3 de agosto de 2011

Curso Bíblico do Antigo Testamento

Índice
I - Curso Bíblico do Antigo Testamento
1. Êxodo e Formação do Povo de Deus
Chave de Leitura Bíblica
Formação do Povo de Deus
2. O Projeto de Deus
Projetos da Sociedade Tribal
Propostas a serem viabilizadas nesta nova sociedade
Projeto dos Reis x Projeto de Deus
3. Monarquia e Profetismo
Causas Externas e Internas do surgimento da monarquia
Profetas denunciam e anuncia
1º e 2o Período Profético
4. Exílio e Pós-Exílio
Exílio Babilônico
Os Profetas do Exílio
A Profecia depois do Exílio
Características das Novelas de Resistência
Os Períodos de Dominação Estrangeira


Para viabilizar este Curso Bíblico é importante haver a assessoria da pastora ou do pastor da comunidade.
Segue um esquema para montar um Curso Bíblico em 8 etapas (dias) (no sínodo, na paróquia ou numa comunidade): 4 encontros do AT e 4 encontros do NT. Pensa-se em um encontro de um dia ao mês (das 8,30 até às 17 horas). Coloco alguns esquemas que podem ser usados como estão ou pode-se modificar o projeto e deixar assuntos fora ou acrescentar conforme a necessidade e a realidade do grupo que irá fazer o estudo.


Observação:
1. Propõe-se que no início e no fim do dia haja uma pequena celebração onde os textos básicos estudados no dia serão lidos e contextualizados na caminhada das pessoas do grupo e na vida do país e da igreja. Propõe-se que na sala onde se reúnem para o estudo haja um altar com a cruz ou crucifixo, vela, flores, panos litúrgicos e símbolos das lutas do povo.
2. Cada qual pode utilizar dinâmicas e outros recursos conforme as necessidades.
3. Para o almoço e lanches cada participante pode trazer a sua comida que pode ser colocada numa mesa comum e se faz as refeições de forma comunitária.



I - Curso Bíblico do Antigo Testamento

 1o Dia

1. Êxodo e Formação do Povo de Deus #

 Ler esta introdução na plenária e não esquecer de ler os textos bíblicos citados
Introdução
A própria Bíblia se preocupa em oferecer aos seus leitores a possibilidade de uma boa e bem atualizada visão global da história, de acordo com as exigências da situação em que eles se encontram. Por exemplo, vários salmos oferecem um resumo do passado, mas cada um o faz com um objetivo diferente: salmo 105, como motivo de louvor; salmo 106, como motivo de revisão; salmo 107, como motivo de reanimação etc. Nas várias épocas da sua história, o povo hebreu chegou a elaborar uma síntese ou visão global da história que respondesse aos problemas da época. Em toda parte da Bíblia aparecem pequenos resumos do passado na boca dos grandes personagens: Josué (Js 24, 2-13); Moisés (Dt 1-11; 32,1-43); Aquior, o amonita (Jt 5,5-21); Estêvão (At 7,2-53); Paulo (At 13,16-25); etc. Com essas e outras sínteses, a Bíblia convida o leitor a não se fixar numa mesma idéia do passado, ajuda-o a reler o passado com olhos renovados e a se formar, assim, um nova visão global.
Reencontramos aqui, na própria Bíblia, o mesmo esquema básico de leitura já encontrada na prática dos pobres.

Leitura que parte:
(1) da realidade que se vive hoje;
(2) da fé da comunidade a que se pertence;
(3) de um respeito profundo pelo texto que se lê.
Leitura que tem o mesmo objetivo: com a ajuda da Bíblia, descobrir a Palavra de Deus que está na vida.

I - Chave de Leitura Bíblica: Êxodo – Cruz/Ressurreição
a) Êxodo
 Reunir em grupos e ler a Confissão de Fé de Israel – Dt 6, 20 – 23: De que assuntos fala o credo (confissão de fé) de Israel e qual o conflito central do texto. O que os temas desta confissão propõe para nós hoje?
Em Dt 6, 20 – 23 - Deus age:
- a favor da classe dos escravos: os liberta e os conduz à terra
- contra a classe do Estado - o Faraó (Monarquia) – papel do Faraó: Ex 5, 1 - 14
- o Egito (Estado) – papel do Estado: Ex 1 - 2
- a família do Faraó – papel da descendência: Ex 1, 8 - 14
 Reunir em grupos e ler Êxodo 3, 1-22: Ver as características de Deus no texto (característica é como Deus aparece e o que ele faz). Como Deus hoje se manifesta e que características ele tem hoje?

b) Cruz/Ressurreição
 Ler em Plenário I Co 15, 3-4: Quais os assuntos que aparecem no texto e qual o conflito central do texto.
Depois: Discutir a questão da ressurreição do corpo e da alma: O que ressuscita ? O corpo ou a alma? A alma é imortal e o corpo mortal? O corpo morre e a alma ressuscita? O que a Bíblia diz sobre a ressurreição? O que a confissão de fé na ressurreição do corpo tem a ver com a luta por justiça e vida melhor do povo brasileiro?
Pode-se ler o texto a seguir após a discussão em plenária, se houver necessidade.
Cremos na ressurreição do corpo – diz o Credo Apostólico
O que significa isso?
A confissão de fé dos primeiros cristão em I Coríntios 15,3-4 diz: Jesus Cristo morreu pelos nossos pecados, foi sepultado (morto) e ressuscitou. A cruz e a ressurreição de Jesus Cristo são o centro da fé cristã. Cremos na ressurreição do corpo, como diz no final do Credo Apostólico. Se o corpo ressuscita então ele deve ser valorizado e não pode ser escravizado, explorado e torturado. Como diz Paulo em I Coríntios 6, 19: “Acaso não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo que está em vós...” Explorar alguém é explorar a Deus.
A fé na ressurreição da alma nada tem a ver com a fé cristã. A questão da ressurreição da alma vem da filosofia grega, que ajudava a legitimar o sistema econômico escravista dos gregos. Os gregos baseavam a sua economia na exploração da mão de obra escrava e por isso esta filosofia vinha muito bem para eles. Assim podiam encarar o corpo dos escravos como uma embalagem descartável; pois o que interessava mesmo era a alma. Os gregos diziam que a alma é imortal e vem dos deuses e quando o corpo morre ela volta para os deuses. Assim, para eles, o corpo é mera embalagem que dá para explorar e escravizar, enfim, é descartável.
O espiritismo fala algo semelhante quando se refere à reencarnação e com isto também legitima a opressão, exploração e a tortura. Por que? Porque para eles o espírito (alma) é imortal e o corpo também é mera embalagem. O espiritismo diz: "A única lei geral é que toda falta terá punição e terá recompensa todo ato meritório". O sentido da reencarnação, ou seja, o sentido da vida na Terra, seria unicamente pagar a culpa neste "planeta da expiação". Tudo deve ser pago, expiado (reparado). "( ... ) a expiação consiste nos sofrimentos físicos e morais que lhe são conseqüentes, seja na vida atual, seja na vida espiritual após a morte, ou ainda em nova existência corporal". Com isto se justifica todo o sofrimento, tortura, pobreza, opressão e exploração dizendo que é coisa boa e necessária para a salvação.
Léon Denis, o sucessor de Kardec, afirma: "Não, a missão do Cristo não era resgatar com sangue os crimes da humanidade: o sangue, mesmo o de um Deus, não seria capaz de resgatar ninguém. Cada qual deve resgatar-se da ignorância e do mal. Nada de exterior a nós poderia fazê-lo." (Léon Denis, Cristianismo e Espiritismo, 5. ed., Rio de janeiro, p. 81). E o órgão oficial da Federação Espírita Brasileira reconfirma: "A salvação não se obtém por graça nem pelo sangue derramado por Jesus no madeiro", mas a salvação é o ponto de esforço individual que cada um emprega, na medida de suas forças" (O Reformador, Rio de Janeiro, 10, 1955, p. 236). Por isso não dá para ser cristão e espírita ao mesmo tempo.
Para a Bíblia corpo e alma são uma coisa só e não duas coisas distintas. Não somos qualquer coisa, somos imagem de Deus, somos santos (Efésios 1,1). Alma é a vida que está no corpo. Se morrermos morre tudo e Deus recria um novo corpo com a ressurreição, como lemos em I Coríntios 15, 35 - 58. A questão da imortalidade da alma também não é bíblica e nem luterana. A Bíblia diz que somente Deus é imortal em I Timóteo 6, 15 - 16: “... o Rei dos reis e o Senhor dos senhores; o único que possui imortalidade”. Se o corpo e a alma são uma coisa só e se o corpo ressuscita então não dá para escravizar e explorar o corpo (a vida) de uma pessoa. Por isso os cristãos não admitem a escravidão, o racismo, a exploração, a tortura, o fato de existirem agricultores sem terra, famílias sem teto, trabalhadores com salário indigno e desemprego pois tudo isto atinge e degenera o corpo (a vida) das pessoas. Jesus curou tantas pessoas porque ele estava valorizando o corpo, a vida, das pessoas. Deus mesmo se fez carne, corpo, matéria para nos mostrar a valorização do corpo, da vida, na Páscoa.

