para guiar para a luta pela terra, símbolo da liberdade – Ex 1-15 (Dt 6.20-23 ruptura com o Estado e seu sistema econômico e não legitimação – não há libertação sem ruptura com o sistema opressor)
- Moisés (Anrão e Joquebede, pai e mãe de Moisés: Êx 6.20; Nm 26.59): filho de escravos, assassino, exilado político, sem terra, migrante, peão, pastor, camponês, hebreu, agitador e subversivo.
- Hebreus - uma classe social: camponeses escravos – Ex 3.18: o Deus dos hebreus; Javé o Deus de uma classe social que luta contra a classe que explora o seu povo: os camponeses escravos no Egito, descendentes da família camponesa de Abraão e Sara.
- A Reação dos Opressores diante da proposta dos camponeses em se libertar - Ex 5.1-6.1
Projeto Econômico - Não acumular
Ex 16.11-21; Dt 15.4; Lv 25.1-38; Nm 27,1-11
Projeto Político - A democratização do poder
Ex 18.13-27; Js 6-8; Dt 17.14-20; Is 10.1-2; 9.1-7; Dt 1,9-18;
Projeto Sócio-Religioso - A legislação que protege a vida e concede a terra à todos/as
Ex 20.1-17; Dt 6.20-23; Dt 5,6; juízes: Jz 10,1-5; leis: Ex 20,2-17; fé: Js 24,1-15
Projeto Ideológico - A idolatria é mortal – adoração do boi e do ouro = riqueza
Ex 32.1-10; Jz 2.16-20; Mq 6.8; Mq 3.1-12; Jz 3,7-11
Projeto Cultural
Is 42.5-7; Am 9.7-10; Is 58.1-10
Projeto de Gênero
Gn 1.27; 2.24; Jz 4.1-9; Rt 4.18-22
- Nm 27.1-11: direito concedido no local do culto que também é o local da assembléia popular: fé (culto) e vida (ação política) estão interligados
- Os Grupos Camponeses que formaram o povo de Israel e lutaram pela terra ocupando as montanhas da Palestina:
1) Abraâmico - Gn 11.31-12.9;
2) Sinaítico - Dt 33.1-5;
3) Mosaico - Ex 1.8-14
- Tomada do poder político (Cidade-Estado) para mudar o modo de produção (de Tributário para Tribal) para ter acesso a terra – Js 6-8 – e construir uma sociedade igualitária, com o poder descentralizado, sem classes sociais, sem estado, sem templo e onde todos têm acesso aos meios de produção: a terra, que é comunitária, da tribo.
- Legislação para garantir a posse da terra e evitar o empobrecimento estrutural – Lv 25
- O tribalismo se forma na montanha e é antimonárquico! – Js 7.14 – terra concedida por sorteio à tribo (terra é do coletivo, não propriedade privada e nem mercadoria, pois é concessão de Deus – Lv 25.23) – Js 15.1; 16.1; 17.1
Sociedade de camponeses organizada a partir das montanhas: sem Estado e sem rei; sem exército permanente, mas exército popular; sem templo; sem classes sociais; sem tributos; igualitária; culto que celebra fatos históricos.
Propriedade coletiva dos meios de produção – terra
Todos produziam e consumiam esta produção
Assembléia Popular decide tudo: Nm 27.1-11; Js 8. 33-35; 18. 1-10; 24.1-28
Exército popular: Jz 4.4-10; I Sm 17.45-47; Dt 13. 12-18; Js 6.17-21
- Luta contra o Estado cananeu para manter a terra conquistada – Jz 4 - Débora
- A contra reação – (Jz 11.9 – Jefté – Jz 11.30-40 idolatria e sacrifício humano na tentativa de organizar um estado monárquico em Israel) surge o Estado para invalidar a luta pela terra, concentrando-a – Is 5.8 (para legitimar o novo modo de produção - Tributário) – I Sm 8
- Deus propõe parar com a construção do Estado (cidade que procura se divinizar pela torre [quartel onde mora o rei], pela força militar) pela mudança da linguagem (ideologia) do povo; descentralização do poder e multiculturalidade é a proposta de Javé – Gn 11.1-9. Os reis eram comerciantes que moravam nas cidades, que eram postos comerciais, que exportavam os excedentes dos impostos: trigo, cevada, etc. que eram pagos pelos camponeses ao estado.
