Nós só compreendemos e entendemos a manjedoura a partir da cruz, pois foi na cruz e na ressurreição que Jesus se revelou como sendo o Messias, o próprio Deus que se fez carne no Natal, como nos relata Jo 1.14: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai.”.
O nascimento de Jesus nos é relatado em Lc 2.7: “e ela deu à luz o seu filho primogênito, enfaixou-o e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria”. E continua hoje não havendo lugar para ele na vida da maioria das pessoas.
Não havia lugar para ele na hospedaria e nem lugar para ele na vida dos líderes do povo que organizaram a sociedade conforme os seus interesses opressores. O Evangelho do reino de Deus entrou em choque com estes interesses da classe dominante de Israel e de Roma desde o seu nascimento, como diz em Mt 2.13: “eis que apareceu um anjo do Senhor a José, em sonho, e disse: Dispõe-te, toma o menino e sua mãe, foge para o Egito e permanece lá até que eu te avise; porque Herodes há de procurar o menino para o matar”. Logo após o nascimento Jesus já era uma ameaça ao poder estabelecido; ele já foi forçado a fugir e a se esconder dos poderosos para não ser morto e foi para o exílio no Egito. Assim Jesus se torna o novo Moisés que quer não apenas nos libertar de todas as escravidões que a economia e a política impõem, mas quer nos libertar também da escravidão maior e pior que é a escravidão da morte.
O caminho de Deus que se revela em Jesus é o contrário do que as pessoas que-rem, como diz Paulo em 2 Co 8.9 “pois conheceis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza, vos tornásseis ricos”. É na pobreza que Deus se revela e com isto ele ameaça os que enriqueceram a custa das outras pessoas e pelo processo de dominação. Apesar dos sinais do reino que Jesus fez o crucificaram porque ameaçou os poderosos em seu papel no processo de dominação:
Jo 11.47-48: “Então, os principais sacerdotes e os fariseus convocaram o Siné-drio; e disseram: Que estamos fazendo, uma vez que este homem opera muitos sinais? Se o deixarmos assim, todos crerão nele; depois, virão os romanos e tomarão não só o nosso lugar, mas a própria nação”. Por que Jesus é uma ameaça? Porque a sua missão é segundo Lc 4.18-19: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos, para pôr em liberdade os oprimidos, e apregoar o ano aceitável do Senhor”. Esta missão de Jesus é subversão da ordem estabelecida, pois requer a mudança de toda a sociedade. Além do mais Jesus veio para anunciar o reino de Deus em oposição ao reino deste mundo, como ele diz em Lc 4.43: “É necessário que eu anuncie o evangelho do reino de Deus também às outras cidades, pois para isso é que fui enviado”. Este reino exige arrependimento dos pecados individuais e coletivos e conversão ao projeto do reino de Deus, conforme Mc 1.15: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho”. A esta mudança radical poucos querem se sujeitar, pois a maioria crê no poder do dinheiro e não no poder do Evangelho da Cruz de Cristo.
Por ameaçar a reprodução do sistema deste mundo condenaram Jesus por subversão da ordem, conforme Lc 23.2 e 5 onde diz: “Lá, começaram a acusá-lo, dizendo: - Pegamos este homem tentando fazer o nosso povo se revoltar, dizendo a eles que não pagassem impostos ao Imperador e afirmando que ele é o Messias, um rei. (...) Insistiam, porém, cada vez mais, dizendo: Ele alvoroça o povo, ensinando por toda a Judéia, desde a Galiléia, onde começou, até aqui”.
O Evangelho do reino de Deus realmente quer subverter a ordem deste mundo, hoje o capitalismo, que está ancorada no poder do diabo. Sobre isto Martim Lutero diz: “Por isso o pregador deve conhecer o mundo muito bem e reconhecer que ele é desespe-radamente mau, propriedade do diabo, na melhor das hipóteses”. O Evangelho quer mudar, transformar e salvar as pessoas, a sociedade e o mundo todo do poder do diabo que se materializa no poder do capital. As pessoas não querem mudar o mundo e nem se deixar mudar pelo Evangelho do Reino de Deus, e por isso:
Mc 15.20 “Depois de o terem escarnecido, despiram-lhe a púrpura e o vestiram com as suas próprias vestes. Então, conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem”. Na fraqueza da cruz está o poder de Deus que é escândalo para os que não crêem, como diz Paulo em: II Co 12.9-10: “Então, ele me disse: A minha graça te basta, porque o poder se aperfeiçoa na fraqueza. De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo. Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte”. O caminho da Manjedoura e da Cruz passa pelos fracos e pequeninos:
Lucas 10.21 “Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelaste aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado”.
Paulo fala disto quando diz em I Co 1.26-29: “Irmãos, reparai, pois, na vossa vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem muitos pode-rosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus”. Paulo havia entendido bem o centro da mensagem de Jesus de Nazaré.
Jesus nasceu na estrebaria e foi colocado numa manjedoura para, a partir da pobreza e da fraqueza, acabar com o poder deste mundo e implantar o projeto do reino de Deus, que sempre vai ser uma ameaça ao poder deste mundo. Este reino se completará plenamente conforme Paulo diz em I Co 15.25-26: “Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte”. Por isto a cada ano festejamos o Natal, pois ele é a festa que aponta para o início do novo, vida nova numa sociedade nova, que Deus quer trazer para nós. Este é o nosso presente neste Natal concedido de graça pelo próprio Deus que se fez pessoa em Jesus Cristo: Vida nova e eterna para nós e para todos os que crerem em Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo.
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