15 de agosto de 2011

Características do Reino de Deus


Introdução
O que queremos clarear com este estudo?
Queremos refletir sobre o Projeto do Reino de Deus e sobre o Projeto deste Mundo - o capitalilsmo - que quer impedir que o Reino de Deus se viabilize. Quando o apóstolo Paulo diz em Romanos 12, 2: ‘não vos conformeis com este século’, ele está querendo dizer que a pessoa cristã não se conforma com a proposta que este mundo está colocando. Conhecemos muito bem o Projeto deste Mundo e sabemos que ele está baseado no ódio, na violência, na diminuição da vida em favor de um pequeno grupo que segue a proposta do mundo e com isto tem vida agora, às custas do sofrimento e miséria de milhares de pessoas, mas não terá a vida eterna. O Projeto deste Mundo sempre pressiona para que a Igreja esteja ao seu lado e proclame o Evangelho de Jesus Cristo de forma a não denunciar o seu projeto de morte. O projeto deste mundo pressiona a Igreja para que ela confunda o povo com a sua pregação, de forma que o Evangelho legitime e não questione o sistema implantado neste mundo. Se a Igreja não denuncia o sistema deste mundo ela está dizendo que Reino de Deus e o sistema implantado pelos poderosos deste mundo é a mesma coisa. O Evangelho de Jesus Cristo, no entanto, mostra que os dois projetos são coisas distintas e opostas. Se uma pessoa defende um sistema implantado neste mundo que é baseado na desigualdade, na injustiça, na supremacia do lucro sobre as necessidades básicas e fundamentais das pessoas ela ao mesmo tempo está se colocando contra o Reino de Deus. Pois no Reino de Deus a vida e as necessidades básicas e fundamentais das pessoas estão em primeiro lugar e estão acima do lucro e do capital. Lembrando que a origem do capital é o trabalho não pago; assim o capital é injusto por princípio.
Lembrando sempre que todo o projeto implantado neste mundo por pessoas humanas, que são pecadoras, é falho e provisório e, normalmente, não segue as propostas do Evangelho de Jesus Cristo.
A Bíblia já nos relata do choque constante entre o anuncio do Reino de Deus e os poderes deste mundo. Lembrando, por exemplo, João Batista que foi preso e morto porque a sua pregação não agradou a pessoa que detinha o poder na época, o rei Herodes. Jesus Cristo foi preso e condenado à morte porque o anúncio do Reino de Deus não agradou aos poderes da época: o Templo e o governo romano, representado por Pôncio Pilatos. Isto mostra que os poderes deste mundo sempre se sentem acuados e ameaçados pela Proposta do Reino de Deus e por isso reagem com violência que é a sua característica básica de perpetuação. A violência é tanto política como econômica ou ideológica. Os poderes e poderosos deste mundo sempre procuram afastar de todas as formas possíveis a tudo e a todos que ameaçam o seu poder. Não foi por acaso que o Credo Apostólico cita o nome de Pôncio Pilatos como o representante do sistema deste mundo que condenou Jesus Cristo à morte. Os poderes deste mundo sempre usaram a religião para legitimar a sua proposta de morte e exigiam que o povo adorasse o sistema deste mundo como divino. E se a religião não legitima o sistema de poder instalado ela é reprimida e perseguida, como mostra a perseguição dos primeiros cristãos pelo poder romano. Hoje o sistema não exige diretamente que ele seja adorado como divino mas coloca que é da vontade de Deus e veio para ficar e portanto não adianta sonhar e viabilizar uma outra proposta, a do Reino de Deus.
Na história da igreja vemos em muitos momentos que ela se identificou e se igualou ao sistema deste mundo implantado pelas pessoas poderosas. Mas a tarefa da igreja é ser instrumento na Missão de Deus participando da construção de seu Reino. E, se a igreja participa da construção do Reino de Deus então ela não participa da construção do sistema implantado pelos poderosos deste mundo e nem legitima este sistema, porque normalmente ele está baseado na desigualdade que gera a morte.
Queremos mostrar qual o Projeto do Reino de Deus e como a Bíblia fala dele e quais suas características. Compararemos suas características com as características do sistema implantado neste mundo, que se chama capitalismo neoliberal globalizado.
A comunidade cristã precisa saber como se caracteriza o Reino de Deus, para não se deixar enganar pelo sistema montado neste mundo, cujas características a comunidade cristã também necessita saber. Assim a prática do Reino de Deus é totalmente distinta da prática do sistema que a sociedade organizou, mais conhecida como capitalismo neoliberal. Compararemos as duas propostas abaixo com um texto bíblico referencial no meio (algumas características não comentei – o texto é do final dos anos 90):

Reino de Deus - Texto Bíblico - Capitalismo
1. Reino de Deus Jo 16.33; Mc 10.28–31; Lc 9.57-62 Mundo = Capitalismo
Jesus disse: Eu venci o mundo
Tendes bom ânimo, eu venci o mundo, diz Jesus Cristo em Jo 16,33. Se Jesus Cristo venceu o mundo então ele não tem mais poder sobre as propostas dos crentes. Jesus derrotou o mundo, com sua proposta e tudo mais. Por isso ele diz em Lc 9, 69: Tu, porém, vai, e prega o reino de Deus. Significa que os cristãos não precisam mais procurar saídas nas propostas do mundo, pois elas foram tornadas inválidas pelo próprio Jesus Cristo. O que significa o mundo? O mundo é o sistema de poder que as pessoas montaram em benefício, normalmente, de uma classe social. Mundo é todo o sistema de poder e de valores (político, econômico, social, cultural e ideológico) que hoje é caracterizado como sistema capitalista neoliberal globalizado.
Frente à este sistema Jesus Cristo coloca a sua proposta e o seu programa de ação.
Programa de Jesus Cristo e sua execução Lc 4, 18-19 + Lc 7,20-23.
- Evangelizar os pobres, proclamar libertação aos cativos, restaurar a vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos, apregoar o ano jubilar, doentes são curados e purificados, os mortos são ressuscitados. Apostar tudo na proposta do Reino. Não olhar para trás e ter saudades do capitalismo. Ou lutamos pelo Reino de Deus ou lutamos pelo sistema implantado pelas pessoas neste mundo que no momento é o Sistema Econômico Capitalista. Assim há uma luta constante entre o Reino e o Mundo. Nós em nossa prática de vida optamos por uma destas duas propostas. Normalmente dizemos que optamos pelo Reino de Deus mas na prática vivemos a proposta do sistema deste mundo, que é o capitalismo. E ainda queremos que a pregação do Reino se adapte às exigências do sistema capitalista. Normalmente não admitimos que a pregação do Evangelho de Jesus Cristo contrarie as propostas do sistema econômico capitalista.
Quem tem o poder econômico também precisa ter o poder político e ideológico para garantir a perpetuação do poder econômico. E o econômico traz como resultado aquilo que Jesus combate: a desigualdade, a injustiça, a diminuição da vida das pessoas e a idolatria. O Capitalismo diz que ele é o fim da história; não existe outro projeto além do dele, ele veio para ficar e não adianta sonhar com outra forma de organizar a sociedade. Exige que as pessoas apostem tudo em seu projeto.

2. Deus vivo Mt 6,24 deus Capital
Ninguém pode servir a dois senhores. Não podeis servir a Deus e às riquezas.
O capital gosta de posar como deus. Exige que esteja em primeiro lugar e acima das necessidades das pessoas. Não admite ser questionado. O capital passa a ter poder sobre as pessoas e exige que estas o adorem como deus. E ele passa a ser deus na medida em que as pessoas estão em função dele. Na verdade o capital deve estar a serviço das pessoas e não o contrário. Se acontece o contrário é porque o capital está sendo considerado um deus. E o deus capital usa as estruturas que as pessoas fizeram para organizar a sua vida para legitimar a sua prática e o seu projeto que é se multiplicar indefinidamente e independentemente de estar ou não à serviço das pessoas. Os interesses do capital estão acima das necessidades das pessoas, isto se chama pecado.
Cada Deus tem a sua proposta de como organizar as relações humanas. O deus Capital também tem a sua e a está implementando com o apoio e ajuda de muitos assim chamados cristãos. O resultado nós o vemos ao nosso redor, basta abrir os ouvidos, a mente e os olhos. Só que muitos cristãos são seguidores ferrenhos do deus Capital em sua prática de vida mas querem legitimar esta sua ação pela igreja e pelo Evangelho de Jesus Cristo. Por isto pressionam a igreja para que não clareie que a proposta do sistema deste mundo não é a mesma que a do Reino de Deus. Abertamente se dizem cristãos mas de fato, pela sua ação prática e pelo seu jeito de pensar, adoram o deus Capital. Jesus Cristo disse: pelos seus frutos os conhecereis (Mt 7, 16).