 Ler em conjunto este mapa do tempo e acrescentar dados se possível (podemos fornecer para quem quiser o mapa com mais dados, são três páginas). Este pequeno esquema quer dar uma visão geral da caminhada do Povo de Deus.
Mapa Bíblico do Tempo
1800 Egito Terra da Escravidão
Abraão/Sara

1250 - Projeto de Deus - 1033 Terra Liberta

1033 932
Monarquia Divisão do Reino

722 Assírios 597 Babilônios Internacionalização da Terra
Queda da Samaria Exílio Babilônico

538 Persas 332 Gregos
Volta do Exílio Domínio grego

167 Independência - 142 63 Romanos
Guerra dos Macabeus Domínio romano

± 3 a 6 antes A.D. +30 Projeto do Reino de Deus
Nasce Jesus Cruz/Ressurreição

II - Formação do Povo de Israel #
 Ver os Mapas: Crescente Fértil; Relevo da Palestina; Tribos de Israel (podemos fornecer os mapas via e.mail)

 Ler o Texto abaixo em 4 grupos e expor o conteúdo em plenária:
1. A Origem do Tribalismo Javista.
2. O Grupo Abraâmico.
3. O Grupo do Sinai.
4. O Grupo Mosaico.

1. A Origem do Tribalismo Javista.
Até por volta do ano de 1300 a.C. a Terra de Canaã (a Palestina) está sob o controle do Egito. O faraó Ramsés II até transfere a capital do Egito para o Delta do rio Nilo, a fim de estar mais próximo da terra dos cananeus, fonte de muitas riquezas que interessavam ao faraó.
Os faraós mantinham alguma presença militar na Palestina. Os egípcios mantinham sua “colônia” cananéia sob controle, porque quase anualmente faziam expedições militares à região para saquear e arrecadar os impostos (tributos). No mais, a Palestina era administrada pelos próprios cananeus. Como e onde viviam estes cananeus?
Na época praticamente só as planícies - em especial a planície perto do mar e a de Jezreel - estavam ocupadas. As montanhas permaneceram em mata até por volta de l250 a.C. Nestas planícies algumas cidades fortificadas dominavam sobre os camponeses que era a grande maioria da população cananéia. As cidades exploravam os camponeses cobrando-lhes tributos (impostos). Em cada uma destas cidades quem mandava era um rei que por sua vez era subordinado ao faraó. Os camponeses eram assim explorados pelos reis locais e pelo regime de “colonização” egípcia.
Em torno de 1200 a.C., a situação muda de repente. Uma invasão vinda do norte afasta a presença egípcia na Palestina. Eram os “povos do mar”, entre eles os filisteus que ocuparam a região do sul da Palestina e expulsando os egípcios. A invasão dos filisteus funcionou como uma espécie de libertação da Palestina da colonização faraônica. Mas estes não continuam a dominação sobre a região.

As cidades-estado. (Gn 11, 1-9)
A ausência dos egípcios aprofundou a crise da sociedade das cidades-estado cananéias (cidade-estado é uma cidade que domina uma certa região sob o governo de um rei, é um pequeno país). Após séculos de exploração os camponeses estavam cansados. A saída dos egípcios fez com que as cidades-estado lutassem entre si para ver quem dominava uma região maior.
Para os camponeses, ficava ainda mais difícil plantar e colher. Suas terras eram o palco das lutas entre os reis das cidades-estado. Em meio a este situação sem solução surgiu Israel. Esse Israel veio a ser a solução encontrada pelos camponeses, em meio a crise.

Os Três Grupos que formaram a Israel.
Os camponeses se retiram para a montanha e levam consigo a experiência sofrida pelos séculos de exploração pelos reis locais e do Egito. Tem a certeza que não dá para conviver com as cidades, que através de expedições militares anuais arrasavam aldeias e plantações. Estes emigraram para a montanha como forma de contestar o poder das cidades-estado. Assim na montanha se encontram vários grupos com experiências semelhantes e fazem uma aliança entre si com o passar do tempo e formam depois o Povo de Israel.

