20 de agosto de 2011

A Mística da luta pela Terra


O tema Terra perpassa a Bíblia desde o 1º capítulo da Bíblia, em Gênesis 1, até o último capítulo da Bíblia, o Apocalipse, no capítulo 21, que fala do novo céu e da nova terra.
A terra é motivo de luta por ela, começando no Gn 1, onde os escravos israelitas na Babilônia lutam contra a escravidão dizendo que Deus criou a mulher e o homem iguais e livres e sonham com a terra que o imperialismo babilônico lhes retirou. Nos capítulos 2-4 de Gn fala do Projeto do Jardim (Gn 2): como deve ser a vida neste jardim que Deus criou para as pessoas e mostra no capítulo 3-4 de Gn como é a realidade dos camponeses sob a monarquia israelita guiados pelos deuses cananeus (a serpente) onde a terra não é mais fonte de bênção, e sim, só maldição, por causa da opressão do Estado sobre os camponeses via tributos: produtos e trabalho forçado (I Rs 5). Numa sociedade divida em classes sociais a vida se torna uma maldição e não uma bênção. Numa sociedade de classes o camponês com terra - Caim - mata o camponês sem terra - Abel – porque Deus aceita somente o sacrifício do altar do oprimido, o pastor sem terra que é pastor não por opção mas por falta de opção, e não aceita o sacrifício do opressor que é construtor de cidades, significa o Estado (Gn 4.17). Deus aceita o sacrifício do sem terra por ser sem terra e não aceita o do com terra por ser representante do Estado. É o Estado espoliador matando o camponês sem terra numa luta teológica ao redor do altar para legitimar o sistema opressivo.
A luta pela terra continua com a família de Noé contra o imperialismo babilônico via dilúvio que acaba com a sociedade maléfica e violenta e reconstrói a sociedade camponesa sem Estado e com Abraão e Sara, em que Deus os conduz em direção à Terra Prometida passando pelo Êxodo, no enfrentamento ao Estado que concentra a terra nas mãos da classe do estado e escraviza os camponeses. Na entrada na terra palestina os camponeses sem terra comandados por Javé tomam a cidade e destroem o Estado para mudar o modo de produção Tributário para Tribal, conforme Js 6-8, para só depois tomar posse da terra, agora numa proposta de construção de uma nova sociedade sem Estado, sem classes sociais, sem Templo, sem tributos e sem exército permanente, onde a terra está à disposição de todos, até para as mulheres (Nm 27) e onde as decisões políticas são tomadas com a participação de todos (homens e mulheres) no mesmo espaço do culto, na frente da Tenda da Congregação onde ficava a Arca da Aliança.
A Bíblia não faz separação entre fé e vida, como a ideologia/teologia da classe dominante nos impôs para não lutarmos, a partir da fé em Jesus Cristo, contra a sociedade capitalista e a favor desta nova sociedade não capitalista que é o Reino de Deus. A classe economicamente dominante que controla o aparato do Estado e a administração das igrejas diz que a igreja não se deve meter em política e de que a igreja que eles controlam é neutra para que se possa perpetuar a opressão capitalista sobre toda a sociedade. Êta neutralidade mentirosa!
A nova sociedade é construída na Palestina, mas desvirtuada com o surgimento da divisão da sociedade em classes sociais que desemboca na formação do Estado em Israel que tem a tarefa de defender os interesses da classe que acumulou bens e que precisa do aparato do Estado para defender o seu acúmulo de riquezas e terra. Em resposta a esta realidade Deus envia os profetas e profetisas para relembrar o sonho da nova sociedade igualitária que é possível de ser reconstruída. E por fim Deus radicaliza e ele mesmo se torna um camponês sem terra em Jesus de Nazaré para anunciar a nova sociedade possível que ele chama de Reino de Deus. E as cartas e o Apocalipse lembram do sonho de Deus em construir um novo céu e uma nova terra onde, finalmente, habita justiça.

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