3. Ressurreição do corpo I Co 15, 3 - 4 Ressurreição da alma
Matar, escravizar e explorar o corpo para gerar, reproduzir e garantir o capital. O corpo está em função do capital e não o contrário. Isto não condiz com a confissão cristão que fala da ressurreição do corpo. O corpo ressuscita, portanto ele por isto mesmo é valorizado, não é qualquer coisa ou mera embalagem da alma. A fé cristão não conhece a separação entre corpo e alma. Alma é a vida que está no corpo e não existe alma fora de um corpo. Corpo e alma são uma unidade inseparável. Ambos morrem e ressuscitam. O corpo ressuscita e por isto ele deve ser valorizado e protegido.
A filosofia da ressurreição da alma serve para legitimar a exploração do corpo, da vida das pessoas. Se apenas a alma ressuscita então o corpo não vale nada e por isso pode ser escravizado, torturado e explorado. A filosofia da ressurreição da alma legitima o projeto deste mundo que está baseado na exploração de uma classe sobre a outra.

4. Comunidade - Coletivo At 2,42-47 Individualismo
Preservar na doutrina dos apóstolos e não na doutrina do sistema deste mundo. Em Atos diz: Perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. O reino de Deus é construído no coletivo e não no individual. Não dá para ser cristão e não participar da comunidade cristã ou daqueles que vivem e ajudam a construir a proposta de Jesus Cristo. Algumas pessoas dizem: eu não participo das celebrações da comunidade cristã (cultos), faço as minhas orações e leio a Bíblia em casa. Não é esta a postura de alguém que foi liberto por Jesus Cristo. A proposta do reino é construída de forma coletiva, tanto na igreja, como na luta sindical, no movimento popular, como na luta político partidária que defende e luta, realmente, com os pobres e injustiçados a partir da fé em Jesus Cristo.
Preservar a doutrina do capital via família, escola, TV, igrejas, jornais é a proposta do sistema deste mundo. Esta doutrina valoriza o individualismo, o egoísmo como virtudes e formas de autorealização. O importante é o indivíduo e ele deve aproveitar todas as oportunidades para progredir sozinho na vida, mesmo às custas dos outros. Tudo é válido para garantir o progresso individual. Quanto mais coisas eu tenho dentro de minha casa mais eu valho. Tudo o que pode ameaçar o meu individualismo deve ser combatido, eu não arrisco nada pelo coletivo; cada um se vira.

5. Servir Mc 10,35-45 Egoísmo
O texto de Mc 10 confronta o servir com o egoísmo que é inerente ao ser humano. Jesus propõe superar esta proposta de vida onde cada um procura tirar o melhor proveito para si da situação. No versículo 42 do capítulo 10 ele diz qual é a prática do sistema deste mundo: a dominação de uma classe sobre a outra e esta é exercida e legitimada pelo aparelho estatal. Jesus Cristo diz: entre vós não é assim, pelo contrário. Os dois discípulos estavam apenas reproduzindo o sistema vigente em querer os primeiros lugares. Jesus coloca que a proposta do Reino é exatamente o contrário: servir. E com isto denuncia a nossa própria prática baseada no egoísmo que advém do sistema deste mundo. Além do mais denuncia que esta proposta está no meio das pessoas que se consideram mais chegadas ao próprio Jesus, seus discípulos. A proposta do mundo é o que os dois discípulos expressam: individualismo, egoísmo, saída individual para resolver os meus problemas, não pensar no coletivo e resolver os problemas coletivos, e sim, resolver primeiro os meus problemas e juntando a isso a nossa ânsia pelo poder.
Jesus mostra que o poder está com aqueles que servem, pois no mundo há uma maioria esmagadora de pessoas que servem e poucas que são servidas. E a proposta se constrói com a maioria servidora que é a classe oprimida que tem que servir à classe dominante. Só que Jesus propõe que se sirva à todos e não somente à uma classe. Servir, portanto, não é tão difícil pois os pobres fazem isto todo dia, servindo à classe dominante. O que se requer agora é redirecionar este servir; não para manter um sistema de dominação, e sim, para construir uma proposta de vida onde o coletivo importa e diz a quem se deve servir, e não como agora onde a classe dominante requer o servir apenas para ela. Em Mt 25 Jesus diz a quem devemos servir: aos que tem fome, sede, doentes, presos, significa à classe dominada e oprimida. São agora os dominados e oprimidos que dizem a quem devemos servir: à eles. Por que? Porque não tem vida plena e digna; para resgatar a sua cidadania plena.

6. Humildade Jo 13,12-17 Exibicionismo, arrogância
Para servir a pessoa necessita ter humildade. Alguém que é arrogante não consegue servir. Dentro da tradição judaica, lavar os pés de alguém é serviço de escravo estrangeiro ou de mulher; nem o escravo israelita fazia tal serviço. Com isto Jesus está ensinando que os caminhos do Reino passam pelo serviço prestado humildemente ao próximo para que este se sinta bem. Novamente Jesus põe como prática do Reino a prática de uma classe social: os escravos. Algo que eles fazem pela dominação é feito agora por livre expontânea vontade para valorizar a outra pessoa e para que ela se sinta bem. O servir se dá não pela dominação e exploração mas pela liberdade de escolha como prática de vida. Valoriza-se aqui o trabalho e a prática dos oprimidos, a prática dos oprimidos é a prática do Reino. O Reino parte da prática dos oprimidos como proposta a ser seguida. O dia a dia dos escravos é orientação para os cristãos.

7. Partilha Mc 6, 30-44 + Mt 19, 16 - 22 Acúmulo
Estes dois textos falam claramente contra a proposta e prática primeira do sistema capitalista que é a acumulação. Acumular é o objetivo e o alvo primeiro no sistema capitalista, o que infelizmente acontece sempre às custas da classe que não possui os meios de produção: a classe trabalhadora. Assim a economia e toda a vida no sistema deste mundo está voltada para o acúmulo pelo acúmulo. Quando cai a quantidade acumulada gera-se o pânico e o caos, o sistema entra em colapso. Assim no sistema deste mundo o caos é a falta ou a diminuição do acúmulo, enquanto que no Reino o acúmulo é o caos. Assim a prática do sistema deste mundo e a prática do Reino são antagônicos. Jesus propõe a partilha da riqueza e da comida como prática primeira para participar do Reino. só consegue seguir Jesus quem está livre e acima de seus bens. Os bens não podem ser empecilho para o seguimento a Jesus. Se os bens me impedem de seguir Jesus então nunca poderei ser seu discípulo e não sendo seu discípulo não poderei participar de seu Reino. O texto de Mt é o oposto ao de Lc. Em Lc a comida repartida a partir da organização do povo em grupos é abençoada. Em Mt os bens não repartidos levam ao afastamento do Reino.