2. O Grupo Abraâmico.
Os semi-nômades foram os primeiros a ingressar na região das montanhas pelo que podemos ler das histórias de Sara, Abraão, Rebeca, Isaque, Jacó e Esaú, contadas a partir de Gn 12. Estes semi-nômades - criadores de ovelhas e cabritos - ocupavam a região ao sul da Palestina. Sobreviviam nas terras semi-áridas, na passagem das matas para os desertos. Ali migravam com seus rebanhos fora do controle das cidades-estado, cidades significam perigo para eles; e toda vez que tinham contato com elas estavam em perigo e sofriam opressão.
Clã e família eram os núcleos sociais básicos destes seminômades. Ainda não viviam em tribos e não havia entre eles instituições estatais. Rei, templo e exército não fazem parte da vida dos semi-nômades.
Este grupo não conhecia o Deus Javé. Prestavam culto ao “Deus do pai”. Há três características desta religião:
•Há uma relação muito forte e pessoal entre Deus e a pessoa. Não há sacerdotes e templos para a adoração. A relação pessoal significa a relação com o grupo a qual a pessoa pertence. No semi-nomadismo não há vida possível sem coesão e inserção grupal. O “Deus paterno” é, pois um Deus pessoal no sentido de acontecer na e experiência do coletivo clânico, sem mediação de instituições consagradas.
•Este Deus pessoal/grupal é Deus de companhia. Não são as pessoas que peregrinam a ele, que o buscam em algum lugar sagrado. É ele quem vai junto. É migrante. A gente o celebra na saída. Identifica-o na chegada. Conta com ele no caminho, durante a migração. Por ocasião da saída, comemora-se, por exemplo, a páscoa, um típico rito de partida de grupos semi-nômades. Na chegada, improvisa-se um altar para agradecer pela companhia (Gn 12,8).
•Este Deus que acompanha anima sua gente com visões sobre o futuro. É Deus de promessa. Gn 12-50 estão repletos de utopias. Nestes capítulos vive-se em expectativa: a espera do filho, a espera de um povo, a espera da terra. Promessa de pastagem abundante e de um filho talvez fossem os conteúdos típicos da vida semi-nômade.
Estes semi-nômades das regiões entre a mata e deserto aderiram ao tribalismo que, nos anos de 1300 a 1000, se constitui nas montanhas palestinenses. Os descendentes de Sara, Abraão, Rebeca, Isaque, Jacó e Esaú perceberam as semelhanças entre seu próprio projeto de vida e o dos grupos de camponeses cananeus emigrantes das planícies. Uma destas semelhanças reside em que tanto os retirantes (vindos das planícies) quanto os semi-nômades (vindos das estepes) viviam em oposição às cidades-estado. Afinal, o tribalismo das montanhas era uma experiência anti-Estado e anticidade. Os grupos semi-nômades - descendentes de Abraão, Isaque e Jacó - “imigraram”, pois, para dentro do tribalismo. Surgia assim uma aliança entre grupos pastoris e grupos camponeses.

3. O Grupo do Sinai.
O grupo sinaítico é distinto do grupo abraâmico, ainda que ambos sejam seminômades. Este grupo é de fora da Palestina, é do sul do Mar Morto, possivelmente para leste do Golfo de Ácaba (Jz 5,4; Dt 33,2; Hb 3,3). Decisivo é que Javé é o Deus deste Sinai. Javé é “aquele do Sinai”(Jz 5,5).
Em parte o javismo original parece ter sido celebrado junto a determinado local da natureza, junto ao Monte Sinai. O javismo original celebrava a presença divina tanto a partir de fenômenos naturais quanto em meio às ações históricas (Jz 5). A característica principal do javismo é sua militância. Não admite outras divindades a seu lado. “Não terás outros deuses além de mim”(Ex 20,3). Esta era a afirmação básica do javismo.
Como o culto a Javé veio a ser conhecido na Palestina?
Os semi-nômades que cultuavam Javé costumavam armar suas tendas entre o Mar Morto e o Golfo de Ácaba. Esta era uma região disputada, vindo a ser especialmente importante nos anos de 1250 a.C. por aí passava uma importante rota comercial, rumo a Damasco. Com a inauguração da época do ferro, cresceu sua importância, ainda mais que na área parece ter existido este útil metal. Os próprios semi-nômades talvez fossem artesãos do ferro, ferreiros (Gn 4,17-26; Jz 5,24-30). Pois já perto de 1300 a.C. os edomitas puseram sob seu controle esta região ao sul do Mar Morto. Os semi-nômades tiveram que dar espaço e rumaram em direção ao norte. Juntaram-se às tribos que, na Palestina central, se estavam formando.

4. O Grupo Mosaico.
Este grupo imigrou desde o Egito. Não eram semi-nômades com os da Palestina e da região do Sinai. Viviam em meio à terra cultivável (Ex 1-15). Sua experiência deu-se junto ao poder maior daqueles tempos. Aconteceu junto à própria capital do Império que, há séculos, amordaçava a Palestina.
As pessoas envolvidas nesta experiência são chamadas de “hebreus”, no livro do Êxodo. Sabemos que esta era a designação, usada no Antigo Oriente de então, para pessoas dependentes, sem terra, marginalizadas, oprimidas. Inclusive existem textos egípcios que se referem a tais hebreus, ora porque haviam sido deportados para as terras do Nilo pelos faraós, ora porque trabalhavam nas construções públicas. O grupo mosaico era composto de tais trabalhadores forçados. Estavam designados para edificar Pitom e Ramsés, as novas residências mandadas construir por Ramsés II (1290-1224), junto ao Delta do Nilo, com vistas a controlar melhor suas “colônias” na Palestina.
Os hebreus resistiram ao trabalho forçado que lhes era imposto. Organizaram-se, inicialmente, no nível da família (Ex 1-2). Aí nasceu o projeto de libertação. Passaram a negar-se ao trabalho forçado (Ex 1,; 5). Surge a liderança de Moisés, pressionam para sair. Em conseqüência, aumenta a repressão contra os trabalhadores. Enfim, fogem. São perseguidos. E os carros dos soldados atolam no mar e os hebreus estavam libertos!
Os textos dizem que Javé foi este libertador. O “Deus dos hebreus” testemunha o divino em meio à história. A intervenção na história é a sua característica mais forte. Este Deus faz a sua ação a partir dos mais necessitados, a partir das mulheres, dos homens e das crianças oprimidas. Resgata os pobres em meio à opressão. Libertação - esta é a experiência teológica central junto ao “Deus dos hebreus” ( Ex 3,7-8).
Estes hebreus libertos do Egito rumaram para a Palestina. Eles estavam acostumados a viver em terra cultivável. Necessitavam de terra e se fixaram provavelmente nas montanhas da Samaria, porque nesta região a memória do êxodo foi muito cultivada. Na Palestina a tradição do êxodo veio a desempenhar papel decisivo na junção da memória histórica do tribalismo javista. Fez-se sua confissão central (Dt 6,20-23; 26,1-11).
Todos os 3 grupos são HAPIRU (hebreu) - uma classe social e não uma raça. (Milton Schwantes REB)

 Ler na plenária, se houver tempo, os textos abaixo conforme as colunas para comparar com o texto lido em grupos. Ou quando os grupos lêem os textos acima podem já ler os textos bíblicos referente ao seu grupo.
Grupos Onde viviam Como e de que viviam Conflitos Experiências com Deus
Abraâmico
Gn 11, 31 – 12, 9 Gn 13,5-12 Gn 14,12-17 Gn 13,14-18
Sinaítico
Dt 33,1-5 Gn 4,20-22 Jz 5,1-32 Ex 19,1-25 + 20,3
Mosaico
Ex 1,8-14; Sl 105,1-45 Ex 5,6-14 Ex 10,1-20 Ex 6,2-13
Outros Grupos: edomitas Gn 36; gabaonitas Js 9-10; quenezitas Js 14,6-15; quenitas Jz 1,16; trabalhadores portuários Jz 5,17; recabitas Jr 35

 Discutir: Como aconteceu a formação do povo brasileiro? Ver diferenças e semelhanças com a formação do Povo de Deus.

