2 de agosto de 2011

Conquistadores e colonizadores

Conquistadores e colonizadores chamavam os povos originários de selvagens e tinham nojo e ódio dos escravos negros, apesar de não conseguirem viver sem o seu trabalho. Até hoje se fala mal dos povos indígenas e dos negros. Os primeiros porque não se deixavam subjugar totalmente fugindo para o interior do país; os segundos porque fugiam e formavam os quilombos em total desrespeito às leis do Estado que exigia a sua subjugação e obediência total para manter os privilégios daqueles que controlavam o aparato do Estado. Hoje estes continuam sendo uma ameaça para os conquistadores e colonizadores. Por que são uma ameaça? Porque querem justiça, vida digna e plena. Os conquistadores e colonizadores não querem repartir o que roubaram dos negros e dos índios e por isso tem medo deles. Para se defender e se justificar pelas injustiças praticadas no passado e presente falam mal deles e os desqualificam e os taxam de preguiçosos e sujos.
Não falam apenas mal destes, como também falam mal de outros que hoje lutam por justiça e por um mundo sem conquistadores e colonizadores. Estes outros dos quais falam mal são os sem terra, atingidos por barragens, mulheres camponesas, sindicalistas combativos, militantes em favor da ecologia e partidos de esquerda. Por que falam mal? Por medo e para manter a injustiça e a desigualdade da qual vivem e dela se enriquecem, enfim para manter os seus privilégios de conquistadores. Muitos empobrecidos repetem, como papagaios, este jeito de pensar prejudicando a si mesmos, se desvalorizando, se rebaixando, se humilhando e mantendo a injustiça e a desigualdade.
A tudo isto ainda se junta a superioridade racial que é um truque para maquiar a injustiça e a exploração. Racismo é um truque para esconder o roubo de terras dos índios, a sua matança e a escravidão e exploração dos negros e para manter o salário baixo legitimando a opressão política e exploração econômica sobre os pobres, que são pobres porque foram empobrecidos. Os pobres que são brancos repetem este jeito de pensar e com isto legitimam a opressão a que estão sujeitos.
O racismo diz que temos que oprimir os negros e índios porque são incapazes de se autogovernar, o que não passa de balela para legitimar a ganância e o genocídio. Este argumento era usado pelas potências colonizadoras européias sobre os países do Terceiro Mundo para justificar a ocupação militar destes países. Hoje se usa o argumento da luta contra o terror para saquear as riquezas dos países dominados. Quem, no entanto, pratica o terror são os países imperialistas: invadindo, matando e saqueando em nome da democracia. Como recompensa por este ato civilizatório de dominar, massacrar e instalar ditaduras militares e civis o Obama recebeu o Prêmio Nobel da Paz.
Escrevo isto motivado por um diálogo que tive com um médico, numa consulta, que quando soube que eu era pastor luterano logo me identificou como alguém que defende a teologia da libertação. Começou logo perguntando o que acho do PT e lembrou do mensalão. Para azar seu lembrei logo da corrupção sagrada do DEM no Distrito Federal e na corrupção do PSDB no Piratini. Ficou sem argumento e partiu logo por cima dos sem terra justificando a existência do latifúndio, tendo que reconhecer que muitos grilam terras públicas.
Que lição tiramos disto? É ilusório a esquerda fazer alianças com a direita porque ela secularmente tem ódio dos pobres como forma de legitimar e justificar a sua opressão. A direita, que agora é companheira no governo, dito de esquerda, continua com o mesmo ódio do PT e dos pobres como sempre teve. Classe média e rico sempre teve nojo de pobre, não há aliança política que tira isto deles. Eles apenas aproveitam a aliança para ficarem mais ricos e na primeira oportunidade nos penduram novamente no pau de arara como o fizeram no passado com índios, negros, pobres e gente de esquerda.
A nós cabe ajudar a organizar o povo empobrecido e fazer formação para superar a dependência ideológica da classe dominante, para que a classe trabalhadora possa construir o seu jeito de pensar e construir uma sociedade sem explorados e exploradores. Chega desta ilusão de fazer alianças com a direita. O ‘companheiro’ Delfin Netto foi o mentor e organizador da OBAN que depois virou DOI-CODI chefiada pelo Fleury que matou e torturou aqueles que eram contra a ditadura militar. Hoje se esparrama elogiando a política econômica do Lula, que apesar dos pesares indubitavelmente é o melhor governo dos últimos 50 anos. Não se esqueçam de quem a direita foi e o que ela fez: matou e torturou. O que ela foi ela sempre será. Não se iludam.
A postura da direita continua sempre a mesma, por isso não sai a Reforma Agrária, não é aprovada a PEC do trabalho escravo que desapropria sem indenização as fazendas com trabalho escravo (há 10 anos no Congresso), não é aprovado o limite máximo de propriedade de 35 módulos rurais (há mais de 10 anos no Congresso), não são abertos os arquivos da ditadura, nem julgados os torturadores e assim vai.
O tigre, independente de sua cor e origem (da Bengala ou da Sibéria), sempre vai ser um tigre; sempre vai comer o cervo e o porco do mato. Aliança entre galinha e raposa sempre dá no mesmo: galinhada!
Não esqueçam de ler o livro do Eduardo Galeano: Espelhos, da L&PM Editores. É um livro genial escrito de um ponto de vista que nos surpreende.

Nenhum comentário:

Postar um comentário