8. Nós Mt 28,18-20 Eu
Todo este texto está redigido no plural. Nós somos enviados e Jesus estará conosco até o fim dos tempos. Nós fazemos parte de uma comunidade, somos um coletivo que será salvo. Somos Povo de Deus. A minha salvação se dá na medida que eu me integro no coletivo e na medida em que o coletivo é salvo. Não há salvação individual fora do contexto coletivo de uma comunidade. Pois é na comunidade que se pratica o servir e a partilha dos bens e do saber. Vivemos em um coletivo e nos orientamos por este coletivo e este está em primeiro lugar. No Reino a comunidade está em primeiro lugar; no sistema deste mundo o eu está em primeiro lugar. E sempre que o eu e o meu estão sendo ameaçado o sistema se retrai. O Pai Nosso também usa o plural e não o singular. Assim, pois, o reino tem a ver com o plural, com o coletivo, com comunidade. A individualidade da pessoa é valorizada no coletivo muito mais do que no sistema capitalista. Neste o indivíduo serve apenas para gerar lucro. Na comunidade o indivíduo está integrado em seu meio e valorizado como tal. Seu corpo e todo o seu ser é valorizado de tal forma que o corpo ressuscita e não só isto, Jesus morreu para que a vida do indivíduo seja respeitado dentro de uma nova proposta no coletivo. No sistema deste mundo o indivíduo vive num coletivo onde a comunhão não tem vez, apenas a competição. Agora, num coletivo (a comunidade cristã) onde se serve a partir da humildade e liberdade dadas pelo Evangelho o indivíduo se sente valorizado e respeitado em sua individualidade. Todos defendem e respeitam a sua individualidade. No capitalismo a individualidade não é respeitada, pois o que interessa é apenas o lucro que o indivíduo produz. A individualidade é invadida pelos meios de comunicação formando a personalidade via propaganda conforme os interesses do capital, induzindo a pessoa a se comportar conforme as ofertas do consumo. A pessoa, a partir daí, só vale se consome.

9. Fé que constrói o Reino II Pe 3,13 Fé que constrói o sistema capitalista
Há, na verdade, duas propostas muito claras: a Proposta do Reino e a Proposta do Sistema Capitalista. As duas propostas estão baseadas numa fé. Uma na fé do lucro e a outra na fé em Jesus Cristo. Cada fé tem as suas conseqüências claras que criam um impacto diferente sobre as pessoas. Não há pessoa que não tenha fé. Todos tem fé. Uns tem fé no sistema capitalista e outros tem fé em Jesus Cristo. Cada fé propõe uma certa prática de vida e de relacionamento com as outras pessoas e com o seu meio ambiente. Quem tem fé no sistema capitalista dirige toda a sua vida e todas as suas energias para o alvo do sistema que é o lucro, a qualquer custo. Quem tem fé em Jesus Cristo dirige as suas energias para o serviço ao próximo e para lutar contra o sistema deste mundo que desumaniza as pessoas e as torna meras mercadorias, meras coisas. A fé que constrói o sistema deste mundo se chama ideologia. E esta tem a função de esconder que existe a luta de classes e que existe exploração. A função do Evangelho, por sua vez, tem a função de revelar Deus às pessoas e revelar como o mundo funciona. Isto por sua vez traz uma reação por parte do sistema deste mundo contra o Reino, pois o sistema instalado entre nós não admite ser descoberto e desnudado. Há pois uma luta concreta e permanente entre o Reino e o sistema deste mundo. Muitos cristão ficam mancando entre uma e outra proposta e querem ficar com as duas o que evidentemente não dá. Na prática da vida, porém, já se decidiram, pois praticam apenas uma proposta de fato. O sistema capitalista não espera por nada de novo, os cristãos, porém, esperam por um novo céu e uma nova terra onde habita a justiça. Isto pressupõem que o velho sistema seja destruído e no lugar dele (no reino do capital) brote o novo: o Reino de Deus, com suas características bem próprias.

10. Justiça I Co 6,9-10 Injustiça
Este texto caracteriza o mundo como tal. Os injustos não herdarão o reino de Deus. Isto deixa o sistema capitalista de fora do Reino, de saída, pois está construído em cima da injustiça, pois o capital é resultado do trabalho não pago. O capital, na verdade, é um roubo, mesmo que legalizado pelas leis do Estado, que está aí para legalizar as práticas econômicas da classe dominante. E foi a classe economicamente dominante que instituiu o Estado para defender os seus próprios interesses. O Estado é uma instituição privada da classe dominante. O Estado é, na verdade, a solução que os exploradores encontraram para continuarem roubando (dentro da lei, que eles mesmos fizeram), pois surgiu para perpetuar as desigualdades sociais, perpetuar a existência de classes sociais, perpetuar as injustiças que são a exploração da pessoa sobre pessoa. Um sistema que se baseia legalmente no princípio de que é válida e lícita a exploração de uma pessoas sobre a outra é de princípio contrário ao Evangelho de Jesus Cristo. Assim o sistema capitalista é estruturalmente injusto; não dá para humanizá-lo. Lembremos de Isaías1,23: “Os teus príncipes são rebeldes, e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e corre atrás de recompensas. Não defendem o direito do órfão, e não chega perante eles a causa das viúvas”.

11. Corpo é santo I Co 6,19 Corpo é coisa
No capitalismo a pessoa, o corpo, é igualado à mercadoria; se tornou mercadoria que se vende e se compra por um salário. A pessoa vale enquanto produtora de mercadorias e enquanto produz lucro para quem ele vendeu a sua força de trabalho. O seu corpo vale enquanto tem saúde e consegue trabalhar. No capitalismo o desemprego é estrutural, faz parte da dinâmica do sistema, que não sobrevive sem o exército de reserva de mão de obra que força o salário para baixo, baixando o custo das mercadorias e aumentando o lucro. A fé cristã abomina esta forma de se encarar o corpo, a pessoa. Para Deus o corpo de cada pessoa é sagrado, pois nele mora o Espírito Santo. Além disto nós não pertencemos a nós mesmos, mas a Deus. Assim explorar uma pessoa é explorar a Deus, é malversação da propriedade e obra de Deus. O corpo, a pessoa pertence a Deus, pois é sua criação. Assim usar o corpo de alguém para gerar capital para outro e explorá-lo, é abusar da propriedade de Deus. Além disto o corpo vai ressuscitar; ele é tão importante para Deus que ele vai ser recriado na ressurreição para uma vida eterna. O corpo é sagrado e não é coisa que se compra e vende conforme a dinâmica da oferta e da procura.

12. Vida para todos Jo 10,10 Vida para alguns
Jesus Cristo ressuscitou para garantir a vida à todos, esta vida eterna que já começa agora e se perpetua para sempre. Em sua prática, relatada nos evangelhos, Jesus curou, acolheu, aceitou as pessoas porque elas não tinham vida plena. Todo o esforço de Jesus era no sentido de conseguir vida para todos. Ele restabeleceu a vida para os doentes corando-os, para os excluídos aceitando-os e se relacionando com eles. Combateu toda e qualquer forma ou organização que visasse garantir a vida apenas para alguns, como por exemplo o Templo e o Estado Romano. Em seu programa de ação em Lc 4, 18-19 ele deixa claro que ele veio para restaurar a vida para todos.
O capitalismo, que é um sistema econômico legitimado pelo político e ideológico, baseia a sua proposta na divisão da sociedade em várias classes sociais, onde a classe economicamente dominante garante a vida plena para alguns à custa da miséria e exclusão da vida de milhões. O bem estar de uma classe está baseada na miséria de uma outra classe social. Isto é tornado legal pelas leis e pela força das armas. O que interessa ao sistema e o que ele garante é a multiplicação do lucro, do capital e não da vida de todas as pessoas. A dinâmica do sistema é gerar lucro e não vida, por isso desemprego, falta de moradia, má distribuição de renda e de terra são o preço calculado que uma classe social paga. Na verdade a economia do futuro está pensada e estará voltada apenas para beneficiar 5 da população mundial; o resto não interessa à economia globalizada pois não tem poder aquisitivo para consumir as mercadorias que são oferecidas.

13. Igualdade Rm 3,22-23 Desigualdade
Todas as pessoas são iguais, pois todas pecaram e carecem da glória de Deus. Só que o sistema montado neste mundo torna as pessoas desiguais pelas suas posses que lhe dão um poder diferenciado. O julgamento ocorrerá para todas as pessoas diz Paulo. Todas as pessoas foram criadas por Deus, nasceram, e vão morrer. Isto nos torna iguais, tendo ou não tendo dinheiro ou poder. A desigualdade é forjada pelo próprio sistema montado neste mundo, mas legitimada pelo aparato estatal. O capitalismo vive da desigualdade entre as classes sociais e somente sobrevive se estas desigualdades persistirem; sempre resistirá contra a proposta de acabar com as desigualdades, pois isto será o seu próprio fim. A desigualdade é a característica do sistema capitalista, pois visa concentrar a renda nas mãos de sempre menos pessoas ou grupos econômicos e assim excluir a grande maioria dos benefícios desta renda gerada pelo trabalho da maioria. O dinheiro deve estar a serviço das pessoas e não as pessoas estar a serviço do dinheiro. O dinheiro deve gerar bem estar e não miséria. O objetivo deve ser a dinâmica da vida e não a dinâmica do dinheiro.