 2o Dia
O Projeto de Deus: 1250 – 1033 a. C. #
- Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Ex 20,2
Sociedade de camponeses organizada a partir das montanhas:
- sem Estado e sem rei - sem templos - sem Classes sociais - sem tributos
- igualitária - o culto celebra a história
Propriedade coletiva dos meios de produção – a terra
Todos produziam e consumiam esta produção

Projetos da Sociedade Tribal: #
 Reunir em 4 grupos e cada grupo estuda os textos de um projeto
Questão: Qual o Projeto proposto no texto, o que ele defende e como ele questiona o projeto capitalista de hoje?

1. Projeto Econômico – Ex 16, 11 – 21; Nm 27,1-11
2. Projeto Político – Ex 18,13-27; Dt 1,9-18; (17,14-20)
3. Projeto Sócio-Religioso – Ex 20, 2-17; Dt 5,6; [textos opcionais - juízes: Jz 10,1-5; leis: Ex 20,2-17; fé: Js 24,1-15]
4. Projeto Ideológico – Ex 32, 1 – 10; Jz 3,7-11

Propostas a serem viabilizadas nesta nova sociedade. #
 Ler e discutir em plenária ou dividir em grupos dando alguns itens a cada grupo.
Questão: O que estas propostas nos ensinam na luta para mudar a realidade brasileira?

1. Para que entre ti não haja pobres (Dt 15, 4)
2. A Terra é de Deus e não pode ser vendida (Lv 25,23)
3. Ano Jubilar - Reforma Agrária permanente (Lv 25)
4. Seguir outros deuses traz escravidão (Jz 6, 1-10)
5. Medrosos não conquistam a terra (Nm 13-14)
6. Saúde pública (Lv 11-15; Nm 5,1-4; 19, 1-22; Dt 25,9-14)
7. Ano sabático – dívida e escravidão (Lv 25, 1-7.39-43; Dt 15,1-18)
8. Nm 27, 1 - 11 - Gênero e luta pela terra
9. Js 8,1-35 - A luta contra as Cidades-Estados (Dt 2,26-37)
10. Jz 6 - 8 - A luta para manter a terra e o Projeto de Javé
11. Jz 2, 10 - 18 – Seguir falsos deuses traz opressão
12. Assembléia Popular decide tudo: Nm 27,1-11; Js 8, 33-35; 18, 1-10; 24,1-28
13. A Arca da Aliança é o símbolo da presença de Deus – Nm 10,33; Ex 25,10-22; Js 8,33

 Ler os textos abaixo e discutir:
1. Como é hoje a composição das famílias brasileiras; quantas variantes há?
2. Que pactos hoje existem (na família, na economia, na política, nas diversas etnias) e como hoje o povo se organiza para defender seus direitos e garantir sua sobrevivência?
3. Como acontecia a exploração do povo pelo Estado conforme os textos?

O povo se organiza em:
Família, Clã, Tribo, Confederação - Jz 21, 25
Tribalismo - Js 14,1-5
Pacto entre os 3 grupos - Assembléia de Siquém - Js 24,1-28
Tribalismo luta contra as Cidades-Estado:
Ex 1, 8-14 - Camponeses mantinham o Egito...
Jz 6, 1- 10 + 3, 15 - 18 + Gn 18, 16 - 33 - e as Cidades-Estado via TRIBUTO em mercadorias e trabalho forçado

 Ler em plenária comparando cada item:
PROJETO DOS REIS
1. SOCIEDADE DIVIDIDA EM CLASSES
- De um lado estão os proprietários das riquezas e das terras os quais controlam o Estado e do outro lado estão os não proprietários: escravos, camponeses livres e artesãos - Este sistema só favorece a classe dominante.
Jr 22,13-19; Lc 16,19-30
2. EXPLORAÇÃO DO TRABALHO
- O rei é dono da terra e os pequenos produtores pagam altos tributos em forma de produtos e de trabalho forçado aos reis.
- Há a concentração da terra e os reis exploram o trabalho e a produção do povo através dos impostos.
Is 5,8-24; Mq 2,1-3; Jr 22,13-17; Lc 12,16-21
3. CONCENTRAÇÃO DO PODER
- O rei é representante de Deus e dono do Estado, sua palavra é lei.
- O rei faz alianças com outros reis para aumentar seu poder.
- O rei tem poderes absolutos abençoados pela religião.
- O rei faz também pactos com setores oprimidos para dividi-los. I Sm 8,4-5,10-17; Lc 22,24-27
4. LEIS QUE DEFENDEM OS INTERESSES DO REI
- Todas as leis servem para fortalecer o poder nas mãos do rei.
- As leis permitem a exploração dos trabalhadores.
- As leis do rei devem ser aceitas como leis divinas
I Rs 21,1-19; Is 10,1-4; Mc 3,1-6
5. EXÉRCITO DE MERCENÁRIOS
- O povo é obrigado a entregar seus filhos para servir no exército do rei.
- O povo tem que sustentar o exército com comida e animais - cavalos e bois.
- O povo fica ainda mais pobre pela falta dos filhos e pagamento dos impostos.
- A guerra é feita para conseguir mais escravos e terra.
Is 31,1-3; Mt 26,47-56
6. MONOPÓLIO DO SABER
- Existe a escola do rei que limita o saber para poucas pessoas.
- Nesta escola os alunos aprendem a servir ao sis¬tema do rei. Aprendem só o que interessa ao Esta¬do.
- Através deste tipo de escola se legitima a sociedade dividida em classes.
Mq 5,9-12; Lc 11,45-54
6. SOCIALIZAÇÃO DO SABER
- Criou-se um sistema de alfabetização baseado em 25 letras. Sistema de alfabetização para todos.
- A educação está baseada em cima das necessidades básicas da vida e da experiência.
- A base da educação é a família, levando em conta o saber dos mais velhos.
- A educação serve para manter a igualdade e a solidariedade.
Os 4,1-7; Jo 9,24-38; At 4,13-32
7. VÁRIOS DEUSES OPRESSORES
- O rei é deus ou filho de deus.
- O rei é intermediário entre deus e o povo.
- Há deuses forte e fracos o que legitimava a existência de pessoas fortes e fracas, poderosas e sem poder, ricas e pobres.
- A sociedade dividida em classes se legitima na existência de deuses fortes e fracos.
- A religião diz que este Estado é legal.
- A religião legitima e incentiva a cobrança de imposto
Is 44,3-20; Rm 1.21-32
8. CULTO DE RITOS
- Culto centralizado e nas mãos dos sacerdotes.
- O rei diz o que se podia e não se podia dizer no culto.
- O culto é repetição de ritos ligados à natureza e conservação do sistema opressor. Não há compromisso.
- O culto exige sacrifícios que são uma forma de arrecadar e legitimar o tributo
Is 1,10-17; Mc 7,1-13
9. SACERDOTE LATIFUNDIÁRIO
- Abençoa a riqueza e a acumulação.
- Os sacerdotes usam a teologia da bênção para enriquecer e acumular terras.
- O papel do sacerdote é abençoar e estar à serviço do sistema opressor dos reis.
- O sacerdote está subordinado ao rei.
- Teologia da bênção e da prosperidade individual.
Ez 34,1-10; Os 4,4-10; Mt 23,13-32

