21 de agosto de 2011

Jesus Cristo: um homem perigoso!

Por que Jesus Cristo é tão perigoso?
Mas, Jesus Cristo é perigoso? Sim, por isso o crucificaram. Por que o crucificaram? As acusações são de subversão, conforme Lc 23.1-5. O crucificaram para impedir a grande revolução do Reino de Deus, que ele foi enviado para anunciar e construir, que ameaça o poder deste mundo. O poder deste mundo aliado à Religião do Templo de Jerusalém tentaram, mas não conseguiram impedir a dinâmica da revolução do Reino de Deus, pois Deus ressuscitou a seu Filho Jesus dos mortos na Páscoa. Assim a grande ameaça que o Reino de Deus representa para o reino deste mundo continua presente. Jesus diz bem claro em João 18.36: “Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui”. Ele diz que ele não veio para apoiar e nem fortalecer o reino deste mundo, hoje o capitalismo, mas veio para destruir o reino deste mundo e construir o Reino de Deus. Esta palavra de Jesus sempre foi usada para descolar o Evangelho da realidade, quando, na verdade, ameaça a realidade vigente ainda hoje. Paulo fala sobre isto em I Co 15.24-26: “E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”. Este Paulo também é um destes perigosos subversivos (por isso ele também foi decapitado) quando diz: “quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder”. Jesus veio para destruir, antes de destruir a morte, todo principado (nação, Estado, como o Império Romano, que é o resultado da luta de classes para perpetuar a sociedade de classes; Jesus defende uma sociedade sem Estado como Javé a defende no AT quando os camponeses sem terra começam a construir nas montanhas da Palestina uma nova sociedade em oposição à sociedade do modo de produção Tributária que ali havia), potestade (governantes que pelo Estado reproduzem a opressão numa sociedade de classes) e poder (o poder como tal que vem daqueles que controlam a economia para legitimar a sua opressão e exploração de classe através do Estado que é o que Paulo chama de “principado”). Este poder sempre rivaliza com o poder de Deus e quer se tornar deus. Isto não é motivo para condenar tal sujeito à morte? Isto é subversão pura e da mais perigosa: está ameaçando o Estado, que é o instrumento da classe opressora para legitimar a exploração sobre a classe que trabalha. Este Jesus de Nazaré, que foi sendo chamado de o Cristo, realmente é uma ameaça em potencial, e o tal de Paulo o acompanha neste delírio revolucionário. São duas pessoas altamente perigosas que foram condenadas justamente à morte segundo as leis vigentes por ameaçarem a estrutura da sociedade legitimamente constituída (segundo a elite desta sociedade que era uma ditadura militar) e mantida, pela força das armas. Hoje o sistema capitalista está legitimado pelo chamado Estado de Direito, que nada mais é do que uma ditadura do capital legitimado por uma democracia política burguesa que nunca vai democratizar a economia. Se democratiza até o poder do Estado, que na verdade se move segundo o poder do capital, mas nunca se democratizará a economia, que significa: devolver as riquezas àqueles que as geraram com o seu trabalho que é a classe trabalhadora, que por sua vez pela ideologia não sabe que as terras, as fábricas, os bancos, o grande comércio, o conhecimento e a tecnologia foram criados pelo seu trabalho, mas os resultados deste trabalho pararam nas mãos da classe capitalista que comprou via salário toda a sua produção. É o que se chama de um roubo muito bem camuflado e ocultado pelo processo ideológico criado pelos que roubaram as riquezas geradas pela classe trabalhadora. Isto é mais ou menos parecido com o que os USA e aliados fizeram no Iraque: bombardearam os prédios e agora as empresas estadunidenses, como a Halliburton para a qual o Palloci fez assessoria, os reconstroem, mas quem paga estas obras superfaturadas é o povo iraquiano. Lindo, não? E agora vem um tal de Jesus Cristo que diz que existe uma outra possibilidade de organizar toda a vida além do capitalismo onde habita a justiça, qual é, cruz nele! Este cara está pregando a revolução. Cadeia nele!