14. Objetivo é ter vida plena (eterna) Mt 19, 23 - 30 Objetivo é ser rico
Vida eterna e riqueza se excluem automaticamente, são opostos irreconciliáveis. Por que? Porque o rico não se desfará de seus bens para seguir a Jesus Cristo. Por que Jesus exige que o rico se desfaça de seus bens para poder seguí-lo? Porque a riqueza só é possível através da injustiça e da exploração da pessoa sobre a pessoa. Não se pode ficar rico apenas com o seu próprio trabalho, pois o capital tem sua origem no trabalho não pago. Toda mercadoria contém embutida dentro de si trabalho social não pago e esta é a origem do capital, portanto da riqueza. Somente se arrependendo deste pecado de acumulação é que se pode seguir a Jesus Cristo. Arrepender-se significa mudar de vida, significa não mais basear a sua vida em cima do capital gerado por outros. Justo é, portanto, devolver o capital aos que o geraram, significa: aos trabalhadores pobres. Somente se pode seguir Jesus se não mais se segue esta forma de organizar a sociedade e a produção que está baseada na geração de riqueza via exploração de uma pessoa sobre a outra. Conversão à Proposta de Jesus é edificar uma nova relação de produção de bens. Conversão é não mais basear a sua vida na exploração de uma pessoa sobre a outra ou defender esta proposta.
Vida plena só se tem se todas as pessoas a tem. Para que elas a tenham é necessário devolver a riqueza a quem a gerou e foi privada dela, para que possam ter vida digna e plena. Riqueza é que nem esterco, ajuntado e concentrado num monte ele fede, espalhado ele aduba e produz muito mais.

15. Seguir a Jesus é o mais importante Mt 19,16-22 O Capital é o mais importante (lucro)
Para o capitalismo o lucro está acima dos interesses e necessidades das pessoas. As pessoas devem se sujeitar aos interesses do lucro: que é se reproduzir sem limites e tudo justifica a sua reprodução. Se o sistema diz que as pessoas tem que ser competitivas, eficientes e ter em vista a qualidade total se não ficarão no desemprego e subemprego, está dizendo assim que as próprias pessoas são culpadas se estão desempregadas; joga a culpa sobre os próprios desempregados e se isenta de culpa. O sistema sempre diz que a miséria é culpa dos próprios miseráveis e não é culpa do sistema que os gerou. As pessoas vivem em função da economia e não a economia em função das pessoas, este é o desvio. Não existe conversão para os sistemas econômicos baseados em classes sociais, pois teriam que abolir o que lhes é inerente: a desigualdade, a injustiça e a exploração da pessoa sobre a pessoa. Assim também a pessoas que vivem desta prática econômica não se converterão ao projeto de Jesus Cristo, a não ser que desistam definitivamente de sua prática de exploração. No Êxodo o Faraó não se converteu ao Projeto de Deus, pois o sistema econômico que defendia e do qual vivia não o permitiu; assim o jovem rico também não consegue seguir a Jesus pois não consegue se desvencilhar de sua prática econômica que lhe deu as riquezas que tem. Seguir a Jesus requer uma nova prática econômica. Idolatria é seguir e adorar o Deus verdadeiro de forma falsa. E isto acontece quando alguém diz que segue a Jesus mas continua defendendo e praticando um sistema econômico baseado em classes sociais e na exploração da pessoa sobre a pessoa.

16. Construir o Reino é olhar para frente – para o novo Lc 9.57-62 Construir o capitalismo - velho sistema
Seguir a Jesus Cristo é não olhar para trás; significa romper todos os laço que prendem à velha prática de vida. Se olhar para trás fará o novo errado e reproduzirá o velho achando que está construindo o novo. O exemplo do arado é claro. Se alguém lavrar e olhar para trás fará as vergas tortas e o arado ficará desgovernado. Ser seguidor de Jesus Cristo é se desfazer de todos os laços do velho jeito de viver; nem a cultura, a família, a economia podem nos prender. No Reino não se tem saudades do velho sistema de vida. Reino é algo total e radicalmente novo. Participar do Reino é ser capaz de se desprender de tudo e apostar tudo no novo. No versículo 58 Jesus fala que ele não possui nada e com isto mostra que podemos participar da construção do Reino nos despojando daquilo que para o sistema é importante: o capital. A teologia da prosperidade acentua que podemos e devemos pedir posses para Deus. Esta teologia está baseada na teologia da bênção que diz que quem tem muito foi abençoado por Deus. Quem tem muitas posses é uma pessoa de fé. Isto significa que os pobres foram todos amaldiçoados por Deus e não tem fé em Jesus. Mas neste versículo Jesus aparece como pobre e totalmente sem posses; ele foi amaldiçoado por Deus? Ele não quer nos mostrar exatamente o contrário: posses não definem a nossa fé? De princípio nem pobreza nem riqueza definem estado de fé. Fé é uma prática de vida. Fé é uma postura frente a proposta deste mundo que valoriza apenas o capital, as posses. Martin Luther diz: “Olha para tua vida. Se não te encontrares, como Cristo no Evangelho, em meio aos pobres e necessitados, então que saibas que a tua fé ainda não é verdadeira, e que certamente ainda não provaste a ti o favor e a obra de Cristo”. Esta é a nova proposta do Reino. Uma prática de vida totalmente nova e oposta ao sistema vigente, pois o capitalista se relaciona apenas com outros capitalistas e não com os pobres que ele ajudou a gerar e os quer perpetuar.

17. Liberdade Gl 5,1 e 13-15 Escravidão
No Modo de Produção Capitalista a liberdade existe para o capital. Para o capital e para todas as mercadorias as fronteiras estão abertas; para as pessoas, não. O mundo capitalista sempre se escandalizava, e com razão, do Muro de Berlim, mas nunca falava e nem hoje fala do muro e cerca de arame que separa o México dos USA. Nos Blocos Econômicos caem as fronteiras para as mercadorias, mas não para as pessoas, especialmente se vem do 3º Mundo. As leis de imigração na Europa e USA vão fiando sempre mais rígidas, isto para impedir o acesso (ao suposto) bem estar destas populações do 1º Mundo. No século passado a Europa expulsou milhares de pessoas para o hoje denominado 3º Mundo à procura de riqueza ou simples sobrevivência.. Quando alguns destes agora querem voltar são impedidos. A riqueza acumulada pelo Imperialismo às custas do 3º Mundo não deve ser partilhado.
Enquanto isto na Ásia e América Latina, especialmente o Brasil, a escravidão pura e simples continua existindo. Não existem barreiras para a exploração capitalista, tudo vale, até a escravidão, que hoje não olha mais para a raça e cor, basta ser pobre e procurar trabalho. Também para esta realidade de hoje Paulo diz para que não nos deixemos escravizar novamente, após termos sido libertos por Jesus Cristo. O cristão foi liberto por graça e fé por Jesus Cristo e não admite nenhuma forma de escravidão. Nem de drogas como o álcool, o fumo e de outras drogas consideradas mais pesadas e muito menos a escravidão política, econômica, cultural e social.

18. Esperança I Pe 3,14-18 Desespero
Este texto de I Pedro mostra que o capitalismo não é a última coisa que nos acontecerá.