PROJETO DE DEUS
1. SOCIEDADE IGUALITÁRIA
- Não existem classes sociais e nem Estado. Há ajuda e solidariedade mútua. Famílias vivem em clãs; os clãs se juntam e formam as tribos; estas tribos juntas formam a Confederação das 12 Tribos de Israel.
Dt 15,1-11; Dt 17,14-20; Mt 23,1-11
2. AUTONOMIA NA PRODUÇÃO
- Deus é o dono da terra.
- O povo trabalha na terra e produz alimentos em benefício de todos. Não há propriedade privada dos meios de produção.
- Cada família é dona de seu produto para ser repartido e trocado com os outros.
Lv 25,23-28,35-38; Ex 16,13-21; Mc 6,34-44; At 2,42-47; 4,32-34
3. DESCENTRALIZAÇÃO DO PODER
- Quem decide e faz as leis é a Assembléia Popular. Js 24,1-28
- Todos tem vez e voz.
- Cada família está representada ou pode participar da Assembléia Popular.
- Não existe o Estado.
Ex 18,13-26; Nm 7,1-11; Js 8,33-35; At 6,1-6; Mc 10,35-45
4. LEIS QUE DEFENDEM O POVO
- Leis que defendem a liberdade conquistada e o novo relaciona¬mento social: não roubar, não acumular, não mentir, não matar - os 10 Mandamentos.
- Leis que defendem os pequenos contra a ganância dos grandes.
- As leis guardam a igualdade de todos, principalmente em questões de terra. Ex 20,1-17; Mt 12,1-8
5. EXÉRCITO POPULAR
- Em tempos de ataque dos reis e outros povos todas as famílias tem o compromisso de pegar em armas para se de¬fender.
- Todas as tribos se organizam na luta contra o inimigo comum, que são os reis vizinhos.
- Existe o compromisso de solidariedade.
- O exército popular se dissolve no final da guerra
Jz 4,1-9; Mt 12,22-32,46-50
6. SOCIALIZAÇÃO DO SABER
- Criou-se um sistema de alfabetização baseado em 25 letras. Sistema de alfabetização para todos.
- A educação está baseada em cima das necessidades básicas da vida e da experiência.
- A base da educação é a família, levando em conta o saber dos mais velhos.
- A educação serve para manter a igualdade e a solidariedade.
Os 4,1-7; Jo 9,24-38; At 4,13-32
7. UM ÚNICO DEUS LIBERTADOR
- Há um só Deus.
- Deus luta contra o Estado opressor e contra todos os opressores: pessoas e deuses falsos.
- Deus garante o acesso à terra e a igualdade das pessoas.
- É o Deus da Classe Trabalhadora e não da classe dominante.
- Deus não precisa de intermediários para se falar com ele.
- Deus luta contra os ídolos e com isso contra o sistema dos reis.
Is 45,2025; Mt 6,24; At 4,8-12
8. CULTO A PARTIR DA VIDA
- O culto é baseado na vida e na história das lutas do povo.
- Há compromisso com a vida e com o novo sistema igualitário.
- Não há separação entre fé e vida. Não há Templo.
- O culto legitima a partilha com os outros.
- No culto se ensina as leis de Deus - os 10 mandamentos. O culto reaviva a memória da caminhada do povo para fora do Egito.
Dt 26,5-11; Mq 6,6-8; Rm 12,1-2; I Jo 3,1-18
9. SACERDÓCIO PROFÉTICO
- O sacerdote denuncia o falso culto, a violência, a injustiça, o roubo, a mentira e a acumulação. O sacerdote é obrigado a ser pobre porque não podia ter terra; defendia a igualdade.
- O sacerdote fica livre para denunciar as injustiças, inclusive as do rei, e lembrar a história da luta da classe trabalhadora pelo sistema igualitário
- Teologia da luta pela terra e da igualdade de direitos.
Os 8,1-14; Jo 13,1-15

 3o Dia

3. Monarquia e Profetismo: 1033 – 597 a. C. #
 Ler os textos em plenária e entender a prática e a dinâmica do Estado
Definição da Monarquia: Jz 9, 7-15 + Gn 47, 13-26 + Pv 31, 1-9 + Dt 17, 14-20

Causas Externas e Internas do surgimento da Monarquia #
 Um grupo lê os textos das causas externas. Dois grupos lêem os textos das causas internas. Procurar descobrir a realidade do povo e as causas que fizeram surgir a monarquia.
Causas Externas
•Monarquias vizinhas - I Sm 8,1-7
•Novas Tecnologias - Ferro - I Sm 13,19-22
•Invasão Estrangeira - Jz 6,1-6 + 8,22-23
•Exército Permanente - I Sm 13,1-7 + Jz 4,1-3

Causas Internas
•Enriquecimento de alguns - I Sm 25,2-13
•Empobrecimento de muitos - I Sm 22,1-5
•Servos - I Sm 25,40 + I Sm 25, 10 + 18-19
•Boi - I Sm 11,1-7 + Ex 21,28-36 + 22,1-15
•Escravos - Ex 21,1-11 + 21,20-21 + 26-27
•Corrupção - I Sm 2,12-17 + 8,1-5
•Exército Popular - Jz 6,34-35 + 7,1-9+23
•Rompimento da Aliança - I Sm 8,7-8 + 7,2-4
•Idolatria - Jz 10,6-18 + 8,33-35

 Ler em 4 grupos os temas abaixo:
1. Analisar a estrutura do Estado, quem a financia e a que preço.
2. Como o Estado hoje sobrevive, quem o financia e quem o controla e quem o controlou no passado e por quanto tempo?

Surge o Estado: Rei, ministros, príncipes, funcionários, soldados e sacerdotes versus camponeses
I Sm 8,1-22: relação entre Estado e povo
I Rs 4, 1-19: estrutura hierárquica do Estado
Tributo - Mercadoria I Rs 4,20-28+10,14-29 – acúmulo de riqueza às custas dos impostos pago pelo povo
Trabalho Forçado I Rs 5,1-18 – impostos pagos em mercadorias e trabalho forçado pelo povo para a construção do Templo para dar continuidade ao Estado em tempos de paz.

 Reunir em grupos para ler e analisar os temas abaixo na perspectiva da denúncia e do anúncio:
1. Analisar o tipo de denúncias e o tipo de anúncios
2. Quais as propostas que estão por de trás das denúncias e dos anúncios.
3. Qual o conflito central do texto?
4. Que profetas conhecemos hoje e o que denunciam e anunciam?