Por isso esta instituição chamada de igreja é fundamental: ela tem o papel de esconder este processo revolucionário iniciado por Jesus Cristo e continuado por Paulo, Pedro, Maria Madalena e outros tantos milhares a mais. A tal de igreja que esconde este tesouro revolucionário em vasos de barro tem que virar Religião do contrário a coisa vai ficar feia para as elites que controlam o aparato do Estado; vão ter que devolver o que roubaram da classe trabalhadora. Então, este Evangelho do Reino de Deus não é qualquer coisa e nada tem a ver com qualquer mensagem espiritual para amaciar a alma. É coisa perigosíssima para as elites que controlam a sociedade toda pelo poder econômico, pelo poder ideológico e pelo poder estatal que inclui a legitimidade pelo Direito feito pelas próprias elites para se autopreservar. Não esquecendo que a República é uma construção da burguesia para garantir os direitos desta, mesmo que a Revolução Francesa tenha sido feita em conjunto com os camponeses e operários contra a nobreza. Uma República totalmente democrática inclui a democracia econômica, além de ter mecanismos de poder popular que tem autonomia de controle sobre o aparelho do Estado e onde o Estado está a serviço de toda a população e não apenas à classe capitalista, o que a atual República não inclui. A atual República tem políticas de estado e políticas compensatórias que favorecem a classe trabalhadora, mas o grosso do orçamento vai para fortalecer o capital como nos mostra o orçamento de 2010 onde 44,93% dele estão destinados ao pagamento da dívida externa e interna, fora as políticas de incentivo fiscal e alfandegário destinado à preservação do lucro máximo do capital.
A forma mais eficaz de tentar derrotar o Reino de Deus é em primeiro lugar não falar dele e só falar em Jesus (de preferência, como quer Roma, se referir à Ele apenas como o Cristo glorificado, para fugir desta realidade incômoda de ele ser um camponês sem terra marginalizado e migrante palestino da Galiléia. Heckes fui, que nojo!) e de que a salvação é apenas individual e não um processo coletivo, para todo o povo (Mt 1.21; Zc 8.7; Dn 12.1; Sl 18.27; Sl 28.9; 2 Sm 22.28). A tática é dizer apenas: Jesus salva! E esta salvação não tem nada de cruz, apenas bênção. Aí o cristão diz: Eu me converti, eu entreguei o meu coração para Jesus. Em primeiro lugar não sou eu que me converto, o que converte é o santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Eu sou convertido pelo Evangelho. Se eu me converto então isto é obra minha e não de Deus, portanto não preciso mais de Deus, pois eu mesmo me converto e assim conquisto pelas minhas próprias forças a salvação. E isto é heresia. Além do mais o que muda ao meu redor se eu entreguei o meu coração para Jesus? Eu entrego o meu coração para Jesus e pronto? Está resolvida a Reforma Agrária, o salário mínimo retorna ao seu valor real de 1940, a dívida externa e interna deixaram de existir, as favelas sumiram e o tráfico de drogas também? Esse papo de que eu entreguei o meu coração para Jesus sem que haja uma luta por mudanças em nossa sociedade é papo furado. Dizer somente: ‘Jesus salva’ e ‘eu entreguei o meu coração para Jesus’, sem lutar pelas transformações necessárias de nossa sociedade é puro ópio, pura cachacinha, é alienação pura travestida de santidade oca e hipócrita. É esquecer o que Jesus diz em Mt 25.44-45. Eu sou salvo na medida em que o outro é salvo pela pregação que eu faço como conseqüência da minha salvação já recebida, no dizer de Paulo em Rm 10.17 “a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo”; 1Co 9.16: “ai de mim se não pregar o evangelho!” Por outro lado se não faço esta pregação do Evangelho do Reino de Deus que sempre aponta para a construção de uma nova sociedade eu posso perder a salvação que já me foi dada. Fazer a pregação do Evangelho não se limita apenas na fala, mas isto inclui uma ação concreta na luta pela justiça e uma luta concreta contra o poder deste mundo. Dentro deste espírito Paulo diz: “ai de mim se não pregar o evangelho!” Salvação sem comprometimento com o Reino de Deus seria muito fácil, não mudaria nada nem a minha postura frente a realidade e a proposta do Reino de Deus. Salvação e discipulado andam juntos. Que Evangelho é este que eu devo pregar? Paulo responde a isto em I Co 1.18: “Certamente, a palavra da cruz é loucura para os que se perdem, mas para nós, que somos salvos, poder de Deus”. A loucura da cruz de Cristo é a proposta do Reino de Deus em oposição ao reino do mundo que Jesus quer destruir por ser do diabo, como diz em Mt 4.8-9: “Levou-o ainda o diabo a um monte muito alto, mostrou-lhe todos os reinos do mundo e a glória deles e lhe disse: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”. O papel do diabo Jesus nos apresenta em João 8.42-44: Replicou-lhes Jesus: “Se Deus fosse, de fato, vosso pai, certamente, me havíeis de amar; porque eu vim de Deus e aqui estou; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou. Qual a razão por que não compreendeis a minha linguagem? É porque sois incapazes de ouvir a minha palavra. Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade, porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira”. O papel do diabo hoje continua sendo o mesmo que é contar mentiras, mostrar ao povo o mundo como ele não é e inverter a essência do Evangelho do Reino de Deus em ganância e riqueza dizendo que isto é bênção de Deus para poder continuar a opressão de classe eternamente. O diabo tem trabalhado bem, pois conseguiu se infiltrar fundo na igreja, na sua prática e na sua proclamação teológica que legitima o capital.