19. Saúde Lc 4,40-41 Doença do trabalho e de preocupação, stress
O reino de Satanás, o Forte, mantém a pessoa humana escravizada numa situação inumana. Esta situação vai desde a privação das funções físicas de relação com os outros até a impossibilidade psíquica de estabelecer as relações sociais mais básicas. Jesus expulsa os demônios e cura os doentes. O projeto de felicidade de Jesus tornado presente significa a expulsão efetiva dos poderes destrutivos da criação e o restabelecimento das criaturas machucadas e doentes. Ele sara a criação enferma. "As curas de Jesus não são milagres sobrenaturais num mundo natural, mas a única coisa "natural" num mundo desnatural, demonizado e machucado". Jesus desdemoniza o mundo tomando as pessoas sadias, livres e arrazoadas. Ao mesmo tempo, o mundo é desdemonizado objetivamente, libertando a criação pela destruição dos poderes, então chamados de "demônios". Enfim, a vinda do Reino de Deus significa, desde já, o fim do reinado do demônio. O reinado do demônio tem fim quando Jesus anuncia o Reino aos pobres e os privilegia na sua prática. O reino de Satã tem o seu fim quando as pessoas humanas são libertadas de tudo aquilo que as oprime, de tudo aquilo que lhes atrapalha a vida.
Muitas doenças tem origem na exploração e opressão que a pessoa sofre; a opressão pode ser psíquica e/ou física. Muitas doenças tem sua origem na insalubridade do trabalho ou excesso de trabalho. Todo o esquema montado para aumentar a produtividade, via tecnologia e ritmo de trabalho, acaba causando muitos danos psíquicos e físicos nos trabalhadores. A ameaça do desemprego gera stress e infelicidade.

20. Ceia do Senhor - comunhão I Co 11,23-34 Lucro - exclusão
Até que ponto é possível celebrar a Eucaristia como memorial de libertação num contexto de opressão e de injustiça?
Partilhar é o grande desafio eucarístico, quando se celebra num contexto de injustiça e desigualdade econômica, como é o nosso. Dando-se totalmente, Jesus nos convida a fazer o mesmo. O sangue derramado, o corpo entregue quer unir o que está dividido. E quantas divisões entre nós!
A Eucaristia lança-nos para fora de nós, para junto dos esfomeados de pão material, de solidariedade, de justiça. Desafia-nos também a tomar consciência do contraste que existe entre o acúmulo de bens nas mãos de alguns, por um lado, e a fome, a miséria, a falta absoluta de bens necessários à sobrevivência, por outro. Daí por que junto com o agradecer brota um outro desafio, o de partilhar. Em muitas passagens, a Bíblia nos mostra que quem retém morre e quem partilha vive. Assim, por exemplo, a viúva de Sarepta que partilha com Elias a última reserva de pães (I Rs 17,7-16). No NT temos o exemplo das primeiras comunidades (At 4,36-5,11).
Quem partilha tem comunhão e quem vive em comunhão não exclui. O nosso mundo está baseado na exclusão a partir do lucro. O objetivo do sistema é gerar lucro. O lucro é o que norteia a vida do sistema capitalista. O lucro (capital) é gerado a partir da exploração, do não pagamento do trabalho excedente. Assim ele é o contrário da comunhão e da partilha. No sistema capitalista o lucro não é partilhado, mas acumulado, assim a comunhão é rompida e impossível. A Ceia do Senhor é a proposta prática do Reino a ser vivida. Ou vivemos a proposta da Ceia ou vivemos a proposta do lucro, os dois se excluem automaticamente. Um gera comunhão outro exclusão.

21. Deixar tudo por Cristo Mt 19,27-30 Ganância

22. Vida eterna = Ressurreição I Co 15,19-20 Morte

23. Fim do poder deste mundo I Co 15,19-28 Construção do poder
O fim do poder em si. Quando houver destruído todo principado, potestade e poder.
Manutenção do poder opressor a todo o custo. O poder deste mundo compete com o poder de Deus e se opõe ao poder de Deus.

24. Felicidade Tg 5,11 Infelicidade

25. Propriedade coletiva dos meios de produção Nm 26,52-56 Propriedade Privada dos meios de produção

26. Paz Lc 10,3-6 Guerra

27. Solidariedade Lc 10,29-37 Corrupção

28. Amor ao inimigo Lc 10,25-28 Mt 5,43-48;Lc 6,27-31 Ódio, Perseguição, exclusão social
Amai os vossos inimigos. Não usar o mesmo método dos inimigos do Reino.
Os burgueses odeiam a classe trabalhadora e a reprimem e a perseguem. A função do Estado, que eles controlam, é reprimir a classe trabalhadora ou fazê-la uma aliada oferecendo migalhas.

29. Procura os pobres e excluídos Lc 15,1-7; Lc 6,20-23 Exclui os pobres
O Reino é dos pobres! Bem-aventurados vós os pobres porque vosso é o Reino!
Capitalismo é para os ricos que se mantêm pela exploração dos pobres. Neste sistema se valoriza e se procura os que detêm o capital. Estes são os governantes e os que determinam o que os governante tem que fazer. Os pobres são o resultado de sua ação político-econômica. Na verdade deve-se falar não em pobres mas em empobrecidos, eles foram tornados pobres. A prática de Jesus era de construir o Reino a partir dos empobrecidos e excluídos para reorganizar novamente a criação de Deus. Jesus Cristo valoriza a criação a partir dos empobrecidos. Os empobrecidos são as vítimas do sistema exclusivo, por isso são os primeiros interessados no Projeto de Jesus, pois este lhes devolve a dignidade perdida. O Reino quer dar vida aos que não a tem. Valorizar os que não o são. As tentativas de chamar os responsáveis pela desorganização da sociedade à ordem não funcionam: em Mt 22, na parábola, o rei convida primeiro os ricos que não atendem ao seu convite e depois são convidados os excluídos que atendem ao chamado. Assim Deus trabalha com quem aceita o seu convite. A prática de Jesus mostra que ele vivia e convivia com os excluídos e a partir destes anunciava a Proposta do Reino. Ele mesmo era um empobrecido que não tinha onde reclinar a cabeça. Ela era da classe camponesa; da categoria dos artesãos. Os artesãos surgiram porque não tinham terra para se dedicar à agricultura. Assim, Jesus Cristo era um camponês sem terra, da mesma categoria que hoje é tão amaldiçoada no Brasil. Quem amaldiçoa, rejeita e persegue os sem terra está amaldiçoando e perseguindo o próprio Jesus Cristo. O Deus que se revela no AT é o Deus da classe camponesa que luta contra a classe do Estado; no Dt 6, 22 diz bem claro que Deus lutou contra o Egito e o Faraó e em I Sm 8, 7 disse que o povo rejeitou a ele (Deus) quando escolheu um rei. Este mesmo Deus se torna carne num camponês sem terra da Palestina e morre nas mãos da classe do Estado: a elite do Templo e governo romano.

30. Valoriza os pequeninos Lc 10,21 Valoriza apenas os que sabem e tem
Por que Deus escondeu o Evangelho dos sábios e entendidos? Porque estes direcionam o seu pensamento e a sua prática a partir da ideologia da classe dominante e por isso não conseguem entender a opção de Deus à favor dos empobrecidos. A ciência e o conhecimento normalmente estão à serviço do Estado e da classe dominante. A sabedoria popular não penetra na classe dominante. Os sábios não receberam a revelação do Evangelho, e sim, os pastores ouviram o anúncio dos anjos que o Messias nasceu. Para estes isto foi o início da libertação. Os sábios estavam assessorando o Herodes, no palácio. Por ali se entende porque a revelação não veio aos sábios porque estavam à serviço do Estado repressor. O lugar dos sábios sempre foi de estar ao lado e à serviço do poder e por isso não entendem o Evangelho. A sua postura e opção de classe lhes impede a compreensão do Evangelho. Cientistas e sábios não são neutros em sua ciência. O cientista que constrói a bomba atômica não é neutro, pois sabe que ela será usada para matar.