Os Profetas surgem como conseqüências do Estado que se formou por causa do aparecimento de classes sociais: Estado x Camponeses - Natã - II Sm 12,1-15
Surgem os Profetas que
Denunciam:
Poder político:capital Mq 1,5-6.12; 3,1-4.9-10
Poder econômico: latifúndio Mq 2,1-5; comerciantes: Mq 6,10-12
Poder religioso: sacerdotes Mq 3,5-7.11; 3,11; Templo Mq 3,12; culto Mq 6,6-8; Am 5,21-27
Poder judiciário: Mq 3,9-11; 7,3
Poder militar: fortalezas Mq 5,10; instrumentos de guerra Mq 4,3; 5,10
Estado e Classes Sociais: Is 1,21-31
Leis que facilitam a exploração: Is 10,1-2
Injustiças do sistema – Mq 3, 1- 12
Opressão física dos camponeses: Am 2,7; 5,11; Mq 2,2
Anunciam:
Fim: Rei, Estado, Templo: Mq 3,1-12
Novo Céu e Nova Terra: Is 65,17-25
Vinda do Messias: Is 11,1-10

 Ver em grupos os dois períodos proféticos e suas características.
1. Que situações os textos descrevem, quem está envolvido nos relatos e o que propõem os textos?
2. Há situações semelhantes hoje em dia em seu município ou em nosso país?

1º PERÍODO PROFÉTICO #
Profetas Pré-Literários (1000 – 760 a.C.)
Criticam só o Rei e não a Monarquia
Proposta: Troca do Rei
Os textos destes profetas estão nos livros de Samuel e Reis
Natã - II Sm 12,1-15 Eliseu - II Rs 9,1-29 Semaías - I Rs 12,22-24
Micaías - I Rs 22,5-28 Elias - I Rs 21,1-29 Aías de Silo - I Rs 11,26-40
Gade - II Sm 24,10-17 Jeú - I Rs 16,1-7

2º PERÍODO PROFÉTICO - ASSÍRIO (824 - 612 a.C.)
Dominação Assíria Queda da Samaria em 722 a. C. (Reino do Norte – Israel)
Causa da queda do reino: I I Rs 17, 3-18; Zc 7, 8-14
II Rs 17, 24 – 28 (29-41) - Samaritanos
Profetas têm livros próprios
Criticam o Rei, o Estado e o Templo
Proposta: Fim da Monarquia
NORTE (760-722 a.C.) SUL (740-701 a.C.)
Amós - 5,7-15 Miquéias - 3,1-12
Oséias - 5,1-14 Isaías – 10,1-4
Livros que falam deste período: I e II Sm, I e II Rs, I e II Cr e os próprios livros proféticos.



 4o Dia

4. Exílio e Pós-Exílio: 597 – 63 a. C. #

EXÍLIO BABILÔNICO (597 a 538 a.C.)
Queda do Reino do Sul - Judá em 587 a.C. A elite é levada ao cativeiro. Rei é o maior pecado: I Sm 12,19

 Ler em plenária os textos bíblicos e tentar entender o Exílio.
1. Como os textos descrevem o acontecimento do exílio?
2. Quem é levado para o exílio na Babilônia?
3. Há em algum momento na história brasileira situações em que pessoas vão para o exílio quem são, de forma voluntária ou forçada e por que?

O Povo de Deus na Terra do Cativeiro Babilônico
Causa do Cativeiro: Zc 7, 8 – 14 + II Rs 17, 3-18
1ª Deportação em 597 a. C. - II Rs 24, 10-17
2ª Deportação em 587 a. C. - II Rs 25,8-12.18-22
Ez 37,1-14 - Javé é nossa esperança
Sl 137 – Não cantaremos para alegrar os patrões no exílio
Os escravos na Babilônia (antiga elite em Israel) tinham que responder para si mesmos a pergunta do por quê da escravidão. Nas celebrações no exílio, juntando memória e resistência, foram elaborando os escritos bíblicos baseados na:
1.Lei: numa revisão da história do povo desde a Criação até a morte de Moisés. (Pentateuco: Gn, Ex, Lv, Nm, Dt).
2.História: os teólogos fazem a revisão da história do povo, desde a conquista da terra até o Exílio. São os Profetas Anteriores: Js, Jz, I e II Sm, I e II Rs, I e II Cr.
3.Salmos: das celebrações e cultos resultam muitos hinos e orações: Salmos 74, 79, 80, 85, 106,107, 137 e outros.
4.Profecia: fez-se uma releitura dos profetas.
Quando o povo retornou da Babilônia, trazia consigo o maior e mais importante fruto do cativeiro: a Sagrada Escritura.

 Ler em grupos os textos para:
1. Entender e descrever a situação do povo.
2. Há situações semelhantes hoje no Brasil ou já houve no passado?
3. O que os profetas propõem?

Os Profetas do Exílio #
Criticam a Monarquia e depois anunciam a reconstrução
Jeremias (630-555 a.C.) – Jr 26,1-24
II Isaías (Caps. 40-55) (550-540 a.C.) – Is 42,1-9
Ezequiel (593-570 a.C.) – Ez 3,16-21

Os textos do Pós-Exílio
Ag 2,1-9 Construção do 2º Templo (515 a.C.)
Esdras (458 a. C.) 1, 1 – 11; 6, 1-12 – Decreto de Ciro
Neemias (445 a. C.) 5, 1 – 13 - Tributo pago em moeda e não mais em produtos gera grande crise e miséria
Ageu (520 a.C.) – Ag 1,1-15
Zacarias (518 a.C.) (Caps. 1-9) – Zc 8,1-23
Malaquias (445-440 a.C.) - Ml 3,6-12

 Ler em 3 grupos os textos abaixo para entender cada período do exílio e pós-exílio: Fazer um resumo de cada período.