A forma mais eficaz de tentar derrotar o Reino de Deus é em segundo lugar cooptar aqueles que foram marcados com a cruz de Cristo no batismo e cooptar a igreja de Cristo para legitimar o reino deste mundo: o capitalismo. Quando não se pode vencer o inimigo a gente se alia a ele e procura desviá-lo de sua missão de construir o Reino de Deus. Os melhores lutadores do Reino de Deus, os batizados, são usados para combater o Reino de Deus sem o saber. Esta é a astúcia do diabo e ela funciona muito bem: convencer os cristãos batizados que não existe outra forma de organizar a vida além da proposta do diabo que é o capitalismo, mas sem dizer isto de uma forma clara. Assim os cristãos defendem o capitalismo achando que estão defendendo o projeto de Jesus Cristo que é o Reino de Deus, e ai de quem falar mal do capitalismo, este é marginalizado e excomungado da igreja, se for pastor/a será expulso da paróquia como um cão sarnento. A astúcia do diabo é impregnar os cristãos de sua própria ganância egoísta dizendo que isto é vontade e bênção de Deus. Assim, a vontade das pessoas vira vontade de Deus. Assim, a ganância das pessoas vira o Evangelho de Jesus Cristo. Assim, a revolução do Reino de Deus vira acomodação ao reino deste mundo, que é do diabo (porque o príncipe deste mundo já está julgado, Jo 16.11). Assim, a paz de Cristo é substituída pela guerra do capital. Assim, a vida em Cristo é substituída pela opressão e a morte promovida pelo capital, como o melhor instrumento do diabo. A notícia do jornal Brasil de Fato de 21-27 de julho de 2011 mostra isto de forma muito clara:
“A pesquisa da Confederação dos Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação (CNTA), junto com a UFRGS vem comprovar isso. Você sabia que em frigoríficos de cortar frangos, os trabalhadores têm que fazer até 90 cortes por minuto? Vejam alguns dados da pesquisa. A "vida útil" dos escravos que viviam na época de Zumbi dos Palmares (1655-1695) e trabalhavam nas lavouras de cana era de 20 anos. Hoje, os trabalhadores dos frigoríficos do Rio Grande do Sul têm uma "vida útil" em média é de apenas cinco anos. O estudo mostra que 77,5% dos trabalhadores da indústria da carne sofrem de alguma doença relacionada ao trabalho. 96% precisam tomar medicação para suportar a dor. Mais: 99,5% dos 640 trabalhadores entrevistados dos frigoríficos de Capão do Leão, Bagé, São Gabriel e Alegrete são empregados de um mesmo grupo: o Marfrig, que se orgulha de ter 151 unidades espalhadas por 22 países. É grande, sim, é verdade. Mas tão preocupado com a saúde e o bem estar de seus empregados, quanto os donos de escravos de séculos atrás. Prova disso é que 78% dos seus trabalhadores admitem sofrer dores constantes no corpo, principalmente nos ombros, braços, costas, pescoços e pulsos, causadas pelo esforço repetido feito por horas e horas, sem qualquer interrupção e em condições insalubres de frio externo e umidade intensa”.
Quando se defende o capitalismo está-se defendendo isto e isto não é uma anomalia, mas é regra, junto com o trabalho escravo no campo e na cidade.