31. Valoriza a mulher Lc 10,38-42 Explora e marginaliza a mulher

32. Denuncia e clareia a opressão Ap 18,1 – 24; Ap 13, 1 - 18 Esconde a exploração e opressão
Todo o Apocalipse tem a função de revelar a opressão e os opressores. O capítulo 18 do Apocalipse denuncia a opressão econômica e política do Estado Romano. Este capítulo faz a descrição da dinâmica do sistema econômico escravista romano e canta o seu fim. O Evangelho revela a opressão e exploração e a ideologia da classe dominante tem a função de esconder a opressão; por isso os cristãos são uma ameaça à classe dominante. Ap 13 deixa claro que o poder e legitimidade do César de Roma não veio de Deus e sim do Diabo; assim a autoridade de todo poder opressor sempre vem do Diabo. Como sabemos disto? Pela prática do poder descrita neste capítulo. Quem apoia este poder opressor se enquadra no versículo 8: “adorá-lo-ão.., aqueles cujos nomes não foram escritos no livro da vida do Cordeiro”. Assim, quem segue a cartilha do poder opressor não participa do Reino.

33. Denuncia o acúmulo de terra Is 5,8; Mq 2,1-3 Concentra a terra

34. Reforma Agrária permanente Lv 25, 8-17 Não faz reforma agrária permanente

35. Leis que defendem a vida Ex 20,1-17; Is 10,1-2; Mt 15, 1 - 20 Leis opressoras
Desobedecer e mudar leis opressoras. Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos?
A lei é feita para garantir a existência e multiplicação somente do capital - Aposta tudo no seu projeto. O sistema persegue quem quer mudar estas leis opressoras

36. Enfrenta a opressão Ex 3,1-22 Constrói a opressão

37. Um só Deus Ex 20,3 Muitos deuses

38. Salário justo Mt 20,4 Salário baixo

39. Partilha os frutos do trabalho e bens Mt 20,1-16 Desemprego

40. Denuncia o Estado corrupto Mq 3,1-12 Institucionalização da violência do Estado

41. Fé em Deus traz liberdade Mt 22,15-22 Gl 5,1 e 13-15 Função da religião é legitimar o sistema
Para a liberdade foi que Cristo nos libertou! Somos contra a escravidão
Para ter lucro, se necessário, se escraviza. As pessoas devem ser escravas do capital.
No capitalismo não há liberdade, apenas p/ o capital

42. Verdade Jo 8,31-32 Mentira
Quando a classe trabalhadora descobrir a verdade sobre o sistema capitalista ela não mais se deixará iludir. Por que no tempo da ditadura militar havia censura na imprensa? Para que o povo não descubra a verdade. E estes que apoiaram a ditadura e seus assassinatos hoje falam de democracia de boca cheia. Como se não tivessem as mãos manchadas do sangue dos que foram mortos durante a tortura porque falavam a verdade a respeito da ditadura. Hoje estes, coniventes de assassinos e assassinatos, posam de democratas. Por que? Porque a linguagem do capitalismo mudou. O capitalismo, no momento, não precisa de ditaduras para obter lucros. As ditaduras foram implementadas para montarem a infra-estrutura econômica básica nestes países para que o capital pudesse se multiplicar e se fortalecer. Hoje esta infra-estrutura está sendo repassada diretamente aos capitalistas via privatizações. O capitalismo está posando como o fim da história, como se após ele não viesse mais nada; para que haja uma acomodação geral. Mas nós sabemos que todo sistema econômico nasce e desaparece, pois é uma obra humana, portanto imperfeita e transitória. Só o Reino de Deus não é transitório, ele é eterno e este está em nossa frente, é a nossa utopia que já iniciou, que já está se tornando realidade. O capitalismo se multiplica em cima da mentira, escondendo a realidade de exploração dos próprios explorados. Estes acham que são explorados e pobres porque isto é da vontade de Deus. Quando a vontade de Deus é que sejam libertos, quanto antes melhor.

43. Poder do Estado opressor vem do Diabo Ap 13,1-4 Estado opressor
Martin Luther diz: “Reis e príncipes deveriam ocupar-se com o assunto (roubo) e reprimi-lo com leis severas. Mas, ouço que eles estão em conluio com os ladrões. ‘Enquanto executam os ladrões que furtaram um ou menos de meio florim, negociam com os que roubam todo o mundo. Eles furtam mais do que todos os demais ladrões. Comprova-se assim que ‘os grandes ladrões executam os pequenos’. E, como disse o senador romano Catão: ‘Ladrões simples estão presos nas prisões subterrâneas e cadeias, mas ladrões públicos andam em ouro e seda’. “Na administração pública vocês (governantes) outra coisa não fazem do que maltratar e explorar, até que o pobre homem do povo não queira nem possa agüentar”.

44. Distribui o acumulado Lc 19,2-10 Concentra riquezas nas mãos de poucos

45. Renova tudo II Co 5,17; Ap 21,1 Mantém tudo como está

46. Cristo salva II Tm 2,10 Capitalismo não salva

47. Antes importa obedecer a Deus At 5,29 Pessoas sujeitas a obedecer ao sistema

48. Deus escolheu as coisas humildes I Co 1,28 Competição

49. Eu sou o caminho Jo 14,6 Auto-suficiência

50. A ninguém maltrateis Mc 3,14 Tortura

51. O maior é o que serve Lc 22,24-26 Concorrência
Martin Luther escreve: “Presta atenção, homem miserável: se queres servir a Deus, tu o tens em tua casa, em tua criadagem, em teus filhos... Não demitas logo de tua casa os empregados e as empregadas quando estiverem doentes; com eles pões Cristo na rua. Não escutas Cristo dizer que aquilo que fizeste a um dos pequeninos, ele quer aceitá-lo como feito a ele próprio?” “É inadmissível que folgue enquanto o outro trabalha; que um seja rico enquanto o outro passa penúria”.

52. Manter-se incontaminado do mundo Tg 1,27 Imperialismo procura ser onipresente
Ap 18, 4 diz: “retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados”. Retirar de que? Do sistema de dominação e opressão, do sistema do mundo. O nosso projeto não é o projeto do sistema implantado neste mundo, que em sua prática diária gera a morte. O capitalismo em sua fase imperialista procura nos enrolar e envolver ao máximo. E procura estar presente em cada passo de nossa vida para que vivamos segundo a sua proposta e a apoiemos, mesmo não usufruindo dos benefícios do sistema, ao alcance de apenas um minoria. Por isso o sistema capitalista pensa a igreja como parte integrante de seu aparelho ideológico. Se infiltrou tão fundo na igreja que os cristão não sabem mais o que é Evangelho e o que é ideologia da classe dominante. Os apoiadores do sistema capitalista normalmente são as lideranças da igreja para que esta seja de fato a repassadora da ideologia da classe dominante ao povo. Em vez de se manter incontaminada a igreja está profundamente contaminada pelo sistema dominante. A igreja é usada para legitimar todo o sistema de dominação. O Apocalipse deixa claro: se participas do sistema és culpado pelos seus pecados e serás julgado a partir desta prática. O Apocalipse insiste muito na prática de vida como critério de leitura da fé. Quem apoia e legitima o capitalismo está contaminado por ele e participa da luta contra o Reino de Deus. O horizonte daquele que crê em Jesus Cristo não está no sistema montado neste mundo, mas no reino e sua justiça.

53. O poder se aperfeiçoa na fraqueza II Co 12,9 Poder do capital
O poder se aperfeiçoa na fraqueza, palavra aparentemente contraditória. Pois o que nós conhecemos é o poder do capital, que de fraco não tem nada. É mortalmente poderoso e poderosamente mortal. O poder do capital pode-se medir pela vítimas das ditaduras militares na América Latina; onde só na Argentina causou a morte de 30 mil pessoas via assassinato direto ou via tortura; sem falar no Chile, Bolívia, Uruguai e Brasil. Tudo para implementar o capitalismo o que quer dizer: viabilizar a qualquer custo o lucro. A proposta e a compreensão de poder do Evangelho é totalmente distinto. Começando pelo próprio Cristo que nasceu na estrebaria e não tinha onde reclinar a cabeça. Jesus nasceu numa família da classe camponesa e morreu como morriam os camponeses que se opunham ao poder do sistema implantado neste mundo. Esta fraqueza da morte de Jesus é na verdade a força de Deus que se manifesta em sua ressurreição. A partir daí vemos que a dinâmica do Projeto de Deus é totalmente inversa à dinâmica deste mundo. Por isso Deus começa o seu reino pelos pobres e fracos. Os discípulos de Jesus eram todos originalmente da classe camponesa que era a classe dominada. O Reino inicia pelos dominados. Por que? Porque necessitam de libertação e também a querem. E os ricos, eles também necessitam de libertação? Necessitam, só que não querem se desfazer de seu poder que vem do capital. O texto do jovem rico em Mateus e a reação do Faraó no Êxodo nos mostram isto. A economia não os deixa serem libertados por Deus. Fazem a sua opção pelo poder do capital.