- O Estado é o causador do empobrecimento do povo, expropriando a terra, escravizando o povo e cobrando tributo dizendo-se salvador, invertendo os fatos – Gn 47.13-26 denúncia do sistema econômico tributário
- Havia duas classes sociais: Camponeses e Estado – I Rs 5.1-18 – camponeses mantém o Estado e seus projetos via tributos: em produtos (I Sm 8.15-17; I Rs 4.22-28) e em trabalho forçado (I Sm 8.10-13; I Rs 5.13-16)
- Função da religião é legitimar o tributo (sistema econômico que precisa do Estado para se manter - Jr 7.3-11): Dt 26.1-11 não menciona que Deus luta contra o Estado como Dt 6.20-23, pois é preciso mudar a teologia a respeito de Deus [antes Deus luta contra o Estado e luta pela terra e o culto lembra esta história, agora o culto é apenas de ritos em relação a natureza e da teologia da bênção para legitimar a classe que enriqueceu e que controla o Estado]; mas Deus não concorda com isso – Am 5.21-24; Mq 6.1-8
- O Templo é fundamental para manter o Estado e legitimar o tributo – I Rs 5 (em tempos de guerra não precisava do Templo pois o povo entendia a necessidade do Estado [exército] para defender a terra, mas em época de paz os camponeses não viam utilidade para a existência do Estado que continuava cobrando tributos para manter o exército e todo aparato estatal e por isso é necessário o Templo para legitimar pela religião o Estado e o Tributo)
- Para Javé a função da religião é a luta pela libertação dos oprimidos: Is 58.6-7; Dt 6.20-23 (I Co 15.24-26: “o último inimigo a ser destruído é a morte”); Mq 6.8; Tg 1.27
- Profecia reage contra o Estado repressivo e opressivo que é resultado da luta de classes entre os que acumularam e os que empobreceram com este acúmulo (Enriquecimento de alguns - I Sm 25.2-13 e Empobrecimento de muitos - I Sm 22.1-2). Rei o maior pecado: I Sm 12.19
Denúncia profética:
Poder político: a capital Mq 1.5-6.12; 3.1-4,9-10
Poder econômico: o latifúndio Mq 2.1-5; os comerciantes: Mq 6.10-12
Poder religioso: sacerdotes Mq 3.5-7.11; Templo Mq 3,12; culto Mq 6,6-8; Am 5.21-27; Idolatria II Rs 16.10-17; sacrifício humano II Rs 16.3; 17.17; 21.6; Jr 7.31; 32.35
Poder judiciário: Mq 3.9-11; 7.3; Injustiças do sistema Mq 3.1-12
Poder militar: fortalezas Mq 5.10-11; instrumentos de guerra Mq 4.3; 5.10
Estado e Classes Sociais: Is 1.21-31; Leis que facilitam a exploração: Is 10.1-2
Anúncio profético:
Fim do Rei, do Estado, do Templo - Mq 3.1-12
Novo Céu e Nova Terra - Is 65.17-25
Vinda do Messias - Is 11.1-10
Profetismo: Fala da opressão física dos camponeses: Am 2.7; 5.11; Mq 2.2
• Vocação do Profeta - Jr 1.1-10 + + Jr 20. 7-13 + Is 6.1-13 + Am 7.14s
• Profetas falsos e verdadeiros - I Rs 22.1-40 – Micaías; Dt 13.1-5
Verdadeiro profeta é quando a sua profecia se realiza - Jr 28,9
1º Período profético - Critica só o Rei e não a Monarquia - Natã - II Sm 12.1-15
2º Período profético (Assírio) - Critica o Rei, o Estado e o Templo e propõe o fim da Monarquia e do Templo - Miquéias - 3.1-12; tem como projeto o tribalismo Is 1.26
3º Período profético (Babilônico) - Internacionalização da terra (Is 5.13) - Critica a Monarquia (Jr 26.1-24) e depois anuncia a reconstrução do país (Is 42.1-9 servo de Javé)
4º Período profético (Persa) - Reconstrução do Templo como única fonte de resistência e identidade possível; Restauração do sacerdócio; Culto; Messias - Ag 1.1-15
Dois projetos de reconstrução: Esdras pela purificação da raça e Rute pela multiculturalidade mostrando que Davi é neto de uma moabita (povo inimigo e proibido de participar da assembléia)
5º Período profético (Grego) - Luta pela independência da terra – II Mc 11.27; 1.10; 4.44 + I Mc 11.23; 13.36
- Recriação da criação - Deus vai criar um novo céu e uma nova terra – Is 65.17-25; 66.22; 51.16
O conflito básico que perpassa o AT é a luta pela terra ordenada por Javé: uma vez a luta pela terra feita pelos camponeses e depois a luta pela terra como país de um Israel independente. Este conflito o Deus Javé acompanha se colocando ao lado dos camponeses contra o Estado, pois é um Deus da classe camponesa: os hapiru.
A Bíblia finaliza no Ap 21-22 com o retorno ao Gn 2 onde novamente tudo se torna um Jardim (com a árvore da vida, a cada margem do rio, que permanentemente produz frutos, não mais proibidos, cujas folhas são remédios que curam as nações e os rios que o entrecruzam: água abundante em terra frutífera) com a presença permanente de Deus no meio do povo. Tudo finaliza com a recriação da nova terra e do novo céu (uma nova religião libertadora).
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