Assim, a esperança se resume ao consumo egoísta promovido pelo capital. Consumo de mercadorias produzidas pela exploração da classe operária, pela superexploração de seu trabalho, pela exaustão do trabalho repetitivo que causa a invalidez do trabalhador que é jogado no lixo do desemprego ou invalidez permanente. Para que? Para que os acionistas e investidores tenham mais lucro em seus investimentos. Se este lucro cair um pouco então o Estado tem que subsidiar o seu lucro com a isenção de impostos e outras regalias, afinal este é o papel do Estado: favorecer o capital. E os custos médicos, hospitalares e o custo da invalidez quem paga? O SUS e o INSS que forma seus fundos pelos recolhimentos feitos pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras. Significa: o capital repassa os custos às vítimas ou daria para dizer o Estado assume os custos do capital com o dinheiro das vítimas do capital, assim o capital nunca perde. Lindo, não?
Enquanto isto as Bolsas de Valores oscilam para garantir o lucro para os mais espertos. E se mesmo os mais espertos se dão mal, como em 2008, tem sempre o Estado para subsidiar o seu lucro perdido com a desculpa de garantir o emprego dos trabalhadores. A hipocrisia do capital é eficiente porque os próprios trabalhadores foram ensinados a não ver como a realidade de sua opressão funciona e por isso continuam sendo enganados pela ideologia da classe dominante. Além do mais, a igreja não tem nada de falar destas coisas, diz a ideologia dominante, o papel da igreja é espiritual. Assim a igreja contribui para esta alienação dizendo que ela não faz política e que a sua tarefa é apenas espiritual, mas por outro lado estimula a ideologia do capital dizendo que riqueza é bênção de Deus. Desta forma a igreja faz o papel do diabo invertendo o Evangelho. Precisa-se convencer o povo cristão de que o capitalismo é igual ao Reino de Deus, mas não dizendo isto de forma clara, apenas insinuando que a ganância pessoal é bênção de Deus e de que Deus é nosso servo para nos deixar ricos.
Principalmente é necessário a igreja pregar o que o povo alienado pelo capital quer ouvir: estorinhas para alienar mais ainda. O povo não quer ouvir a Palavra de Deus como Lei e Evangelho e nem quer ver a realidade de opressão a que está exposto porque resistir ao sistema pode gerar o que mostra Ex 5, aumento da repressão e opressão. Portanto, nada de falar da cruz de Cristo, nada de falar da loucura da cruz, mas sempre falar o que o povo quer ouvir, especialmente o que a elite diz para falar. E o Evangelho de Jesus Cristo? Bom, este não interessa mesmo, melhor falar apenas o que agrada ao nosso coração pecador que é consumir sempre mais mercadorias produzidas por trabalhadores e trabalhadoras explorados/as pelo capital. Explorados até a exaustão e invalidez como os trabalhadores da Seara (bonito nome tirado da Bíblia: seara - do Senhor - para iludir melhor pela religião) que tem que fazer 90 cortes por minuto para que o capital nacional possa competir com o capital internacional, que lá pelas tantas é a mesma coisa. Assim, para o capital se reproduzir e sobreviver os trabalhadores e trabalhadoras tem que morrer de tanto trabalhar para que as Bolsas de Valores fiquem em alta e os investidores fiquem contentes e o país não sofrerá rebaixamento de seus títulos pelas agências reguladoras internacionais, que sempre eram apoiadas pelos imperialistas desde que não rebaixem os seus papéis, como vem acontecendo agora. A cobra mordeu seu próprio rabo. Os investidores ficam contentes com os lucros produzidos com as doenças advindas do trabalho exaustivo e repetitivo dos trabalhadores, afinal, são apenas trabalhadores, peças de reposição, afinal, tem tantos por aí procurando trabalho e o capital os recruta sem custos para serem gerados. São apenas peças de reposição que morrem para dar vida ao capital; a morte gerando a vida, vida que não é vida, apenas capital produzido a partir da morte.
Puxa, este artigo está me deixando deprimido! Por que você não conta uma estorinha animada e emocionante que faz suspirar em vez desta coisa triste que é a exploração capitalista? Pô, que saco!
Foi isto que a elite israelita disse a respeito de Jesus de Nazaré e por isso o crucificaram como alguém altamente perigoso. Crucifica-o! Ele nos ameaça com o Evangelho do Reino de Deus!

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