54. Não cortar árvores e cuidar da criação Dt 20,19-20; 22,6-7 Destruição da natureza

55. Não só de pão vive o homem - Olhai os lírios do campo - Mt 4,4; Mt 6,25-33 Mercadoria é o mais importante
Não se vender por causa de pão - Projeto de Deus é mais que isto. Em tempos de crise a saída não é cada um por si, e sim, praticar a solidariedade. Em tempos de crise e de fome a tendência é cairmos no individualismo e na exploração. Jesus tirou esta palavra de Dt 8,3 que está no contexto da caminhada do deserto, onde a incerteza e fome são uma constante. Em tempos de crise temos que olhar para o passado e nas ações de Deus para conosco no passado. Pão apenas não salva, ele é apenas um dos elementos que fazem parte da vida plena. Quando não temos visão de todo o projeto de Deus nos deixamos enrolar pela vontade e necessidade imediata do pão (lembrando da explicação do pão que Martin Luther faz no Catecismo Menor). O Reino é mais que pão. A vida é mais que comida e bebida, apesar destes serem básicos.
A classe dominante sempre usou esta passagem bíblica para alienar os pobres insinuando que a salvação da alma é o que interessa; isto para continuar roubando deles o pão. O pão está no todo do projeto de Deus, mas não é o único elemento para a vida plena. Por isso Jesus ensinou a dizer: O pão nosso, não o pão meu. O projeto do Reino é algo coletivo e não individual. A salvação é para todo o povo de Deus (é coletiva), e não apenas para mim. No capitalismo a mercadoria é mais importante que a pessoa. A pessoa neste sistema vive em função da produção, circulação e consumo da mercadoria (pão). A classe trabalhadora produz o pão e continua sem tê-lo. Por isso é tão fácil limitar a sua visão apenas ao pão, quando o projeto de Deus inclui muito mais. Na ânsia de ter logo um pouco de pão é esquecido o todo do Projeto.

56. Pelo fruto se conhece a árvore Mt 12,33; Lc 6, 43 – 45; Mt 7, 15 – 23 Quais os frutos do capitalismo?
Não há árvore boa que dê mau fruto. Pelos seus frutos os conhecereis. Palavra sábia de Jesus. Jesus parte da prática concreta da vida. A prática é a verdade última. A teoria vem da prática para explicá-la. Para avaliar qualquer pessoa o sistema de organização da sociedade deve-se primeiro olhar pela sua prática. Esta diz a verdade. O resto é conversa fiada.
Os frutos do capitalismo são: escravidão, miséria, opressão, violência, ódio, guerra, exploração e morte.

57. Vida integral Jo 10,10; Mt 11,5-6 Miséria para a grande maioria

58. Mulher integrada na sociedade em igualdade Lc 10, 38 – 42 Subordinação de gênero e de classe

59. Assumir os riscos do Projeto do Reino – tomar sua cruz e seguir Jesus Cristo Mt 16, 24 – 26 Cada um por si, repassar os riscos para os trabalhadores
O esquema montado neste mundo segue a dinâmica de repassar os riscos e os prejuízos aos pobres, enfim aos outros. O capitalista quer colecionar lucros e não riscos. Também não quer mudar nada de substancial, a não ser que a mudança lhe renda muitos lucros. Mas aí esta mudança na verdade não é mudança, apenas um aperfeiçoamento do sistema de opressão. O preço do progresso é pago apenas pela classe trabalhadora. Além disto o capitalismo não tem um projeto para o futuro, quer apenas reproduzir-se para gerar mais lucro acumulado sempre em menos mãos. O Reino por sua vez requer mudança radical e total em todas as atividades humanas. Significa se expor à perseguição que lhe moverá o sistema que não quer mudanças substanciais. Esta é a cruz que é imposta aos cristãos. O versículo 25 deixa claro a nossa opção: salvar a nossa vida vendendo o Evangelho ou viver o Evangelho e com isto se indispor com o sistema dominante. Não apenas se indispor, mas de fato participar de um processo de mudanças profundas nesta forma de organizarmos a nossa sociedade. A questão é capitalismo ou Reino de Deus; temos que fazer a escolha. Se fizermos a escolha pelo Reino corremos o risco de termos que carregar pesadas cruzes. Começa primeiro pelas fofocas, calúnias, contra informação e daí passa para a perseguição camuflada e depois aberta. E quem persegue? Os ateus? Não, os assim chamados cristãos. Pois estes querem se beneficiar com as migalhas que caem da mesa do poder. Quem foi que traiu e entregou Jesus ao sistema repressivo? Foi um bem próximo dele: Judas.

60. Compromisso missionário de espalhar o reino pelo mundo At 1,8; Mt 28, 19 - 20 Ideologia da Classe dominante

61. Obras são conseqüência da fé Tg 2, 14 – 26 Trabalho para gerar lucro
Abaixo algumas citações de Martin Luther sobre Fé e Obras:
“Fé e amor constituem todo o ser de um cristão. A fé recebe, o amor dá. A fé leva a pessoa a Deus, o amor o leva às pessoas. Através da fé, recebe os benefícios de Deus, através do amor, leva benefícios às pessoas”.
“As obras exteriores são apenas sinais da fé interior. As obras não fazem a pessoa crente, porém revelam que sou crente, e testemunha que a fé dentro de mim é certa”. “Somente a fé justifica, mas ela jamais está só”(vem sempre acompanhada do amor). “Assim a fé é o agente; o amor, a ação”. Consequentemente “é impossível separar da fé as obras; é tão impossível como separar do fogo a chama e a luz”. “Faze ao próximo o que Cristo fez a ti, e deixa que todas as tuas obras, com toda a vida, sejam dirigidas a teu semelhante. Procura onde há pobres, doentes e necessitados de toda sorte; socorre-os e nisso consista a tua vida: que seja útil a quem precisa de ti tanto quanto podes, com corpo, bens e honra”. “Cristo é um ser vivo, atuante e produtivo, que não descansa e que age sem cessar onde quer que se encontre. Onde não há obras de Cristo, aí também Cristo não está”. “Deus não tem necessidade de nosso serviço, mas coloca a nosso lado os próximos para que a estes sirvamos em seu lugar”. “Em qualquer parte do mundo encontramos o Cristo oculto; na própria casa, à frente da porta, em todas as ruas. Deus quer que lhe sirvamos nos pobres; esse é o culto verdadeiro, bem melhor e mais importante do que construir igrejas e celebrar liturgias”.

62. Dar sem criar dependência Mt 6, 2 – 4 Ajuda para o desenvolvimento cria dependência

63. Reconciliação – Deus reconciliou o mundo consigo – se ao trazeres a oferta Mt 5, 23 – 26 Competição

64. O Reino é festa! Mt 22,1 – 14 + Lc 14, 16 – 24 + Jo 2, 1 –12 Vida estressada, fome, miséria
Jesus inicia a proclamação do Reino enfrentando a crise com Festa; os pobres aceitam o convite da Festa do Reino.
Festa só para a classe capitalista - festa do consumo. Uma classe festeja e a outra trabalha para pagar a festa.