1 - A Profecia depois do Exílio (538 – 167). #
Após uma vitoriosa campanha, o rei persa Ciro conquista a Babilônia em 539 ªC. No ano seguinte ele assina um decreto permitindo a volta dos exilados para Judá e Jerusalém. Encontramos textos deste importante decreto três vezes na Bíblia: Ed 1,2-4; 6,3-5; I Cr 36, 22-23. O retorno dos exilados marca esta nova etapa da história: o tempo depois do exílio.
Chamamos de “Pós-Exílio” o período bíblico que se estende entre a volta dos exilados (538) e o nascimento de Jesus Cristo. Um período histórico bastante longo, mas, ao mesmo tempo muito desconhecido. Mais de 500 anos de história mal documentados. Há poucos livros que descrevem essa época. No entanto, nesse mesmo período todos os livros do AT passam por uma revisão e uma redação definitiva. Depois não são mais mexidos! É a redação normativa ou canônica da Bíblia.
Este período histórico se caracteriza por um grande silêncio quanto à voz da profecia. A literatura característica desta época é a Sabedoria e, mais tarde, a literatura apocalíptica. O povo se acostumou a dizer: “Não há mais profetas!” (Sl 74,9). Como caracterizar a profecia nesta época? Por que desaparece a profecia?
Para entender este fenômeno, precisamos conhecer as características desta época. Judá agora não é mais um reino independente. O povo de Deus se descobre como uma pequena comunidade étnica, perdida nas imensidões de um império multiracial. Não sendo mais independente, são obrigados a se submeter a um rei estrangeiro que ditará normas e leis. Pagam tributos e convivem com um exército de ocupação. Não controlam nem decidem mais os destinos do povo. Não há esperança de uma independência política num futuro imediato.
As condições de vida do povo mudaram muito. A partir da dominação persa acontecem grandes transformações internacionais. O comércio intenso e rendoso, as grandes propriedades rurais e o trabalho escravo marcarão os impérios, seja dos persas, dos gregos ou dos romanos. O povo desanima ao ler o seu presente e se volta para um passado de glória. Não escreve mais o que está vivendo e continuamente relê o seu passado. Busca esquecer os desmandos dos antigos reis. Nesta visão, são escritos os Livros das Crônicas. Aspiram por independência. Um dia este passado de glória e independência voltaria. Tudo começaria de novo. Com esta esperança, contra os fatos e as evidências, enfrentarão os dominadores: os persas (entre 539 e 333 a. C.), os gregos macedônicos de Alexandria e Antioquia (entre 333 e 164 a. C.) e os romanos (depois de 63 a. C.). haverá um curto espaço de independência entre 167 e 63 a. C., fruto da revolta dos Macabeus.
A comunidade resiste ao invasor organizando a sua vida em torno da presença de Deus. O centro de tudo é o Templo de Javé, na cidade santa de Jerusalém. A autoridade e o poder vão se firmar nas mãos do Sumo sacerdote, que ocupará o lugar do rei ausente. Com isso, a comunidade vai entrar num caminho de isolamento, de segregação, buscando preservar seus costumes e ritos no meio dos povos pagãos. Depois do Exílio surgem as comunidades da Diáspora, da dispersão. Há uma profunda desconfiança dos costumes estrangeiros. A comunidade se fecha em si mesmo.

Escritos do Pós – Exílio

Novelas Populares.
No período do pós-exílio, paralelamente ao surgimento da literatura sapiencial, desenvolveu-se um novo estilo literário que apresentava uma mensagem diferente. São as novelas elaboradas pelo próprio povo. Elas são um apelo à resistência e apresentam um projeto que tem suas raízes na tradição do povo.
Pertencem a esse estilo literário: Rute, Tobias, Jonas, Ester e Judite. Mas de certa maneira também o livro de Jó e o Cantares, por seu conteúdo, têm características de resistência. Todos esses livros foram redigidos a partir de uma opção pelo povo.
Como todas as novelas, trata-se de condensação de experiências e problemas que são expressos simbolicamente em um fato concreto. Os seus protagonistas por vezes não são personagens históricos, mas representantes de um conflito histórico. Chama a atenção o fato de muitas destas novelas demonstrarem certa despreocupação em relação a aspectos de Geografia e cronologia. Nomes de personagens históricos de épocas distintas são reordenados e colocados num único momento histórico. É uma maneira de enfatizar as experiências acumuladas durante muitos séculos e em lugares diferentes.
Enquanto os livros de Rute e Judite tratam de problemas dos lavradores do interior de Judá, outras novelas, como as de Tobias e Ester, abordam questões da diáspora judaica na Mesopotâmia, nas cidades de Susa e Nínive. Jonas trata ao mesmo tempo dos dois lugares. Seu tema é exatamente o relacionamento entre ambos.
Nessas novelas, encontramos escondida uma nova proposta que surge a partir da tradição do próprio povo. Por isso são “livros de resistência” de um povo que guarda a memória subversiva do seu projeto original. As novelas resistem à política da época e criticam indiretamente – seja através do silêncio, seja através de propostas alternativas – os pontos de apoio da nova identidade judaica, proclamada pela reforma de Esdras e Neemias: Lei – Raça – Templo. Fica, portanto claro que o lugar de opção dessas novelas é o povo.

2 - Características das Novelas de Resistência. #
Protagonismo da Mulher.
Chama a atenção o protagonismo que a mulher tem nesses escritos. Três novelas têm o nome de mulher: Rute, Ester e Judite, que são os seus personagens centrais. O nome dessas figuras femininas já encerra uma proposta:
Rute: significa a amiga; expressa o projeto de solidariedade entre os pobres.
Judite: a judia; personifica os valores autênticos da cultura judaica em face da influência do helenismo.
Ester: “Esconder”, oculta o nome de seu povo para salvá-lo do extermínio.
Sara: é o nome da mulher que tem o principal papel no livro de Tobias, reforçando com este nome da primeira matriarca a esperança no novo começo do povo.
Em outros Relatos do Pós-Exílio.
As mulheres camponesas que acompanham seus maridos na reclamação de seus direitos diante de Neemias, com uma nova consciência da igualdade em Ne 5,1-5.
A Sulamita é o da mulher protagonista de Cantares. Ela toma sempre a iniciativa para o encontro com seu amado.
Suzana é uma jovem casada que se destaca pela corajosa defesa da justiça, sem a ajuda de seu marido, no livro de Daniel (Dn 13).

Conclusão:
O protagonismo de todas essas mulheres simboliza que o povo indefeso, através de sua resistência, é o sujeito de sua própria história. Como o próprio povo elas reconhecem que não tem poder, mas mesmo assim lutam pela vida. Crêem que Deus, atuando com seu poder através da fragilidade deles, pode manifestar-se no meio de um povo sem poder algum. Desta maneira querem levar o povo à confiança no “Deus dos pequenos”, a fim de recuperar a esperança “dos desesperados” (Jt 9,11).

A Comunidade como Lugar de Renovação.
Nas novelas o lugar a partir do qual surge a proposta é a família, a casa, a comunidade. Contrastam, desse ponto de vista, os escritos da obra histórica dos cronistas (Ed; Ne; I e II Cr) na qual o lugar da ação é o palácio, a cúpula, o Templo.
Na novela de Rute o lugar de ação é Belém (Bet lehem = casa do pão). As mulheres chagam na hora das colheitas (Rt 1,22), tempo de promessa e de fartura do pão. Lugar oportuno para forjar um novo futuro. Na novela de Judite, o lugar de ação se chama Betúlia (Bet Eloah = casa de Deus), lugar periférico situado nas colinas de Judá (Jt 4,6), local onde o povo iniciou o seu projeto original, longe das cidades-estado.
A casa sempre foi o ponto de partida da renovação na história da salvação: a casa de Abraão, a casa dos vários juízes, a casa dos distintos profetas. Nestas novelas a presença libertadora de Deus recria o povo. Isto se dá na casa do povo e não no Templo como afirma a reforma religiosa. Segundo as novelas a casa do povo é a casa de Deus.