65. Não discriminar – puro e impuro Mc 7,15 + Lc 15, 1 – 7 Vale pelo que tem, não pelo que é.

66. Salvação por graça e fé Ef 2, 8-9 “Salvação” pela produção e competência
Nós somos pecadores e nossos pecados são perdoados de graça. Não precisamos fazer nada para merecermos o perdão e a vida eterna. O perdão nos é dado de graça e não por merecimento ou competência nossa. A salvação e a vida eterna nos são dados por graça e fé. Basta aceitarmos a fé que nos é dada pelo Espírito Santo e vivermos segundo ela que a salvação já nos foi concedida. Não precisamos fazer boas obras e nem precisamos sofrer para pagar os nossos pecados para obtermos a salvação. As boas obras são resultado da fé. Pecado a gente não paga, ele é perdoado de graça, basta reconhecê-lo e mudar de vida.
No sistema capitalista a “salvação” nos é proclamada pelo nosso esforço e competência e eficiência na competitividade e concorrência. Você se mantêm na produção do sistema se você é competente e competitivo, se não estás perdido e excluído pela ineficiência. Os menos eficientes, competentes e competitivos são castigados pelo desemprego, pobreza e exclusão social. Assim o sistema se justifica. Isto significa que os doentes, portadores de deficiência, analfabetos, fracos por má alimentação e crianças estão perdidos neste sistema. Justamente estes Jesus procurou para anunciar-lhes a salvação por graça e fé. Jesus anuncia a estes em primeiro lugar a salvação, exatamente por não poderem ser produtivos, competentes e eficientes. Vemos assim que a dinâmica do Reino de Deus está na contramão da história. Questiona esta história e a quer mudar a partir da dinâmica do amor. O amor não exige competência e nem qualidade total no sentido como o sistema o está apregoando.
Não precisamos pagar os nossos pecados para recebermos a salvação, ela nos é dada de graça. Não precisamos sofrer para sermos purificados. Somos tornados justos por Deus pela fé e de graça. Há religiões que dizem que a pessoa deve sofrer para se tronar pura ou então fazer boas obras para receber a salvação. Assim a salvação dependeria apenas de nós; seríamos, assim, deuses e não necessitaríamos da morte e ressurreição de Jesus Cristo para recebermos a salvação. Além do mais isto justifica as estruturas injustas de nossa sociedade que trazem o sofrimento para milhares de pessoas como formas legítimas e aprovadas por Deus.

67. Comunhão I Co 11, 17 – 34 Exclusão pelo capital
Jesus teve comunhão com os excluídos como princípio de sua prática, para conseguir incluí-los novamente no convívio da sociedade em geral. A sua pregação se dirigia à eles prioritariamente para poder libertá-los das correntes da opressão política, econômica e ideológica. Os primeiros cristão viviam esta comunhão, simbolizada na Ceia do Senhor, na prática diária. Paulo questiona a comunidade de Corinto em sua prática de comunhão que não condiz com o que a Ceia do Senhor propõe.
O sistema deste mundo exclui as pessoas que não tem capital. Passam a ser cidadãos de segunda ou terceira categoria. Assim são ouvidas as opiniões das pessoas portadoras de capital e desconsideradas as opiniões e reivindicações das pessoas que não acumularam capital. Uma palavra dita por uma pessoa que acumulou capital tem outro peso do que uma palavra dita por uma pessoa que não acumula capital. A valorização da pessoa se dá pela posse ou não do capital. A pessoa não é considerada pelo que é mas pelo que tem. Assim não há comunhão entre os que acumularam capital e os que não acumulam capital. Temos assim uma sociedade dividida em classes sociais que está em constante luta. Assim toda sociedade dividida em classes sociais nunca poderá ter comunhão entre si; é impossível a comunhão numa sociedade dividida em classes. Por isso precisamos diariamente confessar a nossa culpa e afogar o velho Adão, como diz Luther.

68. Amor ao inimigo Lc 6, 32 – 36; Mt 5, 44 – 45 Concorrência e guerra para garantir o lucro
O contrario de amar o inimigo é amar o capital. Para conseguir aumentar o capital, se necessário for se faz guerra. Aliás a guerra é um bom negócio para os capitalistas; dinamiza a economia. Infelizmente morrem alguns milhares mas o lucro compensa. A Guerra do Golfo de 1992 é um exemplo disto. Conseguiram até mostrar na TV uma guerra limpa, sem sangue. Mostraram a última tecnologia da morte sem mostrar um morto sequer. A lá vem o mesmo Clinton que promoveu a Guerra do Golfo, matando 120 mil pessoas (fora os xiitas e curdos que o Saddam matou depois a serviço do capital), falar em direitos humanos na China. Ele não está interessado nos direitos humanos de ninguém, nem nos dos chineses e nem nos dos iraquianos. Está interessado apenas em viabilizar a economia dos USA; e acima de tudo viabilizar o capital. Assim são os capitalistas: quando convém ao capital matam 120 mil pessoas e quando convém falam em direitos humanos.

69. O Reino está no meio de vós Lc 17, 21 Salvação só no futuro

70. Manter-se incontaminado do mundo Tg 1, 27; I Co 15, 19 – 28 Rm 12, 1 – 2 Procura contaminar a todos com a proposta do capital
Tiago traz a proposta do Evangelho muito clara: servir os mais fracos (que são a maioria) e desprotegidos e se manter longe da proposta do mundo, pois a proposta do mundo é servir apenas aos forte (que são a minoria). A economia está voltada apenas para esta minoria consumidora dos produtos de tecnologia mais avançada e cara. Assim a tecnologia e o capital estão a serviço apenas de um pequeno grupo de pessoas. A proposta do Evangelho é colocar tudo (tecnologia e capital) a serviço dos mais fracos, desamparados e desprotegidos. A função da tecnologia e do capital é servir aos fracos e não ser instrumento de dominação sobre eles. O grande desafio da comunidade é exatamente saber diferenciar em sua prática de vida isto. Deixar-se contaminar pelo mundo é o grande pecado da comunidade. O pior é que a prática da comunidade está tão infiltrada pela ideologia da classe dominante que ela reage contra aquele que lhes quer colocar de forma clara a Proposta de Jesus Cristo. A comunidade acaba servindo como aparelho ideológico do capital e os cristão como mais ferrenhos propagadores das propostas do capital. Ai daquele que quer libertar a comunidade cristã das garras do capital pelo Evangelho de Jesus Cristo: é expulso! Ideologia do capital e comunidade cristã acabaram por fundir-se num bloco só. Combater a proposta capitalista dentro da comunidade cristã é expor-se à cruz. Por isso Jesus Cristo disse: pegue a sua cruz e siga-me. O capital explora exatamente o lado fraco das pessoas o egoísmo, a ganância, o exibicionismo, o individualismo; por isso ele tem tantos adeptos. O evangelho propõe exatamente combater estas características. Aí a comunidade faz uma mistura daquilo que ela quer a partir da vontade das pessoas com aquilo que ela não deve fazer; legitimando tudo pelo Evangelho. As propostas e práticas capitalistas acabam sendo assumidas como evangélicas. Primeiro e acima de tudo temos que defender o sistema capitalista; o Evangelho de Jesus Cristo que se ajeite a isto. Não esquecendo que o sistema econômico capitalista (como tudo que as pessoas fazem) é um sistema elaborado pelas pessoas; é, portanto, falho, passível de erros e pecador, e não tem nada de divino.

71. A persistência é que vale Lc 11, 5 – 8 + Lc 18, 1 – 8 Sistema também é perseverante

72. Revelação ao pequeninos Lc 10, 21 Poder aos grandes

73. Sois um em Cristo Jesus Gl 3, 23 - 29 Sociedade de Classes
Todos vós sois um em Cristo. Não estamos mais subordinados à lei e sim somos herdeiros da promessa e não há mais desigualdades entre nós
Quanto mais divisão na sociedade melhor para dominar
Classes: Trabalhadores, Média, Capitalistas

74. Bem aventurados vós os pobres Lc 6, 20 Ricos foram abençoados por Deus diz o capital

75. Fé em Jesus Cristo liberta Jo 2,13-22; Is 58,1-10 Religião Opressora e Ideologia da classe dominante
Combate à religião opressora
Jesus ataca o Templo como sendo covil de ladrões, pois o Templo é usado para legitimar a exploração dos camponeses pelo Sistema Econômico Escravista Romano.
A verdadeira prática da fé é soltar as ligaduras da impiedade e da servidão, deixar livre os oprimidos, despedaçar todo jugo, repartir o pão, recolher os desabrigados e nus diz o profeta Isaías.
A Religião deve legitimar a exploração e a opressão
Capitalismo vira religião - Deus Capital
Fetichismo da mercadoria = adoração do capital

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