Freqüência nas Orações.
Chamam atenção as longas orações pessoais e espontâneas que se fazem nas novelas. Elas se referem às situações concretas que o povo vive. Tais orações expressam a fé na presença imediata de um Deus que escuta o clamor dos aflitos em qualquer lugar, mesmo fora do Templo. No livro de Rute, encontramos bênçãos típicas da época patriarcal, como Rt 2,4.12.20

Uso Litúrgico.
Na liturgia, o povo quer identificar-se com o Projeto de seu Deus e renovar a sua Aliança com Ele. Vários dos escritos de “resistência” servem aos judeus até hoje em suas festas litúrgicas: Rute na festa de Pentecostes, Ester na festa da purificação do Templo, e o Cantares para a festa da Páscoa.

Chave de Leitura: Começar a Reconstruir.
A maioria dessas novelas, ao expressarem a vida do povo, vão além da simples lamentação de situações deploráveis. É um chamado à reconstrução desse povo. Os livros de Rute, Tobias refletem esta intenção fazendo alusão a nomes de pessoas e de lugares dos tempos antigos, do tempo dos patriarcas e das matriarcas. A reconstrução do povo começa nas famílias, nas casas, na comunidade, manifestando a presença de Deus.

Os Salmos
A Raiz dos Salmos: O Clamor do Povo que invoca o Nome de Javé.
A novidade da Bíblia não está na dor que faz gritar. A dor existe em todos os povos. O grito também! A novidade da Bíblia está na fé de que Deus ouve o grito calado de um povo oprimido. O grito do povo de Deus nasce de dupla fonte: da dor, que nos faz gritar e da fé de que Deus sempre ouve.
Na raiz dos Salmos está a nova experiência que a humanidade fez, através do povo de Israel, de que nosso Deus se coloca do lado dos oprimidos e os liberta da opressão dando-lhes esta garantia: “Eu estou com vocês” (Ex 3,12). Vale a pena ler os Salmos na seqüência e anotar os versículos em que se expressa esta convicção de que Deus ouve nosso grito. Você ficará admirado com a freqüência desta convicção de fé. É o fio de ouro que percorre e unifica os 150 Salmos. Aqui está a garantia dos pequenos de que não estão gritando em vão.
(Coleção: Tua palavra é vida, n º 3 e 4. Publicações CRB e Loyola, 1992/1993))

3 - Os Períodos de Dominação Estrangeira #

DOMINAÇÃO BABILÔNICA (597 – 538)
Em 609 o rei Josias morreu na guerra contra o Egito, e este durante 4 anos extorquiu tributos do país, colocando Joaquim como rei. Em 605 a Babilônia derrotou o Egito e Judá começou a pagar tributo à Babilônia. E em 598 Judá começou a reter os tributos e por isso veio a expedição punitiva em 597.
Em 597, Nabucodonosor já tinha tomado Jerusalém, mas nesta ocasião ele se contentara com receber um pesado tributo, com deportar parte dos habitantes e com deixar na cidade um rei obediente às suas ordens.
Teria isto servido de lição ao povo? Era de esperar que sim. Mas, enganado por falsos profetas, que o faziam crer tratar-se de um mau momento que passaria logo, o povo viveu dez anos de loucura. Continuou sua vida de negligência, fez aliança com o Egito contra a Babilônia, etc.
Em Jerusalém o profeta Jeremias pregava a submissão aos babilônios e na Babilônia Ezequiel fazia a mesma pregação aos deportados.
Sedecias ficara como rei e este tentou tornar a Palestina independente convocando para a resistência os reis de Edom, Moab, Amom, Tiro e Sidônia; o resultado foi o fim de Judá. Em julho de 587: depois de um cerco de um ano, o exército de Nabucodonosor, rei de Babilônia, se apodera de Jerusalém. É o fim do reino de Judá. A administração foi entregue a Godolias, um funcionário que não era parente de Davi.

DOMINAÇÃO PERSA (538-332)
Ciro tomou o poder no Império Meda em 550 a.C. e já em 547/546 derrota o rei Creso da Lídia.
Em 538 a. C. Ciro marcha sobre a Babilônia e a toma sem luta e termina aí o Império Babilônico. Com o edito de Ciro os exilados hebreus podem voltar para Israel; muitos voltam e muitos não querem voltar. Em 515 a. C. é inaugurado o Templo. Os muros de Jerusalém apenas foram reconstruídos com Neemias que esteve em Jerusalém do ano 445 – 433 a. C.
A permissão para os israelitas voltarem para casa, o dinheiro dado pelos persas para construção do tempo, a permissão para reconstruir os muros de Jerusalém e a elevação de Israel a Província fazem parte do plano dos persas para agradar os israelitas. Isto porque eles queriam que os israelitas apoiassem os persas para que eles pudessem invadir o Egito, pois Israel fica no caminho e faz divisa com o Egito.
Como se dava a dominação persa?
A dominação persa era mais refinada e inteligente que a da Babilônia e por isso o Império Persa durou de 539 a 332 a. C. a sua principal forma de dominação era econômica e militar que estava escondida pela dominação cultural e religiosa que encobriam os fatos. A dominação ideológica encobria a dominação política e econômica. A inovação na dominação que ocorreu era a cobrança de impostos em moeda e não em produtos.

DOMINAÇÃO GREGA (332-167)
O macedônio Alexandre Magno com seu exército conquista o Império Persa
Alexandre Magno morre em 323 a. C. e seu império é dividido entre seus três generais:
No Egito os Lágidas estendem seu poder sobre Israel (323 – 199 a. C.)
No Oriente dominam os Selêucidas que anexam Israel em (199 – 142 a.C.)
Profetas da época: Daniel (164-160 a.C.); Zacarias (Caps. 9-14) (336-323 a.C.)
Surge a Sinagoga como forma de resistência e manutenção da Lei e fé em Javé
Neste período se constituem os grupos: essênios, fariseus, saduceus, zelotas
Os gregos forçaram:
• a aculturação dos israelitas
• a adotar a religião dos opressores
• a acabar com a fé em Javé
Disto brotou a Guerra dos Macabeus: contra o saque do Templo feita pelo rei selêucida Antíoco IV Epifânio que precisava pagar indenizações de guerra aos romanos.
As aldeias perderam sua importância econômica e política, que passou para as cidades.
Transformaram as pessoas em escravos e as terras em latifúndios. A vida passou a ser gerenciada pelo mercado das pessoas e das coisas.
Sábado e circuncisão, sacrifícios e liturgias separatistas deveriam dar lugar a uma religião que se assemelhasse à própria lógica do Império de escravos.
Jerusalém ia-se transformando numa polis (cidade) grega, acomodada à cultura helênica. Contudo, os lavradores e o clero menor protestaram.
A guerra de independência durou de 167 até 142 a. C. quando Israel ficou independente e foi governado pela Dinastia Asmonéia até 63 a. C. com a intervenção dos romanos por causa da luta familiar interna pelo poder. Os 3 irmãos Macabeus iniciaram o levante contra os gregos num altar nas montanhas da Samaria em 167 a.C. Houve muita perseguição e matanças do povo de Israel pelos gregos neste período.
1. Por que existe e como está a luta pela terra na Palestina de hoje?
2. Por que Israel não respeita os limites territoriais definidos pela ONU?
3. Como hoje está a luta pela terra no Brasil e por que ela existe?

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